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[re]invenções
instrumentos e artesanatos do carimbó
pau, corda, cores e
[re]invenções
instrumentos e artesanatos do carimbó
198
2 019
sala do artista popular
S A P museu de folclore edison carneiro
apoio
Superintendência Iphan Pará
Secult - Secretaria de Cultura do Estado do Pará
Prefeitura de Marapanim
Prefeitura do Soure
parceria
Comitê Gestor da Salvaguarda do Carimbó
Associação do Carimbó do Estado do Pará
realização
Programa Sala do Artista Popular Projeto de montagem e produção da mostra
Coordenadora: Elisabeth Costa Luiz Carlos Ferreira
Texto Programação visual
Daniel Reis I Graficci Programação Visual - Victória Sacagami
Pesquisa Edição e revisão de textos
Paula Pflüger Zanardi e Daniel Reis Lucila Silva Telles
I Graficci Programação Visual - Natália Natalino
Filmagens
Paula Pflüger Zanardi Sonorização e produção videográfica
Pierre Azevedo Alexandre Coelho
Vitor Gonçalves
Daniel Reis
P323 Pau, corda, cores e (re)invenções: instrumentos e artesanatos
Fotografias do Carimbó / pesquisa e texto de Daniel Reis. – Rio de Janeiro:
Francisco Moreira da Costa - p. 6, 7, 9, 10, 12, 13, 14, 15, 16, IPHAN, CNFCP, 2019.
17, 18 (alto esquerda), 23, 24, 25 (alto e baixo direita), 26, 27, 36 p. : il. – (Sala do Artista Popular, n. 198).
29 (inclinado e esquerda), 30, 31 (esquerda), 32, 33, 34, 35
ISSN 1414-3755
Cris Salgado - p. 3, 8, 18 (baixo esquerda), 21, 28, 29 (ao
meio), 31 (direita) Catálogo etnográfico lançado durante a exposição realizada
Pierre Azevedo - p.18 (baixo direita), 20, 24 (baixo direita), no período de 25 de julho a 08 de setembro de 2019.
25 (alto e esquerda), 29 (direita), 33 (direita no alto) 1. Carimbó 2. Instrumento Musical 3. Pará I. Reis, Daniel, org.
II. Série.
CDU 394.321+681.8(811.5)
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sala do artista popular
S A P museu de folclore edison carneiro
A Sala do Artista Popular, do Centro Nacional de Folclore e O CNFCP, além da realização da pesquisa etnográfica
Cultura Popular/CNFCP, criada em maio de 1983, tem por obje- e de documentação fotográfica, coloca à disposição dos
tivo constituir-se como espaço para a difusão da arte popular, interessados o espaço da exposição e produz convites e
trazendo ao público objetos que, por seu significado simbó- catálogos, providenciando, ainda, divulgação na imprensa e
lico, tecnologia de confecção ou matéria-prima empregada, pró-labore aos artistas, no caso de demonstração de técni-
são testemunho do viver e fazer das camadas populares. Nela, cas e atendimento ao público.
os artistas expõem seus trabalhos, estipulando livremente o São realizadas entre oito e dez exposições por ano, caben-
preço e explicando as técnicas envolvidas na confecção. Toda do a cada mostra um período de cerca de um mês de duração.
exposição é precedida de pesquisa que situa o artesão em seu A SAP procura também alcançar abrangência nacional,
meio sociocultural, mostrando as relações de sua produção recebendo artistas das várias unidades da Federação. Nes-
com o grupo no qual se insere. se sentido, ciente do importante papel das entidades cul-
Os artistas apresentam temáticas diversas, trabalhando turais estaduais, municipais e particulares, o CNFCP busca
matérias-primas e técnicas distintas. A exposição propicia ao com elas maior integração, partilhando, em cada mostra, as
público não apenas a oportunidade de adquirir objetos, mas, tarefas necessárias a sua realização.
principalmente, a de entrar em contato com realidades muitas Uma comissão de técnicos, responsável pelo projeto,
vezes pouco familiares ou desconhecidas. recebe e seleciona as solicitações encaminhadas à Sala do
Em decorrência dessa divulgação e do contato direto com o Artista Popular, por parte dos artesãos ou instituições inte-
público, criam-se oportunidades de expansão de mercado para ressadas em participar das mostras.
os artistas, com estes participando mais efetivamente do pro-
cesso de valorização e comercialização de sua produção.
