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RESUMO
Embora o método evolutivo seja uma boa alternativa para os casos em que o mercado não
apresenta as condições necessárias para a utilização do método comparativo direto de dados
de mercado, alguns cuidados devem ser tomados para não incorrer em conclusões distorcidas
a respeito do valor.
O estudo mostra potenciais problemas na utilização do método evolutivo que prejudicam sua
aplicabilidade em situações representadas por determinadas combinações entre o fator de
comercialização e relações entre o custo das benfeitorias e o valor de mercado do terreno.
1
1 – INTRODUÇÃO
A avaliação de imóveis é realizada, na maioria dos casos, pelo método comparativo direto de
dados de mercado, o qual é descrito na NBR 14.653-2:2011. Porém, comumente, o avaliador
se depara com situações nas quais as condições do mercado não permitem a utilização deste
método, sendo então obrigado a recorrer à outra metodologia.
Todavia, algumas vezes, além do valor total do imóvel, é necessário fornecer, de forma
separada, o valor do terreno e o valor da(s) benfeitora(s) edificada(s) sobre ele. Entretanto, a
NBR 14.653-2 (Avaliação de Bens – Imóveis Urbanos), da ABNT, não define os
procedimentos necessários para esta separação.
Há ainda casos em que a aplicação do método evolutivo pode levar a resultados distorcidos e
provocar registros contábeis equivocados.
1.1 - OBJETIVO
Este trabalho objetiva analisar a metodologia empregada no método evolutivo no que tange à
forma de conjugação de métodos apresentada na norma, i.e., a equação de conjugação. Busca-
se evidenciar possíveis problemas relacionados à aplicação do método, na forma atualmente
proposta, focando: i) na análise da equação de conjugação atualmente proposta pela norma da
ABNT, cuja aplicação pode gerar resultados distorcidos; ii) na eventual necessidade de
separação do valor do terreno do valor das benfeitorias, cujos procedimentos não são descritos
na norma e iii) no uso contábil dos valores encontrados separados.
Para isso os autores se utilizam da análise de gráficos com três e dois eixos cartesianos,
construídos a partir da equação recomendada pela norma, combinada com possíveis formas de
apropriar o valor do terreno e o valor das benfeitorias.
2
Outros gráficos foram construídos a partir da equação proposta pelos autores em substituição
à recomendada atualmente pela NBR 14.653-2, para demonstrar a ausência dos problemas
observados inicialmente.
2 – DESENVOLVIMENTO E FUNDAMENTAÇÃO
Em sua parte 1 (Procedimentos Gerais), a NBR 14.653 define o método evolutivo como
aquele que “Identifica o valor do bem pelo somatório dos valores de seus componentes. Caso
a finalidade seja a identificação do valor de mercado, deve ser considerado o Fator de
Comercialização”.
Na mesma parte da norma, o fator de comercialização é definido como a “razão entre o valor
de mercado de um bem e o seu custo de reedição, que pode ser maior ou menor do que 1
(um)”.
Já em sua parte 2, a NBR 14.653 (Imóveis Urbanos), a respeito do método evolutivo, diz que:
A composição do valor total do imóvel avaliando pode ser obtida através da
conjugação de métodos, a partir do valor do terreno, considerando o custo de
reprodução das benfeitorias devidamente depreciada e o fator de comercialização,
ou seja:
VI = (VT + CB) . FC
onde
VI é o valor do imóvel;
VT é o valor do terreno;
CB é o custo de reedição da benfeitoria;
FC é o fator de comercialização.
2.2 – O PROBLEMA
3
- método involutivo;
- método da renda
pode gerar duas interpretações distintas, cada uma remetendo a uma determinada equação de
valor de imóvel.
