Bras.

il
revista
Número 31 • dezembro 2022

saída cidade de
definitiva tzfat
regras e arte e

obrigações misticismo

a revista dos brasileiros em israel

 Brasil
13 04 Depois da mudança, a saída
definitiva
Georgeana Macedo Rezende e
Juliana Schuery
07 CNBI: reforçando a relação
Brasil-Israel
Ricardo Scheinkman
25
Foto: Marina Silva (Flickr)

Israel
Foto: Arquivos do Estado de Israel 10 Considerações pós-eleições em
07 Israel 2022
Yoel Barnea
13 Lixo eletrônico: o que é, como
tratar e o que fazer?
Alfred Szwarc
16 Tshik Tshak
20
18 Quem é minha rua
20 O caso Altalena: “Judeus
atirando em judeus”
04 Shir Aharom Bram
25 O que é ser médico em Israel
Adriana Del Giglio

Aliá
28 Olê, Olê, Olê, Olá
Foto: Ricardo Tulio Gandelman, CC
BY 2.0, via Wikimedia Commons
Judaísmo
30 CEKSP ajuda quem quer ser
32 casher
Raphael Laufer Orlean

Kehilot
32 Tzfat ou Safed: a cidade da
cabalá e da arte

Foto: ‫ד"ר אבישי טייכר‬, CC BY 2.5

(Wikimedia Commons)

10

30
Foto: Kremlin.ru, CC BY 4.0 (Wikimedia Commons)

2 • Bras.il • www.bras-il.com
DO EDITOR
Esta edição marca o final de mais um ano civil.
Muitos acontecimentos importantes marcaram o ano de 2022, como
o fim da pandemia, as eleições no Brasil e em Israel, a guerra da Rússia
e Ucrânia, a Copa do Mundo.
Milhares de pessoas fizeram aliá, entre elas centenas de brasileiros.
Para quem ainda não está muito a par, apresentamos um importante
artigo sobre as regras e obrigações com o Imposto de renda dos brasi-
leiros que vão morar no exterior, a chamada saída definitiva.
Os brasileiros que aqui chegam costumam se deparar com diferen-
ças culturais e do dia a dia em Israel. Uma delas, por sinal das mais
importantes, é o funcionamento do sistema de saúde e a relação médi-
co-paciente. Nesta edição, um depoimento de uma médica que deixou
Número 31 • Dezembro 2022
o Brasil e veio exercer seu ofício em Israel.
Nossa capa
A variedade de temas que caracteriza a Revista Bras.il é demons-
Foto: Shutterstock
trada com os demais artigos, que vão do lixo eletrônico à cashrut, das
eleições à cabala ou da economia ao fatos que marcaram a história do
Estado de Israel.
Se você quer receber notícias sempre atualizadas, fique atento a
Editora
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Marcia Cherman Sasson
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Boa leitura e Feliz 2023!

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Bras.il • bras.il.editor@gmail.com • 3
Brasil
Depois da mudança,
a saída definitiva
N
Por Georgeana Macedo os últimos anos muitos brasilei-
Rezende ros tomaram a decisão de migrar
gmacedo@mppadv.com.br para outros países. Os motivos
Sócia do escritório Macedo & Pagliuso para a mudança são diversos. Algumas
Advogados vezes tudo acontece de forma planejada
e em outros momentos elas acontecem
de uma hora para a outra.
Juliana Schuery Seja planejada ou repentina, todos
juliana.schuery.aai@alocc.com.br
que deixam o Brasil para viver em outro
Planejadora Financeira CFP®️ da Alocc
país precisam tomar alguns cuidados
Gestão Patrimonial
quando o assunto é imposto de renda.
A legislação brasileira possui regras
Especial para Bras.il e obrigações para aqueles que deixam o
país que se não observadas podem levar
à suspensão do CPF. O procedimento
para deixar tudo regularizado junto à
Receita Federal do Brasil é simples e po-
de ser feito a partir do exterior, mediante
transmissão de declarações via internet.
No Brasil, considera-se não-residente
fiscal a pessoa física que deixe o país em
caráter permanente. Também é conside-
rado não-residente fiscal a pessoa que
4 • Bras.il • www.bras-il.com
Foto: Canva
saiu de forma temporária, mas completou
12 (doze) meses de ausência do Brasil.
Não se trata de uma escolha, mas de
uma caracterização que leva em conta o
tempo de permanência e a intenção da
pessoa.
A Receita Federal do Brasil prevê
duas obrigações fiscais relativas à saída.
A primeira delas é a “Comunicação de
Saída”. A “Comunicação de Saída” deve ser
transmitida para quem deixa o Brasil em
caráter permanente ou para aquele que
permaneça fora do país por mais de 12
(doze) meses.
Na saída em caráter permanente o
prazo para transmitir a “Comunicação de
Saída” inicia-se com a data de saída e
finda-se no último dia útil de fevereiro do
ano-calendário subsequente. Para quem
deixa o Brasil em caráter temporário, mas
se torna não-residente posteriormente, a
transmissão deve acontecer entre a data
da caracterização de não-residente e o
último dia útil do mês de fevereiro do
ano-calendário subsequente.
O preenchimento da “Comunicação de
Saída” é feito de forma “on-line” na pági-
na da Receita Federal do Brasil e requer a
inserção de algumas informações:
1. O CPF do titular e do(s) dependen-
te(s) se houver,
2. O número do recibo da última de-
claração entregue, se houver
3. O número de título de eleitor se
possuir,
4. A data de nascimento,
5. A data de caracterização da saída,
6. O CPF de um procurador, se houver,
7. O endereço da nova residência e um
telefone para contato, e
8. Os CNPJs da(s) Fonte(s) Pagadora(s),
do titular e do dependente.
Informar o CNPJ da Fonte Pagadora
é muito importante. Por isso,
“Comunicação de Saída” deve ser preen-
chida em um momento dedicado a isso.
Deve-se ter em mãos a última declaração
de imposto de renda e dela extrair os
CNPJs das fontes que realizaram os paga-
mentos isentos ou tributáveis no último
ano-calendário e ainda verificar se houve
nova fonte que tenha realizado paga-
mento no ano da saída. São exemplos
de fontes pagadoras, as pessoas jurídicas
empregadoras, as instituições financeiras,
o INSS, uma administradora de imóveis,
dentre outros.
A segunda obrigação perante a Receita
Federal do Brasil é a “Declaração de
Saída Definitiva do País - DSDP”. A DSDP
deve ser apresentada por quem deixa de
ser residente fiscal no Brasil.
Esta declaração é preenchida de
forma muito similar à “Declaração de
Ajuste Anual”, popularmente chamada de
Declaração de Imposto de Renda. O pre-
enchimento da DSDP é realizado no mes-
mo ambiente de programa da Declaração
de Imposto de Renda e o prazo idêntico.
Devem ser preenchidos na DSDP, os
a mesmos dados de uma declaração nor-
mal do IRPF e também: o novo endereço,
o CPF do procurador se houver, os ren-
dimentos auferidos enquanto residente,
a data em que deixou de ser residente
fiscal no Brasil, os dependentes que estão
deixando o país também e a situação dos
bens, direitos e dívidas na data da saída.
Uma vez preenchido, o arquivo deve ser
transmitido e, se houver imposto a pagar,
o pagamento deve ser realizado.
Cumpridas estas duas etapas, a pessoa
física que deixa de ser residente fiscal
não está mais obrigada a apresentar
Declaração de Imposto de Renda até seu
retorno ao Brasil. Com estes procedimen-
tos, o CPF fica em situação regular, o que
permite a realização de transações finan-
ceiras no Brasil e também para envio de
numerário de ou para o exterior.
Com a regularidade do CPF, o não-re-
sidente poderá deter quotas ou ações de
sociedades e auferir lucros ou dividen-
dos. O não-residente fiscal, contudo, não
poderá ser administrador de sociedades.
Também é legítimo manter a propriedade
de imóveis e receber aluguéis por eles.
Muitas pessoas que se mudam do país
mantêm as contas que detinham antes
e deixam de comunicar aos bancos e
corretoras de valores o novo status. Este
procedimento pode causar a suspensão
do CPF. O procedimento a ser seguido
constitui no encerramento das contas
Bras.il • bras.il.editor@gmail.com • 5

até então mantidas junto a bancos e
corretoras de valores para então abrir
a conta para domiciliado no exterior
(“Conta CDE”).
Atualmente o custo de manutenção
desta conta é mais elevado do que o de
uma conta para residente, mas espera-se
que a partir de 2023 este cenário mude
com os avanços da nova lei cambial.
Para as contas CDE, alguns bancos
oferecem pacotes com tarifas mensais ou
taxa de movimentação avulsa.
A abertura de uma conta CDE tem
condições:
• O CPF deve estar em situação regu-
lar perante a Receita Federal do Brasil.
• O titular não pode residir ou ter
domicílio fiscal no Brasil. No caso de bra-
sileiro não-residente, o indivíduo precisa
apresentar ao banco a “Declaração de
Saída Definitiva do País - DSDP”.
• Caso a abertura da conta seja fei-
ta pelo procurador, deve-se apresentar
procuração específica com emissão há
menos de 90 dias.
• A conta não admite co-titular
(Circular nº 3.750 do Banco Central, de
11 de março de 2015).
• Os investimentos que podem ser fei-
tos são poupança, CDB do próprio banco
e Previdência.
• Para movimentar valores iguais ou
superiores a R$ 10.000,00 o titular deve
6 • Bras.il • www.bras-il.com
apresentar documentos comprobatórios,
conforme Circular Normativa nº 3.691 do
Banco Central.
Esse último item serve para que o
banco depositário atenda a obrigatorie-
dade de registrar no Sistema do Banco
Central - Sisbacen, até o segundo dia
útil após a realização da operação, todas
as transferências internacionais de valor
superior a R$ 9.999,99.
No caso da previdência, existem as
modalidades PGBL e VGBL. Recomenda-
se que a aplicação seja feita em VGBL
pois a tributação dessa modalidade in-
cide apenas sobre os rendimentos da
aplicação.
Para quem quer ampliar a gama de
investimentos disponíveis, há uma moda-
lidade de CDE que atende esta demanda.
Trata-se da “Conta 4373” (a denominação
vem do número da norma que a criou,
Resolução nº 4373 do Banco Central, de
29 de setembro de 2014, alterada pela
Resolução CMN nº 4.852, de 27 de agosto
de 2020). Esse tipo de conta com um cus-
to mais elevado que a simples conta CDE,
mas, por outro lado, permite aplicar em:
• Ações
• Derivativos
• Fundos de investimento
• Títulos de renda fixa públicos
• Títulos de renda fixa privados
• Contratos futuros de moeda
Seja planejada ou
repentina, todos
que deixam o
Brasil para viver
em outro país
precisam tomar
alguns cuidados
quando
o assunto é
imposto de renda.
De forma geral, com a “Conta 4373”
pode-se aplicar em ativos negociados
ou registrados na B3 (Bolsa de Valores),
CETIP e SELIC. Não é permitido que se
compre ativos em mercado de balcão.
Geralmente os bancos cobram uma
taxa de administração anual sobre o
saldo da “Conta 4373”, e exige um valor
mínimo mensal em reais. Isso porque a
instituição financeira oferece os serviços
de representação legal, representação
tributária e custódia para o investidor
não-residente (INR), obrigações legais
para esse tipo de conta.
Em 27 de agosto de 2020, o Conselho
Monetário Nacional (CMN) publicou a
Resolução nº 4852, que dispensa as pes-
soas físicas que querem investir no Brasil
de constituir custodiantes no país. O ob-
jetivo do CMN é permitir a redução dos
custos relacionados à conta 4373.
Portanto, o não-residente fiscal em
situação regular não precisa se privar de
investir no Brasil.
 Brasil
CNBI: reforçando A
relação brasil-Israel
E
m 23 de maio de 2022, foi oficial-
Por Ricardo Scheinkman
mente registrada junto à Receita
Presidente da Confederação Nacional
Federal do Brasil, a CNBI, Confede-
das Câmaras de Comércio Brasil-Israel
ração Nacional das Câmaras de Comércio
Especial para Bras.il
Brasil-Israel, entidade que consolida os
efetivos interesses de relacionamentos
entre as diversas câmaras de comércio,
indústria e cooperação, espalhadas pelo
Brasil.
No momento, estamos ativos em 12
estados brasileiros: Bahia, Distrito Fe-
deral, Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais,
Pará, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro,
Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e
Santa Catarina.
Os objetivos dessa Confederação e de
suas entidades afiliadas, estão voltados
para ampliar e solidificar os relaciona-
mentos já existentes há cerca de 75 anos
entre Israel e Brasil. Assim sendo, pla-
nejamos que para o triênio 2022/23/24,
uma pauta de atividades e objetivos seja
elevar o comércio entre Brasil e Israel de
forma substancial, de US$ 1,6 bi a US$
5 bi anuais até o final do ano de 2024,
com investimentos bilaterais de US$ 1 a
US$ 2 bi por ano na indústria, comércio,
tecnologia, saúde, agricultura, construção
e em outros segmentos expressivos.
Planejamos incentivar a inovação, não
apenas na produção de novas tecnolo-
gias e na geração de pesquisas em geral,
mas também incentivar o amplo conhe-
cimento tecnológico e científico entre
esses dois países gigantes: o Brasil com
um mercado e população continental e
Israel, a Startup Nation, com suas inova-
ções, tecnologia e conhecimentos gerais.
Para tanto, deveremos elaborar, nesse
triênio, diversas estratégias de atuação
Bras.il • bras.il.editor@gmail.com • 7
 Queremos fortalecer a ponte entre Brasil e Israel nos mais diversos setores para o fortalecimen-
to das relações entre os países. Contamos com a colaboração dos empresários locais, do Instituto
de exportação, Ministérios, Universidades e a Autoridade de Inovação de Israel. Em hebraico se diz:
Kadima! (vamos em frente!)
Silvia Brand - Diretora da Câmara do Comércio e Industria Israel-Brasil

