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FICHA TÉCNICA

Instituto Políticas Alternativas


para o Cone Sul
Avenida Henrique Valadares 23, sala 504
– Centro, Rio de Janeiro/RJ –
CEP 20231-030

AUTORAS
Aline Lima
Ana Luisa Queiroz
Isabelle Rodrigues
Karoline Kina
Lila Almendra
Rafaela Dornelas (CC BY 4.0)
Yasmin Bitencourt
Esta obra está licenciada sob
uma licença Creative Commons
COORDENAÇÃO GERAL AttributionNonCommercial-ShareAlike
Aline Alves de Lima 4.0 International license. Equal 4.0
Internacional. Textos e fotografias
REVISÃO E EDIÇÃO DOS TEXTOS: podem ser utilizados, copiados,
Ana Luisa Queiroz distribuídos, exibido ou reproduzido
Lila Almendra  em qualquer meio ou forma, mecânico,
electrónico, incluindo fotocópias, desde
que não fotocópia, desde que não tenha
PROJETO GRÁFICO finalidade comercial e que as fontes,
E DIAGRAMAÇÃO: autores e autores sejam citados.
João Seno
Rio de Janeiro
Atribuição 4.0 Internacional 2021

REALIZAÇÃO APOIO
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Cartilha metodologias / Aline Lima ... [et al.] ;


organização Pacs. -- 1. ed. -- Rio de Janeiro :
Pacs, 2021.

Outros autores : Ana Luisa Queiroz, Isabelle


Rodrigues, Karoline Kina, Lila Almendra, Rafaela
Dornelas, Yasmin Bitencourt.
ISBN 978-65-992516-8-9

1. Autogestão 2. Educação - Métodos 3. Intercâmbio


educacional 4. Intercâmbio social 5. Luta de classes
6. Movimentos sociais I. Lima, Aline. II. Queiroz,
Ana Luisa. III. Rodrigues, Isabelle. IV. Kina,
Karoline. V. Almendra, Lila. VI. Dornelas, Rafaela.
V. Bitencourt, Yasmin. VI. Pacs.

21-94566 CDD-370.78018
Índices para catálogo sistemático:

1. Metodologia : Pesquisa educacional 370.78018

Aline Graziele Benitez - Bibliotecária - CRB-1/3129


Índice

INTRODUÇÃO: OS PORQUÊS DA ESCRITA DESSA CARTILHA 6

CHEGANÇAS, ANIMAÇÃO E ENCERRAMENTO 9

ESPAÇOS DE AUTOCUIDADO E CUIDADO COLETIVO 11

CURSOS POPULARES 16

OFICINAS 22
INTERCÂMBIOS 28

CARAVANAS 32

MAPEAMENTOS E CARTOGRAFIAS POPULARES 36

FORMAÇÕES INTERNAS 40

COMUNICAÇÃO 44
CA RTIL H A M ETODOLO GIAS 6

Introdução:
Os porquês da
escrita dessa cartilha

Ao longo dos seus 35 anos de história Não pretendemos aqui nem reduzir essa
viva, o Instituto Pacs foi construindo história e nem incentivar a reprodução de
seus caminhos e fazeres através da força uma receita de bolo, mas fazer um exercício
das coletividades, das experimentações e de sistematização que possa contribuir para
do desejo de incidir no enfrentamento às o aquecimento desse campo tão necessário,
diferentes opressões que marcam o nosso entre reflexões, debates e práticas por um
mundo, em busca da liberdade dos povos mundo mais justo e plural.
e do bem viver. Objetivando fortalecer
Falar dessa história é falar do que nos move.
a crítica ao modelo de desenvolvimento
Nessa caminhada de construção crítica ao
capitalista, racista e patriarcal, a
modelo dominante de desenvolvimento e
responsabilização das empresas violadoras
também de fortalecimento de construções
e seus megaprojetos, a valorização das
alternativas a ele, muitos desejos e
coletividades auto-organizadas e suas
estratégias se tecem. Dentre elas, um desses
ações em defesa da vida em seus territórios,
caminhos tem sido através da valorização
fomos trilhando caminhos metodológicos
da auto-organização das coletividades,
variados, que contaram com seus erros e
dos grupos e dos movimentos em seus
acertos.
territórios. Para nós, a visibilização e
Inspiradas pela educação popular, valorização da força dos territórios nutre
acreditamos que é através da partilha e da a atuação política dos indivíduos auto-
experimentação que vamos construindo organizados e gera autonomia no sentido
nossos saberes. Movidas por esse desejo da construção de novos horizontes mais
de troca, trazemos aqui algumas reflexões participativos.
e experiências vividas ao longo dessa
Outro aspecto fundamental que nos move
caminhada. O desafio desse registro passa
nessa construção coletiva de saberes críticos
pela sistematização de uma história diversa,
e autônomos mora na reflexão constante
que segue se reconstruindo baseada em
sobre as relações construídas e destruídas
aprendizados desde o nascimento do Pacs,
pelos megaprojetos. Um olhar atento à
do seu encontro com diferentes parceiras
história política, econômica e cultural
e parceiros, dos diferentes territórios,
brasileira (ou ainda latino-americana
cheiros e sotaques com os quais tivemos o
e caribenha) revela o protagonismo
privilégio de encontrar e construir junto.
dos megaprojetos dentro do modelo
7

de desenvolvimento tal qual o vemos. de maneira refletida, orientadas para as


Através dos megaprojetos, as empresas, práticas coletivas e para o bem comum.
ou mesmo o Estado, têm se projetado e Na construção e reconstrução coletiva da
consolidado como atores e forças políticas história (e do futuro), cabem os encontros
violadoras de direitos, expropriadoras de e os dissensos.
corpos-territórios, suas riquezas e força
Todas as experiências e metodologias
de trabalho, e concentradoras de renda. É
sistematizadas nessa publicação são fruto
preciso afiar coletivamente nossos saberes,
de saberes compartilhados, de muitos
valorizar e visibilizar o conhecimento
encontros de corpos e ideias, de pegadas
que circula entre os povos e as terras
coletivas trilhadas pelos caminhos
onde a vida é, de fato, mais do que uma
de luta onde pudemos ser e estar.
mercadoria. Entendemos que esse é um
Trazemos composições e aprendizagens
dos fios condutores primordiais do nosso
que atravessaram gerações, escutadas
trabalho.
pelas pessoas que vieram antes de nós,
E para fazer frente aos ataques à autonomia tanto de maneira mais ampla quanto
dos territórios é preciso ter conhecimento institucionalmente, e exercitadas através
de si, de quem se é, de nossa própria história, da contribuição de cada um e uma que
individual e coletiva, e para onde queremos atravessaram essa história.
ir. Compreendemos a importância da
educação popular enquanto pedagogia
de luta que mantém a memória viva. Em
nossa experiência, buscamos costurar
diálogos entre as diferentes conjunturas
territoriais, nacionais e latino-americanas.
A educação popular como alimento da
memória, do não-esquecimento dos
saberes tradicionais ao mesmo tempo em
que pode construir pontes entre diversos
territórios e culturas. Manter a memória
viva não quer dizer cristalizar costumes,
mas conciliar tradições e transformações
CA RTIL H A M ETODOLO GIAS 8

Em nossas metodologias, buscamos Acreditamos na diversidade de saberes e


garantir um espaço de realce ao cuidado, na construção coletiva do conhecimento
entendendo que ele é parte fundamental como bases para que possamos sonhar e
constituinte de todo processo de construção construir outros mundos possíveis. Ao
de conhecimento e de articulação política. longo de sua história, o Instituto Pacs
O cuidado consigo e com a/o outra/o tem se dedicado a valorizar os diferentes
não é um lugar predeterminado ou saberes e construir espaços de diálogo entre
óbvio, mas um exercício que nos provoca eles. Esperamos que esse material possa
cotidianamente em nossos fazeres, onde contribuir pro campo das lutas populares,
erramos e acertamos, nessa mirada com ao enfrentamento dos projetos de morte e
intencionalidade. Com tal propósito, pela defesa da vida em diferentes escalas,
aguçar a escuta entre as pessoas e dentro lugares e territórios.
de nossa organização também tem sido
D E S E JA M O S UMA B OA LEITURA
um exercício desafiador e necessário.
E M U I TA C O N S T R U ÇÃO !
A mediação entre os diferentes interesses
e demandas também aparece como um
saber que envolve tempo, algo que quase
nunca temos o quanto gostaríamos.
A contradição nos envolve e permeia o solo
dos nossos fazeres.
9

Cheganças,
animação e
encerramento
A construção de uma atividade ou de ou virtual, é por onde iniciamos. A
um produto coletivo envolve diferentes ambientação é feita com músicas, cheiros,
momentos e metodologias que combinam objetos que remetam à intenção da
e dialogam. Ao longo de nossa história, atividade, além de frutas e água, tudo o
temos cada vez mais valorizado os espaços que possa colaborar para uma atmosfera
não diretamente construídos para atender próxima e acolhedora para as participantes.
ao objetivo principal de uma atividade,
A depender do tempo, usamos dinâmicas
mas que nem por isso deixam de ser
de apresentação geral, em grande roda,
fundamentais.
em duplas ou em grupos. As dinâmicas
Por isso, nesta seção, vamos falar um de apresentação em dupla ou grupos
pouquinho das cheganças, da animação se mostram efetivas principalmente em
ao longo da atividade e do encerramento grupos de 30 pessoas ou mais, uma vez
dela. Esses momentos são chave para que permite que as pessoas troquem
envolver as pessoas nos processos a serem mais do que seria feito em uma possível
desenvolvidos, trazendo a concentração, apresentação em plenária, podendo gerar
construindo laços, criando espaços de vínculos desde esse primeiro momento. As
confiança e segurança, consolidando apresentações podem ser feitas a partir de
debates feitos, circulando afetos e abrindo alguma provocação prévia, que valorize a
a possibilidade do relaxamento como parte subjetividade e a história da pessoa. Algo
valiosa de qualquer fluxo produtivo e de que se goste de fazer fora do tempo do
articulação política. Cada uma das muitas trabalho, uma curiosidade sobre si ou até
possíveis metodologias de chegança, de a apresentação de um objeto que contenha
animação e de encerramento tem o seu uma história da pessoa ou a represente.
objetivo e papel, mas sua relevância para
Para trabalhar a concentração nos
o desenvolvimento de uma boa atividade é
momentos de chegança, tanto em
igualmente alta.
atividades on-line como nas presenciais,
Começando pelo início, pelo que costumamos colocar o corpo no centro
chamamos de chegança, destacamos aqui das atenções. Práticas de respiração, dança
práticas para o acolhimento, entrosamento e alongamento, inspiradas em diferentes
e concentração no presente, naquilo a teorias e movimentos, como o teatro do
que estamos nos propondo construir. A oprimido, contribuem desde a quebra do
preparação do espaço, seja ele presencial gelo até trazer o foco para o momento
CA RTIL H A M ETODOLO GIAS 10

presente e para a proposta da atividade. Essas intervenções não são bem um


Poesias, músicas e palavras de ordem intervalo (ainda que intervalos com tempos
também são muito bem-vindas não só livres sejam igualmente fundamentais),
neste, como em todos os momentos. mas pequenas pontes de continuidade para
o próprio trabalho. Um poema que costura
A construção de ocasiões sensíveis,
os temas discutidos em uma roda não foge
poéticas e lúdicas trazem ao mesmo
da roda, mas segue nela. Essas intervenções
tempo leveza e profundidade às atividades.
podem ser curtas, durando um minuto ou
Falando da animação, ou seja, do
mais tempo. Em um primeiro momento,
esforço de manutenção da energia das
podemos ficar constrangidas de embarcar
participantes em uma atividade, além da
em performances mais teatralizadas,
respiração e alongamento, nós também
mas quanto mais praticamos, mais nos
costumamos propor danças em roda,
permitimos exercitar a própria sensibilidade
sugerindo movimentos, com músicas que
e mais à vontade nos sentimos na construção
podem ser animadas ou não, mas que
desses espaços. O falar em público, seja qual
nos ajudam a acordar o corpo e manter a
for o seu formato, é um saber que se aprende
mente alerta. É comum também usarmos
e pratica.
aromaterapia e práticas de autocuidado
logo após o intervalo das atividades, Para o encerramento das atividades, além
compartilhando também em roda esses do momento de avaliação coletiva técnica e
conhecimentos. Levantar-se, espreguiçar- afetiva, é comum puxarmos gritos de guerra,
se ou fazer movimentos simples, seguros cantigas, danças e expressões artísticas.
e intuitivos como apenas caminhar pelo Tanto na chegança quanto no encerramento
espaço, reconhecendo seus detalhes, suas de uma atividade, é comum pedirmos
cores, sons e cheiros, ajudam a despertar para que cada um/a compartilhe com que
os sentidos e a atenção. sentimento ou sensação está chegando e
saindo em uma frase ou palavra.
11

