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ESPONDILITE ANQUILOSANTE: AS DIFICULDADES ENFRENTADAS POR

PORTADORES DE EA

Ankylosing Spondylitis: The difficulties faced by AS sufferers

Barbara Ramos Arimori1


Andressa Megumi Niwa2

RESUMO 
A Espondilite Anquilosante (EA) é uma doença reumática crônica pertencente ao grupo das
espondiloartrites. A sua etiopatogenia ainda não está totalmente esclarecida, dificultando estratégias
de diagnóstico e manejo. Não tem cura e os tratamentos existentes podem apenas combater os
sintomas da doença. Ela acomete de 0,1 a 0,2% da população, preferencialmente a população
caucasiana positiva para o antígeno HLA B27. A falta de conhecimento sobre a EA gera inúmeras
dificuldades para seus portadores e a ausência de um diagnóstico preciso limita parte da população
a obter acesso a um tratamento correto. Dessa forma, a fim de fornecer informações atuais e
relevantes sobre a EA, foi realizada uma revisão bibliográfica por meio de buscas de artigos
científicos, teses e dissertações sobre o tema em plataformas online como o SciELO e PubMed. O
sintoma inicial da EA é a lombalgia de ritmo inflamatório, com rigidez matinal prolongada,
acometendo progressivamente a coluna dorsal e cervical, contribuindo para a "postura do esquiador".
A EA altera a qualidade de vida do paciente, acarretando diferentes graus de incapacidade física,
social, econômica ou psicológica. O diagnóstico é feito pela presença de um critério clínico, além de
um critério radiográfico. O tratamento ocorre através do uso de anti-inflamatórios não hormonais e
corticosteroides, além de exercícios físicos e uma alimentação equilibrada. Mesmo diante de tantos
obstáculos, a presente pesquisa foi encarada como uma oportunidade para entender a EA a fim de
trazer mais informações para a população e melhorar a qualidade de vida dos seus portadores.

Palavras-chaves: Espondilite Anquilosante; Espondiloartropatias; Doença autoimune.  

ABSTRACT 
Ankylosing Spondylitis (AS) is a chronic rheumatic disease belonging to the group of
spondyloarthritis. Its etiopathogenesis is still not fully understood, making diagnosis and
management strategies difficult. There is no cure and existing treatments can only fight the
symptoms of the disease. It affects 0.1 to 0.2% of the population, preferably the Caucasian
population positive for the HLA B27 antigen. The lack of knowledge about AS generates numerous
difficulties for its carriers and the absence of an accurate diagnosis limits part of the population to
obtain access to a correct treatment. Thus, in order to provide current and relevant information about
AS, a bibliographic review was carried out through searches of scientific articles, theses and
dissertations on the subject on online platforms such as SciELO and PubMed. The initial symptom of
AS is low back pain with an inflammatory rhythm, with prolonged morning stiffness, progressively
affecting the dorsal and cervical spine, contributing to the "skier posture". AS alters the patient's
quality of life, causing different degrees of physical, social, economic or psychological disability. The
diagnosis is made by the presence of a clinical criterion in addition to a radiographic criterion.
Treatment occurs through the use of non-steroidal anti-inflammatory drugs and corticosteroids, in
addition to physical exercise and a balanced diet. Even in the face of so many obstacles, the present
research was seen as an opportunity to understand AS in order to bring more information to the
population and improve the quality of life of its patients.

Keywords: Ankylosing spondylitis; Spondyloarthropathy; Autoimmune disease.

