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DOI: 10.1590/1413-812320212611.

10442021 5629

A colonização do saber epidemiológico: uma leitura decolonial

temas livres free themes


da contemporaneidade da pandemia de COVID-19

The colonization of epidemiological knowledge: a decolonial


reading of the contemporaneity of the COVID-19 pandemic

Gil Sevalho (https://orcid.org/0000-0002-1370-1856) 1

Abstract This paper makes a critical assessment Resumo O ensaio epistemológico relaciona cri-
of epidemiology with the COVID-19 pandemic as ticamente a epidemiologia com a pandemia de
a social event. It examines the philosophical re- COVID-19 enquanto evento social. Explora-se a
flection in which Agamben defines as contempo- reflexão filosófica em que Agamben define con-
rary those able to stand back to see the dark side of temporâneo como quem é capaz de se afastar
their own era. In the light of decolonial criticism, e enxergar o lado escuro do seu tempo. À luz da
the concept of “epidemiological transition,” with crítica decolonial, questionam-se a ideia de “tran-
its theory of transcendence of “social determinants sição epidemiológica”, com sua transcendência
of health” and binarism of epidemiological varia- na teoria dos “determinantes sociais de saúde”, e
bles as supports of the biomedical and quantitati- a disposição binarista das varáveis epidemiológi-
ve structuring of the epidemiology of risk factors cas, como suportes da estruturação quantitativa e
is queried. The scientific ambition to dominate biomédica da epidemiologia dos fatores de risco.
nature and the engendering of a linear and evolu- A pretensão científica de domínio da natureza e
tionary historical time, beginning in western mo- o engendramento de um tempo histórico linear e
dernity, contextualizes the epistemicides of popu- evolutivo, que inicia com a modernidade ociden-
lar wisdom and the coloniality of epidemiological tal, contextualizam os epistemicídios dos saberes
knowledge. The theoretical constitution of decolo- populares e a colonização do saber epidemiológi-
nial thought is historically analyzed, highlighting co. Historiciza-se a constituição do pensamento
its greater critical potential to reveal the structural crítico decolonial e pontua-se seu potencial para
colonization of epidemiological knowledge. The a revelação do caráter estrutural da colonização
post-pandemic future is considered and Prigogi- do saber epidemiológico. Considera-se o futuro
ne’s idea of bifurcation – as elaborated by Sousa pós-pandemia e relacionam-se as ideias de bi-
Santos – and Paulo Freire’s untested feasibility are furcação, originada de Ilya Prigogine e elaborada
related with the concept of time as the creation por Boaventura de Sousa Santos, e inédito viável,
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Departamento de
Epidemiologia e Métodos and expectation of social transformation. de Paulo Freire com a concepção do tempo como
Quantitativos em Saúde, Key words Epistemology, Contemporaneity criação e a expectativa de transformação social.
Escola Nacional de Saúde of the COVID-19 pandemic, Epidemiological Palavras-chave Epistemologia, Contempora-
Pública Sergio Arouca,
Fundação Oswaldo Cruz. transition, Social determination of health and neidade da pandemia de COVID-19, Transição
R. Leopoldo Bulhões 1480 binarisms, Decolonial criticism epidemiológica, Determinação social da saúde e
Manguinhos, 21041-210. binarismos, Crítica decolonial
Rio de Janeiro RJ Brasil.
gsev@terra.com.br
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Sevalho G