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pau, corda, cores e [re]invenções das festas, seja no cotidiano, bem como formas particulares
de lidar com ambiente ao redor adaptando e reaproveitan-
instrumentos e artesanatos do carimbó do materiais. Está presente em diversas regiões do estado
Daniel Reis do Pará, como já havia identificado Vicente e Marena Sal-
les (1969), dividindo-o entre o carimbó praieiro, no Salgado;
Dançarina de carimbó do grupo O Cruzeirinho | Soure, Marajó
“Naquele tempo era no pau e corda; na viola e na lamparina. pastoril, no Soure; e rural, no Baixo Amazonas. Sua vitalida-
Não tinha microfone, não tinha nada.” Esta frase, e variações de atual foi identificada na pesquisa realizada para o inven-
dela, foram ouvidas repetidas vezes ao longo do percurso tário do carimbó como patrimônio cultural, que visitou mais
em busca dos mestres que fazem instrumentos e artesana- de 150 localidades e revela o quanto ele se espalhou pelo es-
tos associados ao carimbó, entre abril e maio de 2019, no tado, das fronteiras com o Amapá até próximo ao Maranhão.
Pará. Referiam-se, num misto de nostalgia e entusiasmo, a
um período considerado “passado”, “de outros tempos”, em
que o carimbó adentrava noite afora ao som de instrumen-
tos acústicos feitos, em grande parte, pelos próprios músi-
cos. Ao mesmo tempo, atualizavam memórias, saberes, ter-
ritorialidades e experiências; falavam de si, dos grupos dos
quais fazem parte e das mediações sensíveis provocadas
entre a dita tradição e a reinvenção permanente.
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É tradicionalmente associado ao calendário festivo de san- carimbó estilizado, foram incorporados instrumentos elétri-
tos padroeiros, sobretudo aqueles ligados às irmandades ne- cos como a guitarra, o baixo e mesmo elementos eletrônicos.
gras, com destaque para São Benedito. O carimbó também é
realizado na celebração dos mutirões na época do plantio e As letras das músicas são descrições do cotidiano, das vi-
colheita, algo cada vez menos visto. Por outro lado, desde a vências de mestres e compositores que dividem seu tempo
década de 70 conquistou as rádios, clubes e festivais com a entre diversas atividades como a pesca, a agricultura e ou-
difusão do carimbó na indústria cultural. Em seguida, surgi- tros. Referem-se ao mundo do trabalho, memórias do lugar
ram os festivais: inicialmente, com grupos se apresentando e do próprio carimbó, para além de questões sociais e am-
no formato de concurso; depois, transformou-se numa rede bientais. São cronistas poéticos de seu tempo.
de trocas e reciprocidades baseado na ideia das visitas entre
os grupos, visando dissipar as disputas que o modelo de con-
corrência gerava (Pantoja, 2015; Costa, 2015; Salles, 1969).
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A dança é marcada pelo colorido da indumentária e o uso do Olhares sobre o carimbó
corpo para desenhar movimentos característicos. É realiza-
da tanto em passos miúdos entre giros como numa dança A literatura sobre o carimbó foi escrita por pensadores
de roda, ou, ainda, em coreografias específicas em referên- de áreas distintas – como folcloristas, historiadores,
cia ao ambiente e à fauna. Em Belém e contextos mais turís- cientistas sociais, poetas, jornalistas, entre outros –,
ticos, ganhou contornos mais rápidos, passos mais largos, abordando-o sob diferentes aspectos, mas, sobretudo, a
adaptando-se também para o palco. partir de quatro elementos: 1) sua matriz formadora (ne-
gra, índia e branca – mito das três raças); 2) seu instru-
mental percussivo, muitas vezes tratado como sinônimo
da própria manifestação; 3) a dança; e 4) o diálogo entre
o homem e a natureza (Pantoja, 2015).
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identificou-se distintos olhares acerca dele, mas, em co- que dê continuidade ao trabalho que desenvolvem. Ato de
mum, o dado de que o percebem como experiência sensível salvaguarda, mas também de reinvindicação por reconhe-
de narrar e vivenciar o mundo. Foi possível conhecer um cimento e cidadania em áreas, não raro, de vulnerabilidade
universo de artesãos que, com recorrência, dominam mui- social entre os jovens.