1. INTRODUÇÃO
1
Discente do Curso de Biomedicina do Centro Universitário Filadélfia (UniFil). E-mail:
babiramos09@edu.unifil.br.
2
Graduada em Biomedicina pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Mestrado em Genética e
Biologia Molecular, UEL. Doutorado em Genética e Biologia Molecular, UEL. Docente de ensino
superior no Centro Universitário Filadélfia (UniFil). E-mail: andressa.niwa@unifil.br.
A espondilite anquilosante (EA) é uma doença sistêmica que possui
origem imunogenética, com um contexto multifatorial, ou seja, a etiologia pode ser
genética e ambiental. É conhecida como uma síndrome inflamatória muito variável
quanto à estrutura tecidual, sendo alvo de manifestações inflamatórias. Lesiona a
organização mecânica do sistema esquelético e, em especial, o esqueleto axial
dorsal. O acometimento da inflamação espondilítica pode ser dividida em
localizações esqueléticas e extra esqueléticas (ROCHA, 2002). Sendo assim, a EA
pode ser classificada como uma doença inflamatória reumática crônica rara,
progressiva, autoimune, que normalmente acomete a coluna vertebral e pode evoluir
com rigidez e limitação funcional progressiva do esqueleto axial, tornando o
espondilítico um portador de deficiência física (TORRES, 2006).
As manifestações extra esqueléticas integram variados órgãos e sistemas
com destaque para o globo ocular, no qual se desenvolve a uveíte anterior aguda
unilateral que pode ser repetitiva, mudando ou não de lateralidade; o coração com
insuficiência aórtica ou doença aórtica por alterações do esqueleto fibroso valvular
aórtico; os pulmões devido às alterações fibrocavitárias dos lobos apicais; a pele
com lesões cutâneas como as artropatias psoriásicas; o tubo digestivo ou cólon com
a doença de Crohn e a colite ulcerosa, e o fundo de saco meníngeo com a síndrome
da cauda de cavalo (ROCHA, 2002). A EA é habitualmente associada à presença do
antígeno HLA-B27, encontrado frequentemente em populações caucasianas. Por
sua vez, a positividade do HLA-B27 pode variar entre 80% a 98% nos portadores de
EA, sendo assim, é possível associar sua presença ao desenvolvimento de
espondiloartrites (SAMPAIO-BARROS, 2007).
A fim de confirmar o diagnóstico da EA é preciso associar critérios clínicos
e radiográficos. Os critérios clínicos incluem os sintomas convencionais da EA, como
dor lombar com persistência de três meses que melhora durante o movimento e não
é aliviada pelo repouso, limitação da coluna lombar e expansibilidade torácica
diminuída (corrigida para idade e sexo). Já os critérios radiográficos incluem a
ressonância da pelve com presença de sacroileíte bilateral, graus 2, 3 ou 4 e
sacroileíte unilateral, graus 3 ou 4 (SAMPAIO-BARROS, 2007).
Para preservar a mobilidade e manter a postura correta, os portadores de
espondilite anquilosante necessitam de um ritmo diário com práticas de atividade
física, além de cinesioterapia com hidroterapia que possibilitam exercitar com baixo
impacto e com equilíbrio, já que todos os músculos e articulações da região dorsal
podem ser afetados por esta patologia. Sempre frisando a importância da supervisão
realizada por fisioterapeutas durante as atividades físicas devido à gravidade da EA
(RIBEIRO, 2007).
Os medicamentos indicados para tratamento em alguns casos são os
anti-inflamatórios não hormonais (AINHs) e corticosteroides. Em casos muito
sintomáticos, como artrite persistente ou sacroileíte refratária, normalmente é
utilizada a metilprednisolona por via endovenosa, além de corticosteroide via intra-
articular. Os anti-TNF foram aprovados para uso no tratamento da EA, como
exemplos temos o infliximabe, etanercepte e o adalimumabe (FERREIRA, 2008). Em
casos mais avançados, pode haver a necessidade de intervenção cirúrgica, como a
implantação de próteses totais de quadril (SAMPAIO-BARROS, 2007).
O investimento médio anual direto e indireto do sistema público de saúde
(SUS) brasileiro para o tratamento de um paciente portador de espondilite
anquilosante é de US$ 23.183,56 devido aos medicamentos, à previdência social,
afastamentos por doença e aposentadoria por invalidez (AZEVEDO, 2016).
Há carência de dados quanto à causa dessa doença, seus sintomas,
como são as suas manifestações e quais as limitações que surgem através dela.
Dessa forma, o presente estudo visa trazer informações sobre a EA e sua natureza,
a fim de melhorar muitas vidas ao conhecer a origem do problema para finalmente
encontrar um tratamento adequado, além de métodos para amenizar as dores
articulares. Como atualmente os dados sobre sua origem e etiologia são escassos, o
presente estudo visa trazer informações atualizadas sobre a doença, o que pode
agregar muito para o conhecimento acadêmico além de ajudar os portadores da EA.