Espaços de
autocuidado
e cuidado
coletivo
1 2

O QUE SÃO? D E O N D E PA R T I M O S

Espaços de autocuidado e cuidado coletivo Poderíamos falar de muitos fios que teceram
são destinados à reflexão política sobre esse caminho de entendimento do cuidado
o cuidado e à partilha de experiências e como um fazer político e de uma reflexão
práticas. Os espaços podem ser oficinas e necessária que atravessa todos os processos
formações inteiras, mas aqui vamos nos de enfrentamento de injustiças e luta pelo
dedicar a falar sobre suas realizações em bem comum. Destacamos aqui as lutas e
momentos curtos entre as atividades reflexões entre mulheres como espaços
produtivas (sejam elas cursos, oficinas, fundamentais para a abertura desse campo.
plenárias de articulação, entre outras), de Falar da vida das mulheres, dos impactos
modo que as mulheres se cuidem e cuidem específicos dos megaprojetos sobre elas,
umas das outras em um ambiente seguro do trabalho reprodutivo, das diferentes
e dedicado a isso. Esses espaços ressaltam dimensões do companheirismo e da solidão
a importância de um momento para o entre companheiras, foi acumulando essa
descanso e para a troca acolhedora entre necessidade de incluir expressamente
as mulheres (ou entre mulheres, homens e a dimensão do cuidado em todo nosso
jovens) realizado com intencionalidade e trabalho. O cuidado como um fazer político
reflexão crítica. fundamental à produção de conhecimento,
à reprodução da vida material e subjetiva, à
saúde do corpo e das ideias.
CA RTIL H A M ETODOLO GIAS 12

3 4

D E F I N IÇ Ã O D E P Ú B L I C O T E M P O D E P R E PA R O, E X E C U ÇÃO
E P Ó S - E X E C U ÇÃO
Nossa experiência na construção de espaços
de autocuidado e cuidado coletivo passa O tempo de preparação vai depender
prioritariamente pelas mulheres. Em uma do contexto em que vivem as mulheres
sociedade patriarcal, marcada pela divisão envolvidas e se já estão mobilizadas ou
sexual do trabalho, pela invisibilização do não para a atividade. É necessário avaliar a
trabalho reprodutivo e pela sua concentração demanda por compra de materiais a serem
quase exclusiva como responsabilidade das utilizados (ervas, óleos, álcool e recipientes,
mulheres, afirmar o cuidado como um fazer etc.) e se as facilitadoras ou educadoras estão
político, necessário e compartilhado tem sido mobilizadas ou necessitam de alguma outra
um caminho fundamental. Pensar o cuidado formação ou direcionamento temático. O
de si e o cuidado com outras pessoas pode tempo de preparação deve levar cerca de um
ser feito de diferentes formas, mas quando mês.
pensamos a escolha do público, é importante
O tempo de execução é mais longo caso a
refletirmos sobre quem estará na atividade
atividade seja realizada presencialmente.
e quantas pessoas serão. Através dessa
Tratando-se de uma atividade virtual, temos
reflexão e delimitação, é possível pensar
uma limitação desejável de no máximo duas
caminhos para a construção de confiança
horas de tempo contínuo de tela.
entre as participantes, assim como garantir
que a estrutura disponível (presencial
ou virtual) possa acolher as mulheres de
maneira adequada.
E S PAÇ O S D E A U TO C U I DA D O E C U I DA D O C O L E T I V O 13

5 7

R E C U R S O S E M AT E R I A I S AT I V I D A D E S D E P R E PA R AÇ ÃO
N E C E S S Á R IO S N O P R E PA R O,
Caso o espaço se proponha a produzir
E X E C U Ç Ã O E P Ó S - E X E C U ÇÃ O
alquimias de cuidado, é importante que no
Cada espaço de autocuidado terá sua momento de mobilização partilhemos uma
metodologia específica. A partir das lista de materiais prévios necessários para
facilitadoras e suas propostas devem que as participantes possam se organizar
surgir elementos importantes. Em geral, para consegui-los. Além disso, no processo
costumamos valorizar os saberes das de preparação do espaço, é importante
mulheres, sobretudo daquelas envolvidas partilhar leituras, vídeos, músicas e poesias,
com a agroecologia, e o uso de materiais dentre outros materiais sobre o cuidado,
naturais e de fácil acesso, como ervas, óleo para que o tema possa ser “aquecido” antes
vegetais, tinturas, escalda-pés, incensos, do início da atividade.
bacias, recipientes para as alquimias e água
quente, além de alimentação adequada e 8
nutridora para o encontro.
M E T O D O LO GI A S - C H AV E
Em muitos contextos, as mulheres (ou
outros participantes envolvidos) têm São muitas as possibilidades de
acesso a ervas e plantas medicinais em metodologias a serem aplicadas na
suas hortas e quintais. A valorização dos dinâmica de autocuidado. Em geral o
recursos e materiais de fácil acesso às Instituto Pacs utiliza como principais as
participantes é fundamental. A construção seguintes:
de um espaço de cuidado, seja ele uma • rodas de conversa (diálogo e debate)
oficina inteira ou pequenos momentos – partindo de perguntas geradoras,
como pílulas, que são pequenos momentos • círculo de justiça restaurativa,
dentro de agendas mais amplas –, não
deve criar cobrança e tensionamento, pelo • reflexões sobre as experiências de vida
centrando no sujeito,
contrário, deve-se garantir uma atmosfera
de acolhimento e relaxamento. • partilha de saberes com ervas,
• produção de alquimias de cuidado
6 (como sprays vibracionais, pomadas,
óleos terapêuticos, chás, escalda-pés e
E Q U I P E E N V O LV I D A E F U N Ç Õ E S tinturas),
A equipe deve ser constituída por pessoas • mutirões,
para as seguintes funções: a) mobilização e • produção coletiva de saberes,
organização da metodologia, b) conteúdos
• oficinas de dança,
e programação da atividade, c) mediação
ou facilitação do espaço e d) relatoria. • práticas de alongamento corporal,
• massagem coletiva ou individual e
• meditações guiadas.
CA RTIL H A M ETODOLO GIAS 14

9 10

FORMAS DE REGISTRO DA A P R E N DI Z A D O S
E X E C U Ç Ã O E S I S T E M AT I Z A ÇÃ O
Aprendemos com a experiência que os
D A S E X P E R I Ê N CI A S
espaços de autocuidado e cuidado coletivo
Nesses espaços não temos a necessidade não podem ser mais um local de cobrança. Às
tão urgente de registros oficiais, até vezes, com o desejo de motivar as mulheres
por serem espaços que podem circular para seguirem com as práticas partilhadas,
conteúdos mais sensíveis sobre a vida das ou ainda no anseio de aproveitar ao máximo
participantes e que não devem mesmo o tempo, criamos uma atmosfera de pressão,
ser registrados. O que consideramos o que deve ser evitado. As práticas de cuidado
mais relevante de ficarem sistematizadas têm por base o encontro e a partilha e cada
são as percepções e o fluxo a partir dos espaço construído terá suas dinâmicas
afetos cuidados, até para que se possa particulares, que demandam uma atenção
posteriormente avaliar e aperfeiçoar a geral e sensibilidade de percepção.
atividade, além do registro de possíveis
É essencial construir um espaço seguro para
conteúdos para consultas posteriores.
todas e ter cuidado e respeito com o que é dito
Algumas opções para isso são registros em
e expressado nessa roda. A partir da abertura
cartilhas ou apostilas de conteúdos a partir
e disponibilidade de cada participante,
da relatoria, registros audiovisuais em
deve haver sensibilidade para mediar
fotos ou vídeos e sistematização a partir de
tópicos sensíveis, atuando com seriedade e
tarjetas ou facilitação gráfica.
compromisso com as participantes envolvidas.
E S PAÇ O S D E A U TO C U I DA D O E C U I DA D O C O L E T I V O 15

B A L ÃO DA E X P E R I Ê N C I A
11

O B S E R VA Ç Õ E S R O D A S D E M A S S AG E M , D E
CHEIRO E RESPIRO
O que é cuidado? A noção de cuidado
é muito ampla e pode contemplar as São muitos os exemplos que poderíamos
atividades não óbvias, estando presente trazer, mas vamos destacar três. Quando
no nosso cotidiano em diferentes espaços. em um espaço de confiança, entre um
Por exemplo, um mutirão de plantio em debate e outro, reservamos alguns minutos
uma horta de uma companheira pode ser para pedir que as participantes se separem
uma ação de cuidado. Dizer que o cuidado em duplas e que cada uma tenha um tempo
está no centro das nossas ações é valorizar para massagear as costas e os ombros
a intencionalidade que temos em praticar da companheira que está consigo. Após
e refletir sobre ele, seja quando olhamos alguns minutos, invertemos as posições
pros nossos coletivos, seja quando olhamos das duplas. Esse contato relaxa, diverte e
para nós mesmas. cria laços entre as participantes e quem
está mediando. Outra sugestão que usamos
quando estamos juntas é trazer um cheiro,
seja através de um óleo essencial, ou de
alguma planta em sua folha, flor ou caule.
Circulamos o cheiro em roda, que passa de
mão em mão, e respiramos juntas enquanto
o movimento acontece. Nos permitimos
fechar os olhos e sentir de que maneira
esse aroma e a respiração nos aproxima,
nos envolve em uma mesma atmosfera.
CA RTIL H A M ETODOLO GIAS 16

Cursos
Populares
1

O QUE SÃO? 3

Cursos populares são cursos voltados à D E F I N I ÇÃO D E P Ú B L I C O


formação das populações de determinados
O público é definido a partir do principal
territórios ou comunidades. Podem ser
objetivo do curso. Além disso, a fim de
elaborados em diferentes temáticas, como
eleger o público-alvo específico para cada
educação, meio ambiente, aprendizados
curso, consideramos o tema, os tipos
técnicos ou políticos. São experiências
de metodologias possíveis, o acesso e a
metodológicas que se calçam na prática
localização de realização. No contexto
da educação popular. Construídos
atual, nossos principais públicos – para
coletivamente desde sua concepção com
a maior parte dos cursos – têm sido
o público ao qual se destina, os cursos
pessoas que vivem nos territórios com
partem sempre da discussão do modelo
os quais construímos processos políticos,
de desenvolvimento vigente e a crítica
parceiras/os de outras organizações para
a ele bem como do estudo e partilha das
articulação e fortalecimento de debates
experiências e iniciativas alternativas.
dentro de diversos níveis de construção
(ONGs, coletividades organizadas, redes,
2
articulações nacionais e internacionais,
D E O N D E PA R T I M O S ? campanhas, etc.), mandatas e representações
institucionais (acadêmicas e políticas) e
Nossos principais temas são a economia mulheres diversas populares organizadas.
política feminista, a luta e autogestão de Essas escolhas são estratégicas e definidas
trabalhadoras e trabalhadores, o modelo a partir de muitos anos de prática e da
de desenvolvimento hegemônico e seus compreensão da diferença e da importância
impactos sobre as populações e políticas e dos públicos para o que nós temos como
as práticas alternativas. objetivo. Nossa atuação se dá em diferentes
níveis, mas é importante frisar que nosso
objetivo é construir a partir das pessoas
populares das periferias e favelas das
cidades, nacional e internacionalmente.
CURSOS POPULARES 17

