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“A legião dos rejeitados”: trabalhadores

migrantes retidos e marginalizados pela


política de mão-de-obra em Montes
Claros /MG, na década de 1930

“The legion of the rejected”: migrant


workers retained and marginalized by the
labor policy in Montes Claros / MG, in the
1930s
Resumo: Analisar as contradições e limites da política de mão-de-obra do Estado Brasileiro a
partir da década de 1930 é o objetivo da presente pesquisa. E os sujeitos que ocupam o centro
dessa discussão são os trabalhadores migrantes, sobretudo os nordestinos que estavam a
caminho do Estado de São Paulo, atraídos pela política migratória do governo nesse período. A
cidade de Montes Claros localizadas no Norte do Estado de Minas Gerais também tem um
papel de destaque nesse estudo. Justamente pelo fato de ser nessa localidade que era sediado
o serviço de triagem dos migrantes, onde eles eram avaliados e aprovados ou não para
seguirem viagem. A reprovação e retenção desses sujeitos na cidade evidenciam como a
mencionada política excluía e marginalizava os trabalhadores desse período, além do seu
caráter autoritário.

Palavras-chave: Trabalhadores; Política de mão-de-obra; Marginalização.

Abstract: To analyze the contradictions and limits of the labor policy of the Brazilian State, from
the 1930s on, is the objective of this research. And the subjects that occupy the center of this
discussion are migrant workers, especially those from the Northeast who were on their way to
the State of São Paulo, attracted by the government's migration policy at that time. The city of
Montes Claros located in the north of the State of Minas Gerais also plays a prominent role in
this study. Precisely because it was in this location that the migrants' screening service was
hosted, where they were evaluated and approved or not to continue their journey. The
disapproval and retention of these subjects in the city shows how the aforementioned policy
excluded and marginalized workers from that period, in addition to its authoritarian character.

Keywords: Workers; Labor policy; Marginalization.

Decidi investigar a afluência de migrantes em direção a Montes Claros a partir de uma


afirmação de Lessa (1993) de que com a chegada da estrada de ferro, a região provavelmente
foi o corredor de migração mais intenso do país. Desde então, minhas averiguações me
levaram para as primeiras décadas do século XX, a chegada da ferrovia a cidade.
Esse assunto já chamava minha atenção também devida a grande quantidade de
produções, como pesquisas acadêmicas, livros de memorialistas, matérias em jornais e
revistas sobre a “modernização de Montes Claros”. Embora, tenham seu valor informativo, elas
mantêm uma “espécie de veneração” a elite local e seus feitos. Responsável por sustentar a
construção da história da cidade apenas na perspectiva do desenvolvimento econômico.
Portanto, careciam de uma contribuição no intuito de preencher algumas lacunas que estavam
vinculados a uma conjuntura que extrapolavam as fronteiras da história local e fazia ponte com
o contexto nacional. Evidente que sem a pretensão de subordinar aquela primeira a essa
última.
Após algumas leituras e verificações de fontes defini que o novo objetivo seria analisar
e problematizar os limites e as contradições da modernização brasileira no período republicano,
no que tange os Trabalhadores migrantes e o Estado, na década de 1930. E nesse sentido, o
presente artigo tem como finalidade também apresentar o resultado dessa pesquisa realizada
nos três últimos anos. Esse tema em investigação também faz parte de um projeto pessoal
almejado para uma futura pesquisa de doutorado.
A partir da chegada dos trilhos da ferrovia Central do Brasil a cidade, na década de
1920, comecei a investigar essa temática nas páginas do Jornal Gazeta do Norte que havia
circulado na cidade em meados das décadas do século XX. As informações da fonte
sinalizavam na direção da trajetória dos milhares de trabalhadores migrantes, que seguiam
para o Estado de São Paulo. Em busca de trabalho e melhores condições de vida, para si e
seus familiares. Porém, muitos desses eram retidos nessa cidade pelo serviço de migração.
Retratados pelo Jornal Gazeta do Norte como: a “legião dos rejeitados”.
Entre as inúmeras matérias veiculadas pela impressa naquela ocasião, uma delas
dizia: “Estão nessa cidade cinco mil retirantes e esse número cresce diariamente com a
chegada de novos contingentes de flagelados” (Gazeta do Norte, junho de 1939). Assim como
as condições as quais se encontravam também foi enfatizado. Os dados a seguir são relativos
a um relatório de um funcionário do Serviço de Migração e Ministério do Trabalho enviado pelo
governo federal a Montes Claros para verificar a situação dos migrantes. Foi informado pelo
balanço realizado que,

era um quadro vivo impressionante de dantesco aspecto: a miséria, a


prostituição, as crianças atacadas de paralisia infantil, deitadas a
beira da estrada, os tuberculosos ao relento, e a peste campeando
livremente e arrastando todos aqueles desgraçados à vala comum da
morte (Gazeta do Norte, junho de 1939).

A cidade está parecendo um imenso hospital / um asilo, suas ruas


estão cheias de doentes, que estendem a mão a caridade pública: /
os passeios da cidade vivem cheios desses infelizes (Gazeta do
Norte, junho / agosto de1939).

