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ORIENTAÇÕES

PARA A ATUAÇÃO
PROFISSIONAL
FRENTE A SITUAÇÕES
DE SUICÍDIO E
AUTOMUTILAÇÃO
Orientações para a atuação
profissional frente a situações
de suicídio e automutilação

BRASÍLIA
2020
XVI PLENÁRIO (2019-2022)
Diretoria
Conselheira presidenta Thessa Guimarães
Conselheira vice-presidenta Carolina Saraiva
Conselheiro tesoureiro Rafael Gonçalves de Santana e Silva
Conselheira secretária Sílvia Reis

Conselheiras e conselheiros efetivos


Thessa Guimarães
Rafael Gonçalves de Santana e Silva
Carolina Saraiva
Rebeca Bandeira de Souza Potengy
Regina Lúcia Sucupira Pedroza
Artur Mamed Cândido
Sílvia Reis
Demetrius Alves de França

Conselheiras e conselheiros suplentes


Lura Machado Costa
Tania Inessa Martins de Resende
Leida Maria de Oliveira Mota
Camila Moura Fé Maia
Taoan de Oliveira Kokay
Julia Matinatto Salvagni
Juliano Moreira Lagoas
Tarsis Malta Almeida
Romeu Sergio Maia de Albuquerque

CONSELHO REGIONAL DE PSICOLOGIA DO DISTRITO FEDERAL (CRP 01/DF)


SRTVN Quadra 701
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Brasília - DF

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C7554o Conselho Regional de Psicologia do Distrito Federal.
Orientações para a atuação profissional frente a situações
de suicídio e automutilação / Organizado pela Comissão Especial
de Psicologia na Saúde do CRP 01/DF --. Brasília: CRP, 2020.
48p.: il.

1. Atuação Profissional. 2. Orientação. 3. Psicologia. 4.


Saúde. 5. Comportamento. 6. Suicídio - Prevenção. 7.
Automutilação - Prevenção. 8. Intervenção Profissional. 9.
Transtorno Mental. I. Título.

CDU 159-027.561

Bibliotecária: Tatiane de Oliveira Dias – CRB1/2230

Organização Comissão Especial de Psicologia na Saúde do CRP 01/DF


Coordenação Rubens Bias e Sílvia Reis
Autores Artur Mamed Cândido, Beatriz Montenegro Franco de Souza Parente,
Felipe de Baére Cavalcanti D’Albuquerque, Fernando Pessoa de Albuquerque,
Hyanne Minduri, Laura Campos de Moura, Natália López Tomé, Renan Lopes de Lyra,
Rubens Bias Pinto, Sara da Silva Meneses, Sílvia Reis, Tania Inessa Martins de Resende
Projeto gráfico e diagramação Zabelê Comunicação | Gabriel Hoewell e Monica Rodrigues
Revisão Mayara Reis, Rubens Bias e Thessa Guimarães
Bancos de Imagens DepositPhotos, Freepik, Freevectors, Black Illustrations

Esta é uma publicação elaborada pelo Conselho Regional de Psicologia do Distrito Federal
(CRP 01/DF). A reprodução é autorizada, desde que citada a fonte.
Sumário
APRESENTAÇÃO 7

CONCEITOS: DEFININDO OS COMPORTAMENTOS SUICIDAS E


AUTOMUTILAÇÃO 8
Suicídio 8
Tentativa de suicídio 8
Planejamento do suicídio 9
Ideação suicida 9
Automutilação 9

EPIDEMIOLOGIA: IDENTIDADES, COMPORTAMENTOS E


SITUAÇÕES QUE AUMENTAM AS CHANCES DE SUICÍDIO 10
Casos de suicídio no Brasil 11
Casos de suicídio no DF 11
Adolescentes 12
Pessoas idosas 13
Gênero 14
População LGBTI+ 14
População negra 15
População indígena 16
Baixa escolaridade 17
Tentativas de suicídio anteriores 17
Transtornos mentais e sofrimento psíquico prévio 18
Consumo abusivo de drogas 19
Desemprego e precarização das relações de trabalho 19
Profissionais de segurança 20
Pandemia de Covid-19 21

PSICODINÂMICA: CARACTERÍSTICAS, SENTIMENTOS E


MOTIVAÇÕES DO COMPORTAMENTO SUICIDA 22
Sofrimento intolerável, perturbação, pressão 22
Dificuldade em lidar com adversidades e frustrações 23
Necessidade de parar a dor 23
As frases de alerta 23
Crises curtas e intensas 24
Ambiguidade: querer e não querer 24
Tentativas cada vez mais letais 25
Proximidade e facilidade de acesso aos meios 25
Efeito contágio 25
Sobreviventes: luto e estigma entre familiares e pessoas próximas 26
O QUE PROFISSIONAIS DE PSICOLOGIA PODEM FAZER:
ESTRATÉGIAS E FERRAMENTAS DE CUIDADO 27
Intervenção em crise 27
Avaliação de risco 27
Notificação compulsória de violência autoprovocada 28
Projeto Terapêutico Singular 28
Acolhimento, vínculo e corresponsabilização 29
Continuidade do cuidado 29
Grupos de apoio 29
Posvenção: cuidados e intervenções aos sobreviventes e apoio ao luto 30
Supervisão 30
Matriciamento ou apoio matricial 30
Trabalho em rede 31

O PAPEL DOS SERVIÇOS E EQUIPAMENTOS PARA O CUIDADO 32


Hospitais gerais e unidades de pronto atendimento 32
Serviços de socorro e atenção pré-hospitalar: NUSAM/SAMU, Corpo de
Bombeiros, Polícia Militar 33
Serviço Telefônico 24h: CVV 33
Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) 33
Clínicas-escola 33
Unidades Básicas de Saúde (UBS) 34
Núcleos Ampliados de Saúde da Família (NASFs) 34
Clínicas particulares 34
Escolas e Setembro Amarelo 35
Serviços do SUAS: renda, moradia, vínculos familiares, deficiência, violência 36
Empresas e organizações 36

O QUE A SOCIEDADE PODE FAZER PARA PROTEGER 37


Preconceito e estigma 37
Mitos e verdades 38
Aspectos protetivos e estressores 39
Mídia 40
Redes Sociais 40
Austeridade fiscal e desigualdade social 41
Neoliberalismo e os efeitos na subjetividade 41
Garantia de direitos e políticas sociais: o papel do SUS, SUAS e educação 41

CONCLUSÃO 42

REFERÊNCIAS 43
Apresentação
O CONSELHO REGIONAL DE PSICOLO- objetiva orientar a atuação profissional
GIA DO DISTRITO FEDERAL (CRP 01/DF) frente a demandas de prevenção, cuida-
é uma das entidades regionais que, jun- do e notificação de situações que envol-
tamente com o Conselho Federal de Psi- vam risco de autoextermínio, com base
cologia (CFP), compõem o Sistema Conse- nos preceitos éticos e técnicos da profis-
lhos de Psicologia no Brasil. Trata-se de são e nas normativas vigentes.
uma autarquia pública que tem a respon- Para tanto, o Guia está organizado da
sabilidade de orientar, disciplinar e fisca- seguinte forma: no primeiro capítulo,
lizar nosso exercício profissional. apresentamos os conceitos centrais, que
Logo nos primeiros meses à frente da serão trabalhados ao longo de todo o ma-
gestão do CRP 01/DF, no final de 2019, terial. No segundo, situamos epidemiolo-
a Comissão Permanente de Orientação gicamente a questão do suicídio, relacio-
e Fiscalização (COF) sinalizou ao Plená- nando-a com questões de gênero, raça,
rio a intensa procura da categoria por classe e grupos etários, por exemplo. No
orientação sobre os procedimentos para terceiro capítulo, discutimos aspectos da
notificação compulsória de situações de psicodinâmica do suicídio, tais como as
violência, notadamente aquelas relacio- identidades, os comportamentos e as si-
nadas às tentativas de autoextermínio, tuações que podem aumentar as chances
mas principalmente sobre como proce- da ocorrência de um suicídio. Nos capítu-
der para prevenir e cuidar das pessoas los seguintes, buscamos discutir aspectos
nessas ocasiões. relacionados ao cuidado das pessoas: o
A Lei n° 13.819/2019 instituiu a Políti- que a Psicologia pode fazer e o papel dos
ca Nacional de Prevenção da Automutila- serviços e da sociedade.
ção e do Suicídio. Essa Lei amplia a noti- Desde o princípio nos orientou uma
ficação compulsória, além dos casos que preocupação de que a compreensão sobre
chegam nos serviços de saúde, para ca- esse fenômeno não fosse reduzida a um
sos que cheguem aos estabelecimentos determinismo biológico, processo que pa-
de ensino públicos e privados, e insere os tologiza, medicaliza e reduz a experiência
conselhos tutelares como órgãos a serem dos sujeitos, sem ofertar ferramentas para
comunicados. A Lei exige que estabeleci- a compreensão ou o cuidado com seu so-
mentos de saúde e de ensino, públicos e frimento. Compreendemos que a preven-
privados, informem e treinem seus pro- ção ao suicídio se faz com financiamento
fissionais. Portanto, a demanda por com- e fortalecimento da rede de atenção psi-
preender tal fenômeno é crescente. cossocial. O Sistema Único de Saúde é a
Nesse sentido, o CRP 01/DF, por meio nossa maior ferramenta de prevenção ao
da sua Comissão Especial de Psicologia na suicídio e de democratização do acesso à
Saúde, criou um grupo de trabalho (GT) saúde no Brasil. Este guia foi escrito por
composto por profissionais e especialis- pessoas que defendem e atuam no SUS.
tas que se debruçaram sobre a temática Com esta iniciativa, longe de pretender
no esforço de sistematizar e compartilhar esgotar todos os tópicos relacionados a um
sua experiência e conhecimento para li- assunto de tamanha complexidade, pre-
dar com os desafios impostos por estas tendemos dialogar com parte importante
situações. Assim, produzimos o material das demandas que se apresentam a nós,
que agora apresentamos. O guia “Orien- buscando favorecer uma atuação social-
tações para a atuação profissional frente mente comprometida, politicamente enga-
a situações de suicídio e automutilação” jada, ética e tecnicamente responsável.
Conceitos
Definindo os comportamentos
suicidas e automutilação

NO PRESENTE CAPÍTULO, são apresen-


tados os conceitos que serão trabalha-
dos ao longo do Guia “Orientações para a
atuação profissional frente a situações de
suicídio e automutilação”. A fim de estabe-
lecermos uma melhor comunicação e pos-
sibilitar uma melhor compreensão sobre
os fenômenos abordados, é importante
evidenciar o sentido que empregamos a da história, já houve diferentes interpre-
cada conceito que utilizaremos. Para tan- tações sobre o autoextermínio (MINOIS,
to, buscamos na literatura algumas defi- 2018). Atualmente, embora seja um tema
nições consensuais sobre conceitos como trabalhado em diversas áreas do conhe-
“suicídio”, “tentativa de suicídio”, “plane- cimento, a compreensão sobre o suicídio
jamento suicida”, “ideação suicida” e “au- precisa ir além de interpretações que o
tomutilação”. Como se poderá perceber, reduzam a um fenômeno de ordem me-
embora se refiram a fenômenos intima- ramente biopsíquica, fazendo-se neces-
mente vinculados, todos esses conceitos sário levar em consideração sua natureza
possuem uma caracterização própria e é complexa, o que exige pensá-lo também
importante sua definição. a partir de dimensões históricas, socio-
ambientais, culturais e econômicas.
SUICÍDIO
O suicídio é um ato deliberado, iniciado TENTATIVA DE SUICÍDIO
e concluído por uma pessoa com pleno co- A tentativa de suicídio diz respeito a
nhecimento ou expectativa de sua morte. qualquer conduta suicida não fatal ou
Ainda que possa haver ambivalência na dano provocado em si mesmo intencio-
ação, é escolhido um método que a pes- nalmente, enquanto o suicídio é reco-
soa considere ser fatal (OMS, 2001; CFM, nhecido como o ato de matar a si mesmo
2014). Nesse sentido, o suicídio é um dos (MS, 2019a). A pessoa pode realizar com-
elementos do comportamento suicida - portamentos autolesivos com intenção
que envolve a ideação, o planejamento e a de morrer, podendo ser uma tentativa de
CONCEITOS

tentativa de autoextermínio (OMS, 2014). suicídio planejada ou impulsiva, por isso


