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Estudo de Caso

Módulo B – Fase I – Ano 2022

Sobre a vacinação como política pública

Uma das mais importantes políticas públicas de saúde, as campanhas


de vacinação, responsáveis pela erradicação de diversas doenças, estão de tal
maneira inseridas no cotidiano das pessoas, que se consolidaram como parte
da cultura da nossa sociedade. Desde o século 19, acompanhando a expansão
das cidades, movimentos para imunização coletiva da população fazem parte
das dinâmicas e transformações sociais que moldam os tempos, sempre, em
maior ou menor grau, associados a políticas para saúde. Desta forma,
campanhas de vacinação como o Programa Nacional de Imunização, criado
em 1973, institucionalizado em 1975, e executado através do SUS desde a
homologação da Constituição de 1988, são peças fundamentais para a boa
gestão da saúde pública.
Atualmente, no Brasil, o Calendário Nacional de Vacinação oferece a
crianças, adolescentes, adultos, idosos, gestantes e povos indígenas, 19
vacinas, cuja cobertura se estende desde o nascimento por toda a vida. Ao
todo, o atendimento vacinal compreende 45 imunobiológicos, administrados em
campanhas anuais e organizados nas cadernetas de vacinação, hoje em
grande parte disponibilizada também em versão digital, pelo aplicativo
ConectSUS. O caráter nacional de política pública que as campanhas de
vacinação brasileiras carregam em si, demonstram, quando em relação a
outros países, o quão efetiva são. Tomando como referência a recente
epidemia de Covid-19, Estados Unidos e Inglaterra apresentam índices
inferiores aos brasileiros quanto a cobertura vacinal justamente por não
utilizarem a capilarização estatal como meio de entrega, administração e
acompanhamento dos resultados de imunização.
Esta mobilização do poder público, no entanto, por vezes enfrenta
reveses. Como dito, desde a segunda metade do século 19, movimentos de
imunização coletiva são empreendidos e por vezes enfrentam reveses. Em
1904 ocorreu, no Rio de Janeiro, um destes episódios infames. Após a
promulgação da lei 1.261, de 31 de outubro, que exigia comprovação de vacina
contra varíola para matrícula escolar, diversos grupos sociais insurgiram contra
o governo em uma rebelião civil conhecida hoje como a “Revolta da Vacina”.
Em 5 dias, mais de 900 pessoas foram presas, 110 feridas e 30 mortas.
Camadas populares descontentes com a exigência desencadearam ataques a
agentes públicos, incêndios e depredação de património, como prédios e
veículos. A razão para sublevação é complexa. Como explica o historiador e
pesquisador Carlos Fidelis da Ponte, do Departamento de Pesquisa em
História das Ciências e da Saúde da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz). O
país tinha abolido a escravidão e adotado o regime republicano há menos de
quinze anos. Havia grupos descontentes com os rumos políticos e sociais do
governo. “Entre eles os monarquistas que perderam seus títulos, parte do
Exército formado por positivistas que não aprovavam a república oligárquica
levada por civis, e ex-escravos que sofriam com a falta de políticas sociais e
não conseguiam empregos, vivendo amontoados nos insalubres cortiços da
capital”, afirma. A despeito destes fatores que influenciaram para a revolta, um
chama atenção, dada sua pertinência à atualidade: campanhas de
desinformação, ou como são conhecidas hoje, fake News. Durante o período,
diversas notícias circulavam em jornais e afirmavam que pessoas vacinadas
adquiririam feições bovinas. Assim como hoje, à época teria sido saudável e
inteligente, por parte do poder público, antes da exigência da vacinação, ter
investido em campanhas de educação e conscientização sobre o
funcionamento das vacinas, bem como toda a efetividade do trabalho científico
envolvido.
Dessa forma, é fundamental que esta educação científica se inicie já na
etapa da educação básica. Gestores escolares e professores devem se
preocupar em trabalhar, dentro de sala de aula, conteúdos informativos sobre a
importância da vacinação, seu funcionamento e, principalmente, sua
efetividade, para garantir que, além da observação da boa cidadania, nossas
futuras gerações sejam mais positivas em relação às campanhas de
imunização. Um outro expediente que também pode ser muito relevante é a
utilização de redes sociais e mensageiros instantâneos, como facebook e o
whatsapp, para disseminação de informações sobre a prática e o conhecimento
científico, de forma adequada e acessível ao maior recorte demográfico
possível, para que possamos também criar barreiras às constantes campanhas
de desinformação empreendidas por grupos de interesse contrários à
vacinação.

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