2. METODOLOGIA

O presente estudo foi realizado por meio de uma pesquisa bibliográfica de


caráter exploratório e qualitativo contendo dados, conceitos e técnicas retirados de
artigos científicos, teses e dissertações sobre o tema em bibliotecas, sites e
plataformas online como o SciELO, PubMed e o Google Acadêmico. A fim de obter
um trabalho com temas mais atuais, foi dada preferência para trabalhos publicados
preferencialmente nos últimos dez anos (2012 a 2022).
3. ESPONDILITE ANQUILOSANTE

3.1. Conceito

A espondiloartropatia é a representação fisiopatológica para um grupo de


doenças de origem imunogenética que engloba manifestações clínicas e lesões
estruturais (ROCHA, 2002).
Dentre as principais espondiloartropatias estão as espondiloartropatias
indiferenciadas, espondilite anquilosante (EA), artrites reativas (ARe), uveíte
anterior, espondiloartropatias juvenis, artrite psoriásica (APs), artrites enteropáticas,
artropatias inflamatórias intestinais (Enteroartropatias) e artrite reumatoide (AR)
(PEREZ-FERNANDEZ, 2011).
A presença da molécula antigênica B27 do sistema HLA representa uma
predisposição à EA, sendo comum em mais de 95% dos portadores. Em relação à
população geral, apenas 8% possuem o antígeno, sendo 3% B27 positiva e 5%
negativa (ROCHA, 2002).
A EA é uma doença inflamatória crônica que danifica preferivelmente a
coluna vertebral, podendo evoluir com inflexibilidade e limitação funcional
progressiva do esqueleto axial. Normalmente ela se inicia no adulto jovem,
preferencialmente do sexo masculino, caucasiano e em indivíduos HLA-B27
positivos (SAMPAIO-BARROS, 2007).
Inicialmente, a espondilite anquilosante foi descrita e detalhada pelo
médico irlandês Bernhard Connor, em 1691. De acordo com Bywaters, Connor
encontrou um esqueleto numa sepultura e descreveu que o ilíaco, o sacro e as
vértebras adjacentes formavam uma única unidade. No entanto, as descrições mais
conhecidas são as do neurologista russo Wladimir Von Bechterew, em 1893 (S.
Petersburgo), no qual descreveu os seguintes termos: spondylo =
vértebra, ankylos = torto e itis = inflamação. Assim, a doença foi também conhecida
por doença de síndrome von Bechterew (COMBA, 2017).
De acordo com a Classificação Estatística Internacional de Doenças e
Problemas Relacionados com a Saúde (CID) – 10ª, a espondilite anquilosante está
classificada entre as doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo, nas
dorsopatias dentro das espondilopatias com a CID M45 (OMS, 1992).
3.2. Epidemiologia

A EA engloba cerca de 0,1 a 0,2% da população mundial, onde a maioria


dos indivíduos acometidos são caucasianos, devido grande parte deles terem a
positividade do antígeno HLA B27 (BAKLAND; NOSSENT, 2013).
Por sua vez, a positividade do HLA-B27 nos pacientes espondilíticos
pode variar entre 80% e 98%, sendo mais elevada em populações caucasianas não
miscigenadas do norte da Europa. A EA é pouco frequente em populações negras
africanas devido a sua veemente raridade de HLA-B27 positivada nessa etnia. O
Brasil é um país de intensa miscigenação étnica, por isso, a EA, bem como outras
espondiloartropatias, costuma ser encontrada em pardos (SAMPAIO-BARROS,
2007).
A EA envolve adultos jovens, normalmente a incidência é em homens
dos 20 aos 30 anos, especialmente em portadores do antígeno HLA-B27, o que, no
Brasil, representa aproximadamente 60% dos pacientes devido à miscigenação
(FIGUEIREDO, 2018). A proporção da doença nos homens versus mulheres varia
entre 4:1 a 10:1. A patologia normalmente ocorre entre os 15 e 35 anos, e a média
de idade está entre 26 a 27 anos (COMBA, 2017).

3.3. Etiologia

A etiologia e a patogênese da EA ainda são desconhecidas, porém,


existem diversas informações de diferentes áreas que mostram a participação de
fatores genéticos. De fato, estima-se que a herdabilidade da doença ultrapasse
90%. Tudo indica que o risco de desenvolver EA é determinado geneticamente e
sugere-se que qualquer que seja a causa ambiental que desencadeia seu
aparecimento ou influencie seu desenvolvimento, ela é onipresente (CASTRO-
SANTOS, 2014).
O HLA-B é um gene presente no braço curto do cromossomo 6, assim
como mostra a figura 1. O antígeno desempenha um papel essencial na resposta
imune, eles se ligam e apresentam antígenos aos linfócitos T na superfície celular.
Na região de classe I estão localizados os loci HLA-A, -B e -C, que codificam
proteínas que são expressas na superfície de todas as células nucleadas do
organismo e apresentam antígenos para células citotóxicas (CASTRO-SANTOS,
2014).

