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Uma nano-história do Metal

Elton Carvalhal Santana

Introdução
Metal é música? Eita! Digamos que
sim. E como o Metal surgiu?
Bem, tudo remonta a origem da mú-
sica e se acredita que a música tenha
surgido há cerca de 50.000 anos, du-
rante o período paleolítico, ou seja: du-
rante a Idade da Pedra Lascada,
quando os humanos começavam a de-
senvolver a linguagem e a cultura.
A música naquela época era prova-
velmente composta de vocalizações e
batidas rítmicas produzidas pelo
corpo, como palmas e batidas nos pés.
À medida que as sociedades humanas
evoluíram, a música também evoluiu,
incorporando instrumentos musicais,
ritmos mais complexos e formas mais
elaboradas de composição.
Muitas culturas antigas têm suas
próprias tradições musicais, e a mú-
sica sempre desempenhou papel
importante em rituais religiosos, cele-
brações e eventos sociais ao longo da
história. Ela também se tornou uma
forma de arte popular e de expressão
individual, com muitos músicos e com-
positores influenciando a cultura glo-
bal ao longo dos séculos.
O registro mais antigo de uma mú-
sica que se tem conhecimento é a “Me-
lodia de Hurrian Hymn no. 6”, que foi
encontrada em uma tábua de argila
datada de cerca de 1400 a.C. Esta tá-
bua foi descoberta por arqueólogos na
cidade de Ugarit, na Síria, durante a
década de 1950. E trata-se de uma
canção religiosa que foi escrita em aca-
diano, uma antiga língua mesopotâ-
mica, e foi preservada em forma de no-
tação musical. Embora os detalhes
exatos da melodia e da harmonia não
sejam conhecidos, a notação musical
revela que a canção foi escrita em uma
escala diatônica com uma oitava com-
pleta, sugerindo uma sofisticação mu-
sical avançada para a época.
Este registro histórico é um exemplo
fascinante da preservação da música
através da escrita e do tempo, e de-
monstra a importância que a música
teve para as culturas antigas e sua
crença na sua capacidade de transmi-
tir a mensagem divina.

Música é tudo igual?