Introdução do-se e assenhorando-se da natureza, fortalece-


ram-se com o aparecimento das ciências sociais.
Para Santos1, a história humana é de apropriação A busca de identidade própria, com vigor a partir
e modificação do entorno. À transformação do de meados do século XX, liga ciências sociais e
espaço pela essencial atividade do trabalho soma- epistemologias críticas que vinculam a ciência
se, porém, a devastação progressiva da natureza com o poder econômico e político.
em função do acúmulo desmedido de capital. Prigogine e Stengers6 afirmam que a ciência
Epidemias causadas por diferentes tipos de criou a imagem de um ser humano só, perante
vírus influenza sucedem-se desde meados do uma natureza passiva e estúpida. Desde as epis-
século XX: a gripe asiática da década de 1950, a temologias da complexidade de Prigogine e Sten-
gripe de Hong Kong dos anos 1960, a gripe suína gers6, Morin7 e Santos8 discute-se a capacidade da
da primeira década do século XXI. Em comum ciência dominante para compreender as relações
têm procedência asiática e relação com subtipos com o meio, problematiza-se a separação entre
do vírus influenza HN. A investigação de Hultin, ser humano e natureza e propõe-se a conside-
Tautenberger e Reid, nos anos 1990, associou a ração interdisciplinar de sociedade e natureza
gripe espanhola de 1918 ao vírus influenza HN, como conjuntos de sistemas abertos, não-linea-
após exame de corpos conservados pelo frio, en- res, trocando matéria, energia e informação com
terrados no cemitério da aldeia esquimó de Bre- o exterior. Com as Epistemologias do Sul de San-
vig Mission, no Alaska2. tos9 e a teorização decolonial10-12 a crítica episte-
A ocorrência de pandemias procedentes da mológica torna-se debate ético e político sobre
Ásia com transmissão respiratória é ameaça co- a produção e realização da ciência, a hierarqui-
nhecida. Ujvari3 aponta que ao aglomerar animais zação e a dominação eurocêntrica do conheci-
com finalidade econômica os humanos favorecem mento, a colonização do saber, a consideração do
o surgimento de epidemias (p. 165). O autor saber popular, o racismo.
sugere a importância do Sudeste Asiático nesta Este ensaio pretende tensionar o conheci-
perspectiva e inclui no contexto a epidemia de mento epidemiológico a partir de uma leitura
sars de 2003, uma pneumonia causada por um decolonial da ocorrência da pandemia de CO-
coronavírus. VID-19, tendo como referência sua expressão
A China estruturou-se como economia de social complexa. O ensaio é forma de texto de
mercado expoente no capitalismo globalizado, procedência literária que permite livres e críticas
apresentando a concomitância do novo e do an- exploração de conceitos e formulação de questio-
tigo, a intensificação da industrialização e comér- namentos13.
cio coexistindo com formas tradicionais de viver A consideração da pandemia como even-
e se relacionar com a natureza4. Características to social foi inspirada no trabalho precursor de
históricas das práticas agrícolas, comércio e ali- Stark14, de 1977, um ensaio que, pela relevância
mentação conformam na China e Sudeste Asiá- e atualidade, é revisitado. A epidemia de CO-
tico, região que congrega cerca de um quarto da VID-19, em sua essência social, dá sentido ao
população mundial, condições peculiares para texto como chamada para discussão. A originali-
desenvolvimento e circulação de microorganis- dade da reflexão crítica está na sua realização des-
mos entre diferentes espécies, impactando na de o ponto de vista decolonial, sendo necessário
saúde do mundo. para a distinção desta especificidade o resgate de
O mundo atual é da velocidade crescente das críticas anteriores.
trocas e deslocamentos e favorecimento da circu- Questionamentos sobre o entrelaçamento
lação de microorganismos, com o ser humano e com a biomedicina ocidental e a fundamentação
sua biota portátil transportados por meios rápi- quantitativa da epidemiologia não são novidade,
dos e eficazes5 (p. 230). A produção capitalista e sendo tema de ensaios teóricos importantes que
o consumismo impõem a contínua substituição modelaram a Saúde Coletiva brasileira15-17, e no
dos bens, e a mobilidade, física ou imaginária, que diz respeito à teoria da transição epidemio-
é condição para geração do lucro financeiro. lógica citem-se as reflexões de Barreto et al.18 e de
Segundo Sevalho5, quando o tempo é dinheiro a Menéndez19, trabalhos da década de 1990.
duração é um obstáculo a se vencer e o espaço e o Entendemos que tais abordagens não esgo-
tempo foram colonizados para tal (p. 223). tam a questão, que deve ser explorada sob pontos
Debates sobre a presunção do ser humano de vista críticos que recentemente se abrem ao
de fazer da ciência hegemônica a razão capaz de debate. O acontecimento da pandemia de CO-
entendimento do mundo e do universo, separan- VID-19 intensificou e deu nova conformação a
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apontamentos epistemológicos existentes e fez lugar de um compromisso e de um encontro entre
surgir novos. A crítica decolonial aparece, então, os tempos e as gerações (p. 71). Contemporâneo é
como recurso profícuo na análise da vocação quem fixa o olhar no seu tempo para perceber não
científica da epidemiologia, e diga-se que abor- as luzes, mas o escuro, é quem sabe ver a obscuri-
dagens decoloniais não costumam frequentar a dade e é capaz de escrever mergulhando a pena nas
literatura da área e tampouco se apresentaram trevas do presente (p. 62-63).
como fontes do saber formador da Saúde Cole- Pode dizer-se contemporâneo apenas quem não
tiva brasileira. se deixa cegar pelas luzes do século e consegue en-
A argumentação epistemológica parte de trever nessas a parte da sombra, a sua íntima obs-
um certo sentido filosófico de contemporanei- curidade23 (p. 63-64). Contemporâneo, diz Agam-
dade e se debruça sobre elementos do discurso ben23, é aquele que recebe em pleno rosto o facho de
epidemiológico, com ênfase na ideia de transi- trevas que provém do seu tempo (p. 64).
ção epidemiológica. A epidemiologia procura se É nesta perspectiva de contemporaneida-
aproximar dos pressupostos de dureza e rigor de que inscrevemos a pandemia de COVID-19
das ciências naturais, e a teoria da transição epi- como chamada para desenvolver a crítica do sa-
demiológica, com sua lógica transcendência na ber epidemiológico.
determinação social da saúde, sustenta tal projeto
e serve como dispositivo para a colonização do Epidemiologia dos fatores de risco
saber epidemiológico. e determinação social da saúde