T E M P O D E P R E PA R O, E X E C U ÇÃ O
E P Ó S - E X E C U ÇÃ O

O tempo necessário para planejar e Existe um especial cuidado no pós-


realizar um curso vai depender dos execução em relação à sistematização
objetivos, da organização dos conteúdos do que foi vivido, à organização dos
e da mobilização das pessoas envolvidas registros e relatorias, além do envio dos
(tanto possíveis educadoras ou materiais finais para as participantes e
facilitadoras quanto as participantes em eventuais atividades geradas a partir dos
geral). Idealmente, tendo em vista nossas encaminhamentos finais do curso.
experiências, preferimos contar com dois
P R E PA RO
meses de antecedência para preparar os
conteúdos, mobilizar as participantes, No preparo de todos os nossos cursos, além
dialogar com as educadoras convidadas, da equipe interna e das/os colaboradores,
fazer um levantamento da logística é fundamental pra nós ouvir o campo
(espaço, deslocamento, alimentação e a com o qual vamos dialogar. Apostamos na
viabilização de uma plataforma digital, construção coletiva do conhecimento desde
no caso de oficinas virtuais), entre outros a elaboração metodológica dos cursos.
elementos. Valemo-nos de entrevistas, conversas e
oficinas preparatórias que nos direcionam
Para pensar o tempo de execução de um para a melhor metodologia em cada caso
curso consideramos um balanço entre e formação. A duração varia conforme o
seus objetivos, os conteúdos que serão tempo do curso, abrangência territorial e
apresentados, o número de pessoas característica da mobilização.
envolvidas e a sua disponibilidade. Às
vezes ficamos tão motivadas em aproveitar E X E C U ÇÃO

o momento ao máximo que corremos o Para cada curso, temos uma modalidade
risco de sobrecarregar a programação de execução. Existem cursos, como o
com excesso de conteúdos, o que pode Autogestão e bem viver nos territórios,
afetar o tempo de reflexão e debate. Dessa que por seu caráter nacional são propostos
forma, temos aprendido cada vez mais como cursos de imersão, de modo a otimizar
sobre a importância das místicas e dos e aproveitar o tempo intensivo além de
intervalos. A pausa é também companheira garantir organicidade e proximidade entre
da reflexão. Em um intervalo para um as/os participantes. Já o curso Mulheres
lanche ou apenas para se espreguiçar e e Economia tem um caráter extensivo
ir ao banheiro abrimos espaço no corpo e duração de 7 semanas com encontros
e na mente e criamos laços entre nossas semanais presenciais (durante a pandemia,
companheiras e companheiros. por razões óbvias, experimentamos a
modalidade virtual) por se tratar de um
processo que conta com equipes de cogestão
(participantes do próprio curso) que fazem
uma avaliação permanente do processo de
aprendizagem e apropriação dos conteúdos.
CA RTIL H A M ETODOLO GIAS 18

P Ó S - E X E C U ÇÃO planejados no curso. Nós costumamos


Após a execução de cada curso, fazemos usar, além de cartolinas, tarjetas, canetas e
um processo avaliativo coletivo com canetinhas coloridas, giz de cera, barbante,
as/os participantes e com equipe técnica fotos e imagens impressas, pregadores,
com o objetivo de aprimorar nossa prática fitilhos, papéis autocolantes e lápis de cor.
bem como abrir um espaço de escuta É comum também disponibilizarmos esses
e aprendizado mútuo entre todas/os materiais para a ciranda.
envolvidas/os. Dentre os materiais tecnológicos é comum
Ao final também entregamos ou enviamos usarmos computadores, projetores, caixas de
certificados de participação e relatoria com som, microfones e câmeras fotográficas. Para
a memória de todo o processo. construir um ambiente que nos represente,
usamos tecidos coloridos na decoração
5 e ambientação, além de montarmos uma
mandala no centro das rodas com elementos
R E C U R S O S E M AT E R I A I S de luta, referências, imagens, instrumentos
N E C E S S Á R IO S N O P R E PA R O, musicais, esculturas, artesanatos e quaisquer
E X E C U Ç Ã O E P Ó S - E X E C U ÇÃ O outros elementos que julgamos ter sentido
Além dos recursos geralmente utilizados para estar ali.
para a realização do curso (seja presencial É de praxe imprimir a programação e
ou virtual), é importante que haja um materiais orientadores, imagens e materiais
desenvolvimento gráfico visual em extras para uso das/os participantes
imagem, mapa, plataforma digital ou outras durante a execução. Quando possível,
possibilidades a partir do curso, de maneira preparamos também um kit com caderno,
a reforçar o conteúdo trazido e gerar um canetas e outros materiais para que a/o
material que o registre. participante possa acompanhar e tomar
PLANEJAMENTO notas durante o curso. De modo a colaborar
para o funcionamento coletivo dos espaços,
No preparo para a atividade costumamos
é possível também que nesse kit seja incluída
usar tarjetas coloridas, canetas coloridas
uma caneca personalizada para uso durante
e cartolinas. É comum nos dedicarmos
a atividade.
à troca de referências e ideias, tanto
para planejar cursos novos quanto os PÓS-EXECUÇÃO
recorrentes. Buscamos constantemente Neste momento é comum que trabalhemos
formas de atualização, seja por pesquisa, nas imagens e registros elaborados durante
novas pessoas na roda de planejamento, o evento. Do material físico, avaliamos se
conversas ou articulações na construção. devemos ou não guardar, digitalizando o
É comum utilizarmos métodos de registro que for possível e relevante e descartando
e sistematização, sejam físicos ou digitais, o que não fizer sentido. O que sobra
como tabelas e documentos de texto. do material adquirido costumamos
EXECUÇÃO guardar para utilizar em outra atividade,
considerando também possíveis doações
Aqui são necessários, além dos instrumentos
se não for o caso de mantê-lo para um
já usados no preparo, outros materiais de
possível próximo uso.
papelaria de acordo com os momentos
CURSOS POPULARES 19

ser responsável por cuidar do processo de


6
inscrição e organização da comunicação
com participantes durante todo o processo
E Q U I P E E N V O LV I D A E F U N Ç Õ E S
de desenvolvimento do curso (pré, durante
É importante ressaltar que a equipe é e pós), podendo ser também a responsável
essencial para o desenvolvimento de uma por tirar dúvidas e enviar comprovantes e
atividade em sua máxima possibilidade certificados.
de execução. Todas/os, no seu devido
C O O R D E N AÇÃO LO GÍ S T ICA
papel, são essenciais para que tudo corra
bem e ninguém fique sobrecarregado, Pessoa que estará à frente da parte de
desconcentrado e inseguro durante o infraestrutura, desde a pesquisa e reserva
evento. Porém, é importante também do local para realização do curso, até
ressaltar que nem sempre teremos a conferir se todas as necessidades para
equipe ideal para dividir todas as tarefas e o curso serão atendidas. Ela estabelece
dimensões da realização de um curso, nesse diálogo com motoristas/vans para a
caso é essencial que cada um saiba muito equipe, convidadas/os e participantes, e é
bem quais são as suas responsabilidades e também estará responsável por coordenar
o trabalho em equipe flua com harmonia o reembolso de passagens (se esse for o
e efetiva comunicação para minimizar o caso). Além disso, atua como organizadora
estresse e a pressão. Considerando isso, dos momentos de alimentação – tanto fora,
trabalhamos aqui a partir de um ideal quanto dentro da atividade. Em geral, essa
possível de equipe para um curso. pessoa está responsável pela prestação de
contas da atividade, podendo também estar
C O O R D E N AÇÃO P E DAG Ó GICA responsável por passar listas de presença
A pessoa que estará à frente da condução e organizar a alimentação e o transporte
pedagógica da atividade, definindo durante o curso.
conteúdos, educadores e educadoras
R E L ATO R I A
convidadas, momentos prioritários,
objetivos e limites. Ela também pode estar Essa pessoa está exclusivamente dedicada
à frente do processo de mobilização e ao processo de registro e sistematização
articulação para o curso. do curso em desenvolvimento. Em geral
são feitas gravações e registros escritos
A S S I S T Ê N CI A P E DAG Ó GICA descrevendo cada um dos momentos
Essa pessoa costuma acompanhar todo partilhados no coletivo e esse trabalho é de
o desenvolvimento dos momentos de extrema importância, sendo compilado e
formação, podendo conduzir alguns deles sintetizado no momento de encerramento e
e facilitar a participação de participantes prestação de contas do curso.
além de oferecer apoio aos educadores
– na condução e exibição de vídeos e na
sistematização das ideias debatidas, por
exemplo. Essa pessoa será o ponto de
apoio da coordenação pedagógica para
facilitar a troca sobre os temas e assuntos
trabalhados. Ela também pode
CA RTIL H A M ETODOLO GIAS 20

C O M U N ICAÇÃO e possíveis ajustes metodológicos, a


A comunicadora está voltada para a parte depender dessas conversas e acordos.
de registro e produção de conteúdo do Após essa primeira etapa começamos
curso. Seu trabalho depende do objetivo um trabalho de divulgação em nossas
de comunicação daquele momento, mas em redes para mobilização e paralelamente
geral são as pessoas que fazem a cobertura pensamos a parte estrutural do curso: onde
fotográfica e audiovisual, produzem acontecerá, de que materiais precisaremos,
matérias sistematizando debates e trazendo que recursos utilizaremos, se precisaremos
relatos de participantes e educadores. de transporte, como se dará a logística,
como faremos a mística e os momentos de
7
relaxamento e lazer, etc.

AT I V I D A D E S D E P R E PA R A Ç Ã O 8

Como atividades de preparação para a M E T O D O LO GI A S - C H AV E


atividade geralmente lançamos mão de
chamadas telefônicas e mensagens por Algumas experiências com metodologias
whatsapp ou e-mail a fim de mobilizar as em cursos são mais marcantes em
participantes. Se o curso for aberto ao nossa história. As rodas com perguntas
grande público, divulgamos o evento nas geradoras, por exemplo, têm se mostrado
redes sociais, em listas de articulação eficazes tanto em encontros presenciais
e de contatos institucionais, além de quanto virtuais. Elas nos permitem ouvir,
mobilizar antenas territoriais – que são desde os primeiros momentos e em roda,
pessoas com quem ficamos em diálogo nos as pessoas que estão participando, o
territórios para articular - para levar o que fornece mais elementos e caminhos
convite e diálogo sobre a proposta a suas possíveis para o desenvolvimento do
comunidades. debate por parte de quem está mediando.

