Você está na página 1de 8

Artrite séptica do quadril 187

ATUALIZAÇÃO

Artrite séptica do quadril*


Hip septic arthritis
MARCOS ALMEIDA MATOS1, ROBERTO GUARNIERO2, RUI MACIEL DE GODOY JÚNIOR3

RESUMO ABSTRACT
A artrite séptica do quadril é a doença articular mais Hip septic arthritis is the most rapidly destructive disease
rapidamente destrutiva que acomete a população infan- affecting the infantile population, especially below three
til, especialmente abaixo de três anos de idade. Os estafi- years of age. Staphylococci are the most frequent etiological
lococos são os agentes etiológicos mais freqüentes. Suas agents. Clinical manifestations may vary according to age,
manifestações clínicas podem variar de acordo com a ida- host-bound factors, and infective organism virulence. Acute
de, fatores ligados ao hospedeiro e virulência do organis- inflammation leads always to joint cartilage destruction,
mo infectante. A inflamação aguda sempre leva à destrui- epiphyseal avascular compromise, and other irreversible
ção da cartilagem articular, comprometimento avascular sequelae. Early surgical drainage and long duration
da epífise e outras seqüelas irreversíveis. A drenagem ci- antibiotic therapy produce the best prognosis in comparison
rúrgica precoce e antibioticoterapia de longa duração pro- to any other less aggressive approaches. Updated strategies
duzem melhor prognóstico que qualquer outra conduta for the treatment of patients with hip septic arthritis are
menos agressiva. São apresentadas estratégias atuais para presented, and clinical, radiological, diagnostic, and
tratamento dos pacientes com artrite séptica do quadril, pathological aspects are reviewed. Early diagnosis and
assim como são revisados aspectos clínicos, radiológicos, treatment are the most important prognostic-modifying
diagnósticos e patológicos. O diagnóstico e tratamento factors of childhood septic arthritis. Joint surgical
precoces são os mais importantes fatores que modificam o débridement and appropriate antibiotic therapy are needed
prognóstico da artrite séptica na infância. A limpeza ci- to avoid late sequelae.
rúrgica da articulação e antibioticoterapia apropriada são Keywords – Arthritis, infectious; Hip/pathology; Hip joint/
necessárias para impedir seqüelas tardias. pathology; Staphylococcal infections
Descritores – Artrite infecciosa; Quadril/patologia; Articulação do
quadril/patologia; Infecções estafilocócicas
INTRODUÇÃO
* Trabalho realizado na Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, Santa
Casa de Misericórdia da Bahia – Salvador (BA), Brasil, e no Instituto de
A artrite séptica do quadril (ASQ) é afecção devastadora e
Ortopedia e Traumatologia da Faculdade de Medicina da Universidade de incapacitante, cujo prognóstico depende de diagnóstico pre-
São Paulo – USP – São Paulo (SP), Brasil. coce e tratamento imediato. O termo artrite séptica do quadril
1. Professor Adjunto Doutor da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública inclui qualquer forma de infecção supurativa dessa articula-
e Coordenador da Residência de Ortopedia e Traumatologia da Santa Casa
de Misericórdia da Bahia – Salvador (BA), Brasil. ção, excetuando-se infecção tuberculosa. Hunter, em 1743, e
2. Professor Associado do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Smith, em 1874, foram os primeiros autores a descrever as
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – USP – São Paulo características clínicas da ASQ e a reconhecer o caráter dos
(SP), Brasil.
seus efeitos articulares destrutivos(1).
3. Doutor e Chefe da Preceptoria do Departamento de Ortopedia e Traumato-
logia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – USP – São Trata-se de infecção incomum, cuja incidência é enorme-
Paulo (SP), Brasil. mente favorecida por estados orgânicos carenciais, freqüentes
Endereço para correspondência: Prof. Marcos Almeida Matos, Rua da Ilha, entre as camadas sociais mais pobres da população, especial-
378, casa 21 – 41620-620 – Salvador (BA) – Brasil. Tel./fax: (71) 3358-8886.
mente em países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento(2).
E-mail: malmeidamatos@ig.com.br
Recebido em 12/5/ 05. Aprovado para publicação em 6/6/06. Todas as faixas etárias podem ser acometidas, mas ocorre pre-
Copyright RBO2006 dominantemente em crianças abaixo de dois a três anos de
Rev Bras Ortop. 2006;41(6):187-94
188 Matos MA, Guarniero R, Godoy Júnior RM

