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A IMPORTÂNCIA DOS INDICADORES DE DESEMPENHO

AMBIENTAL PARA A COMPETITIVIDADE DAS EMPRESAS E


INICIATIVAS AMBIENTAIS

(*) Por Marilena Lino de Almeida Lavorato


O conflito de sustentabilidade dos sistemas econômico e natural
em virtude da escassez dos recursos naturais e dos impactos ambientais
resultantes do modelo de produção e consumo adotado no ultimo século, fez
com que uma nova visão de desenvolvimento fosse criada, ou seja, o
desenvolvimento sustentável.

Uma rápida Panorâmica:


Desenvolvimento Sustentável, é aquele desenvolvimento que atende
às demandas da geração presente, sem comprometer as oportunidades das
gerações futuras.(UNITED NATIONS, 1987)
Tivemos a partir da segunda metade do século passado, uma série de
movimentos globais debatendo a “questão ambiental” e sua interferência na
economia dos países e na vida do cidadão. Como conseqüência deste
debate global, ações diversas voltadas ao objetivo da sustentabilidade
ambiental nos planos: global, (planeta como um todo), regional (estados,
países, etc.) e local, (pontuais), que acabaram por definir e apresentar
indicadores de desempenho ambiental para tais finalidades. É importante
ressaltar a importância dos indicadores para entendimento, interpretação e
ação, quer seja de âmbito global ou local. Para melhor entendimento da
importância dos indicadores, podemos citar alguns deles que de alguma
forma já são do conhecimento de grande parte da população.
Em relação aos indicadores de interesse global, podemos citar o
“Tratado de Kyoto” (1), um acordo mundial que gerou vários indicadores
permitindo visualização e entendimento do desempenho ambiental do
planeta em relação ao chamado aquecimento global, apresentou metas e
prazos para ratificação e implementação.
Enfim, neste caso, os indicadores exerceram um papel de fundamental
importância para compreensão, elaboração, implementação e aferição.
(1) Tratado de Kyoto: acordo internacional que estabelece metas de
redução de gases poluentes para os países industrializados que se
comprometeram a reduzir, até 2012, as suas emissões de dióxido de
carbono a níveis pelo menos 5% menores do que os que vigoravam em
1990. O protocolo foi aprovado no dia 11 de dezembro de 1997 na cidade de
Kyoto/Japão, a antiga capital imperial, sendo o documento assinado por 141
nações. Para que o pacto se tornasse juridicamente obrigatório era
necessário que os países causadores de 55% das emissões de dióxido de
carbono o ratificassem. Kioto foi ratificado por 141 países, incluindo 34
industrializados. Mais informações no site:
http://www.mct.gov.br/clima/quioto/protocol.htm

Citando exemplos de indicadores do interesse do cidadão das


metrópoles brasileiras, destacamos os indicadores da qualidade do ar, das
praias, rios e reservatórios e áreas contaminadas (2) no estado de São Paulo
fornecido pela CETESB. Para casos pontuais e localizados, e de interesse
mais específico, podemos citar os indicadores de consumo (de energia e
água), geração de resíduos, entre outros, para empresas, como também,
indicadores de demanda e carências pontuais para propostas institucionais
e/ou educacionais (capacitação, educação, etc.).
Selecionamos a seguir, alguns exemplos de indicadores que
consideramos mais adequados para o entendimento da função e importância
dos indicadores de desempenho ambiental para compreensão e tomadas de
decisão.
Exemplos: No âmbito global selecionamos o indicador “Pegada
Ecológica” (3) um indicador de sustentabilidade que apresenta a área física
em ha (hectare) e média per capita utilizada no planeta pela espécie
humana, considerando vários itens relativos a produção/consumo de
alimento, energia, geração de resíduos, entre outros. A pegada ecológica
apresenta uma variedade de outros indicadores a partir deste que estão
disponíveis no site:
http://www.panda.org/news_facts/publications/general/livingplanet/abou
t_lpr.cfm#EFn

