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UNIVERSIDADE LUSÍADA

Departamento de Direito
INTRODUÇÃO À ECONOMIA
Cursos de Direito e Relações Internacionais
(1.º Ano - 1.º Semestre)
Ano 2019-2020.

Sumários desenvolvidos

Regente: Guilherme d'Oliveira Martins

NOTA - Os sumários que se seguem constituem apenas e fundamentalmente um roteiro


de estudo. Não se trata de uma exposição exaustiva da matéria. São, assim, um instrumento
importante mas nunca exclusivo, designadamente para o acompanhamento tutorial. De
modo sintético, indica-se os temas, as referências fundamentais e, no final de cada capítulo,
a bibliografia. O método usado obriga, assim, a uma preparação e acompanhamento
permanentes das aulas e a um contacto constante com os elementos de estudo (sumários,
notas sobre as aulas, bibliografia fundamental, trabalhos práticos). Só considerando os
sumários como um roteiro ou guião poderemos retirar deles a sua plena utilidade. G.O.M.

Capítulo IX
A concorrência imperfeita e teorias dos jogos
9.1. Quadro geral.
9.2. Monopólios e concorrência monopolística.
9.3. Oligopólios e cooperação empresarial.
9.4. Concentração no mercado.
9.5. A não cooperação empresarial: a Teoria dos jogos e Equilíbrio de Nash.
9.6. A importância do mercado da informação: reputação e especialização.

CAPÍTULO IX - A concorrência imperfeita e teorias dos jogos.


9.1. Quadro geral.

A regra de vida no funcionamento da economia é a de que não se verificam na prática do


dia-a-dia os requisitos que correspondem à concorrência perfeita. Suponhamos que a venda
do tabaco está condicionada numa determinada comunidade à existência de um só
vendedor. Então estamos perante um monopólio legal. Mas pensemos na situação em
que, por virtude da concentração de iniciativas económicas inerentes às falhas de mercado,
uma única empresa se vê sozinha a produzir um tipo de bens determinado. Também aí há
um monopólio, resultante do funcionamento do mercado. Lembremo-nos, aliás, de que no
jogo do "Monopólio", popularizado nos Estados Unidos, os jogadores têm como objetivo
ficar sozinhos, como vendedores, dominando o mercado. Mas, por outro lado,
suponhamos que uma fábrica é a única compradora no mercado de uma determinada
matéria-prima. Nesse caso, estamos perante um “Monopsónio”.

Sistematizemos. Quais as diversas situações correspondentes à concorrência imperfeita?

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Monopólio - Verifica-se quando do lado da oferta temos um vendedor e do lado da
procura temos, em regra, uma pluralidade de compradores.

Oligopólio - Ocorre quando há um grupo limitado (do grego: prefixo oligo- :poucos) de
vendedores e uma pluralidade de compradores.

Monopsónio - Tem lugar quando do lado da procura temos um só comprador, para uma
pluralidade de vendedores.

Oligopsónio - Corresponde à existência de um grupo limitado de compradores, para uma


pluralidade de vendedores.

No caso de uma monosituação do lado da oferta, temos três situações possíveis:


monopólio bilateral (correspondente a uma monosituação do lado da procura),
monopólio contrariado (quando há uma oligosituação do lado da procura), monopólio
(quando há uma polisituação na procura).

Havendo uma oligosituação relativamente à oferta, temos as seguintes situações:


monopsónio contrariado (monosituação na procura), oligopólio contrariado
(oligosituação na procura), oligopólio perfeito (polisituação na procura).

Por fim, existindo uma polisituação na oferta, encontramos as seguintes alternativas:


monopsónio (quando há uma monosituação na procura, como já vimos), oligopsónio
(oligosituação na procura) e concorrência perfeita (polisituação do lado da procura, desde
que haja as restantes características já analisadas da concorrência perfeita).