A preparação do espaço envolve, Os trabalhos em grupo são coringas para


idealmente, visitar o local antes, checar momentos em que há um grande número
a estrutura e listar tudo que se faz de participantes e não é possível dar voz
necessário. Caso não seja possível, pegar a todas/os em plenária. Eles estimulam o
referências com pessoas que conhecem o desenvolvimento de debates e questões a
lugar ou pedir fotos a fim de programar fundo, assim como facilitam sistematizar
com mais segurança o que deverá ser e gerar possíveis encaminhamentos
providenciado. Em relação à estrutura, organizativos. Os trabalhos em grupo
é importante a questão da viabilização podem ser usados em diversos momentos
de momentos coletivos de alimentação e do curso e com objetivos diversos, embora
do espaço para circulação. Uma copa ou seja importante garantir um momento de
cozinha são sempre bem-vindas, mesmo exposição de cada um deles para o grupo
para cursos de curta duração. todo, seguido de um debate amplo para que
as discussões de cada grupo não fiquem
As atividades de preparação envolvem isoladas e de modo a enriquecer a troca
definição do público a ser alcançado, geral durante o curso.
mobilização de parceiras/os, pactuação de
objetivos com público-alvo e colaboradores 9
CURSOS POPULARES 21

FORMAS DE REGISTRO DA O grande aprendizado que carregamos


E X E C U Ç Ã O E S I S T E M AT I Z A ÇÃ O desse processo em nossa bagagem é que
D A S E X P E R I Ê N CI A S nossos cursos, embora passem por um
longo período de preparação e ajustes, se
Em relação ao registro dos cursos, é fazem no caminhar, de mãos dadas com
importante que haja uma pessoa atenta quem está conosco. Aprendizado que parte
registrando por escrito cada um dos da generosidade de quem traz seu corpo
momentos compartilhados. Além disso, para ouvir e pode de maneira honesta falar
demos início à prática de gravar e/ou de si e de sua realidade na construção de
transmitir os encontros virtualmente novos mundos possíveis.
– sempre considerando questões de
segurança e se faz sentido para o objetivo
do espaço, assim como conferindo se a
metodologia permite tal abrangência.
B A L ÃO DA E X P E R I Ê N C I A
É comum também utilizarmos tarjetas,
desenhos em cartolina e outras formas de
registro à mão, como a facilitação gráfica, CURSO
que tem sido grande aliada em algumas A U TO G E S TÃO
experiências. Para a equipe, também temosO curso Autogestão e Bem viver nos
usado o método do diário de campo, um territórios completou sete anos de
espaço onde registramos nuances e ações existência, contando com a presença de
que nos marcaram durante a realização mais de 35 movimentos sociais, grupos e
do trabalho. Mapas em papel e tecido coletivos de oito estados do Brasil. Trata-
também já foram usados no processo de se de um curso/intercâmbio de práticas
registro e sistematização das experiências
autogestionárias ligadas à soberania
compartilhadas. e segurança alimentar, luta por terra
território e trabalho, arte e cultura, entre
10 outras. Dessa experiência surgiu o plano
popular alternativo ao desenvolvimento
APRENDIZADOS
(PPAD) que é uma plataforma virtual de
São incontáveis os aprendizados ao longo mapeamento e partilha desses movimentos
desses 35 anos dedicados a uma educação participantes do processo formativo. Você
comprometida com a educação da práxis pode saber mais clicando em ppad.org.br
e transformadora. São inúmeros os
encontros que tivemos que no meio do
caminho mudaram o rumo das nossas
formações. São muitas as mãos que
construíram o que hoje temos como uma
“educação viva”, em constante mudança a
partir de seus caminhos e encontros.
CA RTIL H A M ETODOLO GIAS 22

Oficinas
1 3

O QUE SÃO? D E F I N I ÇÃO D E P Ú B L I C O

Oficinas são atividades bastante versáteis A definição do público é um dos primeiros


dedicadas a um aprendizado ou debate passos para a construção de qualquer
mais específico, podendo ser pequeninas atividade e um dos elementos fundamentais
ou imensas em função do público, para as escolhas metodológicas. A escolha
espaço e tempo. do público e dos objetivos de uma oficina
já dão pistas para os caminhos que serão
2 pensados na etapa de planejamento e
construídos durante a execução. O público
D E O N D E PA R T I M O S da oficina é sempre composto a partir dos
Em nossa experiência, as oficinas têm territórios e do perfil de quem está nele.
sido uma ferramenta fundamental. Por se Além disso, consideramos também qual é o
adequarem nas diferentes temáticas que nosso principal objetivo com esta atividade
trabalhamos, das críticas às alternativas, e a partir dele analisamos o que é possível
as oficinas estiveram presentes em toda a e eficaz naquele contexto.
nossa história. Para construir primeiras
sensibilizações sobre Economia Política
Feminista, para dar mergulhos mais
profundos nas dinâmicas territoriais – como
nas oficinas de mapeamento de poderes e
conflitos, ou ainda para construir espaços
seguros e de confiança. São elas o nosso
grande guarda-chuva, ao mesmo tempo em
que são também um caminho metodológico
onde seguimos somando saberes conforme
andamos, influenciadas pelos diferentes
contextos e sujeitas.
O F IC I N A S 23

4 5

T E M P O D E P R E PA R O, E X E C U ÇÃ O R E C U R S O S E M AT E R I A I S
E P Ó S - E X E C U ÇÃ O N E C E S S Á R I O S N O P R E PA R O,
E X E C U Ç ÃO E P Ó S - E X E C U ÇÃO
O tempo necessário para planejar e realizar
uma oficina vai depender dos objetivos, da O formato das oficinas pode variar bastante
organização dos conteúdos e da mobilização e muitas vezes elas podem ser realizadas
das pessoas envolvidas (tanto possíveis com pouco recurso financeiro. No entanto,
educadoras ou facilitadoras quanto as quando existe este recurso, buscamos
participantes em geral). Idealmente, tendo privilegiar o pagamento das despesas
em vista nossas experiências, preferimos das participantes, como transporte e
contar com um mês de antecedência alimentação – quando presencial –, ou
para preparar os conteúdos, mobilizar as de internet – quando virtual –, além
participantes, dialogar com as educadoras de remunerar as relatoras, educadoras,
convidadas, fazer um levantamento da facilitadoras e cirandeiras. Entendemos
logística (espaço, deslocamento, alimentação que nesses casos a contribuição financeira
e a viabilização de uma plataforma digital, valoriza a presença das pessoas envolvidas,
no caso de oficinas virtuais), entre outros embora essa valorização não se restrinja ao
elementos. campo financeiro, podendo e devendo ser
expressada de outras formas, e através de
Para pensar o tempo de execução de
outras economias solidárias e fraternas.
uma oficina consideramos um balanço
entre seus objetivos, os conteúdos que Os materiais necessários variam
serão apresentados, o número de pessoas conforme a temática, a programação,
envolvidas e a sua disponibilidade. Às vezes as atividades e o público da oficina. Em
ficamos tão motivadas em aproveitar o geral, poesias e músicas são bem-vindas
momento ao máximo que corremos o risco de para as místicas, materiais de papelaria
sobrecarregar a programação com excesso (como canetas, tintas, papel, cartolina,
de conteúdos, o que pode afetar o tempo de tarjetas e tecidos) e materiais multimídia
reflexão e de debate. Dessa forma, temos (como som, projetor, cabos, adaptadores,
aprendido cada vez mais sobre a importância câmeras e carregadores) são utilizados nas
das místicas e dos intervalos. A pausa é dinâmicas. É sempre bom conferir o que já
também companheira da reflexão. Em um temos e prever o que pode faltar no local
intervalo para um lanche ou apenas para se onde será realizada a oficina, desde papel
espreguiçar e ir ao banheiro abrimos espaço higiênico e repelente até adaptadores e
no corpo e na mente e criamos laços entre filtros de tomada. Por fim, é recomendada
nossas companheiras e companheiros. uma especial atenção para carregar os
equipamentos com antecedência, a fim de
Existe um especial cuidado no pós-execução
que estejam prontos para uso no momento
em relação à sistematização do que foi vivido,
da atividade.
à organização dos registros e relatorias,
além do envio dos materiais finais para as
participantes e eventuais atividades geradas
a partir dos encaminhamentos das oficinas.
CA RTIL H A M ETODOLO GIAS 24

6 7

E Q U I P E E N V O LV I D A E F U N Ç Õ E S AT I V I DA D E S D E P R E PA R AÇ ÃO

Nesta fase buscamos considerar o número Como atividades de preparação para a


de participantes da atividade. Existe uma atividade geralmente lançamos mão de
diferença entre uma oficina construída para chamadas telefônicas e mensagens por
10 ou 30 pessoas, por exemplo. A definição whatsapp ou e-mail a fim de mobilizar as
do número de profissionais envolvidos participantes. Se a oficina for aberta ao
pode ser feita a partir da previsão do grande público, divulgamos o evento nas
trabalho necessário para a realização da redes sociais, em listas de articulação e de
oficina. Será necessário mediar, relatar, contatos institucionais, além de mobilizar
fotografar, trabalhar conteúdos, organizar antenas territoriais, que são as parceiras
chegada e partida de pessoas, preparar que ficam responsáveis por levar o convite,
uma ciranda, estabelecer um diálogo com mobilizar e dialogar sobre a proposta em
o local, organizar a logística ou realizar a suas comunidades.
limpeza do local?
A preparação do espaço envolve,
Prever todo o trabalho possível nos ajuda a idealmente, visitar o local com
entender quantas pessoas serão necessárias antecedência, checar a estrutura e listar
para a sua realização. Pode acontecer do tudo que se faz necessário. Caso não seja
trabalho ser muito e nós sermos poucas na possível, pegar referências com pessoas
organização, algo que é bastante comum. que conhecem o lugar ou pedir fotos a
Nesse caso, podemos construir grupos de fim de programar com mais segurança o
trabalho durante a oficina que contem com que deverá ser providenciado – detalhes
o apoio das participantes. Um grupo cuida que podem parecer pequenos, mas que
dos tempos, outro dos registros e relatoria, ajudam muito na organização e na fuga
um outro apoia na organização do espaço dos imprevistos indesejados. Em relação
e por aí vai. Dessa maneira, dividimos à estrutura, é importante a questão da
a responsabilidade da oficina de mais viabilização de momentos coletivos de
horizontal e positivamente. alimentação e do espaço para circulação.
Uma copa ou cozinha são sempre
bem-vindas, mesmo para oficinas de
curta duração.
O F IC I N A S 25

8 9

M E TO D O LO G I A S - C H AV E F O R M A S D E R E GI S T R O DA
E X E C U Ç ÃO E S I S T E M AT I Z AÇÃO
Algumas experiências com metodologias
D A S E X P E R I Ê N CI A S
em oficinas são mais marcantes em
nossa história. As rodas com perguntas As formas de registro mais utilizadas para
geradoras, por exemplo, têm se mostrado essa atividade são relatorias, fotos e vídeos,
eficazes tanto em encontros presenciais além de entrevistas curtas antes, durante
quanto virtuais. Através de perguntas e depois das atividades de avaliação
pré-definidas, criamos um chão comum de (realizadas através de dinâmica, cartas ou
provocação das falas. Elas nos permitem fichas).
ouvir, desde os primeiros momentos em
roda, as pessoas que estão participando, 10
o que fornece mais elementos e caminhos
possíveis para o desenvolvimento do A P R E N DI Z A D O S
debate por parte de quem está mediando. A cada oficina aprendemos um pouco
Aqui, os trabalhos em grupo são coringas mais, seja em relação aos caminhos para
para momentos em que há um grande trabalho com algum grupo específico, seja
número de participantes e não é possível em relação aos diversos formatos ou a
dar voz a todas e todos em plenária. quanto tempo cada conteúdo ou momento
Eles estimulam o desenvolvimento de demanda. Uma das coisas que aprendemos
debates e questões a fundo, assim como tem relação com o cuidado de manter
facilita sistematizar e gerar possíveis alguma flexibilidade para a programação,
encaminhamentos organizativos. entendendo que nem todo imprevisto é
um problema. Às vezes certas demandas
Os trabalhos em grupo podem ser usados ou propostas surgem durante uma oficina
em diversos momentos da oficina e com de maneira pertinente e necessária.
objetivos diversos, embora seja importante É importante desenvolver a sensibilidade
garantir um momento de exposição de e buscar coletivamente, na medida
cada um deles para o grupo todo, seguida possível, reencontrar os objetivos traçados
de um debate amplo para que as discussões inicialmente com as oportunidades que
de cada grupo não fiquem isoladas e de surgem no momento da realização.
modo a enriquecer a troca geral durante
a oficina.
Mas atenção: com a empolgação e o desejo
de dar conta de muitas coisas ao mesmo
tempo, podemos cair no erro de construir
perguntas geradoras muito grandes, ou
em grande número. Essa escolha deve
caminhar alinhada com a reflexão sobre
o tempo e o número de participantes.
Devagar também se chega.
CA RTIL H A M ETODOLO GIAS 26