idade, as quais respondem por 31 a 49% dos casos(3-5). Essa fase, mais tardia, representa o estado de seqüela residual, não
infecção é mais comum em meninos, na proporção de 1,4 a sendo objeto deste artigo(3).
6,5 acometidos para cada menina(5-6).
O prognóstico da ASQ mudou significativamente após o Primeira fase
advento da antibioticoterapia sistêmica. Sua taxa de mortali- Para existir artrite séptica do quadril faz-se necessária a pre-
dade caiu de 50% no final do século IX para menos de 1% por sença de bactérias que alcancem a articulação de maneira di-
volta de 1973(7). A destruição articular, entretanto, ainda é se- reta ou indireta. A via direta é representada pela inoculação
qüela freqüente, especialmente nos casos de diagnóstico e tra- direta ou pela via hematogênica. A via indireta é representada
tamento tardios. Pelo fato de acometer crianças de baixa ida- pelo acesso de bactérias originárias de foco infeccioso vizi-
de, que, em grande parte, se encontram afetadas por outras nho(3).
doenças, a ASQ pode deixar importante e grave seqüela após a A inoculação direta ocorre durante procedimentos cirúrgi-
cura de outros agravos à saúde. Conhecer e intervir de manei- cos ou tentativas de punção da artéria femoral com penetra-
ra eficaz no curso da ASQ é, portanto, passo fundamental na ção acidental do espaço articular em crianças de pouca idade.
abordagem dessa entidade. A via hematogênica representa a principal fonte de contami-
nação e permite acesso de bactérias à articulação através dos
FISIOPATOLOGIA vasos transepifisários nos indivíduos menores que um ano de
O suprimento sanguíneo da epífise femoral capital pode idade(13) ou através da circulação sinovial. Essa bacteremia
ser dividido em três diferentes etapas no desenvolvimento do pode ser secundária a embolia séptica e geralmente está rela-
ser humano(8-9). Até o segundo ano de vida existem anastomo- cionada com história de traumas, hematomas, infecções a dis-
ses vasculares livres entre cabeça e colo femorais, ou seja, tância e baixa imunidade(14). As portas de entrada mais fre-
existe circulação transepifisária. Do segundo ano até à puber- qüentes em crianças menores de dois anos de idade são
dade a fise torna-se barreira fisiológica(10), pois a cabeça fe- cateteres umbilicais (instalados em recém-nascidos) ou infec-
moral (epífise) recebe seu suprimento sanguíneo quase que ções de ouvido(13,15).
exclusivamente dos vasos epifisários laterais. Após a puber- A via indireta representa contaminação por sítio vizinho.
dade, a cabeça femoral é suprida por vasos epifisários, meta- Entre 18 meses e 16 anos de idade, a infecção da metáfise
fisários e do ligamento redondo. proximal do fêmur é a principal via de contaminação da arti-
A membrana sinovial é estrutura anatômica distinta e sepa- culação do quadril por disseminação subperiosteal, visto que
rada da cápsula fibrosa. Sua camada interna é formada por a metáfise femoral é intra-articular(14). Alguns outros focos
células com rico suprimento sanguíneo. Esses vasos, após atra- menos comuns são representados pela osteomielite do núcleo
vessar a cápsula, formam uma rede em íntimo contato com as de ossificação, osteomielite do acetábulo e infecção da pró-
células sinoviais. A partir daí, produz-se o líquido sinovial, pria sinóvia ou do fluido sinovial(13,15).
que é um ultrafiltrado do plasma san-
guíneo contendo proteínas, células
QUADRO 1
mononucleares e polimorfonuclea-
res(11). Sua composição média está apre- Exame do líquido sinovial

sentada no quadro 1. A rede vascular é Parâmetro Normal Artrite séptica do quadril


também capaz de transferir rapidamente
tanto antibióticos quanto bactérias para Volume > 3ml < 3ml
o espaço articular(11-12). Cor Clara
A artrite séptica do quadril pode ser Aspecto Transparente Turvo
didaticamente dividida em quatro fases: Leucócito 200 a 600 /ml 25 a 250 mil /ml
a primeira fase é representada pela con- Polimorfonucleares 25% 90-95%
taminação e invasão bacterianas; a se- Proteína 2g% Elevada
Glicose 10mg% inferior à glicemia 30% inferior
gunda fase caracteriza-se pelo proces-
Teste da mucina Firme Insatisfatório
so inflamatório agudo; na terceira fase
Gram Negativo 30% de positividade
ocorre destruição articular, especial-
Cultura Negativa 50-80% de positividade
mente da cartilagem hialina; a quarta
Rev Bras Ortop. 2006;41(6):187-94
Artrite séptica do quadril 189

Após penetração bacteriana, a resposta do hospedeiro à carga responde por 40 a 60% do total da infecção e aproximada-
infectante é que irá determinar o curso clínico da ASQ. Essa mente 54% das cepas são penicilinase-resistentes(6,27). O He-
resposta não só depende do tipo e da virulência do microorga- mophylus influenzae é responsável por uma taxa de 2 a 31%
nismo, como também de fatores ligados à resistência local e do total e o streptococcus responde por aproximadamente 12
geral do paciente(11,16). a 26% dessas infecções(1,10,6,28-29). Outros microorganismos que
comumente são descritos como agentes da ASQ são Escheri-
Segunda fase chia coli, Pseudomonas aeruginosa, Klebsiella pneumoniae,
A resposta inflamatória aguda representa a segunda fase Kingella kingae, Candida albicans, Neisseria gonorrhoeae,
desse processo. A membrana sinovial fica edemaciada, con- Proteus, Salmonella, Serratia marcescens, Clostridium wel-
gestionada e infiltrada por polimorfonucleares. O soro exsu- chii, Aerobacter, Meningococcus, Bacteroides e Paracolon(1,3,
da para a articulação, onde se mistura com líquido sinovial e 30-31). Apesar disso, 19 a 46% dos casos de ASQ permanecem

