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PROPOSTA PARA REDAÇÃO – ENEM

A partir da leitura dos textos motivadores seguintes e com base nos conhecimentos
construídos ao longo de sua formação, redija um texto dissertativo-argumentativo em
modalidade escrita formal da língua portuguesa sobre o tema “A invisibilidade das
questões indígenas no Brasil”, apresentando proposta de intervenção que respeite os
direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos
e fatos para defesa de seu ponto de vista.

Texto I

País multilíngue

(...) Segundo o Atlas das Línguas em Perigo da Unesco, são 190 idiomas em risco no
Brasil.

O mapa reúne línguas em perigo no mundo todo – e o Brasil é o segundo país com mais
idiomas que podem entrar em extinção, ficando atrás apenas dos Estados Unidos.

Adauto Soares, coordenador do setor de Comunicação e Informação da Unesco no Brasil,


explica que o mapa foi feito com a colaboração de pesquisadores especialistas em cada
região e entidades governamentais e não governamentais.

No Brasil, as principais entidades que colaboraram foram o Iphan, a Funai, a Unaids e o


Museu do Índio.

[...] "Esse quadro (de línguas em perigo) pode ser revertido, e é por isso que a gente atua",
diz Soares.

A morte de uma língua não é apenas uma questão de comunicação no dia a dia: a
preservação da cultura de um povo depende da preservação do seu idioma. "Se a língua
se perde, se perde a medicina, a culinária, as histórias, o conhecimento tradicional. No
idioma estão a questão da identidade, o conhecimento do bosque, do mato, dos bichos",
explica o linguista Angel Corbera Mori, do Instituto de Estudos da Linguagem, da
Unicamp.

Mais ainda

O número de idiomas em risco pode ser ainda maior do que o apontado pela Unesco,
porque é possível que algumas línguas, que nunca foram estudadas, tenham ficado de fora
– o warázu, por exemplo, não está incluso no mapa.

Além disso, é possível que existam dezenas de línguas em perigo em comunidades


isoladas, que nunca foram descritas.
Estima-se que, antes da colonização portuguesa, existissem cerca de 1,1 mil línguas no
Brasil, que foram desaparecendo ao longo dos séculos, segundo Corbera.

Ele explica que durante o período colonial, os jesuítas começam a usar o tupi como uma
espécie de língua geral – o que foi visto pela Coroa portuguesa como uma ameaça. O tupi
– e posteriormente outras línguas indígenas – foram proibidos. E quem desobedecesse era
castigado.

A perseguição continuou por séculos. Na era Vargas, por exemplo, o português era
obrigatório nas escolas, e quem desrespeitasse também estava sujeito a punição.

"A situação só melhorou a partir da Constituição de 1988", diz Corbera.

Segundo ele, uma das principais ameaças à língua hoje é a invasão dos territórios
indígenas. "Políticas de preservação e registro da língua são importantes, mas não
adiantam nada se eles não têm território, se são expulsos de suas terras", diz Corbera.

(“O Brasil tem 190 línguas indígenas em perigo de extinção”, de Letícia Mori. Disponível
em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-43010108. Acesso em: 9/9/2020)