Música é tudo igual? Não. Há uma
variedade gigantesca de gêneros musi-
cais. Alguns consideram que muitos
gêneros se perderam e que outros tan-
tos gêneros nascem todos os anos ao
redor do mundo, alguns se destacando
e outros sumindo sem que tenham sido
notados.
Mas o que são os gêneros musicais?
Gêneros musicais são categorias uti-
lizadas para classificar e descrever di-
ferentes tipos de música com caracte-
rísticas similares. Essas categorias são
baseadas em diversos elementos musi-
cais, como o ritmo, a melodia, a
harmonia, a instrumentação, a letra, e
outros aspectos estilísticos.
Essa categorização é usada para fa-
cilitar a organização e identificação de
diferentes estilos musicais, permitindo
que as pessoas possam encontrar mú-
sicas que sejam mais adequadas aos
seus gostos pessoais. Alguns exemplos
de gêneros musicais populares in-
cluem o rock, jazz, blues, pop, eletrô-
nica, rap, country, música clássica,
reggae, bossa nova, baião, entre ou-
tros.
No entanto, a categorização dos gê-
neros musicais pode ser controversa e
subjetiva, já que as características que
definem um determinado gênero musi-
cal podem variar ao longo do tempo e
em diferentes regiões geográficas. Além
disso, muitas vezes existem estilos mu-
sicais que misturam elementos de vá-
rios gêneros, dificultando a sua catego-
rização.
Apesar disso, os gêneros musicais
continuam sendo uma ferramenta útil
para a organização e descrição da mú-
sica, e são amplamente utilizados na
indústria musical, nas plataformas de
streaming, nas rádios e em outras for-
mas de mídia. Mesmo assim, não é fá-
cil enquadrar uma música, grupo ou
artista dentro de um gênero, uma vez
que não há um número exato de gêne-
ros musicais catalogados, já que, como
adiantei, novos estilos e fusões surgem
o tempo todo, enquanto outros caem
em desuso. Além disso, como acabei de
dizer, a definição e classificação dos gê-
neros musicais podem variar de acordo
com diferentes fontes e perspectivas.
No entanto, existem diversas tenta-
tivas de catalogar e classificar os gêne-
ros musicais. Por exemplo, o site
AllMusic (https://www.allmusic.com/) , que é
uma referência na catalogação de gê-
neros musicais, atualmente apresenta
mais de 1.300 gêneros musicais em
seu banco de dados.
Clássicos ou Eruditos?
A Música Erudita e, sobretudo, a
Música Clássica são o ápice da com-
posição musical enquanto arte. Inteli-
gência, criatividade e técnica alcança
um patamar jamais reproduzido em
qualquer outro gênero musical.
Os termos “música clássica” e “mú-
sica erudita” são frequentemente usa-
dos de forma intercambiável para se
referir a um estilo de música que é
composto e executado com um alto
grau de habilidade técnica e artística.
No entanto, há uma pequena diferença
na conotação dos dois termos.
A música clássica se refere ao reper-
tório musical que é composto por com-
positores europeus dos períodos bar-
roco, neoclássico e romântico, que
abrangem os séculos XVII ao XIX. Isso
inclui obras de compositores como Jo-
hann Sebastian Bach, Wolfgang Ama-
deus Mozart, Ludwig van Beethoven,
Franz Schubert, entre outros.
Já a música erudita é um termo
mais abrangente que se refere à mú-
sica que é composta e executada com
base em técnicas e estilos musicais
tradicionais, independentemente da
época ou região. Isso inclui a música
clássica europeia, mas também pode
incluir outras tradições musicais,
como a música oriental, a música indi-
ana, a música africana, entre outras.
Por isso compositores consagrados
como Samuel Barber, Bela Bartók, Ra-
chmaninov, Ravel (e seu belíssimo e fa-
moso Bolero), Rimsky-Korsakov e Stra-
vinski são erroneamente chamados de
clássicos, quando na verdade são eru-
ditos.
Entendendo isso, podemos dizer que
todo clássico é erudito, mas nem todo
erudito é clássico.