Figura 1 - Mapa genético da região HLA.

Fonte: Castro-Santos, 2014.

Atualmente mais de 100 alelos diferentes de HLA-B27 foram descritos


com alterações no sítio de ligação peptídica devido ao polimorfismo, que é uma
alteração no qual engloba o DNA como um todo. Existe uma sugestão de que o
polimorfismo poderia modular a suscetibilidade à doença, visto que nem todos os
subtipos de HLA-B27 estão igualmente associados à patologia (CASTRO-SANTOS,
2014).
O alelo B*27:05 foi encontrado em todas as populações estudadas;
B*27:01, 02, 08 e 09 foram descritos em caucasianos, já os alelos B*27:04, 06 e 07
foram observados apenas em populações orientais e B*27:03 em populações da
África Ocidental. Os alelos B*27:02, 04 e 05 estão fortemente associados à EA,
enquanto B*27:07 e B*27:03 estão associados a uma menor prevalência em
algumas populações. Existem dois alelos, B*27:06 que está restrito à população do
Sudeste Asiático e o B*27:09 restrito à população da Sardenha (CASTRO-
SANTOS, 2014). O quadro 1 resume a distribuição populacional dos subtipos de
HLA-B27.

Quadro 1 - Distribuição populacional e associação com EA em dois subtipos de HLA-B27.

Figura 2-Fenda de ligação ao antígeno de HLA-B27 com peptídeo antigênico ligado.

Fonte: Khan MA, 2005.


A figura 2 mostra um antígeno peptídico, geralmente com 8 a 10
aminoácidos de comprimento, presente no bolso da molécula HLA-B27 para
apresentação a células T citotóxicas CD8+ específicas para aquele antígeno
peptídico. A letra N indica o N-terminal que é uma das extremidades da cadeia
polipeptídica, a outra extremidade é chamada "C-terminal" ou "carboxi-terminal". Os
números indicam as localizações de aminoácidos importantes das moléculas HLA-
B27 (KHAN, 2005).
O papel que o HLA-B27 desempenha na EA não foi estabelecido.
Algumas pesquisas foram realizadas ao longo de dois anos e resultaram na
existência de hipóteses sobre como o HLA-B27 pode levar à EA. Existe uma
hipótese chamada de “peptídeo artritogênico”, segundo o qual um peptídeo
bacteriano ou viral pode ser apresentado pelo HLA-B27 e desencadear uma
resposta mediada por linfócitos T citotóxicos (CTL). Os CTLs ativados podem
iluminar os mecanismos de geração de tolerância contra este peptídeo, induzindo
autoimunidade, dano tecidual e inflamação (CASTRO-SANTOS, 2014).
É importante frisar que a espondilite anquilosante não é transmitida por
contágio ou por transfusão sanguínea. A hipótese que é mais conhecida sugere que
uma infecção intestinal em portadores do HLA-B27 pode ter desenvolvido a
patologia, ou seja, pessoas que geneticamente apresentam tendências a
desenvolvê-la (GOUVEIA; ELMANN; MORALES, 2012).
A proposta sugere que a prevalência de doenças autoimunes se dá
devido à microbiota intestinal. As próprias cepas se alimentam dos prebióticos, que
levam benefícios para os indivíduos, e alcançam o trato gastrointestinal. Em
seguida, as cepas alteram a composição da microbiota, sendo a mesma um fator
essencial que influencia os componentes celulares e humorais do sistema
imunológico intestinal (MIYAKE et al., 2015).

3.4. Diagnóstico

Existe mais de um critério para a confirmação diagnóstica da EA,


contudo, os critérios mais utilizados são os de Nova York modificados, como está
representado no quadro 2, sempre combinando os critérios clínicos e radiográficos.
Critérios clínicos: 1) Dores persistentes na região da lombar (três meses ou mais),
com melhoras durante o exercício e não é aliviada pelo repouso; 2) Limitações da
coluna lombar; 3) Diminuição da expansibilidade torácica (corrigida para idade e
sexo). Critérios radiográficos: 1) Sacroileíte bilateral, grau 2, 3 ou 4; 2) Sacroileíte
unilateral, grau 3 ou 4. (SAMPAIO-BARROS, 2007).

