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LÍNGUA PORTUGUESA

FONOLOGIA
• Trissílaba: 3 sílabas.
1 FONOLOGIA Por exemplo: palhaço (pa-lha-ço).
Para escrever corretamente, dentro das normas aplicadas pela gra- • Polissílaba: 4 ou mais sílabas.
mática, é preciso estudar o menor elemento sonoro de uma palavra: o Por exemplo: dignidade (dig-ni-da-de,), particularmente
fonema. A fonologia, então, é o estudo feito dos fonemas. (par-ti-cu-lar-men-te).
Os fonemas podem ser classificados em vogais, semivogais e Pela tonicidade, ou seja, pela força com que a sílaba é falada e sua
consoantes. Esta qualificação ocorre de acordo com a forma como posição na palavra:
o ar passa pela boca e/ou nariz e como as cordas vocais vibram para • Oxítona: a última sílaba é a tônica.
produzir o som deles. • Paroxítona: a penúltima sílaba é a tônica.
Cuidado para não confundir fonema com letra! A letra é a repre- • Proparoxítona: a antepenúltima sílaba é a tônica.
sentação gráfica do fonema. Uma palavra pode ter quantidades dife-
A identificação da posição da sílaba tônica de uma palavra é feita
rentes de letras e fonemas.
de trás para frente. Desta forma, uma palavra oxítona possui como
Por exemplo: sílaba tônica a sílaba final da palavra.
Manhã: 5 letras Para realizar uma correta divisão silábica, é preciso ficar atento
m/ /a/ /nh/ /ã/: 4 fonemas às regras.
• Vogais: existem vogais nasais, quando ocorre o movimento do • Não separe ditongos e tritongos.
ar saindo pela boca e pelo nariz. Tais vogais acompanham as Por exemplo: sau-da-de, sa-guão.
letras m e n, ou também podem estar marcadas pelo til (~). No • Não separe os dígrafos CH, LH, NH, GU, QU.
caso das vogais orais, o som passa apenas pela boca.
Por exemplo: ca-cho, a-be-lha, ga-li-nha, Gui-lher-me,
Por exemplo: que-ri-do.
Mãe, lindo, tromba → vogais nasais • Não separe encontros consonantais que iniciam sílaba.
Flor, calor, festa → vogais orais Por exemplo: psi-có-lo-go, a-glu-ti-nar.
• Semivogais: os fonemas /i/ e /u/ acompanhados por uma vogal • Separe as vogais que formam um hiato.
na mesma sílaba da palavra constituem as semivogais. O som Por exemplo: pa-ra-í-so, sa-ú-de.
das semivogais é mais fraco do que o das vogais. • Separe os dígrafos RR, SS, SC, SÇ, XC.
Por exemplo: automóvel, história. Por exemplo: bar-ri-ga, as-sa-do, pis-ci-na, cres-ço,
• Consoantes: quando o ar que sai pela boca sofre uma quebra ex-ce-der.
formada por uma barreira como a língua, os lábios ou os dentes. • Separe as consoantes que estejam em sílabas diferentes.
São elas: b, c, d, f, g, j, k, l, lh, m, n, nh, p, rr, r, s, t, v, ch, z. Por exemplo: ad-jun-to, subs-tan-ti-vo, prag-má-ti-co.
Lembre-se de que estamos tratando de fonemas, e não de letras.
Por isso, os dígrafos também são citados como consoantes: os dígrafos
são os encontros de duas consoantes, também chamados de encontros
consonantais.
O encontro de dois sons vocálicos, ou seja, vogais ou semivogais,
chama-se encontro vocálico. Eles são divididos em: ditongo, tritongo
e hiato.
• Ditongo: na mesma sílaba, estão uma vogal e uma semivogal.
Por exemplo: pai (A → vogal, I → semivogal).
• Tritongo: na mesma sílaba, estão juntas uma semivogal, uma
vogal e outra semivogal.
Por exemplo: Uruguai (U → semivogal, A → vogal, I
→ semivogal).
• Hiato: são duas vogais juntas na mesma palavra, mas em sílabas
diferentes.
Por exemplo: juíza (ju-í-za).

1.1 Partição silábica


Quando um fonema é falado em uma só expiração, ou seja, em
uma única saída de ar, ele recebe o nome de sílaba. As palavras podem
ser classificadas de diferentes formas, de acordo com a quantidade de
sílabas ou quanto à sílaba tônica.
Pela quantidade de sílabas, as palavras podem ser:
• Monossílaba: 1 sílaba.
Por exemplo: céu (monossílaba).
• Dissílaba: 2 sílabas.
Por exemplo: jovem (jo-vem).

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L
LÍNGUA PORTUGUESA P
O

2 ACENTUAÇÃO GRÁFICA 2.3.5 Acentuação dos hiatos R

Acentuam-se os hiatos quando forem formados pelas letras I ou


Antes de começar o estudo, é importante que você entenda quais
U, sozinhas ou seguidas de S:
são os padrões de tonicidade da Língua Portuguesa e quais são os
encontros vocálicos presentes na Língua. Assim, fica mais fácil enten- • Por exemplo: saúva, baú, balaústre, país.
der quais são as regras e como elas surgem. Exceções:
• Seguidas de NH: tainha.
2.1 Padrões de tonicidade • Paroxítonas antecedidas de ditongo: feiura.
• Palavras oxítonas: última sílaba tônica (so-fá, ca-fé, ji-ló). • Com o I duplicado: xiita.
• Palavras paroxítonas: penúltima sílaba tônica (fer-ru-gem,
a-du-bo, sa-ú-de). 2.3.6 Ditongos abertos
• Palavras proparoxítonas: antepenúltima sílaba tônica (â-ni-mo, Serão acentuados os ditongos abertos ÉU, ÉI e ÓI, com ou sem
ví-ti-ma, ó-ti-mo). S, quando forem oxítonos ou monossílabos.
• Por exemplo: chapéu, réu, tonéis, herói, pastéis, hotéis, lençóis
2.2 Encontros vocálicos etc.
• Hiato: encontro vocálico que se separa (pi-a-no, sa-ú-de). Com a reforma ortográfica, caiu o acento do ditongo aberto em
• Ditongo: encontro vocálico que permanece unido na sílaba posição de paroxítona.
(cha-péu, to-néis). • Por exemplo: ideia, onomatopeia, jiboia, paranoia, heroico etc.
• Tritongo: encontro vocálico que permanece unido na sílaba
(sa-guão, U-ru-guai). 2.3.7 Formas verbais com hífen
Para saber se há acento em uma forma verbal com hífen, deve-se
2.3 Regras gerais analisar o padrão de tonicidade de cada bloco da palavra:
• Ajudá-lo (oxítona terminada em “a” → monossílabo átono).
2.3.1 Quanto às proparoxítonas
• Contar-lhe (oxítona terminada em “r” → monossílabo átono).
Acentuam-se todas as palavras proparoxítonas:
• Convidá-la-íamos (oxítona terminada em “a” → proparoxítona).
• Por exemplo: ví-ti-ma, â-ni-mo, hi-per-bó-li-co.

2.3.2 Quanto às paroxítonas 2.3.8 Verbos “ter” e “vir”


Quando escritos na 3ª pessoa do singular, não serão acentuados:
Não se acentuam as paroxítonas terminadas em A, E, O (seguidas
ou não de S) M e ENS. • Ele tem/vem.
• Por exemplo: castelo, granada, panela, pepino, pajem, imagens Quando escritos na 3ª pessoa do plural, receberão o acento
etc. circunflexo:
Acentuam-se as terminadas em R, N, L, X, I ou IS, US, UM, • Eles têm/vêm.
UNS, PS, Ã ou ÃS e ditongos. Nos verbos derivados das formas apresentadas anteriormente:
Por exemplo: sustentável, tórax, hífen, táxi, álbum, bíceps, prin- • Acento agudo para singular: contém, convém.
cípio etc. • Acento circunflexo para o plural: contêm, convêm.
Fique de olho em alguns casos particulares, como as palavras ter-
minadas em OM, ON, ONS. 2.3.9 Acentos diferenciais
• Por exemplo: iândom; próton, nêutrons etc. Alguns permanecem:
Com a reforma ortográfica, deixam de se acentuar as paroxítonas • Pôde/pode (pretérito perfeito/presente simples).
com OO e EE: • Pôr/por (verbo/preposição).
• Por exemplo: voo, enjoo, perdoo, magoo, leem, veem, deem, • Fôrma/forma (substantivo/verbo ou ainda substantivo).
creem etc. Caiu o acento diferencial de:
• Para/pára (preposição/verbo).
2.3.3 Quanto às oxítonas
• Pelo/pêlo (preposição + artigo/substantivo).
São acentuadas as terminadas em:
• Polo/pólo (preposição + artigo/substantivo).
• A ou AS: sofá, Pará.
• Pera/pêra (preposição + artigo/substantivo).
• E ou ES: rapé, café.
• O ou OS: avô, cipó.
• EM ou ENS: também, parabéns.

2.3.4 Acentuação de monossílabos


Acentuam-se os monossílabos tônicos terminados em A, E O,
seguidos ou não de S.
• Por exemplo: pá, pó, pé, já, lá, fé, só.

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REDAÇÃO
REDAÇÃO

1 REDAÇÃO PARA CONCURSOS PÚBLICOS


A questão discursiva (redação) assusta muitos candidatos. Afinal, escrever de acordo com a norma culta da Língua Portuguesa, respeitando
as inúmeras regras gramaticais, é tarefa que exige muita atenção. Além disso, é necessário que o candidato apresente bons argumentos dentro
de uma estrutura na qual as ideias tenham coesão e façam sentido (coerência). Por isso, é importante que a redação seja estudada e treinada ao R
longo da preparação para o concurso almejado. E
D
1.1 Por que tenho que me preparar com antecedência para a redação? A
Quando a redação (questão discursiva) é solicitada, em geral, é uma etapa eliminatória (se o candidato não alcançar a nota mínima, é
eliminado do concurso). Então, por ter peso significativo, podendo colocá-lo na lista de classificação ou tirá-lo dela, merece atenção especial.
Entretanto, não se pode dar início ao estudo para concurso pela redação. É necessário que o aluno tenha conhecimento das regras gramaticais,
da estrutura sintática das orações e dos períodos, dos elementos de coesão textual, ou seja, é essencial uma maturidade para, então, produzir
um texto. Além do domínio da norma culta, deve-se dedicar à disciplina de Atualidades, que, muitas vezes, já vem prevista no edital. Quem
tem conhecimento do assunto se sente mais confortável para escrever.

1.2 Os Primeiros Passos


Antes de começar a praticar a produção de textos, é importante ler o edital de abertura do concurso (quando já tiver sido publicado; quando
não, leia o último) para entender os critérios de avaliação da sua prova discursiva e sobre qual assunto o tema versará.
Veja aguns exemplos:

CONCURSO EDITAL – PROVA DISCURSIVA ASSUNTO COBRADO - TEMA A PROPOSTA


SEGURANÇA PÚBLICA: POLÍCIA E POLÍTICAS
Os assuntos que o tema pode PÚBLICAS
DEPEN - 2015

A prova discursiva valerá 20,00 pontos abordar foram disponibilizados Ao elaborar seu texto, faça o que se pede a seguir.
e consistirá da redação de texto no edital. Atualidades: 1 > Disserte a respeito da segurança como condição
dissertativo, de até 30 linhas, acerca Sistema de justiça criminal. 2 para o exercício da cidadania. [valor: 25,50 pontos]
de tema de atualidades, constantes Sistema prisional brasileiro. 3 > Dê exemplos de ação do Estado na luta pela
do subitem 22.2 deste edital. Políticas públicas de segurança segurança pública. [valor: 25,50 pontos]
pública e cidadania. > Discorra acerca da ausência do poder público e a
presença do crime organizado. [valor: 25,00 pontos]

Com base na coletânea e nos conhecimentos


PC-PR - 2018

sobre o tema, redija um texto dissertativo-


A Redação, com no mínimo 15 e no Tema da atualidade, ou seja,
argumentativo que coloque em discussão a
máximo 25 linhas, versará sobre um pode ser cobrado qualquer
importância da correta emissão e decodificação da
tema da atualidade assunto.
mensagem, bem como o repasse dessa mensagem
ao interlocutor, seja na modalidade escrita ou oral.

Para o cargo de Perito Criminal Considerando que o texto precedente tem caráter
PF-2018 PERITO

Federal, a prova discursiva, de unicamente motivador, redija um texto dissertativo


caráter eliminatório e classificatório, O tema tratará das matérias de acerca do impacto da LRF na gestão pública,
CRIMINAL

valerá 13,00 pontos e consistirá da conhecimentos específicos do abordando, necessariamente, os seguintes


redação de texto dissertativo, de cargo, ou seja, será um assunto aspectos:
até 30 linhas, a respeito de temas do conteúdo programático. 1. o processo de planejamento; [valor: 4,10 pontos]
relacionados aos conhecimentos 2. as receitas e a renúncia fiscal; [valor: 4,10 pontos]
específicos para cada cargo/área. 3. as despesas com pessoal. [valor: 4,20 pontos]

O COMBATE ÀS INFRAÇÕES DE TRÂNSITO NAS


RODOVIAS FEDERAIS BRASILEIRAS
Ao elaborar seu texto, aborde os seguintes
A prova discursiva valerá 20,00
PRF - 2018

aspectos:
pontos e consistirá da redação de O tema tratará de algum assunto
1. medidas adotadas pela PRF no combate às
texto dissertativo, de até 30 linhas, a relacionado ao conteúdo
infrações; [valor: 7,00 pontos]
respeito de temas relacionados aos programático.
2. ações da sociedade que auxiliem no combate às
objetos de avaliação.
infrações; [valor: 6,00 pontos]
3. atitudes individuais para a diminuição das
infrações. [valor: 6,00 pontos]

Prova Dissertativa (Parte II), de


caráter eliminatório e classificatório,
PM-SP – 2019 -

visa avaliar a capacidade do


SOLDADO

candidato de produzir uma redação Não foi informado o tema nem


A popularização da internet ameaça o poder de
que atenda ao tema e ao gênero/ o tipo de texto (dissertativo,
influência da televisão?
tipo de texto propostos, além de seu narrativo, descritivo).
domínio da norma culta da língua
portuguesa e dos mecanismos de
coesão e coerência textual;

83
REDAÇÃO PARA CONCURSOS PÚBLICOS
A partir disso, o aluno deve direcionar a sua leitura para temas da atua- b) Respeite as margens da folha de redação: não ultrapasse o
lidade, para matéria do conteúdo programático (conhecimentos específicos) limite estipulado na folha do texto definitivo.
ou para assunto relacionado ao cargo ou à instituição a que está concorrendo. c) Não use corretivo: se errar alguma palavra, risque (com um
É crucial que conheça a banca examinadora e que tenha contato com as traço penas) e prossiga. Não use parênteses nem a palavra
provas anteriores a fim de observar o perfil das propostas de redação. “digo”.
Em geral, as bancas de concursos públicos exigem textos disserta- Ex.: A sociadade sociedade deve se conscientizar do seu papel.
tivos e apontam qual assunto o tema abordará (atualidades ou conteúdo
a) Evite algarismos, a não ser que se trate de anos, décadas,
programático). Quando isso não ocorrer, deve-se levar em consideração
séculos ou referências a textos legais (artigos, decretos, etc.).
o perfil da banca e as provas anteriores para o mesmo cargo.
b) A letra deve ser legível: pode ser letra cursiva ou de imprensa.
1.3 Orientações para o texto definitivo Não se esqueça de fazer a distinção entre maiúscula e
minúscula.
a) Não use a 1ª pessoa do singular: os textos formais exigem a
impessoalização da linguagem. Isso significa que, às vezes, é c) Cuidado com a separação silábica.
necessário omitir os agentes do discurso e as diversas vozes Translineação: é a divisão das palavras no fim da linha. Eva em
que compõem um texto. Então, empregue a terceira pessoa conta não apenas critérios de correção gramatical, mas também reco-
do singular ou do plural. mendações estilísticas (estética textual).
Ex.: Eu acredito que a pena de morte deve ser aplicada em casos 1) Não se isola sílaba forma apenas por uma vogal;
de crimes hediondos. (Incorreto) 2) Não se isola elemento cacofônico;
Acredita-se que a pena de morte deve ser aplicada em casos de 3) Na partição de palavras hifenizadas, recomenda-se repetir o
crimes hediondos. (Correto) hífen na linha seguinte.
Devemos analisar alguns fatores que contribuem para esse pro-
blema. (incorreto) Maria foi secretária, ministra e era muito a-
Alguns fatores que contribuem para esse problema devem ser miga do antigo presidente. Quando entrou na dis-
analisados. (Correto) puta eleitoral, todos nós esperávamos que, lançando-
se candidata, facilmente ganharia as eleições.
Atenção! A primeira pessoa do plural deve ser um sujeito social-
INADEQUADO
mente considerado, como em “Nós (brasileiros) devemos entender
que o voto é uma importante ferramenta para se alcançar uma
mudança.” Não empregue de forma indiscriminada. Maria foi secretária, ministra e era muito
Como impessoalizar a linguagem do texto dissertativo-argumentativo? amiga do antigo presidente. Quando entrou na disputa
eleitoral, todos nós esperávamos que, lançando-
▷ Oculte o agente:
-se candidata, facilmente ganharia as eleições.
Para deixar o discurso mais objetivo, prefira por ocultar o agente ADEQUADO
sempre que possível. Isso pode ser feito por meio de expressões como: é
importante, é preciso, é indispensável, é urgente, é crucial, é necessário, a) Não use as palavras generalizadoras, afinal sempre há uma
já que elas não revelam o agente da ação: exceção, um exemplo contrário ou algo assim.
Ex.: É necessário discutir alguns aspectos relacionados a essa temática. Ex.: “Todos jogam lixo no chão” ou “Ninguém faria isso” ou “Isso
É essencial investir em educação para minimizar tais problemas. jamais vai acontecer, é impossível.”
▷ Indetermine o sujeito: a) Não invente dados estatísticos, pesquisas, mentiras
Indeterminar o sujeito também é uma estratégia de ocultar o agente convincentes.
da ação verbal. A melhor forma de empregar essa técnica é por meio b) Não use a ironia. A ironia é uma figura de linguagem que não
do pronome indeterminador do sujeito (se). deve ser utilizada no texto dissertativo argumentativo. Nele
Ex.: Muito se tem discutido sobre a redução da maioridade penal. nada deve ficar subentendido. A escrita deve ser sempre clara,
Acredita-se que a desigualdade social contribui para o aumento sem nada oculto, sem gracinha e de forma argumentativa.
da violência. c) Não é uma boa ideia usar palavras rebuscadas. Seu texto pode
▷ Empregue a voz passiva: ficar sem fluência e clareza, dificultando a compreensão do
Na voz passiva, o sujeito da oração torna-se paciente, isto é, ele corretor. Lembre-se: linguagem formal não é sinônimo de
sofre a ação expressa pelo fato verbal. Empregá-la é um recurso que linguagem complicada.
também oculta o agente da ação. Ex.: Hodiernamente, mister, mormente, dessarte, etc.
Ex.: Devem ser analisados alguns fatores que contribuem para o a) Evite estrangeirismo: empregar palavras estrangeiras em meio
aumento da violência. à nossa língua de forma desnecessária. Não é necessário fazer
Medidas devem ser tomadas para a pacificação da sociedade. isso se há no português uma palavra correspondente que pode
a) Jamais se dirija ao leitor: o leitor é o examinador e o candidato ser usada.
não deve estabelecer um diálogo com ele. Ex.: Stress em vez de estresse
b) Não use gírias; clichês, provérbios e citações sem critério. a) Não se utilize de pergunta retórica.
você pode acabar errando o autor da expressão (o que pega Pergunta retórica: é uma interrogação que não tem como objetivo
muito mal), ou até mesmo usá-la fora de contexto, o que pode obter uma resposta, mas sim estimular a reflexão do indivíduo sobre
direcionar a sua redação para um lado que você não quer. Os determinado assunto.
ditados populares empobrecem o texto. Os examinadores não
gostam de ver o senso comum se repetindo. 1.4 Temas e textos motivadores
Ex.: Desde os primórdios da humanidade; fechar com chave de Os textos motivadores - um grupo de textos apresentados junto
ouro. à proposta de redação - têm a função de situar o candidato acerca do
a) Evite a construção de períodos longos: pode prejudicar a tema proposto, fornecendo elementos que possam ajudá-lo a refletir
clareza textual. Além disso, procure escrever na ordem direta. sobre o assunto abordado. Tais textos servem para estimular ideias

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REDAÇÃO
para o desenvolvimento do tema e são úteis por ajudar a manter o
foco temático.
1.5 Título
O título só é obrigatório se for solicitado nas instruções da prova
O papel dos textos motivadores da prova de redação é o de motivar,
de redação.
inspirar e contextualizar o candidato em relação ao tema proposta.
Pode ser que a Banca examinadora deixe o espaço para o título,
Esses textos não estão ali por acaso, então devem ser utilizados, e R
nesse caso, ele também é obrigatório.
podem evitar que o candidato escreva uma redação genérica. Contudo, E
não podem ser copiados, pois as provas que contêm cópias terão as Se puser o título e não for obrigatório (não for exigido), não rece-
D
linhas desconsideradas e podem, quando em excesso, levar à nota zero. berá mais pontos por isso e só terá pontos descontados se contiver
algum erro nele. A
Então, a intenção não é que o aluno reproduza as informações
contidas nos textos motivadores. O que se deseja é que o candidato leia Caso se esqueça de colocar título quando for obrigatório, a redação
os textos, interprete-os e reelabore-os, interligando-os à sua discussão. não será anulada, mas poderá ter pontos (poucos) descontados.
Assim sendo, o ideal é retirar de cada texto motivador as ideias prin- Dicas:
cipais e que podem ser utilizadas na sua produção escrita. ▪  Nunca utilize tema como título;
Leia todos com atenção e não se esqueça de procurar estabelecer ▪  Não coloque ponto final;
uma relação entre eles, ou seja, busque os pontos em comum, e os ▪  Não escreva todas as palavras com letra maiúscula;
conecte de uma maneira que defina argumentos consistentes para sua ▪  Não pule linha depois do título;
redação. Escreva as principais ideias em forma de tópicos e com as
▪  Construa-o quando terminar o texto.
suas palavras.