9.2. Monopólios e concorrência monopolística.

O monopólio permite a obtenção de lucros mediante a elevação dos preços acima dos
níveis que se praticariam se houvesse concorrência perfeita. O consumidor paga mais e o
produtor ganha mais. O inconveniente do monopólio não está, porém, na existência de
excedente do produtor, mas no facto de, por essa via, se reduzir o bem-estar económico de
uma comunidade. Quando o monopolista sobe os preços acima do nível concorrencial, os
compradores compram menos, a produção diminui e a situação do bem-estar da sociedade
piora. Por isso, o monopólio, nessas condições, diminui o rendimento da sociedade. De
nada vale o monopolista ficar mais rico, se a produção da comunidade sai reduzida.

Porque houve desde finais do século XIX uma industrialização de massa e a tendência para
a concentração monopolística, surgiu nos Estados Unidos, como já vimos, legislação contra
as concentrações e os monopólios (antitrust), de que são exemplos marcantes o Sherman
Act de 1890 (declarando ilegais os cartéis - contratos, combinações ou conspirações que
restringissem o comércio - e os monopólios) e o Clayton Act de 1914 (que proíbe a
discriminação de preços, as práticas concertadas e as combinações vinculativas, o abuso de
posição dominante, bem como as fusões).

Se uma sociedade deseja controlar os monopólios tem à sua disposição três tipos de
instrumentos:

(a) a política antimonopólio (do tipo norte-americano);

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(b) a regulamentação pública do direito da concorrência (consagrada no tratados da
União Europeia); e

(c) a intervenção do Estado na economia..

Nenhuma das soluções é ideal e todas comportam inconvenientes. Deverá, por isso,
sempre ter-se em consideração o equilíbrio de influências entre os instrumentos de
mercado e os instrumentos de regulação pública. De facto, a eficiência nas economias de
escala aponta para a tendência de concentração, mas o peso crescente da consciência dos
seus direitos por parte dos consumidores limita a capacidade de o produtor aumentar os
preços - a regulação pública encontra nessa confluência espaço para agir, até por pressão da
própria opinião pública.

Diferente é a situação designada por concorrência monopolística. Estamos então perante


uma forma de mercado de natureza híbrida, mas próxima da concorrência perfeita. Foi
estudada por Edward Hastings Chamberlin (1899-1967) (Theory of Monopolistic Competition,
1933) e por Joan Robinson (1903-1983) (The Economics of Imperfect Competition, 1933).

Antes do mais verifica-se a ausência de fluidez no mercado. Como já vimos, falta


homogeneidade e um mesmo bem tem vários mercados. É o que ocorre com as marcas – o
que tem consequências muito marcantes nos dias de hoje, em que os mercados estão
dominados por essa realidade. Os artigos desportivos da A. ou da N. têm a sua própria
procura e o seu próprio mercado. No entanto, aparentemente, têm características muito
semelhantes. Mas assim não é de facto. Os consumidores são muito sensíveis à
diferenciação. Os bens de marcas diferentes não têm um mercado homogéneo, definem
vários mercados. Se um comprador gosta do bem de uma determinada marca mais do que
todos os outros que estão disponíveis, ele está disposto a pagar mais por isso, um adicional
em relação ao que não tem marca ou em relação a outra marca.

Neste sentido, em vez de um mercado muito amplo dos artigos desportivos, cada
comprador, perante as suas próprias preferências, depara-se com um leque reduzido de
oportunidades, o que permite ao vendedor da marca A. ou ao vendedor da marca N. ter
uma margem de manobra na fixação do respetivo preço. Voltamos, assim, a encontrar o
excedente do produtor na forma de renda económica.

9.3. Oligopólios e cooperação empresarial.

O oligopólio pode resultar de razões legais, naturais ou de facto. No primeiro caso


estamos perante o regime de condicionamento industrial ou de barreiras à entrada de um
mercado - existindo, portanto imposição jurídica. No caso do oligopólio natural pode
acontecer que, por exemplo, uma matéria-prima só exista em zonas a que só possa ter
acesso um número limitado de produtores. Neste caso, estamos perante uma situação
semelhante à do monopólio natural. No caso dos oligopólios por razões de facto,
poderemos ter ou motivações técnicas ou de concorrência - ou a produção apenas se pode
fazer em unidades de certa dimensão, ou a evolução natural do mercado leva à
concentração (v.g. produção de automóveis, de lâmpadas elétricas ou de cigarros…).