A criação da CNBI - Confederação das Câmaras de Comércio Brasil-Israel, pleito antigo de todas
as câmaras federadas, foi de fundamental importância. Há bastante tempo sentíamos a necessidade
de termos uma interação entre as diversas Câmaras. O Brasil é um país com dimensões continen-
tais, cada estado com sua individualidade no tocante a negócios bilaterais de comércio e indústria.
Esse compartilhamento de experiências tem potencializado avanços claros, além de constituição
de novas Câmaras nas unidades federativas que não tínhamos ocupação, essas ações certamente
refletirão em curto prazo no crescimento da balança comercial entre Brasil e Israel.
Cláudio Goldenberg - Presidente da Câmara de Comércio e Indústria do Rio de Janeiro

Penso que a Câmara de Santa Catarina tem um papel muito importante na Federação, visto
que o estado é considerado a Israel brasileira no que tange a questão de startups de inovação.
Assim como Israel, país que tem o maior número per capita de startups, Santa Catarina é o estado
que apresenta maior número de startups per capita. Então, vejo que esta é uma questão muito
importante. Da mesma forma, o Tech de Israel é essencial para vincular uma série de projetos que
a gente já vem desenvolvendo no Brasil, como a parte de saúde, segurança, cyber segurança, entre
outras coisas.
Daniel Leipnitz - Presidente da Câmara de Comércio Brasil-Israel de Santa Catarina

A constituição da CNBI - Confederação Nacional das Câmaras Brasil-Israel é uma solução tipica-
mente “Yiddishkeit” (modo de ser judaico) para duas necessidades aparentemente conflitantes: cons-
truir uma entidade nacional forte com atuação em todo o vasto território brasileiro para promover
o intercâmbio econômico entre Brasil e Israel que, ao mesmo tempo, tenha uma estrutura enxuta
e se adapte às inúmeras particularidades de cada região. A CCOPIB - Câmara de Cooperação Israel-
Brasil Central, sediada em Goiânia desde 2019, tem o orgulho de ser uma das fundadoras da CNBI.
Acredita que a confederação vai promover a transformação do potencial de cooperação econômica
entre os dois países em negócios concretos, trazendo prosperidade e desenvolvimento para ambos”.
Amos Blanche - Câmara de Cooperação Brasil-Israel Central

A Câmara de Cooperação Brasil-Israel de Ribeirão Preto (CCBIRP) tem como objetivo, juntamente
com a CNBI, estreitar laços de cooperação e desenvolvimento e diplomacia social entre Brasil e
Israel.
Thomaz Algranti Schwartzmann - Presidente da Câmara de Cooperação Brasil-Israel de Ribeirão Preto

A Câmara Minas Gerais - Israel de Comércio e Indústria (CMGI) tem.muito orgulho de fazer parte
dessa criação, uma vez que esse movimento abre ainda mais as portas e fortalece as pontes entre
os empresários e entidades mineiras e israelenses. É um grande avanço para o desenvolvimento
das duas regiões
Paulo Jelihovschi - Presidente da Câmara Minas Gerais - Israel de Comércio e Indústria

8 • Bras.il • www.bras-il.com
para ampliar o relacionamento entre es-
sas duas grandes nações, visando acima
de tudo, promover uma diplomacia social,
com objetivos claros de fortalecer o rela-
cionamento entre as centenas de institui-
ções públicas e privadas dos dois países.
Nossas diversas câmaras espalhadas
pelo Brasil estão constituídas de forma
autônoma, com suas atividades e dire-
torias próprias. Conforme a legislação
brasileira, também contam com seus pró-
prios CNPJ, Presidente e diretoria local,
com autonomia de gestão e atuação em
suas regiões geográficas, para facilitar
o relacionamento e fomentar comercio
internacional de mercadorias e serviços
entre os estados e Israel.
As câmaras de Comércio e Indústria
Brasil-Israel funcionam ativamente há
mais de 60 anos no território brasileiro
construindo pontes de relacionamentos
entre empresários de ambos os países, e
sendo uma fonte de geração de incontá-
veis atividades entre os setores públicos,
privado e acadêmico no Brasil e seus
pares de Israel.
Para o ano de 2023, a Confederação
tem uma agenda robusta com mais de
15 missões comerciais e acadêmicas pla-
nejadas. Organizada em diversos estados
do Brasil, a Confederação atenderá os
principais setores econômicos, contando
com dois eventos nacionais, seis regio-
nais, assim como participações ativas nos
principais encontros de tecnologia, ciên-
cia e inovação sediados tanto no Brasil
como em Israel.
Atualmente, a CNBI, através de suas
12 associadas, está envolvida em setores
de destaque, tais como energia, petróleo
e gás, financeiro, agricultura, indústria, lo-
gística, moda, construção, saúde, comércio
exterior, entre outros.
Os principais serviços prestados pelas
diversas câmaras de comércio, indústria
e cooperação (espalhadas pelo território
nacional), são o fomento de Parcerias
Comerciais e Arbitragem, Programas de
Internacionalização Empresarial, Relacio-
namento Institucional, Acordos Comer-
ciais, Câmara 4.0, Missões Comerciais e
Acadêmicas.
Assim, convidamos todos os empresá-
rios, tanto brasileiros como os de Israel,
para participar de uma de nossas câma-
ras de comércio, indústria e cooperação.
Estamos atentos, também, às neces-
sidades dos imigrantes brasileiros em
Israel, no posicionamento dos mesmos
perante às diversas empresas associadas
nas atuais 12 entidades congregadas na
Câmara de Nacional de Comércio Brasil
-Israel, na assessoria de forma profissio-
nal, além do fortalecimento de centenas
empresas de capital israelense já estabe-
lecidas no Brasil, de modo a facilitar às
novas companhias que desejam iniciar
atividades e operação e o seu sucesso
no Brasil.
Bras.il • bras.il.editor@gmail.com • 9
 israel
CONSIDERAÇÕES PÓS-
ELEIÇÕES EM ISRAEL 2022
Por Yoel Barnea
Embaixador (ret.) Cônsul geral de
Israel no Rio de Janeiro (1994-1998) e
em São Paulo (2013-2016)
Especial para Bras.il
10 • Bras.il • www.bras-il.com
O
resultado das eleições do último
primeiro de novembro é muito
claro: um apoio evidente da po-
pulação israelense aos partidos e às po-
sições da direita em Israel. Da esquerda
se apresentaram muitos partidos, alguns
com menor representação e divididos, a
tal ponto que não lograram nem mesmo
assinar acordos de excedentes de votos
entre partidos do mesmo bloco que não
chegam a eleger um deputado adicional.
Os acordos visam reunir os votos exce-
dentes entre os dois partidos que assi-
nam e deste modo eleger conjuntamente
mais deputados - os votos não se perdem
e favorecem o bloco.
Meu “partido político” é o Estado de
Israel. Tenho logicamente minhas con-
vicções e visões políticas, mas minha
intenção é fazer uma análise tão objetiva
quanto possível do resultado das eleições
e das expectativas do governo eleito.
Foto: Canva
Um dos temas centrais das eleições foi
sem dúvida: Bibi (Netanyahu) Sim ou Bibi
Não. Pois bem: o povo decidiu que Bibi
pode e deve voltar ao poder. Apesar do
julgamento em trâmite contra ele, apesar
do fato de que nem sempre ele se aferrou
à verdade, apesar do fato de ele ter utili-
zado às vezes meios “tortuosos” para che-
gar a seus objetivos (Shtikim ve-Trikim na
linguagem popular do povo), mesmo não
tendo cumprido acordos orais e assina-
dos com adversários políticos (também
no seio de seu próprio partido, o Likud),
a maioria do povo, que é soberano, votou
pelo seu retorno à liderança do país. As
razões do êxito do Netanyahu deveriam
ser analisadas num artigo em separado.
O que podemos já adiantar é que,
além dos talentos múltiplos do futuro (e
passado) Primeiro-Ministro, a oposição
atual (e governo até as eleições) fez er-
ros importantes que ocasionaram este
fracasso. Como descrito, o bloco de centro
-esquerda sofria de divergências internas
e não logrou unir e reunir suas forças e
capacidades, frente ao bloco da direita,
que funcionou de uma maneira coorde-
nada e eficaz, liderado por Netanyahu.
No bloco dos partidos que constituí-
ram o governo de saída existe uma riva-
lidade inerente entre o Primeiro-Ministro
Yair Lapid e seu Ministro de Defesa Benny
Gantz, que data de eventos ocorridos nas
quatro campanhas de eleições prévias.
Gantz sublinhou ao longo da última cam-
panha que o único que poderia constituir
um governo de centro-esquerda, que po-
deria continuar as políticas do governo
atual seria somente ele, em outras pala-
vras, Gantz prejudicou o seu próprio líder
do bloco, Lapid, um “gol contra” evidente.
A falta de unidade interna no bloco
Lapid-Gantz foi um elemento presente
ao longo da campanha. Para preservar os
votos deste bloco era imprescindível que
os pequenos partidos, como o partido do
Trabalho-Haavoda de Meirav Michaeli e
o partido de esquerda - Meretz de Zeha-
va Galon se unissem, evitando assim o
perigo mútuo de não
ter representação na
próxima Knesset. Mi-
chaeli se opôs, Lapid
não pressionou o su-
ficiente os dois par-
tidos - ele enfatizou
que o perigo de “sumir”
da Knesset não existia, segundo suas
pesquisas, e os dois partidos se apre-
sentaram às eleições separadamente. O
Haavoda logrou 4 parlamentares e o Me-
retz ficou sem representação na Knesset.
Parece que Lapid optou pelo apoio a seu
partido Yesh Atid, sem tomar em conta as
necessidades do bloco.
Além disto, o bloco de Lapid não deu
a importância merecida à minoria ára-
be em Israel, que representam 20% da
população israelense e seu padrão de
voto influencia mais e mais a realidade
política em nosso país. Numa situação
em que há uma paridade, mais ou menos
50% da população que apoia o bloco de
centro-esquerda e outros 50% apoiam a
direita, a posição da minoria árabe e sua
representação na Knesset é de grande
importância e o bloco não agiu em con-
sequência.
Frente a estes empecilhos, Netanyahu
e seu bloco escolheram uma política
muito mais coerente, posicionando o su-
cesso do bloco no centro das considera-
ções. Por isso, os dois partidos de direita
(alguns dirão de extrema direita) “Sio-
nismo Religioso” de Smotrich e “Otzma
Yehudit” (Potência judaica) de Ben-Gvir
uniram forças e se apresentaram ao elei-
tor sob uma lista única e unida. É um bom
exemplo do princípio “a união faz a força”.
Não devemos ignorar os logros do
governo Lapid-Bennet: aprovação do or-
çamento nacional (que Netanyahu blo-
queou, por razões eleitorais e políticas,
prejudicando assim os interesse do país),
o acordo de extração marítima de gás
Bras.il • bras.il.editor@gmail.com • 11