1.4.1 Tipos de textos motivadores 1.6 O texto dissertativo


Os textos motivadores podem ser de vários tipos Dissertar significa expor algum assunto. Dependendo da maneira
como o esse assunto seja abordado, a dissertação poder ser expositiva
▷ Matérias jornalísticas/ Reportagens
ou argumentativa.
Um dos tipos mais comuns de textos motivadores são as matérias
▷ Dissertação expositiva: apresenta informações sobre assuntos,
jornalísticas. Para que haja maior entendimento sobre elas, análise:
expõe, explica, reflete ideias de modo objetivo, imparcial. O autor
O que acontece? é o porta-voz de uma opinião, ou seja, a intenção é expor fatos,
Com quem acontece? dados estatísticos, informações científicas, argumentos de auto-
Em que lugar acontece? ridades etc. Este tipo de texto pode ter duas abordagens: Estudo
Quando acontece? de Caso (em que é apresentada uma solução para a situação hipo-
De que modo acontece? tética apresentada) e Questão Teórica (em que é preciso apresentar
conceitos, normas, regras, diretrizes de um determinado conteúdo).
Por que acontece?
Vejamos um exemplo do tipo expositivo.
Para que acontece?
A forma temporária como tratam os vídeos criados reflete outro
▷ Charges/Tirinhas
aspecto característico desses apps. Em oposição à noção de que tudo
As charges ou as tirinhas são uma forma curta e, muitas vezes, o que é postado na internet fica registrado para a eternidade (e tem
descontraída de apresentar informações relevantes para a produção potencial de se transformar em viral), os aplicativos querem passar a
do texto. Repare nelas: sensação de efêmero. Quem não viu a transmissão ao vivo dificilmente
Os personagens; terá nova chance. Nisso, eles se assemelham a outro app de sucesso,
O ambiente; o Snapchat, serviço de troca de mensagens pelo qual o conteúdo é
O assunto principal; destruído segundos após ser recebido pelo destinatário.
(VE JA, 2015, p. 98)
A linguagem utilizada (formal, informal, com figuras de lingua-
gem ou não, com marcas de regionalismo ou não etc.). ▷ Dissertação argumentativa: defende uma tese (ideia, ponto de vista)
▷ Gráficos por meio de estratégias argumentativas. Tem a intenção de persuadir
(convencer) o interlocutor. Em geral, há o predomínio da linguagem
Os gráficos possibilitam uma leitura mais ágil das informações.
denotativa, de conectores de causa-efeito, de verbos no presente.
Ao se deparar com eles, observe o seguinte:
Vejamos agora um exemplo do tipo argumentativo.
O título;
Fazer pesquisa crítica envolve difíceis decisões de cunho ético e
As informações na horizontal e na vertical;
político a fim de que, não importa quais sejam os resultados de nossos
A forma como os índices foram representados (colunas, fatias etc.); estudos, nosso compromisso com os sujeitos pesquisados seja mantido.
O uso de cores diferentes (caso haja); A questão é complexa por causa das múltiplas realidades dos múltiplos
A fonte da qual as informações foram coletadas. participantes envolvidos na pesquisa naturalística da visa social. Por
▷ Imagens exemplo, no projeto de pesquisa de referência neste artigo, havia um
componente que envolvia a observação participante da sala de aula,
Muitas vezes as imagens podem vir sem nenhuma palavra. Se
isto é, a observação à procura das unidades e elementos significativos
isso ocorrer, note:
para os próprios participantes da situação.
O que é a imagem (foto, quadro etc.)?
(KLEIMAN, 2001, p. 49)
Quem é o autor dela?
Quando o texto dissertativo se dedica mais a expor ideias, a fazer
Qual é o assunto principal? que o leitor/ouvinte tome conhecimento de informações ou interpre-
O que está sendo retratado? tações dos fatos, tem caráter expositivo e podemos classificá-lo como
Há marcas temporais ou regionais na imagem? expositivo. Quando as interpretações expostas pelo texto dissertativo
Se o aluno não souber nada sobre a temática apresentada, os textos vão mais além nas intenções e buscam explicitamente convencer o
motivadores podem ser um ótimo suporte. Além dos dados expostos, leitor/ouvinte sobre a validade dessas explicações, classifica-se o texto
tais textos também provocam a reflexão sobre outros aspectos do pro- como argumentativo (COROA , 2008b, p. 121).
blema e jamais devem ser ignorados. Vale mencionar que, muitas, vezes, nos editais, não fica claro
se o texto será expositivo ou argumentativo. Quando isso ocorrer,

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REDAÇÃO PARA CONCURSOS PÚBLICOS
o candidato deve analisar as provas anteriores para traçar o perfil da ▷ Desenvolvimento: é a parte da redação em que há o desenvolvi-
banca examinadora. Mas não se preocupe, pois a estrutura de ambos mento da ideia apresentada no primeiro parágrafo. Vai ocorrer a
é igual, ou seja, os dois tipos de texto devem conter introdução, desen- comprovação da tese por meio de argumentos – texto argumentativo
volvimento e conclusão. Além disso, no primeiro parágrafo, deve haver – ou a exposição de informações a fim de esclarecer um assunto –
a apresentação da ideia central que será desenvolvida. texto expositivo.
Veja as propostas a seguir: Estrutura dos parágrafos de desenvolvimento:
Foi recentemente publicado no Americam Journal of Preventive Tópico frasa l: apresentação da ideia-núcleo que será
Medicine um estudo com adultos jovens, de 19 a 32 anos de idade, desenvolvida(introdução);
apontando que quanto maior o tempo dispendido em mídias sociais de Comprovação da ideia-núcleo (desenvolvimento);
relacionamento, maior a sensação de solidão das pessoas. Além disso, Fechamento do parágrafo (conclusão).
esse estudo demonstrou também que quanto maior a frequência de
Jamais construa parágrafos com apenas um período. Os parágrafos
uso, maior a sensação de isolamento social.
de desenvolvimento devem ter, no mínimo, três períodos.
(Adaptado de: ESCOBAR, Ana. Disponível em: http://g1.globo.com)
▷ Conclusão: consiste no fechamento das ideias apresentadas. Não
Com base nas ideias do texto acima, redija uma dissertação sobre
podem ser expostos argumentos novos nesse parágrafo. O que ocorre
o tema:
é a retomada da ideia central (tese ou tema) e a apresentação das
Isolamento social na era da comunicação virtual considerações finais.
A partir da proposta apresentada, pode-se inferir que o examina-
dor quer saber o ponto de vista (opinião) do candidato em relação ao
assunto. A intenção é que seja apontado o que ele pensa a respeito do
tema, e não que ele apresente de forma objetiva informações a fim de
esclarecer determinado assunto. Então, resta claro que a dissertação
terá caráter argumentativo.
Agora veja a proposta seguinte:
A segurança jurídica tem muita relação com a ideia de respeito à
boa-fé. Se a administração adotou determinada interpretação como a
correta e a aplicou a casos concretos, não pode depois vir a anular atos
anteriores, sob o pretexto de que os mesmos foram praticados com base
em errônea interpretação. Se o administrado teve reconhecido determi-
nado direito com base em interpretação adotada em caráter uniforme
para toda a administração, é evidente que a sua boa-fé deve ser respei-
tada. Se a lei deve respeitar o direito adquirido, o ato jurídico perfeito
e a coisa julgada, por respeito ao princípio da segurança jurídica, não é
admissível que os direitos do administrado fiquem flutuando ao sabor
de interpretações jurídicas variáveis no tempo.
Maria Sylvia Zanella Di Pietro. Direito administrativo. p. 85 (com adaptações).
Considerando que o texto apresentado tem caráter estritamente
motivador, elabore uma dissertação a respeito dos atos administrativos
e da segurança jurídica no direito administrativo brasileiro, abordando,
necessariamente, os seguintes aspectos:
1. os elementos de validade do ato administrativo e os critérios
para sua convalidação; [valor: 14,00 pontos]
2. distinção entre ato administrativo nulo, anulável e inexistente;
[valor: 10,00 pontos]
3. o controle exercido de ofício pela administração pública sobre
os seus atos e o dever de agir e de prestar contas. [valor: 14,00 pontos]
Considerando o tema proposto e os tópicos apresentados, pode-se
perceber que o candidato deve, necessariamente, produzir um texto
expositivo, já que o examinador avaliará o conhecimento técnico dele
sobre o assunto, e não o seu ponto de vista, a sua opinião. Para isso,
deverá fundamentar suas ideias por meio de leis, doutrina, jurispru-
dência, citação de uma autoridade no assunto.

1.7 Estrutura do texto dissertativo


Não há dúvida de que todo texto dissertativo (expositivo ou argu-
mentativo) deve ter início, meio e fim, ou seja, introdução, desenvol-
vimento e conclusão.
▷ Introdução: a importância da introdução é evidente, pois é ela que
determina o tom do texto, o encaminhamento do desenvolvimento
e sua estrutura. Então, ela deve ser vista como um compromisso que
o autor assume com o restante do desenvolvimento. Nela haverá a
contextualização do assunto que será desenvolvido ao longo do texto,
ou seja, apresentação da ideia que será defendida (argumentação)
ou esclarecida (exposição).

86
ACESSIBILIDADE
Estatuto da Pessoa com Deficiência
▪  Pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo
1 ESTATUTO DA PESSOA de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação
COM DEFICIÊNCIA com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efe-
tiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas.
Ao tratar de direitos das pessoas com deficiência, abordamos não ▪  Elemento de urbanização: quaisquer componentes de obras de
só o Estatuto da Pessoa com Deficiência (ou lei de inclusão), mas urbanização, tais como os referentes a pavimentação, saneamento,
diversas leis e normas que garantem a efetividade de diversos direitos, encanamento para esgotos, distribuição de energia elétrica e de
promovendo inclusão e igualdade. gás, iluminação pública, serviços de comunicação, abastecimento
O seu edital poderá cobrar somente o Estatuto da Pessoa com e distribuição de água, paisagismo e os que materializam as indi-
Deficiência ou abordar outras leis. Nosso foco será o Estatuto e fare- cações do planejamento urbanístico.
mos, em alguns pontos, comparativos e abordando aspectos de outras ▪  Residências inclusivas: unidades de oferta do Serviço de Acolhimento
leis que garantem acessibilidade. do Sistema Único de Assistência Social (Suas) localizadas em áreas resi-
A Lei nº 13.146/2015 instituiu o Estatuto da Pessoa com Deficiên- denciais da comunidade, com estruturas adequadas, que possam contar
cia (EPD) que visa promover a inclusão social e a cidadania, promo- com apoio psicossocial para o atendimento das necessidades da pessoa
vendo a igualdade no exercício dos direitos e liberdades fundamentais acolhida, destinadas a jovens e adultos com deficiência, em situação de
da pessoa com deficiência. dependência, que não dispõem de condições de autossustentabilidade
A Lei tem por base a Convenção sobre os Direitos das Pessoas e com vínculos familiares fragilizados ou rompidos.
com Deficiência e seu protocolo facultativo, que foram devidamente ▪  Acompanhante: aquele que acompanha a pessoa com deficiência,
ratificados pelo Congresso Nacional e promulgados pelo Decreto nº podendo ou não desempenhar as funções de atendente pessoal.
6.949, de 25 de agosto de 2009. ▪  Pessoa com mobilidade reduzida: aquela que tenha, por qualquer
Para aplicação do Estatuto, devemos entender que a lei conceitua motivo, dificuldade de movimentação, permanente ou temporária,
como pessoa com deficiência: gerando redução efetiva da mobilidade, da flexibilidade, da coorde-
Art. 2º Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impe- nação motora ou da percepção, incluindo idoso, gestante, lactante,
dimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou pessoa com criança de colo e obeso.
sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obs- ▪  Mobiliário urbano: conjunto de objetos existentes nas vias e nos
truir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de espaços públicos, superpostos ou adicionados aos elementos de urba-
condições com as demais pessoas. nização ou de edificação, de forma que sua modificação ou seu tras-
Para acesso a alguns direitos (como aposentadoria com tempo de lado não provoque alterações substanciais nesses elementos, como
contribuição reduzido), faz-se necessária a avaliação da deficiência. semáforos, postes de sinalização e similares, terminais e pontos de
Conforme prevê o EPD, a avaliação da deficiência, quando neces- acesso coletivo às telecomunicações, fontes de água, lixeiras, toldos,
sária, será biopsicossocial (modelo que visa à análise e identificação marquises, bancos, quiosques e quaisquer outros de natureza análoga.
considerando fatores biológicos, psicológicos e sociais) por uma equipe ▪  Profissional de apoio escolar: pessoa que exerce atividades de ali-
multiprofissional e interdisciplinar e considerará: mentação, higiene e locomoção do estudante com deficiência e atua
▪  Os impedimentos nas funções e nas estruturas do corpo; em todas as atividades escolares nas quais se fizer necessária, em
▪  Os fatores socioambientais, psicológicos e pessoais; todos os níveis e modalidades de ensino, em instituições públicas
▪  A limitação no desempenho de atividades; e e privadas, excluídas as técnicas ou os procedimentos identificados
▪  A restrição de participação. com profissões legalmente estabelecidas.
Além do conceito sobre pessoa com deficiência, o artigo 3º dispõe
diversos conceitos para a aplicabilidade da lei. Para melhor compreen-
1.1 Da igualdade e não discriminação
são e fixação, listamos abaixo os conceitos que mais são “trocados” Determina o artigo 4º do EPD:
nas provas: Art. 4º Toda pessoa com deficiência tem direito à igualdade de oportunida-
▪  Acessibilidade: possibilidade e condição de alcance para utilização, des com as demais pessoas e não sofrerá nenhuma espécie de discriminação.
com segurança e autonomia, de espaços, mobiliários, equipamen- § 1º Considera-se discriminação em razão da deficiência toda forma
tos urbanos, edificações, transportes, informação e comunicação, de distinção, restrição ou exclusão, por ação ou omissão, que tenha o
inclusive seus sistemas e tecnologias, bem como de outros serviços propósito ou o efeito de prejudicar, impedir ou anular o reconhecimento
ou o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais de pessoa com
e instalações abertos ao público, de uso público ou privados de
deficiência, incluindo a recusa de adaptações razoáveis e de forneci-
uso coletivo, tanto na zona urbana como na rural, por pessoa com
mento de tecnologias assistivas.
deficiência ou com mobilidade reduzida.
§ 2º A pessoa com deficiência não está obrigada à fruição de benefícios
▪  Adaptações razoáveis: adaptações, modificações e ajustes necessá- decorrentes de ação afirmativa.
rios e adequados que não acarretem ônus desproporcional e inde- A ação afirmativa se refere às ações especiais e temporárias que
vido, quando requeridos em cada caso, a fim de assegurar que a visam eliminar desigualdades, garantindo a compensação provocada
pessoa com deficiência possa gozar ou exercer, em igualdade de pela discriminação e desigualdade.
condições e oportunidades com as demais pessoas, todos os direitos
A pessoa com deficiência, especialmente os considerados vulne-
e liberdades fundamentais.
ráveis, criança, adolescente, mulher e idoso, deve ser protegida de
▪  Atendente pessoal: pessoa, membro ou não da família, que, com toda forma de:
ou sem remuneração, assiste ou presta cuidados básicos e essenciais
▪  Negligência;
à pessoa com deficiência no exercício de suas atividades diárias,
excluídas as técnicas ou os procedimentos identificados com pro- ▪  Discriminação;
fissões legalmente estabelecidas. ▪  Exploração;
▪  Moradia para a vida independente da pessoa com deficiência: ▪  Violência;
moradia com estruturas adequadas capazes de proporcionar servi- ▪  Tortura;
ços de apoio coletivos e individualizados que respeitem e ampliem ▪  Crueldade;
o grau de autonomia de jovens e adultos com deficiência. ▪  Opressão; e
▪  Tratamento desumano ou degradante.

96
ACESSIBILIDADE
A deficiência não afeta a plena capacidade civil da pessoa, inclu- ▪  As pessoas com crianças de colo;
sive para: ▪  Obesos.
▪  Casar-se e constituir união estável; A Lei nº 10.048/2000 prevê também que as empresas públicas
▪  Exercer direitos sexuais e reprodutivos; de transporte e as concessionárias de transporte coletivo reservarão
▪  Exercer o direito de decidir sobre o número de filhos e de ter assentos, devidamente identificados, aos idosos, gestantes, lactantes,
acesso a informações adequadas sobre reprodução e planejamento pessoas deficientes e pessoas acompanhadas por crianças de colo e os
familiar; logradouros e sanitários públicos, bem como os edifícios de uso público,
▪  Conservar sua fertilidade, sendo vedada a esterilização compulsória; terão normas de construção, para efeito de licenciamento da respectiva
edificação, baixadas pela autoridade competente, destinadas a facilitar
▪  Exercer o direito à família e à convivência familiar e comunitária; e
o acesso e uso desses locais pelas pessoas deficientes. Veja-se:
▪  Exercer o direito à guarda, à tutela, à curatela e à adoção, como
Art. 1º As pessoas com deficiência, os idosos com idade igual ou superior
adotante ou adotando, em igualdade de oportunidades com as
a 60 (sessenta) anos, as gestantes, as lactantes, as pessoas com crianças
demais pessoas. de colo e os obesos terão atendimento prioritário, nos termos desta Lei. A
O Estatuto prevê como dever que: (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência) C
▪  Juízes e Tribunais no exercício da função devem remeter peças ao Art. 2º As repartições públicas e empresas concessionárias de serviços E
Ministério Público para providências; públicos estão obrigadas a dispensar atendimento prioritário, por meio S
▪  Todos devem comunicar ameaça ou violação de direitos. de serviços individualizados que assegurem tratamento diferenciado e
atendimento imediato às pessoas a que se refere o art. 1º.
Ainda, prevê o artigo 8º do EPD:
Parágrafo único. É assegurada, em todas as instituições financeiras, a
Art. 8º É dever do Estado, da sociedade e da família assegurar à pessoa
prioridade de atendimento às pessoas mencionadas no art. 1º.
com deficiência, com prioridade, a efetivação dos direitos referentes à
vida, à saúde, à sexualidade, à paternidade e à maternidade, à ali- Art. 3º As empresas públicas de transporte e as concessionárias de
mentação, à habitação, à educação, à profissionalização, ao trabalho, transporte coletivo reservarão assentos, devidamente identificados, aos
à previdência social, à habilitação e à reabilitação, ao transporte, à idosos, gestantes, lactantes, pessoas portadoras de deficiência e pessoas
acessibilidade, à cultura, ao desporto, ao turismo, ao lazer, à informação, acompanhadas por crianças de colo.
à comunicação, aos avanços científicos e tecnológicos, à dignidade, ao Art. 4º Os logradouros e sanitários públicos, bem como os edifícios de
respeito, à liberdade, à convivência familiar e comunitária, entre outros uso público, terão normas de construção, para efeito de licenciamento
decorrentes da Constituição Federal, da Convenção sobre os Direitos da respectiva edificação, baixadas pela autoridade competente, des-
das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo e das leis e de tinadas a facilitar o acesso e uso desses locais pelas pessoas portadoras
outras normas que garantam seu bem-estar pessoal, social e econômico. de deficiência.
Art. 5º Os veículos de transporte coletivo a serem produzidos após doze
1.2 Do atendimento prioritário meses da publicação desta Lei serão planejados de forma a facilitar o
acesso a seu interior das pessoas portadoras de deficiência.
Determina o art. 9º do EPD:
§ 1º (Vetado)
Art. 9º A pessoa com deficiência tem direito a receber atendimento
§ 2º Os proprietários de veículos de transporte coletivo em utilização
prioritário, sobretudo com a finalidade de:
terão o prazo de cento e oitenta dias, a contar da regulamentação desta
I – proteção e socorro em quaisquer circunstâncias; Lei, para proceder às adaptações necessárias ao acesso facilitado das
II – atendimento em todas as instituições e serviços de atendimento pessoas portadoras de deficiência.
ao público; Art. 6º A infração ao disposto nesta Lei sujeitará os responsáveis:
III – disponibilização de recursos, tanto humanos quanto tecnoló- I − no caso de servidor ou de chefia responsável pela repartição pública,
gicos, que garantam atendimento em igualdade de condições com as às penalidades previstas na legislação específica;
demais pessoas;
II − no caso de empresas concessionárias de serviço público, a multa de
IV – disponibilização de pontos de parada, estações e terminais aces- R$ 500,00 (quinhentos reais) a R$ 2.500,00 (dois mil e quinhentos
síveis de transporte coletivo de passageiros e garantia de segurança no reais), por veículos sem as condições previstas nos arts. 3º e 5º;
embarque e no desembarque;
III − no caso das instituições financeiras, às penalidades previstas no
V – acesso a informações e disponibilização de recursos de comunicação art. 44, incisos I, II e III, da Lei nº 4.595, de 31 de dezembro de 1964.
acessíveis;
Parágrafo único. As penalidades de que trata este artigo serão elevadas
VI – recebimento de restituição de imposto de renda; ao dobro, em caso de reincidência.
VII – tramitação processual e procedimentos judiciais e administra- Art. 7º O Poder Executivo regulamentará esta Lei no prazo de ses-
tivos em que for parte ou interessada, em todos os atos e diligências. senta dias, contado de sua publicação.
§ 1º Os direitos previstos neste artigo são extensivos ao acompanhante Art. 8º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
da pessoa com deficiência ou ao seu atendente pessoal, exceto quanto
ao disposto nos incisos VI e VII deste artigo.
1.3 Direitos fundamentais
§ 2º Nos serviços de emergência públicos e privados, a prioridade
conferida por esta Lei é condicionada aos protocolos de atendimento Os direitos fundamentais são garantidos a todos pela nossa Cons-
médico. tituição. Portanto, não importa quem seja, fica garantido os direitos
O dispositivo determina situações que as pessoas com deficiência previstos na nossa Carta Magna.
terão atendimento prioritário. O EPD prevê regras específicas tratando sobre direitos fundamen-
Atenção com as confusões sobre prioridade de atendimento. O tais, tendo por objetivo a garantia de inclusão e igualdade.
edital pode abordar, além do EPD, a Lei nº 10.048/2000, que trata São previstos:
das pessoas que terão atendimento prioritário em órgãos públicos, ▪  Direito à vida;
instituições financeiras, entre outras. ▪  Direito à habilitação e à reabilitação;
A citada lei prevê atendimento prioritário para: ▪  Direito à saúde;
▪  Pessoas com deficiência; ▪  Direito à educação;
▪  Os idosos com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos; ▪  Direito à moradia;
▪  As gestantes; ▪  Direito ao trabalho;
▪  As lactantes; ▪  Direito à assistência social;