tas técnicas e linguagens sendo comum encontrar aque-
les que produzem todos os instrumentos percussivos; ou Salinas
percussão e cordas – ou, ainda, especialistas em um único O percurso realizado nesta pesquisa teve início na região
instrumento, buscando sempre aperfeiçoar técnicas e ma- do Salgado. Em Salinas, Mestre Nelson é conhecido por seu
teriais para obter a melhor sonoridade. trabalho ligado à diversas manifestações populares como a
folia de São Benedito, mas principalmente no carimbó à fren-
É comum, neste universo, a menção da habilidade artesanal te do grupo O Popular, que completa 60 anos. Hábil artesão,
como um dom, algo herdado e desenvolvido. Em geral, con- constrói banjo e instrumentos percussivos. Ao narrar sua
tam ter aprendido apenas observando, vendo os pais, tios, história traz à tona a memória de seus mestres, como Pali-
avôs e as rodas que aconteciam em sua localidade. Por vezes, nha e Calixto, e afirma: “O carimbó foi o meu mestre. Quem
eram percebidos por algum mestre que os tomavam como me ensinou tudo foi o carimbó”.
alunos; outras vezes, seguiam movidos pela curiosidade. Al-
guns buscaram também se aperfeiçoar em cursos e oficinas. Mestre Lourival, por sua vez, começou a se interessar pela
Produzem em pequena escala, normalmente sob encomenda, música aos 12 anos de idade, observando os tios que toca-
com preços que variam de acordo com qualidade da matéria- vam flauta em serenatas. Certo dia, perguntou a um deles
prima desejada e detalhes de acabamento, por exemplo. se era difícil aprender e teve como resposta que bastava
dedicação. Aos 17 anos já fazia shows nas imediações que
Em comum, guardam também a preocupação com a trans- morava. Hoje toca saxofone, clarinete e flauta de chave.
missão de seus saberes e a formação de uma nova geração
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Santarém Novo
Santarém Novo é terra do grupo Irmandade do Carimbó de São
Benedito, cuja festa local ocorre de 21 a 31 de dezembro. Sua ca-
racterística é a manutenção de instrumentos feitos “no pau e cor-
da” e a presença de um orquestral composto por curimbó, reco,
maraca, triângulo, rufo e afoxé, em uma festa que os homens só
entram de terno e as mulheres com blusa de manga comprida.
em sentido horário: Waldery Araújo de Souza, Mestre Waldery; Norberto Lá, Mestra Tina é a responsável pelo colorido de boa parte
Teixeira Costa, Mestre Norberto; Lourival Monteiro, Mestre Lourival; Nelson das saias rodadas. “Eu aprendi na marra”, conta ela, sobre
Freitas dos Santos, Mestre Nelson seu início na costura. A avó a matriculou aos 12 anos num
Desde a pré-adolescência Mestre Norberto diz que sempre ateliê para aprender acabamento. Aos 14, começou a fazer
gostou de estar no carimbó, conhecido por meio do pai, um roupa de boneca e, no ano seguinte, seu próprio vestido de
festeiro que tocava viola e adorava dançar. Nesse ambiente debutante. Daí em diante, nunca mais parou. Hoje é a mais
foi crescendo e logo se interessou também por fazer os instru- requisitada costureira de sua localidade.
mentos percussivos, descobrindo, mais tarde, seus próprios
caminhos. Como diz: “você sabe, tudo tem começo, né? ”. Mestre Sabá, por sua vez, percebeu o dom através de so-
nhos. Costumava dormir em sua oficina após o almoço e
Já mestre Waldery se aproximou do carimbó em função de sua foi assim que começou a sonhar com tudo o que devia fa-
esposa, dançarina do grupo O Popular, e logo seguiu seus passos. zer. No início foi o artesanato em madeira sobre o que via
Como artesão, trabalha com conchas e buriti. No seu repertório e buscava no mangue: o caranguejo, o siri. Até que um dia
estão as miniaturas das personagens que compõe a roda do ca- sonhou fazer um tambor. E foi assim que deu início em sua
rimbó – muitas delas, miniaturas dos próprios colegas de grupo. trajetória na confecção de todos os instrumentos percussi-
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vos do carimbó. Como diz: “A realidade é esta: você perce- fundadores do grupo Brasileirinho. Na altura estava sem ban-
ber que tem um dom e partir para cima!”. jo e conseguiu um que precisava ser reformado. Logo perce-
beu o tino para fabricar seus próprios instrumentos. Além do
banjo, viola e cavaquinho, confecciona todos os outros ins-
trumentos percussivos do carimbó. Sobre o fazer artesanal,
diz: “O espinho quando nasce já traz a ponta”. E acrescenta:
“Tem gente que precisa de professor. Mas tem gente que já
vem com muita ideia na cabeça”.