É evidente que a maneira como esses sujeitos são representados pelo Jornal deve nos alertar
para os interesses políticos, que o periódico resguardava e as questões ligadas ao poder.
Contudo, o mesmo também pode se tornar uma fonte propícia para analisar a trajetória desses
migrantes, dentro da perspectiva da historia do trabalho e migração.
É importante enfatizar que ao trabalhar com a imprensa como fonte de pesquisa Cruz e
Peixoto (2007) lembra que: é preciso transformar a imprensa primeiramente em fonte. Nesse
sentido, ela possui uma linguagem própria do social, assim como historicidade e peculiaridades
que requerem ser compreendidas na relação imprensa e sociedade. É necessário identificar
também os grupos e forças sociais atuantes. Transformar o jornal em fonte é uma opção feita
pelo pesquisador, mas é preciso lembrar que ele não é constituído para esse fim, por isso
carece de um tratamento teórico-metodológico. Contudo, não se pode negar que a impressa é
um: “Manancial fértil para o conhecimento do passado fonte de informação cotidiana material
privilegiado para a recuperação dos acontecimentos históricos” (CRUZ; PEIXOTO, 2007, p.
04).
As pistas que norteavam minhas investigações já sinalizavam para um contexto onde
as ações em prol da modernização do país, exclusão e marginalidade social se entrelaçavam
naquele período do Brasil republicano. Como recorte de tempo estabeleci a década de 1930.
Justamente por ter sido uma fase marcada por mudanças e incertezas, não só para os
migrantes, como para essa cidade onde eles eram retidos. Mas, sobretudo, devido às
estratégias utilizadas para livrar a cidade da presença desses sujeitos.
Antes de seguir adiante é importante realçar a perspectiva historiográfica a qual esse
trabalho é fundamentando. Compreender, por exemplo, o percurso trilhado pela história do
trabalho. E as novas demandas de viés metodológico que levaram os pesquisadores a
ampliarem o campo de compreensão desse universo a partir dos anos de 1980. No intuito de
contemplar os diversos aspectos relativos aos trabalhadores e que se mostravam
fundamentais. São abordados novos temas, como condições de vida e as trabalhadoras
mulheres, ao contrário de antes, quando a história operária era unicamente retratada pelo
panorama do movimento operário organizado. O recorte geográfico também foi expandido,
outras regiões passaram a constar nas pesquisas, além de São Paulo e Rio de Janeiro
(CHALHOUB; SILVA, 2009, p.33).
Os anos de 1960 e 1970 foram marcados pela ausência dos trabalhadores na
produção acadêmica, os pesquisadores citam ainda as mudanças advindas a partir desse
período: “Grosso modo, os autores identificavam uma ‘ruptura’, uma mudança de paradigma no
entendimento da classe operária enquanto sujeito político: antes, a classe aparecia como
sujeito subordinado, sem dinâmica própria que emergisse de suas práticas [...]” (CHALHOUB;
SILVA, 2009, p.26). Percebe-se que esses horizontes recentes não se constituíram a parte, de
maneira independente, mas como “complemento” as próprias “ausências” que foram sendo
notadas em relação à historiografia do trabalho. Lacunas essas que ainda persistem nos dias
atuais, como a que me deparei quando passei a pesquisar a história dos trabalhadores
migrantes. E não identifiquei estudos específicos voltados para trajetória desses sujeitos. Ou
seja, o que ocorria com eles no percurso entre sua terra natal e o local de destino, sobretudo,
em relação a esse caminho que passavam pelo Norte de Minas esses trabalhadores
simplesmente desaparecem nessa etapa.
O campo conceitual, as possiblidades de pesquisa e o conceito de trabalhador foram
ampliados. Isso devido o fato de que no “imaginário acadêmico” as narrativas só contemplavam
os trabalhadores nos momentos de luta e mobilização política, sob a condição de membros do
movimento operário organizado. Se por um lado, ocorreu certo afastamento da tradição
ensaística das grandes interpretações os autores enfatizam, ainda, que agora são almejados,

os agrupamentos profissionais (têxteis, gráficos, portuários etc.), suas


formas de organização, movimentos específicos e dinâmicas próprias,
a composição da força de trabalho, fluxos migratórios, a vida
operária dentro das fábricas, os processos de trabalho, assim como o
lazer e o quotidiano dos trabalhadores fora das fábricas, abrangendo
aspectos como cultura, etnicidade, gênero, educação, habitação etc.
(CHALHOUB; SILVA, 2009, p.43).

