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O menino que não via amigos

Pâmela Pschichholz
Ilustrações: Andressa Mueller
Série Fazendo Inclusão

Z Multi Editora
Estância Velha
2018
Autora:
Pâmela Pschichholz
Ilustrações:
Andressa Mueller
Coordenação editorial:
Sandra Hess
Capa, editoração e design gráfico:
Cleber Zanovello Dariva
Impressão:
Gráfica Epecê

DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO

P974m Pschichholz, Pâmela


O menino que não via amigos / Pâmela Pschichholz; ilustrações: Andressa Mueller. –
Estância Velha: Z Multi Editora, 2018. (Série fazendo Inclusão).
28 p.: il.; 21x21cm
ISBN 978-85-69698-22-7

1. Literatura infantil. 2. Deficiência visual. I. Título. II. Mueller, Andressa.


CDU 82-93

Bibliotecária responsável: Maria do Carmo Mitchell Neis – CRB 10/1309

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PREFÁCIO
Sou formado em pedagogia pela ULBRA, pós graduado
em psicopedagogia clínica e institucional e trabalhei nove
anos em escolas com projeto de violão e música em sala de
aula com educação musical. E foi neste tempo que conheci a
Pâmela, esta professora sensível que defende e fala de uma
forma bastante carinhosa e humana sobre a importância da
construção da cultura inclusiva no cotidiano das pessoas.
Atualmente, trabalho como professor no laboratório de
aprendizagem em uma escola no município de Sapiranga/RS.
Me identifiquei com esta linda história, pois eu também
não vejo meus amigos e não acho que a INCLUSÃO seja real
ou tão presente na vida de muita gente. Mas são histórias
como esta que despertam na gente a esperança no outro e
que a inclusão pode sim acontecer, basta você querer “ver
tudo de uma forma diferente”, uma forma mais carinhosa e
humana. E é esta nova percepção e nova visão das coisas e
das pessoas que é transformadora e pode fazer a inclusão
ser de fato real.

Allan Cristóvão Cocenski


Professor com deficiência visual
Beto, novo na rua, chega de mudança e logo
quer se enturmar.
Pega seu carrinho preferido e vai até
o portão de entrada para observar se há
crianças ali.
Volteando caminhos com seu brinquedo,
ele pensa: “Será que não tenho vizinhos?”
Olha para a direita, para a esquerda
e procura nas casas da vizinhança algum
resquício de crianças, mas não encontra nada.
E para sua surpresa, agora, ele vê, na casa
ao lado da sua, um menino sentado em um dos
degraus mais altos da entrada.
Beto acena e o menino não responde.
Beto se inclina e chama:
- Amigo, quer brincar comigo?
O menino vira seu rosto na direção de Beto.
E mesmo assim, não fala nada.
Beto, triste com o aparente descaso do
vizinho, se afasta. Ouve passos e para. Ele
vira-se e percebe que o menino foi até a cerca.
E, então, ele também foi até lá.
Beto observa que o menino se aproxima com
a cabeça baixa e que não o olha nos olhos.
Então, ele questiona:
- Por que você não olha nos meus olhos? E
complementa:
- Minha mãe diz que conhecemos as pessoas
pelo olhar. Como vou te conhecer e ser seu
amigo, se você não me olha nos olhos?
E o menino, parecendo confuso, questiona:
- Como se conhece um amigo? Só se conhece
um amigo pelo olhar?
Beto, achando as perguntas fáceis de
responder, disse:
- Olhando. A gente conhece um amigo,
olhando pra ele. Como é seu nome?
O vizinho, suspirando, responde:
- Sou o Pedro. E complementa risonho:
- Você fala engraçado, menino. Como é seu
nome?
- É Beto, eu sou novo na rua. Por que você
está rindo? Minha mãe também disse que é falta
de educação rir das pessoas. Não é legal rir
das pessoas e falar com elas sem olhar nos
olhos.
Amigos olham nos olhos. Beto insiste.
Pedro, agora, abaixa a cabeça e lamentando
fala:
- Então quer dizer que não podemos ser
amigos?
Beto intrigado, pergunta:
- Por quê? Você parece não querer ser meu
amigo. Você nem me olha nos olhos.
E Pedro explica paciente:
- Não posso escolher em ver amigos. Meus
olhos não veem meus amigos. Não vejo nada.
Sinto e ouço, mas não vejo. Meus olhos não veem
o céu, nem casas, nem coisas e nem amigos.
Beto, curioso e pensativo, questiona:
- Seus olhos não veem amigos? Você não
consegue olhar no olho de uma pessoa? Por que
seu olho não olha?
E Pedro responde:
- Não consigo ver desde que nasci. Conheço
as coisas com meus ouvidos e com as minhas mãos.
Ainda parecendo curioso, Beto pergunta:
- Você vê tudo com as suas mãos? Você
coloca a mão no olho para ver? Como você
faz isso? Assim, colocando a mão e deixando
um espaço entre os dedos? Fala o menino,
colocando as mãos no rosto, vendo através
dos dedos.
Pedro, achando a fala engraçada, repete
os movimentos descritos pelo Beto.
- Eu posso te mostrar? Posso me apresentar,
usando as suas mãos? Disse Pedro, requerendo
as mãos de Beto e aproximando as pontas dos
dedos dele de seu rosto, deixando o menino o
tocar com cuidado. E Pedro fala:
- Muito prazer, eu sou Pedro.
E depois, Pedro esticou sua mão, como se
pedisse para que Beto o deixasse tocar no seu
rosto também e falou:
- Sua vez. Pode se apresentar, dizendo:
“Sou o Beto, muito prazer”. Pedro explica,
sorrindo, enquanto tocava com cuidado no
rosto do menino.
E Beto, autorizando o Pedro a tocar no seu
rosto e sentindo o toque do amigo na sua testa
e bochechas, fala:
- Sou Beto, muito prazer, amigo.
Beto, ao deixar Pedro também tocar no
seu rosto, entendeu que o ato de olhar nos
olhos não era mais barreira para fazer novas
amizades. Ele percebeu que não são somente
os olhos que definem se conhecemos ou não
as pessoas. Os olhos podem não ver, mas,
neste caso, as mãos viram. Ele entendeu que
há outras formas de ver. E, a partir daquele
dia, o menino que não via amigos brincava feliz
com seu vizinho e, agora, grande amigo Beto.
Agora é a sua vez. Escreva aqui como você conhece um amigo.

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Contate a autora: tutorapamela@yahoo.com.br

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