Marapanim
Seguindo para Marapanim logo se vê na entrada da cidade a
estátua de Mestre Lucindo, reverenciado por sua contribui-
ção ao carimbó. Lá, o trajeto começou numa conversa com
Mestre Caranguejo. Hoje com 82 anos de idade, dedicou 69
deles ao carimbó, como registrou em uma de suas composi-
ções: “Quando eu tinha 12 anos, já tocava por aí. Agora, tô
com 80 e ainda não me arrependi”. Em 1960, ele foi um dos
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Mestre Sandoval toca e confecciona de tudo no carimbó.
Sandico, como é conhecido, começou no carimbó aos dez
anos ajudando o avô a trocar as cordas da viola. Hoje é um
dos poucos que confecciona a onça, espécie de cuíca, cada
vez mais rara de se ver nos grupos de carimbó - mas que,
para ele, tem uma presença sonora fundamental.
Raimundo Francisco Barroso Ribeiro (Neno), Elieser Carlos Serafim Nonato Adraiana Barbosa Costa, Raimundo Miranda Amaral,
Brandão e Sr. Jamie, Mestre Mico, encourando tambor com couro de cobra Mestra Adriana Mestre Diquinho
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mina a gente”. Professora por mais de 40 anos, formada em
pedagogia, sempre incluiu o carimbó nas escolas em que
trabalhou como parte das atividades da educação infantil.
Mestra Edicinamar de Nazará
da Rocha e Silva e sua mãe
Nilma da Rocha e Silva A transmissão de mãe para filha também é parte da história
Antônia
de Mestra Edicinamar, conhecida como a “Baixinha das va-
Cantuario retas”, que aprendeu o bordado marajoara aos 7 anos com
Souza, a mãe, Nilma. Trata-se de um artesanato que hoje envolve
Mestra Santa
toda a família, sendo fonte de seu sustento. É feito com faca,
gilete e estilete, desenhando os grafismos marajoaras nas
varas de taquari, que, segundo a tradição local, afastam más
Maria Miriam
Faria Lobato, energias e trazem bons fluidos. Estes padrões são aplicados
Mestra Meire também nas maracas produzidas por elas em coco e cuia.
As duas principais costureiras do carimbó no Marajó guar-
dam em comum nunca terem dançado em nenhum grupo. Partindo para Salvaterra, Mestre Agnaldo, desde a adolescên-
Apenas o acompanham pelos bastidores fazendo a sua in- cia envolvido com a percussão do carimbó, decidiu se aventu-
dumentária. Mestra Santa, nascida numa família de costu- rar na lutheria há cinco anos. O que lhe motivou foi ter visto
reiras, começou aos 15 anos e hoje conta 61 costurando, Mestre Moacir, único de sua cidade que naquele momento
sendo 32 deles, roupas de carimbó. Já Mestra Meire tam- construía os instrumentos, ficar impossibilitado de continuar
bém tinha a mãe costureira e sempre que ela saía de casa sua jornada após um problema de saúde. Decidiu então dar
ia “brincar” com seu material, até o dia em que ela resolveu continuidade àquele trabalho. Agnaldo é um entusiasta na
lhe ensinar. Hoje, diz, já fez de tudo, de roupa de boneca a busca por novas técnicas e descobertas para fazer instrumen-
vestido de noiva. Para ela: “Carimbó é uma coisa que conta- tos melhores e mais acessíveis, produzindo percussão e banjo.
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José Ronaldo Gudes Santos,
Mestre Ronaldo
Belém e Região metropolina
Ao começar a pesquisa em Belém e região metropolitana
descortinam-se outros cenários e narrativas. Mestre Lucas
de Bragança, um dos fundadores do grupo Sancari, por exem-
plo, é categórico ao afirmar: “A minha paixão é tocar maraca.
Parece que invade a minha alma”. Embora saiba fazer e tocar
os demais instrumentos do carimbó, seu amor pela maraca
é tal que plantou sua própria cuieira no quintal de casa para
selecionar as melhores cuias para fazer o instrumento.