É importantes chamar atenção também para a fundamentação dessa nova discussão, ou seja,
nos estudos sobre paternalismos e cultura plebeia, de E. P. Thompson, sobre direito no século
XVIII na Inglaterra (CHALHOUB; SILVA, 2009, p.35).
As mudanças até aqui apresentadas alcançaram também o universo das fontes
utilizadas pelos pesquisadores. Algo que seria necessário, considerando os novos alcances
ambicionados, como afirma os autores: “De lá para cá, houve ainda uma ampliação do campo
documental, com a utilização de processos judiciais, imprensa operária, correspondências
diplomáticas, fontes policiais, depoimentos orais” (CHALHOUB; SILVA, 2009, p.34). A presente
pesquisa se encaixa nesse exemplo de exploração de novos subsídios, pois ela é construída a
partir dos dados sobre os trabalhadores migrantes identificadas em um Jornal de ampla
circulação na cidade naquela época, o Gazeta do Norte. E não tem sido fácil identificar
informações sobre esse momento da história dos trabalhadores. O que foi em parte
solucionado quando recorremos a essa fonte. Isso porque ainda persistimos na busca de novas
fontes e dados.
A partir desse viés da histografia do mundo do trabalho focado no cotidiano desses
sujeitos, propomos uma contribuição que preencha algumas lacunas relacionadas à vida e a
trajetórias desses trabalhadores migrantes, os caminhos percorridos, locais (municípios,
Estados) por onde eles passavam. Assim como, meios de transportes utilizados, imprevistos
tais como os acidentes na estrada. Os desafios enfrentados, alimentação, doenças,
hospedagem, a rejeição no centro de triagem e as táticas de sobrevivência como mendicância.
Uma etapa da vida dos trabalhadores, pouca retratada na historiografia.
Não menos importantes são “as formar de controle social exercidas sobre esses grupos
sociais e suas práticas de resistência” (CHALHOUB; SILVA 2009, p. 42). E esse controle a todo
tempo pode ser observado quando o Estado adotou inúmeras estratégias que compunham as
barreiras que impediam esses sujeitos de migrar para outras regiões, sobretudo para o Sudeste
do país. E mesmo aqueles que conseguiam essa autorização, ao chegar a São Paulo, por
exemplo, eram submetidos a um novo rigoroso controle. 1
O primeiro enfrentamento o qual eles se deparavam diz respeito à sobrevivência, e no
nosso entendimento, dentro do contexto analisado, essa não deixa de ser uma “prática de
resistência” fundamental. Isso porque as necessidades básicas como alimentação e
hospedagem não era algo garantido. Obtê-los em uma cidade, onde esses sujeitos não
passavam de “forasteiros indesejados” era um grande desafio. O que percebemos é que essa
era uma trajetória marcada por muitas incertezas, e poucas garantias de que ao pisar o solo
Norte mineiro e passarem pelo centro de triagem seriam considerados aptos para seguir
viagem. Ao receberem um “não”, quais pensamentos vinham à tona? Medo? Desespero?
Desilusão? Pra quem se encontra no meio do trajeto. Abrigo e alimentação na hospedaria eram
apenas para aqueles que eram comtemplados com o “sim” dos médicos que atuavam no
serviço de recrutamento. Aqueles outros descobrem que nesse momento lhes são negados até
mesmo o direito de migrar.
Precisamos entender também os motivos os quais Montes Claros e os trabalhadores
migrantes têm seus destinos entrelaçados. E para isso precisamos recorrer a uma
contextualização um pouco mais ampla e que diz respeito à modernização do Brasil no período
republicano. Ressaltamos, por exemplo, o colapso de superprodução do café, “Crise mundial
de 1929” e a Revolução de 1930. O antigo modelo “Primário Exportador” cedeu lugar para a
Industrialização. A substituição de importações marcou a nova etapa da economia do país e
ampliou o setor urbano. Esses novos investimentos nas industriais ocorreram justamente
devido à acumulação cafeeira. Esse novo contexto exigia a unificação do mercado e sua
articulação e ampliação das vias de transportes. Essas permitiram que os mercados regionais
fossem interligados (BAENINGER, 2012, p. 23). Esse também é um aspecto vinculado
diretamente com a mobilidade dos migrantes.
As transformações tangenciaram também a mão de obra empregada no Brasil. Com o
fim dos subsídios para imigração estrangeira, esses agora seriam direcionados para o incentivo
da migração interna. Isto é: “A opção pela recepção de trabalhadores nacionais implicou na
emergência de um novo discurso que exaltasse as qualidades do trabalhador nacional, ao
mesmo tempo, que construía em São Paulo um polo atrativo para esses trabalhadores”
(PAIVA, 2004, 227). A diminuição da imigração começou a ocorrer devido diversos fatores,
entre eles, a partir da intensificação dos conflitos grevistas, sob a liderança dos estrangeiros.
As atenções seriam voltadas para a “valorização” do trabalhador nacional, concretizada a partir
de 1930. O autor enfatiza também que: “A inserção de trabalhadores migrantes nas atividades
agrícolas em São Paulo entre os anos 1930 e 1950 pode ser considerada o principal objetivo
da política migratória do período” (PAIVA, 2004, p. 105). Essa afirmação justifica o fato de
mencionarmos na maioria das vezes o Estado de São Paulo como destinos da maioria dos
migrantes.
1
Sobre o assunto consultar: (PAIVA, 2004, 212).
A partir desse período algumas regiões do Brasil, como Norte e Nordeste, tornaram-se
locais de suprimento de mão-de-obra para os polos industriais e agricultura. Mantêm-se áreas
desenvolvidas e subdesenvolvidas, uma subordinada a outra. Os migrantes permanecem à
mercê dos interesses do capitalismo, atraídos e/ou induzidos como força de trabalho, podendo
ser muita das vezes abandonados (VALE et al., 2004, p. 27). Nesse contexto, entendemos que
a precarização alcança não só aqueles sujeitos dessa pesquisa, mas todos os trabalhadores.
A ideia era a integração das diversas regiões do país, contudo o que notamos foi uma
preocupação com a mão de obra que atendesse a necessidades dos Estados do Sudeste,
sobretudo, São Paulo. É importante salientar também que durante o governo de Getúlio Vargas
passou a vigorar uma política que visava atrair para o país os imigrantes, tido como “ideais”. 2 O
que ocasionou a diminuição da entrada de trabalhadores estrangeiros no Brasil.
Esse é um contexto também marcado por mudanças políticas, econômicas, sociais e
culturais, algo típico das épocas que precedem os grandes deslocamentos humanos. Ou seja,
a mobilidade humana está vinculada a sintomas de grandes transições, sua intensificação é
sinal de que nos bastidores da história algo está ocorrendo. E no caso do Brasil, também é
importante salientar que ao falar de deslocamento da população é impossível não atentar para
a questão da pobreza e da exclusão social (GONÇALVES, 2001, p. 173). E com poucos
resultados positivos para as classes trabalhadoras.
Voltando a Montes Claros desde o período colonial passavam por essa, caminhos que
ligavam diversas regiões. Hermes de Paula (2007, p. 254) citam alguns desses, como: Paratí
do Mar, Ouro Preto, Sabará e Rio das Contas na Bahia. Lembra ainda que depois do
estabelecimento do bandeirante Gonçalves Figueira na região, a mesma tornou-se um
importante entroncamento comercial. É enfatizado por Lessa (1993, p.169) que esses ficaram
conhecidos como as “estradas sertanejas”, por onde passava o gado do sertão da Bahia, e que
ocorreram também as primeiras investidas dos colonizadores. Foi, contudo, em meados da
década de 1920 que ocorreu outro evento com maior relevância para analise em curso. Esse
se refere à chegada da ferrovia Estrada de Ferro Central do Brasil, que inaugurou em 26 de
setembro de 1926 uma estação na urbe. 3 O que explica o fato desses trabalhadores migrantes
se dirigirem pra Montes Claros.
A jornada até o Norte de Minas já pode ser considerada uma “odisseia” marcada não
por poucas “pelejas”. Geralmente em transportes fluviais pelo Rio São Francisco,
desembarcando na cidade de Pirapora, situadas a 169 km de Montes Claros ou em caminhões.
Todavia, as fontes informam que muitos percorriam esse trajeto, ou pelo menos parte dele,
caminhando como mostra o Gazeta do Norte (21 de agosto de 1939): “Esses infelizes,
arrastando a alpargata de couro na poeira da estrada, veem sofrendo pelos caminhos afora, a
pé, até onde encontram caminhões que os transportam até aqui”. Contudo, as terras paulistas,
2
Sobre o assunto consultar: (KOIFMAN, 2012).
3
O Plano Rodoviário Nacional classificou Montes Claros como segundo maior entroncamento
Rodoviário do País, por causa da facilidade de acesso por rodovias às principais regiões do
Brasil (Prefeitura Municipal de Montes Claros, 2020, on-line).
por exemplo, ainda permaneciam distantes o suficiente para ser necessário recorrer a outro
meio de transporte para concluir o itinerário. Nesse caso, a Estação da Central do Brasil em
Montes Claros.
Nessa etapa do trajeto destaca-se também a quantidade de acidentes com vítimas
feridas e óbitos, em veículos que conduziam os trabalhadores. As causas podem ser
constatadas desde o transporte em carroceria de caminhões sem nenhuma segurança,
imprudência de motorista bêbado e condições precárias das estradas na ocasião. Entre muitos,
selecionamos alguns a título de exemplo, no seguinte, o jornal informa que: “Um caminhão
cheio de flagelados, precipita-se pela serra, matando seis passageiros e ferindo 26 [...]”. Já no
corpo da matéria é mencionado: “Das vítimas do impressionante desastre, seis morreram
quase instantaneamente, sendo duas crianças, três mulheres e um homem” (Gazeta do Norte,
junho de 1939). O mais impressionante é que foi constatado que no momento do acidente o
motorista estava alcoolizado, “pois havia bebido nos Dois Riachos, oito quilômetros antes da
serra de Catuni, local do terrível desastre, uma forte dose de cachaça”. No mês seguinte o
jornal novamente divulgou: “Mais um impressionante desastre de caminhão: Um carro cheio de
flagelados precipita no abismo, matando dez passageiros e ferindo 25” (Gazeta do Norte, julho
de 1939). Dessa vez o ocorrido foi próximo à cidade de Guanambi, Bahia, o mesmo tinha como
destino Montes Claros. A maneira como as matérias eram veiculadas, sempre, iniciadas com o
adverbio de intensidade “mais” fica perceptível que os acidentes eram frequentes, assim como
vitimização dos migrantes.
Desde que a migração interna passou a ser incentivada pelo governo Brasileiro,
Montes Claros se tornou uma “cidade de triagem”. Inicialmente sediava “bases” das empresas
que arregimentavam trabalhadores para outros estados. As incumbências eram dividas entre
essas e o governo, como mostra o autor:

Até 1939 a arregimentação dos trabalhadores, triagem, inspeção


médica no ponto de embarque e autorização das autoridades locais
para a liberação dos migrantes foram de competência exclusiva dos
agentes contratantes. À Secretaria da Agricultura cabia o registro e
controle dos pedidos de trabalhadores migrantes e destino dos
mesmos (PAIVA, 2004, p. 123).