Foto: site Knesset
com o Líbano, a luta contra o terrorismo
palestino, a defesa dos interesses isra-
elenses frente ao Irã, encaminhamento
do processo para diminuir os preços do
setor imobiliário, da carestia da vida e
dos preços ascendentes. Estes últimos
itens terão que ser tratados ainda ampla-
mente pelo novo governo, pois se trata
de uma longa e perseverante batalha.
Itamar Ben-Gvir teve um desempenho
muito positivo nesta campanha eleitoral.
Ele soube acentuar os problemas im-
portantes que preocupam a população:
segurança interna, a polêmica pena de
morte para os terroristas, permissão aos
soldados israelenses de lançar mão de
uma política mais agressiva na Judéia e
Samaria. Segundo ele: “devemos mostrar
quem é o dono da casa em nosso país”.
Ben-Gvir apoia o direito dos judeus de
rezar no “Monte do Templo” em Jerusa-
lém, sagrado para judeus e muçulmanos.
Isso poderia “acender o Oriente Médio” e
acrescentar ao conflito israeli-árabe um
aspecto religioso muito perigoso.
Ben Gvir participou de vários eventos
de caráter violento no passado e seu
apoio ao sistema democrático não é
evidente para todos. Ele afirma que se
tornou mais moderado. Também é verda-
de que as posições mudam ao integrar o
12 • Bras.il • www.bras-il.com
governo e ter de assumir responsabilida-
des por suas decisões. Pergunta o profeta
Jeremias (capítulo 13-versículo 23): Pode
acaso o negro mudar a sua pele ou o
leopardo as suas manchas? Aqui resi-
de a pergunta-chave. Ben Gvir moderou
realmente suas visões ou é um truque
eleitoral para acumular mais votos?
Parece que primeiro-ministro designa-
do nomeará Ben-Gvir Ministro da Segu-
rança Interna, uma pasta muito sensível
e vital nas circunstâncias de nosso país.
Saberá Ben-Gvir executar uma política
responsável e moderada? Entende ele
profundamente a diferença entre oposi-
tor ao governo e ministro responsável?
O futuro dirá.
Além disso, há vários dirigentes do
Likud que exigem funções ministeriais no
novo governo. O MK (Membro da Knesset
- Parlamento israeli) David Amsalem por,
exemplo, exige a pasta da Justiça, visando
realizar mudanças radicais (com o apoio
de Netanyahu) que poderiam prejudicar
nossa democracia (fonte de orgulho de
nosso Estado), assim como afetar o prin-
cípio democrático sagrado da separação e
independência absoluta dos três poderes
do Estado (judiciário, executivo e legis-
lativo). Outorgar esta pasta a Amsalem,
segundo meu modesto ponto de vista,
equivaleria a “introduzir um elefante nu-
ma loja de porcelana”. Sem dúvida, trata-
se de um quebra-cabeças difícil para o PM
designado Netanyahu e creio que tomará
um tempo mais longo do que o previsto
para satisfazer as exigências das diversas
partes e constituir o novo governo.
Há também um certo receio da popu-
lação liberal de que os partidos religio-
sos da nova coalizão tentem introduzir
leis religiosas suplementares, aprovei-
tando a dependência de Netanyahu des-
tes partidos, restringindo ainda mais as
liberdades individuais no país.
No cenário internacional, percebe-se
um certo receio pela inclusão de ele-
mentos extremistas no futuro governo.
Tomou uma semana para o presidente
dos Estados Unidos Biden e para o PM
alemão Scholz felicitar Netanyahu. En-
quanto redijo estas linhas, os líderes
da Grã-Bretanha, da França e de outros
importantes estados democráticos ainda
não se manifestaram. Por outro lado, a
Hungria, a Polônia, a Itália (com governos
de direita mais ou menos moderados)
foram os primeiros a se manifestarem.
Acho que as excelentes relações com os
Estados Unidos e com os países ociden-
tais seguirão, com algumas reservas e nu-
ances, no que diz respeito aos ministros
destes dois partidos de extrema direita.
Para concluir, devemos ressaltar uma
vantagem central do resultado destas
eleições: contrariamente às quatro úl-
timas, há uma boa chance de que este
governo seja mais estável que os anterio-
res, pois dispõe de uma maioria evidente
e cômoda. Isso deveria permitir ao PM
designado Netanyahu desenvolver uma
política coerente, com um apoio massivo
dos outros sócios da coalizão. A dúvida
que permanece é se a direção que parece
tomar este governo é aquela que o país
necessita, nesta etapa tão importante de
sua crônica nacional. Observaremos com
muito interesse!
 israel
lixo eletrônico
o que é, como tratar e o que fazer?
Por Alfred Szwarc
Engenheiro Mecânico e Ambiental
adsconsultores1@gmail.com
Especial para Bras.il
Q
uem é que já não se deparou
com um montão de produtos
elétricos e eletrônicos sem
uso em gavetas, armários e
cantos de casa? Deixados de lado ou
esquecidos, são equipamentos que se tor-
naram obsoletos, que necessitam reparos,
que simplesmente não necessitamos ou
que não queremos mais. Estamos falando
de uma enorme gama de produtos, como
telefones celulares e sem fio, computa-
dores, impressoras, monitores, câmeras,
calculadoras, fornos de microondas, TVs,
equipamentos de áudio, games, secado-
res de cabelo, carregadores, cabos, toma-
das etc., que deixaram de ter utilidade e
uso. Esse universo de produtos tornou-se
conhecido como lixo eletrônico, ou “e-li-
xo”. Segundo a ONU, vivemos um “tsuna-
mi de e-lixo”, sendo atualmente gerados
cerca de 58 milhões de toneladas desses
Foto: Canva
resíduos por ano. Mas isso não é tudo,
pois existe uma quantidade considerável
de e-lixo em vários países que não é
contabilizada. Importante lembrar que
a fabricação desses produtos consumiu
grande quantidade de recursos naturais
e energia e gerou emissões de poluentes
e de gases que promovem o aquecimento
global, portanto, é imprescindível reapro-
veitar o que for possível.
O rápido crescimento desses resídu-
os se deve a diversos fatores sociais e
econômicos. Entretanto, o fator principal
é que, cada vez mais, grande parte de
nossos interesses e estilo de vida estão
ancorados em tecnologias mutantes que
dependem de componentes elétricos e
eletrônicos. Não é por outra razão que
somos bombardeados diariamente pelos
fabricantes e prestadores de serviços de
comunicação a adquirir novos produtos,
Bras.il • bras.il.editor@gmail.com • 13
que supostamente atenderiam cada vez
melhor nossas necessidades. Além do
crescimento populacional e melhor aces-
so à renda, que ampliam o mercado de
consumidores, temos que a redução do
custo de fabricação, os ciclos de renova-
ção tecnológica cada vez mais curtos e
a questionável prática da obsolescência
planejada pelos fabricantes, são elemen-
tos-chave para a compreensão desse
fenômeno. Debates calorosos sobre esse
tema se multiplicam em todo o mundo
envolvendo cientistas, governantes, fabri-
cantes e vários segmentos da sociedade,
buscando respostas sobre como melhor
equacionar o problema. O consumidor
está no centro desse debate e certamen-
te tem um papel a cumprir. O tradicional
mantra dos três “R” da sustentabilidade
ambiental – Reduzir, Reutilizar e Reciclar
– pode ajudar. Veja como:
a) Reduza a geração de e-lixo por
meio da compra e uso racional dos pro-
dutos que realmente necessite e cuide
deles adequadamente para que tenham
uma vida útil longa.
b) Promova a reutilização de produtos
que não estão em uso por meio de seu
reparo, venda ou doação para alguém que
possa utilizá-los.
c) Encaminhe para reciclagem todos os
produtos que não puderem ser reparados,
reutilizados ou que estejam obsoletos.
A reciclagem de e-lixo é uma opera-
ção complexa que vem sendo aprimo-
rada ao longo dos anos, mas que ainda
enfrenta desafios, pois muitos produtos
e componentes foram produzidos sem
que houvesse preocupação com sua re-
ciclagem. Apesar disso, é considerada a
melhor alternativa para o tratamento e
destinação final desses produtos.
Em diversos países o e-lixo é apenas
recolhido e exportado para outros países,
geralmente pobres, como a Nigéria, Gana
e Bangladesh, que aceitam esse tipo de
“mercadoria”. Enquanto para uns é uma
forma cômoda e simples, embora eti-
camente questionável para se livrar do
problema, para os que recebem o e-lixo
acaba sendo uma oportunidade de renda
e de trabalho, pois podem cobrar por seu
recebimento e dispõe de farta mão de
14 • Bras.il • www.bras-il.com
obra para desmontar os produ-
tos e obter materiais de elevado
valor, como platina, ouro, prata,
cobalto e cobre, existentes em
circuitos eletrônicos e compo-
nentes elétricos. Essa prática,
contudo, vem sendo reduzida
pois esse trabalho de “minera-
ção urbana” é geralmente feito
com a utilização de processos
primitivos de extração e proces-
samento, que expõe os trabalha-
dores a condições insalubres de
trabalho e a riscos ocupacionais
sérios, resultando em disposição
inadequada dos resíduos rema-
nescentes em lixões que con-
taminam o meio ambiente. Essa
contaminação e seus efeitos nefastos,
apesar de serem ignorados pelos respon-
sáveis por esse comércio, acabam resul-
tando em importantes custos sociais e
para a saúde. De fato, deve-se evitar lan-
çar e-lixo no meio ambiente ou queimar
seus componentes a céu aberto pois di-
versos componentes utilizados na fabri-
cação de produtos elétricos e eletrônicos
contêm metais e produtos químicos de
elevada toxidez, que podem contaminar
o solo, as águas, o ar e, consequentemen-
te, os alimentos. A lista desses produtos
inclui poluentes perigosos como chumbo,
cromo, cádmio, níquel e mercúrio, que
podem se acumular nos organismos vivos
e causar sérias doenças, como o câncer.
As crianças são particularmente sensíveis
aos efeitos desses poluentes, podendo,
entre outros efeitos negativos, desen-
volver doenças neurológicas e ter o seu
crescimento e desenvolvimento afetados.
Israel, à semelhança de outros países
que fazem parte da OECD, tem uma legis-
lação específica para lidar com a questão
do e-lixo, que foi aprovada em 2012 e
entrou em vigor em 2014 (Lei para os
equipamentos elétricos e eletrônicos e
baterias). Segundo as disposições legais,
os fabricantes e importadores dos pro-
dutos abrangidos devem tratar o e-lixo
ou utilizar os serviços de empresas espe-
cializadas e certificadas pelo Ministério
do Meio Ambiente (MMA). São objetivos
principais da lei: reduzir a quantidade
Foto: Canva
de e-lixo produzido, prevenir a sua des-
tinação final incorreta reduzindo o seu
impacto ambiental e estimular a sua re-
ciclagem. Para tanto, foram estabelecidas
as seguintes diretrizes principais que são
supervisionadas pelo MMA:
• Fabricantes e importadores são obri-
gados a reciclar até 50%, em peso, dos
equipamentos elétricos e eletrônicos que
vendem em um dado ano e no caso de
baterias essa meta é de até 35%.
• Caso não reciclem o e-lixo direta-
mente, os fabricantes e importadores
devem usar os serviços de empresas es-
pecializadas e certificadas para esse fim
e fornecer a essas empresas a listagem
dos produtos vendidos anualmente e o
seu respectivo peso.
• As empresas de comércio que atuam
na venda de equipamentos elétricos e
eletrônicos são obrigadas a fazer acordos
de coleta de e-lixo com empresas certifi-
cadas para esse fim.
• As lojas que comercializam esses
equipamentos devem permitir que os
compradores de produtos novos lhes
entreguem equipamentos usados do
mesmo tipo que os que estão sendo ad-
quiridos. Por exemplo, na compra de uma
TV nova pode-se entregar uma TV usada.
• Comerciantes de baterias são obri-
gados a ter recipientes nas lojas para o
descarte de baterias usadas pelo público
em geral.
• As autoridades municipais devem
contratar apenas empresas certificadas
para viabilizar as condições para a cole-
ta e reciclagem de e-lixo, inclusive para
retirar e-lixo das residências, e dispor de
localidades onde os moradores possam
descartar e-lixo. Desde 2021, passaram a
ter a obrigação de oferecer condições se-
guras para a disposição de baterias à base
de lítio de bicicletas e motonetas elétricas,
que requerem alguns cuidados especiais.
• Todos os cidadãos devem descartar o
e-lixo de acordo com as regulamentações
municipais.
Em 2014, duas empresas de recicla-
gem - a Ecommunity e a M.A.I - receberam
certificação do MMA e foram autorizadas
a prestar esse serviço. Em 2024, deverão
solicitar nova certificação para poderem
continuar a operar. Os serviços prestados
são remunerados com fundos municipais
e com pagamento feito pelos fabricantes
e importadores de equipamentos elétri-
cos e eletrônicos que os contratam.
Para dar uma destinação adequada ao
e-lixo há algumas alternativas:
1. Venda, troca ou doação. Recente-
mente, uma startup israelense (Refur-
bished Smartphones Revolution www.
get-re.com) apresentou uma máquina au-
tônoma de vendas que pode vir a auxiliar
nesse processo, possibilitando o descarte
de celulares para reciclagem ou a sua
troca por produtos recondicionados ou
por um vale para compra de um novo.
2. devolução do produto para a loja
onde foi comprado, que deve aceitá-lo
segundo a lei em vigor. Aliás, dependendo
do tipo de produto e de seu estado, é
possível que o comerciante o aceite como
parte de pagamento em um produto novo.
3. Contato com a prefeitura da sua
cidade para verificar se há locais de
coleta e se é possível fazer a coleta no
domicilio (geralmente para produtos de
grande porte, como geladeiras, máquinas
de lavar roupa e secadoras). Algumas
prefeituras divulgam essas questões em
seus sítios da internet.
4. Contato direto com as empresas
de reciclagem Ecommunity e M.A.I para
orientação sobre locais de coleta e dispo-
sição. A M.A.I apresenta em seu sitio www.
mai.org.il um mapa com diversos locais
5. Busca na internet usando aplicati-
vos como o Google Maps usando pala-
vras-chave em inglês como “ewaste” ou
“electronic waste”. O aplicativo indica
diversos lugares, sendo recomendável
fazer contato prévio.
O descarte de pilhas e baterias usadas
é mais fácil, pois há grande número de lo-
cais de coleta, incluindo postos do correio
e lojas de diversas empresas presentes
em várias cidades, como Super-Pharm,
Cellcom, Partner, Pellefone, Office Depot,
Home Center, Shufersal e Tzomet Sefarim.
Embora a lei já esteja em vigor há vá-
rios anos, ainda enfrenta dificuldades pa-
ra a sua aplicação eficaz. Há escassez de
informação para o público e de locais de
coleta de e-lixo, sendo que cerca de 40%
dos municípios ainda não atendem diver-
sas exigências. Contudo, apesar de ainda
enfrentar vários desafios e necessitar ser
aprimorada em suas metas e formas de
operacionalização, é preciso reconhecer
que a lei trouxe avanços importantes.
Quanto ao consumidor, este deve ter em
mente que cada um deve fazer a sua par-
te para que objetivos importantes para a
sociedade sejam atingidos.
Bras.il • bras.il.editor@gmail.com • 15
 3.
2.
Foto: Tipa (Cortesia)
1.
Foto: Upnride (cortesia)
israel
Amit Goffer, israelense, é um empresário
1.
e inventor que ganhou as manchetes por
causa de um dispositivo que criou para
libertar pessoas em todo o mundo que
atualmente estão confinadas a uma ca-
deira de rodas. O próprio Goffer passou quase 20 anos sentado
em uma cadeira de rodas depois de quebrar o pescoço em um
acidente de quadriciclo, em 1997, que o deixou incapaz de usar
as pernas e limitou o movimento dos braços. Seu dispositivo
de mobilidade UpnRide “dá aos usuários a liberdade de sentar,
ficar de pé e se mover na posição vertical”, informou o site de
tecnologia israelense NoCamels. Ele diz que sua esposa chorou
quando o viu pela primeira vez usando o dispositivo. Ele que-
brou o pescoço pilotando um ATV (veículo todo-o-terreno) em
1997, perdendo o uso das duas pernas e alguns movimentos dos
braços. “O UpnRide é como uma versão superestável do Segway”,
relatou NoCamels, “mas com muitos benefícios adicionais, in-
cluindo o fato de levantar o usuário da posição sentada para
a posição em pé e vice-versa, sem ajuda externa”. O UpnRide
não é a primeira invenção incrível de Goffer. Ele, que é PhD em
engenharia elétrica e de computação, também inventou um
16 • Bras.il • www.bras-il.com
4.
Foto: Wikipedia.
5. Foto: Facebook
Foto: Cortesia
Tshik
Tshak
dispositivo chamado ReWalk, com o qual os paraplégicos podem
voltar a andar. O UpnRide está prestes a ser colocado à venda ao
público e comercializado em todo o mundo.
Uma máquina inventada em Israel usa
2.
um processo secreto para criar sobre-
mesas congeladas superfrescas a partir
de líquidos em apenas 60 segundos. Ela
prepara e congela uma variedade de
gelatos (sorvete italiano com baixo teor de gordura), sorvete,
iogurte congelado, smoothies e até café gelado. A Solato diz
que é a primeira a comercializar uma máquina de cápsulas de
sobremesa congelada e que oferece vários sabores, incluindo
mascarpone, gelato de avelã, sorbet de lichia e clássicos como
chocolate amargo, bem como congelados simples como iogurte.
Até o momento, as máquinas são alugadas para empresas, mas
a fabricante não descarta a venda para uso doméstico no futuro.
Cada cápsula do tamanho de um copo de líquido concentrado
faz um copo de sorvete. O código único de cada cápsula é lido
pela máquina para determinar quanto ela precisa para congelá
-la e quanto ar ela precisa adicionar, para aumentar seu volume.
A própria cápsula, que é biodegradável, pode ser usada para
servir. A máquina também pode ser codificada para ler cápsulas
específicas, como receitas sem nozes e não lácteas, para evitar
contaminação cruzada e reações alérgicas. As máquinas Solato
estão conectadas à nuvem e cada uma tem um cartão SIM, para
que a empresa saiba onde estão o tempo todo, quais sabores fo-
ram consumidos a qualquer momento e quantas cápsulas foram
usadas. Isso é útil para empresas que não sabem quais sabores
encomendar em novos pedidos.
Uma startup israelense desenvolveu um
3.
processo inovador que literalmente trans-
forma embalagens de alimentos e roupas
em composto de jardim. Elas se decom-
põem em pequenas partes que são comi-
das por bactérias e transformadas em solo normal. Compare isso
com o plástico comum que leva 500 anos para se biodegradar e,
mesmo assim, permanecerá em nosso ambiente como partículas
microscópicas para sempre. “A ideia da Tipa era imitar a nature-
za”, diz Daphna Nissenbaum, CEO e cofundadora da empresa. “A
natureza também embala seus produtos, como bananas, maçãs
e laranjas, mas com um material compostável. Nossos plásticos
se desintegrarão e se biodegradarão exatamente como qualquer
outro material orgânico e se transformarão em fertilizante sóli-
do.” “O plástico está se acumulando, mesmo que não o vejamos.
Cada pedaço de plástico que já foi fabricado ainda está em
algum lugar ao nosso redor. E embora pensemos que tratamos o
plástico, ele fica aqui”. Existem outros plásticos compostáveis por
aí, mas muitos deles têm um toque oleoso ou uma cor leitosa.
Os plásticos da Tipa têm a mesma elasticidade, durabilidade e
aparência dos convencionais. A única diferença é que eles usam
aditivos para garantir que sejam totalmente compostáveis, nas
condições certas. A compostagem é o processo natural de reci-
clagem de matéria orgânica, como folhas e restos de comida, em
um fertilizante valioso. Se uma pilha for colocada corretamente
em uma composteira doméstica, com a combinação certa de
matéria orgânica, ar e água, ela aquecerá em três dias até a
temperatura ideal de 141°F a 155°F, e macro e microorganismos
começarão a decompô-la.
O filme “Jeanne Dielman 23, quai du
4.
Commerce, 1080 Bruxelles”, da falecida
cineasta judia belga Chantal Akerman, foi
eleito o melhor de todos os tempos em
uma prestigiada seleção divulgada pela
publicação britânica Sight and Sound. Lançado em 1975, o filme
segue a vida de uma dona de casa em Bruxelas e sua habitual
rotina doméstica na companhia de seu filho adolescente, até que
algo acontece que muda tudo. Aclamado desde então, o filme
ficou em 35º lugar entre 100 na enquete Sight and Sound de
2012, com Vertigo, de Alfred Hitchcock, em primeiro lugar, que
agora foi classificado em segundo. O filme News from Home, de
Akerman, também foi votado pelos especialistas e ficou em 52º
lugar na lista. Em 1952, Sight and Sound pediu aos críticos que
indicassem os maiores filmes de todos os tempos. A tradição foi
repetida a cada década desde então, aumentando em tamanho
e prestígio ao longo do tempo. A lista Sight and Sound é hoje
uma referência importante para a opinião crítica sobre cinema.
A edição deste ano (a oitava) é a maior da história, com 1.639
participantes críticos, programadores, curadores, arquivistas e
acadêmicos, cada um dos quais apresentou seu “top ten” da
votação. Akerman nasceu em Bruxelas, Bélgica, em 1950, em
uma família judia originária da Polônia. Sua mãe e avós foram
enviados para o campo de concentração nazista de Auschwitz,
de onde apenas sua mãe conseguiu escapar com vida. Aos 18
anos, decidiu ingressar no Institut National Supérieur des Arts
du Spectacle et des Techniques de Diffusion, na época a mais
importante escola de cinema da Bélgica. Com uma obra que
inclui mais de 40 títulos, o cinema de Chantal Akerman foi reco-
nhecido pelos mais importantes festivais mundiais, incluindo o
Festival de Locarno, o Festival de Cinema de Veneza e o Festival
Internacional de Cinema de Toronto. Akerman suicidou-se em
outubro de 2015 aos 65 anos em Paris, para onde havia ido após
ser internada por depressão.
Muçulmano, judeu, cristão, budista... nin-
5.
guém se importa. As 330 crianças de dois
a 18 anos da escola Tabeetha aprendem
a viver em paz umas com as outras,
mesmo vivendo no turbulento Oriente
Médio. Tabeetha School, a única escola da Igreja da Escócia no
mundo, é um lar educacional e espiritual para alunos de mais de
40 nacionalidades diferentes, do jardim de infância à 12ª série.
Cada classe compreende 25 crianças, com 20 vagas destinadas
a crianças locais de todas as religiões e cinco para estudantes
internacionais. A Tabeetha School é uma das poucas escolas na
Terra Santa onde crianças e jovens de diferentes línguas, crenças,
culturas e histórias aprendem juntas. Em 1863, Jane Walker-
Arnott, a filha mais velha de um professor da Universidade de
Glasgow, fundou a escola para dar às meninas de Yaffo certa
dignidade e independência. Ao longo do último século, a escola
se desenvolveu e hoje atende meninas e meninos de todas as fés
e nacionalidades, criando um ambiente de aprendizado positivo,
desafiador e solidário que valoriza as diferenças individuais e os
estilos de aprendizado, capacitando os alunos a serem cidadãos
respeitosos, responsáveis e produtivos em uma sociedade global
em constante mudança. Tabeetha é uma escola de língua inglesa
cujo currículo é baseado no sistema educacional inglês, culmi-
nando nas qualificações de nível IGCSE, GCSE e A, que são bem
aceitas por universidades em Israel e em todo o mundo.
Bras.il • bras.il.editor@gmail.com • 17

