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1 Histórico do Basquetebol

Ricardo de Camargo

Introdução
O basquete, como a maioria dos esportes que atravessa várias gerações, vem
evoluindo ao longo do tempo.

Desde sua criação, regras surgiram e foram alteradas, as marcações e as dimensões


das quadras sofreram mudanças e os equipamentos passaram por aprimoramentos. O
ritmo do jogo, a capacidade física dos atletas e as táticas, bem como todo o processo
de desenvolvimento e preparação das equipes, também se transformam
continuamente. Mas para entender a modalidade atualmente, é preciso relembrar toda
a sua trajetória.

Compreender suas características, como ocorreu seu aprimoramento e os contextos


em que esse esporte se manifestou é fundamental para entender e, posteriormente,
ensinar essa magnífica prática que está em transformação.

Bom estudo a todos!

Objetivos
Ao término do estudo deste capítulo, esperamos que você seja capaz de:

 explicar a origem do basquetebol;


 explicar os princípios básicos da modalidade;
 explicar a trajetória do basquetebol brasileiro;

Esquema
1.1 Springfield: o berço do basquetebol
1.1.1 As regras originais de Naismith
1.2 De Springfield para o mundo
1.3 O basquetebol chega ao Brasil
1.3.1 A trajetória do basquete brasileiro masculino
1.3.2 A trajetória do basquete brasileiro feminino
1.4 Considerações Finais

No esporte, não há meio termo, é necessário se doar ao máximo


sempre. É preciso ter disciplina e persistência diariamente. Só com
muito treino é possível aprimorar suas técnicas e habilidades.

1.1 Springfield: o berço do basquetebol


Era o ano 1891, e o rigoroso inverno em Springfield – Massachusetts, EUA – estava
em pleno curso. A prática de atividades físicas e esportes ao ar livre por parte dos
alunos do Springfield College (então conhecida como International YMCA Training
School) estava continuamente sendo reduzida pelo frio da região que impossibilitava
esportes mais comuns, como o futebol, o rúgbi e o beisebol. Ao limitar as opções de
práticas a apenas modalidades em ambientes fechados e particularmente monótonas,
como a ginástica de aparelhos e a calistenia, o que se viu foi tanto uma diminuição do
interesse dos estudantes quanto de seus níveis de atividade física. Dessa forma, o
então superintendente de Educação Física da universidade, Dr. Luther Halsey Gulick
(Figura 1), estava diante de um problema: criar um novo jogo adaptável a ambientes
internos e externos. Além disso, sua ideia era que essa nova prática deveria
contemplar características de outros esportes, de modo que pudessem rapidamente
despertar o interesse dos alunos. Assim, o Dr. Gulick decidiu que algo tinha que ser
feito.

Figura 1 – Dr. Luther Halsey Gulick

Fonte: Wikimedia Commons.

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Esse algo acabou por ser o estabelecimento de um desafio aos alunos da disciplina de
“Psicologia do Jogo” da pós-graduação em Educação Física: a missão de desenvolver
uma solução para a referida deficiência. Seguindo as orientações do supervisor, a
turma deveria elaborar um novo jogo que tivesse menos violência do que o futebol
americano, mas que fosse atraente, de fácil aprendizado e, como se esperava, deveria
ter a responsabilidade de incluir um grande número de pessoas e servisse de
exercício completo. Ninguém àquela altura, por outro lado, tinha seguido o desafio de
Luther. Coube a um estudante de pós-graduação do segundo ano a incumbência de
descobrir uma resolução satisfatória: o recém-nomeado para o corpo docente, James
Naismith.

