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Módulo da Disciplina

Apresentação

Caro estudante, eu sou a Profa. Ma. Rafaela Lima e estarei com


você na disciplina “EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: TECNOLOGIAS
E LETRAMENTO DIGITAL”. Neste componente curricular você
irá compreender as bases e fundamentos legais da Educação a
Distância, pensar sobre a Cultura Digital, o uso dos Ambientes
Virtuais de Aprendizagem, assim como a interface do letramento
digital e a profissionalização nas áreas da Educação, Serviço Social e
da Administração.

Este módulo está organizado com base em trabalho


desenvolvido por diversos pesquisadores da área, dessa forma trata-
se de um rico material para o seu processo de ensino-aprendizagem.
No entanto, no processo formativo não podemos nos limitar ao uso
do módulo.

Desejo boas vindas ao estudo e informo que todo processo


educativo deve ser construído a partir do compromisso em fazer
Educação com qualidade.

“Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela


tampouco a sociedade muda.”

Paulo Freire

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Sumário

EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: TECNOLOGIAS E LETRAMENTO DIGITAL


EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: TECNOLOGIAS E LETRAMENTO DIGITAL ......... 3
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA ...................................................................3
TECNOLOGIAS ................................................................................................................... 6
REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 25
LETRAMENTO DIGITAL ................................................................................ 29
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................45

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: TECNOLOGIAS E LETRAMENTO


DIGITAL
Inicialmente é essencial pensarmos sobre o que o título do
componente curricular nos apresenta ao dialogar sobre a Educação a
Distância, as Tecnologias e o Letramento Digital. Por isso, convido
você a fazer uma reflexão sobre esses três conceitos:

Escreva o que você compreende por Educação a Distância, Tecnologias e


Letramento Digital
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Muito bem!! O nosso processo formativo só acontece quando


estamos dispostos a pensar. Seguimos em busca de mais
conhecimento.

HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA


A educação a distância (EAD) é uma modalidade ensino que tem
como objetivo oferecer um processo de aprendizagem completo,
dinâmico e eficiente por intermédio de recursos tecnológicos.

A educação a distância funciona a partir de uma integração


virtual entre um aluno e um tutor EAD, separados por tempo e
espaço, mas que conseguem se relacionar entre si de maneira
eficiente.

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Isso significa que na modalidade de educação a distância


ambos os envolvidos no processo não estão no mesmo ambiente
físico, mas mesmo assim se relacionam a partir de uma plataforma
para tal que, claro, proporciona esse tipo de contato e
relacionamento.

Que tal um pouquinho de história?

No Brasil, o EAD surgiu com cursos de qualificação profissional. O registro mais


remoto data de 1904, com um anúncio nos classificados do Jornal do Brasil de
um curso de datilografia (para usar máquinas de escrever) por correspondência.
Na década de 1920, o Brasil já contava com os primeiros cursos transmitidos
pelas ondas do rádio, a novidade tecnológica da época. Os estudantes utilizavam
material impresso para aprender Português, Francês e temas relacionados à
radiodifusão. Nas décadas de 1940 e 1950 começaram os cursos mais formais,
sobre temas profissionalizantes, liderados pelo Instituto Monitor, depois pelo
Instituto Universal Brasileiro e pela Universidade do Ar, patrocinada pelo Senac
e pelo Sesc. Até hoje algumas dessas instituições permanecem ligadas à
formação profissional através de cursos a distância. Nas décadas de 1960 e 1970
surgem várias iniciativas de EAD em projetos para ampliar o acesso à educação,
promover o letramento e a inclusão social de adultos. Com o passar do tempo,
os cursos agregaram outros níveis de ensino, como o fundamental completo. E
no final da década de 1970 começou em Brasília a primeira experiência de EAD
nos cursos superiores. Nesse período, muitos brasileiros já acompanhavam os
telecursos, transmitidos pela TV. Esse modelo de EAD convivia com os formatos
antigos, como o material impresso e o rádio, uma característica que se mantém
até a década de 1990. Em meados da década, as instituições passam a utilizar a
internet para publicar conteúdos e promover interações. Foi nesse período que
várias universidades formalizaram suas iniciativas EAD, até culminar com a
criação, em 1996, da Secretaria de Educação a Distância (SEED), do Ministério da
Educação (MEC). Naquele mesmo ano o EAD no Brasil passou a contar com uma
legislação abrangente que hoje garante, por exemplo, a validade de diplomas
emitidos pelos cursos nesta modalidade.

Fonte: https://www.ead.com.br/como-surgiu-ensino-a-
distancia#:~:text=No%20Brasil%2C%20o%20EAD%20surgiu,m%C3%A1quinas%20de%
20escrever)%20por%20correspond%C3%AAncia.

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É possível afirmar também, nesse sentido, que o crescimento


da educação a distância se configurou de forma mais assertiva,
direta e estruturada a partir do avanço
tecnológico e de sua acessibilidade para as
pessoas, principalmente a partir do advento e
popularização da Internet de banda larga no
Brasil. Quer saber mais
sobre a Educação a
Legal não é? Pensar que o que fazemos
Distância? Assista a
hoje em sala foi construído ao longo de
um vídeo
muitos anos e que pensar na EaD nem
CLICANDO AQUI
sempre está relacionada com uso de
equipamentos que utilizam a internet como
base.

Com base nisso descreva se você já teve


alguma experiência com a EaD antes desse curso. E como foi? Teve
dificuldades? Use o espaço abaixo para registar.

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Mas afinal a EaD é prevista em lei? Qual a legislação que


fundamenta?

A Lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional, lei nº


9394/96 no seu artigo 80 que diz:

“O Poder Público incentivará o desenvolvimento e a veiculação de programas de


ensino a distância, em todos os níveis e modalidades de ensino, e de educação
continuada.”

Para regulamentar o Ministério da Educação dispõe de um


documento que estabelecem DIRETRIZES BÁSICAS PARA A
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA que pode ser acessado CLICANDO
AQUI.

Tem um texto bem interessante que gostaria que vocês


realizassem a leitura. Trata-se de um artigo que apresenta a ordem
cronológica dos acontecimento da EaD no Brasil. Embarque nessa
viagem lendo o texto Educação a distância: conceitos e história no
Brasil e no mundo da autora Lucineia Alves.

Depois de lido o texto, construa uma linha do tempo com as


principais marcos da história da EaD. Use a criatividade!!!

TECNOLOGIAS
O que vem a sua cabeça quando você imagina a palavra
TECNOLOGIA? No mundo moderno fica difícil até de definir o
que seria uma tecnologia, mas o que sabemos ao certo é que
TECNOLOGIA não se resume a equipamentos digitais. Isso mesmo,
algo que seja tecnológico não necessariamente precisa ser digital.
Pense aí a sua volta o que neste momento pode ser considerado algo

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tecnológico, só não vale falar o celular! Imagino que você tenha


pensado na televisão, no rádio, no notebook, mas você já parou para
pensar que o quadro utilizado na sala de aula é uma tecnologia? O
fogão a gás também é uma tecnologia. Para que a gente saiba mais
sobre tecnologia leia o texto a seguir:

A TECNOLOGIA: ALGUMAS REFLEXÕES SOCIOESPAÇO-


TEMPORAIS

Donarte Nunes dos Santos Júnior, Regis Alexandre Lahm

INTRODUÇÃO

Assunto corrente nos dias de hoje, a tecnologia está presente tanto


em conversas e opiniões de senso comum4, quanto nos debates dos círculos
científicos. Ao se escrever sobre tecnologia, outros conceitos acabam por
acompanhar a análise e não podem ficar para trás, intocados. Sendo
assim, temas e termos como Revolução Industrial, Globalização, e informação
fazem parte das observações subseqüentes.

O presente artigo está dividido em três tópicos. O primeiro


aborda noções a respeito do conceito de tecnologia. O segundo, questões
relativas ao surgimento, evolução e função da tecnologia. Por fim, espacialização
da tecnologia é assunto do quarto tópico.