Trata-se de um fenômeno multifato- é necessário atentar ao risco de suicídio e
rial e sobredeterminado, de forma que a como a letalidade aumenta se existirem
quaisquer generalizações de fatores de tentativas sucessivas, pois a pessoa pode
risco ou explicações reducionistas são aumentar o grau a cada tentativa (VIDAL
8 contraproducentes (MS, 2017a). Ao longo et al., 2013).
PLANEJAMENTO IDEAÇÃO SUICIDA
DO SUICÍDIO A ideação suicida envolve pensamentos
O planejamento do ato confere gravi- sobre tirar a própria vida ou estar morto/
dade maior à ideação suicida. Planos são morta, sendo considerada um fator im-
detalhados, com intencionalidade explí- portante para intervenções, pois quanto
cita, escolha de método; chegando-se a mais frequente e mais detalhada, maior o
definir data e conferir ao ato um caráter risco do ato em si (CALDEIRA, 2015).
de comunicação interpessoal. É muito im-
portante saber se a tentativa de suicídio
ou o suicídio foi um ato impulsivo ou o AUTOMUTILAÇÃO
resultado de um plano. Compreender a Ainda que não haja uma conceituação
complexidade e a letalidade dos métodos uniforme, entende-se por automutilação
escolhidos pelo indivíduo para a concreti- qualquer comportamento que envolva a
zação desse plano são elementos funda- agressão intencional ao próprio corpo,
mentais para a avaliação do risco de uma sem que haja intenção consciente de sui-
nova tentativa e para a compreensão dos cídio. Trata-se de um ato que não possui
motivos do ato. aceitação social, tampouco para exibição,
o que o distinguiria da prática de cutting,
na qual também há objetivos estéticos
(GIUSTI, 2013).
CONCEITOS

9
Epidemiologia
Identidades, comportamentos e situações
que aumentam as chances de suicídio

NESTA PARTE DO guia, analisaremos, nacionais e regionais sobre o fenômeno


a partir da epidemiologia, identidades, do suicídio, para que seja possível um
comportamentos e situações que au- melhor mapeamento do fenômeno, suas
mentam as chances de suicídio. São fe- taxas regionais de prevalência e modo
nômenos diferentes, que incluem etapas como atinge os diversos grupos etários,
do ciclo de vida, raça e etnia, histórico de bem como as diferenças por sexo, gêne-
EPIDEMIOLOGIA

tentativas, diagnósticos psiquiátricos e ro e condição de vida, entre outras (MS,


a relação das pessoas com o trabalho. 2019a; 2019b). Não queremos, com esse
A epidemiologia nos permite compre- debate, cair em um determinismo psico-
ender a relação entre esses fatores e o lógico que leve profissionais a definirem
sofrimento psíquico intenso que pode de antemão quem vai cometer suicídio e
levar ao autoextermínio. Faz-se neces- quem não vai, mas sensibilizar profissio-
10 sário o investimento na formulação e na nais sobre essas identidades, comporta-
disponibilização de dados estatísticos mentos e situações.
CASOS DE SUICÍDIO NO BRASIL

Dados da Organização Mundial de


Saúde (OMS) revelam que suicídios têm
aumentado em todo o mundo, chegan-
do a ocupar a terceira posição entre as
principais causas de morte nas faixas etá-
rias de 15 a 44 anos (OMS, 2019). O Bra-
sil está entre os dez países que registram
os maiores números absolutos de suicí-
dios (BOTEGA, 2014). Segundo dados do
Ministério da Saúde (MS, 2017a), a taxa
de suicídio aumentou 12% entre 2011 e
2015, chegando a 5,7 óbitos por 100 mil
habitantes, no Brasil, em 2015.

CASOS DE SUICÍDIO NO DF
Conforme dados do Plano Distrital de
Prevenção do Suicídio, as mortes por sui-
cídio no DF são a quinta mais frequente
entre as causas externas, atrás de homi-
cídios, acidentes de trânsito e quedas aci-
dentais. As causas externas são a tercei-
ra causa de morte mais frequente, atrás
apenas das doenças cardiovasculares e
neoplasias (SESDF, 2019).
Observando a série histórica é possível
notar um aumento gradual da mortalidade
por suicídio no DF entre 2015 e 2019. A fai-
xa etária e a relação entre gênero seguem
as tendências nacionais, com um aumento
de incidência a partir de 15 anos e maior
concentração de mortes por suicídio entre
20 e 50 anos de idade, com um maior aco-
EPIDEMIOLOGIA

metimento na população masculina (SES-


DF, 2020a). Cabe ressaltar que o DF foi a
unidade federativa que apresentou maior
variação nos casos de suicídio de pessoas
do sexo feminino, variando em 1,1/100 mil
habitantes, isto é, houve aumento nos ca-
11 sos de suicídio entre mulheres na região.
ADOLESCENTES

As taxas entre jovens têm aumenta- Durante a adolescência, as pessoas


do a tal ponto que, atualmente, a ju- são mais propensas a tomar atitudes im-
ventude é o grupo de maior risco em pulsivas, em especial quando lidam com
um terço dos países (OMS, 2019; MS, situações de estresse agudo, o que con-
2019a; OMS, 2012). Na média, o suicídio tribui para o aumento de pensamentos e
é a segunda principal causa de morte atitudes suicidas. Por isso, é importante
entre jovens de 15 a 29 anos no mun- atentar aos sinais de alerta em relação
do (OPAS, 2018). No Brasil, entre 2000 ao risco de suicídio na adolescência e
a 2015, ocorreram 11.947 mortes em nos primeiros anos da vida adulta (BOTE-
EPIDEMIOLOGIA

função de lesões autoprovocadas em GA, 2015), tais como: mudanças bruscas


jovens de dez a 19 anos, representando de personalidade ou de hábitos, afasta-
8,25% do total de mortes por suicídio mento de familiares e amigos, perda de
no período citado, havendo tendência interesse por atividades que eram apre-
de crescimento (SISTEMA DE INFORMA- ciadas, mudança no padrão de sono, co-
ÇÕES SOBRE MORTALIDADE apud CI- mentários autodepreciativos, desespe-
12 COGNA et al., 2019). rança e interesse crescente sobre morte.
PESSOAS IDOSAS
Este é o grupo populacional de maior ção invalidada e banalizada, uma vez que
índice de suicídio no Brasil. De acordo as queixas e reclamações são vistas por
com a OMS, em 2015 os índices de sui- familiares e profissionais de saúde como
cídio entre pessoas de 65 a 74 anos de parte comum do processo de envelheci-
ambos os sexos foram de 7,8 mortes por mento (BARRERO; NICOLATO; CORRÊA,
100 mil habitantes. O índice é ainda maior 2006). Nesse sentido, o diagnóstico e tra-
entre pessoas com mais de 75 anos, che- tamento da depressão, assim como in-
gando ao total de 8,9 mortes por 100 mil tervenções de prevenção e promoção de
habitantes quando consideramos ambos saúde mental – como programas de rein-
os sexos, e a 19,2 mortes por 100 mil ha- serção social e de manutenção de víncu-
bitantes para homens acima de 75 anos. los – são os meios mais eficazes para a
O diagnóstico de depressão, o isola- diminuição dos índices de suicídio (LYRA;
mento social, as doenças incapacitantes e TAVARES, 2019). As histórias de vida de
degenerativas, as dificuldades financeiras pessoas idosas com ideação suicida são
e a aposentadoria são os principais fato- muitas vezes permeadas de relações ins-
res de risco para o suicídio entre pessoas táveis e corrosivas, além de sentimento
idosas (MINAYO; CAVALCANTE, 2010). Em de isolamento e não pertencimento, que
relação a pessoas idosas institucionaliza- culmina em percepções autodepreciati-
das, o sentimento de abandono, desam- vas e risco de suicídio (LYRA, 2018). Dessa
paro e isolamento são os principais fato- forma, profissionais de saúde mental de-
res associados ao quadro depressivo e de vem estar atentas e atentos à qualidade
ideação suicida (MINAYO; FIGUEIREDO; das relações interpessoais, em queixas
MANGAS, 2017). Pessoas idosas muitas relacionadas ao isolamento social e per-
vezes não manifestam seu quadro de ide- cepções autodepreciativas como sinais
ação por receio de terem sua comunica- de risco para o suicídio.
EPIDEMIOLOGIA

13
GÊNERO

Em muitos países, incluindo o


Brasil, o número de óbitos por suicí-
dio é superior entre os homens. Em
contrapartida, o número de tentati-
vas de autoextermínio é maior entre
as mulheres. Enquanto as mulheres
têm duas vezes mais registros de
tentativas de suicídio que os ho-
mens, os homens morrem por sui-
cídio três vezes mais do que as mu-
lheres (MS, 2017a). Esse fenômeno
é conhecido como paradoxo de gênero do entre os homens, pois o autocuidado é um
comportamento suicida e possui algumas comportamento culturalmente associado
hipóteses para o seu entendimento, como à feminilidade (BAÉRE; ZANELLO, 2020).
o fato de os homens comumente empre- Desse modo, observa-se que o gênero é
garem métodos com maior potencial letal um elemento relevante para se pensar a
em suas tentativas (CANETTO; SAKINO- forma como o comportamento suicida
FSKY, 1998). Tal predileção pelos meios de se evidencia em culturas marcadas pelo
alta letalidade aponta para questões de sexismo, como a brasileira. Quanto me-
gênero, pois um homem em uma cultura nos o sujeito corresponde aos padrões
machista e patriarcal nunca pode falhar, culturais de gênero, maior a chance de vir
mesmo diante de um ato suicida. Além a manifestar intenso sofrimento psíqui-
disso, é preciso considerar que o zelo pela co decorrente das retaliações normativas
própria saúde não é uma prática cultivada nos diversos ambientes de socialização.