Aos 31 anos de idade, o professor Naismith acabou encarregado de ser o instrutor do


grupo de estudantes e passou a conviver com a inquietude dos jovens por serem
obrigados a participar de atividades internas para queimar a energia que vinham
acumulando desde o fim da temporada de futebol americano. Perante a constante
insatisfação que ele observava, James se lembrou das discussões que tivera durante
suas aulas no verão de 1891. Durante os debates em sala, o Dr. Gulick já enfatizava
sua turma da pós-graduação sobre a necessidade de um novo jogo interno e os
alertava quanto aos temores dos alunos dos trabalhos obrigatórios e maçantes
exigidos no ginásio diante do fim da temporada dos esportes de outono. Dois
instrutores até chegaram a tentar e não foram bem-sucedidos, mas agora Naismith
tinha uma nova motivação.

Muito tempo e pensamento foram dispendidos para esta nova criação. O jogo que o
professor projetou inicialmente tinha modificações e adaptações de elementos
psicológicos de muitos jogos de sua época, incluindo o rúgbi americano (passando), o
rúgbi inglês (a bola de salto), o lacrosse (uso de um gol) e o futebol (a forma e o
tamanho da bola). Após inúmeras reuniões com os outros professores de Educação
Física para tentarem elaborar rascunhos de diferentes possibilidades, James
expressou que “a coisa errada não era a turma de alunos, mas sim o sistema
empregado”. Ele sabia que o tipo de trabalho necessário para motivar e inspirar os
jovens que assumiu “deveria ser de natureza recreativa, algo que apelaria aos seus
instintos de jogo”. Contudo, nenhuma de suas tentativas atendeu aos objetivos
propostos.

Encontrando-se a ponto de desistir e descartando cada rabisco de que não gostava,


James percebeu que na ação de arremessar bolinhas de papel amassado no lixo
poderia estar um importante aspecto do novo jogo – o arremesso em um determinado
alvo como principal objetivo. A partir disso, as análises do professor ofereceram,
principalmente, deduções quanto ao tamanho e formato da bola, dando-se preferência
à bola redonda – e não oval como a do rúgbi – e grande, uma vez que a bola pequena
resultaria em maior complexidade por requerer raquetes ou tacos. Adicionalmente,
deduziu que não seria permitido agarrar a bola nem correr com ela, indicando
princípios de alta dinâmica. Nessas condições, portanto, o professor Naismith já
dispunha das características iniciais do novo jogo, com uma exceção: quanto ao alvo a
ser atingido pela bola.

<ABRIR BOX CURIOSIDADE>

A primeira bola de basquete da história era um pouco maior do que uma bola de
futebol e foi produzia em 1981, em Massachusetts. O aro de ferro com rede apareceu
somente em 1896, mas a cesta ainda era fechada no fundo. Há relatos de que o
primeiro jogo de basquetebol foi tão empolgante que tiveram dificuldade para retirar os
alunos da quadra após o horário de aula.

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Os alvos verticais localizados no solo, usados pelo futebol e pelo hóquei, tornaram-se
suas primeiras referências e passaram a ser considerados. Para que pudesse avaliar
suas hipóteses, James se aproximou do zelador da escola, o senhor Stebbins,
esperando que ele pudesse encontrar duas caixas quadradas que permitissem
passar uma bola pouco maior que uma bola de futebol para usar para gols. Quando o
zelador voltou de sua busca, ele tinha duas cestas de pêssego em vez disso (Figura
2). Depois de analisar ambas, o professor chegou à conclusão de que alvos com 45
cm de diâmetro – curiosamente a medida exata dos aros usados até hoje – serviriam,
mas suas posições, não. Diferentemente das práticas ao ar livre, esperava-se que a
força física para impulsionar a bola fosse eliminada em recintos fechados.

Figura 2 – James Naismith, o inventor do basquetebol


Fonte: Wikimedia Commons.

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Notando os potenciais efeitos do uso de alvos verticais, as cestas foram colocadas em


pé e dispostas uma em cada lado do campo, de modo que toda vez que a bola caísse
ali dentro, seria contabilizado um ponto. Porém a inferioridade das ações de ataque
apenas aumentou, visto que bastou aos defensores se posicionarem em frente às
cestas e a obtenção de pontos se tornou impossível. Estava claro que os alvos
deveriam ser colocados no alto, a uma altura em que nenhum jogador da defesa
pudesse parar a bola que fosse arremessada.