Afastando-nos dos domínios erudi-


tos
Saindo da esfera da erudição e indo
em direção do campo do popular,
chegamos à igreja americana, portanto
ao Gospel.
O gospel é um estilo de música reli-
giosa que tem suas raízes na música
afro-americana, particularmente na
música espiritual negra. A música gos-
pel é caracterizada por letras que falam
sobre a fé, a espiritualidade, a salvação
e a vida cristã, combinadas com melo-
dias emotivas e muitas vezes anima-
das.
O gênero gospel teve um grande im-
pacto na cultura americana e mundial,
influenciando diversos gêneros musi-
cais como o soul, o R&B e o rock.
Os primeiros registros de música
gospel remontam ao final do século
XIX, quando a música religiosa afro-
americana começou a se desenvolver
como uma forma de expressão para os
escravos e suas comunidades. No iní-
cio do século XX, o gospel começou a
ganhar popularidade fora das igrejas,
com artistas como Mahalia Jackson e
Thomas A. Dorsey tornando-se pionei-
ros do gênero.
Desde então, o gospel se diversificou
em diversos subgêneros, incluindo o
gospel tradicional, o gospel contempo-
râneo, o gospel urbano e o gospel su-
lista. O gospel é amplamente apreciado
em todo o mundo e é frequentemente
incorporado aos mais diversos estilos
como uma forma de agregar vigor e
emoção às canções, especialmente no
que diz respeito aos seus famosos co-
ros.
Mas ou menos à mesma época, os
negros americanos criaram outro gê-
nero musical, marcado pela sua histó-
ria de dor e preconceitos: o Blues.
O blues tem suas raízes na música
afro-americana, originário do sul dos
Estados Unidos no final do século XIX.
É caracterizado por suas letras emoti-
vas e melancólicas, acompanhadas de
progressões de acordes simples e repe-
titivas, geralmente tocadas em
instrumentos como guitarra, baixo, ba-
teria e gaita.
O blues tem uma rica história cultu-
ral e influenciou muitos outros gêneros
musicais, incluindo rock, jazz e R&B.
Muitos artistas de blues notáveis con-
tribuíram para o desenvolvimento do
gênero, como Robert Johnson, Muddy
Waters, B.B. King, Howlin' Wolf e John
Lee Hooker.
Suas letras frequentemente abor-
dam temas como amor, perda, tristeza,
luta e sofrimento, e muitas vezes apre-
sentam um tom sombrio e introspec-
tivo. O blues também tem uma forte
tradição de improvisação, permitindo
que os músicos expressem sua criativi-
dade e individualidade através da mú-
sica.
Assim como ocorreu com o gospel,
ao longo dos anos, o estilo se diversifi-
cou em muitos subgêneros, como o ele-
tric blues, o blues rock e o acoustic
blues, entre outros. Entre renovações e
resgate de elementos tradicionais o
blues segue forte e fiche gerando novos
artistas e cativando novos fãs.
Do blues chegamos ao Jazz.
O jazz é outro gênero musical ameri-
cano surgido no final do século XIX e
início do século XX em Nova Orleans,
Louisiana. É uma fusão de várias tra-
dições musicais, incluindo música afri-
cana, europeia e caribenha, bem como
ragtime e blues. Um verdadeiro remix
analógico!
O jazz é caracterizado pela improvi-
sação, onde os músicos tocam livre-
mente com base em uma estrutura
musical pré-determinada, geralmente
usando instrumentos como saxofone,
trompete, piano, bateria, baixo e gui-
tarra. As progressões de acordes com-
plexas e os ritmos sincopados dão ao
jazz seu som distinto.
O jazz tem uma história rica e influ-
ente, e muitos músicos notáveis contri-
buíram para o desenvolvimento do gê-
nero, como Louis Armstrong, Duke El-
lington, Charlie Parker, Miles Davis e
John Coltrane. Ele é frequentemente
associado ao swing, um subgênero po-
pular na década de 1930, e ao bebop,
que surgiu na década de 1940. O que
não se pode dizer com certeza é se ele
foi mais influenciador ou influenciado
por esses estilos. Pois, afinal, como
você já deve estar suspeitando, nada é
estático em termos de música e com o
passar do tempo, entre influências ati-
vas e passivas, o jazz se diversificou em
muitos subgêneros, como o jazz fusion,
jazz latino, jazz contemporâneo e smo-
oth jazz, entre outros. E, claro, também
influenciou muitos outros gêneros mu-
sicais, como o rock, o R&B e o hip hop.
Já o Country que é o equivalente
americano do que aqui chamávamos
de “música caipira” — que posterior-
mente degringolou no que se chamou
de “música sertaneja”.