POPULAÇÃO LGBTI+
No Brasil, não é possível o levantamen- como as realizadas pelo Grupo Gay da
to de dados oficiais sobre a morte por Bahia (GGB). Pesquisas no cenário inter-
suicídio da população LGBTI+, uma vez nacional apontam uma frequência maior
que nos registros de óbito (declaração e de manifestação do comportamento sui-
atestado) não constam os itens de orien- cida entre a população sexo-gênero di-
tação sexual e identidade de gênero. Para versa, sobretudo entre a população trans
contornar essa negligência do Estado, es- (GRANT et al., 2010).
timativas são realizadas a partir do levan- Logo, no País que apresenta alarmantes
tamento de casos noticiados pela mídia, índices de violência LGBTI+fóbica, em pri-
meiro lugar no ranking de assassinatos à
população LGBTI+, é esperado que o sofri-
mento psíquico intenso dessa população
se reflita em um número elevado de casos
EPIDEMIOLOGIA

de autoextermínio. Uma vez que a preca-


rização da vida da população sexo-gênero
diversa se mantém através de reiteradas
vivências de preconceito e discriminação,
entende-se que muitas pessoas LGBTI+
não se suicidam, mas são “suicidadas”
14 pela sociedade (BAÉRE, 2019).
POPULAÇÃO NEGRA
Em 2018, uma publicação do Ministério
da Saúde em parceria com a Universidade
de Brasília (UnB) assinalou que, entre 2012
e 2016, a média de óbitos por suicídio foi
superior entre a população de jovens e
adolescentes negros, em comparação às
demais raças e etnias. Em 2012, a taxa de
mortalidade por suicídio foi de 4,9 óbitos
por 100 mil entre adolescentes e jovens
negros e aumentou 12%, alcançando 5,9
óbitos por 100 mil entre adolescentes e
jovens negros em 2016. De acordo com
a publicação, o racismo gera danos que
impactam significativamente nos estados
psíquicos. Esses efeitos estão comumente EXPERIÊNCIA EXITOSA
relacionados à humilhação racial e a ne-
gação de si, cujas consequências podem
RODA DE CONVERSA DE
levar a uma agudização do sofrimento HOMENS NEGROS DE BRASÍLIA
psíquico, culminando na manifestação do Trata-se de uma iniciativa coletiva,
comportamento suicida (MS, 2018). gratuita e de valores afrorreferen-
O racismo estrutural (ALMEIDA, 2019), ciados. Iniciada em 2018, reúne-se
historicamente constituído na sociedade duas vezes por mês e tem como um
brasileira, tem como um de seus efeitos o de seus objetivos proporcionar um
apagamento das consequências do sofri- espaço de acolhimento e liberdade de
mento psíquico entre a população negra. expressão para homens negros (cis,
Essa invisibilidade também aparece em trans, independente de sua orienta-
produções literárias que trabalham com a ção sexual). A roda não tem o forma-
temática do suicídio, conforme aponta Na- to de um grupo terapêutico e não se
vasconi (2019), que investigou a presença propõe a ser um espaço de atendi-
de marcadores étnico-raciais na literatura mento profissional, mas acaba tendo
acadêmica sobre o comportamento suicida. um efeito terapêutico nos participan-
tes através da empatia e da iden-
tificação. Os participantes relatam
bem-estar em pertencer a um grupo
que abre espaço para tratamento de
questões não abordadas nos contex-
tos racistas, patriarcais e heteronor-
mativos brancos em que vivemos.
Saiba mais aqui.
EPIDEMIOLOGIA

15
POPULAÇÃO INDÍGENA
Entre as populações mais atingidas cosmologias e sistemas de crença espe-
pelo suicídio estão os povos indígenas, cíficos. Muitos e muitas jovens indígenas
que têm apresentado as maiores taxas relatam sentimentos de não-pertenci-
de mortalidade por suicídio em diversos mento: por um lado, sofrem discrimina-
países como, por exemplo, entre as po- ção na cidade por serem indígenas; por
pulações nativas do Canadá, de Ilhéus outro, em suas aldeias, são criticados
no Pacífico Sul, Micronésia, Papua-No- pelos mais velhos em decorrência de há-
va Guiné, Austrália, entre outros (OLI- bitos da sociedade envolvente que incor-
VEIRA; LOTUFO NETO, 2003). Dados do poraram com o contato. Esse cenário nos
Ministério da Saúde mostram uma taxa coloca uma tarefa desafiadora: a necessi-
de mortalidade por suicídio entre povos dade de se desenvolver um diálogo inter-
indígenas no Brasil três vezes maior que cultural ao propor ações de acolhimento
a população em geral, e com maior inci- e suporte às experiências de sofrimentos
dência na faixa etária de dez a 19 anos. psicossocial de povos indígenas, que de-
Em contextos indígenas, lidamos com mandam reconhecimento e valorização
outras concepções de vida, de morte, das suas formas tradicionais de nomea-
de organização social e política, além de ção e de lidarem com suas experiências
relações de parentesco diferenciadas e de sofrer.
EPIDEMIOLOGIA

16
BAIXA ESCOLARIDADE

Em relação à escolaridade, a maior in-


cidência ocorre entre pessoas com até
três anos de estudo, 6,8/100 mil habitan-
tes (MS, 2017a). Em geral, quanto maior
a escolaridade, menor a ocorrência de
transtornos mentais, inclusive o suicídio.

TENTATIVAS DE SUICÍDIO ANTERIORES

O fator de risco mais fortemente as- acompanhamento, por parte de psicólo-


sociado a suicídio é o histórico de tenta- gas, psicólogos e outros profissionais de
tiva de suicídio e/ou histórico familiar de saúde, de pessoas que já realizaram ten-
óbito por suicídio (BRASIL, 2019b; OPAS, tativa de suicídio ou que tiveram familia-
2018). Por isso, é muito importante o res nessa situação.
EPIDEMIOLOGIA

17
TRANSTORNOS MENTAIS E SOFRIMENTO PSÍQUICO PRÉVIO
Quadros de sofrimento psíquico gra- enorme desvantagem para a psiquiatria,
ve, descritos como “transtornos mentais” pois significa que todos os diagnósticos
e “transtornos de personalidade”, consti- hoje são baseados em julgamentos sub-
tuem importantes fatores associados ao jetivos, que são falíveis por natureza.
risco de suicídio. Os transtornos mentais Berenchtein Netto (2013) enfatiza que
são descritos, categorizados e estimulados o suicídio é um fenômeno complexo e
pelo Manual de Diagnóstico e Estatístico de multifatorial e que afirmações clássicas
Transtornos Mentais (DSM) e pelo Código contidas em manuais de saúde, como a
Internacional de Doenças (CID). Assim, a li- de que “90% dos casos há diagnóstico de
teratura especializada irá recorrer ao con- transtornos psiquiátricos”, reduzem o fe-
ceito de transtorno mental para afirmar, nômeno a uma explicação biologicista . É
por exemplo, que o risco de suicídio ao necessário um olhar crítico sobre a pro-
longo da vida em pessoas com transtornos dução desses dados. Os estudos sobre
do humor (principalmente depressão) é de prevalência de diagnóstico de transtorno
seis a 15%; com alcoolismo, de sete a 15%; e psiquiátrico utilizam muitas vezes a técni-
com esquizofrenia, de quatro a 10% (OMS, ca de autópsia psicológica. Nela, familia-
2000a). O transtorno de personalidade bor- res, amigos e profissionais de saúde são
derline está associado não só às tentativas entrevistados a fim de tentar traçar um
de suicídio, como também a outros com- perfil psicológico da pessoa que morreu
portamentos autolesivos. Tais dados indi- por suicídio, no momento da ocorrência
cam a importância da detecção, referencia- (WERLANG, 2012). Tal técnica pode trazer
mento e manejo dos transtornos mentais. dados enviesados sobre a percepção do
No entanto, as estratégias utilizadas sujeito por conta do seu falecimento.
para diagnosticar “transtornos mentais” Também é necessário que profissionais
e para tratá-los com psicotrópicos devem estejam alertas para os efeitos colaterais
ser feitas de maneira cautelosa e crítica. dos psicofármacos utilizados para o trata-
Allen Frances, psiquiatra e coordenador mento, quando são realizados esses diag-
do DSM IV, afirma em seu livro “Salvando nósticos. O aumento das chances de sui-
o normal” (ALLEN, 2016), que o aumento cídio é descrito como efeito de vários dos
de diagnósticos de transtornos mentais medicamentos mais consumidos no Brasil.
está engolindo a normalidade, que o sis- As reflexões sobre Uso Racional de Medica-
tema de diagnósticos é muito frouxo e mentos podem ajudar nessa tarefa.
que a ausência de testes biológicos é uma Saiba mais aqui.
EPIDEMIOLOGIA

18
CONSUMO ABUSIVO DE DROGAS
Existem associações encontra-
das entre mortalidade por suicí-
dio e uso abusivo de álcool, bem
como sobre intoxicação por álco-
ol no momento da tentativa de
suicídio (REDDY, 2010).
No entanto, é importante não
atribuir restritamente como cau-
sa do comportamento o uso de
álcool e/ou outras drogas, visto
que o uso abusivo de substâncias
psicoativas muitas vezes encobre/
camufla conflitos emocionais e relacio- faz com que essas substâncias sejam co-
nais, que são aliviados e/ou tentam ser muns no contexto dos intentos suicidas.
resolvidos por meio do uso de substân- Deve-se ressaltar que o acesso a substân-
cias psicoativas (NEVES, 2004; RIBEIRO, et cias psicoativas pode representar um fator
al., 2016). Identifica-se ainda que o uso de de risco para pessoas com ideação suicida,
substâncias psicoativas atua como facili- o que deve ser levado em consideração no
tador da passagem ao ato suicida, o que cuidado ofertado a esses sujeitos.

DESEMPREGO E PRECARIZAÇÃO DAS


RELAÇÕES DE TRABALHO
Em estudo publicado na The Lancet los trabalhistas, as piores condições de tra-
(KAWOHL; NORTH, 2020), pesquisadores balho e dificuldades socioeconômicas são
observaram o efeito do desemprego sobre fatores de risco para transtornos mentais
o suicídio, com base em dados públicos glo- e para o comportamento suicida (SOUZA,
bais de 63 países, e observaram que o risco 2016; SILVA et al., 2015; BOTEGA, 2014).
de suicídio aumentou em 20-30% quando O trabalho, além de constituir fonte de
associado ao desemprego entre 2000 e renda, é central para a formação identitá-
2011 (incluindo a crise econômica de 2008). ria (BORGES; TAMAYO, 2001) e social, sen-
A associação entre crises econômicas, pio- do fonte de produção de significações e
res condições de saúde mental e aumento subjetividade (LANCMAN; UCHIDA, 2003).
das taxas de suicídio é bem estabelecida na As consequências do desemprego são im-
literatura sobre saúde mental (SILVA et al., pactantes não apenas pela perda mate-
2015). No entanto, estudos recentes têm rial, mas pela impossibilidade do sujeito
demonstrado que a fragilidade dos víncu- “expressar-se, desenvolver-se e deixar sua
marca no mundo” (LIMA; BORGES,
2002). Assim, perde-se também a
EPIDEMIOLOGIA

sua identidade e “sentido na vida”