Seguindo esta primeira interpretação, a equação que guarda coerência com a definição de
fator de comercialização constante na parte 1 da norma é:
VI = VT + CB . FC (Equação 1)
4
ROTTMANN (2004), na equação 1, utiliza um fator F, chamando de fator de ajuste, em lugar
do FC, e conjuga a equação 1 com a equação 2 para encontrar a seguinte equação:
onde:
α = a razão VT/CB.
Já DANTAS (2004) diz que “a engenharia de avaliação serve para subsidiar tomadas de decisões a
respeito de valores, custos e alternativas de investimentos, envolvendo bens de qualquer natureza.”
Como a tomada de decisão, muitas vezes, passa pelos relatórios contábeis, é importante
registrar de forma correta os ativos patrimoniais. Além disso, esses registros impactam
diretamente no valor do imposto de renda. Todavia, o registro patrimonial correto exige a
apropriação separada do valor do terreno e das benfeitorias.
Diante essa omissão, os avaliadores vêm realizando essa tarefa da forma como julgam mais
adequada. As duas formas mais comuns são aplicando as equações 3 e 4 ou aplicando as
equação 5 e 6, abaixo. Teremos, então:
Primeira forma:
VT = VT . FC (Equação 3)
VB = CB . FC (Equação 4)
E na segunda forma:
VT = VT (Equação 5)
5
VB = VI – VT (Equação 6)
onde
VI é o valor do imóvel;
VT é o valor do terreno;
CB é o custo de reedição da benfeitoria;
FC é o fator de comercialização.
Assim, para cada par de equações que se opte, o avaliador obterá diferentes valores de terreno
e de benfeitoria(s), muito embora, em ambas as situações, o valor total do imóvel seja o
mesmo.
Veremos ainda que a aplicação da equação 2 pode levar a conclusões equivocadas, a depender
do fator de comercialização e da relação entre o custo da benfeitoria e o valor do terreno.
Primeiramente preparamos a equação 2 para análise, dividindo cada lado da igualdade pelo
valor do terreno (VT):
ூ
= ቀ1 + ் ቁ . ܥܨ (Equação 7)
்
CB/VT: relação entre o custo da benfeitoria e o valor do terreno - inverso do fator α utilizado
por ROTTMANN (2004);
6
FC: fator de comercialização.
É importante lembrar que o esperado no mercado é que uma benfeitoria agregue valor ao
imóvel. No entanto o valor a ser agregado pode ser igual, maior ou menor que o custo de
reedição. Pode-se
se considerar normal, então, casos em que o valor de mercado de um
determinado imóvel venha a ser maior que o valor de mercado do terreno acrescido do custo
de reedição
ição da benfeitoria nele existente, assim como
com também são normais casos em que o
valor de mercado do bem seja inferior à soma do valor de mercado do terreno e o custo de
reedição da benfeitoria nele existente.
São considerados
onsiderados casos atípicos, porém,
poré quando o valor de mercado do bem é inferior ao
valor de mercado apenas do terreno. Nesse caso, a benfeitoria existente no terreno estaria
desvalorizando o terreno. Esse tipo de caso necessita de procedimentos diferenciados e não
será abordado neste trabalho.
CB/VT
Gráfico 1
7
CB/VT X VI/VT (FC 1,8)
8
0
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5
Gráfico 2
0
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5
Gráfico 3
Para melhor visualização, destacamos nos gráficos 2 e 3 dois casos particulares, fixando o
parâmetro FC respectivamente em 0,6 (menor que a unidade) e 1,8 (maior que a unidade).
Nesses gráficos, o eixo horizontal representa a relação CB/VT, enquanto o eixo vertical
representa a relação VI/VT.
Da equação 7 podemos extrair ainda que quando a relação entre o custo da benfeitoria e o
ଵିி
valor do terreno for menor que , o valor do imóvel será menor que o valor do terreno.
ி
Lembramos novamente que imóveis com benfeitorias, em uma situação normal, não tem valor
inferior ao valor do terreno.
Voltando ao caso do gráfico 3, com FC igual a 0,6, quando a razão entre o custo da
benfeitoria e o valor do terreno for menor que 2/3, o valor do imóvel será menor que o valor
apenas do terreno.