deposita flocos de fibrina sobre o revestimento interno. Na sem identificação do organismo causal; esse fato normalmente
chamada artrite serosa, o líquido intra-articular é claro ou li- é creditado ao uso prévio de antibióticos ou a técnicas inade-
geiramente opaco e contém pequena quantidade de leucóci- quadas de cultura(3-4,32). O tipo de microorganismo encontra-
tos polimorfonucleares. Quando a precipitação de fibrina é do varia de acordo com a idade do paciente, suas característi-
excessiva, a artrite é designada como serofibrinosa. Quando a cas imunológicas, com o sítio primário ou porta de entrada e
inflamação é mais intensa, ocorrem áreas de trombose e ne- depende de ser infecção em paciente internado ou comunitá-
crose focal, o exsudato articular contém grande número de rio.
polimorfonucleares, tornando-se muito opaco, espesso e de Os pacientes neonatos respondem por 28% da ASQ. Nesse
coloração cinza ou cinza amarelada. Nesse momento ocorre grupo de pacientes, há dúvidas quanto ao principal agente
aumento da pressão intracapsular, com distensão dos vasos etiológico. Alguns autores têm referido que o S. aureus é agente
sanguíneos, resultando em dor, especialmente se o quadril é causal mais comum; entretanto, encontram-se registros de
mantido em extensão e rotação interna máximas(11,17). Streptococcus e de H. influenzae como mais freqüentes. Os
Terceira fase agentes causais de ASQ em recém-nascidos são transmitidos
pela flora materna ou, menos comumente, pelo pessoal de
A destruição da cartilagem articular caracteriza a terceira fase.
enfermagem(10-11). Dan(28) estudou 92 casos de ASQ em neona-
Essa destruição pode ocorrer por dois mecanismos distintos. O
tos (até três meses) e encontrou o S. aureus em 46,3%, Strep-
primeiro é por degradação sob ação de enzimas proteolíticas,
tococcus em 25,3%, gram-negativos em 9,5%, Candida em
tais como proteases e colagenases, produzidas pelas células da
9,5%, N. gonorrhoeae em 7,3% e H. influenzae em 2%. Esse
membrana sinovial(18), por leucócitos polimorfonucleares(19-21)
autor estabeleceu que, nesse grupo de pacientes, S. aureus foi
e por alguns tipos de bactérias(22-24). O segundo mecanismo é a
o principal agente nas infecções adquiridas no hospital (62%),
cascata de eventos nos quais a interleucina-1, produzida por
enquanto que Streptococcus foi o agente mais comum nas
células mononucleares, atua como hormônio inflamatório para
infecções adquiridas na comunidade (52%).
desencadear a liberação de proteases ácidas e neutras pelos con-
Jackson e Nelson(29) estudaram 337 casos de ASQ em crian-
drócitos e sinoviócitos(25). Essas enzimas produzem perda da
ças de um mês a três anos de idade e encontraram H. influen-
matriz cartilaginosa, seguida de perda do colágeno(26), dissol-
zae em 31%, Streptococcus em 12%, S. aureus em 11% e
vendo a cartilagem articular e podendo até erosar o osso.
gram-negativos em 10%. Esses e outros autores acreditam que
Nessa terceira fase, há intensa pressão intra-articular, que
H. influenzae seja o microorganismo mais freqüente nessa faixa
provoca destruição e necrose dos tecidos moles e da própria
etária, especialmente por originar-se de infecções nasofarín-
cápsula, permitindo que o exsudato saia para os tecidos vizi-
geas e porque as infecções por essa bactéria têm sido mais
nhos, podendo inclusive exteriorizar-se através da pele. A epí-
freqüentes nas últimas décadas devido ao desenvolvimento
fise está comprometida por necrose avascular e há tendência à
de técnicas microbiológicas mais adequadas ao seu isolamen-
extrusão ou luxação da cabeça femoral(1).
to(3,10,29,33-34).
Outros autores, entretanto, acreditam que o uso dissemina-
ETIOLOGIA
do da vacina contra H. influenzae tipo B no final dos anos 80
De maneira geral, o Staphylococcus aureus é o microorga- contribuiu para diminuição da incidência de infecções por esse
nismo infectante mais comum na ASQ(1,6,10,27). Essa bactéria microorganismo(1,35). Em séries mais recentes, tal como a de
Rev Bras Ortop. 2006;41(6):187-94
190 Matos MA, Guarniero R, Godoy Júnior RM