Quadro 2 - Critérios de Classificação Modificados de Nova Iorque para Espondilite Anquilosante

Na espondilite anquilosante, as articulações interapofisárias podem ser


afetadas, além da presença de sindesmófito grosseiro unilateral ou bilateral, com
uma distribuição intercalada que respeita alguns espaços discais (COMBA, 2017).
Existem diferentes critérios para diagnosticar espondiloartrites axiais na
fase inicial e espondiloartrites periféricas, contudo a Avaliação da Sociedade
Internacional de Espondiloartrite (ASAS), presente no quadro 3, é a mais utilizada
(FIGUEIREDO, 2018).

Quadro 3 – Critérios de Classificação ASAS para Espondiloartrites Axiais

3.5. Sintomas

A patologia normalmente apresenta sintomas no início da idade adulta ou


no final da adolescência, sendo assim, não é comum o seu surgimento após os 40
anos de vida. Grande parte dos portadores relata lombalgia, dor na região inferior
das nádegas e rigidez que melhora com movimento e piora com repouso
(ALDENUCCI, 2010).
As manifestações clínicas precoces são geralmente notadas na região
lombar (70% a 80%) e nas articulações periféricas (10 a 20%). A dor ciática pode
ser o sintoma inicial em 5% a 10% dos doentes (COMBA, 2017).
Exemplificando mais detalhadamente, o paciente espondilítico queixa-se
de dor lombar baixa de ritmo inflamatório e rigidez matinal prolongada. A espondilite
pode ser conhecida também como “postura do esquiador” devido sua evolução que,
em seu estágio final acomete a coluna dorsal e cervical, como mostra a figura 3. A
postura do esquiador se dá pela caracterização resultante da patologia que é a
acentuação da cifose dorsal, retificação da lordose cervical e projeção da cabeça
para frente (SAMPAIO-BARROS, 2007), como mostra a figura 4.

Figura 3 - Estágio final de paciente com EA apresenta pontes de sindesmófitos na coluna lombar,
resultando em coluna de bambu.

Fonte: Adaptação de Gouveia, 2012.

Ainda segundo Sampaio-Barros (2007), existem também manifestações


extra articulares que geralmente estão associadas ao HLA-B27 positivo como:
uveíte anterior, que é observado em até 40% dos pacientes e raramente cursa com
sequelas.
Figura 4 - Alterações da coluna vertebral, onde representa uma repercussão clínica.

Fonte: Vertebrata, 2017.

A espondilite anquilosante pode afetar outros órgãos do corpo, ou seja, é


uma doença sistêmica. Em algumas pessoas pode ocorrer febre, perda de apetite,
fadiga ou envolvimento de outros órgãos, como pulmões e coração, embora isto
aconteça raramente (COMBA, 2017).
Outras manifestações que valem a pena serem ressaltadas ocorrem no
coração com insuficiência aórtica ou doença aórtica por alterações do esqueleto
fibroso valvular aórtico. Também podem ocorrer alterações nos pulmões devido às
fibracavitárias dos lobos apicais, pode haver patologias secundárias na pele como
lesões cutâneas (artropatias psoriásicas), alterações no tubo digestivo ou cólon
com a doença de Crohn e a colite ulcerosa também podem ser desenvolvidos, além
do fundo de saco meníngeo com a síndrome da cauda de cavalo (ROCHA, 2002).

3.6. Tratamento

Já que a EA ainda é uma patologia sem cura, os objetivos do tratamento


visam reduzir os sintomas. Sendo assim, o objetivo dos médicos é manter a
flexibilidade axial, impedindo a postura do esquiador, que limita as funções
habituais do corpo e impedem o portador de manter habilidade laboral
(FIGUEIREDO, 2018).
Existem múltiplos instrumentos de avaliação clínica e de imagem
propostos para acompanhar o tratamento da EA. Dentre estes instrumentos, é
possível citar o BASDAI (Bath Ankylosing Spondylitis Disease Activity Index); BASFI
(Bath Ankylosing Spondylitis Functional Index) e o Dougados como índices
funcionais. Já para um índice metrológico, o BASMI (Bath Ankylosing Spondylitis
Metrology Index) é o mais utilizado. Para índices radiológicos, utiliza-se o BASRI
(Bath Ankylosing Spondylitis Radiology Index) e o mSASSS (modified Stokes
Ankylosing Spondylitis Scoring System). Os indicadores de qualidade de vida são
os ASQoL (Ankylosing Spondylitis Quality of Life) e HAQ-S (Health Assessment
Questionnaire for Spondyloarthropathies) (SAMPAIO-BARROS, 2007).
No método de BASDAI, em uma escala de 0 a 10, indica-se que a
doença está ativa quando o escore é igual ou superior a 4. De maneira geral, para
relatar melhora na resposta do tratamento de EA axial é necessário pelo menos
50% ou 2 pontos absolutos em um período mínimo de 3 meses (FIGUEIREDO,
2018).