M
uitos dos personagens históricos de Israel, que nomeiam
as ruas de nossas cidades participaram ativamente de
movimentos sionistas e apoiaram e defenderam o esta-
Moshe smilansky
(1874-1953)
Moshe Smilansky nasceu em uma fa-
mília de fazendeiros em Telepino, um
vilarejo na província de Kiev, então parte
do Império Russo, hoje Ucrânia e passou
sua infância em um ambiente pastoral.
Ele foi educado por professores par-
ticulares, mas também aprendeu tanto
com membros do primeiro grupo sionista
Bilu que viveram em sua aldeia por um
tempo, quanto com os discípulos de
Tolstoi, que lá se estabeleceram.
Aos 16 anos viajou para Israel, onde
trabalhou na agricultura. Aos 20 anos,
voltou para a Rússia para servir no exér-
cito, mas depois de algumas semanas
voltou para Eretz Israel.
O primeiro artigo de Smilansky foi
publicado em 1889. Ele começou a en-
viar artigos sobre a comunidade judaica
em Israel para publicações hebraicas no
exterior. Estabeleceu-se como agricultor/
proprietário de terras em Rehovot, onde
possuía vinhas, laranjeiras e amendoei-
ras. Em 1906, adoeceu e viajou para a
Europa em busca de cura. Enquanto se
recuperava, escreveu sua primeira histó-
ria. A história, que acabou virando série,
tratava da vida e do folclore árabes e das
relações entre judeus e árabes. Smilansky
foi um dos fundadores da associação
de agricultores judeus e um fervoroso
18 • Bras.il • www.bras-il.com
israel
Quem é
minha rua
Do Editor
belecimento do Estado de Israel. Eis nesta edição três grandes
nomes de nossa história que lutaram por uma pátria para o povo
judeu.
defensor do valor redentor do trabalho
físico, especialmente da agricultura, para
o povo judeu.
Smilansky, que se considerava um dis-
cípulo de Ahad Ha’am, era um sionista
ativo cuja produção cultural inclui muitos
ensaios e artigos, escritos para perió-
dicos hebraicos publicados na Rússia
e na Alemanha. Seus artigos tratavam
do Yishuv e da comunidade judaica em
Israel. Smilansky também publicou em
periódicos hebraicos em Israel, onde foi
um dos primeiros colaboradores. Suas
histórias e esboços de ficção inovadores
retratando a vida árabe na Palestina
otomana foram publicados pela primeira
vez em 1906 sob o pseudônimo ára-
be de Hawaja Mussa (Mestre Moshe).
Smilansky foi premiado com o Prêmio
Memorial em 1949. Smilansky morreu
em Tel Aviv e foi enterrado em Rehovot
David Remez
(1886-1951
David Remez nasceu Moshe David
Drabkin em 1886 em Kopys, na
Bielorrúsia. Líder trabalhista sionista, po-
lítico israelense foi um dos signatários
Declaração de Independência do Estado
de Israel, em 1948 e o primeiro Ministro
dos Transportes.
Remez foi um dos fundadores da filial
local do movimento Poalei Tziyon e foi
o primeiro secretário do movimento sio-
nista geral em sua área. Em suas viagens
pelo império russo, ele foi convocado
para o exército, mas depois foi libertado
por ser filho único. Na escola de Direito
em Kushta, em 1911, conheceu David
Ben-Gurion e Yitzhak Ben Zvi. Em 1912,
ele se juntou ao exército turco otomano
junto com eles. Os três logo deixaram o
exército e Remez voltou para a Rússia em
preparação para aliá. Na Rússia, ele se ca-
sou com Liba Remez e em 1913, fizeram
parte da Segunda Aliá.
David Remez estabeleceu-se perto de
Beer Tuvia, na agricultura. Com a eclosão
da Primeira Guerra Mundial, David Remez
e sua esposa mudaram-se para Zikhron
Ya’akov e foram ativos na política e no
trabalho de guerra. Trabalhou com o Dr.
Hillel Yaffe para cuidar das baixas de
guerra. Depois que o exército otomano
invadiu Zikhron, David e Liba se mudaram
para Tel Aviv onde se tornou editor da re-
vista Kuntras junto com Berl Katznelson.
Em 1919, David Remez estava entre os
fundadores do partido Achdut Ha’avoda e,
em 1920, participou da fundação da fede-
ração trabalhista Histadrut. Ele atuou no
comitê executivo da Histadrut e no Vaad
Leumi. Ele se tornou o primeiro secretário
da Histadrut em 1935, cargo que manteve
até 1945. Sob sua liderança, a Histadrut
expandiu sua liderança. Em 1936 ajudou
a criar o Porto de Tel Aviv como alter-
 David Remez
nativa ao porto de Yaffo, que havia sido
fechado por grevistas durante a Revolta
Árabe. Ele também criou “Nachson”, que
evoluiu para as linhas marítimas Zim. Em
junho de 1946, ele foi preso no “Black
Sabbath” e encarcerado pelos britânicos
em Latrun por quatro meses.
Além de Ministro dos Transportes,
foi membro da Comissão de Educação.
Quando o primeiro governo entrou em co-
lapso, em novembro de 1950, Remez tor-
nou-se Ministro da Educação no lugar de
Zalman Shazar. David Remez morreu no
cargo em 19 de maio de 1951 após uma
breve doença. Muitas áreas, ruas, praças
e instituições levam seu nome, incluindo
o bairro Ramot Remez de Haifa, a Praça
Remez em Jerusalém e ruas em quase
todas as cidades. Seu filho, Aharon Remez
foi um dos fundadores do serviço aéreo
Haganah, o segundo comandante da Força
Aérea de Israel e membro do Knesset.
Menachem Ussishkin
(1863-1941)
Abraham Menachem Mendel Ussishkin
foi um líder sionista, membro do Hovevei
Zion e presidente do Fundo Nacional
Judaico (JNF). Nascido em Dubrovno, no
distrito de Mogilev, na Rússia, Ussishkin
mudou-se para Moscou com sua família
em 1871. A partir de 1878 tornou-se um
leitor entusiasta das obras de escritores
hebraicos contemporâneos e, a partir de
então, o renascimento da língua hebraica
tornou-se um de seus guias.
Menachem Ussishkin
Os pogroms de 1881 chocaram os
judeus russos e levaram ao surgimento
do movimento Bilu. Em uma reunião de
estudantes judeus na Universidade de
Moscou, Ussishkin e seu amigo Jehiel
Tschlenow fundaram uma Sociedade de
Pioneiros para Eretz Israel. Em 1882
ingressou no Instituto Tecnológico de
Moscou, onde fundou imediatamente
uma sociedade de estudantes judeus. Em
agosto de 1884, a sociedade Benei Zion,
que alimentou muitos líderes sionistas,
foi fundada em Moscou. Ussishkin foi
eleito para o comitê da sociedade e em
1885 foi escolhido secretário de todos os
grupos Hovevei Zion em Moscou. A partir
de 1887 publicou relatórios e artigos em
Ha-Melitz. Juntamente com Lilienblum,
foi eleito secretário da Conferência
Druzkieniki (1887).
Após um confronto ocorrido na confe-
rência entre a facção ortodoxa de Samuel
Mohilewer e a facção liberal de Leon
Pinsker, Ussishkin conseguiu trazer uma
reconciliação. As propostas práticas feitas
por ele na conferência foram os primei-
ros sinais de seu pragmatismo sionista.
Quando Ahad Ha-Am fundou a socie-
dade Benei Moshe em 1889, Ussishkin
tornou-se um de seus membros ativos.
No mesmo ano formou-se engenhei-
ro técnico no Instituto Tecnológico. Em
1890 participou da reunião de fundação
do Comitê de Odessa. Ussishkin visitou
Israel pela primeira vez em 1891 e des-
creveu sua jornada em um livreto (escrito
em russo e posteriormente traduzido pa-
Moshe Smilansky
ra o hebraico) que causou uma impressão
considerável. Ao retornar de Israel, ele
se estabeleceu em Yekaterinoslav, onde
permaneceu por 15 anos.
A princípio, ele foi ativo no trabalho
educacional hebraico, bem como na pro-
paganda sionista e na arrecadação de
fundos. Ele foi fundamental na fundação
do moderno cheder de língua hebraica
(Cheder metukkan). Durante a revolução
dos Jovens Turcos em 1908, Ussishkin foi
a Constantinopla em uma tentativa de
promover a causa sionista com a ajuda
de influentes judeus sefarditas. Em 1913,
após sua terceira visita a Israel, ele publi-
cou em um panfleto sua “pesquisa geral”
(traduzida para o hebraico sob o título
Massa Shelishi le-Eretz Yisrael ), que dis-
cutia os vários problemas do yishuv.
No inverno de 1912, na oitava confe-
rência de Hovevei Zion, ele falou da ne-
cessidade de uma universidade hebraica
e apresentou uma resolução no comitê
para alocar a soma de 50.000 francos
para o propósito de adquirir terras no
Monte Scopus.
Ussishkin morreu em 1941 em
Jerusalém, aos 78 anos. Ele está enter-
rado na Caverna de Nicanor, no jardim
botânico da Universidade Hebraica de
Jerusalém, no Monte Scopus. Em seu
70º aniversário, o conselho do bairro de
Rehavia decidiu mudar o nome da rua
em que morava, Rechov Keren Kayemet
Le’Israel (Fundo Nacional Judaico) para
Rechov Ussishkin.
Bras.il • bras.il.editor@gmail.com • 19