Texto II
‘A proposta do governo Bolsonaro ao índio é o genocídio’ – diz subprocurador
"É um 19 de Abril amargo porque a vida indígena nunca esteve passando por tanto
risco, nunca esteve tão periclitada, desde que os portugueses chegaram por aqui.
Infelizmente temos um presidente [Bolsonaro] que não concorda com o estatuto indígena,
acha que não tem que demarcar terra e que os indígenas devem ser integrados. Isso será
uma questão de vida ou morte para eles."
Na data em que o calendário oficial celebra o Dia do Índio, o subprocurador-geral
da República Antonio Carlos Bigonha, 55, coordenador da 6ª Câmara de Coordenação e
Revisão do MPF (Ministério Público Federal), vinculada à PGR (Procuradoria Geral da
República), em Brasília, vê em curso um processo de "retrocesso ao período pré-
democrático e pré-constitucional". Em fevereiro, Bolsonaro enviou ao Congresso um
projeto pelo qual pretende autorizar inúmeras atividades econômicas em terras indígenas,
como mineração e agricultura até com o uso de sementes transgênicas.
"Falo isso porque o presidente da República disse que não vai demarcar nenhum
milímetro de terra e quer transformar o índio num parceiro de ruralistas. Foi justamente
o modelo adotado pelo governo brasileiro e que dizimou o índio até a Constituição de
1988. O SPI [Serviço de Proteção ao Índio, que existiu de 1910 a 1967] tinha por objetivo
transformar o indígena em 'cidadão' e trabalhador rural. O atual avanço da fronteira
agrícola, que atua com a valorização dos commodities, está trazendo de volta esse
paradigma, com muita força. Mesmo que seja uma ideologia de boa fé, ela traduz um
vetor de genocídio indígena. Porque o integracionismo pressupõe um contato com a
sociedade não indígena, o que conduz à morte dessas civilizações."
Bigonha considera este Dia do Índio "o mais grave" desde a Constituição de 1988.
O subprocurador diz que na época do Descobrimento, no século 16, o Brasil contava cerca
de 4 milhões de indígenas. O número foi desabando, com massacres e epidemias de várias
doenças trazidas pelos não indígenas, até chegar a cerca de apenas 220 mil indígenas em
meados dos anos 80. A partir da promulgação da Constituição, em 1988, que assegurou
direitos indígenas de forma inédita no país, principalmente a demarcação e usufruto das
terras tradicionais, a população passou a crescer ano a ano, atingindo, em 2020, algo em
torno de 1 milhão de indígenas.
Para Bigonha, como as garantias constitucionais dos indígenas estão sob ameaça
no governo Bolsonaro, o grande risco é o retorno à fase pré-Constituição. "Se o presidente
da República retrocede no estatuto constitucional, ele está, ainda que involuntariamente,
promovendo uma política genocida. Que ao longo do século provocou a quase extinção
da população indígena. É uma constatação muito triste, que faz esse 19 de Abril um dia
de grande reflexão. Talvez de lá para cá seja o dia mais grave da nossa causa indígena."
(Disponível em: https://noticias.uol.com.br/colunas/rubens-
valente/2020/04/19/coronavirus-indigenas-governo-bolsonaro.htm. Acesso em:
9/9/2020.)

Texto III
Erro de português
Quando o português chegou
Debaixo de uma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português.
(Oswald de Andrade)

Texto IV
Covid-19 e indígenas: os desafios no combate ao novo coronavírus
Christina Queiroz
Revista Fapesp
02/05/2020 04h00
Com 305 povos e 274 línguas diferentes, a população indígena brasileira vive
realidades diversas que envolvem desde grupos isolados até os que residem em áreas
urbanas. A memória histórica de epidemias que chegaram a dizimar aldeias inteiras, no
entanto, permanece um elemento comum que o vírus Sars-CoV-2, causador da covid-19,
tem reavivado, nos últimos meses. Com maior vulnerabilidade a doenças
infectocontagiosas e dependentes de um subsistema médico que apresenta problemas de
articulação com as secretarias estaduais e municipais da Saúde, moradores de territórios
indígenas receiam um novo genocídio.
Na terra dos yanomamis, em uma região dominada pelo garimpo, ocorreu a
primeira morte por covid-19 notificada pela Sesai (Secretaria Especial de Saúde
Indígena), em 10 de abril: um jovem de 15 anos que estava fazendo tratamento contra
malária. "Mais de 20 mil garimpeiros estão instalados ilegalmente em território
yanomami. No passado recente, esse tipo de invasão propagou grandes surtos
epidêmicos", informa Tiago Moreira, antropólogo e pesquisador do Programa de
Monitoramento de Áreas Protegidas do Instituto Socioambiental (ISA) e coordenador da
plataforma covid-19 e os Povos Indígenas, que acompanha diariamente o avanço dos
casos em áreas rurais, com base em boletins das secretarias estaduais e municipais da
Saúde. Até 22 de abril, foram confirmados 42 casos de covid-19 entre indígenas que
vivem em territórios assistidos pela Sesai.
(disponível em: https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2020/05/02/covid-19-
e-indigenas-os-desafios-no-combate-ao-novo-coronavirus.htm. Acesso em: 9/9/2020.)

Texto V

(Brum. In: Tribuna do Norte)

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