Para sua solução, Naismith fixou ambas as cestas de pêssego no alto de duas
pilastras de 3,05 m – altura esta que também permanece até os dias de hoje – e
conseguiu, enfim, definir os elementos fundamentais do seu jogo. De modo geral, os
alunos deveriam jogar em equipes para tentar colocar a bola na cesta do time. Uma
pessoa ficaria estacionada em cada extremidade da quadra para pegar a bola da
cesta e colocá-la de volta em jogo. No entanto, as normas iniciais rapidamente se
mostraram insuficientes para controlar o jogo na prática e o primeiro teste foi uma
briga completa. Mais organização era necessária.

<ABRIR BOX SAIBA MAIS>

Para saber um pouco mais sobre como se iniciou, de fato, a prática do basquetebol,
você pode assistir ao vídeo em que é apresentada a única gravação de áudio
conhecida de James Naismith. Nela, o professor explica como o primeiro jogo o levou
a redigir as 13 regras originais, que descreviam o método de movimentação da bola e
o que constituía uma falta.

 “PBS’s NewsHour with Judy Woodruff Highlights Naismith Audio and


Springfield College”, disponibilizado pelo canal Springfield College:
https://www.youtube.com/watch?v=JlgYkCctZcM

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1.1.1 As regras originais de Naismith

Um dos maiores desafios que qualquer um enfrenta quando tenta criar um novo jogo
e seus princípios é prever quais serão os possíveis acontecimentos e
desdobramentos das ações dinâmicas e imprevisíveis características dos esportes.
No caso do basquetebol, qual seria o método para mover a bola? O que constituiria
uma falta? Quem seria o responsável pela organização do jogo? Quanto tempo o
jogo duraria? No mundo dos esportes e em outros lugares, estas são perguntas
difíceis de responder com poucos experimentos. E como tal, Naismith também não
criou todas as regras de uma só vez.

Felizmente, sabemos que o professor continuou a modificá-las e que suas dúvidas


quanto à viabilidade de suas ideias foram sanadas, porque, em 21 de dezembro de
1891, ele se dirigiu ao ginásio do Springfield College para registrar em um quadro de
avisos um regulamento contendo as 13 primeiras regras de seu novo (Figura 3).

Figura 3 – O primeiro livro de regras

Fonte: Getty Images.

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Pouco tempo depois da secretária de Naismith datilografar as regras e entregá-las ao


professor, a turma se reuniu no ginásio e as seguintes regras foram descritas:

 A bola não poderia ser arremessada/passada em qualquer direção com apenas


uma mão ou com ambas;
 A bola poderia ser tapeada para qualquer direção com uma ou ambas as
mãos, mas nunca com os punhos;
 Não seria permitido que o jogador corresse com a bola. Ele deveria arremessá-
la do mesmo ponto em que pegasse; exceto em situações em que recebesse a
bola enquanto estivesse correndo;
 A bola deveria ser segurada pelas mãos ou entre as mãos. Os braços ou o
corpo não poderiam ser usados para isso;
 Não seria permitido puxar, empurrar, segurar ou derrubar um adversário. A
primeira infração dessa regra contaria como uma falta; a segunda,
desqualificaria o jogador até que uma nova cesta fosse convertida; e se
houvesse intenção evidente de machucar, não seriam permitidas substituições
do infrator;
 Uma falta consistia em bater a bola com o punho ou em alguma violação das
regras 3, 4 e 5;
 Se uma das equipes cometesse três faltas consecutivas, seria marcada um
ponto para o time adversário;
 Um ponto seria marcado quando a bola fosse arremessada ou tapeada para
dentro da cesta e lá permanecesse; não era permitido que o defensor tocasse
na cesta. Se a bola estivesse na borda e um adversário movesse a cesta, o
ponto era marcado para a equipe que arremessou;
 Quando a bola saísse da quadra, deveria ser jogada de volta pelo jogador que
a tocou primeiro. O tempo máximo para essa ação era de cinco segundos e,
caso não ocorresse, a bola deveria ser repassada para o adversário;
 O árbitro auxiliar deveria observar as faltas e avisar ao árbitro principal quando
três faltas consecutivas fossem marcadas. Ele possuía o poder de desqualificar
jogadores, de acordo com a regra 5;
 O árbitro decidia quando a bola estava em jogo, a que equipe pertencia sua
posse, além de controlar o tempo. Também ficava ao seu cargo decidir quando
um ponto seria marcado e controlar os pontos já marcados;
 Tempo de jogo: 2 tempos de 15 minutos cada e 5 minutos de intervalo entre
eles;
 A equipe que marcasse mais pontos dentro do tempo estabelecido seria
declarada vencedora. Em caso de empate, o jogo poderia, mediante acordo
entre os capitães, continuar até que outro ponto fosse marcado.

