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Tem aumentado o interesse pela produção de etanol de milho no Brasil. Espero com este artigo de natureza técnica,
contribuir para clarear melhor este assunto.
Participamos da implantação da primeira planta-flex de etanol de milho do Brasil, instalada no município de Campos
de Júlio – MT, e estamos acompanhando o excelente trabalho que a USIMAT vem executando nestes 04 anos, no
desenvolvimento e aprimoramento de todo o processo e também no crescimento do empreendimento que iniciou com
processamento de 300 t/dia de milho e já em 2015/2016 deve processar 1.000 t/dia.
1 mol (162 g) de amido produz 1 mol (92 g) de etanol ou 92/0,7893 = 116,55 ml a 20º C (estequiométrico).
Considerando-se 1 ton de milho com 72% de amido em matéria seca e milho com 15% de umidade, teremos:
Vantagens do Milho
Pode ser armazenado por longos períodos – 2 a 3 anos ou até mais.
Matéria prima cuja qualidade oscila pouco e praticamente isento de impurezas – o parâmetro mais importante é
o teor de amido.
Tem alto rendimento – enquanto uma ton de cana produz 70 a 85 litros de etanol hidratado, uma ton de milho
pode produzir 370 a 410 litros deste mesmo álcool.
Fácil de manusear – não necessita grandes instalações para movimentar o milho.
Não gera subproduto, a não ser a vinhaça do processo de destilação – tudo do milho é aproveitado. Além do
etanol, produz a ração de alto valor protéico e óleo que depois de refinado é utilizado para consumo humano.
Pode utilizar na planta, milho de baixa qualidade, muitas vezes refugado pelos grandes compradores.
Processo industrial relativamente simples, mais fácil de ser conduzido e menos exigente que o da cana. Os
mesmos operadores que operam a planta de cana operam a planta de milho e com mais facilidade.
Desvantagens:
O milho não gera biomassa para produzir a energia necessária ao seu processamento. Em uma planta-flex bem
projetada, esta desvantagem não existe.
Oscilação de mercado – como imaginamos que o milho será adquirido de produtores locais, pode em certos
momentos se supervalorizar e ser direcionado para outros mercados mais atraentes. Mesmo que sejam feitos
contratos de longo prazo com os produtores, dificilmente a usina segurará um aumento significativo. Por
exemplo: a usina tem um contrato de compra dos produtores a R$15,00 a saca e neste momento o preço pode ir
a R$25,00 a saca. Será que o produtor honrará? A saída é a usina ter grandes depósitos para comprar na baixa e
armazenar ou fazer um hedge via contrato futuro.
Produtos do Milho:
Milho com 70% de amido produz 370 a 400 litros de etanol hidratado/ton de milho. Dependendo do rendimento
e qualidade do milho, pode chegar a 410 L de EH/ton de milho.
Óleo – 20 a 25 kg/t de milho. Este óleo, para consumo humano, precisa ser refinado.
Ração seca (DDG) - 200 a 250 kg /t milho, com 10 a 12% de umidade e teor de proteína de 34 a 36%.
É uma planta construída para esmagar o milho durante todo o ano, e produzir o etanol e os outros dois produtos:
ração e óleo.
Uma planta autônoma tem como característica a necessidade total de um combustível externo, pois do milho tudo se
aproveita, diferente da cana-de-açúcar que produz o seu próprio combustível – o bagaço.
No presente momento não há nenhuma planta autônoma instalada no Brasil.
O custo de implantação de uma planta com estas características varia em função do combustível adotado. A biomassa
envolve equipamentos de movimentação e armazenamento, diferente do gás, que se recebido na Usina não demanda
estas necessidades.
Uma planta deste tamanho teria um custo de implantação de aproximadamente 200 a 250 milhões de reais.
A viabilidade econômica de uma planta com estas características dependerá obviamente, além do preço de
comercialização dos produtos, do preço da matéria prima, insumos e outros e principalmente do preço do combustível
que a nosso ver, tem grande influência na matriz de custos.
2. Planta Flex
Recebeu este nome porque pode produzir o etanol, processando a cana-de-açúcar ou o milho na mesma planta.
As plantas flex atuais existentes ainda não processam as duas matérias primas simultaneamente. O milho é
processado na entre safra da cana-de-açúcar.
Nas regiões sudeste e centro-oeste a safra da cana se inicia em abril ou maio e se estende até novembro. No Paraná
(região sul), se inicia um pouco mais cedo, normalmente em março. Portanto o período de entre safra é de 04 a 05
meses, tempo que as usinas de açúcar e as destilarias de álcool nada produzem. O trabalho na indústria se restringe à
manutenção. É aí que entra o processamento do milho.
Vantagens da Planta Flex:
A grande vantagem da planta flex é a produção do etanol na entre safra da cana quando a usina fica parada sem
produzir e, portanto, sem receita. Com a planta flex, a produção pode se estender por mais 03 a 04 meses, ficando um
mês para a manutenção dos equipamentos, principalmente da caldeira, que é o equipamento mais exigido. Se a usina
tiver 02 caldeiras, o tempo de parada pode ser menor.