A contemporaneidade da epidemia Para Thomas Kuhn24, a força dos paradigmas


científicos permite que convertam o que é anô-
Em junho de 2021, a epidemia de COVID-19 malo em esperado, e, assim, permaneçam vigentes
ultrapassava 170 milhões de casos e 3,7 milhões (p. 78). Isto deve se aplicar ao sentido de como a
de mortes20. Todas as regiões do mundo são afe- dimensão social foi incorporada à epidemiologia
tadas, novas variantes mutantes do vírus com dos fatores de risco operada pela ideia de estilo de
características epidemiológicas distintas são en- vida, central na teoria dos determinantes sociais
contradas e novos comprometimentos clínicos de saúde. Determinantes sociais de saúde e transi-
descobertos. ção epidemiológica são construções teóricas que
Contar do tempo que ainda vivemos é difícil. dão elasticidade ao paradigma da epidemiolo-
Imersos no acontecimento não conseguimos dis- gia dos fatores de risco, compondo a dominação
tinguir limites, contornos, profundidades, tanto pelo saber biomédico e evitando o desconforto
mais quando o acontecimento é dramático. da vinculação da questão social com a ordem po-
Nora21 considera a dificuldade de se fazer lítico-econômica imperante.
uma história da atualidade. Promover o vivido em Profissionais da saúde e cientistas, em todo
histórico faz com que a natureza do contexto se mundo, não medem esforços na atenção aos do-
transforme (p. 53). A história do presente é cruel, entes e na pesquisa de tratamentos e vacinas para
pois quando se trabalha com carne viva, ela reage a COVID-19. Afirmações que engrandecem uma
e sangra (p. 53). É uma história que fere porque ciência limitada ao saber biomédico como úni-
fatalmente se coloca contra a imagem que uma co instrumento capaz de vencer a pandemia são
sociedade tem necessidade de construir acerca de si repetidas insistentemente. Discursos recorrentes,
mesma para sobreviver (p. 53). com intuito de alertar sobre os riscos da epide-
Certamente inscreve-se no contexto o sentido mia, sustentam que a epidemia não distingue so-
da afirmação de Braudel22 de que a maneira sin- cialmente suas vítimas. Evidencia-se, no entanto,
gular do historiador se interessar pelo presente é a determinação social da epidemia que faz com
dele se desligar (p. 124). que os socialmente vulneráveis sofram mais seus
Para Agamben23, contemporâneo é aquele efeitos, quer no acesso a serviços e tecnologias,
que consegue sair do seu tempo e enxergar o que inclusive às vacinas que surgem, quer na conta-
não seria possível quando atado ao presente. A minação, gravidade e morte, quer em perdas rela-
discronia, no entanto, não significa que o con- tivas às condições de vida, direitos, trabalho.
temporâneo desconheça que pertence irrevoga- A ideia dos determinantes sociais de saúde
velmente ao seu tempo, com o qual tem relação contextualizada na epidemiologia dos fatores de
de aderência e distância (p. 59). risco foi modelada por Dahlgren e Whitehead25,
O contemporâneo, segundo Agamben23, fra- adotada e promovida pela Organização Mundial
tura as vértebras de seu tempo, e faz da quebra o de Saúde (OMS). A proposta é ancorada na ca-
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tegoria estilos de vida, que define a natureza da quanto determinam desajustes sociais, e seu en-
relação entre o biológico e o social, funcionan- frentamento oportuniza ao Estado a realização
do como conceito operador para mudança entre de medidas repressivas que em outro cenário não
vida insalubre e vida saudável. A ideia de estilos seriam aceitáveis. Tanto vítimas quanto perpe-
de vida condiz com o culto da modernidade oci- tradores definem historicamente contexto e sig-
dental ao individualismo. nificado da doença. A medicina clínica e a ideolo-
A promoção da saúde, nascida no Canadá na gia médica, aponta Stark, não negam a etiologia
década de 1970 e internacionalizada pela OMS, social da doença, mas reconhecem que os meios
filia-se ao modelo preconizando ações educativas de progresso capitalista causam doença ao mesmo
orientadas segundo padrões de civilidade e saúde tempo em que ocultam a natureza histórica con-
ditados pelas sociedades ocidentais capitalistas tingencial do processo, mostrando-o alternativa-
desenvolvidas, em acordo com o saber biomédico mente, como um fato ‘natural’ (como ‘progresso’) e
universalizado. Acompanhando o avanço do ne- como resultado de uma escolha individual ou ‘esti-
oliberalismo, o afastamento do Estado da função lo de vida’14 (p. 701).
de provedor de políticas e ações sociais voltadas A dimensão social das pandemias é fato his-
para saúde, educação, trabalho, explica as con- tórico. Biraben27 relata que os rituais da dança