Luhmann et al(36), Staphylococcus coagulase-negativos (35%) apreensão, falta de apetite, dificuldade em ganhar peso, incô-
e S. aureus (30%) continuaram respondendo pela maior parte modo em ficar no colo. Pode não haver febre em alguns ca-
dos casos; Streptococcus viridans representou 20% e pseudo- sos, mas há espasmo muscular, edema de coxa, nádega ou
monas incidiu em 5%, enquanto que a infecção por H. influen- genitália com palpação dolorosa e a criança diminui a movi-
zae representou apenas 10% do total. Essa diminuição do H. mentação do membro (pseudoparalisia da extremidade), man-
influenzae pode significar tendência de queda após introdu- tendo-o em flexão, abdução e rotação externa(39).
ção da vacina. Nas crianças acima de três anos de idade, S.
aureus é o agente mais comum (33 a 50%), seguido do Strep- AVALIAÇÃO RADIOLÓGICA
tococcus (18 a 25%)(1,29,36). A distribuição da flora infectante As alterações encontradas na radiografia simples depen-
mais comum para cada idade encontra-se no quadro 2. dem da duração do processo, da gravidade do acometimento
e da idade do paciente. Nos estágios iniciais a radiografia é
QUADRO CLÍNICO inespecífica, mas caracteriza-se por demonstrar edema de par-
Nas crianças maiores, a ASQ apresenta-se como doença tes moles, perda dos planos dos tecidos moles devido ao ede-
aguda fulminante. Geralmente, há febre de 39 a 40ºC, taqui- ma, distensão capsular e aumento do espaço articular. Com o
cardia, irritabilidade e sinais de toxemia. Há dor localizada na evoluir do processo, pode haver subluxação do quadril e os-
face anterior do quadril e coxa que, algumas vezes, se irradia teomielite da metáfise proximal do fêmur, caracterizada por
para joelho. Há claudicação, espasmo muscular, edema, flo- áreas de rarefação do colo. Nos estágios mais avançados en-
gose local, diminuição grosseira da movimentação do qua- contram-se sinais de necrose avascular da cabeça e colo fe-
dril, que é mantido na posição de flexão-abdução e rotação morais(1,11,37).
externa, porque assim há relaxamento da cápsula articular, No recém-nascido, o centro cartilaginoso da cabeça femo-
permitindo acúmulo de maior volume e diminuindo a pressão ral não é visível à radiografia; por esse motivo, edema de par-
intracapsular. Normalmente, há história de abscessos cutâneos, tes moles com deslocamento lateral e superior da diáfise fe-
traumas, infecções da orofaringe, otite, etc. moral pode significar absorção da cabeça femoral, com
Nas crianças menores, a ASQ pode passar despercebida de- conseqüente luxação do quadril. Também pode haver destrui-
vido à gravidade do quadro geral do lactente. Paterson ção osteomielítica da metáfise femoral proximal(10).
(36)
(1970) relatou que “a história desses quadris começa quan- A ultra-sonografia é de grande valor diagnóstico, já que é
do a criança melhora”. A infecção geralmente é secundária a capaz de detectar líquido no espaço articular, caracterizado
abscessos subcutâneos, pneumonia, infecções glúteas, trans- por aumento de mais de 2mm entre cápsula e osso, compa-
fusões por cateteres umbilicais ou após punção da veia femo- rando-se com o lado não acometido(11,40). Efusão anecóica pode
ral(37-38) . Há sinais diversos de septicemia, mas, muitas vezes, indicar sinovite transitória ou hemorragia recente, enquanto
chorar durante a troca de fraldas pode ser o primeiro sinal que que efusão ecogênica é sugestiva de artrite séptica ou de coá-
desperta para quadril séptico. Geralmente, há irritabilidade, gulos hemorrágicos(11,40).
A cintilografia óssea não deve ser exame de
QUADRO 2 rotina para diagnóstico de ASQ, mas tem utilidade
Microorganismo infectante em casos duvidosos ou para evidenciar envolvi-
mento metafisário. A cintilografia com tecnécio
Idade Freqüentes Infreqüentes
99m é altamente sensível, porém não é específica
0 a três meses Gram-negativos (9,5%) para ASQ. Quando se deseja maior especificida-
Hospitalar S. aureus (62%) Candida (9,5%) de, deve-se utilizar gálio 67m, que se localiza pre-
Comunitária Estreptococo (52%) N. gonorrhoeae (7,3%) ferencialmente em bactérias, polimorfonucleares
H. influenzae (2%) e proteínas do exsudato inflamatório(11,41-42).
Três meses H. influenzae (31%) Na fase aguda da ASQ, outros exames, tais
a três anos Estreptococo (12%) quais tomografia computadorizada e ressonân-
S. aureus (11%)
cia magnética, ainda não demonstraram qual-
Gram-negativos (11%)
quer benefício ou ajuda no diagnóstico. Esses
Acima de S. aureus (33-50%) Gram-negativos exames não estão recomendados para finalida-
três anos Estreptococos (18-25%) N. gonorrhoeae
de diagnóstica.
Rev Bras Ortop. 2006;41(6):187-94
Artrite séptica do quadril 191

AVALIAÇÃO LABORATORIAL A cultura do líquido articular é positiva em 50 a 80% dos


Todos os pacientes com quadro suspeito de ASQ devem rea- pacientes(6,11). Kocher et al(43) encontraram 78% de positivi-
lizar hemograma, VHS (velocidade de hemossedimentação), dade desse exame nos seus pacientes. Griffin e Green(27) en-