Durante uma breve demonstração, o professor indicou dois capitães (Eugene Libby e
Duncan Patton) e pediu-lhes que dividissem os outros 16 alunos em duas equipes. Os
times foram escolhidos com três pivôs, três alas e três ala armadores. Dois dos
centros se encontraram no meio da quadra, Naismith jogou a bola, e com isso,
iniciava-se a primeira partida de um dos esportes mais praticados e assistidos em todo
o mundo atualmente, mais propriamente conhecido como Basquetebol.

<ABRIR BOX CURIOSIDADE>

O nome Basket-ball não foi dado por James Naismith. Na verdade, o nome foi
proposto por Frank Mahan, um dos alunos de Naismith, depois do professor
canadense recusar a sugestão de batizar seu novo jogo de Naismith Ball.

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1.2 De Springfield para o mundo


Embora o primeiro livro de regras exista desde o dia 15 de janeiro de 1892 – quando
os 13 artigos do regulamento foram enviados à revista da universidade, The Triangle,
e publicados com o título de “Um Novo Jogo” – não há nenhum registro oficial de um
jogo de basquetebol até o dia 11 de março de 1892. Neste dia, os instrutores jogaram
contra os alunos, onde cerca de 200 espectadores compareceram para descobrir
esse novo esporte que nunca tinham ouvido falar ou visto antes. Na história
publicada pelo Springfield Republican, os professores foram creditados com
"agilidade", mas a "ciência" do aluno foi o que os levou a derrotar seus professores
por 5 a 1 (Figura 4). No basquete feminino, por outro lado, sabe-se que a primeira
partida ocorreu já em janeiro daquele ano, sob a supervisão e orientações do próprio
professor James Naismith, entre as professoras da Buckingham Grade School.

Figura 4 – O primeiro jogo de basquetebol com público


Fonte: Getty Images.

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Em poucas semanas, a popularidade do esporte cresceu rapidamente. Foi um


sucesso instantâneo. Quase que simultaneamente, estudantes de outras escolas
introduziram o jogo em seus próprios YMCAs. De posse do artigo de James publicado
na revista da universidade e de seu bem representado corpo estudantil, as regras
acabaram impressas em todo o país e se difundiu vertiginosamente não apenas nos
Estados Unidos, mas também em todo o mundo. Escolas de ensino médio e
faculdades começaram a introduzir o novo jogo, e em 1893, o primeiro jogo de
basquetebol intercolegiado entre duas escolas foi disputado.