israel
O caso Altalena
“Judeus atirando em judeus”
Por Shir Aharom Bram
The National Library of Israel
Este artigo foi publicado, originalmen-
te, em The Librarians, a publicação
on-line oficial da Biblioteca Nacional
de Israel dedicada à história, herança e
cultura judaica, israelense e do Oriente
Médio.
https://blog.nli.org.il/en/hoi_altalena_
affair/
20 • Bras.il • www.bras-il.com
Soldados e civis assistindo enquanto o Altalena
queima na costa de Tel Aviv. Foto: GPO
O
caso Altalena continua sendo
um dos episódios mais polê-
micos da história do Estado de
Israel. O naufrágio do Altalena foi o
ápice de uma dramática crise interna que
durou três dias tensos. Um exame apro-
fundado da sequência de eventos oferece
um quadro mais complexo, apresentando
novas fotos do toque de recolher aplica-
do em Tel Aviv
“Um navio de armas que chegou à
costa do país foi apreendido pelas forças
do Irgun. O governo do Estado de Israel
chegou a uma decisão unânime e orde-
nou que as Forças de Defesa de Israel
usem todas as medidas para transferir as
armas para a custódia do governo”.
Em junho de 1948, apenas algumas
semanas após o Estado de Israel declarar
sua independência, a mensagem acima
foi impressa em hebraico em panfletos
distribuídos em Tel Aviv. O Altalena, um
navio que transportava novos imigran-
tes, combatentes do Irgun e um enorme
estoque de armas, foi atracado na costa
de Tel Aviv.
O governo israelense percebeu sua
chegada como uma ameaça à sua própria
autoridade. O amargo final desse episó-
dio é bem conhecido: depois que as par-
tes não chegaram a um acordo, o Altalena
foi afundado, e alguns diriam que o caso
permanece uma ferida aberta até hoje.
No entanto, os eventos que se desenrola-
ram nos dias dramáticos entre a chegada
do Altalena e seu naufrágio são menos
familiares ao público e revelam bastante
sobre a situação na jovem nação.
Primeiro destino Tel Aviv?
O Altalena partiu para Israel
após um longo atraso e sem in-
formar Menachem Begin, o co-
mandante do Irgun em Israel. “O
Irgun” era o termo comum usado
em inglês para se referir ao gru-
po conhecido em hebraico como
HaIrgun HaZvai HaLeumi Be’Eretz
Yisrael (“A Organização Militar
Nacional na Terra de Israel”), ou,
resumidamente, Ha’Etzel.
O Irgun lutou contra os britâ-
nicos e os árabes como um grupo
clandestino de direita radical no
período pré-estatal. Em junho de
1948, não era mais subterrâneo,
mas ainda não havia se fundi-
do totalmente com as Forçcas de
Defesa de Israel.
O navio deveria ter partido em
maio, antes que o Irgun assinasse
um acordo para desarmar e antes
que o cessar-fogo liderado pela
ONU e o embargo internacional de
armas entrassem em vigor. Incapaz
de impedir que o navio zarpasse,
Begin assumiu a responsabilidade
de mediar a situação, mas não teve
muito sucesso.
Ben-Gurion e o governo is-
raelense ordenaram que o Altalena
ancorasse na costa deserta de Kfar
Vitkin, ao norte de Tel Aviv, onde
deveria evacuar seus passageiros
e entregar suas armas. Foi aí que
aconteceu o primeiro confronto.
A tripulação do navio começou
a descarregar os suprimentos, pas-
sageiros e caças, enquanto as FDI
cercavam a praia. Pouco depois, as
forças do Irgun tentaram romper
as barricadas, levando a uma troca
de tiros que deixou quatro mem-
bros do Irgun e dois soldados das
FDI mortos.
Após a batalha, muitos membros
do Irgun (incluindo Menachem
Begin) retornaram ao Altalena, que
então se retirou para o mar. Ao
mesmo tempo, outra batalha ocor-
reu em Beit Dagan entre as FDI e
membros do Irgun.
O Altalena em chamas. Um dos projéteis disparados da
costa atingiu o depósito do navio, incendiando-o. O fogo
se espalhou rapidamente e os passageiros foram forçados
a abandonar o navio. Foto: Arquivos do Estado de Israel
O Altalena a caminho de Israel. O navio estava carregado
com combatentes, novos imigrantes e sobreviventes do
Holocausto, bem como armas e suprimentos. A maioria
dos imigrantes desembarcou em Kfar Vitkin e alguns
suprimentos também foram descarregados.
Foto: Arquivos do Estado de Israel
Combatentes do Irgun sentados em um veículo blindado
durante o toque de recolher em Tel Aviv. Visível no veí-
culo está a insígnia do Irgun com as palavras hebraicas
rak kakh (“somente assim”) ao lado de uma imagem de
uma arma e um esboço das fronteiras bíblicas da Grande
Israel.
Foto: Boris Carmi, Coleção Meitar, Coleção Nacional de
Fotografia da Família Pritzker, Biblioteca Nacional de
Israel
Nesse caso, houve até alguns
ex-integrantes do Irgun, já ser-
vindo nas FDI, que desertaram do
exército para socorrer seus cama-
radas após ouvirem rumores sobre
os acontecimentos envolvendo o
navio e a batalha que se seguiu.
Depois de fugir para o mar, os
que estavam a bordo do Altalena
decidiram seguir para Tel Aviv, des-
tino original do navio. A escolha
não foi acidental: a jovem cidade
era considerada um reduto simpá-
tico do Irgun (ao contrário de sua
imagem atual), e o desembarque
de um navio de armas hebreu na
maior e central cidade de Israel
teria ganho a fama do Irgun e o
apoio público no caso de outro
confronto. O Irgun também pla-
nejava enviar algumas das armas
para seus combatentes que luta-
vam pela libertação de Jerusalém,
na esperança de proteger a Cidade
Santa e o Monte do Templo.
A Marinha israelense enviou
duas fragatas para impedir que
o Altalena chegasse à costa de
Tel Aviv, mas o capitão Monroe
(Emanuel) Fein, um experiente ex-
comandante de um navio da mari-
nha dos Estados Unidos, conseguiu
evitá-los. A troca de tiros que se
seguiu também não causou mui-
tos danos. Mais tarde, decidiu-se
encalhar o Altalena, a cerca de 100
metros da costa, para transmitir
uma mensagem clara: navio que
encalha não se rebela. No entanto,
aqueles do lado oposto viam as
coisas de maneira diferente. A sede
do Palmach estava localizada no
Ritz Hotel à beira-mar e o Altalena
estava ancorado diretamente em
frente a ele. Os comandantes do
exército temiam que os apoiadores
do Irgun corressem novamente pa-
ra apoiar os presos no navio, como
havia acontecido em Kfar Vitkin
e Beit Dagan. Dada a falta de co-
municação e entendimento entre
as Forças de Defesa de Israel e o
Irgun, Ben-Gurion acreditava que
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 do exército”. Yitzhak Rabin, chegando ao
local por acaso, assumiu o comando. O
Altalena enviou um pequeno barco para
terra em outra tentativa de negociação,
mas esta também não teve sucesso.
Ainda agarrado à esperança de descar-
regar as armas nas margens de Tel Aviv, o
Altalena decidiu enviar outro barco, desta
vez com caças e armas, para pressionar a
liderança de Israel. Enquanto isso, muitos
membros do Irgun alcançaram a costa
de Tel Aviv e conseguiram capturar parte
da faixa de praia próxima, assumindo o
controle do quartel-general da Marinha
no San Remo Hotel.
Abraham Stavsky (de camisa branca) a bordo do Altalena . Stavsky foi um dos dois Ben-Gurion autorizou seus coman-
acusados ​​do assassinato de Haim Arlosoroff e foi absolvido no julgamento. Stavsky dantes a usar medidas severas e abrir
foi morto a bordo do Altalena com um tiro disparado da costa. Ao lado de Stavsky fogo, se necessário. O barco de armas do
está Eliyahu Lankin (de óculos), o comandante do navio. Foto: Arquivos do Estado de Irgun, carregado com armas leves, metra-
Israel
lhadoras e lançadores antitanque PIAT,
conseguiu chegar à costa. Em seguida,
partiu para outra rodada, retornando com
mais forças, e os descarregou cerca de
300 metros ao norte do navio enquanto
era atacado. Alguns dos combatentes do
Irgun recém-chegados se posicionaram
no Panorama Café na rua HaYarkon e
sitiaram o quartel-general do Palmach.