(PINHEIRO; MONTEIRO, 2007). O
sentido na vida, para além de uma
concepção existencial, é um cons-
tructo relacionado ao risco de sui-
cídio: a perda no sentido da vida
gera agravos para o risco de suicí-
19
dio (VAN ORDEN et al., 2012).
PROFISSIONAIS DE SEGURANÇA
Profissionais das forças de segu-
rança demandam especial atenção no
manejo clínico. Além do acesso a ar-
mas de fogo, apresentam altos níveis
de estresse laboral e uma cultura or-
ganizacional muitas vezes sexista, que
desencoraja que tais profissionais pos-
sam falar abertamente sobre seus pro-
blemas, difundindo a crença de serem
capazes de lidar sozinhos com as situ-
ações estressantes, dificultando a bus-
ca por apoio psicológico (KOCH, 2010;
SILVA; BUENO, 2017). A literatura cien-
tífica aponta que a restrição de acesso
a meios para provocar a morte é uma
das principais formas de prevenção ao
suicídio (BOTEGA, 2015). EXPERIÊNCIA EXITOSA
Entre os principais fatores de risco as- PREVENÇÃO AO SUICÍDIO NA
sociados ao suicídio em profissionais de PM-PR E NA PM-SP
segurança estão o abuso de álcool, pro-
blemas de relacionamento interpessoal, Existem programas voltados para
sentimentos de fracasso e impotência a prevenção ao suicídio dentro
em relação ao desempenho profissional, das corporações militares, como o
depressão e isolamento social (SILVA; Programa de Prevenção ao Suicídio da
BUENO, 2017). Outro fator importante Polícia Militar do Paraná e o Programa
mas ainda pouco estudado é o impacto de Prevenção de Manifestações
da exposição ao suicídio em profissio- Suicidas da Polícia Militar do Estado
nais de segurança (CEREL et al., 2019; de São Paulo (MIRANDA; GUIMARÃES,
KOCH, 2010). 2012 apud SILVA; BUENO, 2017).
Nesse sentido, profissionais de Psico- Ambos os programas são baseados
logia que trabalham em instituições de no diagnóstico, avaliação, tratamento
segurança pública devem se sensibilizar de transtornos psiquiátricos e
sobre fatores de risco e sobre a impor- risco de suicídio, bem como o
tância de buscar ajuda, além de aprovei- acompanhamento dos casos. O
tar a sua proximidade com o contexto Programa ainda conta com palestras
da cultura organizacional para oferecer e outras atividades de conscientização.
acolhimento e escuta qualificada que No entanto, como destaca Miranda
facilitem a sensação, por parte de pro- (2016) em sua crítica ao tratamento da
fissionais de segurança, de serem com- ideação suicida pela Polícia Militar do
preendidas e compreendidos. Profissio- Estado do Rio de Janeiro, os programas
nais de saúde mental que atuam fora de prevenção devem focar não apenas
EPIDEMIOLOGIA

de tais instituições de segurança pública no encaminhamento para profissionais


devem estar atentas e atentos ao risco de saúde mental, mas na gestão de
de suicídio em pacientes dessa catego- pessoas, gestão logística, formação e
ria profissional, mantendo a rede fami- treinamento, além da implementação
liar próxima e, em caso de risco, solicitar de protocolos de atendimento e manejo
interrupção do acesso à arma por parte de casos de risco.
20 do/a profissional.
PANDEMIA DE COVID-19
Considerando que o Brasil é o segundo dições em que estão se dando as perdas
país com maior número de óbitos por Co- de familiares, amigas e amigos por Co-
vid-19 até agosto de 2020, sendo um dos vid-19 (FIOCRUZ, 2020).
epicentros da pandemia de SARS-Cov-2, é O contexto da pandemia tem dificultado
importante reconhecer a necessidade de a realização dos processos coletivos de ri-
que profissionais de saúde mental se pre- tualização e elaboração do luto. Aos efeitos
pararem para acolher e oferecer suporte de um luto não elaborado estão associados
ao sofrimento psíquico decorrentes da o estabelecimento de processos depressi-
pandemia de Covid-19. Estudos têm iden- vos e o aumento do risco de comportamen-
tificado uma demanda maior por cuida- to suicida. É importante que profissionais
do em saúde mental (KAWOHL; NORDT, de Psicologia produzam mais conhecimen-
2020), especialmente relacionada às di- to específico para acolherem mais efetiva-
ficuldades enfrentadas em processos de mente as pessoas que perderam familiares
luto não-elaborados em virtude das con- ou amigos por Covid-19 (FIOCRUZ, 2020).
EPIDEMIOLOGIA

21
Psicodinâmica
Características, sentimentos e
motivações do comportamento suicida

POR PSICODINÂMICA, FAZEMOS refe-


rência ao conjunto de forças, característi-
cas pessoais e motivos psicológicos envol-
vidos em algum tipo de comportamento.
Assim, o estudo da psicodinâmica de um
comportamento autolesivo é fundamen-
tal para o estabelecimento de estratégias
de manejo clínico e o oferecimento de su-
porte psicológico, uma vez que permite a
profissionais preverem e compreenderem
melhor o estado mental, motivos e fatores
psicológicos associados a uma tentativa
ou suicídio consumado. A seguir, apresen- tar as crises suicidas agudas, como um
tamos alguns dos elementos psicodinâmi- diagnóstico de doença terminal, o fim de
cos mais pertinentes para a compreensão uma relação, a morte de alguém queri-
dos comportamentos autolesivos. do, ou mesmo o endividamento excessi-
vo (SHNEIDMAN apud CÂNDIDO, 2011).
SOFRIMENTO INTOLERÁVEL, Dentre todos estes fatores, o mais im-
portante para Shneidman (1993) seria a
PERTURBAÇÃO E PRESSÃO vivência de um sofrimento tido como in-
O suicidologista Edwin Shneidman tolerável. Tal vivência é comumente re-
(1993) afirmou que um ato suicida cos- portada em notas e cartas suicidas como
tuma ser o resultado da conjugação de uma força tão esmagadora na vida das
três importantes fatores psicológicos: 1) pessoas, que arrasta consigo tudo ao
uma dor psicológica intolerável, 2) um redor e lhes parece interminável e in-
grau de perturbação e 3) um estado de tolerável, tornando-as desesperadas e
pressão. A vivência da dor psicológica incapazes de encontrar qualquer solu-
intolerável é o resultado de frustrações ção. Pela pressão que esta dor impõe, o
das necessidades psicológicas mais bá- suicídio passa a ser compreendido como
sicas; o fator de perturbação refere-se a uma solução para o alívio de sua tensão.
PSICODINÂMICA

qualquer distúrbio preestabelecido que O manejo com pessoas em risco de


reduza a capacidade de enfrentamento suicídio deve considerar essas caracte-
dos indivíduos, tais como os transtor- rísticas. É necessário buscar alternati-
nos de humor e aqueles caracterizados vas para que a pessoa consiga lidar com
pela impulsividade, além de déficits cog- essa dor, torná-la mais tolerável, ampliar
nitivos constituídos; já a pressão está a capacidade de lidar com a frustração e
relacionada com estressores e eventos diminuir a pressão e a tensão causadas
22
adversos de vida, capazes de precipi- pelos eventos estressores.
DIFICULDADE EM LIDAR cionalmente pelo uso de substâncias)
e tentarem fugir de um modo abrupto
COM ADVERSIDADES E e imediatista, muitas vezes, conferindo
FRUSTRAÇÕES ao seu ato um caráter de comunicação
Shneidman (1993) define que uma das interpessoal. O ato passa a ter então o
características psicológicas mais constan- valor de uma mensagem a ser interpre-
tes ao longo da vida de um indivíduo que tada por pessoas próximas. O manejo
vem a tentar suicídio é um padrão de bai- deve buscar encontrar alternativas para
xo nível de tolerância e uma capacidade lidar com essa dor e para que ela se tor-
reduzida de enfrentamento de situações ne mais tolerável para a pessoa.
adversas e frustrações (LEENAARS, 1999).
Assim, ajudar a pessoa no desenvolvi- AS FRASES DE ALERTA
mento de estratégias de enfrentamento
É comum que a pessoa com ideação
mais qualificadas pode representar um
suicida dê sinais através de frases de aler-
dos objetivos terapêuticos mais impor-
ta, tais como “eu tenho vontade de sumir”,
tantes no manejo com indivíduos que
“eu não aguento mais”, “eu não sirvo para
apresentam comportamento autolesivo.
nada”, “eu poderia estar morto”, “os ou-
tros vão ser felizes sem mim”, “eu sou um
NECESSIDADE DE PARAR A DOR perdedor”, “eu sou um peso para os ou-
O propósito do suicídio é o de ces- tros”, “eu não posso fazer nada”, “minha
sar o fluxo de uma dor psicológica tida vida não tem mais sentido”. Essas frases
como intolerável por meio da cessação devem servir de alerta a familiares, ami-
da consciência. No auge de uma crise gos e profissionais de educação e saúde
PSICODINÂMICA

suicida, os indivíduos vivenciam um es- para um acompanhamento mais próximo.


tado emocional fortemente marcado Em relação ao manejo, é importante
pela desesperança e pela ambivalência que profissionais estejam atentas e aten-
quanto ao sentido de seu ato. É comum tos aos possíveis avisos dados pelas pes-
apresentarem um quadro importante de soas em sofrimento psíquico, assim como
restrição perceptiva (seja induzido pelo o grau de letalidade que os avisos e ten-
23 estado emocional, seja produzido inten- tativas podem significar. Saiba mais aqui.
CRISES CURTAS E INTENSAS AMBIGUIDADE: QUERER
As crises suicidas em sua fase aguda, E NÃO QUERER
ou seja, os períodos de maior risco e le- Uma outra característica importante
talidade, ocorrem geralmente em inter- a se considerar no manejo de compor-
valos de relativa curta duração. O pico de tamentos suicidas diz respeito ao grau
autodestruição de um indivíduo pode ser de intencionalidade do sujeito, ou seja,
contado em períodos de horas ou dias, o quanto ele/ela está certo/certa de seu
nunca de meses ou anos. Entretanto, desejo de morrer. Nesse sentido, profis-
apesar da impossibilidade de se viver na sionais de Psicologia chamam atenção
crise aguda por mais do que alguns dias, para o quanto a ambivalência é um afeto
algumas pessoas podem se manter em presente no comportamento autolesivo.
um estado crônico de autodestruição e Várias pesquisas apontam que, muito
alimentar atitudes autolesivas por anos a frequentemente, a pessoa que tenta sui-
fio (LEENAARS, 1999). Em relação ao ma- cídio pode ser caracterizada como uma
nejo, é importante que o sujeito e pesso- pessoa que “quer e não quer”, o protó-
as do seu convívio possam acessar servi- tipo da pessoa que “corta a garganta e
ços e profissionais no momento da crise, grita por ajuda ao mesmo tempo”. Em-
para que não seja realizada a tentativa. bora não seja uma regra, é frequente
que mesmo no momento mais crítico da
crise, a pessoa não esteja certa de sua
intenção de morrer, pois se fazem pre-
sentes tanto o desejo de viver quanto o
desejo de pôr fim à vida. Nesse sentido,
Shneidman nos chama atenção para o
importante papel da ambivalência na cri-
se suicida (LEENAARS, 1999).
O manejo com a pessoa em risco de
suicídio deve considerar a ambivalência
frente ao desejo de morte, considerar
que os indivíduos frequentemente vi-
venciam um conflito entre o desejo de
viver e o desejo de morrer. É importante
atentar para intencionalidade do sujei-
to e ajudá-lo a explorar alternativas que
não sejam o suicídio (OMS, 2000a).
PSICODINÂMICA

24
TENTATIVAS CADA EFEITO CONTÁGIO
VEZ MAIS LETAIS De acordo com a literatura, e ainda se-
Ideações e tentativas de suicídio em gundo as recomendações da OMS, uma
geral aumentam de forma gradual. Por morte por suicídio pode acarretar um
isso, é importante atentar para tentati- surto, o que também é conhecido como
vas prévias, considerando-as como um “efeito contágio”. Em outras palavras, o
fator que demanda muita atenção para efeito contágio diz respeito a suicídios ou
a possibilidade de um indivíduo recorrer tentativas de suicídio no seio de um gru-
ao autoextermínio. Por isso, interven- po ou de uma comunidade, em um perí-
ções devem considerar nessas tentati- odo e em um espaço restritos, acarreta-
vas e ideações prévias: a impulsividade, dos por um primeiro evento. Em geral, o
o acesso aos meios letais, se foi uma imi- contágio se relaciona com a forma como
tação e se há presença de desesperan- uma morte voluntária é percebida pelas
ça na conduta, uma vez que a letalidade pessoas mais vulneráveis, sobretudo se
pode aumentar em cada tentativa (OMS, o método for conhecido ou se há ideali-
2014; SILVA, 2006). zação do ato (como nos casos em que a
pessoa que morreu é vista como alguém
que será lembrada e amada). Geralmen-
PROXIMIDADE E FACILIDADE te, em contextos indígenas, a notícia de
DE ACESSO AOS MEIOS um suicídio se espalha rapidamente, e
Segundo a OMS (2012), estratégias de quase todos os membros das comunida-
restrição aos meios de cometer suicídio, des tem acesso aos seus detalhes. Uma
como o controle de armas de fogo e do pessoa mais vulnerável a esse agravo, em
uso de agrotóxicos/pesticidas, reduzem posse dessas informações, pode enten-
as taxas de mortalidade por suicídio e der o ato como algo possível de ser re-
são recomendadas como políticas públi- alizado e, portanto, tentar concretizá-lo
cas de prevenção universal. Em relação também. Vale ainda ressaltar que, entre
ao acompanhamento de pessoas em os fatores de risco para suicídio, elenca-
risco, é fundamental que profissionais e dos pela OMS, estão o histórico de tenta-
familiares dificultem o acesso aos meios, tivas anteriores e a presença de suicídio
para que não estejam disponíveis no mo- no seio da família.
mento de crise. Além de armas de fogo e
agrotóxicos, é importante considerar me-
dicamentos, objetos perfurantes e gran-
des alturas.
PSICODINÂMICA