97
Estatuto da Pessoa com Deficiência
▪  Direito à previdência social; Os serviços do SUS e do SUAS deverão promover ações articu-
▪  Direito à cultura, ao esporte, ao turismo e ao lazer; ladas para garantir à pessoa com deficiência e sua família a aquisição
▪  Direito ao transporte e à mobilidade. de informações, orientações (nas mais diversas áreas: de saúde, de
educação, de cultura, de esporte, de lazer, de transporte, de previdência
Vamos trabalhar alguns destes (é essencial a leitura da lei de todos
social, de assistência social, de habitação, de trabalho, de empreendedo-
os dispositivos).
rismo, de acesso ao crédito, de promoção, proteção e defesa de direitos
e nas demais áreas que possibilitem à pessoa com deficiência exercer
1.3.1 Direito à vida
sua cidadania) formas de acesso às políticas públicas disponíveis, com
O Poder Público deve garantir a dignidade da pessoa com defi- a finalidade de propiciar sua plena participação social.
ciência ao longo de toda a vida. E em situações de risco, emergência
ou estado de calamidade pública, a pessoa com deficiência será consi- 1.3.3 Direito à saúde
derada vulnerável, devendo o poder público adotar medidas para sua
À pessoa com deficiência fica assegurada a atenção integral à
proteção e segurança.
saúde, de forma universal e igualitária, por intermédio do SUS, bem
A pessoa com deficiência não poderá ser obrigada a se submeter à como fica assegurada a participação na elaboração de políticas de saúde.
intervenção clínica ou cirúrgica, a tratamento ou a institucionalização
As ações e os serviços de saúde pública destinados à pessoa com
forçada (a curatela pode suprir o consentimento)
deficiência devem assegurar:
O consentimento prévio, livre e esclarecido da pessoa com defi-
▪  Diagnóstico e intervenção precoces, realizados por equipe
ciência é indispensável para a realização de tratamento, procedimento,
multidisciplinar;
hospitalização e pesquisa científica.
▪  Serviços de habilitação e de reabilitação sempre que necessários,
Dispensa em casos de:
para qualquer tipo de deficiência, inclusive para a manutenção da
▪  Risco de morte. melhor condição de saúde e qualidade de vida;
▪  Emergência em saúde, resguardado seu superior interesse e ado- ▪  Atendimento domiciliar multidisciplinar, tratamento ambulatorial
tadas as salvaguardas legais cabíveis. e internação;
O EPD prevê que a pesquisa científica envolvendo pessoa com ▪  Campanhas de vacinação;
deficiência em situação de tutela ou de curatela deve ser realizada, em
▪  Atendimento psicológico, inclusive para seus familiares e aten-
caráter excepcional, quando não existe a possibilidade de realização
dentes pessoais;
com participantes não tutelados ou curatelados, apenas quando houver
indícios de benefício direto para sua saúde ou para a saúde de outras ▪  Respeito à especificidade, à identidade de gênero e à orientação
pessoas com deficiência. sexual da pessoa com deficiência;
▪  Atenção sexual e reprodutiva, incluindo o direito à fertilização
1.3.2 Direito à reabilitação e habilitação assistida;
A reabilitação e habilitação é um direito garantido a toda pessoa ▪  Informação adequada e acessível à pessoa com deficiência e a seus
com deficiência, visando ao desenvolvimento de potencialidades, talen- familiares sobre sua condição de saúde;
tos, habilidades e aptidões físicas, cognitivas, sensoriais, psicossociais, ▪  Serviços projetados para prevenir a ocorrência e o desenvolvimento
atitudinais, profissionais e artísticas que contribuam para a conquista de deficiências e agravos adicionais;
da autonomia da pessoa com deficiência e de sua participação social ▪  Promoção de estratégias de capacitação permanente das equipes
em igualdade de condições e oportunidades com as demais pessoas. que atuam no SUS, em todos os níveis de atenção, no atendimento
Para passar por este processo, será realizada avaliação multidisci- à pessoa com deficiência, bem como orientação a seus atendentes
plinar, analisando potencialidades, habilidades e quais necessidades pessoais;
da pessoa com deficiência, seguindo as seguintes diretrizes: ▪  Oferta de órteses, próteses, meios auxiliares de locomoção, medi-
Art. 15 O processo mencionado no art. 14 desta Lei baseia-se em ava- camentos, insumos e fórmulas nutricionais, conforme as normas
liação multidisciplinar das necessidades, habilidades e potencialidades vigentes do Ministério da Saúde.
de cada pessoa, observadas as seguintes diretrizes: As diretrizes aplicam-se também às instituições privadas que
I − diagnóstico e intervenção precoces; participem de forma complementar do SUS ou que recebam recursos
II − adoção de medidas para compensar perda ou limitação funcional, públicos para sua manutenção.
buscando o desenvolvimento de aptidões; O art. 19 do EPD prevê ações que devem ser desenvolvidas pelo
III − atuação permanente, integrada e articulada de políticas públicas SUS destinadas à prevenção:
que possibilitem a plena participação social da pessoa com deficiência;
Art. 19 Compete ao SUS desenvolver ações destinadas à prevenção de
IV − oferta de rede de serviços articulados, com atuação intersetorial, deficiências por causas evitáveis, inclusive por meio de:
nos diferentes níveis de complexidade, para atender às necessidades
I − acompanhamento da gravidez, do parto e do puerpério, com garan-
específicas da pessoa com deficiência;
tia de parto humanizado e seguro;
V − prestação de serviços próximo ao domicílio da pessoa com deficiên-
II − promoção de práticas alimentares adequadas e saudáveis, vigilân-
cia, inclusive na zona rural, respeitadas a organização das Redes de
cia alimentar e nutricional, prevenção e cuidado integral dos agravos
Atenção à Saúde (RAS) nos territórios locais e as normas do Sistema
relacionados à alimentação e nutrição da mulher e da criança;
Único de Saúde (SUS).
III − aprimoramento e expansão dos programas de imunização e de
Fica, ainda, garantido para as pessoas com deficiência:
triagem neonatal;
▪  Organização, serviços, métodos, técnicas e recursos para atender IV − identificação e controle da gestante de alto risco.
às características de cada pessoa com deficiência;
Importante também frisar que o EPD prevê no aspecto da saúde:
▪  Acessibilidade em todos os ambientes e serviços;
▪  As operadoras de planos e seguros privados de saúde são obrigadas
▪  Tecnologia assistiva, tecnologia de reabilitação, materiais e equi- a garantir à pessoa com deficiência, no mínimo, todos os serviços e
pamentos adequados e apoio técnico profissional, de acordo com produtos ofertados aos demais clientes. Também é vedada cobrança
as especificidades de cada pessoa com deficiência; de valores diferenciados por planos e seguros privados de saúde,
▪  Capacitação continuada de todos os profissionais que participem em razão de sua condição de pessoa com deficiência.
dos programas e serviços.

98
ACESSIBILIDADE
▪  Quando esgotados os meios de atenção à saúde da pessoa com III − projeto pedagógico que institucionalize o atendimento educacio-
deficiência no local de residência, será prestado atendimento fora nal especializado, assim como os demais serviços e adaptações razoá-
de domicílio, para fins de diagnóstico e de tratamento, garantidos veis, para atender às características dos estudantes com deficiência e
o transporte e a acomodação da pessoa com deficiência e de seu garantir o seu pleno acesso ao currículo em condições de igualdade,
acompanhante. promovendo a conquista e o exercício de sua autonomia;
▪  À pessoa com deficiência internada ou em observação é assegu- IV − oferta de educação bilíngue, em Libras como primeira língua e
na modalidade escrita da língua portuguesa como segunda língua, em
rado o direito à acompanhante ou à atendente pessoal, devendo o
escolas e classes bilíngues e em escolas inclusivas;*
órgão ou a instituição de saúde proporcionar condições adequadas
V − adoção de medidas individualizadas e coletivas em ambientes
para sua permanência em tempo integral e, na impossibilidade de
que maximizem o desenvolvimento acadêmico e social dos estudantes
permanência, o profissional de saúde responsável deverá justificar,
com deficiência, favorecendo o acesso, a permanência, a participação
por escrito, devendo o órgão ou a instituição de saúde adotar as
e a aprendizagem em instituições de ensino;
providências cabíveis para suprir a ausência do acompanhante ou
VI − pesquisas voltadas para o desenvolvimento de novos métodos
do atendente pessoal. A
e técnicas pedagógicas, de materiais didáticos, de equipamentos e de
▪  É assegurado à pessoa com deficiência o acesso aos serviços de recursos de tecnologia assistiva; * C
saúde, tanto públicos como privados, e às informações prestadas e VII − planejamento de estudo de caso, de elaboração de plano de aten- E
recebidas, por meio de recursos de tecnologia assistiva e de todas dimento educacional especializado, de organização de recursos e ser- S
as formas de comunicação. viços de acessibilidade e de disponibilização e usabilidade pedagógica
▪  Os espaços dos serviços de saúde, tanto públicos quanto privados, de recursos de tecnologia assistiva;
devem assegurar o acesso da pessoa com deficiência, em conformi- VIII − participação dos estudantes com deficiência e de suas famílias
dade com a legislação em vigor, mediante a remoção de barreiras, nas diversas instâncias de atuação da comunidade escolar;
por meio de projetos arquitetônicos, de ambientação de interior e IX − adoção de medidas de apoio que favoreçam o desenvolvimento dos
de comunicação que atendam às especificidades das pessoas com aspectos linguísticos, culturais, vocacionais e profissionais, levando-se
deficiência física, sensorial, intelectual e mental. em conta o talento, a criatividade, as habilidades e os interesses do
▪  Os casos de suspeita ou de confirmação de violência praticada estudante com deficiência;
contra a pessoa com deficiência serão objetos de notificação com- X − adoção de práticas pedagógicas inclusivas pelos programas de
pulsória pelos serviços de saúde públicos e privados à autoridade formação inicial e continuada de professores e oferta de formação con-
policial e ao Ministério Público, além dos Conselhos dos Direitos tinuada para o atendimento educacional especializado;
da Pessoa com Deficiência. Para efeito da lei, conceitua-se violência XI − formação e disponibilização de professores para o atendimento
qualquer ação ou omissão, praticada em local público ou privado, educacional especializado, de tradutores e intérpretes da Libras, de
que lhe cause morte ou dano ou sofrimento físico ou psicológico. guias intérpretes e de profissionais de apoio;
XII − oferta de ensino da Libras, do Sistema Braille e de uso de recursos
Aos profissionais que prestam assistência à pessoa com deficiência,
de tecnologia assistiva, de forma a ampliar habilidades funcionais dos
especialmente em serviços de habilitação e de reabilitação, deve ser
estudantes, promovendo sua autonomia e participação;
garantida capacitação inicial e continuada.
XIII − acesso à educação superior e à educação profissional e tecnológica
em igualdade de oportunidades e condições com as demais pessoas;
1.3.4 Direito à educação
XIV − inclusão em conteúdos curriculares, em cursos de nível superior e
A educação também constitui direito da pessoa com deficiência, de educação profissional técnica e tecnológica, de temas relacionados à
assegurados um sistema educacional inclusivo em todos os níveis e pessoa com deficiência nos respectivos campos de conhecimento;
aprendizado ao longo de toda a vida, de forma a alcançar o máximo XV − acesso da pessoa com deficiência, em igualdade de condições,
de desenvolvimento possível de seus talentos e habilidades físicas, sen- a jogos e a atividades recreativas, esportivas e de lazer, no sistema
soriais, intelectuais e sociais, segundo suas características, interesses e escolar;
necessidades de aprendizagem. XVI − acessibilidade para todos os estudantes, trabalhadores da edu-
Cabe ao Estado, à família, à comunidade escolar e à sociedade cação e demais integrantes da comunidade escolar às edificações, aos
assegurar educação de qualidade à pessoa com deficiência, colocan- ambientes e às atividades concernentes a todas as modalidades, etapas
do-a a salvo de toda forma de violência, negligência e discriminação. e níveis de ensino;
XVII − oferta de profissionais de apoio escolar;
Direito à educação XVIII − articulação intersetorial na implementação de políticas
públicas.
↓ Às instituições privadas, de qualquer nível e modalidade de ensino,
Dever de assegurar educação de qualidade e impedir violência, aplica-se obrigatoriamente o que determina o artigo, exceto incisos IV
negligência e discriminação e VI, sendo vedada a cobrança de valores adicionais de qualquer natu-
reza em suas mensalidades, anuidades e matrículas no cumprimento
↓ ↓ ↓ ↓ dessas determinações.
Comunidade Na disponibilização de tradutores e intérpretes da Libras para
Estado Família Sociedade
escolar o atendimento educacional especializado, de guias intérpretes e de
profissionais de apoio; deve-se observar o seguinte:
Desta feita, determina o art. 28 do EPD:
▪  Educação básica: Ensino Médio + certificado de proficiência na
Art. 28 Incumbe ao poder público assegurar, criar, desenvolver, imple-
Libras.
mentar, incentivar, acompanhar e avaliar:
▪  Os tradutores e intérpretes da Libras, quando direcionados à tarefa
I − sistema educacional inclusivo em todos os níveis e modalidades,
bem como o aprendizado ao longo de toda a vida; de interpretar nas salas de aula dos cursos de graduação e pós-gra-
duação: nível superior + com habilitação, prioritariamente, em
II − aprimoramento dos sistemas educacionais, visando a garantir
condições de acesso, permanência, participação e aprendizagem, por
Tradução e Interpretação em Libras.
meio da oferta de serviços e de recursos de acessibilidade que eliminem Nos processos seletivos para ingresso e permanência nos cursos
as barreiras e promovam a inclusão plena; oferecidos pelas instituições de ensino superior e de educação pro-
fissional e tecnológica, públicas e privadas, devem ser adotadas as
seguintes medidas:

99
ÉTICA NO SERVIÇO
PÚBLICO
ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
Para que uma conduta possa ser considerada ética, três elemen-
1 ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO tos essenciais devem ser ponderados: a ação (ato moral), a intenção
Nesta unidade, trabalharemos o seguinte conteúdo: ética e moral; (finalidade), e as circunstâncias (consequências) do ato. Se um único
ética, princípios e valores; ética e democracia: exercício da cidadania; desses três elementos não for bom, correto e certo, o comportamento
ética e função pública; ética no setor público: Código de Ética Profis- não é ético.
sional do Serviço Público (Decreto nº 1.171/1994). Acrescentamos, ao A norma ética é aquela que prescreve como o homem deve agir.
final, o Decreto nº 6.029/2007, que revogou o Decreto nº 1.171/1994 Possui, como uma de suas características, a possibilidade de ser violada,
em parte, e que, muito embora não seja mencionado no edital, tem ao contrário da norma legal (lei).
sido cobrado. A ética não deve ser confundida com a lei, embora, com certa
O Código de Ética Profissional do Serviço Público (Decreto nº frequência, a lei tenha como base princípios éticos. Ao contrário da
1.171/1994) contempla essencialmente duas partes. lei, nenhum indivíduo pode ser compelido, pelo Estado ou por outros
A primeira, dita de ordem substancial (fundamental), fala sobre os indivíduos, a cumprir as normas éticas, nem sofrer qualquer sanção
princípios morais e éticos a serem observados pelo servidor, e constitui pela desobediência a estas.
o Capítulo I, que abrange as regras deontológicas (Seção I), os prin- Para o autor Lázaro Lisboa, a ética tem por objeto o comporta-
cipais deveres do servidor público (Seção II), bem como as vedações mento humano no interior de cada sociedade, e o estudo desse com-
(Seção III). portamento com o fim de estabelecer níveis aceitáveis que garantam
Já a segunda parte, de ordem formal, dispõe sobre a criação e a convivência pacífica dentro das sociedades e entre elas, constitui o
funcionamento de Comissões de Ética, e constitui o Capítulo II, que objetivo da Ética.
trata das Comissões de Ética em todos os órgãos do Poder Executivo O estudo da ética demonstra que a consciência moral nos inclina
Federal (Exposição de Motivos nº 001/94-CE). para o caminho da virtude, que seria uma qualidade própria da natu-
Este conteúdo, referente ao Código de Ética Profissional do Ser- reza humana. Logo, um homem para ser ético precisa necessariamente
viço Público, considerando os últimos conteúdos cobrados, é um dos ser virtuoso, ou seja, praticar o bem usando a liberdade com respon-
mais relevantes e que mais deve ser estudado. sabilidade constantemente.
Segundo a classificação de Eduardo Garcia Maýnez, são quatro
1.1 Ética e moral as formas de manifestação do pensamento ético ocidental:
▷ Ética empírica.
1.1.1 Ética ▷ Ética dos bens.
A palavra “ética” vem do grego ethos, que significa “modo de ser”
▷ Ética formal.
ou “caráter” (índole).
▷ Ética de valores.
A ética é a parte da filosofia que estuda a moralidade das ações
humanas, isto é, se são boas ou más. É uma reflexão crítica sobre a A ética empírica está dividida em:
moralidade. Ética Anarquista: só tem valor o que não contraria as tendências
A ética faz parte do nosso dia a dia. Em todas as nossas ações e naturais;
relações, em algum grau, utilizamos nossos valores éticos. Isso não Ética Utilitarista: é bom o que é útil;
quer dizer que o homem já nasça com consciência plena do que é Ética Ceticista: não se pode dizer com certeza o que é certo ou
bom ou mau. Essa consciência existe, mas se desenvolve a partir do errado, bom ou mau, pois ninguém jamais será capaz de desvendar os
relacionamento com o meio e do autodescobrimento. mistérios da natureza.
De acordo com o autor espanhol, Adolfo Vázquez, a ética repre- Ética Subjetivista: “o homem é a medida de todas as coisas exis-
senta uma abordagem científica sobre as constantes morais, ou seja, tentes ou inexistentes” (Protágoras).
refere-se àquele conjunto de valores e costumes mais ou menos per-
Já a ética dos bens divide-se em:
manente no tempo e no espaço. Em outras palavras, a ética é a ciência
da moral, isto é, de uma esfera do comportamento humano. Ética Socrática: para Sócrates (469 - 399 a.C.), o supremo bem, a
virtude máxima é a sabedoria. As duas máximas de Sócrates são: “Só
A ética pode ser definida como a teoria ou a ciência do compor-
sei que nada sei” e “Conhece-te a ti mesmo”.
tamento moral, que busca explicar, compreender, justificar e criticar
a moral ou as morais de uma sociedade. Compete à ética chegar, por Ética Platônica: para Platão (427 - 347 a.C.), todos os fenômenos
meio de investigações científicas, à explicação de determinadas reali- naturais são meros reflexos de formas eternas, imutáveis, sugerindo
dades sociais, ou seja, ela investiga o sentido que o homem dá a suas o “mundo das ideias”.
ações para ser verdadeiramente feliz. A ética é, portanto, filosófica e Ética Aristotélica: para Aristóteles (384 - 322 a.C.), a felicidade
científica. só pode ser conseguida com a integração de suas três formas: prazer,
Entretanto, a ética não é puramente teoria; é um conjunto de prin- virtude (cidadania responsável), sabedoria (filosofia/ciência).
cípios e disposições voltados para a ação, historicamente produzidos, Ética Epicurista: para Epicuro (341 - 270 a.C.), o bem supremo
cujo objetivo é balizar (limitar) as ações humanas. é a felicidade, a ser atingido por meio dos prazeres (eudaimonismo
Todavia, segundo Vázquez, não cabe à ética formular juízos de hedonista) e os do espírito são mais elevados que os do corpo. Seu
valor sobre a prática moral de outras sociedades, ou de outras épocas, objetivo maior era afastar a dor e os sofrimentos.
em nome de uma moral absoluta e universal, mas deve antes explicar Ética Estoica: Zenão (300 a.C.) fundou esta filosofia que ensina a
a razão de ser desta pluralidade e das mudanças de moral; isto é, deve ética da virtude como fim: o estoico não aspira ser feliz, mas ser bom.
esclarecer o fato de os homens terem recorrido a práticas morais dife- Para a ética formal, segundo Kant, uma ação é boa, tem valor,
rentes e até opostas. deve ser feita, se obedece ao “princípio categórico”, que está baseado
Em um sentido mais amplo, a ética engloba um conjunto de regras na ideia do dever (vale sempre e é uma ordem).
e preceitos de ordem valorativa, que estão ligados à prática do bem e da Por fim, para a ética de valores, uma ação é boa (e consequente-
justiça, aprovando ou desaprovando a ação dos homens de um grupo mente é um dever) se estiver fundamentada em um valor.
social ou de uma sociedade.
Em suma, a ética é um conjunto de normas que rege a boa conduta 1.1.2 Moral
humana. Os romanos traduziram o ethos grego para o latim mos, de onde
vem a palavra “moral”.