Analisando o funcionamento do mercado e recordando o que já estudámos, verificamos


que numa economia industrial os efeitos de escala favorecem a formação de acordos e de
concentrações de empresas (mergers). Por outro lado, uma guerra de preços entre empresas
conduz a efeitos muito negativos por parte de quem a leva a cabo, uma vez que no caso de

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o rendimento marginal se aproximar do custo marginal o futuro das empresas começa a
estar em causa, como vimos já.

Veremos a seguir, na distinção entre jogos cooperativos e não cooperativos, como é que
pode funcionar essa "guerra" e em que medida ela conduz ou não a um entendimento entre
os produtores, a fim de se garantir a respetiva sobrevivência e a manutenção dos respetivos
excedentes. O oligopólio permite, assim, que haja um preço de equilíbrio que se mantém,
não levando ninguém à ruína e assegurando a todos os intervenientes relevantes do
mercado um rendimento significativo.

Compreende-se agora melhor o sentido e o alcance do Clayton Act relativamente aos


cartéis (do alemão kartel, que significa oligopólio de conluio, que se torna, na prática um
monopólio ilegítimo). Deve, pois, haver um controlo rigoroso dos entendimentos entre
empresas na medida em que eles prejudicam o bem-estar da comunidade. Essa
preocupação é muito evidente na União Europeia - onde o mercado interno só pode
funcionar com um respeito efetivo pela concorrência e com o sancionamento efetivo das
práticas abusivas ou restritivas da concorrência.

9.4. A concentração no mercado.

A concorrência não tende a expandir-se indefinidamente. Há situações em que a entrada de


um novo produtor, utilizando uma tecnologia já usada anteriormente, vai dar origem a uma
nova produção em que o custo médio é superior ao do produto do empresário que já se
encontra no mercado. O empresário recém-chegado será derrotado pelo mais antigo.
Como já vimos, a propósito das incapacidades ou falhas de mercado, há um limiar a partir
do qual nas economias de escala passa a haver tendência para que os custos sejam
crescentes e os rendimentos decrescentes - o que determina o surgimento da
concentração de empresas, com vista à redução dos custos médios de produção (vd.
supra).

De facto, os novos custos fixos de funcionamento desaprovam a proliferação de iniciativas


e parecem aconselhar a concentração, para manter os custos fixos e garantir um adequado
excedente do produtor. Tornou-se, por isso, importante medir a concentração num
mercado - em nome da concorrência. Quanto maior for a concentração, mais provável se
torna que o preço se afaste do seu nível concorrencial e se aproxime dos máximos que
poderão vigorar numa situação em que temos um só sujeito económico do lado da oferta.
A concentração é, em síntese, um caminho da evolução do mercado concorrencial para as
diversas formas de concorrência imperfeita.

9.5. A não cooperação empresarial: Teoria dos Jogos e Equilíbrio


de Nash.

A concorrência num mercado tem de ser analisada a partir das relações que se
estabelecem entre os agentes económicos. Já vimos que a cooperação empresarial pode
constituir uma resposta às exigências de racionalidade e às falhas do mercado. A ciência
económica importou da investigação matemática sobre os jogos a reflexão e os estudos
sobre os fenómenos de não cooperação. De um lado, temos a ineficiência decorrente da
inexistência de informação completa nos jogos não cooperativos, de outro lado, há a
tendência para o estabelecimento de um equilíbrio previsível nessas situações.

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Vejamos alguns exemplos da teoria dos jogos - formulada por John von Neumann (1903-
1957) e por Oskar Morgenstern (1902-1977). Comecemos pelo dilema do prisioneiro.