25
SOBREVIVENTES: LUTO E No caso de uma morte por suicídio,
ESTIGMA ENTRE FAMILIARES além dos desafios comuns aos luto, o so-
E PESSOAS PRÓXIMAS brevivente deve lidar com o sentimentos
que abarcam culpa, a raiva, o abandono e
Sobreviventes são pessoas que perde- julgamento. De tal modo, a literatura re-
ram alguém afetivamente próximo (como conhece os sobreviventes enquanto um
familiar ou amigo) por suicídio (CÂNDIDO, grupo especial de risco.
2011). O luto, de um modo geral, repre- Em relação ao manejo, é importante
senta um processo de transição psicosso- frisar que um dos principais fatores de
cial que se reflete em amplas e variadas risco para suicídio é a pessoa ter alguém
dimensões de nossas vidas. O conjunto próximo que tenha consumado o ato. As-
complexo de reações que se desenrolam sim, é fundamental que familiares e ami-
em função de uma perda significativa gos sejam acompanhados de perto, caso
pode nos lançar num estado de vulnera- haja um suicídio, de modo a evitar o efei-
bilidade e risco psicossociais severos. to contágio.
PSICODINÂMICA

26
O que profissionais
de psicologia
podem fazer
Estratégias e ferramentas de cuidado

NESTE CAPÍTULO, TRABALHAREMOS com


foco em profissionais de Psicologia. A par-
tir da definição dos conceitos e da psicodi-
nâmica das pessoas com comportamentos
suicidas, destacamos estratégias e ferra-
mentas de cuidado que possam contribuir
para a atuação desse/dessa profissional. AVALIAÇÃO DE RISCO
Avaliar o risco de suicídio por meio
de perguntas diretas pode gerar receio
INTERVENÇÃO EM CRISE e constrangimento, mas quando essa
A intervenção em crise permite a uti- abordagem é cuidadosa, sincera e res-
lização de diversas técnicas, geralmente peitosa, fortalece o vínculo e abre espa-
mais diretivas. Tem o objetivo de prote- ço para a fala. A maneira como nos sen-
ger a vida, diminuir riscos e sequelas e timos em relação ao tema influencia na
fazer a pessoa retomar o equilíbrio para forma como interagimos com a pessoa e
permitir a conquista de outros objetivos na nossa compreensão sobre o risco. Por
terapêuticos. essa razão é importante o preparo pes-
O QUE PROFISSIONAIS DE PSICOLOGIA PODEM FAZER

A abordagem multidisciplinar deve soal e técnico a respeito desse tema para


ser preferencialmente adotada, trazen- uma boa condução da avaliação.
do benefícios para a conduta terapêu- Não há ainda instrumentos ou técni-
tica, por meio do compartilhamento de cas de predição do comportamento sui-
saberes e responsabilidades. cida. Entretanto, conhecimento científico
Dependendo do risco, a conduta pode sobre o tema nos permite identificar as
variar desde a necessidade de aciona- pessoas em maior risco, tais como apre-
mento de serviços de urgência e emer- sentado no terceiro capítulo deste Guia,
gência, quebra de sigilo, envolvimento e tomar as medidas necessárias para aju-
da família, internação domiciliar etc., até dá-las a superar esse momento.
o acompanhamento ambulatorial com o A avaliação do risco de suicídio é a ação
número de sessões usuais. que define o norte da conduta clínica de
A disponibilização de canais de ajuda cada caso. É um momento muito importan-
24 horas é importante para que a pessoa te que envolve conhecimento técnico sobre
possa ter acesso a algum suporte em mo- comportamento suicida (principais fatores
mentos mais críticos. Alguns profissionais de risco e proteção, psicodinâmica etc.),
se disponibilizam a prestar esse aten- técnicas de avaliação psicológica (entrevis-
dimento emergencial por telefone, mas ta, testes projetivos e outros instrumentos
também é possível oferecer outros canais de avaliação psicológica), técnicas de in-
como pronto atendimentos e Centro de tervenção em crise e preparo pessoal por
27 Valorização da Vida (CVV). meio da supervisão (MONTENEGRO, 2012).
NOTIFICAÇÃO
COMPULSÓRIA
DE VIOLÊNCIA
AUTOPROVOCADA
De acordo com a Lei nº 13.819/2019, os
casos suspeitos ou confirmados de vio-
lência autoprovocada são de notificação
compulsória pelos estabelecimentos de
saúde públicos e privados às autoridades
sanitárias e pelos estabelecimentos de
ensino públicos e privados ao Conselho
Tutelar. O acionamento da rede externa
deverá ser obrigatoriamente efetivado
em casos de violência autoprovocada
de crianças, adolescentes e idosos, nos
quais o Conselho Tutelar e do Idoso terão
que ser acionados, respectivamente. Ca-
sos de tentativa de suicídio deverão ser
notificados, obrigatoriamente, em até 24
horas do conhecimento do evento pela
profissional, tendo em vista a necessida-
de de intervenções emergenciais e maior
O QUE PROFISSIONAIS DE PSICOLOGIA PODEM FAZER

efetividade da intervenção em crise em


curto período, como articulação e enca- PROJETO TERAPÊUTICO
minhamento para rede psicossocial. SINGULAR
Importante ressaltar que a notificação O Projeto Terapêutico Singular (PTS) é
compulsória não é caracterizada como um conjunto de propostas de condutas
denúncia policial. O registro da notifica- terapêuticas articuladas para um indiví-
ção aciona a rede de cuidados e possui duo, uma família ou um grupo que resul-
caráter epidemiológico, sendo imprescin- ta da discussão coletiva de uma equipe
dível para a criação de políticas públicas interdisciplinar com apoio matricial, se
de cuidado e prevenção ao suicídio. esse for necessário. Geralmente o PTS é
No âmbito do DF, o formulário para dedicado a situações mais complexas. Ele
preenchimento de suspeita/confirmação pode ser uma ferramenta de cogestão
de violências encontra-se disponível aqui. e compartilhamento do cuidado que se
Para maiores explicações, acesse o vídeo desenvolve em quatro momentos: diag-
produzido pelo Núcleo de Estudos, Pre- nóstico, definição de metas, divisão de
venção e Atenção às Violências – NEPAV responsabilidade e reavaliação.
ou o instrutivo disponível aqui. No site do O PTS pode ser uma ferramenta inte-
Ministério da Saúde, o formulário para ressante para o cuidado do sujeito com
preenchimento de suspeita/confirmação comportamentos suicidas por articular
de violências encontra-se disponível aqui diferentes equipes e serviços. Saiba mais
28
e maiores explicações, aqui. clicando aqui e aqui.
ACOLHIMENTO, VÍNCULO E desenvolvendo uma linha de cuidado in-
tegral, que contemple ações de vigilância,
CORRESPONSABILIZAÇÃO monitorando-se em especial as pessoas
O acolhimento, o vínculo, a correspon- mais vulneráveis a esse agravo.
sabilização e a autonomia foram aponta-
das como principais elementos relacionais
na promoção da saúde mental no estudo
GRUPOS DE APOIO
de Jorge et al. (2011). O próprio conceito Os grupos são ferramentas de produ-
de promoção da saúde nos aponta cami- ção de socialização e vínculo. Por isso, o
nhos comunitários e que partem do terri- manejo terapêutico dessa ferramenta no
tório para potencializar a saúde da popula- interior do território, além de sua conti-
ção. O conceito ampliado de saúde aponta nuidade (com base na necessidade do
para a produção da saúde a depender das território), torna o grupo significativo para
condições de vida da população e do seu a população. Profissionais de saúde estão
contexto social, cultural e histórico (MS, sempre entre a demanda que identificam
O QUE PROFISSIONAIS DE PSICOLOGIA PODEM FAZER

2017b; BARATA, 2009). e a necessidade que o território aponta,


Salienta-se a necessidade de constru- por isso cabe a nós mediar essa relação
ção de espaços de escuta e acolhimento, de forma horizontal, onde ora buscamos
necessários para quem esteja se sentin- atuar na demanda que identificamos, ora
do como um peso para o mundo ou que na necessidade que o território apontou,
não se sinta pertencente a nenhum gru- entendendo que ambas são importantes
po ou família. e devem ser alcançadas.
É possível organizar grupos a partir das
identidades, comportamentos e situações
CONTINUIDADE DO CUIDADO que aumentam as chances de suicídio (e
O cuidado com a pessoa que tentou sui- que foram debatidos no terceiro capítulo
cídio, bem como com sobreviventes, pre- deste Guia), já que são situações comuns
cisa ser contínuo. Isso se deve à tendência à experiência de um grupo de sujeitos.
de que uma pessoa que tentou suicídio Também é possível organizar grupos a
tente novamente de forma mais letal e ao partir de familiares e amigos de pessoas
impacto de um suicídio nas pessoas pró- que consumaram suicídio. É importante
ximas. É importante que profissionais de frisar que esse sofrimento muitas vezes é
saúde mental, especialmente psicólogas gerado por discriminação e preconceito,
e psicólogos, desenvolvam ações articu- o que torna fundamental que a aborda-
ladas para garantir a continuidade do cui- gem não se limite à adaptar os sujeitos à
29 dado a essas pessoas na rede assistencial, situação que gera sofrimento.
PÓSVENÇÃO: CUIDADOS MATRICIAMENTO OU APOIO
E INTERVENÇÕES COM MATRICIAL
SOBREVIVENTES E O matriciamento pode ser entendido
APOIO AO LUTO como “um suporte técnico especializado
que é ofertado a uma equipe interdiscipli-
Em caso de morte por suicídio, uma
nar em saúde a fim de ampliar seu cam-
estratégia de cuidado é o apoio para fa-
po de atuação e qualificar suas ações”
miliares e amigos em luto, visto que estes
(FIGUEIREDO; CAMPOS, 2009). Ele deve
possibilitam trabalhar questões da perda
proporcionar a retaguarda especializada
e do seu enfrentamento, participando do
da assistência, suporte técnico-pedagógi-
processo de ressignificação e reconstru-
co, vínculo interpessoal e apoio institucio-
ção (SCAVACINI et al., 2019).
nal no processo de construção coletiva de
Esse trabalho pode ser feito por meio
projetos terapêuticos junto à população.
de grupos, nos quais é possível trabalhar
O matriciamento pode ser utilizado nos
as vivências de enlutados, seus sentimen-
casos em que a equipe de referência sen-
tos, a falta que o/a falecido/a faz, conhe-
te necessidade de apoio da saúde men-
cer e aprender com outros passando por
tal para um caso com evidenciamento
esse tipo de perda (SCAVACINI et al., 2019;
diagnóstico, estruturação de um projeto
FUKUMITSU, 2018).
terapêutico e abordagem da família, para
realização de grupos de pacientes com
SUPERVISÃO transtornos mentais, para integração en-
Lidar com o cuidado de pessoas com tre níveis de atenção.
comportamento suicida é um desafio para Em relação aos casos de tentativa ou
profissionais de Psicologia, de saúde e de ideação suicida, é importante que as psi-
educação, em geral. O acompanhamento cólogas e demais profissionais de saúde
dessas pessoas pode produzir sentimentos mental possam apoiar equipes de Aten-
desconfortáveis. É importante que profis- ção Primária em Saúde não especializa-
sionais considerem a supervisão de outra/o das, bem como serviços da Educação e da
profissional de saúde mental para ajudar a Assistência Social.
O QUE PROFISSIONAIS DE PSICOLOGIA PODEM FAZER

estabelecer o Projeto Terapêutico Singular Saiba mais no Guia Prático de Matricia-


da pessoa acompanhada, ajudar a enten- mento em Saúde Mental.
der melhor os sentimentos de profissio-
nais que aparecem nessa relação, para cui-
dar de quem cuida. Existe ainda o risco de
profissionais se tornarem “sobreviventes”,
caso a pessoa atendida consuma o ato.