Vimos anteriormente que em alguns casos é necessário informar, além do valor total do
imóvel, o valor do terreno e das benfeitorias separadamente.
9
Vimos que, como a NBR 14.653-2 não contempla procedimentos para realizar essa separação
dos valores, os avaliadores utilizam-se de duas formas distintas, a saber:
Primeira forma:
VT = VT . FC (Equação 3)
VB = CB . FC (Equação 4)
E na segunda forma:
VT = VT (Equação 5)
VB = VI – VT (Equação 6)
onde
VI é o valor do imóvel;
VT é o valor do terreno;
CB é o custo de reedição da benfeitoria;
FC é o fator de comercialização.
Para cada par de equações que se opte, o avaliador obterá diferentes valores de terreno e de
benfeitoria(s), muito embora, em ambas as situações, o valor total do imóvel seja o mesmo.
A aplicação do primeiro par de equações (equações 3 e 4), leva à conclusão de que, para todos
os casos, o valor da benfeitoria será igual ao seu custo de reedição multiplicado pelo fator de
comercialização, enquanto o valor do terreno será igual ao valor do terreno multiplicado pelo
fator de comercialização.
Dessa forma, chegamos à conclusão que, para fator de comercialização diferente da unidade,
o valor do terreno é diferente do valor do terreno (VT ≠ VT), o que matematicamente não faz
sentido.
Alguns interpretam que o valor do terreno a esquerda da equação é o valor livre, ou sem
benfeitoria, enquanto o valor do terreno a direita da equação é o valor com a influência da
benfeitoria, ou valor incorporado. Caso essa interpretação seja aceita, cabe à norma esclarecer
esse aspecto, incluindo as nomenclaturas adequadas para cada valor.
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A partir deste momento em que toda a benfeitoria foi depreciada, desconsiderando alterações
de mercado, e admitindo que os valores praticados dos imóveis não sofram alterações no
período estudado, teríamos um registro apenas do terreno livre, com um valor diferente do
valor de mercado.
4.000,00
3.500,00
3.000,00 VALOR DE MERCADO DO
2.500,00 TERRENO
2.000,00 VALOR DO TERRENO
1.500,00 INCORPORADO
1.000,00 VALOR DA BENFEITORIA
500,00
-
0 10 20 30 40 50 60
Gráfico 4
Verifica-se então que a primeira forma de separar os valores do terreno e das benfeitorias gera
informações distorcidas para fins contábeis.
11
5.000,00
4.000,00
VALOR DE MERCADO DO
TERRENO
3.000,00
VALOR DO TERRENO
2.000,00 INCORPORADO
-
0 10 20 30 40 50 60
Gráfico 5
Podemos ainda analisar o uso das equações 5 e 6 para separações dos valores do terreno e das
benfeitorias a partir da combinação da equação 2 com a equação 6, obtendo, assim, uma nova
equação:
VB = VI – VT (Equação 6)
VI = VB + VT
Substituindo na equação 2:
VB + VT = (VT + CB) FC
VB = VT.FC + CB.FC – VT
VB = VT.(FC-1) + CB.FC
ܸܤ ܸܶ
= ∙ ሺ ܥܨ− 1ሻ + ܥܨ
ܤܥ ܤܥ
Ou,
ሺிିଵሻ
= ൗ + ܥܨ (Equação 8)
்
12
VB/CB: relação entre o valor e o custo da benfeitoria;
FC
Gráfico 6
Para melhor visualização, destacamos nos gráficos 7 e 8 dois casos particulares, fixando o
parâmetro FC respectivamente em 0,6 (menor que a unidade) e 1,8 (maior que a unidade).
13
Nesses gráficos, o eixo horizontal representa a relação CB/VT, enquanto o eixo vertical
representa a relação VB/CB.