1 O Conceito de Tecnologia

Buscando-se o significado da palavra tecnologia, tem-se que ela


provém da junção dos termos gregos techne (arte) + logos (tratado). Seu
equivalente em latim mais próximo é ars ou artis, ambos significando
“arte”, ou ainda, a habilidade adquirida a partir de um estudo ou prática.
Segundo Pinto5 (2005), existem pelo menos quatro acepções para o termo.
O primeiro sentido diz respeito à “arte” designando a “teoria, a ciência, o
estudo, a discussão da técnica, abrangidas nesta última noção as artes, as

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habilidades do fazer, as profissões [...]” (p. 219). O segundo significado


do termo remete à simples técnica, sinônimo do saber fazer, ou ainda,
“know how” (p. 219). A terceira significação equivale à união de todas,
ou seja, o “conjuntode todas as técnicas de que dispõe uma determinada
sociedade, em qualquer fase histórica de seu desenvolvimento” (p. 219).
Por fim, a última compreensão está associada à “ideologia das técnicas”
(p. 219). Este último sentido, mais amplo e menos ingênuo, deriva da
soma dos termos techne (arte) + logos (palavra, fala, razão) e remete ao que
seria uma ideologia6 que hápor trás das técnicas.

Faz-se necessária uma diferenciação entre técnica e tecnologia.


Segundo Vesentini (2005), técnica é o uso que se faz de instrumentos, de
ferramentas o que implica a habilidade e a inteligência humanas. Já
tecnologia vai além da técnica, implicando o “uso de conhecimento
científico, da ciência moderna que nasceu – ou se consolidou – nos
séculos XVII e XVIII e prossegue até nossos dias”.(p. 23). Pinto (2005),
especificamente a respeito datécnica, escreve que:

A principal confusão envolvente da consciência simplista


quando trata da técnica consiste em considerá-la uma
substância, um objeto, ao qual é lícito atribuir efeitos, como se
estivéssemos em face de uma “coisa”, e até, em casos de
extremo desordenamento, de uma pessoa. A expressão
imediata desse engano encontra-se no emprego, já agora
inerradicável, da palavra “técnica” com o valor gramatical de
substantivo abstrato. Tal maneira de falar, embora hoje
impossível de ser eliminada em razão da fixação vernacular,
tem por origem um mal-entendido. A palavra “técnica” na
verdade designa um adjetivo, „τεχνικη, e não um substantivo.
Refere- se a um verdadeiro substantivo, a “tecne”, „τέχνή,
traduzido pelos latinos em sentido geral por “ars”, arte.
Entretanto, aparece igualmente a fórmula latinizada “techna”,
de uso extremamente raro, com o sentido de “astúcia”,
“manha”, quase certamente por influência do substantivo
“technicus”, que mais se aproxima do grego, designando o
mestre de algum ofício artesanal. A conotação
indiscutivelmente desprezível do segundo termo, aplicável
quase sempre à escravos, proscreveu o emprego da tradução
de “tecne” por “tecna”, afirmando a preferência por “ars”.
Por motivos de caráter semântico acabou impondo-se o

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adjetivo “técnico(a)”, revestido da categoria gramatical de


substantivo, assim se conservando nas línguas modernas.
(PINTO, 2005, p. 174-175).

Constata-se que, atualmente, o termo “técnica” guarda pouca


relação com o termo original grego techne7, sendo este último bem mais
amplo. Sobre a tecnologia, especificamente, Pinto (2005) esclarece que:

Há sem dúvida uma ciência da técnica, enquanto fato


concreto e por isso objeto de indagação epistemológica. Tal
ciência admite ser chamada tecnologia. Embora não seja
freqüente esse modo de entender a palavra revela-se legítimo,
por ser o que transporta o significado radical, primordial.
(PINTO, 2005, p. 220).

Conclui-se, em concordância com Pinto (2005), que o conceito de tecnologia


menos ingênuo é o de “ideologia das técnicas”. Sabe-se, no entanto, que na
forma como é frequentemente usado, remete à noção de “ciência da técnica”. A
confusão se dá porque as pessoas fazem uso do termo indiscriminadamente e
sem a devida reflexão sobre o que seja. Para Pinto (2005), o termo é usado “a
todo o momento por pessoas das mais diversasqualificações e com propósitos
diferentes” (PINTO, 2005, p. 219), sendo considerados, erradamente, como
sinônimos.

2 Surgimento, Evolução e Função da Tecnologia

Atualmente, o homem utiliza avançadas tecnologias. Papert (1994),


no século passado,já escrevia: “[...] ouve-se dizer que estamos adentrando
na Era da Informática.” (p. 9). O avanço tecnológico que se verifica, no
entanto, nem sempre foi assim. Ao longo da história, o homem obrigou-
se a utilizar várias técnicas para subsistir. Não poderia ser diferente, visto
que o homem é, comparado a outros animais do planeta, mais fraco.
Segundo Morais (1988), a técnica, e também a ciência, surgem em virtude
do medo:

Imaginemos o homem das eras primitivas vivendo sempre


ameaçado pelas forças brutais da natureza, sem edificações
para se proteger, distanciado por milhares de anos dos pára-
raios, destituído de recursos de vestuário que o abrigassem

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mais completamente. Imaginemo-lo aterrado ante os


formidáveis animais que passeavam sua fericidade pela
superfície da Terra. Este terror e esta impotência certamente
terão levado os primitivos a intuírem algo fundamental: ou
eles adquiriam PODER ou seriam esmagados pelo PODER
das forças naturais. (MORAIS, 1988, p. 48-49).

O medo e a necessidade levaram o homem a usar ferramentas para


sua subsistência, o que se tornava indispensável ante um mundo hostil.
Foram, segundo Morais (1988), o medo e a necessidade de poder que
conduziram o homem à técnicas cada vez mais apuradas. Para Brüseke
(2001), essa é, em última análise, a forma, a “maneira como o homem
apropria-se e aproxima-se da natureza”.(p. 62).

Esse “poder” almejado pelo homem manifesta-se recentemente na


tecnologia. Segundo Vesentini (2005), a partir do final da década de 1970,
a humanidade vem presenciando avanços e inovações tecnológicas em
ritmo acelerado. Sabe-se que muitos nomes têm sido usados para
designar a evolução tecnológica. Conforme Vesentini (2005), é possível se
falar em Terceira Revolução Industrial. Santos (1996) prefere Revolução
técnico- científica. Dreifuss (1996) chama de revolução digital. Revolução
informacional é mais apropriada segundo Lojkine (2002), que, a respeito
disso, faz o seguinte comentário:

“Segunda revolução industrial”, “revolução científica e


técnica”, “revolução informática” etc. – a zona de sombra é
completa quando se trata de definir a revolução tecnológica
que começa. [...] nenhuma dessas designações é adequada
[...]. (LOJKINE, 2002, p. 14).

Nota-se uma plurivocidade8 dissonante entre os autores. O único


aspecto comum é a expressão “revolução”, geralmente agregada às
conceituações feitas. Porém, revolucionar parece não ser a real função da
tecnologia. De acordo com Sampaio (1999), as grandes transformações na
sociedade humana, decorrentes da tecnologia, não devem ser entendidas
como revolução propriamente dita, visto que não se verificou uma ruptura
social e o modo de produção capitalista não findou. Lojkine (2002)

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escreve que, contrariamente ao comumente pensado, o avanço


tecnológico se deu muito mais pela necessidade de se acelerar e expandir
o capitalismo e a globalização do capital. Por outro lado, Lévy (1993)
constata que as transformações atuais são de tal forma, que novos modos
de pensar, de produzir9 e de viver estão sendo implementados. Sendo
assim, apenas sobre esse aspecto, as transformações merecem ser
chamadas de “revolução”, porque alteraram e continuam alterando as
configurações sócio-espaciais do globo.

Uma das alterações sócio-espaciais que podem ser observadas com


a “revolução” trazida pela tecnologia, diz respeito à criação de setores
dedicados única e exclusivamente à tecnologia. Como exemplo, pode-se
tomar o setor quaternário que, segundo Vesentini (2005a), diferentemente
dos setores primário, secundário e terciário, especializa-se, cada vez mais,
nas pesquisas de alto nível, entre elas, a aeroespacial, a biotecnologia e a
robótica. Para Pinto (2005), isso acontece porque: “Na verdade, a técnica
condiciona o destino da técnica”.(p. 719). Deduz-se, então, que a
tecnologia acaba por condicionar o aparecimento de, cada vez mais,
tecnologia.