30
vés das equipes do SUAS (Sistema Único
TRABALHO EM REDE de Assistência Social), no CRAS e CREAS
Deve-se partir de uma perspectiva am- (Centro de Referência em Assistência So-
pliada sobre a rede assistencial de cuida- cial e Centro de Referência Especializado
dos em saúde mental, tanto pelo fato de em Assistência Social) e com as Escolas,
se compreender que se deve oferecer Conselho Tutelar, etc. O Mapeamento da
atenção ao sofrimento de todo os usuá- Rede de Políticas Públicas presentes no
rios (não apenas daqueles diagnosticados território é um dos primeiros passos para
com transtornos psiquiátricos), quanto criar uma rede de suporte para as pró-
pela importância que se dá à integração prias equipes de saúde. Propõe-se que
das ações com os outros atores presentes as ações de cuidado ao comportamento
no território, sejam eles da saúde ou de suicida sejam dispositivos para integração
outros setores, destacando-se a constru- das ações de profissionais de saúde men-
ção das redes de cuidado intra e interseto- tal, que possam compartilhar responsabi-
rialmente como de relevância central. lidades no cuidado de pessoas vulneráveis
Enquanto serviço de saúde, a atuação ao suicídio. Essa corresponsabilização é
comunitária para promoção da saúde de extrema importância, justamente pelo
deve envolver a articulação intersetorial. fato de que o trabalho da profissional es-
Portanto, a equipe de saúde deve buscar pecializada possa não ser suficiente para
criar rede com seu território, seja atra- monitorar a ocorrência de novos casos.
O QUE PROFISSIONAIS DE PSICOLOGIA PODEM FAZER

31
O papel dos serviços e
equipamentos para
o cuidado

NESTE CAPÍTULO, IDENTIFICAMOS os


principais serviços e equipamentos de
atenção e cuidado da pessoa com com-
portamentos suicidas, desde serviços
para o momento de crise, passando por
acompanhamento especializado, chegan-
do aos serviços que atuam na prevenção
ao suicídio e na promoção à saúde men-
tal a partir de uma compreensão mais
ampla. Vamos debater ainda o papel de
profissionais de Psicologia, de saúde e de
educação nesses serviços quando estão
realizando o cuidado dessas pessoas.
O PAPEL DOS SERVIÇOS E EQUIPAMENTOS PARA O CUIDADO

HOSPITAIS GERAIS E
UNIDADES DE PRONTO
ATENDIMENTO
Nos hospitais gerais e nas unidades de
pronto atendimento (UPAs), é realizado o as equipes de profissionais da saúde es-
atendimento à necessidade clínica/cirúr- tejam preparadas para acolherem esses
gica e acolhimento da demanda emocio- pacientes e a/o psicóloga/o pode contri-
nal da pessoa que fez uma tentativa de buir para o desenvolvimento dessa com-
suicídio, notificação dos casos, avaliação petência. A alta hospitalar, idealmente,
do risco e definição do encaminhamento deve ser condicionada à uma avaliação
mais adequado a cada caso para conti- da equipe de saúde mental do hospital,
nuidade do cuidado. pois o risco de suicídio após uma tenta-
Muitas pessoas dão entrada em emer- tiva continua elevado e deve ser monito-
gências hospitalares em decorrência de rado por pelo menos um ano. O risco de
uma tentativa de suicídio. Normalmente, suicídio também deve ser acompanhado
em função da necessidade de liberação em pacientes internados, ou em acompa-
de leitos, são prestados os cuidados mé- nhamento ambulatorial, que apresentem
dicos e o paciente é liberado sem uma condições clínicas mais associadas ao ris-
avaliação e uma transição de cuidados co, como dor crônica e doenças limitan-
fundamentais para o atendimento das tes e/ou degenerativas.
demandas que culminaram naquela ten- Relação de UPAs do DF
32 tativa de suicídio. É muito importante que Relação de hospitais do DF
SERVIÇOS DE SOCORRO E CENTRO DE ATENÇÃO
ATENÇÃO PRÉ-HOSPITALAR: PSICOSSOCIAL (CAPS)
NUSAM/SAMU, CORPO DE Os centros de atenção psicossocial
BOMBEIROS, POLÍCIA MILITAR (CAPS) são serviços especializados de
saúde mental para atendimento de ca-
O Distrito Federal conta com Núcleo sos graves e persistentes, disponíveis à
de Saúde Mental no SAMU para atendi- população, sem necessidade de agen-
mento às urgências e emergências em damento prévio. Os CAPS são organi-
saúde mental, com orientações por tele- zados em modalidades conforme faixa
fone ou envio de equipes especializadas etária (CAPS infantojuvenil) e demandas
para o atendimento dos casos. É possível de atendimento (álcool e outras drogas
acessá-lo por meio do número 192 em - CAPS AD; e para transtornos mentais -
caso de risco iminente de uma tentativa CAPS II ou III, aberto 24h). Todos os ser-
de suicídio ou de tentativa de suicídio viços têm como critério de inclusão para
consumada, com necessidade de aten- atendimento o risco de suicídio ou tenta-
ção médica. Os serviços de urgência e tiva de suicídio recentes.
emergência são interligados e se houver
O PAPEL DOS SERVIÇOS E EQUIPAMENTOS PARA O CUIDADO

Você encontra a relação de serviços


a necessidade de acionamento do Cor- de saúde mental do DF aqui.
po de Bombeiros (193) ou da Polícia Mi-
litar (190), a regulação terá condições de
acionar esses serviços.
CLÍNICAS-ESCOLA
As clínicas-escola muitas vezes ofe-
recem atendimento especializado de
SERVIÇO TELEFÔNICO 24H: CVV saúde mental e de longo prazo para ca-
O Centro de Valorização da Vida é uma sos mais graves. Diante da escassez de
associação civil sem fins lucrativos e re- serviços da Rede de Atenção Psicosso-
conhecida por sua utilidade pública fede- cial no Brasil e no DF, muitas vezes são
ral que oferta serviço voluntário e gratui- uma alternativa possível e gratuita para
to para apoio emocional e promoção da garantia do acompanhamento psicosso-
prevenção do suicídio, sendo assegurado cial. O manejo com ideações e tentativas
o sigilo e anonimato. Para fazer uso do de suicídio deve ser feito com respeito e
serviço, a pessoa pode ligar para o núme- disponibilidade (FUKUMITSU, 2014). No
ro 188, disponível 24 horas e sem custo. contrato terapêutico é importante deixar
O acesso pode ser pelo site, por chat, por explícito o funcionamento da clínica-es-
e-mail e pessoalmente, pois está em mais cola e a questão das supervisões. Assim
de 120 postos localizados nos 24 estados como na clínica profissional, o sigilo do/
e no Distrito Federal. Pelo seu formato, o da paciente é garantido, e o caso é dis-
serviço pode ter importância substancial cutido apenas no âmbito da supervisão,
nos momentos de crise, ao explorar os desde que não haja risco de vida.
sentimentos de ambiguidade da pessoa Lista de instituições de ensino superior
33
com comportamento suicida. que oferecem atendimento psicológico
UNIDADES BÁSICAS DE dor no território junto a ESF, mas também
SAÚDE (UBS) como matriciador da demanda de suicídio
e automutilação para a ESF. Profissionais de
Anteriormente conhecidas como pos-
saúde mental (psicólogas, psicólogos e tera-
tos de saúde, as UBS são a principal por-
peutas ocupacionais) podem compartilhar
ta de entrada do Sistema Único de Saúde
seus saberes para os demais profissionais
(SUS). Elas possuem equipes de Saúde
do NASF-AP como das demais equipes (ESF,
da Família (ESF), formadas por médicos,
Consultório na Rua etc) visando expandir o
enfermeiros, técnicos de enfermagem e
cuidado e compartilhar estratégias de en-
agentes comunitários de saúde. Algumas
frentamento a essas situações. O mesmo
equipes contam com o apoio do Núcleo
pode ser feito com as escolas, familiares,
Ampliado de Saúde da Família (NASF) que
mães e pais que buscam a UBS com crian-
possui profissionais especialistas em saú-
ças e adolescentes com ideação suicida, au-
de, entre eles psicólogas e psicólogos.
tomutilação e/ou tentativas de suicídio.
Profissionais de Psicologia e demais
trabalhadores da saúde podem promover
cuidado (atenção) e prevenção para pes- CONSULTÓRIOS
soas com ideação e tentativa de suicídio PARTICULARES
e automutilação, bem como, outros pro- O consultório particular é um espaço
fissionais da saúde e educação. Outras destacado para a atenção a pessoas com
questões também podem ser pontuadas, comportamentos suicidas. Quando a busca
tais como a medicalização do sofrimento pelo acompanhamento psicológico é vo-
na atenção primária à saúde e a necessá- luntária, já traz em si um pedido de ajuda e
ria ampliação da atuação de psicólogas, uma disponibilidade para a mudança, o que
psicólogos e demais profissionais de saú- certamente é um bom sinal. O sofrimento
de em relação à promoção da saúde e a psíquico pode vir acompanhado de ideação
prevenção de transtornos mentais. e outros comportamentos suicidas. A ava-
Identifique a UBS mais próxima da re- liação do risco de suicídio permitirá um pla-
O PAPEL DOS SERVIÇOS E EQUIPAMENTOS PARA O CUIDADO

