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na ermida de S.

Simion, a moça esperava o seu amigo, que tardava


a chegar; subindo entretanto a maré, ela vê-se cercada pelas ondas
e teme morrer, pois não tem barqueiro para a socorrer, nem saber
remar.
A força poética desta cantiga reside em grande parte no modo
como Mendinho nos consegue transmitir, a partir desta estrutura tão
simples, o desamparo e a inquietação da moça, sozinha na
pequena ilha, e tão receosa com a subida das ondas como com a
possibilidade de o seu amigo faltar ao encontro - o que ela, note-se,
nunca diz explicitamente. Neste sentido, a maré que sobe identifica-
se, simbolicamente, com o seu estado psicológico: de paixão, de
desejo e de frustração. As grandes ondas onde receia morrer.
De resto, este clima emocional é ainda potenciado pela
ambiguidade dos tempos verbais utilizados ao longo das estrofes
(do imperfeito para o presente e futuro), e que deixam a cena
suspensa num tempo indeterminado: estará a moça a recordar-se
de um episódio passado (como poderíamos deduzir do uso do
passado nas duas primeiras estrofes)? Nesse caso, como entender
a mudança para o presente (nom hei) e para o futuro (morrerei) nas
restantes estrofes?

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