(2) Áreas Contaminadas: Uma área contaminada pode ser definida


como uma área, local ou no terreno onde há comprovadamente poluição ou
contaminação causada pela introdução de quaisquer substâncias ou
resíduos que nela tenham sido depositados, acumulados, armazenados,
enterrados ou infiltrados de forma planejada, acidental ou até mesmo natural.
Nessa área, os poluentes ou contaminantes podem concentrar-se em
subsuperfície nos diferentes compartimentos do ambiente, como por
exemplo no solo, nos sedimentos, nas rochas, nos materiais utilizados para
aterrar os terrenos, nas águas subterrâneas ou, de uma forma geral, nas
zonas não saturada e saturada, além de poderem concentrar-se nas
paredes, nos pisos e nas estruturas de construções.Ver:
http://www.cetesb.sp.gov.br/Solo/areas_contaminadas/relacao_areas.asp
(3) Pegada Ecológica: Uma ferramenta gerencial que mede a área de
terra e água que uma população humana requer para produzir os recursos
que consume e para absorver seus desperdícios, considerando a tecnologia
existente. A WWF Internacional liberou seu quinto Relatório Vivo de Planeta
em 2004 usando uma nova análise cientifica fornecida pela Rede
Global de Pegada que compara as Pegadas Ecológicas de 150
nações. Ver:
http://www.footprintnetwork.org/gfn_sub.php?content=footprint_overview

No âmbito regional podemos citar o IDS – Índice de Desenvolvimento


Sustentável do IBGE que foi realizado em 2002 e 2004 apresentando
indicadores de sustentabilidade do país dividido em quatro áreas de
interesse: ambiental, social, econômica e institucional. O IDS do IBGE
congrega um conjunto de 59 indicadores, e resulta de um movimento
internacional – intensificado a partir da ECO 92 e coordenado pela Comissão
de Desenvolvimento Sustentável da ONU – para consolidar indicadores
internacionais compatíveis, permitindo o acompanhamento do tema em
escala mundial. Para conhecer os demais indicadores IDS do IBGE, visite o
site: http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/04112004ids.shtm

No âmbito local, optamos por selecionar um Indicador pontual que


aponta temas de interesse para o desenvolvimento técnico gerencial da
gestão ambiental corporativa por meio da prática do Benchmarking (4). É um
indicador de demanda para identificar ferramentas e temas de interesse do
gerenciamento ambiental nas empresas, e que deu subsídios à tomada de
decisão para uma iniciativa ambiental, ou seja, a criação de um Prêmio
inédito – “Benchmarking Ambiental Brasileiro”, cuja formatação cria um
ambiente ideal para o compartilhamento do conhecimento técnico gerencial
da gestão ambiental corporativa brasileira na medida em que faz a seleção,
validadação e apresentação dos melhores “cases” de gestão ambiental do
país.
O indicador é resultado de uma pesquisa realizada pelos organizadores
do prêmio com aproximadamente 300 empresas do país, e que entre outras
informações, apontou a grande demanda pela ferramenta gerencial
Benchmarking (89%), e os principais temas de interesse (9) da gestão
ambiental empresarial. Para conhecer o formato diferenciado desta iniciativa
institucional que já selecionou e validou 34 cases de sucesso para a prática
do Benchmarking, promovendo e incentivando a adoção das boas práticas
ambientais nas empresas e instituições, visite o site:
http://www.maisprojetos.com.br/bench/index.htm
Indicadores Benchmarking Ambiental - MAISPROJETOS:
Fonte: Mais Projetos, mar/2003
- http://www.maisprojetos.com.br/agenda/pesquisa.htm

(4) Benchmarking: trata-se de uma ferramenta que serve descobrir,


analisar, comparar, aprender com empresas líderes em seus segmentos,
métodos e processos competitivos, e assim adaptar este novo conhecimento
nos próprios processos para aumentar a competitividade de seu negócio.
Benchmarking é hoje reconhecido no meio empresarial como um
método essencial para a prática da melhoria contínua. Boxwell, Roberto J.,
Benchmarking, competir com vantagens.