Parece surgir aqui, e isso vai ao encontro do pensamento de Santos


(2006), uma reação causal relacionada à tecnologia. Os presentes autores
propõem o seguinte organograma para ilustrar isso (figura 1):

Figura 1 – Pode-se dizer que há um ciclo na geração de sempre mais tecnologia.


Fonte: Os autores (2007)

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No organograma acima (figura 1) destaca-se o movimento


espiralado que há entre o setor quaternário, a geração de tecnologia, a maior
produção – sempre buscada –, a melhor e mais rápida distribuição e o lucro. A
relação entre os mencionados elementos perfaz um movimento em
espiral visto que cresce sempre mais. Em outras palavras, tecnologia gera
avanços, tais como, velocidade, maior e melhor produção, os quais, por
sua vez, condicionam e necessitam avanços ainda mais velozes, maiores e
melhores. Isso é feito para se manter o “crescimento” almejado que deve
sempre sublevar o anterior. Constata-se, então, que as atuais atividades
encarregadas em gerar tecnologias cada vez mais eficientes, como no caso
do setor quaternário, contêm em seu fundamento, a tarefa de suprir a
demanda por inovações.

Para Santos (2006), novo acréscimo deve ser feito à constatação de


que a tecnologia necessita sempre de mais tecnologia. Nesse sentido, o
teórico alude à questão do consumismo despótico agendado10
constantemente pela mídia. Segundo Santos (2006):

Nesse caso, o fato gerador do consumo seria a produção.


Mas, atualmente, as empresas hegemônicas produzem o
consumidor antes mesmo de produzir os produtos. Um dado
essencial do entendimento do consumo é que a produção do
consumidor, hoje, precede à produção dos bens de serviços.
Então, na cadeia causal, a chamada autonomia na produção cede
lugar ao despotismo do consumo. (SANTOS, 2006, p. 48).

Trata-se da produção do consumo alicerçada na autoduplicação da


tecnologia legitimada pelo consumismo despótico. Uma antiga pesquisa11
(década de 1980) encomendada pelo Ministério de Ciências e Tecnologia ao
Instituto Gallup12 de Opinião Pública, constatou que, nas regiões urbanas
brasileiras, sete entre dez pessoas se interessam por descobertas
científicas e tecnológicas, sendo que 31% dos entrevistados demonstram
“muito interesse” (p. 19). A pesquisa aponta, ainda, para muitos outros
fatores relacionados à mídia, tais como, o interesse por notícias que
versam sobre tecnologia (p. 22), a expectativa quanto à melhoria na

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comunicação a respeito das tecnologias (p. 26) e a curiosidade sempre


crescente por mais informações sobre o assunto (p. 27). A pesquisa
constatou que o episódio mais lembrado pelo povo brasileiro, em geral,
é o da ida do homem à Lua (p. 33). Não poderia ser diferente pois,
como se sabe, foi (e ainda é) fato amplamente veiculado pelamídia.

Daí, o império da informação e da publicidade. Tal remédio


teria 1% de medicina e 99% de publicidade, mas todas as
coisas no comércio acabam por ter essa composição:
publicidade + materialidade; publicidade + serviços, e esse é
o caso de tantas mercadorias cuja circulação é fundada numa
propaganda insistente e frequentemente enganosa. Há toda
essa maneira de organizar o consumo para permitir, em
seguida, a organização da produção. (SANTOS, 2006, p. 48-
49).

É notável esse tipo de veiculação, evidenciada por Santos (2006),


na mídia. Vejam-seas ilustrações (figuras 2 e 3) a seguir:

Figura 2 – Propaganda de creme hidratante. Nota-se, no presente marketing, a alusão ao estudo científico e
estatístico da pele do rosto. Isso associa à personalidade do produto13, uma conotação tecnológica.
Fonte: Disponível em: <http://www.avon.com.ve/>. Acesso em: 22 jan. 2007.

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Figura 3 – Propaganda de escova dental. É possível afirmar que a presente propaganda remete o consumidor
ànoção de tecnologia que está subliminarmente14 agregada ao produto.
Fonte: Disponível em:
<http://www.oralb.com/products/product.asp?tid=products&sub=manual&cid=manual&pid=pulsar>. Acesso
em: 22 jan. 2007.

Conclui-se, desse modo, que a verdadeira função da tecnologia é


esta: a de gerar sempre mais tecnologia, pois atende aos interesses do
capital. A tecnologia permite uma maior e melhor produção
satisfazendo aos detentores do capital. Essa locupletação cada vez maior
do patrão determina a evolução sempre crescente da tecnologia que,
como foi visto, surgiu em virtude da busca pelo PODER.

3 Espacialização da Tecnologia

A tecnologia não é algo etéreo, desmanchado no ar. Marx e Engels


(2001, p. 69)15, certa vez escreveram que: “Tudo o que é sólido e estável se
volatiliza”16. Os mencionados filósofos, quando expressaram tal
pensamento, queriam se referir à capacidade, anteriormente descrita que,
entre outras coisas, a tecnologia possui de se transformar ou, segundo
Marshal (1986), a chamada “autodestruição inovadora” (p. 97), inerente
dos avanços tecnológicos. Isso leva as pessoas, grosso modo, a pensarem na
tecnologia como algo abstrato. Porém, defende- se aqui, a tecnologia não
é algo passível de ser estudado somente na sua dimensão temporal. Ela
existe e se dá no espaço e por isso deve ser estudada em suas dimensões
espaciais, concretas, portanto. Por outros termos, pretende-se calcar a
análise subseqüente de forma que se passe do abstrato ao concreto.

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Possivelmente no mesmo sentido que colocava Rohden (1987): “O


caminho do concreto para o abstrato é inseguro e intransitável – mas o
caminho do abstrato para o concreto é seguro e sempre transitável”.(p.
153).

Sabe-se que a tecnologia dispõe hoje de um setor especialmente


dedicado à sua geração/duplicação, e que a mesma não fica confinada à
uma única esfera. Acaba por ser transferida à todos os demais setores. De
acordo com Caron (2001), além de a tecnologia estar presente em
laboratórios e centros de pesquisa, está presente, também, nos mais
variados tiposde indústria:

A ciência mais fundamental encontra-se de agora em diante


presente na fábrica, nãosomente em setores de alta tecnologia,
como a eletrônica ou a biotecnologia, mas também em setores
de tecnologia média, tais como o automóvel [...]
intensificaram suas relações com universidades e os centros
de pesquisa. (CARON, 2001, p. 414).

A intensificação das relações entre empresas e setores econômicos


identificada por Caron (2001) pode ser observada tomando-se o exemplo
das parcerias entre universidades e empresas. Vide imagem abaixo
(figura 4):

Figura 4 – Folder publicitário do Parque Tecnológico da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do
Sul.O parque conta, atualmente, com 40 empresas e 12 instituições, dentre as quais se destacam as
multinacionais Microsoft®, Dell Computers™, HP (Hewlett-Packard)® e Siemens®.
Fonte: AGEXPP – PUCRS/FAMECOS.

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É nítido na ilustração acima (figura 4) o apelo à questão


relacionada à pesquisa e ao desenvolvimento e, também, aos “novos
horizontes”. As construções de áreas específicas, os chamados "parques
tecnológicos”, são exemplos do supramencionado processo.
Multinacionais e universidades trabalham em regime de parceria na
implementação de tecnologias, alterando, desse modo, a conformação
sócio-espacial:

A corporação estratégica age como breakthrough enterprise,


orientada para a produção pelo seu coração tecnológico, o
qual define a possibilidade de oferecer produtos de
composição politecnológica, de utilização múltipla (produto e
instrumento, bem e serviço). Além de possuir uma
capacidade de aplicação multissetorial das suas destrezas e
saberes tecnológicos e de ser capaz de integrar seus produtos-
serviços como componentes essenciais da produção - em
"famílias" de produtos existentes ou em gestação e em
clusters resultantes dos vários entrecruzamentos tecnológicos
- de outras corporações.

[...]

Este inovador sistema produtivo "pesquisa-intensivo" é


potencializado pelas ações corporativas - de alcance supra-
regional, transnacional e interempresarial, que
(re)concentram e "reposicionam" capital, tecnologia, recursos
humanos e infra- estrutura - deslanchadas através do
funcionamento sinergético de unidade, redes e cadeias de
criação, produção e comercialização, balizadas por
subsistemas administrativo-legais de planejamento e gestão
[...] (DREIFUSS, 1996, p. 46).