Assim grande parte dos recursos necessários para se processar o milho, se utiliza da planta de cana. Vejamos:
O potencial maior da instalação de plantas flex, atualmente, está nos Estados de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso,
Goiás e norte do Paraná, onde há grande produção de milho com alta produtividade e onde os preços deste cereal são
mais atraentes.
Etanol de Milho nas Destilarias de Etanol de Cana e nas Usinas de Açúcar
Como o etanol de milho não gera biomassa (combustível), o maior desafio é produzir este álcool somente com o
excesso de bagaço da planta de etanol de cana. Nas usinas de açúcar, praticamente todo o bagaço é consumido e não
gera excedentes suficientes para atender uma planta de milho anexa. Assim, até o momento, somente as destilarias
autônomas é que têm mostrado interesse nas Plantas Flex.
Mas, não devemos nos esquecer do grande potencial da palha de cana, que pode viabilizar a produção de etanol de
milho, inclusive nas usinas de açúcar.
Cogeração:
Nas usinas e destilarias que fazem ou pretendem fazer a cogeração com a utilização da palha de cana, o sistema é
ainda de melhor aplicação, pois a energia do vapor de escape dos turbo geradores é que irá alimentar a planta de
milho. Esta situação gera uma condição excelente nas destilarias autônomas, pois viabiliza a planta de milho
funcionando durante o ano todo e a exportação da energia elétrica, somente com o combustível da usina gerado pela
biomassa.
1. Destilarias Autônomas
Em uma planta existente produzindo etanol hidratado, sem a utilização da palha, com melhorias no processo, é
possível gerar excedentes de bagaço para atender toda a entressafra processando o milho – vai depender também da
capacidade da planta de milho. O bagaço atualmente é armazenado solto, mas já há alternativas para que venha a ser
armazenado enfardado.
Se a destilaria resolver ampliar, deve instalar caldeira de alta pressão e turbo gerador, para viabilizar também a
cogeração. Neste caso, a utilização da palha da cana vem a ser muito interessante, podendo a planta de milho operar
durante o ano todo com a biomassa da cana e ainda comercializar energia elétrica.
2. Usinas de Açúcar:
Anexar uma planta de milho em uma usina existente que não utiliza a palha é inviável do ponto de vista energético a
menos que haja outra fonte barata de combustível. Com a utilização da palha, o sistema pode ficar interessante, mas
isto precisa ser verificado, necessitando de uma otimização no processo industrial da usina.
Receitas Bruta e Líquida: Números de uma Planta Flex, baseados na USIMAT FLEX safra 2013/2014:
a. Parâmetros Básicos:
b. Produções:
Receita Bruta
R$63.900.000,00
Investimentos:
Conforme levantamentos que executamos em ago/2014, o custo de implantação de uma planta de etanol de milho, em
uma destilaria autônoma transformando-a em FLEX com capacidade para esmagar 800 ton/dia de milho é de
aproximadamente 30 milhões de reais.
Nestes valores não se inclui silos de armazenamento e possíveis melhorias na Usina.
1. Destilaria Autônoma: Em uma planta nova que fosse projetada para utilizar as duas matérias primas – cana e milho
- e com a utilização da palha de cana, se adotariam as mais modernas técnicas existentes em seu sistema energético.
Esta destilaria poderia operar o milho o ano todo somente com a biomassa (bagaço + palha) gerada pela cana.
Ademais, a cogeração é uma situação altamente positiva, pois geraria grandes excedentes de energia.
Simulamos uma planta flex nova, com as mais modernas técnicas existentes e já consagradas no mercado, operando a
cana em conjunto com o milho e utilizando 80 kg de palha/t de cana.
Consideramos a planta da cana operando de maio a novembro e a planta de milho operando de maio a março, com o
mês de abril a planta parada para manutenção. Nos meses de dezembro, janeiro, fevereiro e março, a planta de milho
opera sem a cana.
Na safra da cana + milho, a moagem da cana é de 2.000.000 de ton e do milho é de 200.000 ton. Na safra do milho
(dez a mar) se processará mais 114.000 ton deste cereal.
2. Usina de Açúcar:
Tal como em uma destilaria, com as mesmas ideias de se implantar uma planta top de linha, uma usina de açúcar
poderia operar o ano todo processando o milho e fazendo a cogeração somente com a biomassa da cana. Neste caso,
tem que processar a palha.
A matéria prima seria a cana e o milho e os produtos finais seriam: etanol da cana, etanol do milho, ração, óleo,
energia exportada e mais o açúcar.
Uma planta que viesse a ser projetada nestas condições demandaria um estudo de viabilidade minucioso,
principalmente em relação à logística de todo o sistema: matéria prima, produtos produzidos e combustível.