Judeus atirando em judeus

Em suas memórias, Rabin descreveu
as horas seguintes com uma expressão
que se tornou sinônimo de todo o caso:
“Judeus atirando em judeus”. Tiros pesa-
dos foram trocados entre as respectivas
forças em terra, enquanto o Altalena
O Altalena encalhou propositadamente em frente à costa de Tel Aviv para enviar
uma mensagem clara de que não pretendia chegar à costa a todo custo. Dois outros também abriu fogo e foi alvejado por sua
navios de refugiados encalharam no mesmo local, em 1939. Foto: Benno Rothenberg, vez, sofrendo baixas.
Arquivos do Estado de Israel, Coleção Meitar, Coleção Nacional de Fotografia da Depois que as forças do Irgun dispara-
Família Pritzker, Biblioteca Nacional de Israel ram um projétil PIAT no quartel-general
do Palmach, os comandantes, liderados

uma verdadeira tentativa de golpe estava mas ao litoral. Os cafés foram fechados por Rabin, decidiram agir antes que o

em andamento, o que poderia minar a por ordem militar. Temendo que institui- prédio fosse invadido, lançando granadas

autoridade do estado e estabelecer uma ções governamentais civis e quartéis-ge- do telhado contra as forças do Irgun e

força militar concorrente. nerais militares em Tel Aviv se tornassem ferindo gravemente muitos. Uma calma-

alvos, o comandante da Brigada Kiryati, ria na luta permitiu que removessem os

O toque de recolher: a Brigada Kiryati Michael Ben-Gal (Rabinovitch), emitiu feridos e se reagrupassem. Moradores de

fecha a primeira cidade hebraica uma ordem geral para o recrutamento Tel Aviv foram às ruas na esperança de

Com o Altalena ancorado em Tel Aviv, o imediato de “todas as forças na zona de que os combates tivessem terminado. No

governo realizou uma reunião urgente e defesa de Tel Aviv, todo o tráfego em rotas entanto, este não foi o caso.

impôs toque de recolher na cidade. Forças conhecidas, com exceção de pessoas por- O comandante do Palmach, Yigal Alon,

da Brigada Kiryati bloquearam estradas e tando identificação de segurança, veícu- chegou ao local e estabeleceu um posto

evacuaram civis de todas as áreas próxi- los de abastecimento e nossas unidades de comando em Camp Yona (hoje jardins

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Soldados armados reforçam o toque de recolher nas ruas de Tel
Aviv próximas à costa onde o Altalena estava ancorado. A jovem
cidade foi considerada favorável ao Irgun, que originalmente
queria atracar o navio em Tel Aviv, por esse motivo.
Foto: Benno Rothenberg, Arquivos do Estado de Israel, Coleção
Meitar, Coleção Nacional de Fotografia da Família Pritzker,
Biblioteca Nacional de Israel
Um posto de metralhadora das FDI no Panorama Café ao
longo da praia, posicionando-se contra o Altalena e qualquer
um que tente desembarcar.
Foto: Benno Rothenberg, Coleção Meitar, Coleção Nacional de
Fotografia da Família Pritzker, Biblioteca Nacional de Israel

do Hilton Hotel). Depois que muitos
soldados se recusaram a cooperar com
a operação de Alon, com o codinome
“Expurgo”, as Brigadas Carmeli, Negev e
Yiftach foram chamadas para reforço e
para impor o toque de recolher. O tem-
po todo, ao longo da praia, houve uma
troca de tiros com membros do Irgun
que vieram apoiar seus companheiros do
Altalena. Alon emitiu um ultimato exi-
gindo (novamente) a rendição incondi-
cional do Altalena. Depois que o ultimato
expirou, Ben-Gurion ordenou que Alon
começasse a disparar morteiros.
O segundo projétil atingiu o depósito
de um navio que imediatamente pegou
fogo e o Altalena começou a pegar fogo.
Tensão e raiva se acumularam ao longo
dos anos entre o Irgun e seus rivais na
Haganah e no Palmach, agora eles esta-
vam trocando tiros reais.
Rabin e outros comandantes testemu-
nharam que tentaram impedir o tiroteio,
mas não tiveram sucesso.
Muitos membros do Irgun pularam do
navio em chamas. As forças do Palmach
e das FDI só conseguiram retomar o con-
trole da costa ao anoitecer. 19 pessoas
ao todo foram mortas e muitas ficaram
feridas. O incidente foi uma experiência
marcante para o jovem Estado de Israel.
Epílogo
Um olhar mais atento sobre os even-
tos do caso Altalena em Tel Aviv e as
batalhas em Kfar Vitkin e Beit Dagan ofe-
recem uma perspectiva mais complexa
desse episódio histórico. A ambivalência
e a falta de comunicação entre as forças,
o pânico em Tel Aviv e o recolher obriga-
tório na cidade contam a história de um
jovem país que enfrenta uma situação
que atinge todos os seus nervos expos-
tos, numa altura em que ainda estava
envolvido em uma guerra ainda maior.
O Altalena
A conduta enquanto ancorado nas cos-
tas de Israel apresenta o Irgun como uma
organização que tenta, sem sucesso, man-
ter seu poder em uma realidade em mu-
dança, na qual, de repente, se tornou uma
força estrangeira dentro de um estado
recém-estabelecido. Enquanto o Haganah
e o Palmach conseguiram manter suas
armas mesmo depois de assinarem acor-
dos com o governo, o atraso na partida

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Soldados do Palmach que se juntaram às IDF para impor o
toque de recolher nas ruas de Tel Aviv. F
oto: Boris Carmi, Coleção Meitar, Coleção Nacional de Fotografia
da Família Pritzker, Biblioteca Nacional de Israel
Comandantes das FDI e funcionários do governo assistem ao
incêndio de Altalena da praia de Tel Aviv. Yigal Alon testemu-
nhou que pediu por escrito para receber a ordem de abrir fogo
de morteiro contra o Altalena , e só depois de receber autori-
zação por escrito ordenou que as forças disparassem.
Foto: Benno Rothenberg, Arquivo do Estado de Israel

do Altalena impediu o Irgun de

A chegada do Altalena à costa
de Tel Aviv, depois de conseguir
escapar dos destróieres navais
enviados para detê-lo, deu ao
Irgun o efeito público que dese-
java, resultando em multidões de
milhares que assistiram ao incên-
dio do navio.
Foto: Benno Rothenberg,
Arquivos do Estado de Israel,
Coleção Meitar, Coleção Nacional
de Fotografia da Família Pritzker,
Biblioteca Nacional de Israel
fazer o mesmo.Em retrospecto,
pode-se supor que o Irgun foi
motivado pelo desejo de manter
seu prestígio e poder dentro do
processo de integração às Forças
de Defesa de Israel. Toda a cadeia
de eventos, desde a partida tardia
do navio até a falta de coordena-
ção entre Begin e seus homens a
bordo do navio, levou o governo
israelense a temer uma rebelião.
O governo e Ben-Gurion se
recusaram a transigir no que con-
sideravam um enfraquecimento
da autoridade do estado e esse
medo os levou a agir com seve-
ridade. É impossível saber o que
teria acontecido se os membros
do Irgun tivessem escolhido acei-
tar as exigências do governo e se
desarmar, assim como é impossí-
vel avaliar o que teria acontecido
se o estado tivesse autorizado o
Irgun a descarregar suas armas e
equipar seu povo já servindo nas
FDI em Jerusalém.

O casco do Altalena permaneceu como uma testemunha silenciosa, ancorado em frente à

costa de Tel Aviv por um ano. Ben-Gurion finalmente autorizou a Marinha a se desfazer dele.
Foto: Benno Rothenberg, Coleção Meitar, Coleção Nacional de Fotografia da Família Pritzker,
Biblioteca Nacional de Israel

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 israel
O que é ser
médico em ISrael
S
er médico em qualquer lugar sig-
Por Adriana Del Giglio nifica conhecer a sociedade pelo
Médica seu avesso. O avesso do bordado é
adrianadelgiglio@gmail.com onde dá pra ver realmente como aquele
Especial para Bras.il trabalho foi feito. Se os nós foram escon-
didos ou não, como são feitos ao certo os
pontos, às vezes conseguimos entender
os erros também. Minha avó sempre disse
que é no avesso que se entende como
é a bordadeira. Organizada, meticulosa,
apressada ou desleixada. Eu sempre re-
trucava e dizia que não importa o avesso,
nós expomos o lado bonito do bordado
e pronto. Mas ela diz que para entender
mesmo como as coisas acontecem o
avesso é essencial.
E que tem a medicina a ver com o
avesso da sociedade?
Ser médico deveria ser semelhante em
todos os lugares, pois as doenças e seus
tratamentos são os mesmos. Não é como
o Direito, onde cada país tem um conjun-
to de leis próprias. Aí que eu me enganei.
Enfim, além de gostar de bordar, sem-
pre admirei a arte da medicina, e não por
acaso encarei o desafio de ser uma pro-
fissional da saúde no Brasil. Entendi tam-
bém muito mais do Brasil e do seu avesso
nos anos que me formava médica lá. Após
os seis anos de graduação, outros qua-
tro anos me especializando, aprendendo
como contornar situações burocráticas,
decorando tratamentos, decifrando sota-
ques e costumes de todos os cantos do
meu país. Entre muitos plantões, nao era
raro ver uma menina acordada pergun-
tando aos pacientes como eles estavam,
e para me manter acordada, eu por vezes
bordava. Aprendi literalmente na prática
como cuidar de gente, como conven-
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cer o paciente a se tratar, como aceitar
que nem todos tinham tratamentos, mas
sempre sempre haveria como cuidar de
alguém, estar ao lado do paciente inde-
pendente do desfecho.
Aprendi, chorei e fiz grandes amigos.
Foram anos puxados e transformadores
na minha vida. Decidi por me dedicar
integralmente aos adultos. Amo crianças
mas sempre soube da minha dificuldade
de os ver doentes. Após dois anos de clí-
nica médica, decidi conscientemente ou
não, que eu ía ser medica de sangue. A
hematologia me fascinou.
Os anos se passaram e entendi que a
especialidade que eu tinha escolhido para
mim era bastante difícil de exercer no
Brasil do jeito que eu acreditava ser certo.
A hematologia exige muitos recursos,
quimioterapias caríssimas, internações
prolongadas, muitos cuidados. Logo nos
primeiros meses da minha residência
médica na Santa Casa de São Paulo, a
unidade de transplante de medula havia
fechado. E os pacientes que precisavam
de transplante? Aqueles que estavam
esperando por muito tempo? Uma gran-
de esperança? Entendi muito rápido que
todo o desconforto, incompreensão, e
indignação daquela situação iria ser toda
minha. Era eu como residente que iria
26 • Bras.il • www.bras-il.com
responder todas as per-
guntas sem resposta
para os pacientes. Veio
na minha cabeça um
grande silêncio. Estava
eu no lugar certo? Era
justo? O avesso do meu
bordado tinha um furo,
esse era incapaz de não
aparecer do lado certo
do bordado.
Aquilo doeu em
mim. Deu um nó na
garganta. Eu não sabia
gritar, aquilo estava
errado.
Não era possível
que uma decisão admi-
nistrativa, iria afetar a
vida da dona Teresinha,
será que alguém sabia
todo o esforço que fizemos para mobili-
zar seus filhos nos quatro cantos do país
e achar uma medula compatível?. Ela era
apenas um número nas listas administra-
tivas do hospital.
Na época, minha mãe também estava
doente, e diferente da dona Teresinha ela
tinha várias medicações que não existiam
no hospital onde eu trabalhava.
Decidi estudar um pouco novas tecno-
logias que poderiam ajudar minha mãe e
dona Teresinha em Israel. Afinal as duas
tinham a mesma doença e, na minha
cabeça, precisavam do mesmo tratamento.
Essa nova modalidade de tratamento
CAR-T cells (que pode ficar para outro
artigo) estava sendo liberado nos EUA
naquele semestre. E, em Israel, ele havia
sido desenvolvido e já era aplicado aos
pacientes havia mais de 10 anos.
Cheguei aqui e tive uma grande surpre-
sa, a vida de todos tinha o mesmo valor.
O trabalho de todos tem o mesmo
valor. A voz também. Aqui é necessário
saber gritar bem alto, e isso eu não sabia.
Me deparei em um grande serviço,
onde todos os esteriotipos que eu havia
aprendido no Brasil caíram em minu-
tos. Fui inconscientemente treinada a
observar os pacientes e poder predizer
se poderiam ou não comprar um medi-
camento extra. Aqui nada fazia sentido, o
homem nos seus 40 e poucos anos, com
roupas rasgadas, tenis furado e em uma
bicicleta torta era um grande CEO, era
grosso com as enfermeiras e secretárias
e fazia questão de saber quando poderia
viajar a negócios. Pra mim não fazia muito
sentido. Mas já nos primeiros dias aprendi
que o maior erro era julgar alguém pela
aparência. Não era fácil entender qual
era o lado avesso e qual o lado certo. As
pessoas saem na rua de pijamas.
Quando digo que o trabalho de todos
tem o mesmo valor digo também traba-
lho da limpeza, ou da enfermagem, não
importa quem você é, se tem alguém
limpando o chão e você entra e suja ou
atrapalha o que ela está fazendo, vão
gritar com você, e vão mesmo.
Com todos aqueles gritos, eu imaginei
ter feito algo muito errado, os gritos são
desproporcionais, eles sabem gritar em
russo, em árabe, em hebraico. E eu, que
não sabia gritar nem em português. Mas
tudo bem, em 10 minutos a mesma pessoa
que gritou com você estará te perguntan-
do onde você irá passar o chag, se mora
longe, se fez aliá com ou sem família. Ela
fez questão que eu tivesse o telefone dela,
porque o marido é taxista e poderia me
trazer no chag, se eu não tivesse onde ir.
Vi outras donas Teresinhas aqui em
Israel, pessoas com a mesma doença que
minha mãe teve. Mas agora eram todas
iguais na sua individualidade, aqui nin-
guém sabe de fato o valor de um medica-
mento ou de outro. O que o paciente e a
família sabem, é que infelizmente a pes-
soa precisa ficar internada por bastante
tempo, já que a doença é grave. Não exis-
te muita gentileza ao falar em chances
de sobrevida, poucas vezes eu vi pergun-
tarem para o paciente o que ele queria
saber da doença. Ou quando do ponto
de vista médico a situação não é grave,
pode ter certeza que irão reclamar que
você foi ao pronto-socorro à noite. Mas se
for grave, posso afirmar que vão cuidar da
dona Teresinha como se fosse a mãe ou
avó de cada um da equipe médica.
Se estiver com dor, pode ser que o
médico não entenda, afinal não é o dedo
dele que está doendo.