Antigamente, essas ações corporativas eram impossíveis. Segundo


Caron (2001), esse fenômeno só se dá porque as indústrias adquiriram
uma enorme mobilidade espacial. Quando da Primeira Revolução
Industrial, as indústrias permaneciam “presas” às fontes de recursos
naturais. A “localização das usinas dependia estreitamente das fontes de
energia utilizada [...]. Os transportes públicos também esbarravam num
limite bastante grave.” (p. 411). Atualmente, a proximidade às fontes de
energia e recursos naturais não é mais necessária às indústrias e o
transporte já é algo praticamente resolvido, possibilitando uma

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flexibilidade industrial nunca antes vista.

No processo de intensificação e distribuição da tecnologia houve


rápida substituição das velhas por novas. Caron (2001) afirma que
durante a Primeira Revolução Industrial a máquina a vapor já não supria
mais as necessidades da sociedade que despontava. Exigiam-se, então,
inovações para uma maior/melhor eficiência na produção, bem como no
escoamento dessa produção. O advento da eletricidade, segundo Caron
(2001), trouxe novo salto produtivo. A eletricidade permitiu novas
perspectivas e caracterizou nova etapa da evolução tecnológica. Em
concordância com Vesentini (2005), pode-se dizer que, a eletricidade
possibilitou a instauração da chamada Segunda Revolução Industrial. Para
Caron (2001), a luz elétrica que chegava permitia a dissipação das trevas.
Possibilitava, entre outras coisas, às novas populações urbanas a sua
fixação nas cidades. A luz permitia, também, e, sobretudo, uma maior e
mais eficiente produção.

Ao longo da história, muitas outras inovações proporcionaram


melhorias na produção, sendo que, ainda hoje, as mais marcantes são as
que “encurtam” o espaço e “diminuem” o tempo. Vide, abaixo, o chamado
“encolhimento do mapa” proposto por Harvey (2004) (figura 5):

Figura 5 – O encolhimento do mapa do mundo graças a inovações nos transportes que “aniquilam o
espaço pormeio do tempo” (HARVEY, 2004, p. 220).
Fonte: Harvey (2004, p. 220). Modificada pelos autores.

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A ilustração acima (figura 5) gerou bastante estranhamento à


época de sua proposta17. Ela, de certa forma, propõe o fim de uma
categoria importante, seja ela, o espaço. No mesmo ano, Fukuyama (1992)
apresentava algo análogo, decretando, com o seu “O fim da História”18, a
derrocada de outra categoria importante, desta vez, o tempo. O próprio
Fukuyama (1992) explica:

[...] o que eu sugeria não era o fim da ocorrência dos


eventos, nem dos fatos grandes e importantes, mas da
História, ou seja, da história como um processo único,
coerente e evolutivo, considerando a experiência de todos os
povos em todosos tempos. (FUKUYAMA, 1992, p. 11).

Mais recentemente Friedman (2005), aproveitando as idéias de


Harvey (2004) e, com base na velocidade permitida pela tecnologia e na
terceirização dos serviços proporcionada pela globalização do trabalho,
conclui que o mundo é plano. O teórico propõe, implicitamente, que
quanto mais avança a tecnologia mais “encolhe” e se “aplaina” o globo.
Pode-se visualizar mais organizada e sistematizadamente o argumento
supramencionado, da seguinte forma:

Figura 5 – Com base em Friedman (2005), pode-se dizer que a alta tecnologia dá a idéia de um mundo
plano,enquanto a baixa tecnologia passa a idéia de uma Terra esférica.
Fonte: Os autores.

A ilustração acima (figura 5) vai ao encontro de argumentações


que defendem o paradigma de um mundo cada vez mais dinâmico19
plano e interconectado, onde não há mais “desníveis altimétricos”

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advindos de uma desigualdade tecnológica.

Santos (1996), a respeito das inovações que proporcionaram


aumento da velocidade, escreve que:

O fim do século XIX, com a formação dos grandes impérios,


marca um momento fundamental nesse desenvolvimento. A
estada de ferro, o navio a vapor, o telégrafo sem fio, a
evolução bancária mudam completamente a noção de
distância e, como conseqüência, as escalas de tempo e espaço.
Nessa definição de momentos marcantes da história da
humanidade, chegamos à época atual comandada pela
revolução científico-tecnológica. (SANTOS, 1996, p. 166).

Nos dias atuais os transportes são extremamente velozes. Não


apenas os transportes de mercadorias, mas, também, os da informação20. A
circulação da informação na infovia se dá num volume muito maior e
num tempo infinitamente menor, tendendo a “encolher-se” ainda mais o
“espaço por meio do tempo” (HARVEY, 2004, p. 220) com o
proporcional aumento do volume e da velocidade de transporte da
informação. Os presentes autores propõem que, levada em conta a
velocidade de circulação de uma correspondência eletrônica (E-Mail), ou
seja, tomando-se por base, apenas a circulação da informação, o
“encolhimento do mapa do mundo” proposto por Harvey (2004) estaria
mais condizente com a imagem abaixo (figura 6):

Figura 6 – O espaço e o tempo tornam-se, praticamente inexistentes na comunicação eletrônica. A


informação circula na mesma velocidade da radiação eletromagnética.
Fonte: Os autores

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20

Na infovia, a informação viaja a uma velocidade tão alta que em


softwares de conversação eletrônica, também chamados de chat, é possível
a habitantes antípodas no globo, a comunicação em tempo imediato. Sabe-
se que, se um avião viajasse nesta velocidade, circundaria sete vezes a
Terra em, aproximadamente, um segundo. É nesse sentido, entre outros,
que Dreifuss (1996) escreve ser esta, a época das perplexidades. Costella
(2002) coloca que:

Aldous Huxley disse que o mundo moderno inventou um


novo vício: a velocidade. De fato, nos últimos séculos o
homem se empenhou em uma desabalada corrida de
superações contínuas. Em todos os setores do conhecimento
humano observa-se esse fenômeno de aceleração, com
tendência sempre mais crescente, por força de efeitos
multiplicadores de ordem exponencial. E é na área da
comunicação que se desnuda, mais patente o “vício”
moderno. Uma notícia que, há duzentos anos, era
transportada à velocidade do cavalo, pode hoje, mercê das
conquistas eletrônicas, saltar oceanos e continentes com a
rapidez da eletricidade. (COSTELLA, 2002, p. 93).

Segundo Mattelard (2000) e Caron (2001), no passado, as


populações que assistiam à ampliação dos avanços tecnológicos tinham a
impressão de que tudo seria melhor, a tecnologia viria para melhorar a
qualidade de vida das sociedades. Porém, na realidade, a tecnologia
caracterizou-se pela rápida obsolescência daqueles que eram
incorporados no processo produtivo. As tecnologias, com todo o conforto
delas decorrente foram ficando cada vez mais elitizadas e apenas um
seleto grupo passou, desde então, a ter acesso ao consumo desses bens.
Hoje, segundo Mattelard (2000), é possível se falar em “tecno-
apartheid”, visto que, no caso da Internet, por exemplo, “só 2% da
população mundial estavam em 1999 ligada à rede das redes.” (p. 157)21.
Kawamura (1990) chama a atenção, destacando que:

[...] a evidente diferenciação no acesso aos benefícios


decorrentes das inovações tecnológicas nas diversas áreas
econômico-sociais e culturais, restritos a reduzidas parcelas
da população. Em contrapartida, proporções crescentes desta
sistematicamente e progressivamente excluídas do processo

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21

de trabalho, do acesso aos sofisticados serviços médicos,


culturais e de lazer; dos centros de estudo e difusão científica
e tecnológica. (KAWAMURA, 1990, p. 11).

De forma semelhante, Giddens (2005) aponta para um mundo


repleto de incoerências. Avanços que não geram as melhorias reais na
sociedade e, pelo contrário, acabam por dar uma sensação de que
vivemos num mundo em descontrole:

Nossa época se desenvolveu sob o impacto da ciência, da


tecnologia e dopensamento racional [...]

[...]