cepções de Estado mínimo ou ausente que dão macabra diante da morte, cortejos de flagelados
sentido à promoção da saúde. em peregrinação ou fuga, culpabilização dos po-
Posicionando-se na defesa crítica de uma bres e mendigos, aumento de mortes entre ido-
dialética da determinação social da saúde, Brei- sos, aumento da violência e repercussões econô-
lh26 aponta que o paradigma do risco foi concebido micas acompanharam a peste negra dos séculos
para manejar ‘fatores’ bem definidos, localizados e XIV e XV. Segundo Biraben, desde o século XV, os
de curto prazo de ação (p. 197). Constitui estraté- ricos aprenderam a proteger-se relativamente bem,
gia positivista que esvazia o conteúdo histórico, fugindo para suas propriedades no campo e isolan-
reifica fatores que fragmentam a visão processual, do-se, o que não podiam fazer os pobres27 (p. 596).
alimenta o reducionismo probabilístico, o nivela- Em maio de 2020, quando contabilizavam-se
mento ontológico, metodológico e praxiológico e a no mundo 270.000 mortes e 4,3 milhões de casos
ambiguidade interpretativa da determinação da de COVID-19, Abrams e Szefler28 evidenciavam a
saúde26 (p. 199). grave desigualdade social implicada no processo
A teoria do risco, e sua centralização na ideia e anteviam o que a história da pandemia mostra.
de estilos de vida, segundo Breilh26, é de enor- Pobreza, falta de moradia ou situação de rua, raça
me utilidade para os modelos de gestão neoliberal ou etnicidade são determinantes de saúde relacio-
e para a manipulação da hegemonia na saúde, nados pelos autores com a capacidade de cumpri-
constituindo a base de uma epidemiologia sem mento das medidas de isolamento social e restri-
memória e sem sonhos de emancipação presa à di- ção do contato físico e com o acesso aos serviços
tadura de um presente que se mantém à custa de e recursos de saúde (p. 661). Medidas de distan-
mudanças cosméticas que deixam intacta a estru- ciamento físico são difíceis de cumprir por quem
tura insalubre (p. 202). Não somos expostos aos vive em espaços precários. Tais condições afetam
riscos, assinala Breilh, mas estes nos são impostos em maior escala a população negra que mais so-
pela ordem social. A epidemiologia ocidental he- fre com a desigualdade social. Abrams e Sezfler
gemônica desconhece as dimensões estruturais ressaltam que talvez os efeitos dos determinantes
da opressão, assentadas na tripla iniquidade, de sociais em relação à COVID-19 sejam deprecia-
classe, gênero e raça. dos, e deveriam ser priorizados no enfrentamento
A qualificação como evento social foi incor- desta e de pandemias futuras.
porada aqui a partir de um ensaio de Stark14, para Convém, então, assinalar a referência crítica
quem uma epidemia não deve ser vista como um de Horton29 a uma perspectiva de determinação
intruso extraterritorial e biológico mas como um social, ao dizer que a COVID-19 não é uma pan-
‘evento’ com dimensões ideológicas e socioeconômi- demia, mas uma sindemia. O conceito, criado na
cas, fruto de decisões políticas e econômicas (p. antropologia médica por Singer30 referindo-se à
681-682). A doença sempre foi um fato social, aids, compreende a complexa interação entre do-
assim era para populações pré-industriais em seu enças transmissíveis, doenças não transmissíveis
convívio organizacional com o meio, mas tor- e vulnerabilidade social, e é utilizado por Horton
nou-se um produto quando a natureza passou a para assinalar a articulação do amplo espectro de
ser um obstáculo ao desenvolvimento capitalista. manifestações clínicas e sociais da pandemia de
Epidemias são tanto socialmente determinadas COVID-19.
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Críticas ao conceito de transição crônico-degenerativas. Barreto et al.18 assinalam
epidemiológica que a ideia de transição epidemiológica apresenta-
da no artigo de Omran31 é inserida num enfoque
A ideia de transição epidemiológica se proje- neo-evolucionário da modernização, no qual so-
ta na epidemiologia hegemônica a partir de um ciedades ‘tradicionais’ transformam-se em socie-
artigo do médico egípcio com atuação acadêmi- dades ‘adiantadas’ ou ‘modernas’ mediante uma
ca norteamericana Abdel Omran31. Observamos sequência determinada de etapas específicas, subs-
que o autor tem, segundo Weisz e Olszynko- tituindo-se gradualmente o modo de viver tradi-
Gryn32, vinculação com a política de controle da cional/primitivo por um modo de viver moderno/
natalidade dos anos 1970. Omran31 acentua que a dinâmico (p. 134). A modernização é mostrada
análise dos padrões de morte e adoecimento tem como transformação total da sociedade tradicio-
grande utilidade para conhecimento da dinâmica nal (pré-moderna) nos tipos de tecnologia, urba-