Entendi um pouco do avesso da socie-
dade quando diversos pacientes eram
de origem árabe, russa, e muitos judeus.
Do lado certo do bordado, que vemos
na mídia, é uma sociedade fragmentada
cheia de ódio e de conflitos externos e
internos. No avesso, onde eu vim exercer,
durante os anos que eu trabalhei nos
hospitais aqui, poucas vezes senti qual-
quer conflito. Os árabes fazem ramadã,
e sempre dividem as comidas
típicas com todos, aos pou-
cos me ensinaram algumas
palavras e a lógica da escrita
deles também. Bordei roupi-
nhas para recém nascidos que
trabalharam comigo em árabe
e em russo. Fiquei com receio
que não entendessem qual
era o lado avesso e qual era o
lado certo.
Senti que são pessoas de
origem diferentes vivendo no
mesmo país, e nosso traba-
lho é cuidar de pessoas. Não
importa quem são, se comem
leite com carne ou se almo-
çam no ramadã.
Aqui a vida é vivida de uma forma
diferente, aqui ser médico é vivenciar
uma sociedade mais justa, mais baru-
lhenta. Nao é necessário esconder de
onde veio, seus pontos ou seus erros.
É uma forma de viver com menos carí-
cias, menos carinho e mais assertividade.
Todos podem e vão gritar com você. O
avesso é escancarado. Eu que vim apren-
der novas e grandes tecnologias revo-
lucionárias, entendi que também tenho
muito que ensinar. Aprendi que conversar
com as pessoas têm o mesmo efeito que
o grito, basta saber como abordar cada
um. Não preciso gritar como eles, eu sou
diferente, meu avesso é outro.
Entendi de forma genuína que todos
nós, como seres humanos, médicos,
pacientes ou quem limpa o chão, temos
nossa importância social e familiar. Todo
o trabalho é trabalho. Que ninguém nas-
ceu falando hebraico perfeito, que ter
sotaque significa que sua cabeça pensa
em uma língua diferente da qual você
está falando, e isso é difícil. O sotaque
é uma forma de entender o avesso de
cada um.
Entendi que todas as donas Teresinhas
são mães e avós de pessoas como eu
e você, que devem e serão cuidados da
mesma forma.
Aprendi que o avesso pode ser nossa
melhor versão. Yalla.
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 AliÁ

Olê, Olê, Olê, Olá

Morei no Brasil até os 17 anos, perí-
odo que passei entre São Paulo, Atibaia
e Curitiba.
Fiz aliá com meus pais por motivos
econômicos, pois a vida no Brasil estava
muito difícil e tinhamos família em Israel,
entre eles meus avós maternos, tios e
uma irmã casada e meus sobrinhos.
Uri Doron
Vim com minha irmã mais nova com
a qual compartilhava uma varanda que
transformamos em quarto.
Estudei na escola Sharet e, no Exército,
trabalhei com olim chadashim da América
do Sul, pois tinha um bom hebraico, pois
havia estudado em escolas israelitas no
Brasil, fora a época que morei em Atibaia).
Meu pai era biólogo e minha mãe conta-
dora mais se dedicaram aos bolos e doces.
Tinham uma confeitaria no Brasil,
“Doceria Galia” e um salão de chá. Como
sempre tive a parte espiritual muito de-
senvolvida, aos 19 anos comecei a aten-
der pacientes na parte espiritual. Paralelo
a isso, me dedicava ao magistério, como
professor de matemática e, aos 25 anos,
me tornei coordenador educacional na
escola aonde trabalhava. Hoje depois de
35 anos ensinando, trabalho com crianças
hiperativas e disléxicas.
No entanto não deixei meu lado espi-
ritual e atendo na parte de umbanda os
israelenses que querem aprender a fazer
trabalhos para entidades espirituais.
Com a chegada de muitos olim do
Brasil, dedico parte do meu tempo aju-
dando brasileiros a resolver proble-
mas pendentes e dando dicas de di-
versas coisas, desde passeios, lugares
onde comprar com preços mais aces-
síveis e tudo mais que precisarem.
Hoje me autointitulo professor de mate-
mática e umbandista.

Cheguei a Israel com apenas 6 meses
de idade. Cresci e vivi até os dez anos
de idade, tendo uma infância feliz e com
muita liberdade. Apesar das guerras e
conflitos internos que aconteciam no pa-
ís, brincava e passeava sem precisar estar
na presença de um adulto.
Meus pais, entretanto, resolveram dei-
xar o país para viver no Brasil. Não foi
fácil a adaptação, principalmente para
uma criança de dez anos, onde agora eu
precisaria aprender um novo idioma, ter
o acompanhamento dos pais para peque-
nas coisas que antes eram irrelevantes
para mim em Israel e passaram a ser mui-
to importantes no Brasil, como ir à escola
de bicicleta, ou a casa de amigos, sem
precisar do acompanhamento dos pais
entre outras coisas. Enfim… Já casada, for-
mada e com dois filhos, estabelecida em
Curitiba, uma cidade verde e linda, tendo
Rachel Lachter
uma estabilidade profissional e social;
porém o desejo de retornar estava cada
vez mais gritante.
Em 12/2005 fizemos nossa aliá, di-
reto para o Mercaz Klitá de Raanana. Foi
inicialmente um choque social, mas a
sensação de bem-estar se mistura com o
receio do futuro de minha família.
O desejo de voltar era tanto que a de-
cisão foi mais emocional do que racional.
Não me arrependo por ter seguido meus
instintos, foi difícil no começo, não tra-
mente aqui Deus colocou a aviação em
balhei na minha profissão de início, tive
minha vida, onde a sensação de liberda-
que trabalhar no ramo de vendas. Fui me
de, capacidade e satisfação se misturam
descobrindo aos poucos e, continuando
no ato de pilotar.
a seguir meu coração, consegui moldar
Toda mudança é difícil, porém se pres-
a minha alma, reconhecer minha essên-
tar atenção no que realmente a sua
cia e principalmente reconhecer minha
essência necessita, conseguirá ter o gos-
capacidade.
tinho doce da satisfação.
Hoje resido em Natanya, faço serviço
voluntário na área de psicologia, e so-

28 • Bras.il • www.bras-il.com

Me chamo Caroline Endebo Eli, sou
carioca, morava no bairro mais cobiçado
do RJ, onde esbarrava com artistas glo-
bais, escritores, músicos e era só descer
pelo portão de casa, atravessar a rua e
dar o famoso “tchibum” nas águas quen-
tes do Leblon ou terminar um dia de ve-
rão aplaudindo o pôr do sol no Arpoador.
Estudei desde pequena em escolas ju-
daicas entre elas o saudoso Max Nordau,
Sou Ana Gopp, nasci no interior do
estado do Rio, me formei em odontologia
e durante o período da faculdade conheci
meu marido, Angelo Gopp. Uma longa e
linda história de amor que daria um livro.
Nos casamos em 2000 e tivemos nos-
sas duas filhas, Gabriela e Beatriz, hoje
com 21 e 19 anos. No Rio participávamos
ativamente do clube e da kehilá do Clube
Monte Sinai onde nossas filhas cresceram
tendo como quintal da nossa casa já que
morávamos bem ao lado. Fazer aliá não
fazia parte dos nossos planos.
Chegamos a pensar em nos mudar
para São Paulo até que um dia minha
grande amiga Lúcia Balassiano me con-
tou que ela e toda a família estavam pro-
gramando a aliá. Foi então que perguntei
para meu marido e para nossas filhas: Já
que estamos pensando em mudança por
que não irmos direto para Israel? E assim
Caroline Endebo Eli
Eliezer Steinberg e Liessin. Frequentava
o movimento juvenil Habonim Dror e
sempre fui muito sionista. Em 2003,
viajei pela primeira vez a Israel, onde
desde então já tinha parentes vivendo
aqui, o que foi um grande empurrão para
minha vinda em 2005 para estudar o
ensino medio em um projeto brasileiro
chamado Ayanot, já extinto infelizmente.
Estudei nos anos 2005, 2006 e 2007 em
Israel e a minha vontade de querer viver
aqui só ficou maior com os anos.
Terminei a faculdade e comecei a
frequentar o Hillel Rio, que é a casa
dos jovens judeus no RJ, onde conheci
pessoas maravilhosas que tiveram a
mesma vontade que a minha e hoje se
encontram aqui! Fiz aliá em janeiro de
2017, fui pro merkaz klita em Jerusalém,
estudei hebraico, convivi com pessoas
de todos os cantos do mundo e foi de
Ana Gopp
decidimos tudo, e em menos de um ano,
no dia 10/03/2015 estávamos todos no
mesmo voo. Família Gopp e Balassiano
juntas. Éramos 13 pessoas no total. Foi
o máximo! Cada um tem seus motivos
para tomar uma decisão de fazer uma
mudança tão grande. No nosso caso, e
acredito que na grande maioria, não foi
por um único motivo mas posso afirmar
que a educação das nossas filhas foi um
dos principais.
Chegamos direto para o Mercaz Klita
de Raanana onde fizemos ulpan e depois
de 9 meses nos mudamos para Petach
Tikva. Ficamos lá por 5 anos e há dois
anos resolvemos voltar para Raanana.
Desde que chegamos aqui meu mari-
do trabalha como dentista, minhas filhas
estudam e trabalham como qualquer is-
raelense na idade delas e eu atualmente
me divido entre meus a fazeres de casa
fato uma das melhores experiências que
tive na minha vida. Comecei minha vida
em Israel trabalhando em hotel, depois
em jardins de infância, sempre tendo a
certeza de que estava aqui mais do que
realizada.
Nunca desisti de querer voltar a mi-
nha profissão e exercer meu oficio de
adminstradora. Hoje trabalho no banco
de investimento do Banco HaPoalim.
Ha exatos 4 anos conheci meu grande
companheiro de sorrisos e desafios e
há três meses subimos na chupá onde
festejamos ao lado de muitos amigos e
familiares mais essa etapa na minha vi-
da israelense. Quando me perguntam se
sou feliz aqui, eu apenas consigo sorrir.
Porque Israel sempre foi, é e sempre será
meu lar, minha melhor escolha e o país
que eu chamo de casa.
meu trabalho no gan e minha grande
paixão que é a dōTERRA, uma empresa
americana de óleos essenciais.
Tínhamos uma vida pessoal e profis-
sional tranquila, organizada e bem ativa
no Brasil. Largar tudo isso e principal-
mente a família para trás não foi fácil e
continua não sendo. Mas a vida é feita
de escolhas e nós escolhemos estar aqui.
E estamos felizes com a nossa decisão.
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 JUDAÍSMO
CEKSP ajuda quem
quer ser casher
O
Por Raphael Laufer Orlean Centro Educacional Religioso
Moyses David Laufer, mais co-
Fundador e responsável pelo CEKSP
nhecido por CEKSP nasceu há
Especial para Bras.il
quatro anos com a missão de ajudar a
todo judeu que queira seguir as regras
da cashrut.
Seu idealizador e fundador, Raphael
Laufer, já atuava como mashguiach e
percebeu a necessidade e a demanda por
um serviço desta natureza.
“Tive a ideia de fundar o CEKSP duran-
te uma tarde em que estava fazendo
um trabalho como mashguiach na casa
da família de um grande filantropo de
nossa comunidade aqui em SP. Queria
unir o meu trabalho com a mitsvá de
ajudar famílias que realmente queiram
ser casher, queiram mudar o estilo de
vida de acordo com as halachot e que se
encontram em dificuldades financeiras
para se manterem 100% casher”.
30 • Bras.il • www.bras-il.com
A instituição ajuda famílias judias que
queiram ser casher e não têm condições
financeiras para fazer essa mudança em
sua casa. Estas são as duas condições
para serem beneficiárias da instituição.
O trabalho começa quando a famí-
lia procura o CEKSP querendo passar a
ser casher, mas não tem as condições
financeiras para fazê-lo. A avaliação é
feita pelo rabino da própria família que
procurou. Desta forma, só são admitidas
aquelas que realmente precisam e que-
rem se dedicar 100% à cashrut.
Após o aval do rabino, acontece a
primeira casherização, quando tudo que
não puder ser casherizado é retirado da
cozinha. Um mashguiach fará o trabalho
do início ao fim daquilo que puder ser
casherizado.
Após essa primeira etapa, a família
recebe uma cesta básica mensal, por um
período de 12 meses, no valor de apro-
ximadamente 500 reais para ser usada
com carne, frango, peixe, legumes, frutas,
verduras e alimentos em geral. Dessa
forma a família conseguirá se manter
casher sem se preocupar nessa fase ini-
cial. Os alimentos precisam ter selo ou
ser da lista verde e não é permitido nada
de supérfluo.
Além disso, a família ganha um valor
para comprar utensílios novos que não
puderam ser casherizados no início do
processo.
A partir de 2022, o CEKSP também
está ajudando com um voucher de 180
reais por mês para a família comprar
comida para shabat. permitindo que essa família tivesse sua
Perto da primeira festa de Pessach parnassá.
após o início do processo, um mashguia- Todas as pessoas que trabalham para
ch volta à casa dessa família para cashe- o CEKSP são profissionais que atuam,
rizar a cozinha e deixá-la 100% casher cada um em sua área, com dedicação e
le Pessach. afinco, sempre ajudando a instituição e número de famílias beneficiadas e permi-
Todo o processo é inteiramente gra- seus beneficiários. tir, o que já vem acontecendo, que a insti-
tuito para a família e tem a duração de O CEKSP é mantido com doações de tuição possa ampliar sua área de atuação.
um ano. Após esse período, a família pessoas ou empresas, sejam eles judeus Além do site (www.ceksp.com.br) tam-
começará a seguir a cashrut sozinha, mas ou não. Basta quererem contribuir para bém está disponível um aplicativo para
o CEKSP se mantém à disposição para esta mitsvá, ajudando a aumentar o Android (CeKsp - Centro de Kashrut).
qualquer dúvida. Aliás, desde o início do
processo, um mashguiach está à disposi-
ção para que a família possa estar ampa- Depoimentos A alimentação kasher trouxe inúme-
rada e possa tirar suas dúvidas, ajudando ras mudanças na minha vida. Mudanças
nas situações do dia a dia. Graças ao projeto do sr. Raphael boas no cotidiano, no corpo e na alma.
Para aqueles que já são casher, mas Laufer, foi possível a minha família, Estou completando 1 ano de casher em
enfrentam dificuldades financeiras, o ter uma cozinha casher, antes só está- casa e sem o Ceksp isso não teria sido
CEKSP também ajuda para as compras vamos nos alimentando com comidas possível. Raphael casherizou minha cozi-
nos chaguim tanto famílias quanto viú- parve e agora estamos nos preparando nha, tirava, no dia a dia, todas as dúvidas
vas sozinhas. para fazer shabat em casa. Depois das que apareciam e me deu um apoio
As famílias de São Paulo, atualmente, instruções, sentimos mais confiança, e financeiro que foi imprescindível. Eu
recebem um voucher para ajudar na com- conseguimos ter nossa cozinha de carne. não me arrependo de ter mudado para
pra de comida para Shabat. Nos outros Só temos a agradecer a essa iniciativa o casher e se soubesse teria feito antes.
estados, porém, a instituição ainda está maravilhosa de cashrut! Tudo isso, gra- Toda essa mudança teria sido bem mais
em busca de como seguir os mesmos ças ao projeto Ceksp! E.E. difícil se não tivesse o Ceksp. Obrigada
procedimentos. Raphael. A.
Hoje a instituição tem atuação em
alguns estados no Brasil, com apoio de
Quem quiser ajudar o CEKSP, uma instituição única em todo o Brasil, pode doar atra-
mais de 10 rabinos que acreditaram no
vés de boletos, cartões de crédito, PayPal, transferência e pix.
projeto e entendem o valor e a importân-
cia da instituição para sua comunidade.
Conta corrente: Centro Educacional Religioso Moyses David Laufer
Hoje atuamos em São Paulo, Rio de
Banco Bradesco - Agência: 0114
Janeiro, Pará, Minas Gerais e finalizando a
Conta Corrente: 28031-3 - CNPJ/pix: 41.824.999/0001-70
oficialização de mais um estado.
A instituição já teve a oportunidade de
PayPal: Raphael Laufer - r.l.o.2007@hotmail.com
ajudar uma família que mora em Israel
Para doações por cartão de crédito, entrar em contato com r.l.o.2007@hotmail.com