Os filósofos do iluminismo observaram um preceito simples


mas obviamente poderoso. Quanto mais formos capazes de
compreender racionalmente o mundo, e a nós mesmos, mais
poderosamente poderemos moldar a história para nossos
propósitos.

[...]

O mundo em que nos encontramos hoje, no entanto, não se


parece muito com o que eles previram. Em vez de estar cada
vez mais sobre nosso comando, parece um mundo em
descontrole. Além disso, algumas das influências que,
supunham-se antes, iriam tornar a vida mais segura e
previsível para nós, entre elas o progresso da ciência e da
tecnologia, tiveram muitas vezes o efeito totalmente oposto. A
mudança do clima regional e os riscos que a acompanham,
por exemplo, resultam provavelmente de nossa intervenção
no ambiente. (GIDDENS, 2005, p. 13-14).

Parece que a tecnologia não surgiu para facilitar a vida da população


em geral, mas sim para que uma pequena parte dela pudesse ser
beneficiada. Para Singer (1975), a partir do momento que a máquina passou a
substituir o homem, fundou-se o capitalismo e o lucro exacerbado advindo
desse processo22. A introdução de máquinas nas atividades dos
trabalhadores permitiu, aos patrões, maiores lucros em função de menores
custos de produção, sem falar no desemprego. Com as máquinas era
necessário muito menos tempo para se produzir muito mais. É a chamada
mais-valia relativa (SANDRONI, 1982; DEMO, 2000).

Entrementes, as “melhorias” inventivas com as quais os


trabalhadores se deparam no trabalho, dificilmente são verificadas,
proporcionalmente, em suas casas. É perfeitamente possível, por

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22

exemplo, verificar um trabalhador assalariado cumprir sua jornada de


trabalho num avançado estabelecimento, shopping, por exemplo, e não
dispor de saneamento básico na periferia onde mora. Nos países pobres,
tais como o Brasil, é mais correto se categorizar o padrão de vida de
algumas pessoas dentro de contextos do século XIX, do que encaixá-los
no atual século (SAMPAIO, 1999, p. 17).

Às supracitadas incoerências acrescenta-se a constatação de que os


pobres, bem ou mal, são obrigados a “interagirem” com avanços que
eram impensados há décadas atrás. Os caixas eletrônicos dos bancos,
onde os aposentados “sacam” seu salário mínimo mensal, é exemplo
prático disso. Parece haver, neste ponto, uma imposição tecnológica. É nesse
sentido que Lévy (1993) escreve que esses processos de inserção
tecnológica na vida das populações raramente (para não se dizer nunca)
são objeto de decisões coletivas. Para Kawamura (1990), mesmo num país
pobre como o Brasil, com dificuldades de desenvolvimento e dependente
em muitos aspectos, a tecnologia já está no dia-a-dia das pessoas. Freire
(1996) desfere dura crítica a esse processo ao escrever que:

O progresso científico e tecnológico que não responde


fundamentalmente aos interesses humanos, às necessidades
de nossa existência, perdem, para mim, sua significação. A
todo avanço tecnológico haveria de corresponder o empenho
real de resposta imediata qualquer desafio que pusesse em
risco a alegria de viver dos homens e das mulheres. [...] esta é
uma questão ética e política e não tecnológica. O problema me
parece muito claro. Assim como não posso usar minha
liberdade de fazer coisas, de indagar, de agir, de criticar para
esmagar a liberdade dos outros de fazer e de ser, assim
também não poderia ser livre para usar os avanços científicos
e tecnológicos que levam milhares de pessoas à desesperança.
Não se trata, acrescentamos, de inibir a pesquisa e frear os
avanços mas de pô-los a serviço dos seres humanos. A
aplicação de avanços tecnológicos com o sacrifício de
milhares de pessoas é um exemplo a mais de quanto podemos
ser transgressores da ética universal do ser humano e o
fazemos em favor de uma ética pequena, a do mercado, a do
lucro. (FREIRE, 1996, 147-148).

Como se pode ver, para Freire (1996), a tecnologia não está, ainda,

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23

a serviço dos seres humanos. No entanto, a vida do homem está


espacialmente transfigurada, repleta de artefatos tecnológicos. Dos caixas
eletrônicos dos bancos aos computadores com acesso à Internet; dos
relógios de punho aos telefones celulares, praticamente tudo que o
homem manipula, o colocaem contato com a tecnologia.

4 Considerações Finais

O presente artigo procurou apresentar algumas considerações a


respeito da tecnologia. Sobre as origens de tal termo, a etimologia
propriamente dita, foram apresentados alguns aspectos que, via de regra,
nem sempre são lembrados nos círculos acadêmicos. Tal mergulho na
origem do termo permite fazer a correta apreciação acerca do sentido
primeiro que tal conceito deveria ter, e, também, efetuar algumas
diferenciações que permanecem, igualmente, nebulosas como, por
exemplo, a diferenciação necessária entre técnica e tecnologia, geralmente
considerados, erroneamente, como sinônimos.

Com as reflexões sobre o surgimento, evolução e função da


tecnologia, os presentes autores buscaram (re)lembrar questões
pertinentes à vontade de poder23 inerente ao ser humano e que, de certa
forma, está associada a situação de inferioridade física que o homem
possui se comparado aos outros animais do globo. Neste mesmo tópico
chamou-se a atenção para a relação espiralada e cíclica que a tecnologia
tem e que permite mais e mais a criação de novos avanços.

Com o tópico sobre a espacialização da tecnologia, o texto procurou


trazer à tona a importância que as categorias espaço e tempo têm na
produção e distribuição das inovações, bem como, dar relevo a questões
relacionadas aos diversos modos de entender e perceber a espacialidade e a
temporalidade.

Conclui-se o presente artigo chamando a atenção para o fato de


que a tecnologia deve sempre ser tomada sob um ponto de vista crítico.

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24

Diabolizar ou divinizar a tecnologia trata-se de um erro (FREIRE, 1996).


Sendo assim, tomá-la como algo essencialmente bom ou essencialmente
ruim não é o modo correto de pensar. Cumpre analisá-la sob o ponto de
vista dialógico e colocá-la em sua devida esfera, qual seja, na de
ferramenta que permite ao homem fazer-se mais forte enquanto ser
humano mesmo e não o de escravizar e oprimir outros homens. Em outras
palavras, o presente artigo procurou trazer reflexões pertinentes e que
colaborem em fazer com que o “machado” (evocado por Einstein na
epígrafe) volte a ser a ferramenta capaz de fazer o bem.

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25

REFERÊNCIAS

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29

Depois de dialogarmos sobre o que é a TECNOLOGIA,


importante pesarmos sobre o LETRAMENTO DIGITAL.

LETRAMENTO DIGITAL
Antes de entrarmos propriamente na discussão sobre o
LETRAMENTO DIGITAL, cabe aqui abrirmos um parêntese para
definir o que o letramento. Em uma definição mais ampla o
LETRAMENTO pode ser compreendido como a capacidade de fazer
uso de modo competente de um determinado conceito.

Dito isto, passamos a estudar o LETRAMENTO DIGITAL que


é o foco da nossa disciplina.

LETRAMENTO DIGITAL: DO CONCEITO À PRÁTICA


Carla MOREIRA
Centro Federal de Educação Tecnólogica de Minas Gerais
carlaleit@yahoo.com.br

1 Introdução

A educação mediada pelas novas tecnologias ainda gera muitos


questionamentos na sociedade contemporânea. De um modo geral,
algumas dúvidas ainda permeiam a prática docente, com relação ao uso de
ferramentas tecnológicas. Apesar de vivermos numa era digital, incentivar
os professores a ministrar uma aula mediada pela tecnologia continua
sendo uma tarefa árdua, principalmente quando a concepção de
aprendizagem é centrada somente no educador. Diante disso, faz-se
necessária uma reflexão em torno da educação e das mídias digitais a fim
de se agregar competências tecnológicas, tanto na visão educacional quanto
à formação dos professores.

De acordo com Borges e Silva (2006), as pessoas estarão inseridas na

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30

Sociedade da Informação quando são capazes de desenvolver as


habilidades necessárias para acessar e usar a informação. O conjunto
dessas habilidades é chamado pela Ciência da Informação de
information literacy, termo que pode ser traduzido como educação para a
competência em informação, uma espécie de letramento informático que é
um fator importante para a formação do cidadão do século XXI, ou seja, o
indivíduo será capaz de facilitar sua vida e aprofundar seus conhecimentos
através da utilização de recursos digitais.