sidência do/da paciente e conheça a sua nejamento mais adequado para cada caso.
equipe de Saúde da Família. Essa equipe É imp,ortante que a pessoa em sofrimento
terá condições de prestar o primeiro aten- encontre um ambiente acolhedor para suas
dimento, acompanhar os casos leves e mo- angústias e que possa falar abertamente
derados e encaminhar aqueles que preci- sobre seus sentimentos e pensamentos.
sarem para os serviços mais especializados. O comportamento suicida surge quan-
do a dor é insuportável, assim é preciso
NÚCLEOS AMPLIADOS DE que a pessoa tenha acesso a alternativas
SAÚDE DA FAMÍLIA (NASFS) para lidar com essa dor através da fala e
de outros recursos terapêuticos medica-
O NASF-AP (Núcleo Ampliado de Saúde
mentosos e não medicamentosos (medi-
da Família e Atenção Primária) é compos-
tação, exercício físico etc.).
to por profissionais das áreas de psicolo-
gia, fisioterapia, nutrição, saúde coletiva,
farmácia, terapia ocupacional, serviço so-
cial, entre outras.
Quando o suicídio já se deu no contexto
familiar, escolar, entre outros, uma estraté-
gia de posvenção precisa ser implementada.
A Equipe de Saúde da Família pode e deve
acompanhar e fornecer escuta qualificada
para a família que vivenciou a perda, grupos
de luto e de posvenção ao suicídio podem
34 ser construídos pelas equipes. O NASF-
-AP tem papel fundamental como articula-
na escola deve considerar o desenvolvi-
ESCOLAS E SETEMBRO mento de habilidades de escuta empática,
AMARELO o acolhimento das demandas emocionais
Uma parcela considerável das tenta- de estudantes e identificação precoce de
tivas de suicídio são de pessoas na faixa estudantes em risco. Veja algumas orien-
etária escolar. A escola, além de espaço tações para o Setembro Amarelo na Nota
de socialização e aprendizagem, deve ser Técnica emitida pela Diretoria de Serviços
também fonte de promoção de saúde e de Saúde Mental do DF (SESDF, 2020b).
cuidado. Nesse sentido, é importante que
todo o corpo docente esteja preparado
para identificar sinais nos adolescentes. O
bullying é um dos principais fatores asso- EXPERIÊNCIA EXITOSA
ciados ao risco de suicídio nessa faixa-etá- GESNER TEIXEIRA
ria. As vítimas sentem-se em estado cons- No âmbito do DF, uma experiência que
tante de pressão psicológica, com efeitos vale a pena conhecer, pois nos mostra
na autoestima que podem perdurar até a como é possível articular os setores da
idade adulta (BARBOSA et al., 2016). Com- educação e da saúde, é a do Centro
bater o bullying e outras violências, pro- Educacional Gesner Teixeira, escola
mover discussões sobre as dificuldades pública localizada no Gama.
emocionais e como enfrentá-las são de A partir da identificação da existência
responsabilidade das escolas. Programas de muitos casos, entre estudantes,
de desenvolvimento de habilidades socio- de automutilação e ideação suicida,
emocionais (como, por exemplo, o pro- a escola implementou rodas de
grama Amigos do Zippy) são ferramentas terapia comunitária e outras práticas
importantes para o fortalecimento emo- integrativas em saúde, tais como
cional na infância e adolescência e são reiki, automassagem e meditação
muito eficazes para a prevenção do com- no próprio ambiente escolar. Os
portamento suicida na juventude e na vida
O PAPEL DOS SERVIÇOS E EQUIPAMENTOS PARA O CUIDADO

estudantes não só participam das


adulta. Além dos programas de promoção, atividades, mas contribuem com
outras estratégias preventivas envolvem o a gestão e oferta das mesmas,
desenvolvimento de um ambiente emo- constituindo, entre eles, redes de apoio
cionalmente seguro no contexto escolar, mútuo e cuidado compartilhado.
com o treinamento de todos os profis- Como resultado, as atividades
sionais que atuam na escola; a existência proporcionaram melhora no
de espaços para o protagonismo juvenil e desempenho escolar, a interrupção dos
para expressão dos sentimentos, como a comportamentos de automutilação
Terapia Comunitária Integrativa (TCI), Cai- e ideações suicidas, contribuindo
xa de Ferramentas (ASEC). também o convívio social.
O Setembro Amarelo costuma ser abor-
dado nas escolas com decoração nas cores Mais informações:
da campanha, palestras e outras ações. Centro Educacional Gesner Teixeira:
Entretanto, a abordagem do tema direta- (61) 3901-4564; (61) 3392-2234.
mente com o público adolescente não é
uma estratégia recomendada e pode ter Saiu na mídia!
efeitos contrários. Não estão indicadas ati- - Escola pública no DF atua para
vidades que tratem diretamente do tema prevenir depressão e automutilação
suicídio, como redações, palestras, ativi-
dades extracurriculares etc. Entretanto, é - Comitiva conhece práticas integrativas
importante haver preparo para lidar com oferecidas pela Saúde em escola
o assunto caso surja entre estudantes. A
35 capacitação de profissionais que atuam
SERVIÇOS DO SUAS: RENDA, EMPRESAS E ORGANIZAÇÕES
MORADIA, VÍNCULOS Vários fatores podem interferir na ma-
FAMILIARES, DEFICIÊNCIA, neira como a pessoa se relaciona com o
trabalho. O comportamento suicida no
VIOLÊNCIA ambiente organizacional é resultado de
O SUAS (Sistema Único de Assistência uma interação complexa entre vulne-
Social) é uma política pública presente rabilidades individuais (como o adoeci-
em todo o Brasil com o objetivo de pro- mento mental) e estressores relaciona-
mover proteção social e garantia de di- dos ao trabalho.
reitos aos indivíduos e comunidade por As organizações podem e devem ser
meio de serviços, benefícios, programas agentes de prevenção do suicídio, de-
e projetos. O modelo de gestão é arti- senvolvendo políticas endereçadas a
culado com a União, estados e municí- essa questão. A OMS coloca que a me-
pios. Devido ao aumento significativo lhor forma de lidar com essa questão
da pobreza, a saúde da população tem é combinar ações preventivas como: a)
sido profundamente afetada, simultane- promover mudanças na política organi-
amente com a diminuição do financia- zacional no sentido de prevenir e redu-
mento das políticas sociais (SOUZA et al., zir estresse no trabalho; b) combater o
2019), situação que pode sobrecarregar estigma relacionado à dificuldades emo-
o Sistema, aumentando a demanda por cionais e incentivar o comportamento de
atendimento e diminuindo a oferta de busca de ajuda; c) promover o reconhe-
serviços. cimento e detecção precoce de pessoas
Entre os serviços ofertados, estão em sofrimento mental e emocional e d)
questões relacionadas a renda, moradia, promover acesso a tratamento fazendo
vínculos familiares, deficiência, violência. o link entre a instituição e os recursos da
Inserido na rede, o SUAS faz uma articu- comunidade externa.
lação importante como serviço de portas Saiba mais acessando a cartilha da OMS
O PAPEL DOS SERVIÇOS E EQUIPAMENTOS PARA O CUIDADO

abertas ao conhecer os indivíduos e suas para prevenção do suicídio no trabalho.


necessidades. Por serem serviços presen-
tes na vivência dos usuários, pode iden-
tificar o risco de suicídio e encaminhar
para os serviços competentes. Por serem
qualificados, atuam junto a equipes mul-
tiprofissionais de saúde mental e suas
condutas devem ser pautadas na promo-
ção, cuidado e acesso às estratégias, com
atenção aos fatores de risco e vulnerabi-
lidades dos usuários dos serviços dentro
da rede (OLIVEIRA; SOUSA, 2020).

UNIDADES DE ATENDIMENTO
CRAS (Centro de Referência de Assistência Social);
CREAS (Centro de Referência Especializado de Assistência Social);
CENTRO POP (Centros de Referência Especializados para População em Situação de
Rua);
Centro-Dia de Referência para Pessoa com Deficiência e suas Famílias;
Unidades de acolhimento (Casa Lar, Abrigo Institucional, República, Residência
36 Inclusiva, Casa de Passagem).
Saiba mais clicando aqui e aqui.
O que a sociedade pode
fazer para proteger

PRECONCEITO E ESTIGMA
A sociedade procura evitar tocar na te-
mática do suicídio, comumente desquali-
ficando aqueles que idealizam e tentam,
favorecendo a estigmatização. Falar so-
COM O EXPOSTO até aqui, fica evidente bre suicídio é complexo e desafiador, ain-
que o cuidado em relação a comporta- da mais em culturas nas quais a morte é
mentos suicidas, assim como à saúde vista como assunto a ser evitado. Nesse
mental, relaciona-se com determinan- sentido, articular discussões sobre a mor-
tes que dizem respeito às condições de te autoinfligida em diferentes espaços
vida, renda, emprego, moradia, educa- sociais demanda paciência daqueles que
ção, cultura, raça. Neste capítulo, discu- estão promovendo a reflexão (WERLANG,
tiremos algumas ações que podem ser 2013). Na atualidade, a sociedade busca
O QUE A SOCIEDADE PODE FAZER PARA PROTEGER

tomadas pela sociedade como um todo prolongar a vida a qualquer custo, logo,
e o papel das principais políticas sociais é importante perceber como essa con-
brasileiras. cepção impacta na percepção do suicídio.
A seguir, apresentamos uma reflexão As concepções sociais e a forma como a
sobre preconceito e estigma, trazendo morte autoinfligida é retratada podem
elementos para a comunicação com a desqualificar aqueles que tentaram sui-
população, como nos debates de mitos cídio, promovendo uma culpabilização e
e verdades e de aspectos protetivos e estigmatização do indivíduo e seus fami-
estressores. Em continuidade indicamos liares (BERENCHTEIN NETTO, 2013).
alguns alertas que precisam ser segui- É importante buscar compreender as
dos pela mídia e nas redes sociais. Fina- motivações do ato, bem como contribuir
lizamos com uma reflexão sobre como com a conscientização geral das pessoas
as grandes questões políticas e econô- para minimizar o estigma do ato suicida,
micas afetam a saúde mental, com uma para que pessoas acometidas por idea-
reflexão sobre o neoliberalismo e seus ções suicidas possam compartilhar seus
efeitos na subjetividade, as políticas de pensamentos e sentimentos. Além disso,
austeridade fiscal e desigualdade social, é preciso enfatizar a oferta de um espaço
e sobre como defender os direitos e as de escuta para que as pessoas possam se
políticas sociais traz benefícios concre- sentir protegidas, acolhidas e compreen-
37 tos à vida em sociedade. didas, tornando a prevenção mais efetiva.
MITOS &
VERDADES
A estratégia de comunicação com a população em geral a partir
da reflexão sobre mitos e verdades costuma ser bem sucedida,
por dialogar com o conhecimento não-científico. Alguns mitos
historicamente repetidos, segundo o Conselho Federal de
Medicina (CFM, 2014), favorecem a manutenção do estigma:

Quem pensa em cometer suicídio realmente quer se matar?


1 A maioria das pessoas que pensam em se matar, na verdade, têm
sentimentos ambivalentes. Elas desejam colocar um fim a um
sofrimento.

2
É verdade que as pessoas que querem se suicidar não avisam?
Às vezes sim, às vezes não. As pessoas com comportamentos suicidas
frequentemente dão ampla indicação de sua intenção.

3 Existem suicídios que não podem ser prevenidos?


Verdade. Mas 90% podem ser prevenidos.

4
Uma vez suicida, sempre suicida?
Pensamentos suicidas podem retornar, mas eles não são permanentes
e em algumas pessoas eles podem nunca mais retornar.
O QUE A SOCIEDADE PODE FAZER PARA PROTEGER

Se eu falar sobre o suicídio com a pessoa que quer se matar,


5 poderia está induzindo a isso?
Não. Falar sobre o suicídio ajuda a pessoa a se sentir acolhida.
É importante buscar ajuda profissional após esse momento.

A pessoa que ameaça suicídio deseja

6
manipular os outros?
A ameaça de suicídio deve ser sempre levada
a sério. Isso indica que a pessoa está
sofrendo e necessita de ajuda.

O suicídio é um ato de covardia ou

7 de coragem?
Nenhum dos dois. Na verdade, o que dirige
a ação de suicidar-se é uma dor psíquica
38 insuportável.
A prevenção ao suicídio pode começar
na família, seguido das escolas com
programas psicoeducativos, sendo
trabalhado com a comunidade
conjuntamente (WERLANG, 2013). É
importante a ampla divulgação sobre
fatores de risco e de proteção.

