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Redação

PROPOSTA DE REDAÇÃO 4 – REVISÃO UFRGS

Considere, abaixo, parte da entrevista do sociólogo e consultor educacional Cesar Callegari, publicada
no Jornal Nexo, em novembro de 2021.

Ex-membro do Conselho Nacional de Educação de 2004 a 2018, em que presidiu a Comissão de Elaboração da Base Nacional
Comum Curricular, ex-secretário municipal de Educação de São Paulo (2013-2014) e ex-secretário de Educação Básica do
Ministério da Educação (2012), Cesar Callegari defende, nesta entrevista ao Nexo, que o país tenha um projeto de nação que
defina setores estratégicos para qualificar as pessoas para atuarem neles.
O que explica a recente queda nas inscrições para os exames que dão acesso às universidades?
C.C.: Há um processo de desalento, desânimo e falta de perspectivas para amplos setores da juventude brasileira. E isso se
deve a vários motivos. O primeiro diz respeito à pandemia. Esse período de quase dois anos de paralisação das atividades
presenciais nas escolas provocou uma interrupção das trajetórias de muitos estudantes. E um dos reflexos disso é uma certa
consciência de que eles estão pouco preparados para enfrentar as exigências do Enem e dos exames das próprias universidades.
Há também uma percepção generalizada, principalmente entre os jovens de escola pública, de que o ensino médio, em geral, é
muito ruim e não oferece perspectivas nem sequer de continuidade educacional. Eles têm consciência de que o ensino oferece
muito pouco e de que caminhar para o curso superior não vai resolver, vai apenas realçar os problemas que foram acumulados
na educação básica. Tem aí uma frustração muito grande.
Em 2018, o sr. disse que a proposta de reforma do ensino médio do governo de Michel Temer poderia levar à formação de
uma “geração de jovens pouco qualificados, acríticos, manipuláveis, incapazes de criar e condenados aos trabalhos mais simples
e entediantes”. A pandemia acelerou esse processo?
C.C.: A atual reforma do ensino médio aprofunda desigualdades de uma maneira dramática. Principalmente ao reduzir,
drasticamente, aquilo que são os direitos de aprendizagem, as questões que formam o raciocínio, a capacidade de compreensão,
de inter-relação das coisas, que são as chamadas áreas disciplinares fundamentais. Quando você rebaixa a qualidade, você tem
um desmonte de um sistema que já estava ruim. Eu acho que o ensino médio brasileiro vem, há muito tempo, capengando, mas
esse ensino médio está sendo desmontado sem colocar nada no lugar.
Há uma questão também ligada ao desemprego estrutural. A economia vem mudando de maneira bastante acentuada.
Pessoas são substituídas por máquinas, e cérebros, por inteligência artificial. De fato, o desemprego estrutural afunila as chances
para aqueles profissionais de formação superior. E não apenas em termos de quantidade, mas também de qualidade. Todas as
informações mostram isso, e a maior parte, infelizmente, dos cursos superiores brasileiros não prepara os jovens para os
requerimentos dessa nova economia, desse novo mercado de trabalho mais exigente, que demanda pessoas que saibam
“aprender a aprender” o tempo inteiro, que saibam pensar, refletir, ter o pensamento crítico e base para tomar decisões. Por isso,
há uma enorme evasão [dos cursos superiores]. É só dar uma olhada no planejamento das instituições particulares de ensino: elas
ganham dinheiro no vestibular e no primeiro ano. No máximo, no segundo ano, porque sabem que vão perder a maioria dos
alunos, e vão perder por quê? Porque as pessoas chegam à conclusão de que não vale a pena o esforço de continuar um curso
superior, porque aquilo não está resolvendo os seus problemas, não abre perspectivas. Então essa juventude começa a ter essa
consciência de que ter um diploma universitário, apenas um diploma, não está abrindo caminhos.
Também se abriu, particularmente para uma camada da juventude em situação socioeconômica mais vulnerável, um amplo
leque de oportunidades de ganho em funções altamente precarizadas, que é essa rapaziada que está em cima das motocicletas,
nos aplicativos, fazendo outras coisas que, de alguma maneira, desviam a trajetória propriamente educacional e também acabam
significando uma fonte de renda, por menor que seja, que impede que esses alunos se preparem para enfrentar tanto o Enem
quanto os vestibulares.
O sr. já escreveu que o interesse pela educação superior está associado a um projeto de nação. Quais as consequências
desse desinteresse pelo diploma para o país?
C.C.: Esse desalento é uma crise absurda para o Brasil. Num país cujo próprio jovem não acredita no seu futuro, que futuro
esse país pode ter? Mas eu sou muito otimista e acredito que temos uma urgência de desenvolver políticas para os jovens. Isso é
absolutamente urgente e significa garantir uma educação básica, sobretudo o ensino médio, de boa qualidade para todos, garantir
a sua permanência e sua efetividade. Outro ponto é garantir qualidade nos cursos superiores. Há anos o Ministério da Educação
relaxa na exigência de qualidade das instituições superiores no Brasil, principalmente as particulares. Para exigir qualidade,
garantir o sistema que mantém esses jovens no ensino superior, isso significa sistema de bolsas e de apoio universitário, não
apenas para que os jovens ingressem, mas que se mantenham, além de uma perspectiva real de ingresso no mercado de trabalho.
O país tem que definir quais são os setores estratégicos da economia e qualificar essas pessoas para atuar neles. Se permanecer
nesse quadro, é um desastre anunciado. Mas eu acredito que isso vai mudar, precisa mudar, e o caminho é mais do que conhecido,
porque já foi trilhado em muitos outros lugares do mundo, inclusive no próprio Brasil.