PCR (proteína C reativa), hemocultura, análise do líquido si- contraram valor semelhante, mas aqui também 87% dos pa-
novial (incluindo cultura e esfregaço corado pelo gram) e cul- cientes com cultura negativa tinham recebido antibióticos
tura de orofaringe. Vários autores relataram em estudos de previamente. A contagem total de leucócitos geralmente varia
análise uni e multivariável que, além da febre, os fatores sig- de 25 a 250 mil/ml (média de 100 mil), com aproximada-
nificativamente alterados nos paciente com ASQ são a VHS, mente 90 a 95% de polimorfonucleares(1,43). A glicose é 30%
PCR, leucometria e neutrofilia(36,43-45). inferior que o nível plasmático, o teste da mucina é insatisfa-
A velocidade de hemossedimentação (VHS) representa tório e os níveis protéicos estão elevados.
mudanças na concentração do fibrinogênio, estando marca-
damente aumentada nas primeiras 24 a 48 horas após a insta- PUNÇÃO ARTICULAR
lação da infecção(6,11); 93% dos casos apresentam alteração da A punção é procedimento simples e rápido, que por vezes
VHS com média de 86mm (50 a 90mm) na primeira hora (Wes- já permite estabelecer diagnóstico preciso da artrite infeccio-
tergren). Esse achado laboratorial é altamente sensível, mas sa do quadril, autorizando o cirurgião a proceder ao tratamen-
infelizmente também é altamente inespecífico, visto que se to através de artrotomia, mesmo antes de qualquer análise la-
encontra aumentado em qualquer processo inflamatório(1,6,11). boratorial do líquido aspirado. Contudo, é a cultura do aspirado
Jung et al(45) relataram que pacientes com VHS maior que 20mm que permite diagnóstico definitivo da ASQ, possibilitando seu
têm risco relativo de 17,2% maior para diagnóstico de ASQ; e esclarecimento etiológico(47). Por essa razão, todos os pacien-
42,2% quando a VHS é superior a 40mm(45). tes suspeitos devem ser rotineiramente submetidos a esse pro-
Há evidências de que a PCR possa ser mais específico e cedimento.
sensível que a VHS. Esse exame encontra-se alterado em 93% A punção articular deve ser realizada em centro cirúrgico,
dos pacientes com ASQ(44). Seu valor médio é de 10,1 e, quan- com todos os critérios rotineiros de assepsia e anti-sepsia.
do se apresenta maior que 1, significa risco relativo de 87 Aconselha-se realizar punção por via anterior sob anestesia
vezes para ASQ(44). Infelizmente, também outras doenças in- geral venosa e guiada por intensificador de imagem. Devem-
flamatórias, como sinovite transitória do quadril, são capazes se, contudo, evitar punções no trajeto de infecções de pele ou
de alterar a PCR(42). celulite, para impedir a inoculação articular direta. Identifica-
As hemoculturas são positivas de 40% a pouco mais que se o ligamento inguinal (Poupart) e a artéria femoral, que ge-
50% dos casos(1,6,27,37). Kocher et al(44) encontraram 58% de ralmente passa na região média desse ligamento. A seguir,
positividade desse exame em seus pacientes. Griffin e Green(27) utiliza-se uma agulha de punção lombar ou “jelco” calibre 16
encontraram positividade em 60% das hemoculturas; entre os a 20, conectado a seringa de 10 ou 20ml. Essa agulha deve ser
pacientes com culturas negativas (40% dos casos), a maior introduzida a 90º, com a pele a aproximadamente 1cm para
parte recebeu antibioticoterapia previamente. Morrey et al(6) fora da artéria femoral e 1cm para baixo do ligamento de Pou-
encontraram positividade em apenas 31% dos seus casos, mas part. A seguir, aprofunda-se a agulha em direção ao espaço
confirmaram a tendência de culturas negativas após antibioti- articular guiada pela imagem do intensificador. O aspirado
coterapia. Por esses motivos, aconselha-se que as amostras assim obtido deve ser encaminhado para cultura e realização
para cultura sejam coletadas antes do início da terapia anti- de esfregaço pelo método de gram(1,8,11,29).
biótica(6,27).
O líquido articular pode ser seroso, serossanguinolento ou DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
francamente purulento. Devem ser realizadas análises citoló- Muitos são os diagnósticos diferenciais da ASQ, especial-
gicas e bioquímicas do líquido articular retirado através de mente nos seus estágios iniciais; contudo, a diferenciação tor-
punção. Essa análise deve incluir leucometria com contagem na-se mais fácil nos pacientes mais velhos e naqueles com
diferencial, VHS, PCR, dosagem de glicose, proteína, teste da algum tempo de evolução que já apresentam sinais radiológi-
mucina, coloração de gram e cultura do líquido. Estudo de cos. De especial importância são a sinovite transitória, psoíte,
antígenos bacterianos por aglutinação ou imunoeletroforese doença de Legg-Perthes, falcemia e febre reumática, pela alta
pode ser útil para identificar Haemophilus influenzae, menin- freqüência em nosso meio. Outros diagnósticos diferenciais
gococos, pneumococos e Streptococcus do grupo B(11,46). menos comuns incluem osteomielite pélvica, piomiosite, sa-
Rev Bras Ortop. 2006;41(6):187-94
192 Matos MA, Guarniero R, Godoy Júnior RM