populacional e do controle da fertilidade, e sus- nização e organização social que caracterizam as
tenta que a teoria da transição epidemiológica en- nações adiantadas e economicamente prósperas
foca os complexos padrões de mudança de saúde e (p. 134). Os autores afirmam a influência da te-
doença e as interações com suas consequências de- orização funcionalista de desenvolvimento social
mográficas, econômicas e sociológicas determinan- de Parsons na adoção de uma visão simples, evo-
tes (p. 732). Afirmando embasar-se em amplas lucionista e etnocêntrica da mudança, ancorada
evidências que apontam para a substituição das na ideia de um padrão de desenvolvimento line-
pandemias de doenças infecciosas pelas doenças ar e unidirecional, calcada naquilo que parece ter
crônico-degenerativas e outras que atribui à ação acontecido em países da Europa Ocidental e nos
humana, o autor propõe três modelos de tran- Estados Unidos (p. 135). O pressuposto é insus-
sição epidemiológica que, como evidencia sua tentável porque universaliza um ponto de vista
descrição, compõem um processo evolutivo cujo sobre sequências históricas, subestimando a com-
estágio mais avançado de desenvolvimento social plexidade estrutural dos fatores sociais (p. 135).
corresponde à modernidade europeia: o modelo Perspectivas como a de Omran, segundo Barreto
clássico ou ocidental, referido aos países ociden- et al., tratam os países subdesenvolvidos partindo
tais desenvolvidos; o acelerado, cujo exemplo é de uma visão idealizada do desenvolvimento eu-
o Japão; o contemporâneo ou atrasado, referido ropeu, fundamentada em proposições altamente
a países da África, Ásia e América Latina, que se generalizadas e deterministas, que não considera
iniciou após a segunda guerra mundial (p. 732). adequadamente a variabilidade e flexibilidade dos
A influência dos fatores médicos, diz Omran, não sistemas sociais e as reações protagonizadas pela
aparece antes do século XIX e a queda da mor- população diante das mudanças18 (p. 136).
talidade nos países ocidentais foi determinada Menéndez19 revela o caráter a-histórico que
primariamente por fatores ecobiológicos e socio- envolve o uso de conceitos trazidos das ciências
econômicos, ao passo que a transição no ‘terceiro sociais para a epidemiologia. Ao comparar os co-
mundo’ vem sendo significantemente influenciada nhecimentos antropológico e epidemiológico o
pela tecnologia médica, cujas importação e utili- autor situa a teoria da transição epidemiológica
zação em programas de saúde pública têm tre- como proposta evolucionista e desenvolvimen-
mendo impacto positivo no declínio mais recente tista de sociedade relacionada a um elogio ideo-
da mortalidade31 (p. 741). lógico da modernidade.
Considerando que nem sempre a epidemiolo- O resgate das análises de Barreto et al.18 e de
gia clássica, com seu poderoso arsenal metodológi- Menendez19 é importante para demarcar a origi-
co e técnico, atende à requisição de novos olhares nalidade do ponto de vista decolonial, desde que
para análise da realidade de países subdesen- não é esta a perspectiva teórica assumida pelos
volvidos, Barreto et al.18 questionam a ideia de autores quando questionam a ordenação cientí-
transição epidemiológica, enquanto modelo ma- fica da Saúde Coletiva. Pensamos que o posicio-
croteórico que pretende dar conta da globalidade namento decolonial dá transcendência histórica
das tendências históricas de morbi-mortalidade à crítica epistemológica.
(p. 127-128). Os autores reconhecem o declí- Acompanhamos Mignolo10 tanto no apon-
nio geral da morbi-mortalidade, mas postulam tamento de que a reflexão decolonial deve ser
que há diferenças nas mudanças dos indicado- entendida como opção particular de interpreta-
res epidemiológicos entre países desenvolvidos ção, como também no que se relaciona ao forte
e subdesenvolvidos, relativas à comparação de impacto do poder revelador da teorização, ao
doenças infecciosas e parasitárias com doenças permitir perceber a colonialidade como o lado
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constitutivo e mais escuro da ideia de modernidade nhecimento, por meio da geração de uma nova
eurocêntrica (p. 2). Interpretamos, neste ensaio, perspectiva temporal de história evolucionista
o giro decolonial, ético-político e teórico, de que traçada desde um estado de natureza ao de ci-
fala Maldonado-Torres11, como releitura crítica vilização, onde diferenças de identidade racial e
capaz de produzir ressignificações históricas e gênero, bem como aquelas entre subdesenvolvi-
novas versões epistemológicas para a epidemio- mento e desenvolvimento, respectivamente, são
logia. encarnadas na América Latina e resto do mundo
e na Europa (p. 121). A colonialidade do poder,