Dois indivíduos A. e B. cometeram conjuntamente um crime e estão presos em celas


incomunicáveis. A lei aplicável estabelece penas variáveis em número de anos de prisão
conforme os arguidos confessem ou não o crime. A utilidade de cada um dos presos é
evidentemente tanto menor quanto maior for um número de anos de prisão que lhes seja
aplicado. Uma vez que o juiz pretende saber a verdade vai premiar a delação. Temos o
seguinte quadro de possibilidades:

(a) Se A confessa e B também confessa, ambos são condenados a 10 anos de prisão (10,
10).
(b) Se A confessa e B não confessa. A não é condenado e B é condenado a 20 anos (0, 20).
(c) Se A não confessa e B confessa. A é condenado a 20 anos e B não é condenado (20, 0).
(d) Se A e B não confessam, ambos são condenados a 5 anos de prisão (5, 5).

Considere-se a decisão de A… A ignora a decisão de B. Supondo que B não confessa seria


mais vantajoso a A confessar, pois obteria a sua libertação, contra a alternativa de 5 anos de
prisão caso não confessasse. Admitindo que B confessa, seria de novo mais vantajoso para
A confessar pois obteria 10 anos em lugar de 20 anos. Qualquer que seja a atitude de B,
seria sempre mais vantajoso para A confessar. Há prejuízo para ambos, mas cada qual age
de forma mais racional para evitar ficar na pior situação.

Apliquemos um raciocínio semelhante a dois armazéns comerciais em concorrência. Eles


irão baixando os preços para ganhar nova clientela até ao ponto em que o rendimento
marginal se aproxima do custo marginal - circunstância em que, deixando de haver lucro,
não é possível baixar mais o preço. Chegados a esse ponto os dois armazéns, Bom&Barato
(B&B) e Sempre em Festa (SemF), poderão conluiar-se, aumentando por acordo o preço
até ao nível correspondente à situação de monopólio, maximizando, assim, os lucros.
Vejamos como:

(i) Se B&B e SemF fixarem o preço da unidade de determinado produto em 2 Euros


obtêm ambos um lucro de x.

(ii) Se B&B baixar o preço da unidade para 1 Euro e SemF ficar na mesma, B&B passa
a ter um lucro maior, de x + n, e SemF um lucro menor, de x - n.

(iii) Se for SemF a baixar o preço e B&B ficar na mesma a situação inverte-se.

(iv) Se B&B e SemF fazem o mesmo, baixando para 1 Euro o preço da unidade, o lucro
de ambos desaparece (= 0).

B&B e SemF vão chegar à conclusão que deverão acertar os preços entre si, para poderem
obter lucro ambos. Regressamos, assim, à cooperação oligopilística já estudada. Se não
cooperarem, arriscam-se ambos a entrar numa situação difícil, sem qualquer excedente
resultante da respetiva atividade económica.

John Forbes Nash (1928-2015), celebrizado pelo filme de Ron Howard “A Beautiful Mind”
(“Mente Brilhante”), dividiu os jogos em dois tipos diferentes: os cooperativos (aqueles
em que existe a possibilidade de aliança entre os intervenientes no jogo, p. ex. bridge) e os
não cooperativos (aqueles em que não há entendimento, cada um jogando por si, por ex.

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o poker). Nash analisou as atitudes pessoais dos jogadores, em situações não cooperativas,
que têm tendência para encontrar soluções de equilíbrio, previsíveis. Apesar de não
cooperarem, os incentivos pessoais de cada um podem orientar o resultado do jogo para
uma situação definida que se revele estável. Nesse caso é fácil encontrar o desfecho do
jogo.

Suponhamos Alberto e Berta, que são jovens namorados. Alberto gosta de ir ao futebol.
Berta gosta de ir à ópera. Mas ambos gostam de estar um com o outro.

Se ambos escolherem segundo a sua preferência não estarão juntos. Haverá, por isso, uma
desutilidade para os dois. Haverá interesse em mudar de atitude para obter uma utilidade
maior. Se Alberto escolher ir à ópera, Berta obtém a utilidade máxima. Se Alberto
escolhesse o futebol obteria uma utilidade menor, pois teria de ir sozinho. Indo os dois à
ópera Berta tem uma utilidade 2, Alberto terá uma utilidade 1. Se fosse ao futebol Alberto,
Berta teria uma utilidade 0. O equilíbrio de Nash estará, pois, nesta solução (o/o). se as
escolhas fossem diferenciadas não haveria equilíbrio de Nash (o/f, f/o). Se Berta decidir ir
ao futebol, então o equilíbrio obter-se-á na situação f/f. Os dois resultados tornaram-se
previsíveis. Precisamos apenas de saber qual a primeira decisão.