croileíte, artrite reumatóide juvenil, epifisiólise, artrite tuber- ce alternativa viável, mas ainda precisa ser relatada exaustiva-
culosa, doença de Lyme, leucemia, celulite, hemartrose e si- mente para consolidar seu verdadeiro valor na ASQ(49-50).
novite traumática(1,8,11,29). O objetivo da artrotomia é realizar drenagem imediata do
A sinovite transitória produz dor, claudicação e diminuição pus e dos produtos da reação inflamatória, reduzir o inóculo
da amplitude de movimentos do quadril, mas caracteriza-se bacteriano, facilitando a eficiência da terapêutica antibiótica,
por curso mais suave e aumento discreto do leucograma e da descomprimir a articulação, retirar detritos através de limpe-
VHS. A psoíte caracteriza-se por intenso flexo do quadril asso- za mecânica e, conseqüentemente, impedir a ação proteolíti-
ciado a dor na pelve e fossa ilíaca, podendo ser diferenciada ca do exsudato(1,8,11). A eliminação rápida do inóculo bacteria-
através de exame ultra-sonográfico(1,8,11). no também diminui a possibilidade de osteomielite femoral
extensa.
TRATAMENTO CIRÚRGICO A artrotomia aberta pode ser realizada por via posterior,
O tratamento está baseado no diagnóstico precoce, na pun- ântero-lateral ou anterior. A abertura posterior permite exce-
ção do líquido articular realizada antes do início do tratamento lente acesso e produz drenagem auxiliada pela gravidade; con-
com antibióticos, na artrotomia como procedimento terapêu- tudo, pode produzir lesão ao suprimento sanguíneo da epífise
tico definitivo e no uso correto de agentes antibioticoterápi- capital, maior risco de luxação do quadril e algum risco de
cos. O tratamento correto e urgente é fundamental para ga- lesão ao nervo ciático. Já as outras abordagens só permitem a
rantir melhor prognóstico possível(1,8,43-44,48). abertura anterior da cápsula, o que dificulta a drenagem; na
Alguns pacientes podem ser tratados de maneira conserva- via anterior, o plexo femoral deve ser afastado juntamente com
dora. Para tanto, é necessário que a doença seja diagnosticada o músculo sartório. É preferível a via anterior de Smith-Peter-
muito precocemente e que a resposta à antibioticoterapia seja sen sempre que se realiza uma punção anterior ou quando há
rapidamente eficaz, com alívio imediato da dor, sensibilidade edema e flogose na região anterior da coxa, pois pode signifi-
local, aumento dos movimentos, diminuição da temperatura e car ruptura anterior da cápsula ou abscesso adutor(9-10,51-53).
do líquido intra-articular. Nesse caso, a articulação pode ser Após a artrotomia, a cápsula pode ser suturada aos tecidos
protegida em órtese ou aparelho gessado bivalvado, realizan- moles para que se mantenha aberta. Procede-se a irrigação
do-se fisioterapia até completo restabelecimento. É preferí- abundante com solução fisiológica e drenagem da articulação
vel, entretanto, que pacientes portadores de ASQ sejam pun- por 24 a 48 horas. Os drenos são colocados no interior da
cionados como rotina e que, em caso de punção positiva, todos cápsula (porém, nunca entre a cabeça e o acetábulo); no mé-
sejam submetidos a drenagem cirúrgica da articulação. Tratar todo de irrigação contínua utilizam-se drenos de entrada e de
conservadoramente pode ter alto preço para o quadril da crian- sucção, mas a drenagem apenas por sucção já parece ser me-
ça, pois a cartilagem hialina pode ser completamente destruí- dida suficiente. Não devem ser utilizados antibióticos na dre-
da num período de três horas a cinco dias(19,26). nagem contínua(48-49). O uso de antibióticos localmente pode
Após punção articular positiva, artrotomia deve ser reali- produzir sinovite pós-infecciosa com características auto-imu-
zada o mais breve possível. Aconselha-se que a punção seja nes(54-55).
feita em centro cirúrgico nas mesmas condições para rever- O membro inferior pode ser mantido apoiado sobre len-
tê-la em artrotomia, pois, caso o líquido aspirado seja suges- çóis, órtese, aparelho gessado bivalvado em goteira de Braun
tivo, deve-se realizar drenagem cirúrgica no mesmo momen- ou sob tração de Russel ou Buck. A imobilização rígida só
to(1,8,11). está indicada nos casos em que haja instabilidade do quadril,
A artroscopia para tratamento da artrite séptica do quadril que geralmente está presente em crianças pequenas e neona-
pode minimizar dor pós-operatória, extensão da cicatriz e in- tos. Nesses casos, deve-se utilizar aparelho gessado tipo espi-
ternação hospitalar. A luxação do quadril é complicação que ga ou suspensório de Pavlik(11). Após 24 horas de repouso,
pode ser facilitada pela artrotomia aberta e o tratamento ar- inicia-se o período reabilitativo do tratamento, que deve cons-
troscópico poderia evitar esse evento indesejado. O procedi- tar de movimentação passiva para ganho de amplitude e para
mento artroscópico, entretanto, é difícil de ser realizado em evitar fibrose, atrofia da cartilagem e ancilose articular(56).
crianças pequenas, especialmente menores de três anos de
idade(49-50). Na literatura científica existem pouco mais de 20 ANTIBIOTICOTERAPIA
relatos de pacientes tratados artroscopicamente, sendo sua O efeito do tratamento antimicrobiano é ponto crucial na
maior parte adultos; por esse motivo, a artroscopia permane- ASQ. Sua escolha, via de administração, dose e tempo de du-