No caso destacado no gráfico 8, com fator de comercialização de 0,6, podemos verificar que à
medida que o custo de reedição aumenta em relação ao valor do terreno, o valor da benfeitoria
se aproxima de 0,6 vezes o seu custo. Já quando o custo diminui em relação ao valor do
terreno, essa relação diminui. Quando o custo da benfeitoria é menor que 2/3 do valor do
terreno, o valor da benfeitoria passa a ser negativo, o que não é razoável.
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Diante dos potenciais problemas decorrentes da aplicação da equação do método evolutivo
recomendada pela NBR 14.653-2,
14.653 repetimos a análise substituindo a equação
equa 2 pela equação
1 (VI = VT + CB.FC), buscando verificar se sua aplicabilidade é mais
ais abrangente.
abrangente
VI = VT + CB . FC (Equação 1)
ூ
= 1 ∙
(Equação 9)
்
Gráfico 9
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CB/VT X VI/VT FC(1,8)
7
6
5
4
3
2
1
0
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5
Gráfico 10
Para melhor a visualização, destacamos nos gráficos 10 e 11 dois casos particulares, fixando o
parâmetro FC respectivamente em 0,6 (menor que a unidade) e 1,8 (maior que a unidade).
Nesses gráficos, o eixo horizontal representa a relação CB/VT, enquanto o eixo vertical
representa a relação VI/VT.
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2.4.1 – APROPRIAÇÃO DO VALOR DO TERRENO E DO VALOR DAS
DA
BENFEITORIAS
FC
Gráfico 12
1,50
1,00
0,50
-
0% 50% 100% 150% 200% 250% 300% 350% 400% 450%
Gráfico 13
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CB/VT X VB/CB (FC 0,6)
2,00
1,50
1,00
0,50
-
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 3,50 4,00 4,50
Gráfico 14
Os casos destacados nos gráficos 13 e 14 evidenciam que, para FC fixo, a relação do valor e o
custo das benfeitorias permanece inalterada. Dessa forma o valor da benfeitoria depende
apenas do seu custo e do fator de comercialização.
Do ponto de vista do uso dos valores pela contabilidade, como o valor do terreno não sofre
alteração, coincidindo com seu valor de mercado, o problema observado no gráfico 4, não
mais existe.
O estudo mostra que a equação recomendada pela NBR 14.653-2 para o método evolutivo se
apresenta inválida para algumas situações, dependendo especialmente da combinação entre o
fator de comercialização e a relação entre o custo de reedição das benfeitorias e o valor do
terreno.
O estudo mostra ainda que a adoção da equação recomendada pela NBR 14.653-2 dificulta a
separação dos valores do terreno e das benfeitorias, entendendo-se os conceitos de valor de
benfeitorias e custo de reedição de benfeitorias como distintos. E na ausência de
procedimentos normativos para esta separação, o avaliador pode incorrer no uso de
procedimentos que levem a resultados indesejados. O trabalho evidencia que quando se utiliza
a equação de conjugação de métodos prevista em norma para se obter o valor total do imóvel
e, em seguida, buscando isolar o valor de benfeitorias, subtrai-se o valor inicial do terreno do
valor total obtido para o imóvel, faz-se, inadvertidamente, com que a fração de valor
incrementada ou decrementada no valor inicial do terreno, via fator de comercialização, passe
a compor o valor final isolado das benfeitorias, na forma de um acréscimo ou decréscimo. Por
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outro lado, quando se considera o valor do terreno sendo influenciado pelo fator de
comercialização, podem ocorrem equívocos no uso contábil dos valores.
Cabe esclarecer, porém, que este trabalho não contempla um estudo comparativo de aderência
ao mercado da equação recomendada pela NBR 14.653-2 e a equação com o FC atuando
apenas sobre o custo das benfeitorias. Recomendamos, então, que outros trabalhos sejam
realizados com o intuito de testar a aderência das duas equações ao mercado.
3 – Referências
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