11

O B S E R VA Ç Õ E S B A L ÃO DA E X P E R I Ê N C I A

Procuramos dar uma atenção especial à


organização prévia de maneira a evitar O F I CI N A S E
imprevistos indesejados. É importante M A I S O F I CI N A S
que a equipe esteja aberta e flexível para É difícil selecionar um único exemplo de
mudanças, com opções de diferentes uma metodologia que é tão recorrente em
dinâmicas na manga para momentos em nosso trabalho. Das práticas de autocuidado
que seja necessário quebrar o gelo ou com ervas, ao levantamento de impactos
aguardar alguma atividade que está sendo de megaprojetos e segurança digital,
preparada. Devemos prever intervalos são muitas as experiências que temos
e trabalhar o acolhimento de outras na realização de oficinas. Destacamos
linguagens que possam surgir. Em nossas aqui as que envolvem a construção de
oficinas, um momento para o trabalho mapeamentos que fizemos em quatro
com o corpo tem sido fundamental; estados brasileiros: Pará, Maranhão,
alongamentos, massagens e danças, mesmo Pernambuco e Minas Gerais. Todas com o
que de maneira breve, conectam, arejam e mesmo objetivo: mapear entre mulheres os
concentram. impactos por elas vividos em seus corpos-
territórios causados pelos megaprojetos
e empresas que lhes atravessavam. Em
cada uma delas foi necessário entender as
particularidades dos grupos para definir
uma proposta final. No Pará, por exemplo,
trabalhamos com mulheres indígenas,
ribeirinhas, pescadoras e de outras
comunidades tradicionais que sentem seu
modo de viver e reproduzir diretamente
atacado pela Usina Hidrelétrica Belo
Monte.
27
CA RTIL H A M ETODOLO GIAS 28

Intercâmbios
1 3

O QUE SÃO? D E F I N I ÇÃO D E P Ú B L I C O

Intercâmbios são atividades nas quais Na realização de atividades de intercâmbio


há troca de saberes entre pessoas que é essencial que o público seja, em sua maior
carregam interesses em comum, mas em parte, pessoas que trocarão experiências a
geral moram longe umas das outras. O partir de suas práticas e realidades. Por
intercâmbio promove, portanto, um tempo exemplo: em um intercâmbio de saberes e
maior para troca de experiências e saberes
práticas em agricultura, a maior parte das/
a partir de metodologias pensadas com os participantes devem ser agricultoras/
este fim. es; em um intercâmbio de práticas em
autogestão, pessoas que constroem
2 coletividades auto-organizadas; e assim
sucessivamente. Em relação à quantidade
D E O N D E PA R T I M O S exata de pessoas em cada atividade, é
Os intercâmbios promovidos pelo Pacs necessário avaliar caso a caso, a partir da
são espaços construídos a muitas mãos, infraestrutura disponível no lugar e da
para troca de experiências, saberes e metodologia proposta.
práticas. Acreditamos que a construção
do conhecimento se dá principalmente 4

nas trocas entre as/os protagonistas das


T E M P O D E P R E PA R O, E X E C U ÇÃO
experiências. Nossos temas variam entre
E P Ó S - E X E C U ÇÃO
agroecologia e soberania e segurança
alimentar; luta por terra território e O tempo de preparação para intercâmbios
moradia; arte, cultura e comunicação costuma ser, em média, de um mês. Isso
popular; pedagogias de luta; lutas das porque a proposta de trocar experiências
mulheres; enfrentamento às violações envolve uma construção coletiva, em
de direitos pelos megaprojetos de diálogo com as/os participantes. Dessa
desenvolvimento; entre outros. forma, o primeiro passo é o diálogo com
as/os protagonistas das experiências.
Na etapa de planejamento, realiza-se
um debate coletivo para a escolha das
temáticas e construção da metodologia.
No campo da preparação, depois disso é
mão na massa! Pensamos então a logística
da atividade, bem como a organização da
alimentação e o formato dos registros.
Já no momento da realização do
INTERCÂMBIOS 29

intercâmbio, costumamos fazer atividades


5
que duram um, dois ou três dias, em
modelo presencial, a depender dos
R E C U R S O S E M AT E R I A I S
contextos e demandas. Já em modelo
N E C E S S Á R I O S N O P R E PA R O,
virtual, é importante que não saturemos E X E C U Ç ÃO E P Ó S - E X E C U ÇÃO
o dia com encontros longos demais e que
haja interação contínua de modo que não No caso dos intercâmbios, é importante
se torne exaustivo às/aos participantes. levar em conta a garantia de um espaço
que acomode com conforto todas/os as/
Sobre a divisão do tempo durante a
os participantes nos momentos em que
realização da atividade (seja ela presencial
estiverem reunidos, o que pode gerar
ou virtual), é importante ressaltar os
despesas com aluguel além das despesas
espaços de “respiro”: místicas utilizando
com materiais utilizados pela atividade,
música, poesia, vídeos, objetos e práticas de
mas é importante buscar com as/os
relaxamento ao longo de todo o processo.
parceiros se existem espaços gratuitos ou
Na pós-execução vem o momento de com preços solidários, como de igrejas,
organização dos relatórios, devolutivas associações ou quintais, que podem acolher
e produtos de comunicação gerados pela a atividade.
atividade. O ideal é que essa finalização
Além disso, pensamos em gastos de
seja feita em no máximo duas semanas após
locomoção, hospedagem e alimentação
o encontro, assim a memória ainda está
para que todas/os as/os participantes
fresca na mente de quem participou e com
cheguem ao local adequadamente, bem
isso os registros ficam mais vivos e ricos
como retornem aos seus lares de maneira
em detalhes, além de permitir um tempo
tranquila. Isso posto, contabilizamos os
razoável para se preparar o material com
gastos com transporte, alimentação e
cuidado e abrir espaço para o surgimento
estadia, além dos diretamente relacionados
de ideias.
à atividade.
Dessa forma, procuramos percorrer uma a
uma as necessidades para contabilizar com
a máxima exatidão possível as despesas,
e compreender qual(is) organização(ões)
cobrirá(ão) cada uma delas e como
mobilizar mais recursos, se preciso.
Os materiais necessários dependem do
tipo de intercâmbio proposto. No âmbito
da educação popular, elencamos algumas
possibilidades, como: uso de tarjetas para
a metodologia do círculo de cultura; uso de
projetor para visualização coletiva de fotos,
vídeos e outros materiais audiovisuais;
blocos de anotações, canetas, papéis, entre
outros artigos de papelaria.
CA RTIL H A M ETODOLO GIAS 30

A utilização dos materiais varia de acordo AT I V I D A D E S D E P R E PA R AÇ ÃO


com o formato. Em casos de atividades
presenciais, é feita a montagem de um Tratando-se de um intercâmbio, o diálogo
espaço educativo com os itens citados, para sua mobilização é importante, tanto
enquanto nas virtuais é necessário na divulgação como no reforço, que é o
garantir o acesso à internet a todas/os momento em que detalhamos a proposta
as/os participantes e a uma plataforma da atividade com cada participante. Dessa
de chamadas de vídeo. Em todos os maneira, a ideia é de que os sujeitos reflitam
casos, existe ainda a preocupação com previamente sobre as experiências que
a garantia de alimentação ao longo da protagonizam, seus pontos fortes e desafios,
formação (lanche e/ou almoço, a depender e se encaminhem para a atividade já com
dos horários), como mencionamos acima, alguma ideia de como se expressar em
nos recursos necessários, para que as relação ao tema em pauta.
pessoas envolvidas possam se dedicar É importante que a formulação da
integralmente ao processo. metodologia do intercâmbio inclua
o processo preparatório, quando as
6 interações com as/os participantes
devem ser constantes. Cabe à comissão
E Q U I P E E N V O LV I D A E F U N Ç Õ E S
encarregada pelo planejamento o diálogo
Para cada intercâmbio é importante que frequente com a equipe sobre as atividades
exista uma comissão responsável por sua preparatórias, envios de materiais de
organização. Esta comissão pode ainda se estudo prévios e orientações para o
dividir em outras, de modo a dar conta de momento do encontro.
todos os detalhes de sua construção.
No caso dos intercâmbios, sugerimos
as seguintes divisões: mobilização e
comunicação (contato com participantes,
divulgação, etc.); metodologia e
programação; logística (transporte dos
participantes, alimentação, etc.); mediação
e animação (no momento de realização do
intercâmbio); e registros (fotos, relatoria
textual, vídeos, etc.).
INTERCÂMBIOS 31

8 10

M E TO D O LO G I A S - C H AV E A P R E N DI Z A D O S

Um dos principais eixos metodológicos no A opção por fortalecer os processos de


campo dos intercâmbios é a construção de intercâmbio parte de um aprendizado
espaços de apresentação das experiências. prévio dos espaços de formação, qual
Ou seja, seu eixo central reside na troca seja: nada melhor do que as próprias
entre as atrizes e os atores que constroem protagonistas das experiências trocando
as experiências. Portanto, aqui, quanto saberes entre si para a construção de
menor a intervenção dos técnicos, melhor. processos férteis de ensino-aprendizagem.
O foco nos espaços de intercâmbio
Entendemos este como um momento
tem estreita relação com a construção
de muitos diálogos – alguns orientados
da educação popular. A participação
pela metodologia, outros mais livres –
nesses espaços, além de ampliar nossos
garantindo um maior tempo de intervalo
conhecimentos sobre a forma com que
entre as atividades já planejadas de modo
podemos apoiar essas experiências, reforça
a estimular a livre interação entre as/
a urgência no reconhecimento e valorização
os participantes, por vezes orientadas
de saberes historicamente invisibilizados e
a partir de questões geradoras, por
deslegitimados pela hegemonia do saber
vezes geradas pela própria vontade e
acadêmico.
interesse de quem está participando. No
caso dos intercâmbios que aconteçam
nos territórios, é crucial que haja todo o B A L ÃO DA E X P E R I Ê N C I A
apoio logístico e de infraestrutura para
possibilitar que a experiência seja bem I N T E R CÂ M B I O S C O M B I N A D O S
realizada pelo grupo. COM CURSOS