E a partir de 1939 foi estabelecida uma filial do serviço de migração do Estado de São Paulo, a
Inspetoria do Trabalhador Migrante (I.T.M.). Paiva (2004, p.116) lembra que as cidades
contempladas foram justamente aquelas de maior fluxo de migrantes, Montes Claros e
Pirapora. Embora essa última seja mencionada como local de chegadas desses sujeitos, não
foi registrado na ocasião uma concentração desses na mesma intensidade como ocorreu em
relação àquela primeira. Um dos motivos que podemos conjecturar é o fato de que Montes
Claros no período já funcionava como referência para as outras cidades do Norte de Minas, no
que diz respeito ao setor de serviços e o comercio em geral, inclusive, sediava diversos órgãos
públicos. O que pode ter contribuído atrair esses sujeitos.
Outro aspecto que o autor realça foi o objetivo da Inspetoria, isto é, “[...], a criação da
I.T.M. também reorganizou a dinâmica dos pedidos de trabalhadores vigentes no período 1935-
39” (PAIVA, 2004, p. 117). Ressalta ainda os objetivos em torno da criação da mesma
perpassa pelo crescimento do fluxo migratório na final da década de 1930 para o Estado
Paulista e a tendência de onerar os cofres do Estado. Ele chama atenção também para as
ações centralizadoras colocadas em prática pelo poder público a partir do Estado Novo. O que
acabou desarticulando os interesses das companhias privadas no agenciamento de mão de
obra.
Mesmo com a criação da I.T.M. os problemas gerados pela politica de mão-de-obra já
causava não só a marginalização de milhares de migrantes, mas também questões pontuais na
cidade onde eles eram retidos. A gravidade da situação demandou medidas urgentes da parte
das autoridades municipais e estudais que requereram o auxilio do governo federal, que na
ocasião, fez vir a Montes Claros um representante que pudesse ver de perto a conjuntura,
como é demonstrado a seguir:

Diante da angustiosa situação o dr. Levi Lafetá e dr. Antônio Teixeira


prefeito do munícipio, levaram o caso ao conhecimento do
Governador do Estado, que atendendo prontamente, fez vir a essa
cidade o dr. Azevedo Rangel médico do Serviço da Migração que
também se encontra no nosso meio para o mesmo fim,
providenciaram a remoção imediata dos retirantes para São Paulo
(Gazeta do Norte, dia e mês, 1939).

A vinda de um médico do Serviço de Migração nos chama atenção para os problemas oriundos
da migração incentivada e com quase nenhum apoio para aqueles que colocavam o pé na
estrada. Assim como, a ausência de infraestrutura para recebê-los, uma vez que a cidade havia
si tornando um ponto interseção com outros estados da federação.
A visita de Azevedo Rangel acabou tendo como escopo, apenas, desaglomerar a urbe
Norte mineira da presença desses sujeitos. Como pode ser constatado quando o jornal expõe
que com a anuência do então médico do serviço de migração eles seriam “removidos”.
Enquanto outras questões urgentes, ligadas a política migratória não são mencionadas. Sem
falar que os novos grupos de migrantes continuavam a chegar. E, permanecia abandonados a
própria sorte na mais terrível condição de miséria gerada pela própria política de mão-de-obra.
Os trabalhadores migrantes já chegavam a essa cidade exaustos e debilitados devido o
trajeto. As condições de saúde, as quais eles encontravam ainda no meio do caminho, faz o
colunista do jornal acreditar que muitos não seriam capazes de sequer dar um passo a mais
nesse percurso, como é descritos pelo mesmo:

Quatro a cinco mil, no entanto, estão ahi escorados nas pontas dos
trilhos, aumentandos dia a dia por novas levas que batem as estradas
a pé a maioria, de caminhão outros, todos em fim, com um pé fora e
outro dentro da cova. E é aqui, que eles são capazes de terminar sua
“v a crucis”, botando, de vez os dois pés dentro do buraco para
descanso eterno (Gazeta do Norte, 1936).

Outra interpretação, contudo, precisa ser feita. Trata-se de um período o qual as estruturas de
serviços médicos e medicamentos eram precários, quase inexistentes nos interiores do Brasil.
E nessa cidade não era diferente, não seria difícil obter esse diagnóstico. Como ocorria
frequentemente no posto de triagem em Montes Claros:

Os imprestáveis, os loucos, os portadores de moléstias contagiosas,


os cegos, os aleijados, os papudos, aqui ficam abandonados [...] É
uma desigualdade revoltante auxiliar as pessoas fortes, e negar
auxílio àquelas que são necessitadas. É uma desumanidade
abandonar nas ruas de uma cidade, cegos, aleijados, tracomatôso,
[tracôma], beócios, papudos e outros doentes sem casa, sem abrigo,
sem pão, quando podia perfeitamente socorrê-los (Gazeta do Norte,
05 agosto de 1939).