Agora, suponhamos, que depois do casamento a Berta já não se importa de ficar sozinha
em casa, enquanto Alberto continua a preferir estar com a Berta. Neste caso, a estratégia
seguida por Alberto poderá ser a do mal menor. Nem Alberto vai ao futebol nem Berta vai
à ópera - mas ambos obtêm uma utilidade 1, não saindo de casa. Alberto fica com Berta e
Berta não se maça saindo de casa (n/n)…

No filme "A Beautiful Mind" (2001) o exemplo dado é o de uma loira disputada por vários
jovens, que chegam à conclusão de que não podem aspirar a ficar com ela (first best), pelo
que se limitam a fazer a segunda escolha (second best), optando pelas outras raparigas,
procurando assim uma utilidade intermédia.

O equilíbrio de Nash conjuga informação e aprendizagem, que só se adquirem no


longo prazo. Havendo um oligopólio e acordo entre agentes, encontramos uma evolução
que alterna a cooperação com a não cooperação. Primeiro, os vendedores chegam a
acordo, mas depois vão tentar fazer batota. Mas os vendedores sabem apenas que se
subirem os preços perdem a clientela e se os descerem obtêm a clientela perdida pelos
concorrentes. Temos, assim, o que Paul Sweezy (1910-2004) designou como a curva da
procura quebrada (kinked demand curve). Há duas elasticidades diferentes. Uma acima do
preço de equilíbrio - a relação procura/preço é elástica já que o comprador tem alternativas
- e outra abaixo do referido preço - a relação é inelástica, uma vez que o comprador deixa
de ter alternativa, adquirindo o bem ou o serviço ao preço mais baixo.

Ainda quanto à teoria dos jogos deve referir-se os importantes contributos de Robert J.
Aumann (1930-) e de Thomas C. Shelling (1921-2016), vencedores do Prémio Nobel da
Economia de 2005, autores da teoria da decisão interativa, que permite a compreensão
dos fenómenos do conflito e da cooperação.

R.J. Aumann estudou os fenómenos de adaptação à natureza dos seres vivos, a partir da
existência de ameaças que condicionam as atitudes, os comportamentos e até a sua
configuração física. Os pavões na Índia, por exemplo, têm a cauda mais curta porque
vivem sob a ameaça dos tigres (que podem atacá-los mais facilmente pegando-os pela
cauda), enquanto na Europa, sem essa ameaça, desenvolvem mais esse apêndice.

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Por outro lado, T.C. Schelling estudou sobretudo o fenómeno das estratégias de conflito,
no campo da defesa e da estratégia militar, designadamente a guerra-fria e o equilíbrio das
ameaças, que dificulta a eclosão de conflitos abertos e generalizados.

O Prémio Nobel da Economia de 2012 também se refere à teoria dos jogos. Lloyd Shapley
(1923-2016) e Alvin Roth (1951-) trataram do tema dos mercados onde não há formação
de preços (universidades, doação de órgãos humanos) procurando ver as influências da
raridade e da qualidade no valor económico.

9.6. A importância do mercado da informação: reputação e


especialização.

Para compreendermos um mercado e o seu funcionamento é essencial percebermos a


importância de um segundo mercado, que é o "mercado da informação". O consumidor e
o produtor precisam de informação para se movimentarem bem no mercado e para
obterem as melhores condições. Daí a importância crescente das campanhas publicitárias e
do modo como se apresenta um determinado bem ou serviço no mercado. A
credibilidade e a fiabilidade com que se apresenta um determinado produto são
essenciais para se encontrar a melhor maneira de chegar ao consumidor e de garantir a
perceção sobre a satisfação da necessidade.