Uma leitura decolonial para Quijano, é estruturada sobre uma trajetória
da contemporaneidade da pandemia civilizatória contínua unilinear racista, um novo
espaço-tempo que inferioriza os não-europeus
O pensamento decolonial, segundo Balles- e culmina na modernidade europeia, assumida
trin33, surge no final dos anos 1990 quando in- como dimensão material e subjetiva universal de
telectuais latino-americanos realizam um movi- mudança e futuro12 (p. 125, 127).
mento de crítica epistemológica radical com a Para Mignolo10 a globalização tem dois lados:
criação do Grupo Modernidade/Colonialidade, o da narrativa da modernidade e o da lógica da co-
renovando as ciências sociais. Produzem uma ge- lonialidade (p. 3). Mignolo pensa a colonialidade,
nealogia da argumentação pós-colonial e trans- conceito que buscou em Quijano, como o lado
cendem outros estudos sobre a subalternidade. escuro da modernidade. O discurso da moderni-
A intenção é ultrapassar a reflexão pós-colonial, dade define o nascimento da civilização a partir
cujo foco principal é o imperialismo britânico, e da dominação europeia, celebrando as conquis-
outras teorizações descoloniais. tas inscritas nesta perspectiva histórica e ocultan-
O uso do termo decolonial expressa insur- do a colonialidade. Espaço e tempo foram colo-
gência em relação às propostas descoloniais que, nizados, em sentido econômico e epistemológico,
embora contrapostas à dominação colonialista, para sustentação do projeto. A ciência hegemôni-
diferem do movimento latino-americano33. O ca estruturou-se sob a soberania europeia, como
decolonial confronta radicalmente a universali- conhecimento capaz de dominar a natureza. O
zação da modernidade eurocêntrica que forja a convívio respeitoso com a natureza, fundamento
ciência hegemônica, procurando desvelar as di- de civilizações seculares, tornou-se, diante da ci-
versas formas de opressão e racismo matricial- ência hegemônica eurocêntrica, uma miscelânea
mente incorporadas à colonialidade do poder, de narrativas alternativas que não devem ser tra-
do saber, do ser, em sua relação com a América tadas como conhecimento. Hierarquias raciais,
Latina. de gênero, espiritual/religiosa, estética, epistê-
Quijano12 é autor pioneiro na perspectiva de- mica, linguística, conformadas a uma concepção
colonial, tendo introduzido a ideia de coloniali- de sujeito moderno padronizada segundo a civili-
dade do poder que inspirou as de colonialidade zação europeia, branca, patriarcal, cristã, torna-
do saber e do ser. Para o autor, a invenção da ideia ram-se modelo para a humanidade10 (p. 11).
de raça fundamenta a dominação eurocêntrica O engendramento de um tempo históri-
sobre as populações latino-americanas. Raça é co universal linear com início na modernidade
construção mental funcional que demarca hie- europeia, revelado pela crítica decolonial, é ele-
rarquias de poder entre colonizadores e coloni- mento estrutural da formulação clássica da ideia
zados, dissimulando-se como suposta distinção de transição epidemiológica e sua postulação de
estrutural biológica. A partir da ideia de raça fo- controle sobre as doenças infecciosas. Isto con-
ram produzidas formas de relações e identidades textualiza o caráter surpreendente da pandemia
sociais como índios, negros, mestiços e brancos, de COVID-19, diante da qual somam-se perple-
constitutivas da dominação colonizadora euro- xidade e despreparo científico e político.
peia. Criou-se, assim, no sistema-mundo capi- A Pachamama, mãe terra das cosmologias
talista um novo padrão universalizado de po- indígenas latino-americanas, como esclarece
der no qual se ancora o controle das relações de Mignolo10, não compreende a distinção entre na-
trabalho, recursos e produtos. Sobre esta matriz tureza e cultura que marca a civilização ociden-
foi também constituída a hierarquia do conheci- tal. A natureza foi colonizada e expropriada pelo
mento, sendo incorporadas a intelectualidade e discurso teológico cristão, separada da cultura e
a cultura ao processo de dominação. Populações tornou-se fonte de recursos objetivada para a ex-
colonizadas foram expropriadas de suas expres- ploração capitalista. A teorização decolonial am-
sões simbólicas, religiosidade, subjetividade, co- plia e ressignifica a crítica à teoria da transição
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epidemiológica quando esta sustenta a pretensão intenção política discriminatória, tanto ou mais
humana de reinar sobre a natureza, expressa na do que pela ação disciplinadora do vírus, serão os
certeza de eliminar as doenças infectocontagio- vulneráveis, os pobres, os negros, os índios, os ve-
sas atribuindo à biomedicina ocidental tal capa- lhos, os que, definidos como de maior risco pelo