Quadro 4 – Classificação de BASDAI


Assim como dito anteriormente, a EA não tem cura então o tempo de
tratamento não é pré-determinado. Sendo assim, o tratamento deve ser mantido
enquanto houver benefício clínico. Vale a pena enfatizar que apesar de alguns
estudos observarem remissão, inexistem critérios para a interrupção do tratamento
com biológicos anti-TNF, já que a maioria dos pacientes apresenta recidiva com a
interrupção do tratamento (FIGUEIREDO, 2018).

3.6.1 Tratamento farmacológico

Outra forma de tratamento além do acompanhamento da patologia é o


uso de medicamentos anti-inflamatórios não esteroidais. Contudo, esses fármacos
estão contraindicados em caso de hipersensibilidade a qualquer um de seus
componentes ou em casos de tuberculose ativa e outras infecções graves,
nomeadamente, sepse e infecções oportunistas, além de insuficiência cardíaca
moderada a grave. É possível citar como exemplo dos medicamentos os AINEs,
glicocorticoides e Medicamentos Modificadores do Curso da Doença (MMCD),
sulfassalazina - SSZ, metotrexato – MTX, adalimumabe, etanercepte, infliximabe,
golimumabe, certolizumabe pegol ou secuquinumabe (FIGUEIREDO, 2018).
A primeira linha de tratamento em pacientes com espondiloartrite axial
em atividade são os AINEs. Contudo, cerca de 70% a 80% dos pacientes com EA
apresentam melhora dos sintomas (FIGUEIREDO, 2018). Quando os portadores
não são responsivos aos AINEs, normalmente é iniciado o tratamento com
o metotrexato, em doses habituais (por via oral ou intramuscular) (SAMPAIO-
BARROS, 2007).
Em casos não responsivos aos tratamentos anteriores, é aconselhada a
injeção intra-articular nas sacroilíacas para trazer benefícios de curto e médio
prazo, com o objetivo de amenizar as dores isoladas (SAMPAIO-BARROS, 2013).
Os medicamentos precisam ser ajustados nas doses corretas, já que doses
elevadas de glicocorticoide não são recomendadas por não acrescentarem
benefício superior aos malefícios oferecidos (FIGUEIREDO, 2018).

3.6.2 Tratamento com atividades físicas


Tudo indica que a atividade física juntamente com a terapia biológica
parece ter um efeito adicional ou sinérgico. Terapias supervisionadas, seja em
grupo ou individual, foram mais efetivas quando comparadas a exercícios
convencionais ou domiciliares. Assim sendo, devido ao fato da natureza crônica da
doença, exercícios regulares e contínuos são fundamentais, como alongamentos,
hidroterapia, atividades recreacionais, além de reeducação postural são exercícios
benéficos que contribuem para o tratamento eficaz da patologia (FIGUEIREDO,
2018).
Um ótimo exercício que auxilia no alongamento e reeducação postural é
o pilates, visto que o impacto causado para o indivíduo é mínimo. A atividade deve
ser sempre supervisionada por um fisioterapeuta em todas as etapas da patologia,
pois os benefícios observados, tanto na prevenção de limitações funcionais quanto
na recuperação da mobilidade articular que foi perdida, são notadas apenas no
período em que o paciente a realizar (SAMPAIO-BARROS, 2007).
A hidroterapia utiliza efeitos fisiológicos, físicos e cinesiológicos que
ocorrem ao submergir o corpo em água aquecida, auxiliando na reabilitação e na
prevenção de disfunções, como na diminuição das tensões musculares e no auxílio
do relaxamento, além de desempenhar uma importante função na manutenção da
amplitude de movimento das articulações (CANDELORO; CAROMANO, 2007).
A água, na temperatura entre 30ºC e 34ºC, tem efeitos benéficos como o
alívio de dores e tensões musculares, além de auxiliar no tratamento da espondilite
anquilosante devido à ausência de impactos (ALDENUCCI, 2010).