No mercado da informação há que atender aos "custos de busca" da informação


disponível, de modo a saber em que termos a necessidade é satisfeita e qual a relação entre
o custo e o benefício. Cabe ao produtor reduzir ao máximo esse custo de busca, uma vez
que o consumidor não está disponível para fazer um grande esforço. Eis porque os
vendedores fixam o preço a um nível acima do mínimo que podem praticar - contando
com a pouca persistência dos compradores e com a possibilidade de compensarem as
quebras da procura. Os vendedores praticam preços diferenciados porque sabem que os
custos de busca do preço mais baixo dissuadirão a maioria dos consumidores de
procederem a comparações exaustivas. Vale a pena procurar os preços mais baixos
enquanto o benefício marginal esperado for igual ou superior ao custo marginal desse
esforço.

A oferta de um produto a um preço mediano vai afastar do mercado os vendedores dos


produtos com qualidade superior à mediana. Vão ser deixados no mercado por "seleção
adversa" apenas os vendedores de produtos com qualidade inferior à mediana. Por
exemplo, nos contratos de seguro automóvel vão ser os condutores com mais acidentes os
que vão dominar.

Perante esta tendência os vendedores de produtos de qualidade superior à mediana têm


interesse em prestar informação gratuita e credível ao comprador, informação gerada fora
das transações do mercado, de modo a não serem excluídos por "seleção adversa". As
campanhas publicitárias visarão justificar a credibilidade, trata-se de sinalizar qual a
diferença. Vão procurar demonstrar a verdade do ditado popular "o barato sai caro". Nesse
sentido, o vendedor vai dar garantias adicionais, explicando a maior duração do produto,
promovendo a comparação, facilitando a vida do comprador. O preço mais alto passa
então a ser um sinal de diferença positiva, de distinção, de prestígio, de marca.

Mas há, em contraponto à "seleção adversa", o "risco moral". Ou seja, no decurso de


uma relação contratual duradoura, o vendedor pode vir a abusar da confiança que nele é

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depositada, deixando de cumprir ou não cumprindo devidamente os deveres a que se
obrigou - e fiando-se na assimetria informativa e na dificuldade em detetar o cumprimento
defeituoso. Ainda no contrato de seguro automóvel, pode haver incentivo a que os
condutores sejam menos diligentes, porque os seus riscos estão cobertos pelo seguro.

A defesa dos direitos dos consumidores assume, assim, uma importância cada vez
maior. A proteção dos consumidores cabe não apenas às instituições de regulação pública,
mas também às associações ou ao movimento cooperativo - para contrariar a um tempo os
efeitos negativos da seleção adversa e do risco moral.

A reputação e a especialização funcionam, assim, segundo tendências diversas. A


formação de uma opinião pública informada e rigorosa conduz a maior exigência e a uma
maior emulação centrada num melhor conhecimento dos intervenientes no mercado e das
condições em que funcionam.

Mas a pressão publicitária pode ser enganadora (uma vez que não visa apenas informar
mas também condicionar). A confiança no mercado exige hoje não apenas a tomada de
consciência por parte dos produtores mas também dos grandes intermediários (as grandes
superfícies, os hipermercados), que funcionam numa lógica de oligopsónio, pressionando
também o mercado e podendo contribuir para uma melhor salvaguarda dos interesses dos
compradores.

BIBLIOGRAFIA:

PEDRO SOARES MARTÍNEZ, Economia Política, Almedina, Coimbra, 1996 (pp. 639-661).
PAUL SAMUELSON E WILLIAM NORDAUS, Economia, MacGraw Hill, Lisboa, 2005 (pp. 166-
222)
JOÃO CÉSAR DAS NEVES, Introdução à Economia, Verbo, Lisboa, 2005 (pp.165-184).
FERNANDO ARAÚJO, Introdução à Economia, Almedina, Coimbra, 2005 (Cap. 9, pp. 337-424).
MANUEL L. PORTO, Economia - Um Texto Introdutório, Almedina, Coimbra, 2002 (pp. 153-
200).
ALEXIS JACQUEMIN, H. TULKENS; P. MERCIER, Fondements d'Économie Politique, De Boek,
Bruxelles, 2001 (pp. 207-232)

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