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da esquerda para direita: Lourival Monteiro Barros, Mestre Lourival Igarapé; Manoel Alexandre Costa da Silva,
Mestre Alexandre; Waldiney Lima da Silva, Mestre Ney Lima (alto); Thomaz Barbosa da Cruz, Mestre Thomaz
(baixo); José Maria de Freitas Cordeiro, Mestre Cazuza; Acidenor Garcia, Mestre Laranjeira
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Nas trocas com Mestre Leopardo, Mestre Calango se deu
conta de que ninguém no grupo fazia o banjo, assumindo
então essa missão. Movido pela incessante curiosidade e
busca pela perfeição, deu início a uma longa pesquisa sobre
o instrumento na internet e com pessoas mais velhas que o
tocavam. Apesar de já contar com uma expertise na produ-
ção artesanal, dado sua profissão como escultor em madeira,
afirma: “O banjo tem pequenos detalhes que a gente tem que
ter sensibilidade”. Como no início não sabia tocar, mostrava em sentido horário: Cláudio Ferreira de Souza, Mestre Leopardo; Roberto
para as pessoas ansioso por ouvir as críticas e sugestões. Costa Oliveira, Mestre Calango; Adan Max Pereira Cardoso da Silva, Mestre
Curupira; Hermes Caldeira Rego, Mestre Hermes
Já Mestre Hermes é palhaço de formação. No circo sentia falta Os curimbós e maracas aprendeu a fazer por curiosidade e
de inserir temas da região e começou pelo próprio nome: Pa- também necessidade de manutenção de seus instrumentos.
lhaço Tucupi. A presença da música era constante com os en-
saios do grupo Espanta Cão na casa de sua avó. O avô lhe deu A pesquisa encerrou-se em Alter do Chão com Mestre Curupira,
as primeiras lições com o clarinete e depois o saxofone. Mais Adan Max, que começou a viajar o país fazendo artesanato em
tarde, frequentou oficinas de tambor. Quando a família decidiu 2006. Numa roda em São Luís, pediram para que tocasse algo
abrir um espaço cultural, o músico Chico Malta foi convida- de sua terra. Criado em São Paulo, percebeu que pouco sabia
do para o show inaugural e, na ocasião, convidou Hermes ao de suas raízes no Pará. Foi quando decidiu voltar e descobrir a
palco. Foi, formalmente, sua primeira apresentação pública. cultura paraense. Numa oficina de percussão no Pacoval, Ma-
Mais tarde estavam tocando na praça quando uma equipe de rajó, aprendeu ritmos e a fazer instrumentos; com um amigo
filmagem que produzia um filme na cidade os convidou para músico, a desvendar os caminhos do banjo. Hoje, desenvolve
gravar uma cena – acabaram, assim, formalizando um grupo. um projeto que busca fomentar o carimbó em Alter do Chão.
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Os instrumentos em toras, entre 1,00 e 1,20 m, em média, utilizam machado
ou uma motosserra. Siriúba, ipezeiro, corticeira, abacateiro e
Curimbó faveira são as madeiras mais utilizadas – considerando va-
Curimbó, corimbó, carimbó, atabaque, tambor, eis alguns dos riáveis geográficas e a disponibilidade de encontrá-las, bem
nomes atribuídos ao instrumento muitas vezes descrito como como o som, a durabilidade e o peso das mesmas.
sinônimo da manifestação cultural como um todo (Cascudo,
2002; Miranda, 1968). Será considerado aqui o primeiro, curim- O curimbó é escavado com uma coiva, ou ferro de ponta,
bó, por ter sido o mais escutado ao longo da pesquisa. Trata-se até se tornar um cilindro com aro de aproximadamente 2 a
de um tambor escavado em um tronco de tamanhos variáveis 3 cm de largura. A madeira também é tratada por fora lim-
e encourado em uma das aberturas. É tocado na horizontal, pando e acertando as suas irregularidades. Alguns mestres,
apoiado sobre um suporte, por vezes independente e por vezes como Agnaldo, no Marajó, vêm fazendo o carimbó também
já fixado ao próprio instrumento. Sobre ele, o tocador se senta em tubo de PVC. Este material oferece a praticidade de não
e bate com as mãos. Há também casos em que usam a baque- precisar escavar, ser relativamente fácil de conseguir e ser
ta nas laterais, como em Alter do Chão, com Mestre Leopar- resistente. Mestre Cazuza, por sua vez, vem testando um
do. O carimbó é afinado e tocado de diferentes formas pelos novo formato, que chama cachimbó, parecido com um ca-
grupos, cada qual buscando um acento ou timbre específico. chimbo em que a boca do tambor fica inclinada para cima.
É comum utilizarem dois ou três em que o mais grave marca Segundo ele, isso melhora a postura para tocar e é uma ho-
o ritmo e um ou dois são usados para “repicar” ou “repinicar”. menagem a sua mãe e a sua avó que firmavam o cachimbó.