3.6.3 Terapêuticas de Biotecnologia

Os produtos farmacêuticos são medicamentos biológicos e


diferentemente dos fármacos sintéticos eles são compostos heterogêneos,
instáveis, com alto peso molecular e obtidos por biotecnologia, como por exemplo o
Bio-Manguinhos Infliximabe 100mg representado na figura 7. Além disso, possuem
características físico-químicas, bioquímicas e seus processos de fabricação são
diretamente influenciados por suas atividades orgânicas (AZEVEDO, 2022).

Figura 7 - Bio-Manguinhos Infliximabe 100mg Medicamento Biotecnológico.


Fonte: FioCruz, 2019.

A formulação do infliximabe CT-P13 e do infliximabe de referência são


semelhantes e possuem propriedades físico-químicas análogas. Sendo assim, eles
são anticorpos monoclonais quiméricos humano-murino do tipo IgG1 kappa que
agem impedindo a citocina pró-inflamatória de necrose tumoral-α (MCKEAGE,
2014).
Dessa forma, o anticorpo monoclonal liga-se ao TNF-α solúvel e
transmembranar com facilidade devido à elevada afinidade e neutraliza a sua
atividade. Além disso, ele é capaz de induzir a lise mediada pelo complemento em
células que sintetizam o TNF-α (SANCHEZ-REGANA et al., 2010).
No geral, os anticorpos monoclonais possuem três mecanismos
diferentes de ação: 1) Ligação específica ao alvo, realizada pelo domínio Fab, que
vai promover ou suprimir um efeito biológico; 2) Interação pelos receptores da
superfície celular com o domínio Fc, gerando funções efetoras que são mediadas
pelo sistema imunológico, por exemplo a citotoxicidade mediada por células
dependente de anticorpos, citotoxicidade dependente do complemento ou
fagocitose dependente de anticorpos; e 3) Ativação da citotoxicidade dependente
do complemento devido à retirada do complemento em complexos multiméricos
imunes de anticorpo monoclonal e o alvo (PANTOFLETO, 2010).
O CT-P13 foi eficaz, assim como o infliximab de referência, com os
pacientes portadores de espondilite anquilosante e em pacientes com artrite
reumatoide (MCKEAGE, 2014). 
A empresa sul-coreana Celltrion, localizada na cidade de Incheon, atua
na área de biotecnologia e produção de biológicos, e foi responsável por produzir o
primeiro anticorpo monoclonal biossimilar que desencadeou a produção de
biossimilares mais complexos, como o CT-P13 (AZEVEDO, 2022). 

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base no presente estudo, é perceptível a carência de informações


que a maioria da população possui sobre a espondilite anquilosante, sendo eles
portadores ou não. Consequentemente, a falta de conhecimento gera mais
dificuldades para seus portadores. Outra observação relevante é a ausência de um
diagnóstico preciso, uma vez que há a necessidade de uma série de exames de alto
e baixo custo para analisar a doença em questão, limitando parte da população a
obter um diagnóstico preciso ou até mesmo a ausência de um diagnóstico. Assim
como seu tratamento, no momento, ainda não existe uma linha tênue a ser seguida,
em que cada portador trata de forma unitária com seu médico com base em
experiências de tentativas a respeito dos medicamentos, sejam eles anti-
inflamatórios ou biológicos. Por fim, mesmo diante de tantos obstáculos, a pesquisa
obtida neste trabalho foi encarada como uma oportunidade para entender sobre o
conceito, epidemiologia, etiologia, diagnóstico, sintomas e tratamento da espondilite
anquilosante. Essas informações são de grande valor para a comunidade científica,
população em geral, sendo portadores de EA ou não, e seus familiares.

REFERÊNCIAS

ALDENUCCI, B. G.; HOINASKI, L. F.; NUNES, E. A. A participação da glicogênio


sintase cinase 3 na modulação de vias hipertróficas musculares e as influências
exercidas pelo exercício de forca nestas sinalizações. Revista Brasileira de
Prescrição e Fisiologia do Exercício, v. 4, n. 19, p. 94-106, 2010.

AZEVEDO, Valderilio Feijó et al. Custos diretos e indiretos do tratamento de


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