Adaptado de: <https://www.nexojornal.com.br/entrevista/2021/11/15/O-jovem-agora-vê-que-apenas-um-diploma-não-abre-caminhos>. Acesso em


17 de dezembro de 2022.
Redação
Como você pode perceber, o sociólogo Cesar Callegari tem opiniões claras a respeito do impacto que
a formação educacional dos jovens, sobretudo a etapa do ensino médio, tem sobre as suas perspectivas de
futuro. Ele, em sua argumentação, apresenta aspectos relativos ao modelo de ensino atual, às recentes
mudanças no mercado de trabalho e à consequente queda no ingresso e na permanência de jovens no
ensino superior.
A partir disso, considere a seguinte situação.
Você é um aluno que está cursando o Novo Ensino Médio, implementado em 2022 nas escolas
brasileiras, e, entre os itinerários formativos desse novo currículo, frequenta as aulas de Formação Técnica
e Profissional, cujo objetivo é promover a qualificação profissional do estudante para o mundo do trabalho.
Na última aula, foi lida e discutida por todos os colegas presentes a entrevista do sociólogo Cesar Callegari.
Após a discussão, ficou decidido que você deverá produzir um texto dissertativo sobre as ideias
expressas pelo autor acerca do impacto que a formação educacional dos jovens tem sobre as suas
perspectivas de futuro. Além disso, ficou decidido também que você lerá seu texto, na próxima semana,
integralmente, em voz alta, para todos os colegas de turma.
Ora, tendo em vista essa situação, é fundamental que sua opinião seja apresentada de modo
articulado, em um conjunto de ideias claras e consistentes. Para desenvolvê-la, você pode se valer, além das
ideias do texto de Cesar Callegari, de exemplos pessoais, situações presenciadas, fatos, acontecimentos,
enfim, tudo o que possa ajudá-lo a sustentar de maneira qualificada suas ideias.
Em resumo, você deverá escrever um texto dissertativo que

a) apresente claramente sua opinião e seu ponto de vista sobre as ideias expressas pelo sociólogo
na entrevista;
b) desenvolva argumentos que permitam fundamentar sua opinião e seu ponto de vista.

Lembre-se: você lerá seu texto para os colegas na sala de aula; logo, é preciso se fazer entender da
melhor maneira possível. Bom trabalho!

Instruções:
A versão final do seu texto deve:
1 - conter um título na linha destinada a esse fim.
2 - ter a extensão mínima de 30 linhas, excluído o título – aquém disso, seu texto não será avaliado –, e máxima de 50
linhas. Segmentos emendados, ou rasurados, ou repetidos, ou linhas em branco terão esses espaços descontados do
cômputo total de linhas.
3 - ser escrita, na folha definitiva, à caneta e com letra legível, de tamanho regular.

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