Rev Bras Ortop. 2006;41(6):187-94


Artrite séptica do quadril 193

QUADRO 3 Paterson(37) recomendou pe-


Antibioticoterapia na ASQ ríodo total de seis semanas de
Idade Primeira escolha Segunda escolha ou associação
antibioticoterapia. Kocher et
al(43), em estudo mais recente,
Neonatos Oxacilina, nafcilina Associada a amicacina ou recomendaram que a antibio-
gentamicina (gram-negativos) ticoterapia venosa prolongada
Três meses a três anos Oxacilina, nafcilina Cefotaxima, ceftriaxona seja utilizada nos pacientes
(H. influenzae) com risco de pior prognósti-
Maiores de três anos Cefalotina, cefalexina,
co, naqueles com atraso do tra-
cefazolina ou cefuroxima tamento inicial ou em pacien-
tes com seqüelas instaladas.
Nos casos sem complicações
ração estão diretamente relacionados com o prognóstico da evidentes, esses autores indicam troca rápida para medicação
infecção. Antibioticoterapia adequada deve ser instituída ideal- oral (após 72 horas) nos pacientes que tenham boa resposta
mente após coleta de material para hemocultura e do aspirado clínica(43).
articular, pois o uso de antibióticos previamente à coleta cos- É conveniente, entretanto, que a antibioticoterapia por via
tuma resultar em exames falso-negativos. A droga, entretanto, intravenosa seja utilizada por um mínimo de sete a dez dias. Se
deve ser escolhida e administrada antes do resultado desses houver resposta clínica acentuada, tais como diminuição signi-
exames e somente deve ser modificada caso não apresente ficativa da VHS e do leucograma, final do período febril e me-
resposta clínica ou seja considerada inadequada pelo antibio- lhora marcante do estado geral, pode-se iniciar terapia por via
grama. Quando o agente etiológico é identificado, deve-se usar oral. Caso contrário, é melhor manter o tratamento venoso por
a droga mais eficaz e com menos efeitos colaterais. duas a três semanas. A terapia oral deve ser mantida por perío-
A escolha da droga é baseada na faixa etária de cada pa- do mínimo de seis a oito semanas, na dependência de a VHS
ciente. Esse guia tem-se mostrado excelente chave para pre- retornar a níveis de normalidade. Em média, o tratamento total
dizer o microorganismo infectante mais provável. Nos recém- da ASQ dura algo em torno de seis semanas a três meses.
natos, a escolha deve recair sobre as penicilinas semi-sintéticas,
como oxacilina ou naficilina. Pode-se também associar essas CONCLUSÃO
penicilinas aos aminoglicosídeos (gentamicina ou amicacina) A artrite séptica do quadril deve ser sempre lembrada em
com o objetivo de tratar organismos gram-negativos. Nos pa- todas as crianças gravemente enfermas e que possuam des-
cientes entre três meses e três anos, as drogas de escolha são conforto na troca de fraldas, dor em membros inferiores ou
oxacilina ou naficilina, mas, devido ao alto risco de infecção edema em quadril e coxa. Aqueles pacientes do sexo masculi-
por H. influenzae e de meningite, aconselha-se também lan- no, abaixo de três anos de idade, cateterizados e portadores de
çar mão da cefotaxima ou da ceftriaxona, por possuírem boa outras infecções, estão especialmente em risco. A única for-
penetração na barreira hematoencefálica. Nas crianças acima ma de evitar graves e irreversíveis seqüelas nesses quadris é
de dois a três anos a escolha recai sobre penicilinas semi- realizando diagnóstico precoce e tratamento imediato, quer
sintéticas ou sobre cefalosporinas de primeira e segunda gera- clínico ou cirúrgico. É importante que o binômio “pediatra-
ções, como cefalotina, cefalexina, cefazolina ou cefuroxima ortopedista” seja capaz de falar a mesma linguagem e atuar
(quadro 3). em sinergia para garantir a escolha da terapêutica mais ade-
Os agentes antibióticos devem ser administrados inicial- quada.
mente por via parenteral e, somente após resposta clínica ade-
quada, a via oral pode ser utilizada. O tempo exato em que se REFERÊNCIAS
deve usar antibioticoterapia venosa e oral é, na verdade, em- 1. Nade S. Acute septic arthritis in infancy and childhood. J Bone Joint Surg
pírico(1). A literatura mais antiga recomenda quatro a seis se- Br. 1983;65(3):234-41.
manas de droga intravenosa, seguida por terapia oral por mais 2. Rossi JDMBA, Bolliger Neto R, Moreira FG, Huang PM. O que há de
errado no tratamento da pioartrite do quadril? Rev Bras Ortop. 1987;22(4):
três meses. Griffin e Green(27) recomendaram antibiótico in- 105-8.
travenoso por três semanas associado à administração por mais 3. Nelson JD, Koontz WC. Septic arthritis in infants and children: a review
três semanas até que a VHS retornasse aos valores normais. of 117 cases. Pediatrics. 1966;38(6):966-71.

