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Metodologia Passo a Passo

Qual a finalidade?
Ter em mãos uma metodologia concisa para a solução de problemas de mecânica dos sólidos
cuja falha do componente mecânico analisado é majoritariamente estática, assumindo uma
série de considerações e hipóteses prévias.

Como ilustrar essa metodologia?


A partir de uma condição de contorno (isto é, campo de deslocamentos), um exemplo pode ser
resolvido para fins de aprendizagem e fixação da metodologia.

Exemplo. Um projeto mecânico dispõe de um rasgo de chaveta para encaixar um componente


mecânico, fabricado em Aço SAE 1045, com módulo de elasticidade E = 210 GPa e coeficiente
de Poisson υ = 0,30. Esse rasgo foi aproximado, numericamente em ambiente CAD/CAE, pelo
seguinte campo de deslocamentos:

⃗ { }

Determine, passo a passo, segundo a metodologia apresentada em sala de aula, (a) as tensões
principais e tensões principais de cisalhamento; (b) a tensão equivalente de Von Mises; e (c) o
coeficiente de segurança, sabendo que o limite de escoamento do referido aço é 280 Mpa.
Para fins de análise, admita o ponto P(0,1; 0,1; 0,1).

Solução.

Passo 1 – Considerações e Hipóteses


Assume-se que o material isotrópico, uniforme e homogêneo para o regime elástico, em um
sistema linear submetido a pequenos deslocamentos e pequenas deformações, atendendo o
princípio de superposição de efeitos.

Passo 2 – Campo de Deslocamentos


O campo de deslocamentos é dado por
⃗ { }

e o ponto de análise é P(0,1; 0,1; 0,1).

Passo 3 – Tensor de Deformações


Aplica-se o operador nabla e as subsequentes derivadas para obter o Tensor de Deformações,
a partir do campo de deslocamentos, tal que

( ) ( ) ( )

( ) ( ) ( )

( ) ( ) ( )
[ ]

onde

[ ]

Cuidado! É usual utilizar a deformação angular (distorção) ao invés da deformação linear, pois
a tensão de cisalhamento é definida como função da distorção. Logo,

( )

( )

( )

Observação. Lembre-se de que o tensor é simétrico; logo,

Simplificando, tem-se
[ ]

Fazendo as derivadas do problema analisado,

[ ]

Aplicando o ponto analisado P(0,1; 0,1; 0,1),

[ ]

Passo 4 – Relações Constitutivas


A partir das considerações e hipóteses assumidas no Passo 1 da metodologia, aplicam-se as
propriedades do material analisado, tal que

( )

( )

{ ( )

( )
{
( )( )

Para o material do problema, aplicando as equações e calculando, tem-se

De posse desses dois valores, a relação constitutiva para materiais isotrópicos permite calcular
o campo de tensões,
( )
( )
( )

E, lembrando que o Tensor de Tensões é também simétrico,

[ ]

Calculando, tem-se

[ ]

Observação. Percebe-se que, pelo Tensor de Tensões, as tensões de cisalhamento, para o caso
analisado, são negligenciáveis, restando apenas as tensões principais que estão alinhadas nos
eixos principais. Essa matriz poderia ser considerada apenas como diagonal pura, e cada um
dos elementos da diagonal principal representam os Invariantes da matriz (Invariantes de 1ª
ordem). O que isso significa? Significa que estes elementos na diagonal principal, nesse caso
particular, podem ser diretamente as tensões principais ( ).

Passo 5 – Tensões Principais


Independentemente da particularidade do caso analisado, a metodologia deve ser genérica o
suficiente. Então, a partir do Tensor de Tensões, podem-se determinar as tensões principais
(normais e de cisalhamento principais). Dois métodos de solução são interessantes: a fórmula
direta ou a solução de autovalores e autovetores.

Por autovalores e autovetores,

( )
Pela fórmula direta,

onde

{
( )

Aplicando os valores calculados no Passo 4, tem-se a seguinte equação característica,

Para resolvê-la, utilize o Método de Briot-Ruffini ou o Método de Newton-Raphson. Também é


possível utilizar uma calculadora científica para tal tarefa ou, ainda, em sites e aplicativos,
como em https://www.wolframalpha.com/. As raízes do polinômio, devidamente ordenadas,
são as seguintes

Observação. Nesse caso particular, verifique que as tensões principais foram praticamente as
mesmas tensões na diagonal principal.

Passo 6 – Critérios de Falha


Esta etapa é a mais importante para o projeto mecânico de falhas estáticas. Deve-se utilizar
algum critério de falha baseado em Teorias de Falha (Teoria da Máxima Energia de Distorção,
Teoria da Máxima Tensão de Cisalhamento ou Teoria da Máxima Tensão Normal). O critério
mais usual para materiais dúcteis é o de Von Mises ou Máxima Energia de Distorção, dada por

Calculando para o problema analisado, tem-se


Em seguida, aplica-se o coeficiente de segurança (CS) tal que

Ou seja, para o campo de deslocamentos dado (condição de contorno), este componente


mecânico, a partir do material utilizado, não deve ser empregado no projeto mecânico, porque
o coeficiente de segurança resultou em um valor menor do 1,0; portanto, deve ser negado e
escolhido outro material, por exemplo. Se fosse um valor acima de 1,0, ele poderia ser usado;
porém, quanto mais próximo de 1,0, melhor será a relação custo-benefício mecânico (não é
necessariamente custo-benefício financeiro).

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