A confecção do instrumento é um processo moroso e duro, No “tempo do pau e corda” ou no dito “tambor de antigamen-
relata Mestre Norberto. Nas palavras de Mestre Caranguejo: te”, havia o couro preso à madeira por meio de torniquetes
“Madeira pra carimbó é pau furado”. No mangal ou mata aden- amarrados em cordas, algo visto ainda em Santarém Novo.
tro, procuram sempre uma árvore já oca, “morta”. Para cortá-la Era comum ao longo da apresentação o instrumento desafinar
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e ter que ser aquecido no fogo. Hoje, usam tarraxas metálicas. O acabamento é feito de diferentes formas: alguns preferem dei-
Mestre Manoel destaca que esse processo trouxe praticidade, xar na própria madeira; outros, usam verniz. É comum uso da
possibilitando afiná-lo com a chave sem precisar parar a festa. pintura de acordo com as cores do grupo ou do santo de devo-
ção ou, ainda, o uso de adesivo, como Mestre Agnaldo, em Soure.
As ferragens do carimbó – que incluem os aros para prender o O carimbó também é usado como forma de identificar o grupo,
couro e as cantoneiras para fixar as tarraxas de afinação – cos- sendo muitas vezes pintado, no couro, o nome ou algum logo.
tumam ser encomendadas aos ferreiros. Os ganchos são feitos
de parafuso de cama com a ponta entortada. Há, no entanto, os
que fazem suas próprias ferragens, caso de Agnaldo, no Soure.
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Milheiros
É recorrente a memória dos mestres dos “milheiros de an-
tigamente” feitos com latas de leite em pó e com caroço de
milho dentro. Hoje, são produzidos com placas de zinco en-
roladas. Há algumas variações, como a adotada por Mestre
Elias, que usa tubo cilíndrico de metal recolhido em obras e
mesmo frascos de aerossol depois de lixados e higienizados.
Dentro são colocadas sementes ou esferas de metal. Depois,
é vedado com uma tampa de madeira cortada na faca que,
além de encaixada, é pregada e vedada com resina epóxi.
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Flauta
Uma das questões identificadas no processo de patrimoniali-
zação do carimbó foi a necessidade de valorização da lutheria
e de seus instrumentos. Mais urgente, nesse cenário, eram
as flautas. Cada vez mais substituídas pelas industrializadas
e outros instrumentos de sopro, são poucos os que ainda a Mestre Lourival
fazem. Soma-se, ainda, o baixo número de pessoas que se de- mostrando processo
de medição da flauta
dicam ao instrumento no carimbó, sendo recorrente entre os
grupos ter de lançar mão de músicos profissionais para tocar. construída por ele ou seus pais. A flauta do carimbó mais
comum é a de seis furos, mas há variações. Mestre Marinho,
O Iphan, em parceria com Instituto de Artes do Pará, desenvolveu por exemplo, tem feito algumas com sete, para ter mais re-
em 2010 uma ação de salvaguarda chamada “Sopro do Carimbó cursos, diz. As distâncias variam de acordo com as “fôrmas”
– a musicalidade da Flauta Artesanal”, na região do Salgado. En- de cada mestre. A furação é feita por meio de um metal aque-
volveu a pesquisa e registro dos mestres, o encontro entre eles e cido ou com furadeira. O arremate, por fim, com faca.
os aprendizes e laboratório para confecção da flauta.
O timbre varia também de acordo com o diâmetro da madei-
A considerada flauta tradicional do carimbó tem um timbre ra. Quanto mais largo, mais grave. Assim, a afinação é relati-
peculiar, “aveludado”, gerado pelas características da madei- va e não corresponde necessariamente à métrica formal dos
ra em que é feita, a embaúba. A fabricação de uma flauta co- instrumentos industrializados. O ponto, diz Mestre Lourival,
meça com a limpeza do galho: por dentro, com uma vara; por é “como, a partir de um pau oco, acertar a tonalidade que
fora, com uma faca. Mede-se, então, os pontos de furação. É dê certo com os outros instrumentos. (...) Porque nós faze-
muito comum os artesãos terem começado com uma medida mos instrumento artesanal e nós temos que dar conta dele,
a partir da flauta de seus mestres ou, aquela que lhe fora conferir no tom de voz de cada uma pessoa que vai cantar”.
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O bambu também pode ser usado como matéria-prima para O acabamento pode ser verniz ou pintura – neste caso, tin-
construção da flauta. O timbre produzido é parecido com ta spray. Buscando melhor portabilidade do instrumento,
o da madeira, porém ligeiramente mais “aveludado”. No alguns mestres como Marinho, Meleco e Sandoval come-
entanto, os mestres apontam a dificuldade em furá-lo em çaram a fazer as flautas em duas partes que se encaixam.
função dos “nós”. Mais recente é o uso do PVC – material Marinho opta por aquecer o PVC e alargá-lo para unir as
leve, acessível, resistente, de fácil manuseio e que produz partes. Já Meleco prefere o uso de emendas. No caso do
também boa sonoridade, com características mais suaves. alumínio, é usado uma emenda.