Como podemos imaginar nesse contexto, que ao ser submetido a um rigoroso exame médico
todos esses migrantes poderiam ser considerados aptos ao trabalho? Embora, a matéria foi
escrita com um cunho de indignação, porém essa ocorria em prol apenas da retirada dos
migrantes da cidade, não pela condição de marginalizados, a qual eles se encontravam. O
Gazeta do Norte falava em nome dos interesses da elite local, que por sua vez, estavam a
cada dia mais incomodados com a presenças dos migrantes na cidade. E nesse sentido, se
eximem de qualquer responsabilidade as autoridades locais, defendiam apenas a remoção dos
mesmos.
O prefeito na ocasião se referiu aos migrantes como, “problema social” ou “praga
social”, como é possível constatar a seguir, sobre a presença dos trabalhadores e a maneira
que eles encontraram pra sobrevive: “A mendicância em Montes Claros, nesses últimos tempos
vem assumindo proporções de uma verdadeira praga social” (Gazeta do Norte, fevereiro de
1935). Edir Freitas (2008, p. 61) ao analisar a fala do prefeito Dr. Santos na ocasião, também
assinala que: “Na visão do prefeito, a passagem dos migrantes pela cidade era,
inequivocamente, um ‘problema’, o qual lhe parecia ‘permanente’, ‘inevitável’ e com ‘tendência’
a ‘aumentar’”. O que nos dá indícios do aumento da presença desses em Montes Claros.
A autoridade eclesiástica também demostrou seu receio devido à presença dos
migrantes. O ponto de vista do bispo Luiz Victor Sartori em nada se defere ao se referir aos
trabalhadores, ou seja, como “praga social”, suscetíveis a degradação física e moral. Inclusive,
os crimes, como roubo, assassinato, o aumento da prostituição, envolvendo até mesmo as
crianças eram atribuídas aos migrantes. Baseado no fato da cidade ser corredor migratório
para onde afluíam grandes contingentes de retirantes, o religioso interpreta esse fato como
uma das “más consequências” da região. Freitas (2008) ainda comenta sobre o assunto: “O
testemunho de Sartori não nos deixa dúvidas que, na visão das camadas dominantes, o lado
negativo de ser ‘centro de convergência’ afigurava-se na ‘enorme afluência de pobres’ em
busca de ‘alívio para a própria miséria’” (FREITAS, 2008, p. 58-59). Essa era uma visão comum
no período, ou seja, dos “retirantes nordestinos miseráveis”. Contudo é importante destacar
que não é nossa intenção reforçar a representação do Nordeste do Brasil como, “lugar do
atraso”, “de onde as pessoas se deslocavam fugindo da seca e da pobreza”. Paiva (2004, p.
198) lembra essa visão foi construída a partir de uma lógica exógena da região e de
determinados interesses sociais.
As categorias frequentes que aparecem no jornal ao se referir aos migrantes são
basicamente definidas em duas, ou seja, imprestáveis e os que prestam como consta no
fragmento seguinte:

São muitos caminhões que aqui chegam diariamente, abarrotados de


flagelados que são despejados no prédio da antiga Escola Normal,
onde recebem alimentação e são submetidos a rigoroso exame
médico. Depois desse exame os que prestam são mandados pra São
Paulo e outros estados onde encontrem trabalho (Gazeta do Norte,
05 agosto de 1939).

O rigor estabelecido pelo Estado, não visava apenas controle sanitário, as questões no âmbito
de gênero também eram uma realidade, inclusive sinalizando para o fato de existiam corajosas
e desbravadoras mulheres que também colocam o “pé na estrada”, a reportagem destaca que:

Ainda em dia dessa semana, em nossa redação estiveram três


pobres mulheres que vieram nos explicar suas situações de penúria e
pedir um auxilio, pois que foram jogadas na rua, não podendo nem ao
menos ficar no casarão imundo, fétido e insuportável, onde estão
alojados os demais flagelados. [...] As duas outras não recebem
comida porque vieram sozinhas sem um homem que as
acompanhassem. Por isso, foi lhes negado também o passe para São
Paulo (Gazeta do Norte, 21 de agosto de 1939).

Nenhum outro aspecto físico chamava mais atenção que a desnutrição devido à fome,
segundo o Jornal, essa era visível. As mesmas estavam morando debaixo de uma árvore, junto
ao curral dos animais ao lado da estação. Assim como, também as condições do alojamento
onde os trabalhadores eram hospedados, um casarão antigo, “imundo, fétido e insuportável”.
Ou seja, mesmo para aqueles considerados aptos ao trabalho, eram mantidos em condições
desumanas.
Burlar o serviço de triagem, também não era algo que deveria ser cogitado. Pois,
mesmo com a escolha criteriosa e objetiva, quando esses sujeitos chegavam ao Estado de São
Paulo, novamente eram submetidos aos novos exames. Caso fossem reprovados eram
mandados de volta. O que pode ser confirmado a seguir: “O serviço de socorro ao flagelado
[serviço de migração] não manda os doentes para São Paulo, abandona-os aqui porque, se os
mandar, eles serão devolvidos imediatamente. Montes Claros é que deve ficar com a escoria.
Assim pensam eles” (Gazeta do Norte, 19 agosto de 1939). O que mais chama atenção é que
os migrantes são devolvidos não pra sua terra natal, mas a passagem de volta era concedida
apenas até Montes Claros, que na ocasião era cidade Ponta de Trilhos. Ou seja, são
literalmente abandonados pelo Estado, no meio do caminho.
A política de mão-de-obra também abandonou os trabalhadores pelo meio do caminho
em outra circunstância. Dentro da mobilidade desses migrantes, Paiva (2004, p. 163) observa
que a I.T.M. tinha um serviço denominado de recâmbio dos trabalhadores. Num primeiro
momento, essa parecia ser uma ação coerente e justa, uma vez que a mesma era destinada
aqueles que “queriam”, mas que em nossa concepção, na verdade eram forçados por
circunstancias pessoais, a voltar para seu local de origem. São realçadas ainda as causas
desse retorno: “Os motivos alegados pelos trabalhadores para solicitação do recâmbio
demonstram a fragilidade e a insegurança da sua inserção no campo. Dentre eles, doenças,
baixos salários e falecimento do arrimo de família” (PAIVA, 2004, p. 163). Esses números
correspondem a 82, 2% do total de pedidos, ressalta o autor.
Novamente a trajetória dos mesmos se cruza com Montes Claros ou Pirapora. Muitos
desses permaneciam em casa de parentes nessa primeira cidade. A observação feita por Paiva
(2004, p.163) define de maneira acertada o contexto de vida desses sujeitos, “a insegurança, a
sazonalidade do trabalho, as andanças faziam parte da lógica dessa política”. Que na nossa
interpretação pode ser traduzido em exclusão e marginalização.
Na medida em que os grupos de migrantes eram retidos em Montes Claros, os
números dos mesmos só avolumavam ainda mais. Comparamos o contingente populacional
dos moradores da cidade, com os dados referentes aos trabalhadores recém-chegados. No
início da década de 1930, a população urbana do município era de 8.360 habitantes. Enquanto
as informações referentes aos migrantes em 1934 são de 9.060. No ano seguinte foram
contabilizados 10.101 retirantes (Gazeta do Norte, fevereiro de 1936). O que mostra que esse
aumento era significativo a cada ano.
Eles poderiam ser encontrados desabrigados em diversas partes da cidade,
“acampados próximo da catedral em construção, praças, abrigados sob as arvores”. Inclusive,
convivendo ao lado dos animais, que aguardavam o embarque nos currais da Estação (Gazeta
do Norte, julho, 1936). Contudo, o que nos chamou atenção foi à mobilização que passou
ocorrer no intuito de encontrar uma solução pra “legião dos rejeitados”. Isso porque eles
passaram a ser vistos com entrave para o progresso da cidade.
A chegada da ferrovia tornou-se um marco histórico para elite local. Essa seria a
abertura pra o mundo cosmopolita e um divisor de água pra região. Em outras palavras: “[...] A
ferrovia era, desde o final do século passado, a maior reivindicação da elite do Norte de Minas
ao governo da União. Ela se apresentava como símbolo/metáfora de progresso”. (LESSA,
1993, p. 191-92). Entretanto, quando a autora menciona a chegada do progresso, ela esta se
referindo a obras infraestruturas essenciais na vida dos citadinos. Por exemplo, em Montes
Claros a eletricidade inaugurada em 1917 era ineficiente, com o crescimento urbano e o
volume de água da usina do Rio Cedro escasso no período da seca, a cidade ficava
praticamente às escuras. No caso da instalação da rede de água, uma antiga reivindicação da
população desde século anterior, foi uma das esperanças reacendidas com a vinda da ferrovia.
Telefone, esse só chegaria em 1938 (LESSA, 1993, p. 173-76).
É importante retomarmos esse evento e a expectativa criada em relação a ele, pois
assim torna-se mais acessível o entendimento da rejeição da presença dos migrantes na
cidade. Paiva (2004, p. 211-12) lembra que nesse período, vigorava uma “lógica urbana” que
justifica a dicotomia entre, rural e urbano, ou, campo e cidade. Essa última passa ser vista
como o lugar do progresso e da modernidade. E a presença dos migrantes, oriundo de outro
ambiente não condizia com a pretendida nova realidade “cosmopolita”. Uma palavra comum
nesse período no vocabulário dos montesclarenses. Passaram então, a ser visto como uma
“pedra no caminho” do progresso. Como é possível verificar a seguir:

A cidade o município e o próprio Estado é que não poderão arcar com


os ônus e o verdadeiro perigo infecioso que representa essa legião de
incapazes aleijados e doentes, a espalhar o vírus da descrença e de
todas as moléstias, numa cidade cheia de energias num fluxo
magnificente de trabalho e progresso (Gazeta do Norte, 26 de outubro
de 1935).

A urbe Norte mineira, no discurso da elite, parecia não ter problemas de ordem econômica e
política. Não mencionam, por exemplo, o que é aludido, por Lessa (1993, p.173): “Montes
Claros era a típica cidade oligárquica, dividida entre duas facções do partido republicano [...]
Acirramento de animo às vezes eclodia em conflitos com graves consequências. Tudo era
dividido dicotomicamente”. Com relatos de constantes atos de violência praticados por esses
grupos.
A confirmação do conflituoso ambiente político pode ser demonstrada no episódio de
1930, quando o vice-presidente Mello Viana do governo de Washington Luiz foi expulso à bala
da cidade. O ataque foi realizado pelo grupo dos “Pelados” liderados por Dona Tiburtina,
esposa do médico e político João Alves. Ressaltamos alguns desses conflitos, no intuito de
mostrar outras questões que poderiam ser consideradas como entrave para o progresso da
urbe. Nesse caso, a disputa pelo poder, o que impedia a união de esforços em benefício do
desenvolvimento.
A elite local também parece não compreender ou não queriam aceitar o outro “lado do
progresso”, isto é, a típica característica do sistema capitalista, a exclusão social, retratada
pelos mesmos como “perigo infecioso”. Num contexto onde o escopo era resolver os problemas
de mão de obras. Sem uma política voltada especificamente para o trabalhador da parte do
Estado, o que se viu foram as ruas da cidade abarrotadas de migrantes colocados na condição
de pedintes. Essa era a única alternativa que lhes restavam para sobreviver, como exposto a
seguir:
O número de mendigos em nossa cidade cresce diária e
vertiginosamente [...], dando as ruas em certos dias da semana
aspectos de uma verdadeira procissão de pedintes. E esse número
vae aumentando dia a dia com os que chegam acompanhando os
retirantes e aqui ficam, pois lhes são negados passes pelos
agenciadores de trabalhadores que passam para o sul (Gazeta do
Norte, 9 de fevereiro de 1935).