112
ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
O termo “moral”, portanto, deriva do latim “mos” ou “mores”, que Quando uma pessoa afirma que determinada ação fere seus prin-
significa “costume” ou “costumes”. cípios, ela está se referindo a um conceito ou regra, que foi originado
A moral é definida como o conjunto de normas, princípios, pre- em algum momento em sua vida ou na vida do grupo social em que
ceitos, costumes, valores que norteiam o comportamento do indivíduo está inserida, e que foi aceito como ação moralmente boa.
no seu grupo social. A moral é normativa.
Em outras palavras, a moral é um conjunto de regras de conduta 1.2.2 Valores
adotadas pelos indivíduos de um grupo social e tem a finalidade de O conceito de valor tem sido investigado e definido em diferentes
organizar as relações interpessoais segundo os valores do bem e do mal. áreas do conhecimento (filosofia, sociologia, ciências econômicas,
A moral é a “ferramenta” de trabalho da ética. Sem os juízos de marketing etc.).
valor aplicados pela moral seria impossível determinar se a ação do Os valores são as normas, princípios ou padrões sociais aceitos
homem é boa ou má. ou mantidos por indivíduos, classe ou sociedade. Dizem, portanto,
A moral ocupa-se basicamente de questões subjetivas, abstratas e respeito a princípios que merecem ser buscados.
de interesses particulares do indivíduo e da sociedade, relacionando-se O valor exprime uma relação entre as necessidades do indivíduo
com valores ou condutas sociais. (respirar, comer, viver, posse, reproduzir, prazer, domínio, relacionar,
A moral possui, portanto, um caráter subjetivo, que faz com que comparar) e a capacidade das coisas, objetos ou serviços de satisfazê-las.
ela seja influenciada por vários fatores, alterando, assim, os conceitos É na apreciação desta relação que se explica a existência de uma
morais de um grupo para outro. Esses fatores podem ser sociais, his- hierarquia de valores, segundo a urgência/prioridade das necessidades
tóricos, geográficos etc. Observa-se, então, que a moral é dinâmica, e a capacidade dos mesmos objetos para as satisfazerem, diferenciadas
ou seja, ela pode mudar seus juízos de valor de acordo com o contexto no espaço e no tempo.
em que esteja inserida. Nas mais diversas sociedades, independentemente do nível cul- É
Sendo assim, para Vázquez a moral é mutável e varia historica- tural, econômico ou social em que estejam inseridas, os valores são T
mente, de acordo com o desenvolvimento de cada sociedade e, com fundamentais para se determinar quais são as pessoas que agem tendo I
ela, variam os seus princípios e as suas normas. Ela norteia os valores por finalidade o bem. C
éticos na Administração Pública. O caráter dos seres, pelo qual são mais ou menos desejados ou
Aristóteles, em seu livro “A Política”, assevera que “os pais sempre estimados por uma pessoa ou grupo, é determinado pelo valor de suas
parecerão antiquados para os seus filhos”. Essa afirmação demonstra ações.
que, na passagem de uma geração para outra, os valores morais mudam. Todos os termos que servem para qualificar uma ação ou o cará-
Para que um ato seja considerado moral, ou seja, bom, deve ser ter de uma pessoa têm um peso bom e um peso ruim. Cite-se, como
livre, consciente, intencional e solidário. O ato moral tem, em sua exemplo, os termos verdadeiro e falso, generoso e egoísta, honesto e
estrutura, dois importantes aspectos: o normativo e o factual. O desonesto, justo e injusto. Os valores dão “peso” à ação ou ao caráter
normativo são as normas e imperativos que enunciam o “dever ser”. de uma pessoa ou grupo.
Ex.: cumpra suas obrigações, não minta, não roube etc. O factual são Kant afirmava que toda ação considerada boa moralmente deveria
os atos humanos que se realizam efetivamente, ou seja, é a aplicação ser universal, ou seja, ser boa em qualquer tempo e em qualquer lugar.
da norma no dia a dia, no convívio social. Infelizmente, o ideal kantiano de valor e moralidade está muito longe
Apesar de se assemelharem, e mesmo por vezes se confundirem, de ser alcançado, pois as diversidades culturais e sociais fazem com que
ética e moral são termos aplicados diferentemente. Enquanto o pri- o valor dado a determinadas ações mude de acordo com o contexto.
meiro trata o comportamento humano como objeto de estudo e nor- O complexo de normas éticas se alicerça em valores, normalmente
matização, procurando tomá-lo de forma mais abrangente possível, o designados valores do “bem”.
segundo se ocupa de atribuir um valor à ação. Esse valor tem como Segundo Felix Ruiz López:
referências as normas e conceitos do que vem a ser bom ou mau, basea- Valores éticos são indicadores da relevância ou do grau de atendimento
dos no senso comum. aos princípios éticos”. Por exemplo, a dignidade da pessoa sugere e
No contexto da ação pública, ética e moral não são considerados exige que se valorize o respeito às pessoas. Esses valores éticos só podem
termos sinônimos. Portanto, não devem ser confundidos. ser atribuídos a pessoas, pois elas são os únicos seres que agem com
Enquanto a ética é teórica e busca explicar e justificar os costumes conhecimento de certo e errado, bem e mal, e com liberdade para agir.
de uma determinada sociedade, a moral é normativa. Enquanto a ética Algumas condutas podem ferir os valores éticos. A prática constante de
tem caráter científico, a moral tem caráter prático imediato, visto que respeito aos valores éticos conduz as pessoas às virtudes morais. (Fonte:
é parte integrante da vida cotidiana das sociedades e dos indivíduos. ALONSO, Felix Ruiz; LÓPEZ, Francisco Granizo; CASTRUCCI,
A moral é a aplicação da ética no cotidiano, é a prática concreta. A Plínio de Laura – Curso de Ética em Administração. São Paulo: Atlas,
moral, portanto, não é ciência, mas objeto da ciência; e, neste sentido, 2008. [Adaptado]).
é por ela estudada e investigada.
1.3 Ética e democracia: exercício da cidadania
1.2 Ética: princípios e valores
1.3.1 Ética e democracia
1.2.1 Princípios O Brasil ainda caminha a passos muito lentos no que diz respeito
Segundo o dicionário Houaiss, princípio pode ser considerado o à ética, principalmente no cenário político.
primeiro momento da existência (de algo) ou de uma ação ou processo. Vários são os fatores que contribuíram para esta realidade, dentre
Pode também ser definido como um conjunto de regras ou código de eles, principalmente, os golpes de Estado, a saber, o Golpe de 1930
(boa) conduta, com base no qual se governa a própria vida e ações. e o Golpe de 1964.
Dados esses conceitos, percebe-se que os princípios que regem a Durante o período em que o país vivenciou a ditadura militar e em
conduta em sociedade são aqueles conceitos ou regras que se aprendem que a democracia foi colocada de lado, tivemos a suspensão do ensino
por meio do convívio, passados de geração para geração. da filosofia e, consequentemente, da ética, nas escolas e universidades;
Esses conhecimentos se originaram, em algum momento, no grupo além disso, os direitos políticos do cidadão foram suspensos, a liberdade
social em que estão inseridos, convencionando-se que sua aplicação é de expressão caçada e cresceu o medo da repressão.
boa, e assim aceita pelo grupo. Como consequência dessa série de medidas autoritárias e arbitrá-
rias, nossos valores morais e sociais foram perdendo espaço para os

113
ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
valores que o Estado queria impor, levando a sociedade a uma espécie os valores morais e a boa-fé, amparados constitucionalmente como
de “apatia” social. princípios básicos e essenciais a uma vida equilibrada, sejam inseridos
Nos dias atuais, estamos presenciando uma nova fase em nosso e se tornem uma constante em seu relacionamento com os usuários do
país, no que tange à aplicabilidade das leis e da ética no poder. serviço bem como com os colegas.
Os crimes de corrupção envolvendo desvio de dinheiro estão Os princípios constitucionais devem ser observados para que a
sendo mais investigados e a polícia tem trabalhado com mais liber- função pública se integre de forma indissociável ao direito. Os prin-
dade de atuação em prol da moralidade e do interesse público, o que cípios são:
tem levado os agentes públicos a ref letir mais sobre seus atos antes ▷ Legalidade: todo ato administrativo deve seguir fielmente os mean-
ainda de praticá-los. dros da lei.
Essa nova fase se deve principalmente à democracia, implantada ▷ Impessoalidade: aplicado como sinônimo de igualdade – todos de-
como regime político com a Constituição de 1988. vem ser tratados de forma igualitária e respeitando o que a lei prevê.
Etimologicamente, o termo democracia vem do grego demokratía, ▷ Moralidade: respeito ao padrão moral para não comprometer os
em que kratía significa governo e demo, povo. Logo, a democracia, bons costumes da sociedade.
por definição, é o “governo do povo”.
▷ Publicidade: refere-se à transparência de todo ato público, salvo os
A democracia confere ao povo o poder de influenciar na adminis- casos previstos em lei.
tração do Estado. Por meio do voto, o povo é que determina quem vai
ocupar os cargos de direção do Estado. Logo, insere-se nesse contexto ▷ Eficiência: ser o mais eficiente possível na utilização dos meios que
a responsabilidade tanto do povo, que escolhe seus dirigentes, quanto são postos a sua disposição para a execução do seu mister (cargo
dos escolhidos, que deverão prestar contas de seus atos no poder. ou função).
A ética exerce papel fundamental em todo esse processo, regu-
lamentando e exigindo dos governantes comportamento adequado à
1.4.1 Ética no setor público
função pública, que lhe foi confiada por meio do voto, e conferindo As questões éticas estão cada vez mais em voga na cena pública
ao povo as noções e os valores necessários tanto para o exercício e brasileira, dada à multiplicação de casos de corrupção e, sobretudo, à
cobrança dos seus direitos quanto para atendimento de seus deveres. reação da sociedade frente a um tal grau de desmoralização das relações
políticas e sociais.
É por meio dos valores éticos e morais, determinados pela socie-
dade, que podemos perceber se os atos cometidos pelos ocupantes de Com os escândalos e denúncias de corrupção expostas pela mídia,
cargos públicos estão visando ao bem comum e ao interesse público. refletir sobre essas questões traz à tona os conceitos éticos que envolvem
a busca por melhores ações tanto na vida pessoal como na vida pública.
1.3.2 Exercício da cidadania A ética é pautada na conduta responsável das pessoas. Daí a impor-
Em se tratando do exercício da cidadania, podemos afirmar que tância da escolha de um político com esse caráter, a fim de diminuir
todo cidadão tem direito a exercer a cidadania, isto é, seus direitos de o mau uso da máquina pública e evitar que se venha auferir ganhos e
cidadão; direitos esses garantidos constitucionalmente. vantagens pessoais.
Direitos e deveres andam juntos no que tange ao exercício da Porém, as normas morais apenas fornecem orientações, cabendo
cidadania. Não se pode conceber um direito que não seja precedido ao político determinar quais são as exigências e limitações e decidir
de um dever a ser cumprido; é uma via de mão dupla. pela melhor alternativa de ação, que detém a responsabilidade em
atender as demandas, no papel de representantes democráticos, com
Os direitos garantidos constitucionalmente, individuais, coletivos,
integridade e eficiência.
sociais ou políticos, são precedidos de responsabilidades que o cidadão
deve ter perante a sociedade. Por exemplo, a Constituição garante o Durante as últimas décadas, o setor público foi alvo, tanto por
direito à propriedade privada, mas exige-se que o proprietário seja parte da mídia quanto do senso comum vigente, de um processo deli-
responsável pelos tributos que o exercício desse direito gera, como, berado de formação de uma caricatura, que transformou sua imagem
por exemplo, o pagamento do Imposto Predial e Territorial Urbano no estereótipo de um setor muito burocrático, que não funciona e
(IPTU). custa caro à população.
Exercer a cidadania, por consequência, é ser probo (íntegro, hon- O cidadão, mesmo bem atendido por um servidor público, não
rado, justo, reto), agir com ética assumindo a responsabilidade que consegue sustentar uma boa imagem do servidor e do serviço público,
advém de seus deveres enquanto cidadão inserto no convívio social. pois o que faz a imagem de um órgão ou entidade pública parecer boa
diante da população é o atendimento de seus funcionários, e, por mais
1.4 Ética e função pública que os servidores sérios e responsáveis se esforcem, existe uma minoria
que consegue facilmente acabar com todos os esforços levados a cabo
Função pública é a competência, atribuição ou encargo para o exer-
por aqueles bons funcionários.
cício de determinada função. Ressalta-se que essa função não é livre,
devendo, portanto, estar o seu exercício sujeito ao interesse público, Nesse ponto, a ética se insere de maneira determinante para con-
ou seja, da coletividade. tribuir e melhorar a qualidade do atendimento, inserindo no âmbito
do poder público os princípios e regras necessários ao bom andamento
No exercício das mais diversas funções públicas, os servidores
do serviço e ao respeito aos usuários.
devem respeitar, além das normatizações vigentes nos órgãos e enti-
dades públicas que regulamentam e determinam a forma de agir dos Os novos códigos de ética, além de regulamentar a qualidade e o
agentes públicos, os valores éticos e morais que a sociedade impõe para trato dispensados aos usuários e ao serviço público e de trazer punições
o convívio em grupo. A não observação desses valores acarreta a uma para os que descumprem as suas normas, também têm a função de
série de erros e problemas no atendimento ao público e aos usuários proteger a imagem e a honra do servidor que trabalha seguindo fiel-
do serviço, o que contribui de forma significativa para uma imagem mente as regras nele contidas, contribuindo, assim, para uma melhoria
negativa do órgão ou entidade e do serviço público. na imagem do servidor e do órgão ou entidade perante a população.
O padrão ético dos servidores públicos, no exercício da função Em se tratando da ética no serviço público, destacamos o Código de
pública, advém de sua natureza, ou seja, do caráter público e de sua Ética Profissional do Servidor Público do Poder Executivo Federal, apro-
relação com o público. vado pelo Decreto nº 1.171/1994, que foi revogado em parte pelo Decreto
nº 6.029, de 1º de fevereiro de 2007, que institui Sistema de Gestão da
O servidor deve estar atento a esse padrão não apenas no exercício
Ética do Poder Executivo Federal. Ambos os Decretos seguem na íntegra.
de suas funções, mas também na vida particular. O caráter público
do seu serviço deve se incorporar à sua vida privada, a fim de que

114
ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
VIII – Toda pessoa tem direito à verdade. O servidor não pode omi-
1.5 Código de Ética Profissional do ti-la ou falseá-la, ainda que contrária aos interesses da própria pessoa
Serviço Público (Decreto nº 1.171/1994) interessada ou da Administração Pública. Nenhum Estado pode crescer
ou estabilizar-se sobre o poder corruptivo do hábito do erro, da opressão
Decreto nº 1.171, de 22 de Junho de 1994. ou da mentira, que sempre aniquilam até mesmo a dignidade humana
Aprova o Código de Ética Profissional do Servidor Público Civil do Poder Executivo quanto mais a de uma Nação.
Federal. IX – A cortesia, a boa vontade, o cuidado e o tempo dedicados ao
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso das atribuições que lhe confere o art. serviço público caracterizam o esforço pela disciplina. Tratar mal
84, incisos IV e VI, e ainda tendo em vista o disposto no art. 37 da Constituição, bem uma pessoa que paga seus tributos direta ou indiretamente significa
como nos arts. 116 e 117 da Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990, e nos arts. 10, causar-lhe dano moral. Da mesma forma, causar dano a qualquer
11 e 12 da Lei nº 8.429, de 2 de junho de 1992, decreta: bem pertencente ao patrimônio público, deteriorando-o, por descuido
Art. 1º Fica aprovado o Código de Ética Profissional do Servidor ou má vontade, não constitui apenas uma ofensa ao equipamento e às
Público Civil do Poder Executivo Federal, que com este baixa. instalações ou ao Estado, mas a todos os homens de boa vontade que
Art. 2º Os órgãos e entidades da Administração Pública Federal direta dedicaram sua inteligência, seu tempo, suas esperanças e seus esforços
e indireta implementarão, em sessenta dias, as providências necessárias para construí-los.
à plena vigência do Código de Ética, inclusive mediante a Constitui- X – Deixar o servidor público ou qualquer pessoa à espera de solução
ção da respectiva Comissão de Ética, integrada por três servidores ou que compete ao setor em que exerça suas funções, permitindo a forma-
empregados titulares de cargo efetivo ou emprego permanente. ção de longas filas, ou qualquer outra espécie de atraso na prestação
Parágrafo único. A constituição da Comissão de Ética será comuni- do serviço, não caracteriza apenas atitude contra a ética ou ato de
cada à Secretaria da Administração Federal da Presidência da Repú- desumanidade, mas principalmente grave dano moral aos usuários
blica, com a indicação dos respectivos membros titulares e suplentes. dos serviços públicos.
XI – O servidor deve prestar toda a sua atenção às ordens legais de É
Art. 3º Este decreto entra em vigor na data de sua publicação.
seus superiores, velando atentamente por seu cumprimento, e, assim, T
Brasília, 22 de junho de 1994, 173º da Independência e 106º da República.
evitando a conduta negligente. Os repetidos erros, o descaso e o acúmulo I
ITAMAR FRANCO
de desvios tornam-se, às vezes, difíceis de corrigir e caracterizam até C
Romildo Canhim mesmo imprudência no desempenho da função pública.
XII – Toda ausência injustificada do servidor de seu local de trabalho é
Anexo
fator de desmoralização do serviço público, o que quase sempre conduz
à desordem nas relações humanas.
Código de Ética Profissional do Servidor
XIII – O servidor que trabalha em harmonia com a estrutura orga-
Público Civil do Poder Executivo Federal
nizacional, respeitando seus colegas e cada concidadão, colabora e de
todos pode receber colaboração, pois sua atividade pública é a grande
Capítulo I oportunidade para o crescimento e o engrandecimento da Nação.

Seção I – Das Regras Deontológicas Seção II – Dos Principais Deveres do Servidor Público
I – A dignidade, o decoro, o zelo, a eficácia e a consciência dos princípios XIV – São deveres fundamentais do servidor público:
morais são primados maiores que devem nortear o servidor público, seja a) desempenhar, a tempo, as atribuições do cargo, função ou emprego
no exercício do cargo ou função, ou fora dele, já que refletirá o exercício público de que seja titular;
da vocação do próprio poder estatal. Seus atos, comportamentos e atitudes b) exercer suas atribuições com rapidez, perfeição e rendimento, pondo
serão direcionados para a preservação da honra e da tradição dos serviços fim ou procurando prioritariamente resolver situações procrastina-
públicos. tórias, principalmente diante de filas ou de qualquer outra espécie de
II – O servidor público não poderá jamais desprezar o elemento ético de atraso na prestação dos serviços pelo setor em que exerça suas atribui-
sua conduta. Assim, não terá que decidir somente entre o legal e o ilegal, ções, com o fim de evitar dano moral ao usuário;
o justo e o injusto, o conveniente e o inconveniente, o oportuno e o ino- c) ser probo, reto, leal e justo, demonstrando toda a integridade do seu
portuno, mas principalmente entre o honesto e o desonesto, consoante caráter, escolhendo sempre, quando estiver diante de duas opções, a
as regras contidas no art. 37, caput, e § 4º, da Constituição Federal. melhor e a mais vantajosa para o bem comum;
III – A moralidade da Administração Pública não se limita à distin- d) jamais retardar qualquer prestação de contas, condição essencial da
ção entre o bem e o mal, devendo ser acrescida da ideia de que o fim é gestão dos bens, direitos e serviços da coletividade a seu cargo;
sempre o bem comum. O equilíbrio entre a legalidade e a finalidade,
e) tratar cuidadosamente os usuários dos serviços aperfeiçoando o pro-
na conduta do servidor público, é que poderá consolidar a moralidade
cesso de comunicação e contato com o público;
do ato administrativo.
f ) ter consciência de que seu trabalho é regido por princípios éticos que
IV – A remuneração do servidor público é custeada pelos tributos pagos
se materializam na adequada prestação dos serviços públicos;
direta ou indiretamente por todos, até por ele próprio, e por isso se
exige, como contrapartida, que a moralidade administrativa se inte- g) ser cortês, ter urbanidade, disponibilidade e atenção, respeitando a
gre no Direito, como elemento indissociável de sua aplicação e de sua capacidade e as limitações individuais de todos os usuários do serviço
finalidade, erigindo-se, como consequência, em fator de legalidade. público, sem qualquer espécie de preconceito ou distinção de raça, sexo,
nacionalidade, cor, idade, religião, cunho político e posição social, abs-
V – O trabalho desenvolvido pelo servidor público perante a comu-
tendo-se, dessa forma, de causar-lhes dano moral;
nidade deve ser entendido como acréscimo ao seu próprio bem-estar,
já que, como cidadão, integrante da sociedade, o êxito desse trabalho h) ter respeito à hierarquia, porém sem nenhum temor de representar
pode ser considerado como seu maior patrimônio. contra qualquer comprometimento indevido da estrutura em que se
funda o Poder Estatal;
VI – A função pública deve ser tida como exercício profissional e, por-
tanto, se integra na vida particular de cada servidor público. Assim, os i) resistir a todas as pressões de superiores hierárquicos, de contratan-
fatos e atos verificados na conduta do dia a dia em sua vida privada tes, interessados e outros que visem obter quaisquer favores, benesses
poderão acrescer ou diminuir o seu bom conceito na vida funcional. ou vantagens indevidas em decorrência de ações imorais, ilegais ou
aéticas e denunciá-las;
VII – Salvo os casos de segurança nacional, investigações policiais
ou interesse superior do Estado e da Administração Pública, a serem j) zelar, no exercício do direito de greve, pelas exigências específicas
preservados em processo previamente declarado sigiloso, nos termos da da defesa da vida e da segurança coletiva;
lei, a publicidade de qualquer ato administrativo constitui requisito de l) ser assíduo e frequente ao serviço, na certeza de que sua ausência
eficácia e moralidade, ensejando sua omissão comprometimento ético provoca danos ao trabalho ordenado, refletindo negativamente em
contra o bem comum, imputável a quem a negar. todo o sistema;