O country surgiu nos Estados Uni-
dos no início do século XX, com raízes
na música folclórica, blues e gospel. É
caracterizado por instrumentos como
guitarra, violino, banjo, violão, contra-
baixo e bateria, além de letras que mui-
tas vezes abordam temas como amor,
saudade, vida rural, trabalho e patrio-
tismo. É geralmente associado à cul-
tura do sul dos EUA, mas se espalhou
por todo o país e ganhou popularidade
em todo o mundo. Muitos artistas do
estilo se tornaram ícones da música
americana, incluindo Hank Williams,
Johnny Cash, Dolly Parton e Willie Nel-
son.
Como qualquer outro estilo popular,
ao longo dos anos, o country evoluiu e
se ramificou em vários subgêneros,
como country pop, country rock, blue-
grass e outlaw country, cada um com
suas próprias características musicais
distintas. O country também influen-
ciou muitos outros gêneros musicais,
como rock, pop e folk.
Aproximando-nos de meados do sé-
culo XX, chegamos ao Rhythm and
Blues, também conhecido como R&B, é
um gênero musical que se originou nos
Estados Unidos na década de 1940. O
R&B é uma mistura de estilos musi-
cais, incluindo blues, jazz, gospel e
soul, e é caracterizado por uma forte
batida rítmica e vocais emotivos.
Os primeiros artistas de R&B inclu-
íam nomes como Louis Jordan, T-Bone
Walker e Dinah Washington, e o gênero
rapidamente ganhou popularidade en-
tre a comunidade negra americana. Na
década de 1950, o R&B começou a se
tornar popular entre a audiência
branca também, com artistas como
Ray Charles e Sam Cooke ajudando a
popularizá-lo.
O R&B continuou a evoluir na dé-
cada de 1960, com a adição de elemen-
tos de rock e funk, criando subgêneros
como o soul e o funk. Artistas como Ja-
mes Brown, Otis Redding e Aretha
Franklin ajudaram a definir o som do
R&B e levaram o gênero a um público
ainda maior.
Na década de 1980, o R&B se tornou
mais influenciado pelo hip hop, criando
subgêneros como o new jack swing e o
hip hop soul. O R&B continua a ser um
gênero popular na música atual, com
artistas como Beyoncé, Bruno Mars e
The Weeknd misturando elementos do
R&B tradicional com sons modernos.
Assim, chegamos ao fim dos anos
1950, período em que explode uma fe-
bre musical conhecida como Rock &
Roll, ou Rock, para os íntimos.
Como ele surgiu? Vá saber! Há diver-
sas teorias sobre como o gênero se de-
senvolveu. No entanto, a maioria dos
especialistas concordam que o rock
tem suas raízes em vários estilos mu-
sicais americanos, sobretudo no blues,
no jazz, no country e no gospel.
O blues, em particular, teve uma
grande influência no desenvolvimento
do rock. Muitos dos primeiros artistas
de rock, como Chuck Berry e Little Ri-
chard, eram músicos de blues que in-
corporaram elementos de rock em suas
músicas. Quer tirar uma dúvida? Vá ao
YouTube, digite “Chuk Berry, Johnny
B. Good” e ao invés de ouvir a música
na velocidade normal, reduza a veloci-
dade para 0.75 ou mesmo para 0.5 e
veja que blues “rasgado” que essa mú-
sica é!
Dada a dica, acrescento que outros
artistas importantes do início do rock
incluem Elvis Presley, Jerry Lee Lewis
e Buddy Holly.
Na década de 1960, o rock explodiu
em popularidade, com artistas como
The Beatles, The Rolling Stones, The
Who, The Doors e Jimi Hendrix se tor-
nando ícones da música rock. Ainda
nessa década rock se diversificou em
diversos subgêneros, como o iê-iê-iê
(rock brasileiro da década, famoso pe-
las bandas da Jovem Guarda) o rock
psicodélico, o rock progressivo e o hard
rock. Avançando pela década de 1970
o rock continuou a evoluir e influenciar
outros gêneros musicais, como o punk
rock, o heavy metal, e posteriormente,
o grunge e o indie rock, na década de
1990.
O rock é um dos gêneros que mais
gerou subgêneros. Veja que do rock
and roll temos: o Rock Psicodélico:
surgido no final dos anos 1960, é co-
nhecido por suas letras e sons experi-
mentais, com artistas como Pink Floyd,
Jimi Hendrix e The Doors; o Hard
Rock: subgênero caracterizado por ri-
ffs de guitarra pesados e bateria pode-
rosa, surgiu em meados da década de
1960 e tem bandas como como Led
Zeppelin, AC/DC e Guns N' Roses; o
Heavy metal: surgido no final dos
anos 1960, tem um estilo mais agres-
sivo do rock, com riffs de guitarra mais
distorcidos e solos virtuosos, com ar-
tistas como Black Sabbath, Iron Mai-