Levando em consideração essas reflexões, surge a motivação para o


desenvolvimento deste artigo. Essa motivação, na realidade, iniciou-se
ainda na graduação, em 2009, com a finalização da monografia exigida
para a conclusão do curso. Nesse trabalho monográfico, procurou-se
verificar qual era o verdadeiro conhecimento em informática dos
alunos do ensino fundamental e médio. Como resultado, percebeu-se
que esses alunos possuíam um bom desempenho, considerando que as
iniciativas de inclusão digital estavam no começo e, apesar de todo o
investimento do governo, ainda era bastante complicado implantar um
laboratório de informática e colocá-lo em funcionamento em uma escola
pública.

Apesar desse bom conhecimento dos discentes, um problema maior


emergia: a resistência do professor na utilização da tecnologia de forma
útil1 na sala de aula.

Assim, tentando compreender a interação entre os profissionais da


educação e a tecnologia, para este estudo, o objetivo é averiguar se os
professores possuem conhecimento da definição de letramento digital e
como fazem uso de certas ferramentas digitais na sua prática de ensino.

O pressuposto maior desta pesquisa é de que, apesar de os


Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) incentivarem o uso das novas
tecnologias, em conjunto com as disciplinas, os professores ainda não

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31

possuem “maturidade” para o seu uso, isto é, há falta de conhecimento, de


incentivo e, ainda, de treinamento.

Cabe destacar que a introdução da informática na educação se faz


necessária e engloba diversas atitudes e habilidades dos professores, sendo
uma delas o letramento digital.

2 Conceitos sobre letramento

Várias pesquisas em torno de áreas como educação, letras e


linguística têm se preocupado em mostrar a origem e o conceito do termo
letramento. Dentre elas, destacam-se as de Soares (2002, 2006), Ribeiro
(2009), Kleiman (2007, 2008). Esses trabalhos procuram apresentar
considerações importantes sobre o letramento, tendo em vista que estamos
vivendo em uma sociedade moderna, em meio a várias tecnologias, por
isso, é necessária uma visão mais ampla desse conceito para que as pessoas
procurem se adaptar a uma nova realidade: a era digital.

Neste artigo, entende-se o „letramento‟ como uma forma de se ter o


acesso à informação e a sua subsequente utilização no cotidiano.

É relevante pontuar que muitas são as definições e estudos sobre o


conceito de letramento. Kleiman, por exemplo, considera-o como uma
prática de leitura e escrita. No entanto, a autora afirma que essa prática

não envolve necessariamente as atividades específicas de


ler ou escrever. Podemos definir hoje o letramento como
um conjunto de práticas sociais que usam a escrita
enquanto sistema simbólico e enquanto tecnologia, em
contextos específicos, para objetivos específicos.
(KLEIMAN, 2008, p.19).

Para Magda Soares (2006), o conceito de letramento ultrapassa o ato


de ler e escrever. O sujeito precisa fazer uso dessas práticas. Mas de que
forma? Ao entrar no universo do letramento, é necessário apropriar-se do

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32

hábito de buscar uma revista para ler, de frequentar livrarias, revistarias


e/ou bibliotecas. Esse convívio efetivo com a leitura propicia um
envolvimento do sujeito com o sistema de escrita.

Outro ponto importante a considerar são as agências de letramento2.


Por meio dessas agências, sejam elas a escola, comunidade, família,
trabalho, uma pessoa pode se tornar letrada em vários níveis3. O
letramento é, assim, uma habilidade muito individual de cada cidadão, ou
seja, a pessoa pode ser letrada com grau “um”, em determinado tipo de
leitura, e ser grau “dois”, numa leitura mais complexa. Tudo depende do
contexto em que se está inserido.

3 Alfabetização e letramento

De acordo com Soares (2006), é importante ressaltar que existe


diferença entre alfabetização e letramento. O primeiro está mais ligado a
instituição escola, ou seja, é a capacidade do indivíduo saber ler e escrever,
enquanto o segundo está mais relacionado em como a pessoa faz uso da
leitura e da escrita no seu cotidiano.

Fica claro que o letramento tem relação com o uso que o indivíduo
faz da sua alfabetização, o que não significa que o analfabeto não seja
letrado, tudo depende de como essa pessoa está inserida no mundo em que
vive, isto é, um adulto pode ser analfabeto devido a suas condições sociais
e econômicas, mas pode ter contato com a leitura e a escrita de alguma
forma.

Outra característica interessante do letramento está descrita


em Letramento e suas implicações para o ensino da língua materna, de Kleiman
(2007, p. 16). Nessa obra, a autora discorre sobre alguns projetos de
letramento e define essa prática de ensino como “planos de atividades
visando o letramento do aluno”. Assim, um projeto de letramento se
constitui como um conjunto de atividades que se origina de um interesse
real na vida dos alunos, ou seja, os projetos devem contemplar a realidade

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33

dos estudantes através da leitura de textos que circulam no meio deles e na


sociedade em geral.

4 Letramento Digital

Para Mey (1998), a relevância do letramento, tanto do tipo usual


quanto do digital, vai muito além de se afirmar que é uma tecnologia de
informação adquirida ativa ou passivamente. Enfatiza, também, que é
muito mais do que saber ler e escrever ou navegar na internet.

Na realidade, consiste em saber utilizar esses recursos para aplicá-


los no cotidiano, em benefício do próprio usuário. Precisa-se, nesse caso,
indagar o porquê de se fazer uma busca na web, ou seja, saber qual a
finalidade dessa informação para a vida a fim de promover a aquisição de
um (novo) conhecimento.

Soares (2002) ressalta que o sintagma letramento digital é usado para


referir-se à questão da prática de leitura e escrita possibilitada pelo
computador e pela internet.

Nessa linha, em Novas práticas de leitura e escrita: letramento na


cibercultura, Magda Soares (2002) apresenta uma nova visão no conceito de
letramento, bem como a confrontação de tecnologias digitais de leitura e de
escrita com tecnologias tipográficas, salientando que cada uma tem seu
espaço e um efeito na sociedade, resultando em conceitos diferentes de
letramento. Soares (2002) enfatiza que há modalidades diferentes de
letramento o que sugere que a palavra seja pluralizada: há letramentos4, e
não letramento, isto é, “diferentes espaços de escritas e diferentes
mecanismos de produção, reprodução e difusão da escrita resultam em
diferentes letramentos.” (SOARES, 2002, p.156).

Bawden (2008), em Origins and concepts of digital literacy, mais


especificamente, no capítulo 1, descreve o surgimento e o desenvolvimento
da alfabetização digital e procura mostrar a relação desta com outras várias

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34

literaturas da informação. Bawden (2008) delineia os conceitos e aponta


alguns critérios para que o indivíduo seja letrado digitalmente. Esse autor
cita diversos pesquisadores, entre os quais se destaca Paul Gilster (2006),
que define, de forma bastante geral, que a pessoa letrada digitalmente é
capaz de usar e entender informações vindas de vários suportes digitais,
ou seja, o letrado digital tem habilidade de usar essa nova tecnologia a
fim de proporcionar uma melhoria em sua qualidade de vida.

A necessidade de um indivíduo ser letrado digitalmente surgiu a


partir da ideia de que uma fonte digital pode gerar muitas formas de
informações de texto, como imagens, sons, etc. Por isso, uma nova forma de
alfabetização era necessária com o intuito de dar sentido a essas novas
formas de apresentação. Segundo Bawden (2008), outros autores, como
Eshet (2002), pensam da mesma forma que Gilster (2006): o letramento
digital deve ser mais do que a capacidade de usar fontes digitais por ser
uma nova forma de pensamento crítico.

Gilster (2006), citado por Bawden (2008) em seu artigo, define quatro
competências essenciais da literatura digital: a) pesquisas na internet; b)
hipertexto; c) navegação; montagem; d) conhecimento e avaliação de
conteúdo. Enfatiza ainda que, em muitas fontes de informação, alguns
autores estão comparando conhecimentos técnicos de informática com
pensamento crítico, para que o sujeito seja considerado letrado
digitalmente.