115
NOÇÕES DE DIREITO
ADMINISTRATIVO
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
sejam elas de natureza interna entre as entidades que a compõem,
1 INTRODUÇÃO AO DIREITO seus órgãos e agentes, ou de natureza externa entre a administração
ADMINISTRATIVO e os administrados.
Além de ter por objeto a atuação da Administração Pública, tam-
Na introdução ao Direito Administrativo, conheceremos algumas
bém é foco do Direito Administrativo o desempenho das atividades
características do Direito Administrativo, seu conceito, sua finalidade
públicas quando exercidas por algum particular, como no caso das
e seu regime jurídico peculiar que orienta toda a sua atividade admi-
concessões, permissões e autorizações de serviços públicos.
nistrativa, seja ela exercida pelo próprio Estado-administrador, ou por
particular. Para entendermos melhor tudo isso, é preciso iniciar os Resumidamente, podemos dizer que o Direito Administrativo tem
estudos pela compreensão adequada do papel do Direito na vida social. por objeto a Administração Pública e as atividades administrativas,
independentemente de quem as exerçam.
O Direito é um conjunto de normas (regras e princípios) impostas
coativamente pelo Estado que regulam a vida em sociedade, possibi-
litando a coexistência pacífica das pessoas.
1.4 Fontes do Direito Administrativo
É o lugar de onde provém algo, no nosso caso, no qual emanam
1.1 Ramos do Direito as regras do Direito Administrativo. Esse não está codificado em um
único livro. Dessa forma, para o estudarmos de maneira completa,
O Direito é historicamente dividido em dois grandes ramos: o
temos que recorrer às fontes, ou seja, a institutos esparsos. Por esse
direito público e o direito privado.
motivo, dizemos que o Direito Administrativo está tipificado (escrito),
Em relação ao direito privado, vale o princípio da igualdade (iso- mas não está codificado em um único instituto.
nomia) entre as partes; aqui não há que se falar em superioridade
• Lei: fonte principal do Direito Administrativo. A lei deve ser
de uma parte sobre a outra. Por esse motivo, dizemos que estamos
compreendida em seu sentido amplo, o que inclui a Constituição
em uma relação jurídica horizontal ou em uma horizontalidade nas
Federal, as normas supralegais, as leis e também os atos normati-
relações jurídicas.
vos da própria Administração Pública. Temos como exemplo os
O direito privado é regulado pelo princípio da autonomia da von- arts. 37 ao 41 da Constituição Federal, as Leis nºs 8.666/1993,
tade, o que traduz a regra que diz que o particular pode fazer tudo 14.133/2021, 8.112/1990, 8.429/1992 (Lei de Improbidade
aquilo que não é proibido (art. 5º, inciso II, da Constituição Federal Administrativa), 14.230/2021, 9.784/1999 (Processo Admi-
de 1988). nistrativo Federal) etc.
No direito público, temos uma relação jurídica vertical, com o • Súmulas Vinculantes: são instruções jurídicas que norteiam a
Estado em um dos polos, representando os interesses da coletividade, D
interpretação e aplicação das normas constitucionais. Ou seja,
e um particular no outro, desempenhando seus próprios interesses. O as decisões trazidas pelo STF nas súmulas devem ser seguidas A
Estado é tratado com superioridade ante ao particular, pois o Estado pelo Poder Judiciário e pela Administração Pública. D
é o procurador da vontade da coletividade, que, representada pelo M
• Jurisprudência: são decisões que são editadas pelos tribunais
próprio Estado, deve ser tratada de forma prevalente ante a vontade
e não possuem efeito vinculante; são resumos numerados que
do particular.
servem de fonte de pesquisa do direito materializados em livros,
O fundamento dessa relação jurídica vertical é encontrado no prin- artigos e pareceres.
cípio da supremacia do interesse público, que estudaremos com mais
• Doutrina: tem a finalidade de tentar sistematizar e melhor
detalhes no tópico referente aos princípios. Já podemos, no entanto,
explicar o conteúdo das normas de Direito Administrativo. A
adiantar que, o interesse público é supremo. Desse modo, são disponi-
doutrina pode ser utilizada como critério de interpretação de
bilizadas ao Estado prerrogativas especiais para que este possa atingir
normas, bem como para auxiliar a produção normativa.
os seus objetivos. Essas prerrogativas são os poderes da Administração
Pública. • Costumes: conjunto de regras não escritas, porém, observadas
de maneira uniforme, as quais suprem a omissão legislativa
Os dois princípios norteadores do Direito Administrativo são:
acerca de regras internas da Administração Pública.
Supremacia do Interesse Público (gera os poderes) e Indisponibilidade
do Interesse Público (gera os deveres da administração). Segundo o doutrinador do Direito Administrativo, Hely Lopes
Meirelles, em razão da deficiência da legislação, a prática administra-
1.2 Conceito de Direito Administrativo tiva vem suprindo o texto escrito e, sedimentada na consciência dos
administradores e administrados, a praxe burocrática passa a saciar a
Na doutrina, podem ser encontrados vários conceitos para o lei e atuar como elemento informativo da doutrina.
Direito Administrativo. A seguir, descreveremos dois deles, trazidos
Leis e súmulas vinculantes são consideradas fontes principais do
pela doutrina contemporânea:
Direito Administrativo. Jurisprudência, súmulas, doutrinas e costumes
• O Direito Administrativo é o ramo do direito público que tem são considerados fontes secundárias.
por objeto órgãos, agentes e pessoas jurídicas administrativas
que integram a Administração Pública. A atividade jurídica não
Principais
contenciosa que exerce e os bens que se utiliza para a consecução
Fontes
de seus fins são de natureza pública.
• O Direito Administrativo é o conjunto harmônico de princí-
pios jurídicos que regem órgãos, agentes e atividades públicas
que tendem a realizar concreta, direta e imediatamente os fins Súmulas
Lei
desejados pelo Estado. Vinculantes
Os conceitos de Direito Administrativo foram desenvolvidos de
forma que se desdobram em uma sequência natural de tópicos que
devem ser estudados ponto a ponto para que a matéria seja correta- Art. 37 ao 41 CF/1988
mente entendida. Lei nº 8.666/1993
Lei nº 8.112/1990
1.3 Objeto do Direito Administrativo Lei nº 8.429/1992
Lei nº 9.784/1999
Por meio desses conceitos, podemos constatar que o objeto do Lei nº 14.133/2021
Direito Administrativo são as relações da Administração Pública, Lei nº 14.230/2021

123
INTRODUÇÃO AO DIREITO ADMINISTRATIVO
O princípio da supremacia do interesse público é o fundamento
Fontes dos poderes da Administração Pública, afinal de contas, qualquer
Secundárias pessoa que tenha como fim máximo da sua atuação o interesse da
coletividade, somente conseguirá atingir esses objetivos se dotadas
de poderes especiais.
O princípio da indisponibilidade do interesse público é o funda-
Jurisprudência Doutrina Súmulas
mento dos deveres da Administração Pública, pois essa tem o dever
de nunca abandonar o interesse público e de usar os seus poderes com
1.5 Sistemas Administrativos a finalidade de satisfazê-lo.
É o regime que o Estado adota para o controle dos atos adminis- Desses dois princípios, decorrem todos os outros princípios e regras
trativos ilegais praticados pelo poder público nas diversas esferas e em que se desdobram no regime jurídico administrativo.
todos os poderes. Existem dois sistemas que são globalmente utilizados:
• O sistema francês (do contencioso administrativo), não utili- 1.7 Noções de Estado
zado no Brasil, determina que as lides administrativas podem
transitar em julgado, ou seja, as decisões administrativas têm 1.7.1 Conceito de Estado
força de definibilidade. Nesse sentido, falamos em dualidade de • Estado: é a pessoa jurídica territorial soberana.
jurisdição, já que existem tribunais administrativos e judiciais, • Pessoa: capacidade para contrair direitos e obrigações.
cada qual com suas competências.
• Jurídica: é constituída por meio de uma formalidade documen-
• O sistema inglês (do não contencioso administrativo), também tal e não por uma mulher, tal como a pessoa física.
chamado de jurisdicional único ou unicidade da jurisdição, é o
• Territorial soberana: quer dizer que, dentro do território do
sistema que atribui somente ao Poder Judiciário a capacidade
Estado, esse detém a soberania, ou seja, sua vontade preva-
de tomar decisões sobre a legalidade administrativa com caráter
lece ante a das demais pessoas (sejam elas físicas ou jurídicas).
de coisa julgada ou definitividade.
Podemos definir soberania da seguinte forma: soberania é a
Atenção! independência na ordem internacional (lá fora ninguém manda
no Estado) e supremacia na ordem interna (aqui dentro quem
A Constituição Federal de 1988 adotou o Sistema Inglês, do não manda é o Estado).
contencioso administrativo.
1.7.2 Elementos do Estado
O Direito Administrativo, no nosso sistema, não pode fazer coisa
• Território: é a base fixa do Estado (solo, subsolo, mar, espaço
julgada e todas as decisões administrativas podem ser revistas pelo
aéreo).
Poder Judiciário, pois somente ele pode dar resolução em caráter defi-
nitivo. Ou seja, não cabem mais recursos, por isso, falamos em trânsito • Povo: é o componente humano do Estado.
em julgado das decisões judiciais e nunca das decisões administrativas. • Governo soberano: é o responsável pela condução do Estado.
Por ser tal governo soberano, ele não se submete a nenhuma
1.5.1 Via administrativa de curso forçado vontade externa, apenas aos desígnios do povo.
São situações em que o particular é obrigado a seguir todas as vias
administrativas até o fim, antes de recorrer ao Poder Judiciário. Isso
1.7.3 Formas de Estado
é exceção, pois a regra é que, ao particular, é facultado recorrer-se ao • Estado unitário: é caracterizado pela centralização política; não
Poder Judiciário, por força do art. 5º, inciso XXXV, da Constituição existe divisão em Estados-membros ou municípios, há somente
Federal de 1988. uma esfera política central que emana sua vontade para todo o
Aqui, o indivíduo deve esgotar as esferas administrativas obriga- país. É o caso do Uruguai.
toriamente antes de ingressar com ação no Poder Judiciário. • Estado federado: caracteriza-se pela descentralização política.
XXXV - A lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão Existem diferentes entidades políticas autônomas que são distri-
ou ameaça a direito. buídas regionalmente e cada uma exerce o poder político dentro
Exemplos: de sua área de competência. É o caso do Brasil.
• Justiça Desportiva: só são admitidas pelo Poder Judiciário 1.7.4 Poderes do Estado
ações relativas à disciplina e às competições desportivas depois
de esgotadas as instâncias da Justiça Desportiva. Art. 217, § Os poderes do Estado estão previstos no texto Constitucional.
1º, CF/1988. Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si,
o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.
• Ato administrativo ou omissão da Administração Pública
que contrarie súmula vinculante: só pode ser alvo de recla- Os poderes podem exercer as funções para que foram investidos
mação ao STF depois de esgotadas as vias administrativas. Lei pela Constituição Federal (funções típicas) ou executar cargos diver-
nº 11.417/2006, art. 7º, § 1º. sos das suas competências constitucionais (funções atípicas). Por esse
• Habeas data: é indispensável para caracterizar o interesse de motivo, não há uma divisão absoluta entre os poderes, e sim relativa,
agir no habeas data a prova anterior do indeferimento do pedido pois o Poder Executivo pode executar suas funções típicas (administrar)
de informação de dados pessoais ou da omissão em atendê-lo e pode também iniciar o processo legislativo em alguns casos (pedido
sem que se confirme situação prévia de pretensão. (STF, HD, de vagas para novos cargos). Além disso, é possível até mesmo legislar
22-DF Min. Celso de Mello).
no caso de medidas provisórias com força de lei.
1.6 Regime jurídico administrativo
É o conjunto de normas e princípios de direito público que regulam
a atuação da Administração Pública. Tais regras se fundamentam nos
princípios da Supremacia e da Indisponibilidade do Interesse Público,
conforme estudaremos adiante.

124
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
A chefia do Estado e a do Governo são representadas pela mesma
Poderes Funções típicas Funções atípicas
pessoa.
Criar leis O Brasil adota o presidencialismo como sistema de governo.
Administrar
Legislativo Fiscalizar (Tribunal de
Julgar conflitos
Contas) 1.8.3 Formas de governo
Criar leis A forma de governo refere-se à relação entre governantes e
Executivo Administrar governados.
Julgar conflitos
• Monarquia
Administrar
Judiciário Julgar conflitos Hereditariedade: o poder é passado de pai para filho.
Criar leis
Vitaliciedade: o detentor do poder fica no cargo até a morte e não
É importante notar que a atividade administrativa está presente necessita prestar contas.
nos três poderes. Por isso, o Direito Administrativo, por ser um dos
• República
ramos do Direito Público, disciplina não somente a atividade admi-
nistrativa do Poder Executivo, mas também as do Poder Legislativo Eletividade: o governante precisa ser eleito para chegar ao poder.
e do Judiciário. Temporalidade: ao chegar ao poder, o governante ficará no cargo
por tempo determinado e deve prestar contas.
1.8 Noções de governo O Brasil adota a república como forma de governo.
Governar é atividade política e discricionária, tendo conduta inde-
pendente. O ato de governar está relacionado com as funções políticas
do Estado: de comandar, coordenar, direcionar e fixar planos e dire-
trizes de atuação do Estado.
O governo é o conjunto de Poderes e órgãos constitucionais res-
ponsáveis pela função política do Estado. Ele está diretamente ligado
às decisões tomadas pelo Estado, exercendo direção suprema e geral. Ao
fazer uma analogia, podemos dizer que o governo é o cérebro do Estado.

1.8.1 Função de governo e


D
função administrativa A
É comum aparecer em provas de concursos públicos questões que D
confundem as ideias de governo e de Administração Pública. Para M
evitar esse erro, analisaremos as diferenças entre as expressões.
O governo é uma atividade política e discricionária e que pos-
sui conduta independente. Para ele, a administração é uma atividade
neutra, normalmente vinculada à lei ou à norma técnica, e exercida
mediante conduta hierarquizada.
Não podemos confundir governo com Administração Pública, pois
o governo se encarrega de definir os objetivos do Estado e as políticas
para o alcance desses objetivos. A Administração Pública, por sua vez,
se encarrega de atingir os objetivos traçados pelo governo.
O governo atua mediante atos de soberania ou, ao menos, de
autonomia política na condução dos negócios públicos. A adminis-
tração é atividade neutra, normalmente vinculada à lei ou à norma
técnica. Governo é conduta independente, enquanto a administração
é hierarquizada.
O governo deve comandar com responsabilidade constitucional
e política, mas sem responsabilidade técnica e legal pela execução. A
administração age sem responsabilidade política, mas com responsa-
bilidade técnica e legal pela execução dos serviços públicos.

1.8.2 Sistemas de governo


Sistema de governo refere-se ao grau de dependência entre o Poder
Legislativo e Executivo.
• Parlamentarismo
É caracterizado por uma grande relação de dependência entre o
Poder Legislativo e o Executivo.
A chefia do Estado e a do Governo são desempenhadas por pes-
soas distintas.
Chefe de Estado: responsável pelas relações internacionais.
Chefe de governo: responsável pelas relações internas, o chefe de
governo é o da Administração Pública.
• Presidencialismo
É caracterizado por não existir dependência, ou quase nenhuma,
entre os Poderes Legislativo e Executivo.

125
NOÇÕES DE DIREITO
CONSTITUCIONAL
INTRODUÇÃO AO DIREITO CONSTITUCIONAL
importância dessa matéria, é possível que alguma jurisprudência do
1 INTRODUÇÃO AO DIREITO STF seja contrária ao próprio texto constitucional. Dessa forma, o
CONSTITUCIONAL aluno precisa ter uma dupla percepção: conhecer o texto da Consti-
tuição e conhecer a jurisprudência do STF.
1.1 Noções gerais Contudo, ainda existe outra fonte de conhecimento essencial para
Para iniciarmos o estudo do Direito Constitucional, alguns con- o aprendizado em Direito Constitucional: a doutrina. A doutrina é
ceitos precisam ser esclarecidos. o pensamento produzido pelos estudiosos do Direito Constitucional.
Primeiramente, faz-se necessário conhecer qual será o objeto de Conhecer a doutrina também faz parte de sua preparação.
estudo desta disciplina jurídica: Constituição Federal. Em suma, para estudar Direito Constitucional é necessário estudar:
A Constituição Federal é a norma mais importante de todo o • A Constituição Federal;
ordenamento jurídico brasileiro. Ela é a norma principal, a norma • A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal;
fundamental. • A doutrina do Direito Constitucional.
Se pudéssemos posicionar as espécies normativas na forma de uma Neste estudo, apresentaremos o conteúdo de Direito Constitu-
pirâmide hierárquica, a Constituição Federal apareceria no topo desta cional atualizado, objetivo e necessário para prova, de forma que se
pirâmide, ao passo que as outras espécies normativas estariam todas tenha à mão um material suficiente ao estudo para concurso público.
abaixo dela, como na ilustração:
Atenção
CF/1988 Metodologia de Estudo
A preparação em Direito Constitucional precisa observar três passos:
LEI, MP 1. Leitura da Constituição Federal;
DECRETO
2. Leitura de material teórico;
PRESIDENCIAL 3. Resolução de exercícios.
O aluno que seguir esses passos certamente chegará à aprovação
PORTARIA em concurso público. Essa é a melhor orientação para quem está
iniciando os estudos.
Para que sua preparação seja adequada, é necessário ter em vista uma
Constituição atualizada. Isso por conta de que a Constituição Federal 1.1.1 Classificações
atual foi promulgada em 1988, mas já sofreu diversas alterações. Significa A partir de algumas características que possuem as constituições, é
dizer, numa linguagem mais jurídica, que ela foi emendada. possível classificá-las, agrupá-las. As classificações a seguir não são as
As emendas constitucionais são a única forma de alteração do texto únicas possíveis, realçando apenas aqueles elementos mais comumente
constitucional. Portanto, uma lei ou outra espécie normativa hierar- cobrados nos concursos públicos.
quicamente inferior à Constituição jamais poderá alterar o seu texto. • Quanto à origem: a Constituição Federal pode ser promulgada
Neste ponto, caberia a seguinte pergunta: o que torna a Cons- ou outorgada. A promulgada é aquela decorrente de um ver-
tituição Federal a norma mais importante do direito brasileiro? A dadeiro processo democrático para a sua elaboração, fruto de
resposta é muito simples: a Constituição possui alguns elementos que uma Assembleia Nacional Constituinte. A outorgada é aquela
a distinguem das outras espécies normativas, por exemplo: imposta, unilateralmente, por um governante ou por um grupo
• Princípios constitucionais; de pessoas, ao povo.
• Direitos fundamentais; • Quanto à possibilidade de alteração, mutação: podem ser fle-
xíveis, rígidas ou semirrígidas. As flexíveis não exigem, para a
• Organização do Estado;
sua alteração, qualquer processo legislativo especial. As rígidas,
• Organização dos Poderes. contudo, dependem de um processo legislativo de alteração mais
De nada adiantaria possuir uma Constituição Federal com tantos difícil do que aquele utilizado para as normas ordinárias. Já as
elementos essenciais ao Estado se não existisse alguém para protegê-la. constituições semirrígidas são aquelas cuja parte de seu texto
O próprio texto constitucional previu um Guardião para a Constitui- só pode ser alterada por um processo mais difícil, sendo que
ção: o Supremo Tribunal Federal (STF). outra parte pode ser mudada sem qualquer processo especial.
O STF é o órgão de cúpula do Poder Judiciário e possui como • Quanto à forma adotada: podem ser escritas/dogmáticas e
atribuição principal a guarda da Constituição. Ele é tão poderoso que, costumeiras. As dogmáticas são aquelas que apresentam um
se alguém editar uma norma que contrarie o disposto no texto cons- único texto, no qual encontramos sistematizadas e organizadas
titucional, o STF a declarará inconstitucional. Uma norma declarada todas as disposições essenciais do Estado. As costumeiras são
inconstitucional pelo STF não produzirá efeitos na sociedade. aquelas formadas pela reunião de diversos textos esparsos, reco-
nhecidos pelo povo como fundamentais, essenciais.
Além de guardião da Constituição Federal, o STF possui outra
atribuição: a de intérprete do texto fundamental. É o STF quem define • Quanto à extensão: podem ser sintéticas ou analíticas. As
a melhor interpretação para esta ou aquela norma constitucional. sintéticas são aquelas concisas, enxutas e que só trazem as dis-
posições políticas essenciais a respeito da forma, organização,
Quando um Tribunal manifesta sua interpretação, dizemos que ele
fundamentos e objetivos do Estado. As analíticas são aquelas que
revelou sua jurisprudência (o pensamento dos tribunais), sendo a do
abordam diversos assuntos, não necessariamente relacionados
STF a que mais interessa para o estudo do Direito Constitucional.
com a organização do Estado e dos poderes.
É exatamente neste ponto que se encontra a maior importância
A partir das classificações apresentadas acima, temos que a Cons-
do STF para o objetivo que se tem em vista: é essencial conhecer
tituição Federal de 1988 pode ser considerada por promulgada, rígida,
sua jurisprudência, pois costuma cair em prova. Para se ter ideia da
escrita e analítica.

186
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
Eles são independentes e harmônicos entre si, e para se garantir
2 PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS essa harmonia, a doutrina norte-americana desenvolveu um sistema que
Os Princípios fundamentais, também chamados de Princípios mantém a igualdade entre os poderes: sistema de freios e contrapesos
constitucionais, formam a base de toda a organização do Estado Bra- (checks and balances).
sileiro. Como bem citado por José Afonso da Silva, na obra Curso O sistema de freios e contrapesos adotado pela nossa Constituição,
de Direito Constitucional Positivo, “os Princípios Fundamentais visam revela-se nas inúmeras medidas previstas no texto constitucional que
essencialmente definir e caracterizar a coletividade política e o Estado condicionam a competência de um poder à apreciação de outro poder
e enumerar as principais opções político-constitucionais”. de forma a garantir o equilíbrio entre os três poderes. A seguir estão
Exatamente em razão de sua importância, a Constituição Federal alguns exemplos delas:
os colocou logo no início, pois eles são a base de todo o texto. O que se • Necessidade de sanção do chefe do Poder Executivo para que
segue a partir desses princípios é mero desdobramento de seu conteúdo. um projeto de lei aprovado pelo Poder Legislativo possa entrar
Quem se prepara para concurso público deve saber que, quando em vigor.
esse tema é abordado, costuma-se trabalhar questões com o conteúdo • Processo do chefe do Poder Executivo por crime de respon-
previsto nos arts. 1º ao 4º do texto constitucional. Geralmente, aparece sabilidade a ser realizado no Senado Federal, cuja sessão de
apenas texto constitucional puro, mas, dependendo do concurso, as julgamento é presidida pelo presidente do STF.
bancas costumam cobrar questões doutrinárias mais difíceis. • Necessidade de apreciação pelo Poder Legislativo das Medidas
Quais princípios serão abordados? Provisórias editadas pelo chefe do Poder Executivo.
• Princípio da tripartição dos poderes; • Nomeação dos ministros do STF é feita pelo Presidente da
• Princípio federativo; República depois de aprovada pelo Senado Federal.
• Princípio republicano; Em todas as hipóteses acima apresentadas, faz-se necessária a
• Presidencialismo; participação de mais de um Poder para a consecução de um ato admi-
nistrativo. Isso cria uma verdadeira relação de interdependência entre
• Princípio democrático;
os poderes, o que garante o equilíbrio entre eles.
• Fundamentos da República Federativa do Brasil;
Por último, não se pode esquecer que a separação dos poderes
• Objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil; é uma das cláusulas pétreas por força do art. 60, § 4º, inciso III, da
• Princípios que regem as relações internacionais do Brasil. Constituição Federal.
Significa dizer que a separação dos poderes não pode ser abolida
2.1 Princípio da tripartição dos poderes do texto constitucional por meio de emenda:
Esse princípio, também chamado de princípio da separação dos Art. 60 [...]
poderes, originou-se, historicamente, numa tentativa de limitar os § 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente
poderes do Estado. Alguns filósofos perceberam que, se o poder do a abolir: [...]
Estado estivesse dividido entre três entidades diferentes, seria possível III – A separação dos Poderes.
que a sociedade exercesse um maior controle de sua utilização.
Na verdade, a divisão não é do poder estatal, haja vista ser ele uno, indi- 2.2 Princípio federativo D
visível e indelegável, mas apenas uma divisão das suas funções. Nos dizeres Esse princípio apresenta a forma de Estado adotada no Brasil:
de José Afonso da Silva, na obra Curso de Direito Constitucional Positivo: C
federação. A forma de Estado reflete o modo de exercício do poder
O poder político, uno, indivisível e indelegável, se desdobra e se O
político em função do território. É uma forma composta ou complexa,
compõe de várias funções, fato que permite falar em distinções N
visto que prevalece a pluralidade de poderes políticos internos. Está
das funções, que fundamentalmente são três: a legislativa, a exe- baseada na descentralização política do Estado, cuja representação se
cutiva e a jurisdicional.
dá por meio de quatro entes federativos:
A previsão constitucional desse princípio encontra-se no art. 2º,
• União;
que diz:
• Estados;
Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si,
o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. • Distrito Federal;
Esses são os três poderes, cada qual responsável pelo desenvolvi- • Municípios.
mento de uma função principal do Estado: Cada ente federativo possui sua própria autonomia política, o que
• Poder Executivo: função principal (típica) de administrar o não pode ser confundido com o atributo da soberania, pertencente ao
Estado. Estado Federal.
• Poder Legislativo: função principal (típica) de legislar e fisca- A autonomia de cada ente confere-lhe a capacidade política de,
lizar as contas públicas. inclusive, criar sua própria Constituição. Apesar de cada ente federativo
• Poder Judiciário: função principal (típica) jurisdicional. possuir essa independência, não se pode esquecer que a existência do
pacto federativo pressupõe a existência de uma Constituição Federal e
Além da sua própria função, a Constituição criou uma sistemática
da impossibilidade de separação (princípio da indissolubilidade do vín-
que permite a cada um dos poderes o exercício da função do outro
culo federativo). Havendo quebra do pacto federativo, a Constituição
poder. Essa função acessória chamamos de função atípica:
Federal prevê como instrumento de manutenção da forma de Estado
• Poder Executivo: função atípica de legislar e julgar. a chamada Intervenção Federal, a qual será estudada em momento
• Poder Legislativo: função atípica de administrar e julgar. oportuno.
• Poder Judiciário: função atípica de administrar e legislar. Não existe hierarquia entre os entes federativos. O que os distin-
Dessa forma, pode-se dizer que além da própria função, cada poder gue é a competência que cada um recebeu da Constituição Federal.
exerce de forma acessória a função do outro poder. Deve-se ressaltar que os estados e o Distrito Federal possuem direito
Uma pergunta sempre surge na cabeça dos candidatos: qual dos de participação na formação da vontade nacional ao possuírem repre-
três poderes é mais importante? sentantes no Senado Federal. Os municípios não possuem represen-
A única resposta possível é a inexistência de poder mais impor- tantes no Senado Federal. Caracteriza-se, ainda, pela existência de
tante. Cada poder possui sua própria função de forma que não se pode um guardião da Constituição Federal, o Supremo Tribunal Federal
afirmar que exista hierarquia entre os poderes do Estado.