Durante os cursos Autogestão e Bem


9
Viver nos Territórios em geral realizamos
FORMAS DE REGISTRO DA um dia de intercâmbio com todas as
E X E C U Ç Ã O E S I S T E M AT I Z A ÇÃ O coletividades, movimentos e organizações
D A S E X P E R I Ê N CI A S presentes. Em especial, visitamos o sítio
agroecológico de uma companheira, e
As formas de registro mais importantes fazemos ali uma roda de conversa sobre a
utilizadas por nós durante essas experiências história da luta daquele território e uma
são a relatoria textual, o registro em material ação direta, de manejo da horta, na qual
audiovisual (fotos e/ou vídeos, em casos discutimos e praticamos coletivamente
de atividades presenciais, e a gravação do o tema do direito à alimentação saudável
encontro – através da plataforma utilizada – e agroecológica. Os momentos de ação
em casos de atividades em formato virtual), prática são também uma forma de apoiar
além do preenchimento de tarjetas e quadros o local que estamos visitando e também de
e das anotações individuais. troca de saberes e sementes.
CA RTIL H A M ETODOLO GIAS 32

Caravanas
1 3

O QUE SÃO? T E M P O D E P R E PA R O, E X E C U ÇÃO


E P Ó S - E X E C U ÇÃO
Entendemos as caravanas como grandes
momentos de intercâmbios, intensificados As caravanas possuem quatro etapas:
pela vivência cotidiana de coletividades em planejamento, execução e pós-execução.
movimento. São viagens educativas por um
Na etapa de planejamento, realiza-se
território a partir de recortes temáticos que
um debate coletivo para a escolha das
podem mudar a cada proposta. As pessoas
temáticas, dos territórios visitados e das
e grupos que compõem o movimento
comissões responsáveis por cada grupo
agroecológico no Brasil são importantes
de tarefas. As comissões que construímos
construtoras/es e incentivadoras/es da
usualmente são:
utilização e criação conjunta de caravanas
que trazem tanto denúncias do modelo de a. infraestrutura e logística (que cuida
desenvolvimento hegemônico e violações dos deslocamentos e rotas, onde serão
de direitos quanto anúncios a partir das realizados os pernoites e a alimentação,
alternativas fortalecidas cotidianamente etc.);
nesses territórios.
b. metodologia (organiza como será a
programação, considerando os objetivos
2
e as ferramentas metodológicas);
D E F I N IÇ Ã O D E P Ú B L I C O
c. mobilização (faz contato com as
No âmbito das caravanas, destacamos experiências visitadas, com as/os
dois elementos essenciais para a definição participantes e com as comissões) e
do público: 1. a depender do tema da
d. comunicação e registros (responsável
caravana, é importante que o público se
pelos registros do encontro em geral:
configure a partir das/os protagonistas das
texto, foto, vídeo, divulgação, etc.).
experiências; 2. a diversidade geracional e
a equidade de gênero e raça são diretrizes
centrais em todas as nossas definições de
público do instituto Pacs.
INTERCÂMBIOS 33

A depender da especificidade de cada


4
caravana, outras comissões podem ser
criadas ou essas mesmas divididas para
R E C U R S O S E M AT E R I A I S
otimizar os processos. É importante
N E C E S S Á R I O S N O P R E PA R O,
que o tempo de planejamento seja de, E X E C U ÇÃO E P Ó S - E X E C U ÇÃO
no mínimo, um mês, para que todos
seus processos sejam cuidados com Na orientação prévia aos participantes, é
especial atenção. importante que sejam sinalizadas/os sobre
tudo que precisarão levar (essa lista varia
Na etapa de execução ocorrem as andanças
de acordo com os lugares onde serão feitos
propriamente ditas, que costumam durar
os pernoites, as visitas e refeições).
de três a quatro dias, sendo que o último
dia funciona como a culminância, momento No momento da culminância (quando
em que todas as rotas se encontram para as diferentes rotas se reúnem) é feita
socializar os aprendizados e destaques ao a montagem de um espaço educativo
longo do caminho. É importante que cada que conta sobre como foi cada uma das
rota da caravana tenha uma pessoa como rotas. Por isso, é importante que as/
“antena” dos processos, ou seja, alguém que os participantes sejam orientadas/os a
esteja centralizando alguns trabalhos de colher objetos de referência no caminho,
acompanhamento e diálogo junto às pessoas. para depois contar essa história a todas/
os as/os demais.
Na pós-execução, fazemos a organização
dos relatórios, devolutivas e produtos de Em todas as atividades, existe sempre a
comunicação. O ideal é que essa finalização preocupação com a garantia de alimentação
seja feita em no máximo duas semanas após ao longo da formação (lanche e/ou almoço,
o encontro. Sobre a divisão dos tempos a depender dos horários) para que as
da atividade, é importante lembrar dos pessoas envolvidas possam se dedicar
espaços de “respiro”: místicas utilizando integralmente ao processo.
música, poesia, vídeos, objetos e práticas de
relaxamento ao longo de todo o processo.
CA RTIL H A M ETODOLO GIAS 34

5 7

E Q U I P E E N V O LV I D A E F U N Ç Õ E S M E T O D O LO GI A S - C H AV E

Para cada caravana, como mencionado A metodologia das caravanas foi inspirada nas
acima, é fundamental que exista uma lutas do povo, em suas romarias e caminhadas.
comissão responsável pela organização. Nós as conhecemos, inicialmente, através do
Essa comissão pode se dividir em outras, movimento agroecológico e suas caravanas
para dar conta de todos os detalhes de sua territoriais agroecológicas pelo Brasil.
construção. Na execução das caravanas
O primeiro ponto da metodologia da
é importante que tenhamos pessoas de
caravana é a preparação, que começa com a
referência em cada rota e que estejam
escolha das rotas e do ponto de culminância,
em comunicação entre si. As caravanas
local onde todas as rotas se encontram. Esse
são atividades intensas, que demandam
processo demanda articulação contínua com
uma coletividade comprometida com o
as pessoas dos territórios visitados, para
processo, desde os territórios visitados até
combinar sobre os lugares de pernoite e
as organizações de apoio e participantes.
alimentação, além do roteiro da visita.
6 Em seguida, destacamos também a dinâmica
das próprias visitas ao longo da caravana.
AT I V I D A D E S D E P R E PA R A Ç Ã O É importante que as visitas sejam guiadas
Tratando-se de uma caravana, o diálogo pelas/os protagonistas e que os grupos
para mobilização é importante tanto no sigam juntos ao longo da visita. Isso porque
contato com as experiências visitadas um dos focos nesses caminhos são as trocas
quanto na divulgação. Os sujeitos devem de experiência entre todas/os presentes.
refletir previamente sobre as experiências Outro ponto de destaque é o planejamento
que protagonizam, seus pontos fortes da culminância, que tem por foco pensar
e desafios. É importante, assim, que a como essas diferentes rotas vão socializar
formulação da metodologia da caravana os aprendizados quando se encontrarem.
inclua o processo preparatório, através Uma opção são as instalações artístico-
de interações constantes com as/ pedagógicas, bastante utilizadas no
os participantes. Cabe à comissão o contexto da agroecologia.
diálogo com a equipe sobre as atividades
preparatórias, envios de materiais de “As instalações consideram a multiplicidade
estudo prévios e orientações para o de “suportes e materiais” na criação de
momento do encontro. cenários compostos por elementos da
realidade, proporcionando o entendimento
dos espaços geradores de conhecimentos
como passíveis de se tornarem instalações,
sejam laboratórios ou ambientes mais
amplos, como propriedades rurais, regiões
de conflitos, territórios”1

1 DORNELAS, Rafaela Silva et al. UM TREM CHAMADO COMBOIO: CAMINHOS DA REDE DE


AGROECOLOGIA NO SUDESTE. Revista Brasileira de Agroecologia, v. 13, n. 1, 2018. P. 24.
INTERCÂMBIOS 35

FORMAS DE REGISTRO DA
E X E C U Ç Ã O E S I S T E M AT I Z A ÇÃ O
D A S E X P E R I Ê N CI A S

Conforme mencionado em capítulos


anteriores, as formas de registro mais
utilizadas nas experiências do instituto
Pacs são: relatoria textual, registro em
material audiovisual, preenchimento de
tarjetas e quadros e anotações individuais.

B A L ÃO DA E X P E R I Ê N C I A

C A R AVA N A T E R R I T Ó R I O S
C O N T R A O R A C I S M O A M B I E N TA L

A Caravana Territórios contra o Racismo


Ambiental no Rio de Janeiro passou
por diversos territórios e mais de cinco
municípios do estado do RJ e teve como
objetivo conhecer territórios que resistem
ao racismo ambiental. A atividade contou
com a participação de pessoas, grupos e
movimentos na resistência aos impactos
de megaempreendimentos, especulação
imobiliária, mineração e siderurgia.
CA RTIL H A M ETODOLO GIAS 36

Mapeamentos e
cartografias populares
1 3

O QUE SÃO? D E F I N I ÇÃO D E P Ú B L I C O

Mapeamentos e cartografias populares A definição de público é feita a partir dos


são metodologias que buscam identificar territórios e da abordagem escolhida para
e sistematizar as singularidades de um o mapeamento a ser realizado. Podendo
território a partir da perspectiva de suas ser feito entre lideranças de um mesmo
populações. Nessa atividade cria-se um mapa bairro, entre grupos mistos, ou apenas
vivo e em movimento sobre um território, de mulheres ou jovens. Nesse caso, é
de maneira que as atrizes e os atores importante que o objeto e a justificativa
sejam protagonistas dessa construção, se do mapeamento esteja alinhado com os
reconheçam e se identifiquem como partes interesses do grupo. Quanto maior e mais
fundamentais dessa história. participativo for o público, mais profundo
e detalhado o mapeamento tende a ser, ao
2 mesmo tempo em que irá demandar mais
tempo de reflexão e consenso coletivo.
D E O N D E PA R T I M O S

Partimos de uma motivação coletiva de


reconhecimento dos nossos territórios.
Seja para denúncia das violações
socioambientais cometidas pelos
megaprojetos, ou para identificação das
riquezas naturais e culturais dos territórios,
das ações de resistência e construção de
alternativas, os mapeamentos populares
surgem como uma ferramenta coletiva de
visibilização de perspectivas feministas
e antirracistas. Fomos inspiradas por
experiências de coletivos latino-americanos
que usaram os mapeamentos populares
para levantamento e sistematização de
ações e articulações, e principalmente para
o fortalecimento e reconhecimento dos
próprios protagonistas dos seus territórios
de práticas e lutas.
M A P E A M E N TO S E CA R TO G R A F I A S P O P U L A R E S 37

4 5

T E M P O D E P R E PA R O, E X E C U ÇÃ O R E C U R S O S E M AT E R I A I S
E P Ó S - E X E C U ÇÃ O N E C E S S Á R I O S N O P R E PA R O,
E X E C U Ç ÃO E P Ó S - E X E C U ÇÃO
O tempo de preparo vai depender
da profundidade do mapeamento, da O formato dos mapeamentos pode variar
mobilização das pessoas envolvidas, da bastante e muitas vezes eles podem ser
extensão do que se quer mapear e se é realizados com pouco recurso financeiro.
o caso de se construir algum processo No entanto, quando existe este recurso,
concomitante (seja de articulação entre as buscamos privilegiar o pagamento das
participantes do mapeamento ou outros). despesas das participantes, como transporte
É importante que se reconheça o que se e alimentação, além de remunerar as
quer mapear, compartilhando exemplos e relatoras e facilitadoras.
traçando um caminho possível a partir da
Entendemos, como já mencionado, que
coletividade dedicada a este trabalho.
nesses casos a contribuição financeira
Quanto mais coletivizado for o valoriza a presença das pessoas envolvidas,
mapeamento, maior o tempo de preparo, embora essa valorização não se restrinja
execução e sistematização. Para ao campo financeiro, podendo e devendo
calcular, é interessante ter em vista os ser expressa através de outras economias
diferentes momentos que compõem solidárias e fraternas.
essa metodologia, como a sensibilização
Além dos recursos de sempre, existe ainda
do tema, o entrosamento e construção
o investimento em desenvolvimento gráfico
(ou aprofundamento) de laços entre as
visual, seja em imagem, mapa, plataforma
participantes, a definição coletiva da área
digital ou outras possibilidades a partir do
a ser mapeada, do que se quer mapear e de
mapeamento.
como será realizado.
Os principais materiais necessários são livros
Em casos menos participativos ou
e materiais de experiências similares que
colaborativos, alguns desses momentos
orientem o processo de construção. Além
podem ser pré-definidos. No entanto,
disso, pode-se aproveitar os materiais físicos
ressaltamos a importância da manutenção
utilizados para oficinas e cursos, pois esses
de um diálogo próximo, no qual as pessoas
são os mesmos utilizados nos mapeamentos.
envolvidas possam incidir sobre o produto
final. Se possível, é interessante que exista É possível também que haja a necessidade
um espaço de diálogo entre o grupo, de uso de mapas nesse processo, assim como
mesmo depois do encerramento do projeto, outros materiais físicos que possam ajudar
a fim de propiciar o compartilhamento a criar e reconhecer simbologias que façam
de possíveis desdobramentos, convites e sentido para a construção do mapeamento.
oportunidades gerados pelo processo. Uma possibilidade é também a elaboração
de maquetes, por exemplo, para momentos
de desenvolvimento das metodologias do
mapeamento em curso.