Outro trabalho que corrobora com essa mesma ideia é o de Ribeiro5


(2009). Primeiramente, a autora retoma o conceito de letramento para
abrir uma discussão em torno do letramento digital. Ela salienta que este
conceito é complexo e apresenta uma grande amplitude, visto que uma
pessoa pode ser letrada somente para usar a internet em alguns casos –
acessando e-mails ou conversando em redes sociais, por exemplo. Além
disso,segundo a autora, percebe-se que as pessoas são letradas digitalmente
de acordo com sua realidade de vida. O letramento digital, porém, é um

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35

pouco mais do que isso, pois as pessoas precisam aprender a fazer uso da
tecnologia para gerar um benefício ou comodidade para elas. Esse cenário
gera um novo grau de letramento, no qual o indivíduo aprende, por
exemplo, a procurar uma vaga de emprego pela internet, isto é, a ler o
anúncio, a interpretar o que se pedee, então, a candidatar-se à vaga.

Neste artigo, adota-se a posição de que, se a tecnologia está


disponível para ser usada, deve ser colocada em prática para o maior
número de pessoas possível. Nesse caso, é preciso levar em consideração
que essa implementação envolve questões sociais e políticas, as quais não
serão discutidas aqui.

5 Letramento midiático e o professor

O letramento midiático na educação não altera somente a relação do


estudante com o ensino e a aprendizagem, mas também, modifica o papel
do professor que antes tinha como função exclusiva transmitir aos alunos o
fluxo de conhecimentos contidos em livros. No entanto, na era da
informatização, o papel do docente se direciona não apenas à
compreensão e disseminação desses assuntos, mas também, aos novos
temas e conhecimentos contextualizados, com os quais os alunos se
deparam em meio a tantas possibilidades proporcionadas pela hipermídia.
Nessa linha de pensamento, segundo Levy (1999, p.17), “a cibercultura é o
conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas de atitudes de
modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o
crescimento do ciberespaço”.

6 Informática na educação

Segundo Coscarelli e Ribeiro (2005), a utilização da informática na


educação é fundamental. Essas autoras fornecem exemplos de vários
projetos que podem ser trabalhados com os alunos em sala de aula, alguns
deles utilizando a internet. Para os adolescentes, por exemplo, a criação de
e-mails, homepages, fanzines, revistas e blogs desperta o interesse e estimula

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o aprendizado. Para as crianças, é interessante desenvolver o controle do


mouse e, para isso, existem diversos sites educativos6.

Coscarelli e Ribeiro (2005) alegam também que o computador não


vai substituir o ser humano, pois, por ser uma máquina, sempre precisará
de pessoas para realizar operações nele. No entanto, é preciso que os
professores tenham qualificação para realizar essa função.

O que queremos mostrar é que o computador não vai,


por si só, modificar a concepção de aprendizagem das
escolas, uma vez que ele pode ser usado para lidar com
diversas situações. E é aí que está uma das vantagens de
se usar o computador em sala de aula. Cada momento
da situação de aprendizagem requer uma estratégia
diferente, e o computador pode ser útil em várias
ocasiões, bastando para isso que o professor planeje
atividades, mais dirigidas, ou menos, conforme o
momento. (COSCARELLI eRIBEIRO, 2005, p. 27)

Pode-se perceber que as autoras acima incentivam o uso dos


recursos tecnológicos durante as aulas. Porém, cabe ao professor estar
preparado para usar esses recursos, de forma correta e pedagógica, pois
não basta somente dar uma aula mais “animada”, é necessário saber por
que e para que se utiliza determinado recurso, isto é, qual benefício terá o
estudante com essa didática.

Além disso, enfatizam que a maioria dos educadores apresenta


resistência em inserir o computador como ferramenta de trabalho para a
realização de suas atividades. Esse impasse pode acontecer pelo fato de
alguns professores não estarem capacitados para lidar com o
surgimento da grande diversidade de novas tecnologias ou, talvez, porque
as escolas não ofereçam treinamento, cursos de atualização, etc.

Outro ponto importante a ser observado é que cada professor tem


uma cultura diferente, e isso implica formas de pensar distintas em relação
ao uso do computador como ferramenta pedagógica. Diante de alguns
obstáculos para o letramento digital mediado pelos professores, Coscarelli

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e Ribeiro (2005, p. 28) questionam: “Não estariam contribuindo para a


exclusão aqueles professores que acreditam que a informática não é a
realidade de nossos alunos?”.

O uso de computadores, da internet e de outras ferramentas pode


ser utilizado durante as aulas, facilitando o trabalho do professor. Por essa
razão, é necessário investir nesse profissional desde a sua formação inicial
até a continuada, para que ele possa contribuir cada vez mais para a
aprendizagem, introduzindo/unindo as novas tecnologias digitais no seu
procedimento metodológico de ensino, integrando-as às técnicas que
costuma utilizar.

Obviamente, todas essas mudanças trazem consequências para a


sociedade e, às vezes, geram o receio e a insegurança do docente para
complementar suas atividades de aula com base em novos paradigmas
educacionais. O novo é sempre assustador.

7 O quadro metodológico

Esta pesquisa é de natureza descritiva e base qualitativa. Para a


coleta de dados privilegiou-se a entrevista estruturada, pois segundo
Alvez Mazzotti e Gewandsznajder (2002), a entrevista é de natureza
interativa e permite tratar de temas complexos, sendo muitas vezes a
principal técnica de coleta de dados.

Para realização do estudo, primeiramente, selecionou-se três


professores com faixa etária entre 45 a 65 anos, do Centro Federal e
Tecnológico de Minas Gerais - curso de Letras e da Pós-graduação em
Estudos de Linguagens. O contato com esses sujeitos de pesquisa realizou-
se via e-mail. Na medida em que eles foram respondendo, a entrevista foi
sendo agendada para o mês de outubro de 2011, de acordo com
disponibilidade de cada um. Com relação às perguntas norteadoras da
entrevista, elaborou-se se um roteiro de questões sobre letramento digital.

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No exame dos dados, utilizou-se a Análise de Conteúdo (Bardin,


1977) a fim de se interpretar nas entrelinhas a concepção do uso das
tecnologias. Assim, por meio da técnica de conteúdo temático categorial,
elejeu-se as escolhas lexicais consideradas chave, e também, a frequência
dessas escolhas no discurso para a interpretação dos dados.

8 Análise dos resultados

De acordo com Bardin (1977, p. 9), a análise de contéudo é “um


conjunto de instrumentos metodológicos cada vez mais subtis em
constante aperfeiçoamento que se aplicam a discursos extremamente
diversificados.”

Seguindo essa abordagem de análise, observaram-se no discurso dos


professores as escolhas lexicais mais recorrentes para se inferir um
determinado posicionamento. Para isso, categorias semânticas foram
criadas para se mapear os pontos de vista.

Análise da expressão
Como você definiria letramento digital?
Professor A
Inferências do
Categorias
Indicadores fraseológicos pesquisador com
semânticas para se Definição
dosujeito B de pesquisa basenas escolhas
chegar àdefinição
lexicais
“Eu acho que letramento A) Definição Ser letrado Letramento
digital é a acessibilidade, digitalmente é digital é você
capacidade a intimidade saberusar a saber os recursos
queas pessoas têm de usar tecnologia de tecnológicosem
a tecnologia não precisa uma forma diferentes
ser só um computador...” geral. situações do
“eu acho que, por cotidiano.
exemplo, você saber usar
um celular, uma máquina, B) Interação
uma consulta um terminal
de banco é...tudo aquilo
que depende dodigital...”