A EVOLUÇÃO DA PERCEPÇÃO DA VARIÁVEL AMBIENTAL SOB A


ÓTICA DA GESTÃO.
“Responder a problemática da harmonização dos objetivos sociais e
econômicos do Desenvolvimento com gestão ecologicamente prudente dos
recursos e do meio” (Ignacy Sachs, 1981)
Para atender aos desafios do Desenvolvimento Sustentável, surgiu
uma infinidade de ações e iniciativas que favoreceu o incremento e atuação
dos controles legais, acordos internacionais, certificações ambientais, entre
outros. Evidente, que a empresa dentro desta nova configuração, respondeu
a estas pressões com práticas gerenciais e investimentos em tecnologias
mais limpas.
Hoje, é de senso comum, que o não atendimento as normas legais
significa sérios prejuízos e riscos, podendo até mesmo acarretar o
fechamento da unidade produtiva, ou, barreiras para entrada em mercados
externos como por exemplo, exportações para países com legislação
restritiva como é o caso de muitos países europeus.
Outro fator oportuno a ser destacado, é a política ambiental que
empresas com sedes nestes paises adotam para atender a legislação local,
e em conseqüência disto, acabam por difundir e implantar tal política em
suas filiais, o que de certa forma, acelera o desenvolvimento técnico
gerencial da gestão ambiental em todo o planeta. É comum observarmos
empresas multinacionais com políticas ambientais que excedem as
exigências legais do país em que estão instaladas para atenderem a
exigência de suas matrizes e produzirem dentro das normas de excelência
descrita na política ambiental mundial da empresa.
Todo este processo criou um circulo virtuoso, onde empresas que
empregam modelos de gestão ambiental desenvolvidos, para garantir seus
padrões de excelência, acabe por também exigir o mesmo de seus
fornecedores, a fim de construir uma cadeia produtiva segura e
ambientalmente correta que atenda a legislação local, a conformidade da
política ambiental da matriz (se filial de empresa com sede em país com
legislação mais restritiva) e as exigências de mercados mais desenvolvidos
(exportação ou fornecedor de empresa certificada ISO14001).
Diante desta dinâmica, era de se esperar que houvesse um incremento
no desenvolvimento de ferramentas de gestão ambiental, as chamadas
“Boas Práticas Ambientais” para que as empresas conquistassem melhores
resultados em relação a eficiência do uso dos recursos naturais e a geração
de resíduos. Em virtude deste processo, muitas oportunidades surgiram,
descobrindo soluções inovadoras e novos mercados para produtos e
serviços com atributos ambientais corretos. As palavras de ordem dentro dos
modelos de gestão ambiental em relação aos seus insumos e processos
foram: reciclagem, reuso, minimização, redução, reaproveitamento,
tratamento, fontes renováveis, tecnologias limpas, conformidade legal e
ambiental, consciência ambiental, entre outras, etc.

As Boas Práticas Ambientais:


Ao olharmos as ferramentas de gestão ambiental disponíveis, notamos
que a evolução da percepção da variável ambiental nas organizações surgiu
do conceito da qualidade. A ferramenta de gestão da qualidade PDCA (Plan–
Do–Check–Act) ilustra bem esta evolução que foi alavancada pela eficiência
de resultados obtidos em processos gerenciais de Melhoria Contínua. A
partir da década de 70 houve uma evolução sistemática de normas e
procedimentos com o objetivo da excelência dos processos.
A partir da década de 80, o surgimento de inúmeros modelos de
gestão ambiental com reconhecimento internacional cujo objetivo principal
foi a padronização (harmonização) das normas e procedimentos para a
melhoria do desempenho ambiental das empresas. Tivemos modelos
dirigidos a determinados ramos de atividade, como por exemplo, o
“Responsible care” (5) ou atuação responsável recomendado para empresas
químicas, e modelos universais como as certificações ISOs (6), no caso, a
ISO 14000 recomendada a todo ramo de atividade.
Independente do modelo de gestão adotado, imperativo a aferição dos
resultados, pois de outra forma perde-se o garantia de comprovação da
eficiência do modelo.
Diante desta necessidade, os modelos de gestão sugerem a adoção de
indicadores de desempenho como forma de aferição e subsídios para
tomadas de decisão e ajustes que se fizerem necessários.
Indicadores de Desempenho Ambiental.
Indicadores de Desempenho são entendidos como expressões
quantitativas ou qualitativas que fornecem informações sobre determinadas
variáveis e suas inter-relações, ou seja, informações indispensáveis para
processos de melhoria contínua nas empresas.
Para a Construção de Indicadores, devemos estar atentos a alguns
atributos que os mesmos devem conter, ou seja, devem assegurar:
1- Base Científica
2- Modelo Adequado.
3- Temas prioritários.
4- Compreensão e aceitabilidade.
5- Sensibilidade adequada.
6- Facilidade de monitoramento.
7- Fontes de informação.
8- Enfoque preventivo ou antecipatório.
9- Trabalhar com valores discerníveis (padrões).
10- Periodicidade Adequada (coleta).
11- Conjunto de indicadores com função de aplicabilidade.