6
CA RTIL H A M ETODOLO GIAS 38

E Q U I P E E N V O LV I D A E F U N Ç Õ E S
8
É importante pensar a equipe em função do
trabalho necessário, que inclui a articulação M E T O D O LO GI A S - C H AV E
e mobilização das pessoas e a sistematização, Algumas das metodologias mais utilizadas
seja ela escrita ou através de ilustrações em atividades de mapeamento são:
e animações. A produção pode ser mais
ou menos participativa e a sistematização • dinâmicas de construção de segurança e
mais ou menos centralizada, levando em aproximação entre as pessoas;
consideração a dimensão da coletividade • valorização dos sujeitos e suas histórias,
(seja ela preexistente ou construída através, por exemplo, de rodas de
para o mapeamento). contação de história de vida mediadas
Nesse caso, ressaltamos a importância de através de um fio comum a todas as
figuras no território trabalhado que estejam participantes;
engajadas e comprometidas com a realização • abordagem do corpo como território
do mapeamento. Caso não haja pessoas dos e despertar para os impactos sentidos,
próprios territórios, dependendo do perfil por exemplo, através de mapeamentos
deste mapeamento é importante que algumas feitos individual ou coletivamente sobre
pessoas da equipe estejam dedicadas a onde sentem as emoções e impactos de
conhecer este território de outras formas que megaprojetos em seus corpos, como se
não só em pesquisa e diálogos superficiais. cada corpo fosse em si um mapa;
O mapeamento é feito de modo a gerar não
somente produtos, mas também processos, e • valorização da ação: identificação das
para isso o engajamento em uma abordagem resistências e das alternativas, podendo
mais presente é essencial. ser através de rodadas complementares
com exemplos de ações desenvolvidas
7 pelas participantes em defesa da vida,
valorizando o trabalho reprodutivo
AT I V I D A D E S D E P R E PA R A Ç Ã O cotidiano, as pequenas e grandes redes
Algumas das atividades de preparação de de apoio, cuidado e articulação política e
um mapeamento envolvem reuniões com • entrelaçamento das memórias pessoal
a coletividade para que se desenvolva a e coletiva, onde vão se tecendo, por
organização de um plano de trabalho/ exemplo, uma linha do tempo em que os
planejamento de ações para o mapeamento. resgates da história de um lugar passam
A mobilização de participantes e equipe de pela história de cada uma das presentes,
trabalho deve dar conta de estruturar a dos cheiros, das cores e das lembranças
atividade, além de ser necessário que haja que trazem consigo.
pessoas dedicadas ao design e à ilustração
para elaborar a divulgação e o desenho
do mapeamento.
M A P E A M E N TO S E CA R TO G R A F I A S P O P U L A R E S 39

9
B A L ÃO DA E X P E R I Ê N C I A
FORMAS DE REGISTRO DA A experiência histórica da Militiva -
E X E C U Ç Ã O E S I S T E M AT I Z A ÇÃ O Militância Investigativa, processo
D A S E X P E R I Ê N CI A S cartográfico feminista construído ao
Costumamos utilizar como formas de longo de três anos com uma coletiva
registro as relatorias, tarjetas, desenhos, de mulheres enraizada na Zona Oeste
fotos, vídeos, entrevistas, registros de do Rio de Janeiro, teve como objetivo
memórias e diários de campo. Nessa mapear os conflitos socioambientais e
atividade em especial sistematizamos as alternativas insurgentes nos nossos
também através da representação gráfica territórios, na Zona Oeste do Rio de
do que está sendo mapeado. Janeiro, a partir das vivências, dos olhares
e das práticas das mulheres. Partimos
10
do entendimento de que a construção
compartilhada da pesquisa poderia fazer
APRENDIZADOS desta um instrumento que contribuísse
para visibilizar e projetar a vivência das
Neste processo, alguns dos pontos
mulheres a partir da cotidianidade da
principais – que ressaltamos aqui como
luta. Além disso, a sistematização coletiva
aprendizados – são a importância da
de experiências e olhares sobre situações
memória, do processo de formação coletiva
de opressão vividas viria a fortalecer
e da articulação com e entre grupos. Em
nossas redes e territórios de resistência
muitas de nossas experiências pudemos
e construção de alternativas de poder.
vivenciar a construção de consensos e
A sistematização dessa cartografia está
pontes que expressam as pluralidades das
disponível no site https://www.militiva.org.
vidas no território mapeado.
br/
CA RTIL H A M ETODOLO GIAS 40

Formações internas

1 3

O QUE SÃO? D E F I N I ÇÃO D E P Ú B L I C O

Formações internas são atividades voltadas No âmbito das formações internas,


à formação ou capacitação de toda a equipe entendemos que o público é toda a
da organização. Aqui no Instituto Pacs coletividade de trabalho. No caso do
nossas formações internas geralmente são Instituto Pacs, todas as pessoas que
realizadas semestralmente. Nelas buscamos compõem a equipe participam das
reunir toda a equipe em torno de um tema, formações. A nossa equipe se divide
sempre a partir de um ambiente coletivo em político-pedagógica, coordenações,
harmonioso. comunicação e administrativo-financeiro.
No cotidiano, as atividades externas de
2 formação contam, majoritariamente,
com a equipe político-pedagógica,
D E O N D E PA R T I M O S as coordenações e a comunicação. Já
As formações internas partem de nos momentos de formação interna,
temáticas escolhidas pelas/os próprias/ compreendemos que se trata de um
os integrantes da equipe, sempre em processo voltado para o nosso trabalho
consonância com a conjuntura e os coletivo a partir de questões que o próprio
assuntos relacionados ao trabalho do cotidiano e a conjuntura nos apontam, por
instituto. O intuito é promover a troca de isso valorizamos uma prática de diálogo
experiências e uma maior interação entre que abranja toda a nossa coletividade.
as/os envolvidas/os, além de promover
uma diversidade de saberes populares a
partir das vivências cotidianas de cada
um/a.
F O R M AÇ Õ E S I N T E R N A S 41

4 5

T E M P O D E P R E PA R O, E X E C U ÇÃ O R E C U R S O S E M AT E R I A I S
E P Ó S - E X E C U ÇÃ O N E C E S S Á R I O S N O P R E PA R O,
E X E C U Ç ÃO E P Ó S - E X E C U ÇÃO
As formações internas possuem três
etapas: planejamento, execução e pós- Os materiais necessários dependem do
execução. Na etapa de planejamento tipo de formação proposta. No âmbito
realizamos um debate coletivo com o da educação popular, elencamos algumas
fim de eleger as temáticas e comissões possibilidades, como o uso de tarjetas
responsáveis daquele semestre. As para a metodologia do círculo de cultura;
comissões são formadas por pessoas uso de projetor para visualização coletiva
encarregadas pela comunicação com de fotos, vídeos e outros materiais
toda a equipe em relação à data, audiovisuais; blocos de anotações, canetas,
à organização das tarefas (envios papéis, entre outros artigos de papelaria.
de exercícios e leituras), além da
escolha e organização da metodologia A utilização dos materiais varia de acordo com
e da programação da atividade. o formato da atividade. Em caso de atividades
presenciais, é feita a montagem de um espaço
Na etapa de execução, a formação é em educativo com os itens citados, enquanto
geral realizada em um turno (manhã ou nas virtuais é necessário garantir o acesso à
tarde) no caso das atividades presenciais internet a todas(os) as(os) participantes e a
e em encontros de no máximo duas a três uma plataforma de chamadas de vídeo. Em
horas no caso das virtuais – levando em todos os casos, existe ainda a preocupação
consideração o cansaço causado pela tela. com a garantia de alimentação ao longo da
São realizados ainda espaços de “respiro”, formação (lanche e/ou almoço, a depender
como místicas utilizando música, poesia, dos horários), para que as pessoas envolvidas
vídeos, objetos e práticas de relaxamento. possam se dedicar integralmente ao processo.
Já na etapa pós-execução, compartilhamos
6
o relato da atividade e realizamos um
processo de avaliação, onde opiniões, críticas E Q U I P E E N V O LV I DA E F U N Ç Õ E S
e comentários são registrados com fins de
aprimoramento das formações futuras. Para cada formação interna é definida uma
comissão responsável pela preparação
da metodologia, mediação, animação,
programação, organização do espaço e
registro. Embora exista o esforço de que
a própria equipe elabore e execute estas
atividades, a partir da diversidade de
saberes e interesse de temáticas, em alguns
casos a formação envolve pessoas externas
assumindo a função de facilitadoras/es.