den e Metallica; o Punk Rock: é um es-
tilo mais rápido e o mais simplista do
rock, com letras muitas vezes políticas
ou sociais, com artistas como Ramo-
nes, Sex Pistols e The Clash; o Thrash
Metal: subgênero do Heavy Metal, sur-
giu no início da década de 1980, espe-
cialmente nos Estados Unidos,
caracterizado por um som rápido,
agressivo e técnico, apresenta riffs de
guitarra rápidos e complexos, bateria
veloz e agressiva, baixo pulsante e vo-
cais fortes e potentes, tem como ban-
das icônicas o Metallica, o Megadeth, o
Slayer, o Anthrax, o Exodus e o Testa-
ment; o Death Metal: outro subgênero
extremo do Heavy Metal, surgiu na dé-
cada de 1980, com raízes no Thrash
Metal e no Hardcore Punk. É caracteri-
zado por um som pesado, rápido e
agressivo, com vocais guturais e letras
frequentemente abordando temas obs-
curos e violentos, a apresenta riffs pe-
sados e complexos, bateria rápida e
agressiva, baixo distorcido e vocal gu-
tural, influenciou muitos outros sub-
gêneros do Metal, como o Black Metal e
o Melodic Death Metal, tem como ban-
das mais conhecidas o Death, o Morbid
Angel, o Cannibal Corpse, o Obituary,
o Possessed e o Nile; o Black Metal:
mais um subgênero extremo do Heavy
Metal, surgiu no início da década de
1990, na Noruega, é caracterizado por
um som cru, agressivo e atmosférico,
com letras frequentemente focadas em
temas como satanismo, paganismo, es-
curidão e ocultismo, tem riffs rápidos,
bateria agressiva e veloz, vocais rasga-
dos e gritados, entre as bandas mais
conhecidas estão Burzum, Mayhem,
Emperor, Darkthrone, Immortal e Gor-
goroth; o Grunge: tem origem nos
anos 1990, é caracterizado por suas
guitarras pesadas e letras introspecti-
vas, com artistas como Nirvana, Pearl
Jam e Soundgarden; o Indie Rock: gê-
nero mais alternativo, muitas vezes as-
sociado à música underground, com
artistas como The Strokes, Arctic Mon-
keys e Tame Impala; o Alternative
Rock: uma ampla categoria de rock
que inclui artistas que experimentam
sons e estilos diferentes do rock tradi-
cional, é representado por artistas
como Radiohead, Foo Fighters e Green
Day; o Metalcore: surgido na década
de 1990, tem combinação de elementos
de Hardcore, Punk e Heavy Metal, re-
sultando em um som agressivo e pe-
sado, entre seus principais represen-
tantes estão Killswitch Engage, Tri-
vium, As I Lay Dying, August Burns
Red, Bullet for My Valentine e Parkway
Drive; e, entre muitos outros, o Nu Me-
tal: surgido no fim da década de 1990
e tendo se popularizou nos anos 2000,
funde Heavy Metal, Hardcore, Punk,
Hip Hop e Funk, resultando em um
som pesado e agressivo, porém com rit-
mos e grooves mais complexos. Entre
as bandas mais conhecidas estão
Korn, Limp Bizkit, Slipknot, Linkin
Park, Deftones e System of a Down.
Você percebeu que, nesse trecho fi-
nal, há um número gigante de subgê-
neros que derivam do Heavy Metal?
Isso mostra a importância do gênero do
cenário musical, em especial, no cená-
rio rock. Já parou pra pensar no que é
esse tal metal?
O metal é um gênero musical pesado
e agressivo que surgiu no final da
década de 1960 e início da década de
1970, principalmente no Reino Unido e
nos Estados Unidos. Sua origem pode
ser traçada até a fusão do rock psico-
délico e hard rock com o blues e o rock
progressivo.
Ok, há grandes controvérsias, mas o
“lugar comum” é o de que muitos con-
sideram a banda britânica Black Sa-
bbath como uma das primeiras bandas
de metal, com seu álbum homônimo
lançado em 1970 sendo um marco im-
portante para o gênero. A música do
Black Sabbath era caracterizada por ri-
ffs pesados e lentos, letras sombrias e
a voz marcante de Ozzy Osbourne.
O estilo continuou a evoluir e se ra-
mificar em vários subgêneros ao longo
dos anos, incluindo o heavy metal,
thrash metal, death metal, black metal,
power metal e muitos outros. Cada
subgênero tem suas próprias caracte-
rísticas distintas, como a velocidade, a
agressividade, os temas líricos e os ti-
pos de guitarra e bateria usados.
Nossa! Todo esse percurso só para
dizer só isso sobre o Heavy Metal? Por
que diabos você teve que ler sobre Mú-
sica Clássica, Gospel e Jazz?
Não se afobe, jovem Padawan. Siga-
mos em frente. Note que o metal tem
uma relação forte com a música clás-
sica, especialmente no que diz respeito