Demanda uma etapa a menos no tratamento da matéria-
prima e oferece uma unidade de espessura, visto que é pa-
dronizado de fábrica. Normalmente são utilizados os de 20”
e 25”. O alumínio também é bastante comum. Oferece um
timbre mais “brilhante” e, comparado ao PVC, é um pouco
mais difícil de ser encontrado em algumas localidades, com
custo um pouco mais alto e mais duro de furar.
A afinação do instrumento é feita por meio de uma ma- Flauta fechada com tampa
de garrafa pet de Mestre
deira encaixada na parte superior, a “tampa” da flauta. É Sandoval e Mestre Marinho
comum o uso do buriti ou cabo vassoura. Mestre Sandoval furando uma flauta
o faz com uma tampa de garrafa PET. Para achar a afina-
ção, enfia-se a madeira até encontrar o ponto considerado
adequado. Como diz Mestre Lourival, é um processo em
que “tem que pensar com a madeira”.
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Banjos de Mestre Calango
Banjo
A presença do banjo no carimbó é documentada desde, pelo
menos, o início do século 20. Na exposição de longa dura- pouco vista. A migração para o banjo, disseram, se deve à
ção do Museu de Folclore Edison Carneiro, do CNFCP, há, por maior amplitude sonora e à versatilidade que oferece em
exemplo, um instrumento oriundo de Marapanim que, segun- matéria de construção. De fato, na mão dos mestres, tudo
do informações de coleta, data da década de 1920. Feito com pode ser utilizado para se fazer um banjo. Panelas, tubos
tampo em couro e cordas de aço, pouco visto nos dias atu- de PVC, copos de alumínio, chapas de raio-x, madeiras de
ais, o instrumento passou por vários grupos, sendo o último móveis velhos, partes de instrumentos quebrados e capa-
o Paramaú, documentado pela pesquisadora Maria Brígido, cetes de moto são alguns dos itens encontrados.
membra da Comissão Paraense de Folclore nos anos 70.
No carimbó, o banjo atualmente cumpre função harmônica e
Os mestres contatados nesta pesquisa afirmam, contudo, percussiva. É tocado seja com um estilo de palheta parecido a
que o banjo se tornou o instrumento harmônico predomi- um rasqueado, seja marcando o tempo – neste caso, batendo a
nante no carimbó a partir dos anos 60-70. Antes, recordam palheta com mais força nas cordas. O instrumento, com quatro
que o instrumento dividia espaço com a viola, hoje em dia cordas, pode ter diversos tamanhos e número de casas no bra-
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ço, variando de 10 a 19. A afinação mais frequente é em quin-
tas, mas há muitas variações1. A afinação do banjo varia so-
em sentido horário: Banjo com
bretudo quando vão acompanhar uma flauta artesanal. Nestes lateral feita em pvc e adesivado
casos, os banjistas “conferem” as notas pela altura das flautas. com motivos marajoaras de Mestre
Agnaldo; detalhe da lateral de um
banjo de mestre Ray; banjo feito com
As cordas utilizadas hoje são de náilon de pesca, recorren- panela de Mestre Calango; banjo em
temente com espessura única. As mais comuns 0.60 e 0.70 construção por Mestre Kaito
mm. Há também os que preferem usar mais grossas, como
Mestre Ray, 0.80; ou com espessuras distintas como Mes-
tre Agnaldo, no Soure. Há, ainda, os que usam cordas de
violão, como Mestre Ney Lima, por exemplo2.
30
acabamento estético, opção de Mestre Marinho. É cortada res-
peitando as dimensões do aro com espaço para as presilhas.
31
Banjo em construção por Mestre Nelson Assinatura de Mestre Calango no tampo de um de seus banjos
casa a casa sentindo as variações sonoras do instrumento. Além dessas partes, o cordal para prender as cordas pode ser
Outros, como Mestre Caranguejo, utilizam uma régua de feito com pedaço de um copo de alumínio, de uma panela ou
afinação com medidas prévias retiradas a partir de um ou- de outro artefato metálico. Ainda, pode ser feito em madeira,
tro instrumento. Mestres Ray, Kaito e Calango, por sua vez, sobra do corte da régua do braço do instrumento. Normal-
vem utilizando uma fórmula matemática. mente são furados com furadeira para fixação das cordas e
parafusados ou colados ao corpo do instrumento.