7
CA RTIL H A M ETODOLO GIAS 42

AT I V I D A D E S D E P R E PA R A Ç Ã O
9
Tratando-se de uma formação interna, o
diálogo para a mobilização e a divulgação F O R M A S D E R E GI S T R O DA
da atividade encontra-se facilitado. Cabe à E X E C U Ç ÃO E S I S T E M AT I Z AÇÃO
comissão o diálogo constante com a equipe D A S E X P E R I Ê N CI A S
sobre as atividades preparatórias, envios de Aqui, utilizamos as formas de registro
materiais de estudo prévios e orientações habituais, elegendo as que mais se
para o dia do encontro. adequam à atividade, caso a caso. Algumas
opções são a relatoria textual, o registro
8 em material audiovisual, o preenchimento
de tarjetas e quadros e as anotações
M E TO D O LO G I A S - C H AV E
individuais.
As prioridades no campo das metodologias
em nossos espaços internos são pautadas 10
pelos princípios da educação popular.
Como os temas e objetivos aqui variam, A P R E N DI Z A D O S
o destaque nesse campo é para a São observados múltiplos aprendizados a
garantia dos espaços de fala e debate partir do processo de formação interna.
a partir das diferentes perspectivas. Alguns deles são: o entendimento das
diversidades de saberes da equipe enquanto
Outro ponto de atenção é o diálogo entre potência; o processo de aproximação e
os temas da formação, o trabalho cotidiano partilha das experiências de cada um/a; a
e a conjuntura atual. Entendemos as possibilidade de interação entre a equipe
formações internas como um processo fora do contexto cotidiano, marcado
contínuo, portanto, não se trata de chegar pelas funções de cada um/a; o estímulo
a conclusões, produtos ou desdobramentos, ao protagonismo de todas/os da equipe
mas ampliar o campo de debate e promover na construção dos espaços e proposição
uma maior interação entre as áreas do de temas de acordo com os interesses
instituto. individuais; o alinhamento da equipe
acerca de temáticas importantes, a partir
da perspectiva de atuação do instituto e da
conjuntura; dentre outros.
F O R M AÇ Õ E S I N T E R N A S 43

B A L ÃO DA E X P E R I Ê N C I A

A formação interna sobre branquitude e


racismos, ocorrida em 2019, promoveu
um debate acerca do papel da branquitude
no entendimento dos seus privilégios
e no combate à desigualdade racial no
cotidiano. A metodologia, criada por uma
comissão formada por três integrantes
negras/os da equipe, contou com uma
abertura e organização do espaço focados
na cultura africana, com músicas, objetos,
livros e apresentação de vídeos.
O debate se deu a partir de um exercício
de leitura e escrita enviado previamente
sobre autoidentificação racial e
entendimento do papel individual de cada
um no que se diz respeito ao combate aos
racismos. Dessa maneira, a atividade
formativa levou as/os participantes a
uma provocação e troca de experiências
sobre infância, ancestralidade e
vivências relacionadas à temática racial,
proporcionando uma diversidade de
saberes e maior interação entre a equipe
sobre assuntos para além da rotina diária
de trabalho.
CA RTIL H A M ETODOLO GIAS 44

Comunicação
1 3

O QUE É? D E F I N I ÇÃO D E P Ú B L I C O
( DA S AT I V I DA D E S E
A comunicação inclui diversos formatos
I N S T I T U CI O N A L )
de produções de conteúdo a fim de
informar, dar visibilidade e fomentar a Na comunicação, assim como em outros
sensibilização da sociedade acerca dos processos, a identificação do público
debates e temáticas relacionadas aos é uma das etapas mais importantes.
campos de trabalho do Pacs, além de Seja para a realização de uma atividade
divulgar cursos, oficinas e atividades ou a elaboração de algum material de
que oferecemos. comunicação, buscamos contemplar os
grupos com os quais temos construído
2 lutas, alternativas e resistências. Para
isso, definimos a mensagem que queremos
D E O N D E PA R T I M O S comunicar e os formatos e linguagens que
A comunicação tem um papel fundamental serão utilizados, nos atentando também
para o trabalho do Instituto Pacs e para manter uma coerência com as nossas
abrange as diversas áreas da nossa perspectivas políticas. No Instituto Pacs,
atuação. É por meio da comunicação que nossos públicos prioritários são:
partilhamos, aprendemos e repassamos • Integrantes de movimentos sociais,
ensinamentos na nossa caminhada pela coletivos e grupos auto-organizados de
defesa dos territórios e contra o modelo luta popular, especialmente formados
de desenvolvimento capitalista, racista, por mulheres;
machista e patriarcal.
• População atingida por megaprojetos
de desenvolvimento e territórios
impactados;
• Pesquisadores, profissionais e
parlamentares das áreas de interesse e
atuação do Pacs.
Algo que temos buscado nos últimos
tempos – principalmente diante do atual
contexto de pandemia e o consequente
aumento das atividades virtuais –, é
ampliar o alcance do nosso trabalho, com
maior foco nas nossas ações digitais.
C O M U N IC A Ç Ã O 45

4 5

T E M P O D E P R E PA R O, E X E C U ÇÃ O R E C U R S O S E M AT E R I A I S
E P Ó S - E X E C U ÇÃ O N E C E S S Á R I O S N O P R E PA R O,
E X E C U Ç ÃO E P Ó S - E X E C U ÇÃO
As etapas de planejamento, execução e
pós-execução da comunicação variam de Em todos os processos que envolvem a
acordo com a dimensão das atividades e, comunicação, a organização dos materiais
quando necessário, também em função da necessários deve ser previamente
relação com colaboradores externos ou programada, em paralelo ao planejamento
parceiros/redes. das atividades, seja para uso no preparo, ao
longo ou no pós-execução.
Algumas tarefas que destacamos são: o
planejamento de conteúdos e formatos, Alguns exemplos de equipamentos
identificação de pautas, elaboração de que costumam ser utilizados são:
cronograma e divisão de tarefas de acordo computadores, notebooks, celulares,
com a equipe envolvida na atividade e/ou microfones, câmeras, programas de edição
projeto; a identificação de temas prioritários, de vídeo, áudio e imagem, programas
geralmente em diálogo com a conjuntura e de criação gráfica, blocos de anotação,
as pautas de lutas populares; a identificação materiais de papelaria, tarjetas, aplicativos
dos públicos; a identificação de referências e de redes sociais, pen drives, HDs, cartões
estratégias de comunicação; a manutenção de memória, fones, projetores, plataformas
de um diálogo com o público e acolhimento de chamada de vídeo, tripés, adaptadores,
das propostas recebidas; o diálogo interno extensões e/ou réguas de tomadas, além
constante com a equipe para recebimento de materiais físicos como livros, cartilhas,
de demandas, como alterações, imprevistos folders, adesivos, panfletos, banners, lambes
e adaptações nos materiais; a coordenação e cartazes.
e acompanhamento dos processos com
a equipe e colaboradores; a realização 6
de relatórios, análises de desempenho,
monitoramentos de resultados e avaliações E Q U I P E E N V O LV I DA E F U N Ç Õ E S
internas e, por fim, a responsabilidade Uma das etapas da organização e
de salvar os materiais na nuvem e nos planejamento da comunicação é a definição
servidores internos de conteúdos. da equipe que estará envolvida nos
processos e quais funções ficarão sob a
responsabilidade de quem. A divisão das
tarefas e demandas é fundamental para o
desenvolvimento das atividades, não só
para evitar sobrecargas, mas também para
que as diferentes partes do processo possam
fluir com maior rapidez e organização.
CA RTIL H A M ETODOLO GIAS 46

Nas atividades de comunicação do Instituto


8
Pacs, a equipe envolvida geralmente é
composta pela equipe de comunicação, com
M E T O D O LO GI A S - C H AV E
apoio da equipe político-pedagógica e das
coordenações. Em alguns casos, também Para colocar em prática a comunicação
contamos com o apoio de colaboradores popular, consideramos como metodologias-
externos, sejam eles parceiros ou chave:
profissionais contratados para trabalhos
• Escrita sensível: prioridade por uma
pontuais.
escrita literária, descritiva, focada
nos sentimentos, nas vivências e
7
experiências, na contramão de uma
AT I V I D A D E S D E P R E PA R A Ç Ã O escrita objetiva, pesada, composta
apenas por dados ou informações muito
As tarefas da comunicação envolvem técnicas.
diferentes possibilidades, estratégias e
formatos, a depender do espaço – físico ou • Construção coletiva: construir
virtual – e do perfil de público que se busca conhecimento junto à equipe e parceiros
atingir ou que irá participar das atividades. (organizações, coletivos etc.), trazendo
Assim, destacamos: a divulgação de as diferentes vivências, contextos,
eventos, atividades, formações, cursos, pontos de vista e experiências em
lançamentos, entre outros; a mobilização constante troca.
do público para a participação, realizada • Aproximação aos públicos:
virtualmente; a elaboração de estratégias relacionamento constante com grupos e
de comunicação nas redes sociais para coletividades com os quais construímos
captação de novos públicos; a preparação ou aos quais nos direcionamos, dando
de equipamentos audiovisuais e materiais especial atenção aos contextos e
reservas; as reuniões de planejamento, demandas, à linguagem, à mensagem a
acompanhamento e análise de resultados; ser transmitida etc.
a organização de materiais como
playlist, vídeos, fotos, links e slides para • Decisões coletivas: pactuar em grupo o
compartilhamentos em caso de eventos planejamento, construção e finalização
virtuais, como lives e cursos online; o antes de lançamentos ou divulgação
acompanhamento de colaboradores de qualquer material construído em
externos e o encaminhamento de questões coletividade com a equipe e parceiros.
burocráticas financeiras e prestação de
• Cuidado: atenção especial aos diálogos
contas, dentre outras coisas.
interpessoais, à compreensão dos
diferentes tempos e à possibilidade de
ocorrência de imprevistos.
C O M U N IC A Ç Ã O 47

B A L ÃO D E E X P E R I Ê N C I A S
9

FORMAS DE REGISTRO DA P O D CA S T V O Z E S D A J U V E N T U D E :
E X E C U Ç Ã O E S I S T E M AT I Z A ÇÃ O E S C U TA S A N TA C R U Z !
D A S E X P E R I Ê N CI A S ( I N S T I T U TO PAC S , C O L E T I V O
M A R T H A T R I N D A D E E U N I ÃO
O registro e sistematização das experiências
C O L E T I VA DA Z O N A O E S T E )
contribuem não só para a compreensão dos
resultados dos processos, como também O podcast Vozes da Juventude: Escuta
para o planejamento de trabalhos futuros. Santa Cruz! é uma parceria entre o Coletivo
Para isso, contamos com atividades como Martha Trindade, a União Coletiva da
relatoria (registro escrito dos principais Zona Oeste e o Instituto Pacs e foi criado
pontos), cobertura jornalística (em texto, com o intuito de ser um canal de dicas e
fotos, vídeos, stories ou outros formatos informações de todo o território de Santa
para redes sociais), produção de cards Cruz para moradores(as) e coletivos da
(com trechos de fala, dados, informações Zona Oeste. Os episódios estão disponíveis
sintetizadas ou fotos), material de apoio em todas as plataformas de áudio e no
para a execução da atividade ou que sejam canal do Instituto Pacs no Youtube e
frutos da mesma (cartilhas, artigos, livros, são compartilhados, principalmente, via
estudos, relatórios etc.), sistematização, Whatsapp e redes sociais. O formato é curto
relatórios de métricas (redes sociais e sites) e de uma linguagem popular na maneira
e análise de desempenho (formulários). de apresentar dados e informações, com o
intuito de se tornar mais acessível para o
público a que é destinado.
CA RTIL H A M ETODOLO GIAS 48

PODCAST SABERES EM
A U TO G E S TÃ O ( I N S T I T U T O PA C S
E C O L E T I V O A U T O G E S TÃ O)

Saberes em Autogestão é um podcast


que tem o objetivo de aprofundar
as trocas de experiências de lutas e
territorialidades espalhadas pelo Brasil
a partir da perspectiva da autogestão e é
realizado pelo Instituto Pacs em parceria
com o Coletivo Autogestão. O programa,
disponível em todas as plataformas de
áudio e no Youtube, possui cinco episódios:
“O que é autogestão?”, que aborda o
conceito e a prática da autogestão a
partir das experiências de movimentos
sociais; “Direito à Água”, que trata da
escassez e do direito ao acesso à água nos
territórios; “Arte, comunicação e cultura
como resistência”, que fala da arte e da
comunicação como fortalecimento e
transformação dos territórios; “Luta por
terra, território e moradia”, que aborda o
direito à moradia a partir de histórias de
luta e resistência em ocupações urbanas e
em territórios atingidos por megaprojetos;
e “Agroecologia e Agricultura Urbana”,
que traz a importância do território e
do direito de plantar e colher o próprio
alimento.
O podcast é um dos produtos do Plano
Popular Alternativo ao Desenvolvimento
(PPAD), um plano popular que reúne
experiências territoriais de coletivos,
grupos e movimentos sociais de todas
as regiões do Brasil em uma plataforma
virtual colaborativa. Nela é possível
encontrar práticas autogestionárias
em agroecologia, agricultura urbana,
feminismos, lutas antirracistas, educação
e comunicação popular, luta pela terra
e pelas águas, economia solidária, arte e
cultura.

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