Algo que chama atenção também são as terminologias usadas para se referirem aos
migrantes, que vai de: flagelados, retirantes a mendigos e pedintes. Para não reforçar ainda
mais a representação negativas desses sujeitos, optamos sempre por retratá-los como:
migrantes e trabalhadores, o que eles realmente eram.
Com o aumento dos números dos trabalhadores retidos em Montes Claros, e a
conclusão de que seria impossível combater a chegada de novos grupos. A estratégia passou
a ser justamente livrar a cidade da presença dos mesmos, ou dificultar a vida deles. Atuando
justamente onde conseguiam algum recurso pra sobreviver, a mendicância. Nesse sentido,
surgiram diversas sugestões. Desde medidas que impedissem que eles recebessem esmolas
diretamente das mãos dos moradores, prisão, criação de colônias agrícolas, reunir recursos
financeiros na própria cidade para custear a viagem dos migrantes para outros estados e o
embarque no “trem louco” para hospitais e colônias agrícolas.
O delegado de polícia sugeriu inclusive que fosse realizada uma triagem e cadastro
daqueles sujeitos que realmente estavam incapacitados para o trabalho. Mediante esse
levantamento seria concedido uma “espécie de placa”, em forma de crachá para aqueles que
fossem autorizados a esmolar nos locais públicos. A proposta de regulamentação da
mendicância foi noticiada nos seguintes termos: “E como medida moral vou providenciar para
que todos os mendigos sejam apresentados à Delegacia de Polícia, a fim de serem
examinados a suas condições, recebendo um certificado que os habilitaram a ser socorridos
[...]” (Gazeta do Norte, 9 de fevereiro de 1936). O critério pra distinção era justamente se
estavam aptos para trabalhar. É evidente que a maioria daqueles que foram rejeitados pela
política migratória demasiadamente restritiva, não eram totalmente incapazes. Contudo, com
essas novas medidas adotadas, eles seriam novamente colocados ainda mais as margens da
sociedade.
O plano da regulamentação da mendicância como era chamado foi colocado em
prática em partes pelas autoridades locais, isso porque não temos informações se o projeto das
placas de identificação foi levado adiante. Sabemos que outro tipo de assistência foi
organizado dessa vez com o auxílio da Igreja Católica, especificamente, os Vicentinos. Como é
aludido a seguir: “Segregados do público os mendigos, o povo deixará de dar-lhes,
diretamente, as esmolas semanais passando a dá-las, entretanto, ao dispensário que for
organizado” (Gazeta do Norte, 9 de fevereiro de 1936). Essa estratégia atenderia as
reclamações dos moradores que se queixavam da presença dos pedintes batendo nas suas
portas esmolando ajuda.
Da perspectiva do Estado, não podemos perder de vista a ideia que o mesmo atuou
intensivamente nesse período no intuito de ‘impor de cima pra baixa um quadro normativo de
conduta que disciplinasse e colocasse sob controle [...] as ditas ‘classes populares’ ‘classes
perigosas’” (CHALHOUB; SILVA 2009, p. 42). Nesse caso, a Igreja Católica foi uma importante
aliada no intuito de combater a presença dos migrantes. O que possibilitou também a afirmação
e extensão do poder da mesma na cidade, já que os “donativos” para os “pobres” eram
direcionado primeiro para os seus cofres.
O governo federal, através do Conselho Nacional de Migração e Colonização, também
propôs algumas possíveis soluções em relação aos problemas aos quais os migrantes vinham
sofrendo. Isso, a partir da situação a qual se encontravam os trabalhadores retidos em Montes
Claros. Foi divulgado que, “sugere a criação de centros agrícolas nacionais. Propõe ainda,
entre outras medidas, a construção de abrigos provisórios em Montes Claros e Pirapora e em
outros pontos de concentração dos retirantes [...]” (Gazeta do Norte, julho de 1939). A proposta
dos albergues não foi efetivada nesse período, não como foi proposto. Permaneceram restritas
algumas ações de assistências pontuais.
O que, contudo, nos chama atenção foi a sugestão de construção de centros agrícolas
nacionais. O que nos remete a questionável experiência, das Colônias Agrícolas, conhecidas
como os Campos de Concentração no Estado do Ceará. Retratado na pesquisa de Kênia
Souza Rios (2014, p. 8) a autora enfatiza que: “A cada seca, vários sertanejos procuravam
amparo nas cidades do Estado. Em Fortaleza, como em outros lugares, os retirantes
aumentavam a população dos excluídos e marginalizados”. Uma estratégia de isolamento dos
migrantes que chegavam à cidade. Dentro da perspectiva do Estado de mantê-los sob controle.
Isto é: “Nesta seca, o poder público isolou parte dos sertanejos em sete Campos de
Concentração, distribuídos em lugares estratégicos para garantir o encurralamento de um
maior número de retirantes no Sertão do Ceará” (RIOS, 2014, p. 9). Somente no ano de 1932 a
autora destaca que foram contabilizados cerca de 73.000 migrantes aprisionados e vigiados,
pois podiam sair desses locais quando eram convocados para o trabalho em obras públicas.
Embora, tenha sido algo cogitado, essa também foi umas das estratégias pensadas pelo
Estado no sentido de manter a multidão de migrantes retida distante de Montes Claros.
Não existem duvidas que muitas medidas adotadas para livrar a cidade da presença
dos migrantes foram justificadas com base na medicina social e nas políticas de higiene. Em
nome da preservação da saúde e da tranquilidade da população era preciso adotar estratégias
de isolamento desses sujeitos. E uma das maneiras de legitimar essa ideia era retratá-los
sempre como loucos e portadores de doenças, inclusive contagiosas, mendigos e pedintes
perturbadores da paz social. Não que nossa intenção seja minimizar esses problemas que
atingiam a população, mas é visível a intenção política do Jornal nesse sentido. Esse era um
apelo recorrente nas matérias do Gazeta do Norte em relação a presença dos migrantes na
cidade. Como pode ser confirmado pelo mesmo a seguir: “Iniciamos nessa coluna uma
campanha contra a desigualdade, contra essa intolerável seleção de proteger aos são e negar
auxílio aos que mais necessitam. [...]” (Gazeta do Norte, agosto de 1939). Contudo, esse cunho
aparente complacente na verdade representava outros interesses, e esses, não era o desses
sujeitos marginalizados. Inclusive os políticos locais aprenderam a tirar proveito dessa situação.
Era frequente o pedido de verbas para serviços públicos de infraestrutura aos governos
estadual e federal, e a justificativa era presença dos migrantes.
E foi devida essa “campanha” que a segregação desses migrantes passou a ser uma
realidade, inclusive enviando-os para sanatórios em Belo Horizontes e Barbacena. Nesse
sentido, o trem de ferro teve um importante papel, ou seja, “serviu para transportar para fora de
seus domínios aqueles que de alguma forma pudessem impedir seu progresso. Era no famoso
“trem de doido”, que os loucos da região eram conduzidos para o hospital psiquiátrico”
(MACHADO; CALEIRO, 2009, p. 56) Essa seria uma viagem na maioria das vezes sem volta.
Nesse sentido, afirma autora: “como o hospício, instituição criada pelo poder público para
excluir socialmente o louco, o trem de ferro também serviu ao mesmo propósito: levar a carga
insana à cidade dos loucos” (MACHADO; CALEIRO, 2009, p. 57). O que era comum em
Montes Claros segundo a autora.
O que chama atenção é que a remoção dos migrantes categorizados aleatoriamente
como loucos ficou a cargo da polícia e não dos médicos. Nesse momento, não consta no Jornal
Gazeta do Norte nenhuma menção ou mesmo preocupação nesse sentido. O que nos permite
conjecturar se aqueles que foram conduzidos para os hospícios em outras cidades eram
apenas o que possuíam doenças mentais. O encarceramento dos mesmos também foi uma
solução proposta, contudo faltava espaço para esse fim, como é ressaltado: “Prende-los é
coisa que a polícia não pode fazer porque a cadeia pública local não dispõe de cômodos para
dementes” (Gazeta do Norte, Julho de 1939). Ou seja, também são tratados como “caso de
polícia”. Como é mencionado:

Nele precisam colaborar a polícia e a prefeitura. A polícia pra corrigir


os vagabundos, os falsos mendigos, que podem perfeitamente
trabalhar [...]. A prefeitura para regular a mendicância fornecer um
distintivo ao verdadeiro para que o povo possa distinguir do falso
mendigo (Gazeta do Norte, 29 de maio de 1937).

Procuramos identificar, se foram realmente categorizado esses falsos mendigos, mas


não encontramos nenhum registro. O que demostra que essa era mais uma estratégia da parte
do Estado, no intuito de manter esses sujeitos sob controle, inclusive mantendo uma espécie
de Censo feito pela polícia.
A estratégia, no entanto, que parece ter sido a mais eficaz foi adotada com a criação da
Associação das Damas da Caridade. A mesma foi fundada com justificativa de “prestar
assistência social” àqueles que chegavam à cidade e permaneciam na condição de
marginalizados. Contudo, essas “Damas”, geralmente esposas de pessoas “influentes” tinham
um escopo fortemente político. De maneira velada elas tinham como objetivo combater os
“indesejados” visitantes, como é possível verificar a seguir:

A Associação das Damas da Caridade, uma das mais humanas que


aqui temos visto, justiça seja feita, tem lutado com afam no combate à
desgraça dos flagelados, mas que esperança! Quando e como esse
grupo de verdadeiras cristãs resolverá tal problema? Cerca de doze
mil desses infelizes tiveram a situação resolvida partindo para São
Paulo, Baixada Fluminense, e Paraná (Gazeta do Norte, junho de
1936).