à técnica e ao uso de instrumentos or-
questrais. Muitas bandas de metal in-
corporam elementos da música clás-
sica em suas composições, incluindo
progressões de acordes complexas, ar-
ranjos elaborados e uso de instrumen-
tos como violinos, violoncelos e pianos.
É impossível não ouvir o “Capricho nº
5”, de Paganini, ou a “Tocata e Fuga”,
de Bach, e não perceber ali um gérmen
da estrutura comum a solos metalei-
ros.
Além do mais, a influência da mú-
sica clássica pode ser vista em muitas
subcategorias do metal, como o metal
sinfônico, que usa uma orquestra com-
pleta junto com instrumentos de metal
para criar um som grandioso e épico. O
metal progressivo também é influenci-
ado pela música clássica, com muitas
bandas experimentando com arranjos
complexos, mudanças de tempo e es-
truturas de música não convencionais.
Além disso, muitas bandas de metal
usam técnicas de guitarra e técnica de
bateria semelhantes às usadas na mú-
sica clássica. Muitos guitarristas de
metal incorporam técnicas como arpe-
jos, harmonias e escalas cromáticas
em suas composições, enquanto bate-
ristas de metal usam padrões comple-
xos e polirritmias que requerem habili-
dade e treinamento extensivo.
Vale lembrar ainda que muitos mú-
sicos de metal são treinados em mú-
sica clássica e têm formação em con-
servatórios de música. Por exemplo, o
guitarrista Yngwie Malmsteen é um ex-
aluno do conservatório de música de
Estocolmo, enquanto o guitarrista e te-
cladista Jordan Rudess estudou no
prestigioso Juilliard School of Music
em Nova York. Mas não só esses, o
mesmo vale para caras como Steve Vai,
John Petrucci e Paul Gilbert, entre ou-
tros.
Agora, veja que não é só com a mú-
sica clássica que o Heavy Metal man-
tém conversas íntimas. Apesar de se-
rem gêneros musicais distintos, o me-
tal e o jazz têm algumas semelhanças
e influências mútuas. Ambos os gêne-
ros têm uma abordagem mais com-
plexa para a harmonia e utilizam ins-
trumentos como guitarra, baixo e bate-
ria de forma proeminente.
O jazz influenciou muitos músicos
de metal, especialmente na abordagem
harmônica e nas improvisações. Mui-
tos guitarristas de metal incorporam
técnicas de jazz em seus solos, como
escalas modais e arpejos sofisticados.
Alguns exemplos são Randy Rhoads (fa-
moso guitarrista de Ozzy Osbourne), Yngwie
Malmsteen e Alex Skolnick (guitarrista do
Testament).
Por outro lado, o metal também in-
fluenciou alguns músicos de jazz a ex-
perimentar com elementos de heavy
metal. O jazz fusion, um subgênero
que combina jazz com rock, incluindo
heavy metal, tornou-se popular na dé-
cada de 1970. O guitarrista John
McLaughlin, por exemplo, é conhecido
por fundir jazz com rock e heavy metal
em sua banda Mahavishnu Orchestra.
E com o blues? Neste caso a relação
é bem mais indireta, mas existente,
claro. Afinal, o blues é considerado um
dos pilares da música rock, que por
sua vez deu origem ao metal. O rock
dos anos 60 e 70, que é a base para a
maioria dos subgêneros do metal, mui-
tas vezes incorporava elementos do
blues, como riffs de guitarra e escalas.
Alguns subgêneros específicos do
metal, como o blues rock e o stoner me-
tal, têm influências mais diretas do
blues. O blues rock, como o nome su-
gere, combina o blues com o rock e é
caracterizado por riffs de guitarra
bluesy e improvisação. Já o stoner me-
tal é um subgênero mais pesado e psi-
codélico do metal que muitas vezes in-
corpora elementos do blues, como so-
los de guitarra em escalas pentatôni-
cas.
Além disso, muitos guitarristas de
metal incorporam influências do blues
em seu estilo de tocar. O blues é conhe-
cido por suas escalas pentatônicas e
pela utilização da técnica de bendings,
e essas técnicas são frequentemente
usadas por guitarristas de metal para
criar solos expressivos e emocionantes.
Ah, mas e quanto ao gospel? O gos-
pel retorna à cena adentrando o Metal
por meio do White Metal e do Unblack
Metal, além de uma variedade de sub-
gêneros que incorporam aos mais vari-
ados estilos do metal o caráter devoci-
onal das letras do gospel e, muitas ve-
zes, incluindo coros gospels tradicio-
nais. Algumas das melhores bandas
desse estilo são Bride, Petra, Stryper,
Antidemon, Mortification, Morphia,
Narnia, Fruto Sagrado e Oficina G3.
Feito esse percurso, você deve ter
notado que:

1. A música tem uma história longa, rica e


muito complexa que, ainda que estu-
dada a fundo, não cabe em uma vasta
enciclopédia;
2. A música evolui e se diversifica constan-
temente, como se fosse coisa viva em
contínuo movimento e mutação;
3. Como o Metal é música, ele também so-
fre muitas influências e se transformas
por movimentos internos e influências
externas;
4. Cada gênero, assim como é “parido” tem
potencial para dar a luz a novos subgê-
neros e, por vezes, o fazem;
5. Mesmo os subgêneros podem gerar ou-
tros subgêneros.
6. A música presente está sempre, de al-
gum modo, em algum nível, dialogando
e trocando influências com a música do
passado.
Claro que eu deixei muita informa-
ção muito importante e muito enrique-
cedora de fora, mas como o título do
texto já disse, está foi apenas uma
nano-história do metal. Uma mera nota
de rodapé em qualquer bom livro sobre
o rock ou sobre o heavy metal. Mas es-
pero que tenha sido uma nota de ro-
dapé instrutiva.

LEITURAS RECOMENDADAS

BENNETT, Roy. Uma breve história da mú-


sica. Rio de Janeiro-RJ: Zahar, 1986.

CHACON, Paulo. O que é rock? Brasília-DF:


Brasiliense, 1989.

GROUT, Donald; PALISCA, Claude. História


da música ocidental. Rio de Janeiro-RJ: Gra-
diva, 2001.

MOYNIHAN, Michael; SODERLIND, Didrik.


Lord of Chaos. — 2ª ed. — Contagem-MG: Es-
tética Torta, 2021.
NOGUEIRA, Marcos; FINOTTI, Ivan. A história
do rock. São Paulo-SP: Abril, 2009.

RAYNOR, Henry. História social da música:


da Idade Média a Beethoven. Rio de Janeiro-
RJ: Zahar, 1981.

RUSHTON, Julian. A música clássica: uma


história concisa e ilustrada de Gluck a Beetho-
ven. Rio de Janeiro-RJ: Zahar, 1991.

UPJHON, Everard M.; WINGERT, Paul S.;


MAHLER, Jane Gaston. História mundial da
Arte. Vol. 1: Da pré-História à Grécia Antiga.
São Paulo-SP: Difel, 1975.

WIEDERHORN, Jon; TURMAN, Katherine. Ba-


rulho infernal: a história definitiva do Heavy
Metal. São Paulo-SP: Conrad, 2015.

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