O traste pode ser reaproveitado de outro instrumento, fei-
to de fio de cobre, fio de alumínio ou PVC, por exemplo. O cavalete para as cordas também pode ser feito destes mes-
Depende da disponibilidade de recurso. A marcação das mos materiais. Mestre Ray e Ney Lima preferem osso de boi
casas no braço pode ser feita de parafuso aproveitando por considerarem que captam o som de forma mais fiel. Al-
para unir a régua na madeira de sustentação ou de cabeça guns colam no náilon do pandeiro; outros, o deixam solto pois
de raio de bicicleta achatado e, posteriormente, lixado. a afinação depende também da posição do cavalete no tampo.
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tre Nelson que usa o “choro de boneca” – dispositivo que vem
acoplado nas costas das bonecas que “falam”. Mestre Calango
produz seus próprios captadores a partir de falantes de celular
ou qualquer eletrônico que encontre disponível para reutilizar.
Mestre Marinho falando como constrói seus banjos Por fim, nota-se a preocupação crescente com a assinatura
As tarraxas podem ser feitas manualmente em madeira dos instrumentos como visto nos banjos dos Mestres Calan-
dura ou reaproveita-se a de outros instrumentos como ca- go, Ray e Kaito, por exemplo.
vaquinho, violão, etc.
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Outros instrumentos Indumentária
Alguns grupos usam outros instrumentos, dos quais valem
mencionar: o reco-reco, feito de bambu e tocado com uma bar- A fabricação da indumentária compõe também o quadro dos
ra de metal; o rufo, parecido com uma caixa, porém um pouco artesanatos do carimbó, com as cores vibrantes da saias ro-
mais grave – o corpo é normalmente feito de aro de panela de dadas e adereços de cabeça. As costureiras relatam que a
pressão, sendo encourado dos dois lados e afinado por cordas produção de uma saia pode demandar de 3 a 7 m de pano.
entrelaçadas, tocado com baquetas e, em geral, preso no meio Podem ser feitas em godê ou sobreposição de camadas de
das pernas; e, por fim, a onça, instrumento parecido com a cuí- tecido, sendo a seda, o crepe e o musseline bastante co-
ca. Pode ser feita de madeira ou PVC com uma vara de fricção muns. Mestra Tina relata que costuma começar a procurar
de flecheira ou caranã amarrada com uma corda por dentro. pelos tecidos ao longo do ano e vai guardando. “Ninguém
Quanto maior o tambor, maior a ressonância do instrumento. quer ter uma saia igual”, afirma. Por isso é importante sem-
Mestre Sabá pre buscar uma diversidade de desenhos, cores e tipos de
demonstrando como tecido. No caso de Mestras Meire e Santa, elas costumam
se toca o rufo e onça receber a encomenda do grupo Cruzeirinho no Marajó já com
feita por Mestre
Sandoval (abaixo) material incluído. Também recebem em menor escala enco-
mendas para fazer as blusas para as mulheres, normalmente
branca e de manga, e a camisa para os homens.
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“Inovar sem sair da tradição”...
Notas
1
Do agudo ao grave, por exemplo: Mi-Sol-Ré-Dó | Mi-Si-Sol-Ré | Dó-Ré Mi-Fá.
2
Ainda sobre as cordas, muitos mestres relataram a preferência pelo nái-
lon por ser mais flexível e, desta forma, durar mais tempo. Mestre Nelson
lembra que antes usavam o arame, pois o carimbó era mais cadenciado
do que hoje, sobretudo no tempo da viola. Com a acelaração do ritmo e
mudança da forma de tocar as cordas se partiam muito facilmente.
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Bibliografia Contatos para comercialização
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turalcasaderuibarbosa/files/2014/06/Eliana-Bog%C3%A9a.pdf aces- Mestre Calango 93 988057298 | Mestre Caranguejo 91 984746840
so em 18/07/2019. | Mestre Cazuza 91 98501-9819 | Mestre Diquinho 91 996054874 |
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Bragança 91 98410-3833 | Mestre Manoel 91 98208454 | Mestre
COSTA, Antônio Maurício. Produção da “Música Cabocla”: a polifonia Manoel Alexandre 91 98813-0732 | Mestre Marinho 91 98208454
formadora do Carimbó nas representações de literatos, jornalistas | Mestre Melé 91 98208454 | Mestre Nego Ray 91 98388-1177 |
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