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Quando prescrever os antibióticos?

O uso dos antibióticos na clínica odontológica será indicado em duas situações totalmente distintas:
no tratamento ou na prevenção das infecções. Assim, a resposta a essa pergunta será desenvolvida
em dois tópicos:

- Tratar com uso terapêutico


- Uso profilático dos antibióticos.

Tratamento das infecções

As infecções bacterianas bucais agudas têm evolução muito rápida e duração relativamente curta (2-
7 dias), quando o foco da infecção é eliminado.

Na clínica odontológica, os antibióticos têm sido prescritos pelo período de 5-10 dias, sendo o
paciente instruído a não parar de tomá-los até “completar” todo o tratamento. Hoje, existem
evidências científicas suficientes para se afirmar que o uso prolongado de antibióticos não é mais
necessário.

Plash

Pallasch conseguiu resumir tudo ao afirmar: “[...] o uso de antibióticos tem por objetivo auxiliar o
hospedeiro a controlar ou eliminar os microrganismos que suplantaram, temporariamente, seus
mecanismos de proteção”. Na odontologia, isso significa dizer que, no tratamento de um processo
infeccioso bacteriano quando não tem sinais locais de disseminação ou manifestações sistêmicas, o
uso de antibióticos não é necessário. Isso é válido para as infecções bacterianas agudas de cunho
endodôntico ou periodontal

Dosagem e intervalos entre as doses

A dosagem ideal dos antibióticos é aquela suficiente para ajudar o sistema imune no combate aos
patógenos da infecção com mínimos efeitos adversos.

Por isso, recomenda-se iniciar o tratamento com uma dose de ataque, no mínimo o dobro das doses
de manutenção. As doses e os intervalos entre as doses devem ser estabelecidos de acordo com a
gravidade da infecção. Nas infecções mais severas, mas ainda possíveis de serem tratadas em nível
ambulatorial, os intervalos entre as primeiras doses de manutenção podem ser reduzidos. No caso
da penicilina V e da ampicilina, como exemplo, pode-se diminuir o intervalo entre as doses iniciais de
6 para 4 h.

Duração do tratamento

Infecções bacterianas agudas

– Um dos conceitos mais errôneos quando se discute a terapia das infecções bacterianas agudas é o
de que “o emprego do antibiótico requer um ciclo ou curso completo” (~ 7-10 dias), com o
argumento de que “o tratamento com antibióticos deve ser prolongado para eliminar as bactérias
resistentes”. É uma contradição, pois um agente antibacteriano não pode afetar bactérias
resistentes a si próprio, pela própria definição da resistência bacteriana. Ao contrário, o uso
prolongado de antibióticos somente irá servir para selecionar essas espécies resistentes

Outra afirmação comum é que “a terapia antibiótica prolongada é necessária para evitar a
reincidência das infecções, já que os microrganismos são suprimidos, mas não eliminados”. Sabe-se
que as infecções bacterianas bucais dificilmente reincidem, principalmente se a fonte da infecção for
erradicada (descontaminação do local) por meios mecânicos, como a drenagem cirúrgica com auxílio
de bisturi, a instrumentação endodôntica, a curetagem, etc.

Por último, fala-se também que “as doses dos antibióticos e a duração do tratamento podem ser
extrapoladas de uma infecção bacteriana para outra”. Sabe-se, entretanto, que isso não é possível
devido à variabilidade das infecções.25

Com base nessas informações podemos concluir que a duração ideal da terapia antibiótica deve ser
a menor possível, e que o único parâmetro prático para se determinar o tempo de tratamento são os
sintomas da infecção.

Dessa maneira, a duração do tratamento pode ser completada após um período de 3-5 dias, e não
somente após os “famigerados” 7-10 dias

Fatores que interferem na terapia antibiótica

Gravidez – As penicilinas, as cefalosporinas, o estearato de eritromicina, a azitromicina e a


clindamicina são antibióticos considerados seguros para uso clínico em pacientes grávidas. As
tetraciclinas e o estolato de eritromicina são contraindicados em qualquer período da gestação,
enquanto o metronidazol deve ser evitado apenas no 1o trimestre da gravidez.

Idade – A idade do paciente pode alterar terapia dos antibióticos. As dosagens para crianças são
similares às dos adultos, ajustadas de acordo com o peso corporal. Os idosos podem apresentar
diversas alterações funcionais degenerativas, necessitando da redução nas doses ou um aumento
dos intervalos com os antibióticos.

Disfunções hepáticas – Interferem no metabolismo de alguns antibióticos. Na presença de doença


hepática severa, as doses de metronidazol e de eritromicina devem ser diminuídas.

Disfunções renais – Podem limitar a excreção de muitos antibióticos, o que às vezes obriga a
redução das doses ou o aumento do intervalo. As penicilinas, a clindamicina e o metronidazol
podem ser usados com precaução. As cefalosporinas só devem ser empregadas após troca de
informações com o nefrologista. As tetraciclinas estão contraindicadas na presença de doença renal

Outros fatores também podem estar relacionados ao insucesso da terapia antibiótica:

• Escolha inapropriada do fármaco (os microrganismos não são suscetíveis).

• Falha no cálculo da dosagem (propiciando concentrações sanguíneas muito baixas).

• Antagonismo entre antibióticos (pode ocorrer quando se associa um bactericida a um


bacteriostático).

• Emergência de microrganismos resistentes(superinfecções e seleção de bactérias resistentes).

• Infecções com taxa de crescimento bacteriano muito baixa (para que possam agir, as penicilinas e
as cefalosporinas requerem microrganismos em divisão).

• Fatores locais desfavoráveis (diminuição do pH ou da tensão tissular de oxigênio).


PREVENÇÃO DAS INFECÇÕES

Diferente da Terapia com antibióticos, a profilaxia antibiótica consiste no uso de antibióticos em


pacientes que não apresentam evidências de infecção, com a intenção de prevenir a colonização de
bactérias e suas complicações no período pós-operatório.

Profilaxia cirúrgica

Ainda há muita controvérsia quanto a indicação de antibióticos na profilaxia das infecções como no
caso das cirurgias de terceiros molares. Os casos de incidência de infecção pós-operatória nas
cirurgias de terceiros molares inclusos é de ~ 1%. Se as medidas de assepsia e antissepsia forem
seguidas à risca, a profilaxia antibiótica parece não estar indicada nessas situações, a não ser que o
sistema imune do paciente esteja comprometido. Considera-se que o uso de antibióticos na
profilaxia de infecções das feridas cirúrgicas nas seguintes situações:

• Para prevenir a contaminação de uma área estéril.

• Quando a infecção é remota, mas associada a uma alta taxa de morbidade.

• Em procedimentos cirúrgicos associados a altas taxas de infecção.

• Na implantação de material protético

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