A verdadeira intenção dessas “senhoras” era reunir recursos para financiar o “despacho”
desses sujeitos para outras regiões. Sobretudo, aqueles estados onde a entrada de migrantes
não passava pela mesma restrição, como era o caso de São Paulo. Como consta no excerto,
aqueles que contavam com o auxílio das “Damas da Caridade” foram enviados para o Rio de
Janeiro e Paraná. Demonstrando ser essa mais uma estratégia encontrada no intuito de
livrarem-se da presença desses sujeitos.
Outra estratégia utilizada contra a presença dos migrantes foi relacioná-los com a
questão da violência urbana, que segundo o Gazeta do Norte, teria crescido naquela ocasião.
O próprio periódico atuou como um forte aliado nesse sentido. Essa ideia, segundo Santos
(1998), geralmente é atribuída a esses sujeitos marginais desqualificando-os, onde é criada
uma imagem depreciativa. É recorrente na história dos trabalhadores da cidade, relacionar a
pobreza ao crime, “misturando os que se tentavam marginalizar com a marginalidade”
(SANTOS, 1998, p. 97). Algo análogo à realidade dos migrantes retidos em Montes Claros
pode ser constatado nesse sentido.
Nas diversas matérias publicadas na ocasião pelo Gazeta do Norte, uma em especial,
nos chamou atenção, quando foi mostrado cerca de dez assaltos que foram cometidos na
cidade, de maneira que seria impossível não alarmar o leitor. Nessa edição foi relatado que:
“Montes Claros no momento está vivendo horas de sobressalto, isto devido uma corajosa
ofensiva de uma turma de gatunos sobre a população local. Vários assaltos têm se verificado
ultimamente. A quadrilha esta movimentando sem perda de tempo” (Gazeta do Norte, 27 de
novembro de 1937). Segundo a fonte as vítimas tiveram suas residenciais arrombadas e
invadidas, vários objetos de alto valor foram levados pelos assaltantes. Menciona inclusive que
nem mesmo a casa paroquial foi poupada. Dessa vez a investida só não foi bem sucedida,
porque o então reverendo, padre Lucas Van recebeu o ladrão a tiro, como consta nesse
fragmento:

O estampido acordou toda a vizinhança, que há muito andava


sobressaltada. Elle partiu da residência do Rer. Padre Lucas Van In.
O ladrão alli esteve, tentando arrombar uma porta. Conseguiu. Mas,
isso somente, depois de ter despertado o padre Lucas que, armado
de revolver, disparou a arma, não atingindo, entretanto, o alvo. E o
homem escapou (Gazeta do Norte, 27 de novembro de 1937).
A cada novo dia o Gazeta noticiava uma nova invasão, sempre com o mesmo desfecho, a casa
era arrombada, o morador atirava contra o suposto assaltante, mas o mesmo nunca era
almejado e sempre escapava ou sequer era preso, como consta no seguinte relato:

Na noite seguinte os estampidos foram ouvidos partiram da


residência do sr. Marciano Simões. O ladrão lá esteve. As suas
tentativas foram porem debalde. Na casa todos estavam a sua
espera. Os tiros partiram, não encontrando, porem, o alvo visado. As
marcas de sua passagem ficaram bem claras. As portas tinham sido
arrombadas (Gazeta do Norte, 27 de novembro de 1937).

Desses inúmeros episódios a conclusão do Jornal era sempre a mesma como uma maneira de
justificar os fatos ocorridos: “Montes Claros, cidade que, como se sabe, é ponto de
convergência de todos os que residem no Norte do Estado, e no Sul da Bahia” (Gazeta do
Norte, 27 de novembro de 1937). O colunista finaliza reafirmando que as mazelas urbanas
ocorrem devido a presenças dos retirantes, ou seja, marginalização e marginalidade são
tratadas como sinônimos.
O que chamou atenção é que em edições futuras o próprio Gazeta do Norte faz
menção aos exageros construídos acerca das “histórias dos ladrões” na cidade, que em nossa
opinião ele mesmo contribui para difundir. O mesmo de maneira irônica fez um retrato falado do
possível bandido, e antes foi noticiada a existência de uma quadrilha: “Um sujeito
simultaneamente branco e preto, gordo e magro que, de uns tempos pra cá, tem posto de
canto muita gente medrosa nessa pacata Montes Claros” [...]” (Gazeta do Norte, 04 de
dezembro de 1937) A mesma urbe que nas edições anteriores foi descrita como violenta devido
as ações do ladrões, agora é mencionada como tranquila. Em seguida completa: “Entretanto
essa história de ladrão (história de mal gosto, convenhamos) está saindo muito cara a muita
gente [...] dentro de poucos dias Montes Claros esquecerá essa história de ladrão, como
esqueceu a do fantasma [...]” (Gazeta do Norte, 04 de dezembro de 1937). Esse outro
posicionamento do Jornal nos leva conjecturar que essa estratégia de atribuir a violência
urbana aos migrantes foi uma espécie de “tiro no pé”. Pois acabou reforçando ainda mais a
ideia de uma cidade violenta e sem o controle do Estado, algo que não era interessante para os
planos da elite local, dentro do plano de modernização da urbe. Mas que na prática relacionava
esses episódios de violência a presença dos migrantes, o que só reforçou ainda mais a
exclusão vivenciada pelos mesmos, sobretudo em relação a população.
Conclui-se que na década de 1930 foram diversas as estratégias adotadas em relação
a incomoda presença dos migrantes em Montes Claros. Embora, a partir de 1940 outras
medidas foram adotadas com o objetivo de manter essa população sobre controle por parte do
governo local. Como utilizá-los em serviços e obras da prefeitura e na continuidade das obras
da ferrovia que foi retomado seu prolongamento. Percebemos, entretanto, que num primeiro
momento a mobilização era mesmo no sentido de livrar a cidade da presença desses sujeitos.
Oliveira (2011) nos chama atenção justamente nesse sentido, ou seja, como a sociedade
concebe a migração, preocupa-se apenas com os problemas sociais que ela causa, enquanto a
mesma deveria se voltar para aqueles que a causa. Algo que constatamos nesse percurso da
pesquisa. O autor afirma ainda que: “Nem todos os migrantes seriam “um problema social”,
mas nas migrações estaria envolvido, sem dúvida, um problema social, que reside na
dificuldade de inclusão do migrante” (OLIVEIRA, 2011, p. 24). Percebe-se que essa ideia
contribuiu para que a mobilidade desse migrante fosse marcada pela marginalização, exclusão
social e mortes. A possibilidade de inclusão daqueles que eram retidos sequer foi cogitado
nesse período em Montes Claros.

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