Rev Bras Ortop. 2006;41(6):187-94


194 Matos MA, Guarniero R, Godoy Júnior RM

4. Nade S, Robertson FW, Taylor TK. Antibiotics in the treatment of acute 32. Borella L, Goobar JE, Summitt RL, Clark GM. Septic arthritis in
osteomyelitis and acute septic arthritis in children. Med J Aust. 1974; childhood. J Pediatr. 1963;62:742-7.
2(19):703-5. 33. Nelson JD. The bacterial etiology and antibiotic management of septic
5. Volpon JB, Seixas ACD, Oliveira PAS. Alguns aspectos clínico- arthritis in infants and children. Pediatrics. 1972;50(3):437-40.
epidemiológicos da artrite piogênica. Rev Bras Ortop. 1991;26(10):350-4. 34. Almquist EE. The changing epidemiology of septic arthritis in children.
6. Morrey BF, Bianco AJ Jr, Rhodes KH. Septic arthritis in children. Orthop Clin Orthop Relat Res. 1970;68:96-9.
Clin North Am. 1975;6(4):923-34. 35. Broadhurst LE, Erickson RL, Kelley PW. Decreases in invasive
7. Gillespie R. Septic arthritis of childhood. Clin Orthop Relat Res. 1973; Haemophilus influenzae diseases in US Army children, 1984 through
(96):152-9. 1991. JAMA. 1993;269(2):227-31.
8. Paterson D. Septic arthritis of the hip joint. Orthop Clin North Am. 1978; 36. Luhmann SJ, Jones A, Schootman M, Gordon JE, Schoenecker PL,
9(1):135-42. Luhmann JD. Differentiation between septic arthritis and transient
9. Trueta J. The normal vascular anatomy of the human femoral head during synovitis of the hip in children with clinical prediction algorithms. J Bone
growth. J Bone Joint Surg Br. 1957;39-B(2):358-94. Joint Surg Am. 2004;86-A(5):956-62.
10. Chung SM. The arterial supply of the developing proximal end of the 37. Paterson DC. Acute suppurative arthritis in infancy and childhood. J Bone
human femur. J Bone Joint Surg Am. 1976;58(7):961-70. Joint Surg Br. 1970;52(3):474-82.
11. Sucato DJ, Schwend RM, Gillespie R. Septic Arthritis of the Hip in 38. Simmons PB, Harris LE, Bianco AJ Jr. Complications of exchange
Children. J Am Acad Orthop Surg. 1997;5(5):249-60. transfusion. Report of two cases of septic arthritis and osteomyelitis.
12. Kahn DS, Pritzker KP. The pathophysiology of joint infection. Clin Mayo Clin Proc. 1973;48(3):190-3.
Orthop Relat Res. 1973;96:12-9. Review. 39. White AA 3rd, Crelin ES, McIntosh S. Septic arthritis of the hip joint
13. Ogden JA. Changing patterns of proximal femoral vascularity. J Bone secondary to umbilical artery catheterization associated with transient
Joint Surg Am. 1974;56(5):941-50. femoral and sciatic neuropathy. Clin Orthop Relat Res. 1974;(100):190-4.
14. Goldenberg DL. Septic arthritis. Lancet. 1998;351(9097):197-202. 40. Zieger MM, Dorr U, Schulz RD. Ultrasonography of hip joint effusions.
15. Wilson NI, Di Paola M. Acute septic arthritis in infancy and childhood. 10 Skeletal Radiol. 1987;16(8):607-11.
years’ experience. J Bone Joint Surg Br. 1986;68(4):584-7. 41. Tuson CE, Hoffman EB, Mann MD. Isotope bone scanning for acute
16. Johnson AH, Campbell WG Jr, Callahan BC. Infection of rabbit knee osteomyelitis and septic arthritis in children. J Bone Joint Surg Br.
joints after intra-articular injection of Staphylococcus aureus. 1994;76(2):306-10.
Comparison with joints injected with Staphylococcus albus. Am J Pathol. 42. Borman TR, Johnson RA, Sherman FC. Gallium scintigraphy for
1970;60(2):165-202. diagnosis of septic arthritis and osteomyelitis in children. J Pediatr
17. Kushner I, Somerville JA. Permeability of human synovial membrane to Orthop. 1986;6(3):317-25.
plasma proteins. Relationship to molecular size and inflammation. 43. Kocher MS, Mandiga R, Murphy JM, Goldmann D, Harper M, Sundel R,
Arthritis Rheum. 1971;14(5):560-70. et al. A clinical practice guideline for treatment of septic arthritis in
18. Fell HB, Jubb RW. The effect of synovial tissue on the breakdown of children: efficacy in improving process of care and effect on outcome of
articular cartilage in organ culture. Arthritis Rheum. 1977;20(7):1359-71. septic arthritis of the hip. J Bone Joint Surg Am. 2003;85-A(6):994-9.
19. Phemister DB. The effect of pressure on articular surfaces in pyogenic and 44. Kocher MS, Mandiga R, Zurakowski D, Barnewolt C, Kasser JR.
tuberculous arthritides and its bearing on treatment. Ann Surg. 1924; Validation of a clinical prediction rule for the differentiation between
80(4):481-500. septic arthritis and transient synovitis of the hip in children. J Bone Joint
20. Curtiss PH Jr, Klein L. Destruction of articular cartilage in septic arthritis. Surg Am. 2004;86-A(8):1629-35.
I. In vitro studies. J Bone Joint Surg Am. 1963;45-A:797-806. 45. Jung ST, Rowe SM, Moon ES, Song EK, Yoon TR, Seo HY. Significance of
21. Curtiss PH Jr, Klein L. Destruction of articular cartilage in septic arthritis. laboratory and radiologic findings for differentiating between septic arthritis
I. In vivo studies. J Bone Joint Surg Am. 1965;47(8):1595-604. and transient synovitis of the hip. J Pediatr Orthop. 2003;23(3): 368-72.
22. Smith RL, Merchant TC, Schurman DJ. In vitro cartilage degradation by 46. Shackelford PG, Campbell J, Feigin RD. Countercurrent
Escherichia coli and Staphylococcus aureus. Arthritis Rheum. 1982; immunoelectrophoresis in the evaluation of childhood infections. J
25(4):441-6. Pediatr. 1974;85(4):478-81.
23. Lack CH. Chondrolysis in arthritis. J Bone Joint Surg Br. 1959;41-B(2): 47. Ward J, Cohen AS, Bauer W. The diagnosis and therapy of acute
384-7. suppurative arthritis. Arthritis Rheum. 1960;3:522-35.
24. Lack CH. Chondrolysis. Ann Phys Med. 1961;6:93-9. 48. Lloyd-Roberts GC. Some aspects of orthopaedic surgery in childhood.
25. McGuire-Goldring MB, Meats JE, Wood DD, Ihrie EJ, Ebsworth NM, Ann R Coll Surg Engl. 1975;57(1):25-32.
Russell RG. In vitro activation of human chondrocytes and synoviocytes by 49. DeAngelis NA, Busconi BD. Hip arthroscopy in the pediatric population.
a human interleukin-1-like factor. Arthritis Rheum. 1984;27(6):654-62. Clin Orthop Relat Res. 2003;(406):60-3.
26. Daniel D, Boyer J, Green S, Amiel D, Akeson W. Cartilage destruction in 50. Kim SJ, Choi NH, Ko SH, Linton JA, Park HW. Arthroscopic treatment of
experimentally produced Staphylococcus Aureus joint infections: in vivo septic arthritis of the hip. Clin Orthop Relat Res. 2003;(407):211-4.
study. Surg Forum. 1973;24:479-81. 51. Ober FR. Posterior arthrotomy of the hip. Report of five cases. J Am Med
27. Griffin PP, Green WT Sr. Hip joint infections in infants and children. Assoc. 1924;83:1500-2.
Orthop Clin North Am. 1978;9(1):123-34. 52. Smith-Petersen MN. A new supra-articular subperiosteal approach to the
28. Dan M. Septic arthritis in young infants: clinical and microbiologic hip joint. Am J Orthop Surg. 1917;15:592.
correlations and therapeutic implications. Rev Infect Dis. 1984;6(2):147-55. 53. Harris WH. A new lateral approach to the hip joint. J Bone Joint Surg Am.
29. Jackson MA, Nelson JD. Etiology and medical management of acute 1967;49(5):891-8.
suppurative bone and joint infections in pediatric patients. J Pediatr 54. Argen RJ, Wilson CH Jr, Wood P. Suppurative arthritis. Clinical features
Orthop.1982;2(3):313-23. Review. of 42 cases. Arch Intern Med. 1966;117(5):661-6.
30. Martin CM, Merrill RH, Barrett O Jr. Arthritis due to Serratia. J Bone 55. Bobechko WP, Mandell L. Immunology of cartilage in septic arthritis.
Joint Surg Am. 1970;52(7):1450-2. Clin Orthop Relat Res. 1975;(108):84-9.
31. Torg JS, Lammot TR. Septic arthritis of the knee due to Clostridium 56. Akeson WH, Amiel D, Abel MF, Garfin SR, Woo SL. Effects of
welchii. Report of two cases. J Bone Joint Surg Am. 1968;50(6):1233-6. immobilization on joints. Clin Orthop Relat Res. 1987;(219):28-37.

Rev Bras Ortop. 2006;41(6):187-94

Você também pode gostar