Em 1895, o basquetebol estava bem estabelecido em várias escolas secundárias


femininas. Embora a YMCA tenha sido responsável pelo desenvolvimento e
divulgação inicial do jogo, durante uma década a universidade desencorajou o novo
esporte, pois o jogo duro e as multidões barulhentas começaram a prejudicar a missão
principal da YMCA – atividades médicas e missionárias. No entanto, outros clubes
esportivos amadores, faculdades e clubes profissionais rapidamente preencheram o
vazio. Nos anos anteriores à Primeira Guerra Mundial, a Amateur Athletic Union e a
Intercollegiate Athletic Association of the United States (precursora da NCAA)
disputavam o controle das regras do jogo. A primeira liga profissional, a National
Basketball League (NBL), foi formada em 1898 para proteger os jogadores da
exploração e promover um jogo menos difícil. Esta liga durou apenas cinco anos.

Em 1901, faculdades, incluindo a Universidade de Chicago, a Universidade de


Columbia, o Dartmouth College, a Universidade de Minnesota, a Academia Naval dos
EUA, a Universidade do Colorado e a Universidade de Yale começaram a patrocinar
jogos masculinos. Em 1905, lesões frequentes no campo de futebol levaram o
presidente Theodore Roosevelt a sugerir que as faculdades formassem um corpo
diretivo, resultando na criação da Intercollegiate Athletic Association of the United
States (IAAUS). Em 1910, esse órgão mudaria seu nome para National Collegiate
Athletic Association (NCAA). O primeiro jogo de basquete interuniversitário canadense
foi disputado no YMCA em Kingston, Ontário, em 6 de fevereiro de 1904, quando a
Universidade McGill visitou a Queen's University. McGill venceu por 9 a 7 na
prorrogação; o placar foi 7 a 7 no final do jogo regulamentar, e um período de dez
minutos de prorrogação estabeleceu o resultado.

Á medida que a popularidade do esporte continuava seu crescimento, chegava ao


conhecimento do Comitê Olímpico Internacional e um evento de demonstração foi
introduzido nos Jogos Olímpicos de St. Louis, em 1904. No entanto, apenas nos Jogos
de Berlim, em 1936, que o basquete passou a fazer parte do programa olímpico e foi
reconhecido como um evento de medalhas. O basquetebol feminino, por outro lado,
não foi incluído como um evento de medalha olímpica até os Jogos de Montreal de
1976.

<ABRIR BOX CURIOSIDADE>

No ano de 1936, nos Jogos Olímpicos de Berlim, na Alemanha, o próprio James


Naismith jogou a bola ao alto pela primeira vez, marcando a entrada oficial da
modalidade no programa olímpico.

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1.3 O basquetebol chega ao Brasil


Em 1896, chegava ao Brasil um homem chamado Augusto Farnham Shaw, de Nova
York, nos Estados Unidos. Apesar de ser bacharel em Artes pela Universidade de
Yale, ele havia tido contato com o basquetebol em 1892, e fora convidado a ministrar
aulas no Mackenzie College (Figura 5), em São Paulo.

Figura 5 – Primeira equipe de basquetebol do Brasil no Mackenzie College

Fonte: Disponível em: <https://www.cbb.com.br/basquete>. Acesso em 15 fev. 2022.

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Para entender o grau de seu feito, é necessário saber um pouco sobre a disseminação
do esporte pelo mundo. O Brasil foi o primeiro país da América do Sul e o quinto do
mundo a conhecer o basquetebol. Na verdade, os primeiros jogos aconteceram entre
as alunas do Mackenzie, uma vez que os homens demoraram um pouco mais para
aceitar o esporte, justamente porque era muito praticado entre as mulheres. De fato, a
aceitação por parte das mulheres foi maior quando comparada a dos homens, devido
ao machismo imperante na época, mas também pela chegada, alguns anos antes –
em 1894 –, de um forte concorrente: o futebol. Portanto, Shaw teve o trabalho de
convencer os alunos que o basquetebol era uma atividade que poderia ser praticada
tanto por homens quanto por mulheres. E mesmo tendo obtido sucesso na época, não
só basquete nunca teve a chance de se disseminar efetivamente – cenário que
perdura atualmente – como o professor Augusto não pode acompanhar de perto a
difusão do basquete no país, uma vez que acabara voltando para os Estados Unidos
em 1914 e falecendo em 1939.