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 Kehilot
Tzfat ou Safed:
A cidade da cabalá e da arte
A
Do Editor cidade de Safed, ou Tzfat em
Hebraico, é uma cidade do
Fontes: Wikipedia e Prefeitura
distrito Norte, na Galileia.
Situada a uma altitude de 100 metros
acima do nível do mar, Tzfat é a cidade
mais alta da Galileia.
Pouco antes da proclamação do Estado
de Israel (maio de 1948), a população de
Tzfat era predominantemente árabe. Os
britânicos, ao sair da área, deram aos ára-
bes o posto policial fortificado no vizinho
Monte Canaan (Har Kena’an), 960 metros
acima do nível do mar e 150 metros
acima da antiga seção judaica. A cidade,
no entanto, foi tomada em 12 de maio de
1948 pela Haganah, as forças de defe-
sa judaicas e a população árabe fugiu.
Posteriormente, a alta Galileia monta-
nhosa atraiu pintores e outros artistas,
muitos dos quais agora vivem em Tzfat.
32 • Bras.il • www.bras-il.com
Foto: WikimediaCommons
Quatro antigas sinagogas, associadas a
antigos mestres da Cabalá, sobrevivem.
Tzfat é um dos principais berços da
mística judaica, a Cabalá. Ela se tornou,
desde 1600, um centro espiritual e uma
das quatro cidades sagradas de Israel,
junto a Jerusalém, Hebron e Tiberíades.
Cada uma das quatro cidades sagradas
corresponde a um dos quatro elementos
da natureza. Jerusalém representa o fogo
por causa dos sacrifícios do Templo.
Hebron representa a Terra porque é onde
está localizada a caverna dos patriarcas.
Tiberíades representa a água porque está
localizada ao lado do Lago Kineret. Tzfat
representa o ar porque a cidade fica no
alto das montanhas e é caracterizada por
uma aura espiritual, ligada à Cabalá.
Em Tzfat se instalaram estudiosos,
rabinos, religiosos e entusiastas do misti-
cismo judaico e até hoje a cidade é pro-
curada por quem deseja se espiritualizar
e estudar a Torá.
A Cabalá não se originou em Tzfat. O
livro do Zohar, o livro básico da Cabalá,
foi escrito por Rabi Shimon Bar Yochai
no século I d.C. na zona rural ao redor
de Tzfat. Mas ao longo dos séculos, estu-
diosos cabalísticos se estabeleceram em
Tzfat, ensinando e expondo a Cabalá.
Após a expulsão dos judeus da Espa-
nha, o Império Otomano abriu os braços
aos refugiados judeus, muitos dos quais
se encaminharam para Tzfat.
A maior parte desses estudiosos se
estabeleceu em Tzfat nos anos que se
seguiram à Expulsão Espanhola. Yitzhak
Luria, Yosef Caro, Moshe Cordovero,
Yaakov Berav, Shlomo Alkabetz e muitos
outros criaram uma comunidade de estu-
diosos da Torá e da Cabalá no século XV
que rendeu à cidade o nome de “Cidade
da Cabalá”.
Tzfat também passou por guerras. No
topo da montanha sobre a qual a cidade
está situada, há ruínas de uma fortale-
za outrora poderosa, conhecida como a
Cidadela. Esta fortaleza foi construída
pelos cruzados durante a conquista da
terra santa.
Durante a Guerra da Independência de
1948, Tzfat foi o local de uma grande bata-
lha entre a pequena comunidade judaica
da cidade e seus vizinhos árabes e, embo-
ra em menor número, os judeus de Tzfat
conseguiram manter seu lugar na cidade.
Mais recentemente, durante a Segunda
Guerra do Líbano, em 2006, Tzfat nova-
mente se viu sob ataque. Foguete após
foguete caíram nas casas e ruas da cidade.
Dezenas de Katyushas caíram em
áreas densamente povoadas da cidade,
mas apenas um homem foi morto e, dos
feridos, todos se recuperaram. O hospital
foi atingido, mas a área afetada estava
despovoada na época. No lotado Centro
de Absorção Etíope, no sul da cidade, a
única unidade desocupada, o escritório
do Centro, foi atingido.
Uma das histórias mais impressionan-
tes aconteceu em uma noite de sexta-
feira, quando os frequentadores de duas
antigas sinagogas se reuniram para deci-
dir em qual sinagoga deveriam rezar para
as orações de sexta-feira, pois não havia
homens suficientes para dois Minyanim.
Eles tinham que decidir orar em uma ou
outra sinagoga. Depois de horas de dis-
cussão, eles finalmente concordaram em
ir a uma das sinagogas. No meio das ora-
ções daquela noite, a segunda sinagoga,
aquela em que eles escolheram não orar,
foi atingida diretamente.
As ruas e casas da cidade velha estão
impregnadas de influência cabalística.
As portas e janelas pintadas de azul são
um simbolismo místico para confundir os
maus espíritos.
Conhecida como o centro da Cabalá
(misticismo judaico) em Israel, em cada
Foto: Revista Bras.il
curva das ruas de paralelepípedos encon-
tra-se uma loja mística. Mas esta cidade
sagrada também abriga locais antigos
com vistas panorâmicas e galerias de
arte vibrantes.
Originalmente construídas pelos bri-
tânicos, as grandes escadas que sobem
e descem a montanha na qual Tzfat foi
edificada, dividem a Cidade Velha e o
Bairro dos Artistas. Ao chegar ao topo
das várias centenas de escadas, a antiga
torre de vigia britânica construída para
guardar as escadas pode ser vista, com
o holofote e as fendas de colocação de
armas ainda visíveis.
A Sinagoga de Abuhav, construída no
século XVI, com seu design enraizado
nos princípios cabalísticos, abriga o mais
antigo rolo de Torá de Tzfat, um rolo
Foto: Revista Bras.il
associado a muitas tradições e lendas,
retirado apenas para leituras em Yom
Kipur, Shavuot e Rosh Hashaná. gens da comunidade judaica da cidade,
Uma das atrações turística de Tzfat vale a pena visitar o Beit Hameiri, um
também, é a loja de queijos HaMeiri Tzfat museu histórico que documenta a vida da
Dairy, o primeiro laticínio a ser estabele- comunidade judaica em Tzfat nos últimos
cido em Israel, produzindo queijos gour- 200 anos. Em cada um dos andares do
met do mais puro leite de ovelha e cabra museu há um aspecto diferente do coti-
desde 1840. diano desta comunidade.
Tzfat fica a cerca de duas horas de Da estação Rodoviária Central de Tzfat
carro de Tel Aviv. Para conhecê-la bem, circulam ônibus para as principais cida-
comece pelo “Bairro dos Artistas”, formado des do país. Não há estação de trem na
por casas de pedra, sinagogas, estúdios e cidade e as estações mais próximas são
oficinas de artistas espalhados em anti- Karmiel e Akko. De ambos os locais há
gos becos pitorescos e ruelas estreitas. ônibus a cada meia hora para Tzfat.
A cidade já é uma história viva, mas A economia da cidade é baseada na
para quem quer se aprofundar nas ori- indústria leve e no turismo.
Bras.il • bras.il.editor@gmail.com • 33
 Foto: Wikimedia Commons
O sistema escolar de Tzfat opera duas
escolas de Ensino Fundamental, bem
como duas escolas de Ensino Médio
Existem três escolas primárias religio-
sas nacionais em Tzfat, a Ari, a Beirav e a
Noam. A AMIT High School, oferece três
estruturas religiosas separadas para ado-
lescentes: uma escola secundária central
com divisões de meninos e meninas, uma
yeshivá (meninos) e a ulpana (meninas),
que fornecem uma estrutura religiosa
mais intensiva.
O sistema escolar Chabad é operado
pela comunidade Chabad de Tzfat e está
sob o patrocínio do sistema Mamlachti
Dati, embora seja uma entidade indepen-
dente dentro da estrutura Mamlachti Dati.
Existem também em Tzfat, escolas não
reconhecidas que incluem escolas admi-
nistradas por grupos chassídicos especí-
ficos. Essas escolas funcionam exclusiva-
mente com fundos privados e não rece-
bem dinheiro nem reconhecimento do
Ministério da Educação. Entre elas estão
o Cheder de língua iídiche de Tzachover, o
Cheder de língua iídiche Satmer e a esco-
la para meninas de língua iídiche Satmer.
Beit Hameri. Foto: Ministério do Turismo
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Foto: Wikimedia Commons
Embora o sistema escolar de Israel
também opere uma rede educacional
árabe, não há escolas árabes em Tzfat.
Após a libertação de Tzfat, durante
a Guerra da Independência, a Colônia
dos Artistas foi estabelecida. Mais de 50
dos artistas mais conhecidos de Israel
trabalharam e expuseram na Colônia de
Artistas, tanto em suas próprias galerias
e oficinas quanto na Exposição Geral que
foi instalada no centro do Bairro.
Alguns dos melhores artistas e arte-
sãos de Israel continuam a pintar, escul-
pir e criar obras de arte em galerias espa-
Foto: Canva
lhadas pelos becos e vielas exclusivas do
bairro, tornando Tzfat um dos centros de
arte mais importantes de Israel.
Tzfat oferece aos visitantes e morado-
res uma experiência única: uma cidade
moderna que remonta a milhares de anos
combinando história, misticismo judai-
co, natureza e uma comunidade artística
moderna. Ao passear pelas ruas e vielas
da Cidade Velha, entramos num mundo
de locais históricos, escavações arqueoló-
gicas, sabedoria religiosa, culinária étnica,
exposições de artistas e muito mais.
Foto: Revista Bras.il
Foto: Canva
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