cidade. A ideia de que as epidemias de doenças saber epidemiológico, mais encontrarão a morte.
infecciosas transmissíveis pertencem ao passado As classificações epidemiológicas de risco podem
evidencia, à luz decolonial, a colonização do sa- servir à aceitação tácita deste destino trágico.
ber epidemiológico. Privilegiando a quantificação, a epidemio-
A ênfase nas ações de ordem biomédica ex- logia opera suas classificações de risco categori-
clui do enfrentamento da pandemia o trabalho zando objetivamente grupos populacionais na
dos governos com organizações populares e mo- composição de variáveis estatísticas. Distinções
vimentos sociais, que, reconhecidamente, têm de renda, atividades ocupacionais, sexo e cor de
mais presença comunitária, identificação e fami- pele são operadas de forma binarizada, obscure-
liaridade com realidades locais. O desmonte das cendo e mesmo invisibilizando para o raciocínio
políticas públicas de assistência e concessão de epidemiológico considerações críticas sobre clas-
benefícios sociais e a renegação dos movimentos se social, gênero, racialização.
sociais marcam as políticas neoliberais, fragili- Relacionados à COVID-19, um estudo de
zando a estrutura e a capacidade dos serviços pú- base populacional que procura enfatizar a ques-
blicos de saúde para responder à pandemia, tanto tão da raça aponta a dificuldade da referência à
mais onde recursos econômicos são escassos e a cor da pele para expressar contexto e posição so-
população mais vulnerável. cial36 (p. 9) e uma revisão sobre a necropolítica
Santos8,9, autor influente nas epistemologias sugere incipiência na caracterização da identida-
críticas da complexidade e na discussão deco- de étnica nas análises epidemiológicas da pan-
lonial, com seu reconhecimento das Epistemo- demia37 (p. 4211). O questionamento decolonial
logias do Sul, contrapõe à invisibilização e ao sobre os binarismos pode dar novo sentido ao
epistemicídio dos saberes populares a constru- apontamento dos autores citados.
ção do conhecimento juntamente com os mo- Os binarismos têm a ver com a fixação de
vimentos sociais. Reportando-se à pandemia de extremos opostos nas relações de classe, gênero,
COVID-19, afirma que devemos aprender com raça e outras, de modo a fortalecer hierarquiza-
agentes sociais tão diversos como artistas e povos ções espúrias e não alcançar nuances, hibridiza-
indígenas a considerar as experiências acumula- ções identitárias, traduções culturais próprias de
das que podem se mostrar uma forma efetiva de sociedades marcadas por multiplicidades e con-
mirar o futuro34 (p. 37). tradições38. Ao evocarem exclusão mútua, bina-
Poucas experiências humanas evidenciaram rismos impossibilitam o deslizamento de senti-
tanto o poder político de decidir soberanamente dos que contextualiza os processos sociais.
sobre a vida e a morte como a pandemia de CO- A feminista decolonial Lugones39 se refere aos
VID-19, um reino do imaginário profícuo para binarismos afirmando que a cultura da moder-
realização da exceção, como apontou Stark14 ao nidade ocidental organiza o mundo a partir de
tratar epidemias como eventos sociais. A iniqui- categorias ontológicas atomizadas e separáveis,
dade social se pronuncia quando, em nome do bloqueando interseções entre classe, raça, se-
controle da epidemia, ações governamentais de xualidade, gênero. A dicotomização central da
saúde e apoio econômico constituem exercício modernidade colonial vem da consideração do
de poder conformado à violência institucionali- é humano e não humano, e confere estatuto de
zada sobre os corpos executada pelo Estado. Sob ideal de humanidade e perfeição para homens,
alegação de atendimento emergencial e proteção heterossexuais, brancos, cristãos, europeus.
da vida, ações constituem-se como forma de ex- As variáveis epidemiológicas, em sua obje-
clusão e racismo ao dividir pessoas em grupos tividade, definem fronteiras de exclusão, e as-
de risco que mais ou menos têm chance ou di- sim pode também ser pensada a oposição entre
reito de viver e morrer. Defende-se a emergência saúde e doença, que, no entender de Almeida
contingencial da razão econômica e jamais pri- Filho40, representa uma fragilidade fundamental
vilegia-se a mudança social estrutural, e assim na episteme epidemiológica. Para o autor, como
realiza-se a necropolítica de que fala Mbembe35, subsidiária da clínica, a teoria epidemiológica
inspirando-se no biopoder de Foucault. Seja pela tem dificuldade em lidar com a categoria saú-
corrupção, pela mentira, pela desorganização, de, restando-lhe o tratamento parcial e residual
pelo erro, pela arrogância, pelo preconceito, pela da doença coletiva pelo risco e seus fatores (p. 7).
5636
Sevalho G