187
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS
(STF). A doutrina tem apontado para algumas características da forma É importante destacar que o princípio republicano não é uma cláu-
federativa brasileira: sula pétrea, pois esse princípio não se encontra listado no rol das cláusulas
• Tricotômica: a Federação é constituída em três níveis: federal, pétreas do art. 60, § 4º, da Constituição Federal. Apesar disso, a Cons-
estadual e municipal. O Distrito Federal não é considerado nessa tituição o considerou como princípio sensível. Princípios sensíveis são
classificação, haja vista possuir competência híbrida, ou seja, ora aqueles que, se tocados, ensejarão a chamada Intervenção Federal, con-
age como estado ora como município. forme previsto no art. 34, inciso VII, da Constituição Federal de 1988:
• Centrífuga: essa característica reflete a formação da federação Art. 34 A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal,
brasileira. É a formação “de dentro para fora”. A força de cria- exceto para: [...]
ção do estado federal brasileiro surgiu a partir de um Estado VII – assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais:
Unitário para a criação de um estado federado, ou seja, o poder a) forma republicana, sistema representativo e regime democrático.
centralizado que se torna descentralizado. O poder político era
concentrado nas mãos de um só ente e, depois, passa a fazer 2.4 Presidencialismo
parte de vários entes federativos. O Presidencialismo é o sistema de governo adotado no Brasil. O
• Por desagregação: ocorre quando um estado unitário resolve sistema de governo rege a relação entre o Poder Executivo e o Legis-
se descentralizar politicamente, desagregando o poder central lativo medindo o grau de dependência entre eles. No presidencialismo,
em favor de vários entes titulares de poder político. prevalece a separação entre os Poderes Executivo e Legislativo, os quais
Como última observação, não menos importante, a forma fede- são independentes e harmônicos entre si.
rativa de Estado também é uma cláusula pétrea. A Constituição Federal de 1988 declara, em seu art. 76, que:
Depois de estudar os princípios da tripartição dos poderes e o O Poder Executivo é exercido pelo Presidente da República, auxiliado
poder federativo, passa-se a ver como eles estão estruturados dentro pelos Ministros de Estado.
da República Federativa do Brasil. Uma informação importante antes O Presidencialismo possui uma característica muito importante,
disso: a autonomia política existente em cada ente federativo pode ser que é a concentração das funções executivas em uma só pessoa, o Presi-
percebida por meio de existência dos poderes em cada um. dente, o qual é eleito pelo povo, e exerce ao mesmo tempo três funções:
• União chefe de Estado, chefe de governo, e chefe da Administração Pública.
• Poder Executivo – Presidente da República. A função de chefe de Estado diz respeito a todas as atribuições do
presidente nas relações externas do País. Como chefe de governo, o presi-
• Poder Legislativo – Congresso Nacional.
dente possui inúmeras atribuições internas no que tange à governabilidade
• Poder Judiciário – STF e demais órgãos judiciais do país. Já como chefe da Administração Pública, o presidente exercerá
federais. as funções relacionadas com a chefia da Administração Pública federal.
• Estados
• Poder Executivo – Governador. 2.5 Regime democrático
• Poder Legislativo – Assembleia Legislativa. Este princípio revela o regime de governo adotado no Brasil.
Caracteriza-se pela existência do Estado Democrático de Direito e
• Poder Judiciário – Tribunal de Justiça.
pela preservação da dignidade da pessoa humana.
• Municípios A democracia significa o governo do povo, pelo povo e para o povo.
• Poder Executivo – Prefeito. É a chamada soberania popular. Sua fundamentação constitucional
• Poder Legislativo – Câmara de Vereadores. encontra-se no art. 1º da CF/1988/1988:
• Poder Judiciário – Não existe. Art. 1º [...]
• Distrito Federal Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio
de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.
• Poder Executivo – Governador.
Esse princípio também é conhecido como princípio sensível e,
• Poder Legislativo – Câmara Legislativa. no Brasil, caracteriza-se por seu exercício se dar de forma direta e
• Poder Judiciário – Tribunal de Justiça. indireta. Por esse motivo, a democracia brasileira é conhecida como
semidireta ou participativa. Esse tema, porém, será abordado na seção
2.3 Princípio republicano sobre Direitos Políticos.
O princípio republicano representa a forma de governo adotada • Forma de Estado → Federativa
no Brasil. A forma de governo reflete o modo de aquisição e exercício • Forma de Governo → Republicana
do poder político, além de medir a relação existente entre o governante • Sistema de Estado → Presidencialista
e o governado. • Regime de Estado → Democrático
A melhor forma de entender esse instituto é conhecendo suas
características. A primeira característica decorre da análise etimológica 2.6 Fundamentos da República
da expressão res publica. Essa expressão, que dá origem ao princípio ora
estudado, significa coisa pública, ou seja, em um Estado republicano,
Federativa do Brasil
o governante cuida da coisa pública, governa para o povo. Entre os Princípios Constitucionais mais importantes, destacam-se
Outra característica importante é a temporariedade. Esse atributo os Fundamentos da República Federativa do Brasil, os quais estão
revela o caráter temporário do exercício do poder político. Por causa elencados no art. 1º da Constituição Federal de 1988:
desse princípio, em nosso Estado, o governante permanece no poder Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indis-
por tempo determinado. solúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em
Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
Em uma República, o governante é escolhido pelo povo. Essa é
I – A soberania;
a chamada eletividade. O poder político é adquirido pelas eleições,
sendo que a vontade popular se concretiza nas urnas. II – A cidadania;
III – A dignidade da pessoa humana;
Por fim, em um Estado republicano, o governante pode ser res-
ponsabilizado por seus atos. IV – Os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V – O pluralismo político.
A forma de governo republicana se contrapõe à monarquia, cujas
características são opostas às estudadas aqui.

188
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
• Soberania: é um fundamento que possui estreita relação com Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações
o Poder do Estado. É a capacidade que o Estado tem de impor internacionais pelos seguintes princípios:
sua vontade. Esse princípio possui uma dupla acepção: soberania I – Independência nacional;
interna e externa. II – Prevalência dos direitos humanos;
• A soberania interna é a capacidade de impor o poder estatal III – Autodeterminação dos povos;
no âmbito interno, perante os administrados, sem se sujeitar a IV – Não intervenção;
qualquer outro poder. V – Igualdade entre os Estados;
• A soberania externa é percebida pelo reconhecimento dos VI – Defesa da paz;
outros Estados soberanos de que o Estado Brasileiro possui VII – Solução pacífica dos conflitos;
sua própria autonomia no âmbito internacional. VIII – Repúdio ao terrorismo e ao racismo;
• Cidadania: como princípio revela a condição jurídica de quem é IX – Cooperação entre os povos para o progresso da humanidade;
titular de direitos políticos. Ela permite ao indivíduo que possui X – Concessão de asilo político.
vínculo jurídico com o Estado participar de suas decisões e Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integra-
escolher seus representantes. O exercício da cidadania guarda ção econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina,
estreita relação com a democracia, pois essa autoriza a partici- visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações.
pação popular na formação da vontade estatal. Esses princípios revelam características muito interessantes do
• Dignidade da pessoa humana: é considerada o princípio com Brasil, ressaltando sua soberania e independência em relação aos outros
maior hierarquia axiológica da Constituição. Sua importância se Estados do mundo.
traduz na medida em que deve ser assegurada, primordialmente, • Independência nacional: destaca, no âmbito da soberania
pelo Estado, mas também deve ser observada nas relações parti- externa, a relação do país com os demais estados, uma relação
culares. Como fundamento, embasa toda a gama de direitos fun- de igualdade, sem estar subjugado a outro Estado.
damentais, os quais estão ligados em sua origem a esse princípio.
• Prevalência dos direitos humanos: vai ao encontro do fun-
A dignidade da pessoa humana representa o núcleo mínimo de
damento da dignidade da pessoa humana, característica muito
direitos e garantias que devem ser assegurados aos seres humanos.
importante que se revela por meio do grande rol de direitos
• Valor social do trabalho e da livre iniciativa: revela a adoção e garantias fundamentais previstos na Constituição Federal.
de uma economia capitalista ao mesmo tempo em que elege o
• Autodeterminação dos povos: por esse princípio, respeitam-se
trabalho como elemento responsável pela valorização social. Ao
as decisões e escolhas de cada povo. Entende-se que cada povo
mesmo tempo em que a Constituição garante uma liberdade
é capaz de escolher o seu próprio caminho político e de resolver
econômica, protege o trabalho como elemento relacionado à
suas crises internas sem necessidade de intervenção externa de
dignidade do indivíduo como membro da sociedade.
outros países.
• Pluralismo político: ao contrário do que parece, não está
• Não intervenção: no mesmo sentido de preservação e respeito
relacionado apenas com a pluralidade de partidos políticos,
à soberania dos demais Estados.
devendo ser entendido sob um sentido mais amplo, pois revela
uma sociedade em que pluralidade de ideias se torna um ideal • Igualdade entre os Estados: sendo que cada país é reconhecido
a ser preservado. Liberdades, como de expressão, religiosa ou como titular de soberania na mesma proporção que os demais,
D
política estão entre as formas de manifestação desse princípio. sem hierarquia entre eles.
C
• Defesa da paz: princípio fundamental que funciona como
O
2.7 Objetivos fundamentais da bandeira defendida pelo Brasil em suas relações internacionais.
N
• Solução pacífica dos conflitos: revela o lado conciliador do
República Federativa do Brasil governo brasileiro, que por vezes intermedeia relações contur-
Outro grupo de princípios constitucionais que costuma ser cobrado badas entre outros chefes de estado.
em prova é o dos objetivos da República Federativa do Brasil, os quais • Repúdio ao terrorismo e ao racismo: é princípio decorrente da
estão previstos em um rol exemplificativo no art. 3º da Constituição dignidade da pessoa humana; terrorismo e racismo são tomados
Federal de 1988: como inaceitáveis em sociedades modernas.
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa
• Cooperação entre os povos para o progresso da humanidade:
do Brasil:
envolvimento em pesquisas científicas para cura de doenças,
I – Construir uma sociedade livre, justa e solidária; bem como na defesa e preservação do meio ambiente, entre
II – Garantir o desenvolvimento nacional; outros.
III – Erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigual- • Concessão de asilo político: como princípio constitucional,
dades sociais e regionais;
fundamenta a decisão brasileira de amparar estrangeiros que
IV – Promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, estejam sendo perseguidos em seus países por questões políticas
cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
ou de opinião.
Os objetivos são verdadeiras metas a serem perseguidas pelo
Destaca-se, entre os princípios que regem as relações interna-
Estado com o fim de garantir os ditames constitucionais. Deve-se ter
cionais, um mandamento para que a República Federativa do Brasil
muita atenção em relação a esses dispositivos, pois eles costumam ser
busque a integração econômica, política, social e cultural dos povos
cobrados em prova fazendo-se alterações dos termos constitucionais.
da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-
Outra característica que distingue os fundamentos dos objetivos é -americana de nações. Repare que o texto constitucional mencionou
o fato de os fundamentos serem nominados com substantivos ao passo América Latina, não América do Sul. Parece não haver muita dife-
que os objetivos se iniciam com verbos. Essa diferença pode ajudar a rença, mas esse tema já foi cobrado em prova e a troca dos termos é
perceber qual a resposta correta na prova. considerada errada.

2.8 Princípios que regem as relações


internacionais do Brasil
Têm-se os princípios que regem as relações internacionais, os quais
estão previstos no art. 4º da Constituição Federal de 1988:

189
NOÇÕES DE
ADMINISTRAÇÃO
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO
Vargas, que aplicou o conceito de “Estado novo”, teve na DASP (Depar-
1 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA tamento Administrativo do Serviço Público) a principal iniciativa na
implementação do modelo burocrático. A DASP, que, seguindo a teo-
1.1 Evolução do Estado Brasileiro ria de Max Weber, colocava a área administrativa acima das demais,
Tema explorado em todos os editais no programa de Administra- centraliza inclusive o processo de compras, orçamento e fiscalização,
ção Geral e Pública, a análise da evolução do Estado brasileiro quanto introduzindo os elementos da AFO (Administração Financeiro-orça-
aos modelos de administração requer uma análise em que o aluno, mentário) no Estado brasileiro e do direito administrativo, criando, na
para assimilar o tema e não se confundir na prova, deve se apartar época, o Estatuto dos Funcionários Públicos Civis da União.
relativamente do senso crítico e ter o foco na definição formal de A consolidação do modelo burocrático se dá apenas em 1988 com
modelos de administração. a promulgação da Constituição Federal. Várias medidas representam
A evolução do Estado brasileiro é analisada a partir das primeiras esta consolidação, como os princípios da gestão pública, presentes no
décadas do século XX, até a situação atual; é neste período histórico artigo 37, a obrigatoriedade de concursos públicos. Porém, as principais
que se concentram as reformas de estado que são exploradas nas provas. medidas de consolidação do modelo burocrático são o controle entre
os poderes e a criação do TCU (Tribunal de Contas da União). O
1.2 Modelo Patrimonialista controle de ações no modelo burocrático é hierárquico, ou seja, existe
Modelo patrimonialista – Primeiro modelo da administração relação direta verticalizada entre o órgão que controla e o controlado.
pública do Brasil. Tem como principal característica o fato de não O modelo burocrático trouxe como consequência negativa uma
distinguir que é bem público e bem particular, pois o governante trata administração burocratizada, ineficaz, com processos redundantes,
a coisa pública como de sua propriedade, inclusive agregando ao patri- em que o Estado está acima do cidadão e tem como referência apenas
mônio privado propriedades e recursos públicos. suas próprias ações. Durante vários governos, existiram tentativas de
Este modelo surge na Monarquia e se mantém com a proclamação superação desses problemas, com a criação inclusive de Ministérios
na república. O conceito de propriedade pública surge com a procla- da desburocratização, e em particular com o Decreto Lei 200/67, na
mação da República, quando as pessoas adquirem a cidadania, pois, na tentativa de introduzir a administração gerencial no Brasil.
Monarquia, a propriedade privada criava uma situação onde as receitas
geradas pelos impostos eram gastas de forma que o monarca bem 1.4 Administração Gerencial
entendesse. Portanto, o modelo patrimonialista se mantém na tran- A segunda grande reforma do Estado ocorre na década de 1990,
sição da monarquia para a república. Estado absolutista é um regime com a implementação da administração gerencial, principalmente no
em que o governante tem o poder centralizado e absoluto, apenas ele governo Fernando Henrique Cardoso com o ministro Bresser Pereira,
toma decisões e manda e beneficia seus apoiadores. É simbolizada pela no então MARE (Ministério da Administração Federal e Reforma do
relação que a burguesia tinha com os Reis que apoiava. Portanto, existe Estado), que deu origem ao atual Ministério do Planejamento e Gestão.
uma clara relação do Modelo patrimonialista com o regime absolutista.
Situações como o nepotismo, que é favorecer com postos e
1.4.1 A flexibilização administrativa
cargos na estrutura do estado parentes, sem que estes sejam quali- Na administração gerencial, o controle passa a ser finalístico, não
ficados formalmente para tal atividade, é uma prática vinculada ao havendo relação hierárquica entre quem controla e quem é controlado,
patrimonialismo. baseada na legalidade. Como, por exemplo, o controle do Estado na
administração indireta, em que a direta exerce o controle finalístico
1.3 Modelo Burocrático sobre as fundações ou autarquias.
Modelo burocrático – Concebido por Max Weber, considerado o pai Como principal característica da implementação do gerencialismo,
N
da sociologia. Ele desenvolveu a teoria da burocracia, que basicamente temos a Emenda Constitucional 19/1998 e a criação da MARE.
A
consiste na divisão de uma organização (pública ou privada) em 6 áreas;
D
financeira, contábil, técnica, comercial, de segurança e administrativa, Fique ligado M
sendo que a última controla as demais. O modelo burocrático introduz
As reformas que introduziram novos modelos administrativos no
a racionalidade (na tomada de decisões) e a eficiência (que inclusive hoje Estado brasileiro foram a dos anos 30, como o modelo burocrático,
no Brasil é um princípio constitucional de gestão pública – LIMPE). e a dos anos 90, com a introdução do modelo gerencial.
A tomada de decisão racional se contrapõe à tomada de decisão
comportamental. O racionalismo decisório consiste em 4 etapas cla- 1.5 Governança, Governabilidade
ramente definidas. e Accountability
▪  Identificar o problema;
Desde a última reforma administrativa ocorrida no Estado Brasi-
▪  Encontrar a origem do problema; leiro, nos anos 90 do século passado, quando a administração pública
▪  Resolver o problema; e incorporou conceitos e ferramentas do mercado, consagrados na ini-
▪  Assegurar que o problema não recorra. ciativa privada, o gerencialismo norteia a gestão pública, levando o
Para contrapor o nepotismo, enraizado no modelo patrimonialista, o Brasil ao NAP (Nova Administração Pública).
modelo burocrático valoriza profissionalismo por meio da meritocracia, ▪  Governança – Tem relação com a “forma” de governar.
em que os funcionários evoluem em suas carreiras com base em tempo ▪  Governabilidade - Tem relação com a “condição” para governar.
na carreira ou desempenho destacado na função, ou de uma competição ▪  Accountabililty – Tem relação com a “prestação de contas” dos
justa com outros funcionários. A primeira reforma do Estado se dá na atos do governo.
década de 1930, durante o governo Getúlio Vargas, e é caracterizada pela
introdução do modelo burocrático superando o modelo patrimonialista.

267
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
tem relação com a governabilidade a capacidade do chefe do executivo
1.5.1 O contexto da nap (nova
de articular uma base de apoio parlamentar no congresso nacional e
administração pública) nas câmaras estaduais e municipais. É possível que um governante
A última reforma administrativa do Estado brasileiro, que ocorreu tenha governabilidade social, mesmo que não tenha jurídica, como
nos anos de 1990, durante o primeiro mandato do presidente FHC, e nos casos de golpes de Estado, tendo como exemplo Getúlio Vargas.
foi liderada pelo então ministro Bresser Pereira, levou a administração
pública a manter as bases da burocracia, mas f lexibilizou a gestão 1.8 Accountability
pública, introduzindo ferramentas do mercado (corporativas), com o Este termo é utilizado sem tradução pela completa inexistência de
objetivo de democratizar as informações e gerar o empoderamento das outra palavra na língua portuguesa que consiga traduzi-lo. Accountabily
ações públicas por parte do cidadão. Entre os principais conceitos da tem relação com a prestação de contas exercida pelo governo para a
Nova Administração Pública, está o foco por buscar a Governança, a sociedade, e não apenas aos stakeholders, mas para todos, sociedade
Governabilidade Accountability nas ações administrativas. civil e outras instâncias governamentais.