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Análise da expressão

Como é o seu cotidiano com a tecnologia? Por exemplo, no trabalho? Mais especificamente na
preparação das aulas ou no tratamento das suas tarefas financeiras?
Professor A
Indicadores Categorias Inferências do Definição
fraseológicos do semânticaspara se pesquisador com
sujeito B de pesquisa chegar à definição basenas escolhas
lexicais
“Ah eu uso para preparar a A) Uso O entrevistado Usar a tecnologia
aula eh...eu uso só o reconhece a é importante,
computador eu nem importância do mas é uma tarefa
consigomais escrever na uso da tecnologia, um pouco
mão...” porém é sincero desgastante para
“mas eu não uso muito os ao relatar que usa o professor
recursos do computador pouco os recursos levando se em
parapoder dar aula...” B) Não uso do computador. conta diversos
fatos, como por
“às vezes eu programo C) Prática
exemplo, cursos
uma aula toda diferente eu
de capacitação
esbarrocom um problema
profissional que
ou o computador não
em geral não
funciona ou não consigo
apresentam
entrar na internet...”
resultados
favoráveis.
“então é as vezes eu fico
meiocom preguiça de usar
mesmo o ... de inventar
trazer muita novidade as
vezes na hora você acaba
é...perdendo tempoe fica na
maior decepção e
você não consegue as vezes
usar aquilo que você se
propôs mas eu reconheço
que eu uso pouco...”
“já fiz dois cursos aqui no D)
Cefet ... mas também teve Capacitação
complicação por causa de
queas vezes não entrava
é...o curso foi só teórico
acabou que a gente não
consegui publicar nada
e...mas eu sei que
funciona...”

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Análise da expressão
Como você definiria letramento
digital?
Professor B
Indicadores Categorias Inferências do Definição
fraseológicos do semânticas pesquisador com
sujeito B de para se chegar à basenas escolhas
pesquisa definição lexicais
“Conceito.” C) Definição Ser letrado Letramento
“é um tipo de letramento que é digitalmente é digital évocê
mais do que decodificar ou de ter o contato com saber usar o
lidarcom a situação da a tecnologia; computador em
escrita...” saber operar o diferentes
“o primeiro contato das computador. situações.
pessoascom as máquinas...”
“Com os processos de
trabalho...” “Com o
computador com o campo da D) Interação
tecnologia...”
“Com o uso da internet...”
“Mudança de comportamento E) Atitude
de pessoas.”

Análise da expressão

Como é o seu cotidiano com a tecnologia? Por exemplo, no trabalho? Mais especificamente na
preparação das aulas ou no tratamento das suas tarefas financeiras?
Professor B
Indicadores Categorias Inferências do Definição
fraseológicos do semânticas para se pesquisador
sujeito B de chegar à definição com base nas
pesquisa escolhaslexicais
“entendendo tecnologia, como A) Definição O entrevistado Usar a tecnologia é
computador, internet...” usa a importante, porém
tecnologia mas deve-se ter cautela
“eu utilizo bastante, eu utilizo em alguns para não abandonar
na minha vida pessoal porque momentos
eu leio e-mail, eu respondo, apresenta as práticas de
converso com as pessoas, né dúvida em ensino
...eu utilizo no serviço de banco relação ao seu tradicionais.
B) Uso
é...eu busco informação eu benefício
é...como eu falaria...eu escrevo para a
no computador eu desenho no educação.
computador...”
“nem todas as minhas C) Prática
aulas sãomediadas pelo
computador...”

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“eu vejo como preocupação D) Impacto


também o impacto da
tecnologia informatizada na
sala de aula quando a fonte de
pesquisa ou o trabalho em
sala de aula se resumenisso e
não vai além...”
“mas eu iria do giz ao E)
software ouao computador ou Resistência
a utilização da internet em ao novo
cada nível que eu atuoum uso
diferenciado mas eu nunca
dispenso a tecnologia da voz,
do giz...”

Análise da expressão

Como você definiria letramento


digital?
Professor C
Indicadores Categorias semânticas Inferências do Definição
fraseológicos do para sechegar à pesquisador com
sujeito B de definição basenas escolhas
pesquisa lexicais
“eu entendo F) Definição Ser letrado Letramento
acessibilidade, as digitalmente é digital évocê ter
competências de vocêsaber usar a facilidadeem
alguém para lidar as ferramentas usar alguns
coma tecnologia, básicasde recursos
do computador determinados tecnólogicos.
seja do software, softwares.
hardware eunem
diria, mas entrar
na internet, digitar
textos, eh saber
trabalhar com a
máquina, saber
lidar com textos de
diversas formas
sejam textos
verbais, imagens,
sons, ter um
domínio,uma
certa competência,
uma certa
habilidade para
lidar com essa
nova tecnologia...”

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Análise da expressão

Como é o seu cotidiano com a tecnologia? Por exemplo, no trabalho? Mais especificamente na
preparação das aulas ou no tratamento das suas tarefas financeiras?
Professor C
Indicadores Categorias semânticas Inferências do Definição
fraseológicos do para sechegar à pesquisador com
sujeito B de definição basenas escolhas
pesquisa lexicais
eu lido muito com A) Uso O entrevistado Usar os
a internet, todos usa a tecnologia recursos
os diaseu leio o no seu trabalho e tecnológicos é
jornal Folhade São na sua vidade importante,
Paulo, Globo, forma geral. sejam eles
Estado de Minas, provenientes de
Estadão...” vários meios. A
utilização não
“nas operações deve ficar
financeiras eu limitada ao
consulto banco, computador
cadastro contas... (desktop).
e mesmo saindo
da minha casa os
caixas eletrônicos
então tecnologia é
direto...”
“em relação à
preparação de
aulas écomum
não são todasas
minhas aulas eu B) Prática
gosto de variar é
comum eu baixar
algum vídeo e
passarem sala de
aula...não só a
questão da
internet mas as
vezeseu uso o
computador na
sala de aula para
passar um cd, um
dvd, é um data
show.. não só a
questão da internet
mas também oque
usar no
computador para
dar aula de alguma
outra maneira”

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Nota-se que os professores compartilham algumas ideias


semelhantes em relação ao que é o letramento digital: “acessibilidade”,
“habilidade”, “capacidade”, “intimidade”, etc. Os docentes conhecem o
conceito do termo, pelo menos têm uma noção de que o letramento não se
restringe somente em você saber usar as ferramentas de um computador,
elevai além disso.

Em relação ao cotidiano com a tecnologia, seja no trabalho ou no


tratamento de suas tarefas financeiras, a situação é um pouco diferente. Os
professores B e C afirmam que utilizam a internet “nas operações
financeiras eu consulto banco”, ... “eu utilizo no serviço de banco...
cadastro contas”. Já o professor A não manisfestou nenhum comentário
em relação a essa pergunta.

Quando a entrevistadora questiona sobre o uso da tecnologia em


sala de aula, mais uma vez, o professor C afirma utilizar de maneira
contínua os recursos tecnólogicos, enfatizando que não se limita ao
computador mas a tecnologia de forma geral, como DVD, CD‟s, Vídeos,
etc.

O professor A acredita na inserção da informática na educação,


porém coloca vários obstáculos quando a situação é colocada em prática
“então é... às vezes eu fico meio com preguiça de usar mesmo o ... de
inventar trazer muita novidade às vezes na hora você acaba
é...perdendo tempo”.

Percebe-se que ainda há falta de atitude, ou até mesmo de motivação


por parte do docente. Há indícios de que o professor tem certo receio
diante dessa nova prática de ensino em que ele não é mais o detentor do
conhecimento.

O professor B assume a importância e relata que às vezes usa essa


prática, porém ressalta que nem todas as suas aulas são mediadas pelo
computador. Salienta, ainda, que não dispensa os meios de ensino

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tradicionais “cuspe” e “giz” e coloca em dúvida se essa nova prática de


ensino é melhor do que a antiga.

10 Considerações finais

Há indícios de que os professores têm consciência da importância da


tecnologia na educação, porém, possuem certo “receio” em lidar com essa
variedade de recursos que estão disponíveis, hoje.

Outra consideração importante a se destacar é que, de acordo com os


professores, não existe uma infraestrutura definida nas escolas, ou seja, um
profissional da área de informática para auxiliá-los, quando necessário.

No discurso docente, o sistema escolar precisa ter um projeto


consistente para que essa nova forma de ensino seja satisfatória. Além
disso, os profissionais da educação enfatizam que não se podem deixar
todas as responsabilidades para o professor, cada um deve ter o seu papel
no processo de aprendizagem.

Os recursos tecnológicos estão disponíveis para a sociedade, o


importante é utilizá-los de maneira consciente e de forma didática. Não
basta trazer o computador para sala e ministrar uma aula mais
“animadinha”. O importante é transmitir o conteúdo de forma clara sem
deixar que o brilho da tecnologia apague a figura do professor.

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