(5) Responsible Care: Criado no Canadá em 1985, pela Canadian


Chemical Producers.Association - CCPA, e atualmente encontrado em mais
de 40 países com indústrias químicas em operação, o Responsible Care se
propõe a ser um instrumento eficaz para o direcionamento do gerenciamento
ambiental. Este, considerado no seu aspecto mais amplo, inclui a segurança
das instalações, processos e produtos, e a preservação da saúde
ocupacional dos trabalhadores, além da proteção do meio ambiente, por
parte das empresasdo setor e ao longo da cadeia produtiva. Fonte:
http://www.abiquim.org.br/conteudo_print.asp?princ=atu&pag=prog
(6) ISO - International Organization Standardization – uma
organização internacional com objetivo de propor normas que representem e
traduzam o consenso dos diferentes países para padronizar os
procedimentos, medidas, materiais e seu uso, em todo os ramos de
atividade. Sua sede fica em Genebra/Suíça. No Brasil, é representada pela
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. A ISO 14000 é o
conjunto de normas que visam unificar as diversas metodologias existentes
de gerenciamento ambiental e estabelecer os critérios e sistematização de
um modelo de GESTÃO AMBIENTAL. Que foi publicada em 1996, sendo
que a ISSO 14001 define um SGA – Sistema de Gestão Ambiental onde a
empresa busca conhecer todos os aspectos ambientais.
Uma das referências conceituais mais utilizadas para seleção de
Indicadores de Desempenho Ambiental na empresa é a NBR ISO 14031
(ferramenta de gestão ambiental), onde se descrevem 2 categorias gerais de
indicadores a serem considerados na condução da Avaliação de
Desempenho Ambiental (ADA) que são: Indicador de Condição Ambiental
(ICA) e Indicador de Desempenho Ambiental (IDA).
Veja modelo na figura abaixo retirada da Cartilha de Indicadores de
Desempenho Ambiental da FIESP:
Fonte:
http://www.fiesp.com.br/download/publicacoes_meio_ambiente/cartilha_indic
_ambiental.pdf

O ICA (Indicador de Condição Ambiental) fornece informações sobre a


qualidade do meio ambiente onde se localiza a empresa por meio da
comparação com os padrões e regras ambientais estabelecidos pelas
normas e dispositivos legais (Ex: Qualidade do Ar, da água, etc.). Já, o IDA
(indicadores de Desempenho Ambiental) analisa a eficiência da empresa em
relação a seus principais aspectos ambientais (Consumo de Energia, de
matéria prima, de materiais e a geração de resíduos), sob o prisma (tipo) do
Desempenho Operacional (IDO) informações relacionadas as operações do
processo produtivo da empresa e Desempenho de Gestão (IDG),
informações dos resultados dos esforços de gestão da empresa.
A escolha dos Indicadores de Desempenho Operacional (IDO)
contempla as entradas e saídas de materiais, fornecimento de insumos,
projeto, instalação,operação e manutenção das instalações físicas e
equipamentos. Já a escolha dos Indicadores de Desempenho Gerencial
(IDG), afere o atendimento aos requisitos legais, utilização eficiente dos
recursos, Treinamento de Equipes e investimento em programas ambientais.
Conclusões:
O desafio dos indicadores de desempenho ambiental é apontar os
pontos críticos do sistema e definir parâmetros de resiliência (a capacidade
do sistema se recompor) para aferição e tomadas de decisão fundamentadas
em informações transparentes e consistentes com sua devida credibilidade e
confiabilidade.
Um bom indicador é mais que uma estatística. Ele representa uma
construção lógico-conceitual que permite uma correta interpretação da
realidade e dá subsídios para tomadas de decisão, sejam elas no âmbito das
políticas públicas ou decisões gerenciais das empresas ou segmentos
corporativos.
Assim como a temperatura do nosso corpo é um indicador que já
aprendemos a respeitar, o mesmo ocorre em relação aos indicadores de
desempenho ambiental, que sob determinados parâmetros permitem
“Responder a problemática da harmonização dos objetivos sociais e
econômicos do Desenvolvimento com gestão ecologicamente prudente dos
recursos e do meio” subsidiando escolhas que venham garantir a conquista e
manutenção do tão sonhado desenvolvimento sustentável, “aquele
desenvolvimento que atende às demandas da geração presente, sem
comprometer as oportunidades das gerações futuras”.

Fonte:
Site: www.maisprojetos.com.br
Bibliografias:
Indicadores de Desempenho Ambiental da Indústria, FIESP
UNITED NATIONS, 1987
Sachs, Ignacy, 1981
Martinez, Quiroba, 2003
Brundtland, 1991
Boxwell, Roberto J., Benchmarking, competir com vantagens
Sites:
http://www.panda.org/news_facts/publications/general/livingplanet
/about_lpr.cfm#EFn
http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/04112004ids.sht
m
http://www.fiesp.com.br/download/publicacoes_meio_ambiente/cartilha
_indic_ambiental.pdf
http://www.maisprojetos.com.br/agenda/pesquisa.htm
http://www.maisprojetos.com.br/bench/index.htm
http://www.mct.gov.br/clima/quioto/protocol.htm
http://www.cetesb.sp.gov.br/Solo/areas_contaminadas/relacao_areas.a
sp
http://www.footprintnetwork.org/gfn_sub.php?content=footprint_overvie
w
http://www.abiquim.org.br/conteudo_print.asp?princ=atu&pag=prog

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