1.6 Governança Existem basicamente dois tipos de accountabilitys, o vertical e o


horizontal, e sua descrição segue abaixo:
O termo governança é abrangente e é desdobrado em diversas ações
Accountability vertical – Exercido pela sociedade civil, através da
administrativas, porém, na administração pública e na abordagem em
prestação de contas do governo para a sociedade, de portais da trans-
provas de concursos públicos, a governança se traduz no envolvimento de
parência, prestação de contas orçamentarias, ações do governo etc. Ele
pessoas interessadas nas discussões acerca das futuras ações públicas. Tam-
é caracterizado por ser externo ao poder público.
bém faz parte da governança o controle que a sociedade civil tem sobre as
ações do governo, e a capacidade de a administração pública envolver todos Accountability horizontal – Exercido pelos órgãos que controlam as
nos processos a seguir e respeitar regras e códigos de conduta estabelecidos. ações internas, pelo controle dentro do próprio governo, como da admi-
nistração direta sobre a indireta, agências reguladoras frente as ações
Envolver a sociedade civil organizada nos debates sobre as ações
e sérvios públicos etc. Ele se caracteriza por ser interno ao governo.
administrativas do governo, consultando e debatendo com os interes-
sados, os chamados “stakeholders”, é a base da governança na admi-
1.9 Eficiência, Eficácia e Efetividade
nistração pública.
Também tem relação com a Nova Administração pública e estreita
O Estado brasileiro se utiliza de diversas ferramentas para exercer
relação com os elementos cima descritos, os chamados “3Es” da admi-
a governança na administração pública, e as principais ferramentas
nistração pública, que são a Eficiência, Eficácia e Efetividade.
seguem abaixo:
Segue abaixo a descrição de cada um dos elementos:
▪  Orçamento participativo.
Eficiência – Introduzida de forma explícita no artigo 37 da Cons-
▪  Conselhos gestores.
tituição pela Emenda Constituicional nº 19 de 1998, é a relação de
▪  Audiências públicas.
recursos destinados e resultados obtidos pela administração pública.
▪  Portal “e-democracia”. Em uma análise, é a relação que comumente é chamada de “custo-be-
▪  Controle social. nefício” nas ações públicas.
O exercício da governança na administração pública leva o cidadão Se, ao final do prazo estipulado previamente, for construído um
ao empoderamento das ações públicas, ou seja, detém o poder coletivo hospital público com os recursos (financeiros, de pessoas e mate-
de tomada de decisão, e é desenvolvida a consciência coletiva e social riais) destinados, sem necessidade de destinação complementar,
da participação nas ações públicas. será uma ação eficiente administrativamente. Portanto, a eficiência
tem relação com a atividade-meio.
1.7 Governabilidade Eficácia – Tem direta relação com a concreta efetivação da ação
O conceito da governabilidade tem direta relação com as con- que motiva a existência da unidade pública ou função dos servidores
dições para se exercer o poder, tanto do ponto de vista legal quanto públicos, a capacidade de atender aquilo que justifica a ação admi-
social. Um governo que não tem governabilidade não tem condições nistrativa. Portanto, a eficácia tem relação com a atividade-fim.
de envolver os interessados para debater as ações públicas, pois não tem Efetividade – Tem relação com a entrega do “produto final” para os
legitimidade para tais ações. Nesse sentido, podemos concluir que sem interessados, para o cliente-cidadão, fazendo estes agregarem valor e
governabilidade o governo não tem condições de exercer a governança aceitarem a ação pública como justificável. Portanto, a efetividade tem
como forma de administrar o Estado. relação com o “valor percebido” pelo cliente-cidadão.
A governabilidade tem um eixo jurídico e outro social, como dito, 1.9.1 Governo eletrônico e transparência
e a definição de cada um segue abaixo:
O conceito de Governo eletrônico, cada vez mais adotado pela
Governabilidade jurídica – Representa as condições legais para
administração pública, consiste basicamente no uso da tecnologia da
o exercício do poder, como o chefe do Executivo ser eleito democra-
informação, em particular da internet, para a comunicação e relações
ticamente em eleições para majoritárias para cargos do executivo. No
interna e externa à administração pública.
entanto, apenas a condição legal não garante a governabilidade, pois
Devido às dificuldades cada vez maiores de o cidadão se deslocar
um governo pode ter a legalidade, porém não tem mais possibilidade,
até os locais físicos em que o serviço público presta serviços, o governo
pelo dinamismo do cotidiano, de ter governabilidade política.
eletrônico tem sido um meio majoritário de relacionamentos com o
Governabilidade social – Representa as condições sociais, a exis-
poder público.
tência de uma base de apoio social para exercer o poder, a capacidade
Além da acessibilidade, que está baseada em permitir o acesso
de um governo em manter índices de aprovação e setores importantes
dos próprios computadores sem a necessidade de deslocamento físico,
da sociedade, que representem esta base de sustentação social. Também
a disponibilidade em acessar os serviços públicos através dos portais

268
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO
de “governo eletrônico” de locais em que o cidadão bem entender e transparência é possibilitar que o cidadão tenha controle total dos atos
tiver possibilidade, é garantida também a disponibilidade aos serviços. públicos, e o poder público, por sua vez, informe o cidadão de suas
Um exemplo de governo eletrônico é o site http://edemocracia. ações com tempo hábil para reação contrária.
camara.gov.br/ da Câmara dos Deputados, em que o cidadão pode, A prestação de contas tanto orçamentária quanto de seus atos é
além de ter acesso aos temas em debate na câmara, entrar em contato um ato de transparência, que hoje em dia tem grande vínculo com o
com os parlamentares. governo eletrônico, pois a administração pública se utiliza da internet
para divulgação de seus atos.
1.9.2 Serviços oferecidos O site http://www.portaldatransparencia.gov.br/, o chamado “Por-
Accountability – A prestação de contas das ações e movimentação tal da Transparência”, é um exemplo do uso de ferramentas de governo
orçamentária da administração pública, divulgação de editais de con- eletrônico para ter transparência nos atos públicos.
cursos públicos e licitação; é importante elemento do governo eletrô-
nico, possibilitando que todos, envolvidos diretamente ou não, tenham 1.9.5 Debate sobre a lei 12965/14
acesso às ações e aos gastos da gestão pública. Os debates que antecederam a sanção da Lei 12954/14, o cha-
Governança (empoderamento) – A possibilidade de criação, mado Marco Civil da Internet, são um exemplo claro da utilização dos
através da internet e dos sites que formam o governo eletrônico, de canais de governo eletrônico para os debates, acessos às informações
permitir o debate, a participação efetiva dos interessados em discus- e transparência, pois tanto utilizando redes sociais como o Twitter, o
sões que antecedem a tomada de decisão no serviço público, gerando portal e-democracia e sites do governo federal, a sociedade civil pode
o dinamismo e abrangência que espaços presenciais não permitem, debater e ter acesso às questões relacionadas ao tema.
como as audiências públicas.
Serviços – A oferta da atividade-fim, que é a prestação de serviços 1.10 Gestão de Qualidade
ao cidadão, através de agendamentos, segunda via de documentos, ins- As atuais demandas da administração pública, buscando adquirir
crições em processos de seleção, acesso aos variados serviços oferecidos vantagem competitiva, tem na gestão de qualidade um dos principais
pelos agentes públicos através da internet; é importante elemento do objetivos de todo gestor pública alinhado com a Nova Administração
governo eletrônico e garante, muitas vezes, a celeridade na prestação Pública. Em uma primeira análise, é possível definir a Gestão de Qua-
de tais serviços. lidade como as atividades que têm por objetivo atingir os mais autos
Ouvidoria – A possibilidade de permitir que o cidadão faça recla- graus de satisfação do cliente-cidadão com a prestação de serviços
mações, tire dúvidas ou obtenha informações sobre as ações públicas é públicos, sempre atendendo à expectativa destes quando buscam os
um dos objetivos centrais do governo eletrônico, pois muitas vezes o serviços públicos.
atendimento presencial ou mesmo telefônico, pela crescente demanda, A gestão de qualidade, portanto, está relacionada diretamente
não permite a celeridade e resposta adequados, o que, na maioria das com ações tomadas e normas de procedimentos adotadas por todos
vezes, é garantido pelo governo eletrônico. os níveis hierárquicos e departamentos de uma organização, sem a
necessidade de certificações externas para se atingir os níveis de qua-
1.9.3 Estágios de implementação lidade esperados externamente pelo cliente-cidadão, e planejados pelos
segundo a onu gestores públicos.
Os países que são aderentes da ONU (Organização das Nações O objetivo final de qualquer ação pública é a prestação de serviços
Unidas) podem seguir as orientações desta para a criação do governo com qualidade e satisfação. Nesse sentido, o foco sempre será externo,
eletrônico, através dos estágios de implementação propostos pela mas, para isso, é necessário buscar procedimentos e regras internas
organização: que garantam a qualidade. Não existe a gestão de qualidade apenas
N
Estágio I – Surgimento – É o lançamento e a disponibilização como um objetivo interno, sem focar naquilo que é uma demanda do A
dos portais e sites propriamente ditos, mesmo que tenham, em um cliente-cidadão. D
primeiro momento, informações limitadas. M
1.10.1 Princípios da gestão de qualidade
Estágio II – Aprimoramento – Momento em que o governo apre-
Atender às necessidades do cliente-cidadão – O foco sempre deve
senta informações mais complexas e detalhadas ao cidadão, aprimo-
ser agregar valor aos que recebem os serviços prestados pela adminis-
rando o conteúdo dos sites.
tração pública.
Estágio III – Interação – Criação de ferramentas que possibilitem
Manter a lucratividade/receita – A qualidade está diretamente
que o cidadão tenha acesso aos serviços, participe de debates sobre
ligada à saúde financeira-orçamentária da organização, no caso do
ações públicas, faça reclamações ou tire dúvidas sobre as ações públicas.
serviço público, não com a busca pelo lucro, mas através da saúde
Estágio IV – Transação – O governo eletrônico possibilita, além
orçamentária dentro do planejamento previsto.
de atividades-meio, como agendamentos, as atividades-fim, com todos
Não recorrência de falhas – Através de uma abordagem racional na
os serviços prestados ao cidadão (salvo exceções) sendo oferecidos pelo
tomada de decisões, utilizar ferramentas e adotar procedimentos para
governo eletrônico através de seus sites.
que eventuais falhas não voltem a acontecer na organização.
Estágio V – Conexão – O cidadão reconhece plenamente o governo
Planejamento – A organização adotar o planejamento com base
eletrônico como o meio de interação com a administração pública, e
em cenários prospectivos, nos níveis estratégico, tático e operacional.
passa a utilizar os sites e portais como a forma de acessar os serviços.
Comunicação – Ter uma comunicação bem realizada e que garanta
1.9.4 Transparência a tradução e o alinhamento de procedimentos em todos os níveis hie-
Assim como no sentido óptico do termo, ter transparência é não rárquicos e entre departamentos distintos.
obstruir a visão, não impedir o acesso. Na administração pública, ter

269
NOÇÕES DE
ARQUIVOLOGIA
GESTÃO DA INFORMAÇÃO E DE DOCUMENTOS
Os arquivos intermediários têm como principal função a econô-
1 GESTÃO DA INFORMAÇÃO E DE mica, pois se torna muito caro manter esse tipo de arquivo (semiativo,
DOCUMENTOS que possui baixo nível de consulta, ou seja, tem pouco interesse admi-
nistrativo para a organização que o produziu) nos setores de traba-
Segundo a Lei nº 8.159/1991, a gestão de documentos envolve
lho em que foram produzidos, já que, para isso, seria necessário um
o conjunto de procedimentos e operações técnicas referentes às ati-
espaço físico grande. Assim, é interessante guardar esses documentos
vidades de produção, tramitação e uso, avaliação e arquivamento de
em depósitos centralizados, pois sua guarda é devido principalmente a
documentos em fase corrente e intermediária, visando a sua eliminação
prazos prescricionais e precaucionais. Mesmo estando em um depósito
ou recolhimento para guarda permanente.
central, vale ressaltar que os arquivos intermediários continuam sendo
Ainda na mesma Lei: de propriedade do departamento que o gerou e que somente esse setor,
É dever do poder público a gestão documental e a proteção especial a ou alguém por ele autorizado, pode consultar os arquivos.
documentos de arquivo, como instrumento de apoio à administração,
à cultura e ao desenvolvimento científico e como elemento de prova 1.3 Fases da gestão de documentos
e informação.
São três as fases básicas da gestão documental:
A gestão de documentos é atingida por meio do planejamento,
organização, controle, coordenação dos recursos humanos, do espaço ▷ Produção.
físico e dos equipamentos, com o objetivo de aperfeiçoar o ciclo docu- ▷ Utilização.
mental. É qualquer atividade que vise a controlar o f luxo de docu- ▷ Destinação.
mentos existentes, de forma a assegurar a eficiência das atividades.
1.3.1 Produção
1.1 Objetivos Trata-se da elaboração de documentos em razão das atividades
▷ Garantir e assegurar de forma eficiente: a produção, a adminis- específicas de uma instituição ou setor.
tração, a manutenção e a destinação de documentos. Pode ser chamada de 1ª fase e possui as seguintes características:
▷ Garantir que a informação estará disponível no momento necessário ▷ Otimização na criação de documentos, evitando a reprodução
ao usuário (instituição, estado, pessoa). desnecessária de documentos.
▷ Eliminar documentos que não possuem valor administrativo, fiscal, ▷ Acontece na fase corrente.
legal ou para fins de pesquisa científica ou histórica.
▷ Assegurar o uso adequado da micrográfica, o processamento au- 1.3.2 Utilização
tomatizado de dados, e outras técnicas da gestão de informação. Elaboração de documentos em razão das atividades específicas de
▷ Contribuir para o acesso e a preservação dos documentos que uma instituição ou setor.
deverão ser guardados e preservados por seus valores históricos, Essa fase refere-se ao fluxo percorrido pelos documentos, neces-
científicos e valores secundários. sários ao cumprimento de sua função administrativa, assim como sua
guarda após o trâmite. Pode ser chamada de 2ª fase e possui as seguin-
1.2 Planejamento do sistema tes características:
de arquivamento ▷ Envolve as atividades de protocolo, classificação de documentos,
Primeiramente, antes de se implantar um gerenciamento de infor- controle de acesso e recuperação da informação, bem como a elab-
mação, necessita-se de um planejamento. Assim, tem de se definir um oração de instrumentos de recuperação.
importante aspecto: se há centralização ou descentralização dos arqui- ▷ É desenvolvida na gestão de arquivos correntes e intermediários.
vos correntes. Em outras palavras, no planejamento, a organização deve
definir se os arquivos ficaram centralizados – reunidos em um arquivo 1.3.3 Destinação
central – ou descentralizados – arquivados nos setores da organização. Envolve as atividades de análise, seleção e fixação de prazos de
A opção pela descentralização ocorre apenas na fase corrente. Nas guarda dos documentos, ou seja, implica decidir quais documentos
fases intermediária e permanente, é obrigatória a centralização. serão eliminados e quais serão preservados permanentemente. Acon-
Ao planejamento, também cabe a função de definir a coordenação tece nos arquivos corrente e intermediário.
dos serviços arquivísticos organizacionais. Assim, recomenda-se que Alguns documentos têm valor temporário, enquanto outros têm
haja uma centralização referente às normas, ao controle e à orienta- valor permanente. Além disso, alguns deles são frequentemente uti-
ção para evitar que haja tratamento diferenciado aos arquivos de uma lizados, enquanto outros nem tanto.
mesma instituição.
1.3.4 Eliminação de documentos
Como os arquivos correntes são aqueles que ainda estão em pro-
Deve-se avaliar e selecionar os documentos para determinar o
cesso de tramitação, ou seja, são consultados de modo frequente, eles
prazo de vida deles de acordo com seus valores informativo e probatório
devem ficar armazenados junto aos setores organizacionais que os
e, caso não os tenha, a eliminação.
produziram. Assim, por meio de técnicas de gerenciamento de infor-
mação, também chamado de gestão de documentos, deve-se estabe- Schellenberg ressaltou que a gestão na fase corrente tem como
lecer padronização quanto ao tratamento dos arquivos, definindo um objetivo:
planejamento e implementando um programa de gerenciamento de [...] fazer com que os documentos sirvam aos propósitos de sua cria-
informação na organização. Dessa forma, já deve ser implementado ção, tanto econômica quanto eficientemente possível, e realizar sua
adequada destinação depois que tiverem atendido aos seus objetivos.
nos setores um Plano de Classificação de Documentos e uma Tabela
de Temporalidade e Destinação dos Documentos. Devido a essas diferenças relativas ao valor e à frequência de uso,
surge a necessidade de avaliar, selecionar e eliminar os documentos.

340
NOÇÕES DE ARQUIVOLOGIA
Essas três atividades objetivam estabelecer o prazo de vida dos que conhecem a melhor maneira de agrupamento para realização de
documentos, de acordo com seus valores informativo e probatório. suas atividades.
Em relação ao seu valor, os documentos podem ser: Os documentos digitais devem, também, ser classificados e orde-
▷ Permanentes vitais: devem ser conservados indefinidamente por nados para evitar que a documentação fique desorganizada em meio
serem de importância vital para a organização. digital e para que não perca seu contexto dentro da instituição.
▷ Permanentes: devem ser conservados indefinidamente – apesar de 06.  Descrição
não serem vitais, a informação que contêm deve ser preservada em É o conjunto de elementos facilitadores na recuperação e localiza-
caráter permanente. ção dos documentos e abrange a elaboração de instrumentos de pes-
▷ Temporários: podem ser descartados, após determinado prazo, quisa e meios de busca, utilizando termos específicos, palavras-chave,
quando cessa o valor do documento. indexadores, dentre outros.
A descrição será mais eficaz e precisa em meio digital, se realizada
1.3.5 Funções arquivísticas de forma correta, garantindo a recuperação e localização mais rápida
Segundo Jean-Yves Rousseau e Carol Couture, na obra Os fun- da informação solicitada.
damentos da disciplina arquivística (Lisboa: Publicações Dom Quixote,
07.  Difusão
1998), as funções arquivísticas são sete: produção; avaliação; aquisição;
Está relacionada à divulgação do acervo, bem como à acessibilidade
conservação; classificação; descrição e difusão.
dos documentos, aproximando o arquivo e o usuário da informação.
01.  Produção
A difusão também será realizada de forma mais rápida, pois a
Criação ou recebimento de informações dentro da instituição, maioria das pessoas possui acesso à internet e utiliza deste meio para
evitando a criação de documentos com informações desnecessárias e suas pesquisas. Desta forma, o arquivo pode divulgar amplamente
atentando para sua veracidade e autenticidade. É o momento em que suas atividades, serviços e documentação, assim como disponibilizar
o documento passa a existir para a instituição. informações com maior praticidade e eficácia.
Quando se trata da criação de documentos arquivísticos digitais É evidente que a eliminação de documentos não pode ser feita
é importante estar atento a tudo que possa alterar a veracidade ou indiscriminadamente. Dessa forma, há postos-chave que sempre devem
autenticidade das informações contidas no documento, sendo extrema- ser observados:
mente importante a elaboração de normas e regras para a produção da
▷ Importância do documento com relação aos valores administrativo,
documentação, assim como utilizar métodos como assinatura digital,
fiscal ou legal (primário) ou informativo, probatório (secundário).
marca d’água e procedimentos padrão.
▷ Possibilidade e custos de reprodução (por exemplo:
02.  Avaliação
microfilmagem).
Processo que consiste na atribuição de valores, primário ou secun-
▷ Espaço, equipamento utilizado e custos de arquivamento.
dário, para os documentos, assim como prazos de guarda e destinação
▷ Prazos de prescrição e decadência de direitos, de acordo com a
final que pode ser a guarda permanente ou eliminação.
legislação vigente.
A avaliação também deve ser feita nos documentos em suporte
digital, pois nem toda a documentação produzida possui a necessidade ▷ Número de cópias existentes.
de ser preservada permanentemente, garantindo assim economia de Art. 9º, Lei nº 8.159/1991 A eliminação de documentos produzidos
por instituições públicas e de caráter público será realizada mediante
recursos materiais e financeiros.
autorização da instituição arquivística pública, na sua específica esfera
03.  Aquisição de competência.
É a entrada dos documentos nos arquivos corrente, intermediário
e permanente. Abrange o arquivamento corrente, assim como a trans-
1.3.6 Níveis de gestão de documentos
ferência e recolhimento da documentação. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação, a
O processo de aquisição deverá ter uma atenção e cuidado especial Ciência e a Cultura (Unesco), a aplicação de um programa de gestão
nos documentos arquivísticos digitais, pois seu controle é mais difícil de documentos públicos pode ser desenvolvida em quatro níveis:
de ser realizado e não possuem métodos que assegurem questões como 01.  Nível mínimo
autenticidade e veracidade. Estabelece que os órgãos devam contar, ao menos, com programa
N
04.  Conservação de retenção e eliminação de documentos e estabelecer procedimen-
A
É um conjunto de procedimentos que visa a manutenção da inte- tos para recolher à instituição arquivística pública aqueles de valor
R
gridade física do documento, desacelerando o processo de degradação. permanente. Q
A principal questão a ser levantada em relação à conservação dos 02.  Nível mínimo ampliado
documentos digitais é sobre a constante mudança que ocorre nos apa- Complementa o primeiro, com a existência de um ou mais centros
relhos e softwares tecnológicos, tornando os equipamentos obsoletos de arquivamento intermediário.
e causando a perda de informações. O profissional responsável deve 03.  Nível Intermediário
estar atento às novas tecnologias para evitar que a documentação, ou Compreende os dois primeiros, bem como a adoção de programas
parte dela, seja perdida. básicos de elaboração e gestão de formulários e correspondência e a
05.  Classificação implantação de sistemas de arquivos.
É a forma como os documentos serão reagrupados de acordo com
características comuns. A classificação deverá ser feita dentro dos
padrões estabelecidos pelos profissionais responsáveis pelo acervo,

341
GESTÃO DA INFORMAÇÃO E DE DOCUMENTOS
04.  Nível Máximo

Frequência
Inclui todas as atividades já descritas, complementadas por gestão Microfilmar
de diretrizes administrativas, de telecomunicações e o uso de recursos 5 anos 47 anos Eliminação após 5
anos
da automação.

1.3.7 Instrumentos de destinação

Aposentadoria
Nas atividades de avaliação e destinação são utilizados os ins- Microfilmar
5 anos 95 anos Eliminação após 5
trumentos de destinação, que são os atos normativos elaborados pela
anos
organização, nos quais são fixadas diretrizes quanto ao tempo e local
de guarda dos documentos.

Greves
Os dois principais instrumentos de destinação são: Guarda
5 anos 5 anos -
▷ Tabela de temporalidade de documentos. perm.

▷ Lista de eliminação.