Em 1912, cerca de dezesseis anos depois do desembarque do professor Augusto, a


primeira partida oficial foi disputada no Rio de Janeiro pelo América Football Club. E
as primeiras regras em português só foram conhecidas quase quatro anos mais tarde.
Estava claro que o basquetebol brasileiro se desenvolvia de forma muito lenta até a
década de 40, estando distante da aceitação e popularidade, em virtude do seu
caráter primordialmente elitista. No entanto, durante a segunda metade do século XX é
que o cenário brasileiro reconheceria sua concretização. Finalmente, um
posicionamento hierárquico começava a tomar forma: em 25 de dezembro de 1933,
trinta e sete anos depois de chegar ao Brasil, a Federação Brasileira de Basketball
(FBB) foi fundada.

Tendo assumido o posto da Confederação Brasileira de Desporto (CBD) e passado a


dirigir o esporte em território nacional, a FBB começou a liderar o processo de
desenvolvimento do esporte e a participar oficialmente de competições internacionais.
Na figura 6, podemos observar os principais acontecimentos com relação ao
basquetebol no Brasil nos séculos XIX e XX, que vai desde a chegada do esporte no
país até a fundação da Confederação Brasileira de Basketball (CBB), em 1941.

Figura 6 – Linha do tempo: histórico do desenvolvimento do basquetebol no Brasil

Fonte: Elaborado pelo autor.

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1.3.1 A trajetória do basquetebol brasileiro masculino


Somos uma nação cheia de tradição na maioria dos esportes que disputamos e a
modalidade basquetebol constitui-se em um importante “subcampo” do cenário
brasileiro. Dessa forma, discorrer sobre a trajetória do basquetebol brasileiro é fazer
uma viagem pela história do esporte, revisitando grandes momentos que marcaram
seu nome definitivamente no cenário mundial. Afinal, em toda a sua passagem, o país
conseguiu atingir títulos inéditos. Contudo, os caminhos do basquetebol masculino e
feminino têm dois legados bem diferentes.

Ao longo da evolução do esporte em nosso país, o basquetebol brasileiro acumula


cinco pódios nas Olimpíadas da Era Moderna – com três medalhas de bronze no
âmbito masculino. Sua primeira atuação aconteceu em 1936, logo na estreia da
modalidade como parte do programa olímpico, em Berlim, na Alemanha. Na ocasião, a
seleção brasileira masculina disputou quatro jogos, vencendo a China (32x14) e
perdendo do Chile, Polônia e Canadá. Por outro lado, com a paralização dos Jogos
devido à Segunda Guerra Mundial – de 1939 a 1945 –, o Brasil teve a oportunidade de
disputar somente torneios sul-americanos, sagrando-se campeão exatamente nos
anos de 1939 e 1945. Ao serem retomados com os Jogos de 1948 em Londres, a
seleção brasileira disputou oito partidas, perdendo somente nas semifinais para a
França (33x43), mas conquistando seu primeiro bronze ao vencer a disputa contra o
México (52x47).

Entre 1960 e 1964, depois de um período sem o mesmo brilhantismo apresentado em


1948, o Brasil voltava a sua fase esplendorosa ao conquistar duas medalhas de
bronze nos Jogos de Roma (1960) e Tóquio (1964). Em ambas as oportunidades, a
seleção participou de oito partidas e fora derrotada apenas pelas duas maiores
potências do basquetebol mundial: Estados Unidos e União Soviética. Entretanto, a
década de 70 mostrou uma seleção masculina instável e uma posição de destaque
nos Jogos Olímpicos jamais foi repetida, até mesmo ficando de fora das edições de
2000, 2004 e 2008.

Em campeonatos mundiais, a seleção masculina acumula 18 participações e 6 pódios.