Pensamos que, ao alimentar distinção fechada, o em sua crítica decolonial, caracterizando a crise
binarismo saúde/doença reforça o peso coloni- epistemológica e política que vivemos43 (p. 432)
zador da biomedicina ocidental sobre o conhe- ou apontando a possibilidade de mudanças so-
cimento epidemiológico, fragilizando o reconhe- cialmente emancipadoras44 (p. 289). Sevalho45
cimento da complexidade social e política que associa, em uma epistemologia que vê o tempo
orienta as epidemias. como criação, a complexidade de Prigogine e o
Os aportes da reflexão decolonial podem, pensamento de Paulo Freire, ilustrando a rela-
com sua radicalidade, fortalecer a análise crítica ção com o conceito freireano de inédito viável na
do saber epidemiológico. Ao apontamento deco- perspectiva da esperança.
lonial o questionamento epistemológico da Saú- Em Freire46, inédito viável remete à superação
de Coletiva toma um sentido original revelador de situações-limites e não-determinismo (p. 110).
da opressão colonizadora que estrutura o pensa- O conceito diz da conscientização da possibilida-
mento epidemiológico e, frequentemente, não se de de emancipação e se contrapõe à opressão so-
revela ao espelho. cial e à conformidade com a ideia de que a justiça
social é inalcançável. Bifurcações e inédito viável
miram a mudança, o novo.
Considerações finais: incertezas, A desobediência associada com a epidemia,
bifurcações, inédito-viável segundo Stark14, pode crescer de acordo com as
medidas executadas pelas autoridades para racio-
Para Santos34, o coronavírus é nosso contemporâ- nalizar o sofrimento (p. 690). Movimentos popu-
neo ao compartir conosco as contradições de nosso lares surgidos no contexto de epidemias podem
tempo, o passado que não é passado e o futuro que transcender o enfrentamento da doença, e, então,
virá ou não (p. 35). A cruel pedagogia do vírus nos atentemos para as lutas antirracistas nascidas du-
ensina das consequências da agressão à natureza. rante a pandemia de COVID-19, que tomaram
Não sabemos se o que virá será para o bem ou o mundo.
para o mal e à narrativa do medo deverá se con- É difícil lidar com a longa duração do tempo
trapor a da esperança (p. 40). e ao viver o drama desejamos soluções favoráveis
Prigogine41 observou bifurcações que inserem no tempo curto. Reações contra a privação da
a perspectiva histórica em sistemas químicos liberdade e perdas sociais devem surgir, mas po-
levando-os ao não determinismo, rompendo li- dem não se dar de modo a constituir a conscien-
nearidade e ordem de equilíbrio anterior (p. 23). tização crítica sobre a iniquidade social. O futuro
Pequenas flutuações em sistemas abertos criam pós-pandemia pode configurar o enrijecimento
estruturas instáveis duradouras distantes do perverso do neoliberalismo ou nos levar a socie-
equilíbrio e pouco previsíveis. Irreversibilidade dades mais justas.
do tempo, assimetria, mudança compõem a re- Discursos solidários constroem mundos em
flexão humanizadora de Prigogine sobre a com- contraposição à desinformação politicamente
plexidade, e ao entender o tempo como criação orientada. Devemos nos empenhar na constru-
ele sugere associar as bifurcações, e as transfor- ção de uma ciência crítica e socialmente emanci-
mações que trazem, tanto aos sistemas naturais padora com a convicção de que um outro mundo
como sociais42 (p. 74). é possível.
As bifurcações prigogineanas e seu potencial
de transformação social são referidos por Santos
5637

Ciência & Saúde Coletiva, 26(11):5629-5638, 2021


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Artigo apresentado em 16/10/2020


Aprovado em 10/08/2021
Versão final apresentada em 12/08/2021

Editores-chefes: Romeu Gomes, Antônio Augusto Moura


da Silva

CC BY Este é um artigo publicado em acesso aberto sob uma licença Creative Commons

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