Internas
Normas
Enquanto Guarda
- -
1.3.8 1) Tabela de temporalidade vigente perm.
de documentos
É o instrumento resultante da etapa de avaliação dos documentos. 1.3.9 2) Lista de eliminação
É a tabela de temporalidade que determina o prazo de guarda dos Consiste em uma relação específica de documentos a serem elimina-
documentos nas fases corrente e intermediária, bem como indica a dos de uma só vez e que necessita ser aprovada pela autoridade competente.
destinação final (eliminação ou recolhimento para guarda permanente).
Agora, veremos as ações coordenadas pelos instrumentos de des-
Em uma tabela de temporalidade de uma empresa, por exemplo, tinação dentro da rotina para a destinação de documentos na fase
poderia estar definido que os cartões de ponto deveriam ser conserva- corrente:
dos por sete anos no Serviço de Pessoal e depois eliminados; ou que os
▷ Verificar se os documentos a serem destinados estão organizados
contratos de prestação de serviços de limpeza deveriam ser conservados
de acordo com os conjuntos definidos na tabela de temporalidade.
em caráter definitivo no arquivo permanente.
▪  A tabela de temporalidade organiza os documentos a serem desti-
A tabela de temporalidade será elaborada pela Comissão Per-
nados, a partir de prazos e critérios para recolhimento e eliminação.
manente de Avaliação de Documentos ou Comissão de Análise de
▷ Verificar se cumpriram o prazo de guarda estabelecido.
Documentos (CPAD).
▪  Para proceder com a destinação, é preciso verificar, na tabela de
▷ Estrutura da tabela de temporalidade:
temporalidade, os prazos de guarda estabelecidos.
A tabela de temporalidade e destinação deve apresentar em sua
▷ Registrar os documentos a serem eliminados.
estrutura básica os seguintes elementos:
▪  As listas de eliminação, como vimos, relacionam os documentos
01.  Código de classificação.
a serem eliminados.
02.  Prazos de guarda nas fases corrente e intermediária. ▷ Proceder à eliminação.
03.  Destinação final (eliminação ou guarda permanente). ▪  O ato de eliminar os documentos também faz parte da fase de
04.  Observações necessárias à sua aplicação. destinação.
Deve-se elaborar um índice alfabético para agilizar a localização ▷ Elaborar termo de eliminação.
dos assuntos no plano ou código e na tabela. ▪  O termo de eliminação é o instrumento do qual consta o registro
de informações sobre documentos eliminados após terem cum-
Tabela de temporalidade com exemplos hipotéticos prido o prazo de guarda.
▷ Elaborar lista de documentos destinados à fase intermediária.
Prazos de guarda
Documentos

▪  De forma semelhante à lista de eliminação, existem as listas de


Destinação transferência (documentos destinados à fase intermediária) e as
Obs.
Corrente Intermediário final listas de recolhimento (documentos destinados à fase permanente).
▷ Operacionalizar a passagem ao arquivo intermediário.
▪  Permitir que os documentos passem ao arquivo intermediário
de pessoal
Legislação

Guarda também faz parte da fase de destinação.


10 anos 10 anos -
perm.
1.3.10 Principais rotinas e
procedimentos na destinação
de pessoal
Admissão

▷ Análise: são procedidos estudos dos documentos recebidos.


5 anos 47 anos Eliminação -
▷ Seleção: é feita a triagem dos documentos que devem permanecer
no arquivo.
▷ Avaliação: procedimento mais importante da destinação, pois nela
Férias

7 anos - Eliminação ocorre a verificação do valor probatório (de prova) ou informativo,


de pesquisa dos documentos e estabelecimento de prazos de vida
dos documentos.

342
NOÇÕES DE ARQUIVOLOGIA
Esse processo está vinculado à legislação, já que deve cumprir os ▪  Análise e avaliação dos documentos (valor).
prazos legais de armazenamento de alguns documentos, bem como ▪  Definição de quais serão objeto de arquivo permanente e quais
a discricionariedade da organização, quando falamos dos prazos serão eliminados.
precaucionais.
Recomenda-se, de acordo com a doutrina, que a avaliação seja feita 1.4 Métodos de arquivamento
nos documentos no arquivo corrente para se evitar que documentos Arquivamento é a técnica de como serão acondicionados e arma-
sejam transferidos para o arquivo intermediário de forma desnecessária, zenados os documentos, ou seja, o arquivamento corresponde à forma
o que gera burocracia e dispêndio de recursos desnecessários. como os documentos serão armazenados, visando obter precisamente a
Visando à garantia da eficiência administrativa, a avaliação deve sua localização no futuro. O método de arquivamento é determinado
ser precedida pela classificação dos documentos visando ao correto pela natureza dos documentos a serem arquivados e pela estrutura
arquivamento em suas classes. da entidade.
Os sistemas de arquivamento apenas fornecem a estrutura mecâ-
1.3.11 Benefícios da avaliação documental nica em relação a quais documentos devem ser arranjados. Os docu-
▷ Eficiência administrativa. mentos podem ser eficazmente arranjados em quase todos os sistemas
▷ Eliminação de documentos inúteis. de arquivamento. Qualquer sistema de arquivamento, não importa qual
seja, pode apresentar resultados satisfatórios se for adequadamente
▷ Agilidade na hora de encontrar um documento ou informação, pois
há redução do volume de documentos. aplicado. A insuficiência do arquivamento deve-se, com mais frequên-
cia às falhas humanas do que a falhas do sistema. Na escolha de um
▷ Prévia identificação dos documentos de guarda permanente.
método de arquivamento, deve-se considerar três premissas básicas: o
No fim da fase de destinação, há duas possibilidades para o docu- sistema escolhido deve ser simples, flexível e deve admitir expansões.
mento que perdeu o seu valor administrativo:
São duas classes – métodos básicos e padronizados – e integram
▷ Recolhimento: que é o deslocamento de um documento do arquivo dois grandes sistemas – direto e indireto.
intermediário para o arquivo permanente, para aqueles documentos
Existe, ainda, um método semi-indireto que não pertence às clas-
dotados de valor histórico ou secundário.
ses de métodos básicos e padronizados, é o método alfanumérico que
▷ Eliminação: destruição, doação ou venda de documentos julgados consiste numa combinação de letras e números.
destituídos do valor permanente, feito por uma Comissão Perma-
▷ Direto: ocorre quando a localização dos documentos é encontrada
nente de Avaliação.
de forma direta, ou seja, é encontrado diretamente no local onde se
1.3.12 Comissão Permanente de encontra arquivado.

Avaliação de Documentos (CPAD) ▷ Indireto: ocorre quando se necessita consultar antes em outro lugar
para se encontrar a localização do documento, por exemplo, um
A Comissão Permanente de Avaliação de Documentos também
índice ou código.
é conhecida como Comissão de Análise de Documentos, ou simples-
mente, CPAD. É esta comissão quem elabora a tabela de temporali- As principais classes utilizadas para organizar o arquivamento
dade e que deverá ser aprovada por autoridade competente do órgão dos documentos estão divididas em dois grandes métodos: básicos e
para que possa ser aplicada na instituição. Cada instituição cria sua padronizados.
tabela de temporalidade, uma vez que, concluída e aplicada, as even-
Alfabético
tuais alterações ou inclusões deverão ser submetidas à comissão que
a criou. Não há prazo de guarda padrão, nem prazo máximo para os Geográfico
documentos nas fases corrente ou intermediária, pois cada documento Simples
terá seu próprio prazo de acordo com o estabelecido na comissão. Cronológico
Numéricos
Nos órgãos públicos, a garantia de acesso, pelo cidadão, aos docu- Dígito-
mentos de arquivo e informações contidas neles, a disseminação de terminal
normas relativas à gestão de documentos de arquivo, a racionaliza- Básicos Enciclopédico
Alfabéticos
ção da produção documental arquivística pública e a preservação do Dicionário
patrimônio documental arquivístico da administração pública federal Duplex N
são finalidades do Sistema Informatizado de Gestão Arquivística de Ideográficos Decimal A
Documentos (SIGA). Numéricos R
Unitermo ou
Síntese dos pontos mais importantes da gestão de documentos: Indexação Q
▷ Produção: coordenada
▪  Elaboração dos documentos em decorrência das atividades da Variadex
instituição. Automático
▪  Criação de documentos essenciais à administração, evitando dupli- Padronizados Soudex
cação e emissão de vias desnecessárias. Mneumônico
▷ Utilização: Rôneo
▪  Protocolo, classificação, organização e arquivamento durante as
idades corrente e intermediária. 1.4.1 Métodos básicos
▪  Normas de acesso à documentação e à recuperação de informações. ▷ Alfabético ou onomástico.
▷ Destinação: ▷ Geográfico: conforme o local de produção.

343
NOÇÕES DE
ADMINISTRAÇÃO
ORÇAMENTÁRIA,
FINANCEIRA E
ORÇAMENTO PÚBLICO
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO ORÇAMENTÁRIA, FINANCEIRA E ORÇAMENTO PÚBLICO

1 ORÇAMENTO PÚBLICO 1.3.1 Orçamento clássico ou tradicional


O orçamento clássico caracteriza-se por somente preocupar-se
1.1 Introdução com a questão do equilíbrio fiscal (evitar que se gaste mais do que se
A Administração Financeira e Orçamentária (AFO) se ocupa espera arrecadar), embora tenha uma função política importante, ao
basicamente da gestão dos recursos orçamentários e financeiros do permitir que o Poder Legislativo exerça um controle prévio sobre os
Governo, sendo regulada pelo chamado Direito Financeiro, cuja regu- atos do Poder Executivo, por meio da autorização ou não de gastos
lamentação é competência da União e dos Estados, de acordo com o no orçamento.
Art. 24 da Constituição Federal: Assim, pode-se dizer que as funções do orçamento clássico eram
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar duas: fiscal e política.
concorrentemente sobre: Por outro lado, tal modelo de orçamento não exige uma prestação
I - direito tributário, f inanceiro, penitenciário, econômico e de contas por parte do gestor e não se constitui em instrumento de pla-
urbanístico; nejamento, uma vez que não traz metas e objetivos a serem alcançados,
II - orçamento; sendo, por conta disso, considerado bastante limitado.
[...] Além disso, utiliza-se de uma linguagem bastante técnica e espe-
AFO trabalha com três diplomas legais: a Constituição Federal, cífica, uma vez que a questão da transparência para com a sociedade
especialmente em seus Arts. 165 a 169, a Lei 4.320/64 e a Lei Com- em geral não era sua preocupação principal.
plementar 101/2000, mais conhecida como Lei de Responsabilidade Costuma-se dizer que a ênfase, no caso do orçamento clássico, é
Fiscal – LRF. no gasto, na despesa.
Cada vez mais, AFO vem sendo cobrada em concursos públicos,
seja como disciplina autônoma, seja como parte de outras matérias, 1.3.2 Orçamento de Desempenho
como Administração Pública. Tal modelo representa uma evolução em relação ao tradicional,
indo além deste, porque passa a exigir do gestor uma prestação de
1.2 Conceito contas, indicando o que foi realizado com os recursos disponibilizados.
Entre as várias definições que podem ser dadas ao orçamento Assim, não só prevê as receitas e autoriza os gastos, como também
público, temos a seguinte: cobra uma aplicação adequada por parte do gestor dos recursos. Ou
Orçamento é o ato através do qual são previstas as receitas a serem seja, não basta mais somente gastar até o limite estabelecido para cada
arrecadadas em um determinado período e autorizadas as despesas a despesa, mas deve-se também explicar quais realizações foram obtidas
serem realizadas, após aprovação do Poder Legislativo. com esses gastos.
O orçamento público é previsão de receitas e autorização de des- Dessa forma, por exemplo, enquanto o orçamento clássico diz
pesas, feitas por lei, para um determinado período de tempo. somente: o Governo pode gastar até R$ 500 milhões na área da saúde;
Assim, o orçamento é previsão de receitas e autorização de despesas o orçamento de desempenho diz: o Governo pode gastar até R$ 500
para um determinado período (no Brasil, esse período é de um ano). milhões na área da saúde e deverá posteriormente explicar como os
A cada ano, o Governo deve prever o quanto de recursos terá para recursos foram gastos e quais os avanços obtidos: quantos hospitais
gastar e onde esses recursos serão aplicados, como, por exemplo, em e postos de saúde foram construídos, quanto se gastou com pessoal,
pagamento de pessoal, construção de escolas, construção de hospitais, quanto se conseguiu reduzir de casos de determinadas doenças etc.
pagamento de dívidas etc. No entanto, assim como o orçamento tradicional, o orçamento
Quem apresenta a proposta de orçamento é o Poder Executivo, de desempenho ainda não traz uma definição prévia de objetivos e
mas cabe ao Poder Legislativo aprová-la, com as alterações que julgar metas a serem perseguidos pelo gestor, o que somente será feito pelo
necessárias. Veremos, inclusive, que o Poder Executivo não pode gastar orçamento-programa.
um centavo que não esteja autorizado no orçamento. No orçamento de desempenho, a ênfase é nos resultados, mas ainda
No plano nacional, tanto a União, como os Estados (incluindo sem vinculação com o planejamento.
o Distrito Federal) e os Municípios devem aprovar seus próprios
orçamentos. 1.3.3 Orçamento-Programa
Outro conceito importante em AFO é o de exercício financeiro. O orçamento-programa, também chamado por alguns de orça-
mento dirigente, é considerado a versão mais completa e eficiente de
Exercício financeiro é o prazo de vigência de orçamento, ou seja, é
orçamento, sendo atualmente utilizado no Brasil.
o período para o qual são previstas as receitas e autorizadas as despesas.
Caracteriza-se por trazer uma vinculação prévia entre o orçamento
No Brasil, esse período é anual, e corresponde ao ano civil, ou seja,
e os resultados que o gestor deve buscar, ou seja, traz objetivos e metas
estende-se de 1º de janeiro a 31 de dezembro de cada ano. Isso quer
a serem alcançados com os gastos autorizados. Desta forma, faz com
dizer que, até o final de cada ano, deve ser aprovado o orçamento do
que o orçamento seja de fato um instrumento de planejamento estatal
seguinte. Assim, o orçamento de 2016, por exemplo, deve ser aprovado N
(integração orçamento-planejamento). Com ele, o orçamento torna-se
até o final de 2015; o de 2017 até o final de 2016; e assim por diante. A
um plano de trabalho que traduz a política econômica do governo para
F
1.3 Evolução do Orçamento Público o período seguinte.
O
Costumam-se identificar três fases pelas quais o orçamento passou Parte do conceito de programa, que pode ser definido como um
até sua configuração e função atual: orçamento clássico ou tradicional, conjunto de ações que devem ser empreendidas com o objetivo de
orçamento de desempenho e orçamento-programa. alcançar-se um ou mais objetivos.

395
ORÇAMENTO PÚBLICO
No orçamento-programa, então, define-se previamente o que se O orçamento participativo caracteriza-se pela participação direta
espera que seja alcançado pelo Governo com o uso dos recursos des- e efetiva da comunidade na feitura da proposta orçamentária. Normal-
tinados a cada área. mente, essa participação é realizada por meio de audiências públicas
Assim, por exemplo, o orçamento de desempenho diz ao Poder ou por outros mecanismos de recebimento de propostas por parte da
Executivo que ele pode gastar até R$ 500 milhões na área da saúde, e coletividade.
que deverá posteriormente explicar como os recursos foram gastos e No entanto, mesmo quando há a utilização do orçamento partici-
quais os resultados obtidos; o orçamento-programa diz que o Executivo pativo, a competência para a aprovação do orçamento continua sendo
pode gastar até R$ 500 milhões na área da saúde e que, com esses do Poder Legislativo, não havendo uma delegação dessa atribuição
recursos, deverá construir dois hospitais, seis postos de saúde e reduzir diretamente ao povo, pois não se trata de um referendo ou plebiscito.
a mortalidade infantil em dez por cento, sendo que posteriormente
deverão ser prestadas contas a fim de se comprovar o atingimento
dessas metas.
No orçamento-programa, a ênfase é no planejamento.
Em nosso país, o orçamento-programa foi introduzido no orde-
namento jurídico pela Lei 4.320/64. No entanto, somente passou a
ser colocado em prática efetivamente após o advento da Constituição
Federal de 1988, que passou a prever melhor os mecanismos de sua
implementação, especialmente a tríade: Plano Plurianual, Lei de Dire-
trizes Orçamentárias e Lei Orçamentária Anual.

1.4 Técnicas de Elaboração do Orçamento


Existem basicamente duas formas de elaborar a proposta de orça-
mento, definindo onde os recursos serão gastos, o que dará origem a
dois “tipos” de orçamento (não confundir com as fases históricas do
orçamento, que vimos no item anterior): o orçamento base zero e o
orçamento incremental.

1.4.1 Orçamento Base Zero


O orçamento base zero possui esse nome porque, em cada período,
o orçamento é refeito praticamente “do zero”, sendo que o adminis-
trador deve fundamentar a necessidade e a quantidade dos recursos
solicitados, não havendo “recursos garantidos”.
Por essa técnica de elaboração de orçamento, os projetos e as ativi-
dades devem ser detalhados e classificados obedecendo a uma ordem
de importância.
Embora seja bastante interessante do ponto de vista da efetividade
e economicidade do orçamento, o orçamento base zero possui a des-
vantagem de ser de elaboração mais demorada, por ter que ser feito de
forma bastante cuidadosa e detalhada.

1.4.2 Orçamento Incremental


No orçamento incremental, a definição dos montantes de recursos
a destinados a cada despesa é feita mediante a simples incorporação de
acréscimos em cada item de despesa, mantendo-se o mesmo conjunto
de gastos do orçamento anterior, ou com pequenos ajustes.
Ou seja, o orçamento dos órgãos e das entidades de cada ano man-
tém a mesma estrutura de despesas do orçamento do período anterior,
realizando-se apenas o incremento nos montantes das rubricas de cada
despesa, daí o seu nome.
Isso não quer dizer que no orçamento incremental não se possam
incluir ou excluir despesas, mas que somente não há a obrigatoriedade
de revisão de todas elas a cada exercício financeiro, como ocorre com
o orçamento base zero.

1.4.3 Orçamento Participativo


Em relação à forma de elaboração do orçamento, temos também
o chamado “orçamento participativo”, que pode ser utilizado tanto no
caso do orçamento incremental como no base zero.

396
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO ORÇAMENTÁRIA, FINANCEIRA E ORÇAMENTO PÚBLICO

2 FUNÇÕES DO ORÇAMENTO 2.3 Função Estabilizadora


PÚBLICO A função estabilizadora visa manter a estabilidade econômica,
diferenciando-se da alocativa e da distributiva, já que não tem por
Antes de estudarmos as funções econômicas do Estado, é impor- finalidade a distribuição de recursos.
tante entendermos a evolução do papel normalmente exigido do Estado É exercida quando o Estado busca conseguir a manutenção de
Moderno, especialmente no mundo ocidental: um equilibrado nível de emprego, estabilidade dos níveis de preços,
▪  Primeira fase (final do séc. XVIII até início séc. XX): Estado equilíbrio na balança de pagamentos e razoáveis taxas de crescimento
Liberal – nenhuma ou pouquíssima intervenção na economia. econômico, sempre em questões macro, e não de maneira micro ou
Partia-se da ideia de que os mercados se autorregulavam. regionalizada, como acontece na função distributiva.
▪  Segunda fase (início séc. XX até década de 1970): Estado Social É considerada uma das principais atividades do Estado na
– forte intervenção estatal na economia, inclusive com o aumento atualidade.
dos gastos públicos. Forte pressão por serviços públicos oferecidos
pelo Estado. 2.4 Função Regulamentadora
▪  Terceira fase (após a década de 1970): Estado Neoliberal – redu- A função regulamentadora, também chamada de reguladora,
ção da intervenção estatal na economia. Privatizações e redução
manifesta-se quando o Estado estabelece regras que deverão ser obser-
de gastos públicos. Estado como garantidor da estabilidade e das
vadas pelo mercado, as quais são utilizadas, entre outras razões, para
condições de crescimento econômico e intervindo menos do que
aumentar a eficiência econômica, corrigir ou evitar distorções, além
no período anterior.
de garantir a segurança dos investidores etc.
Atualmente, entende-se que o Estado deve exercer quatro grandes
Assim, por exemplo, para exercer determinadas atividades econô-
tipos de funções econômicas:
micas, como abrir um banco ou operar uma empresa de aviação aérea,
2.1 Função Distributiva é necessário obedecer às normas estabelecidas pelo Estado.

A função distributiva é exercida quando o Estado intervém para Algumas provas já trouxeram a função regulamentadora “den-
reduzir as desigualdades econômicas e sociais, redistribui parcialmente tro” da função estabilizadora, o que faz todo o sentido. Imaginemos
a riqueza da sociedade, tributando os mais ricos e repassando, por meio um banco que entre em falência: diversos setores da economia e uma
de subsídios, prestação de serviços públicos e de bens públicos, parte grande parte da sociedade poderão sofrer com seus impactos, o que já
do valor arrecadado aos mais pobres. diz respeito à função estabilizadora.

Exemplo: mediante o Imposto de Renda, o Estado tributa especial- As quatro funções econômicas do Estado devem ser exercidas de
mente os que ganham mais, e com isso obtém recursos para repassar forma conjunta e harmônica, sendo que o orçamento é envolvido mais
aos mais pobres, seja por meio de programas de transferência de renda, diretamente em duas delas: a distributiva e a alocativa.
seja por meio de serviços assistenciais.

2.2 Função Alocativa


Na função alocativa, o Estado atua diretamente na produção de
bens, ofertando-os à sociedade.
Entre as razões para essa atuação produtiva do Estado, temos: as
falhas de mercado: competição imperfeita, existência de bens públicos,
presença de externalidades e de mercados incompletos, informação
imperfeita, desemprego e outros distúrbios macroeconômicos. Por meio
do Orçamento Público são feitas alocações de recursos, por exemplo,
para que empresas governamentais atuem diretamente na oferta de
bens à sociedade.
Também se considera que o Estado exerce a função alocativa
quando estimula ou desestimula a produção de determinados produtos
ou serviços, utilizando-se de institutos como a tributação ou concessão
de crédito, por exemplo.
No estudo dessa função, costumam-se distinguir dois tipos de
bens ou serviços oferecidos pelo Estado, sendo que somente a segunda
categoria seria de bens e serviços oferecidos pelo Estado em sua função
alocativa:
▪  Bens públicos: aqui, não no sentido jurídico do termo, mas sim N
em seu sentido econômico, como sendo aqueles usados pela A
população de maneira geral, de maneira indivisível, não sendo F
cobrado diretamente pela sua utilização. Exemplo: segurança O
pública, administração da Justiça.
▪  Bens Meritórios: são aqueles que devem ser oferecidos pelo
Estado, mas também podem ser oferecidos pela iniciativa pri-
vada, e pelos quais podem ser cobrados valores aos usuários. Nessa
categoria entram, por exemplo, educação, saúde e cultura.

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