FATORES DE RISCO FATORES DE PROTEÇÃO


História de vida: perdas, traumas,
Restringir e/ou dificultar o acesso
1 maus-tratos, abuso (físico, sexual,
psicológico), negligência;
1 a métodos que são perigosos;

2 Sofrimento psíquico grave; 2 Mídia abordar a temática com cautela,


promovendo a conscientização;

3 Baixa tolerância à frustração e Planejamento e adoção de políticas


ambivalência;
3 de redução de uso nocivo de álcool e
outras drogas, avaliando o risco de
Dor psíquica que dificulta pensar
suicídio e automutilação;
4 em alternativas para sua situação;
Identificação e cuidado de pessoas

5
Contexto em que o indivíduo 4 e comunidades com estresse
emocional agudo;
está inserido;

6 Abuso de álcool e/ou substâncias; Treinamento de profissionais de

5 Saúde não especializados para


identificação e manejo do
comportamento suicida;
7 Perda de emprego, problemas
O QUE A SOCIEDADE PODE FAZER PARA PROTEGER

financeiros;
Acompanhar indivíduos que
6 tentaram suicídio dentro dos
8
Solidão, desesperança e
autodepreciação.
serviços em rede;

7 Intervenções e programas de
capacitação em escolas para
promoção de habilidades emocionais;

Ampliação do suporte social dentro da

8 comunidade, capacitando as pessoas


a reconhecer e buscar recursos e/ou
serviços;

9 Enfrentar os estigmas, discutindo-os;

Atenção aos dados ofertados sobre

10 tentativas de suicídio dentro do


contexto em que a pessoa está
inserida.
39
MÍDIA explícitas e que pouco contribuiu para a
discussão do tema entre os jovens (MCKE-
A temática do suicídio tem sido cada NZIE et al., 2020). Assim, é importante uma
vez mais abordada em grandes meios de postura ética por parte de profissionais da
comunicação e rede sociais, por meio de mídia, levando em consideração os efei-
campanhas de conscientização, especial- tos da publicização e exploração do tema
mente a partir do ano de 2017 (BTESHE, para todos os envolvidos.
2018). Existem indícios do aumento dos
números de suicídio após a exposição mi-
diática de um caso, no entanto, os dados REDES SOCIAIS
científicos indicam que não se trata da As redes sociais têm um papel muito
divulgação em si, mas da forma como se semelhante ao da mídia tradicional como
divulga que influencia no aumento dos ca- jornais e revistas, com agravante de não
sos (OMS, 2000b). Considerando o efeito contarem com editor responsável pelo
contágio, a OMS (2000b) recomenda que que as pessoas compartilham. Para isso,
os casos de suicídio sejam reportados é importante que os órgãos públicos que
com cuidado. Dentre os cuidados a serem trabalham com prevenção ao suicídio,
tomados estão: a não divulgação do mé- bem como as plataformas das redes so-
todo empregado, não divulgação de fotos ciais, organizem campanhas educativas.
do morto ou de cartas de despedida, não
glamourização da pessoa morta por sui-
cídio, evitar coberturas sensacionalistas e EXPERIÊNCIA EXITOSA
repetitivas sobre o caso, explorar o caso
sem julgamento moral. Além disso, sem-
CAMPANHA PARA WHATSAPP
pre que uma reportagem sobre suicídio PELA PM-AL
ou saúde mental for produzida, é impor- A Polícia Militar de Alagoas identifi-
tante incorporar informações sobre ser- cou suicídios entre policiais em 2018.
viços de saúde mental e apoio emocional A hipótese era de efeito contágio por
(como o CVV) e tentar desmistificar visões vídeos e imagens compartilhados pelo
estigmatizantes sobre transtornos men- WhatsApp. Em 2019, lançaram uma
tais, como por exemplo associar suicídio a campanha com cards de conscienti-
O QUE PROFISSIONAIS DE PSICOLOGIA PODEM FAZER

transtornos mentais. Dessa forma, a divul- zação, que eram disparados sempre
gação deve ser uma oportunidade de falar que havia algum caso. Nos cards, as
abertamente sobre o assunto e promover mensagens eram “não publique fotos
maior conscientização da população. do falecido”, “não informe detalhes
Estudo com profissionais de saúde específicos do método utilizado”, “não
aponta que a publicização do suicídio de compartilhe cartas de suicídio”, “não
um paciente é fator estressor para os pro- procure um culpado”.
fissionais enlutados (LANDERS; O’BRIEN; Em cada uma das men-
PHELAN, 2010). Além disso, os efeitos da sagens eram oferecidos
publicização do suicídio de celebridades contatos de ajuda
têm implicações para a saúde mental si- para situações de
milares ao enlutamento por suicídio, es- crise. O comparti-
pecialmente entre adolescentes (CEREL lhamento de men-
et al., 2014). Recentemente houve a polê- sagens caiu sensi-
mica série 13 Reasons Why, que apresenta velmente, assim
o suicídio de uma adolescente dentro de como o suicídio
uma visão romanceada sobre a situação. A entre policiais
série recebeu diversas críticas e uma pes- militares.
quisa aponta que a série explorou o suicí-
dio de forma irreal, apelando para cenas
40
AUSTERIDADE FISCAL E que a lógica neoliberal pressupõe que as
relações sejam pautadas pelo hipercon-
DESIGUALDADE SOCIAL sumo e pela permanente competitivida-
No Brasil, um estudo do Instituto de de, observa-se, nas últimas décadas, um
Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) sobre prejuízo nos vínculos afetivos e uma in-
os determinantes econômicos do suicídio tensificação do sofrimento psíquico.
apontou que o aumento das desigualda- A saúde mental tem sido uma pauta
des está relacionado ao crescimento das importante justamente pela prevalência
taxas de suicídio no País (LOUREIRO; MEN- das demandas de vulnerabilização neste
DONÇA; SACHSIDA, 2010). Também foram campo, sendo o suicídio um preocupan-
encontradas relações entre políticas de te sintoma dessa realidade. O grande
austeridade e suicídio. As políticas de aus- aumento da epidemiologia do compor-
teridade levam a cortes nos investimentos tamento suicida nas últimas décadas se
públicos, em especial em políticas sociais relaciona com as mudanças culturais e
(ANTONAKAKIS; COLLINS, 2014). sociais ensejadas pelo neoliberalismo,
Em tempos de crise econômica, des- como o enaltecimento do individualismo,
monte e cortes das políticas sociais (com a midiatização da vida e a precarização
a Emenda Constitucional nº 95), ataques dos relacionamentos (BERARDI, 2015).
aos direitos trabalhistas e outras políticas
que aumentam a desigualdade social, é
fundamental que estejam bem estabe-
GARANTIA DE DIREITOS E
lecidos os efeitos dessas políticas para o POLÍTICAS SOCIAIS: O PAPEL
sofrimento dos sujeitos e o provável au- DO SUS, SUAS E EDUCAÇÃO
mento nos casos de suicídio. Para garantir saúde mental e prevenir o
suicídio é fundamental que os direitos so-
NEOLIBERALISMO E OS ciais sejam garantidos. Consta no art. 6º da
EFEITOS NA SUBJETIVIDADE Constituição Federal que são direitos so-
Na contemporaneidade, o cenário ciais a educação, a saúde, a alimentação, o
econômico mundial tem se construído trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a
em concordância com a lógica neolibe- segurança, a previdência social, a proteção
à maternidade e à infância, a assistência
O QUE PROFISSIONAIS DE PSICOLOGIA PODEM FAZER

ral, que promove a intensificação das de-


sigualdades sociais, em decorrência da aos desamparados.
crescente concentração de riquezas e da Esses direitos são efetivados pelas polí-
ausência de políticas de redistribuição ticas sociais. Na educação, estão todas as
de renda (PIKETTY, 2014). Contudo, o ne- crianças e adolescentes. O SUAS tem seus
oliberalismo, mais do que uma ideologia serviços presentes em todo o Brasil com o
econômica, tornou-se um modo de fun- objetivo de garantir proteção social e os di-
cionamento que se prolonga desde o Es- reitos relativos a renda, moradia, vínculos
tado até o mais íntimo da subjetividade familiares, deficiência, violência. No Siste-
(DARDOT; LAVAL, 2016). Tendo em vista ma Único de Saúde (SUS), o maior sistema
universal de saúde do mundo, fazem-se
presentes os princípios da integralidade, da
universalidade e da equidade.
As políticas de austeridade, de retirada de
direitos e fechamento de serviços atentam
contra a saúde mental e podem aumentar
os casos de suicídio. A Emenda Constitu-
cional nº 95 congela investimentos sociais
por 20 anos e precisa ser revertida. Só com
políticas públicas fortes de educação, assis-
tência social e saúde será possível garantir
41
saúde mental a cada uma e cada um.
Conclusão
Ao redigir as presentes orientações, destacados os atravessamentos e arran-
o CONSELHO REGIONAL DE PSICOLO- jos históricos, sociais, identitários, eco-
GIA DO DISTRITO FEDERAL (CRP 01/DF) nômicos, de gênero, raça, os eventos de
e seus colaboradores buscaram fornecer vida, as questões políticas e psicológicas
informações e reflexões essenciais para que compõem sua complexidade.
ajudar o trabalho daqueles que, em sua Fica um apelo para a construção de for-
prática profissional e de cuidado, lidam mas de enfrentamento coletivas. Um ape-
com temas tão delicados como o do suicí- lo que compreende a construção de uma
dio e da automutilação. Esperamos ofere- sociedade pautada em valores como a
cer a profissionais de psicologia e outros solidariedade e a empatia. Um apelo que
profissionais de saúde e educação um compreende, sobretudo, a construção
contato qualificado, ainda que introdutó- de uma sociedade capaz de responder à
rio, a temas que, apesar de terem ganha- enorme tragédia humana por trás das es-
do espaço na mídia e no debate público, tatísticas, investindo em políticas públicas
ainda são amplamente desconhecidos e comprometidas com a promoção da saú-
fontes importantes de insegurança. de mental e do bem viver de cidadãos e
Longe da pretensão de esgotar os te- cidadãs. Políticas medicalizantes, biologi-
mas em tela, ao longo destas páginas, as zantes, manicomiais e higienistas não nos
autoras reconhecem, apontam e adver- interessam, mas políticas que atravessam
tem para a natureza extremamente com- os muros dos hospitais, clínicas e Centros
plexa, multidimensional e desafiante de de Atenção Psicossocial e que cheguem
comportamentos cuja sombra estão as- nas escolas, nas fábricas, nas empresas,
sociados a uma enorme carga de vulnera- nos lares - políticas de saúde mental per-
bilidade, estigma e dor. Historicamente, o manentes, que mostrem o compromisso
suicídio e a automutilação representam com a vida em todos os dispositivos que
importantes desafios conceituais e prá- compõem o tecido social e que acompa-
ticos para profissionais e estudiosos de nhem as pessoas em todas as etapas de
campos como a medicina, a filosofia, a sua vida. Trata-se de um apelo por uma
psicologia, a psiquiatria, a educação, a an- sociedade capaz de reconhecer seus gru-
tropologia e a sociologia. Marx (2006) já pos de maior vulnerabilidade; capaz de
afirmava que o suicídio é um entre tantos tecer críticas ao seus modos danosos
sintomas da luta social geral. de funcionamento e compreender que a
Assim, com base em nossas experiên- melhor estratégia de prevenção de suicí-
cias profissionais e estudos acadêmicos dio é a promoção de um estado de bem
e diante da limitação de um texto que se estar coletivo, que só se faz possível pela
propõe introdutório, buscamos apontar promoção dos direitos humanos, pelo
para dimensões julgadas mais importan- respeito à diversidade expressa em todas
tes ao se considerar os desafios do suicí- as formas de ser e existir e pela constru-
dio e da automutilação. Denunciando as ção de meios concretos e subjetivos para
respostas reducionistas, moralistas e os que os indivíduos em sofrimento possam
lugares comuns tão frequentes na abor- cultivar a esperança e fazer uma escolha
dagem dos referidos fenômenos, foram definitiva pela vida.
Referências
ALMEIDA, S. Racismo estrutural. São Pau- BTESHE, M. O suicídio na mídia: Refle-
lo: Pólen, 2019. xões para o cuidado em saúde mental.
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Esta publicação foi diagramada com
as tipografias Barlow e Open Sans.

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