Com aparições desde 1950, o Brasil conquistou duas medalhas de ouro – em 1959 e
1963 –, sendo essas as grandes conquistas do basquetebol brasileiro em nível de alto
rendimento e fundamental para a consolidação do nosso esporte. Além disso, o país
também conquistou outras duas medalhas de prata – em 1954 e 1970 – e duas de
bronze – em 1967 e 1978. Enquanto isso, no âmbito dos Jogos Pan-Americanos, a
seleção masculina conseguiu emplacar seis ouros, duas pratas e seis bronzes.

<ABRIR BOX SAIBA MAIS>

Conheça mais sobre o histórico do basquetebol, assistindo ao vídeo a seguir.

 “Histórico do basquetebol”, disponibilizado no canal “cristianpenariol”:


https://www.youtube.com/watch?v=rUKUy-9svwI

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1.3.2 A trajetória do basquetebol brasileiro feminino

Apesar da forte expansão do esporte e da inclusão do basquetebol no programa


olímpico desde a edição de 1936, em Berlim, já estávamos na oitava edição com a
participação da modalidade masculina e o basquetebol feminino ainda não fazia parte
das Olimpíadas. Apenas em 1976 nos Jogos Olímpicos de Montreal, Canadá, que o
basquetebol feminino foi incluído, porém o Brasil só teve sua primeira participação em
1992, nas Olimpíadas de Barcelona, Espanha. Todavia, embora tenha menos
participações, o basquetebol brasileiro feminino tem igual importância na história do
basquetebol olímpico.

Detentoras de duas medalhas – uma prata em Atlanta, 1996, e um bronze em Sydney,


2000, a seleção brasileira feminina é uma das maiores vencedoras dos Jogos. Com a
base remanescente do título mundial de 1994, na Austrália, e uma campanha
irrepreensível – 7 vitórias e 1 derrota na final –, o Brasil obteve sua primeira medalha
no âmbito feminino, perdendo a final contra a principal equipe e anfitriã dos Jogos
Olímpicos: a seleção norte-americana.

Em 2000, nos Jogos de Sydney, tradição mantida de sempre estar entre as melhores
do mundo e nova medalha; desta vez, de bronze. Apesar da campanha não ser tão
brilhante quanto em 1996, a seleção brasileira obteve 4 vitórias e 4 derrotas. Na
disputa pelo terceiro lugar, vitória emocionante sobre a Coréia, decidido somente na
prorrogação (84x73, com 65x65 no tempo normal).

Em campeonatos mundiais, a seleção feminina nacional acumula 16 participações e 2


pódios. Com aparições desde 1953, o Brasil conquistou uma medalha de ouro, em
1994, e uma medalha de bronze, em 1971. Enquanto isso, no âmbito dos Jogos Pan-
Americanos, a seleção feminina conseguiu emplacar quatro ouros, quatro pratas e
quatro bronzes ao longo de sua história.

<ABRIR BOX CURIOSIDADE>

As seleções nacionais têm como maiores cestinhas, ou seja, maiores pontuadores de


sua história, os atletas Oscar Schmidt, com 7.693 pontos; e Hortência Marcari, com
3.160 pontos. Ainda, Schmidt é considerado o maior pontuador de todos os tempos do
basquetebol, com 49.737 pontos ao total, e foi incluído no Hall da Fama da Federação
Internacional de Basquetebol (FIBA) e no Basketball Hall of Fame, nos Estados
Unidos.

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1.4 Considerações finais


Embora o basquete não possa ser jogado da mesma maneira que era quando
Naismith o inventou – cestas de pêssego foram substituídas por redes e aros de
metal – sua evolução prova que o jogo transcendeu um século. Conhecer a história
do esporte é, portanto, reconhecer o esforço de nossos antepassados para criar,
desenvolver e chegar ao que hoje é um dos esportes mais praticados e assistidos em
todo o mundo atualmente.

Desde 1891, o basquetebol está em constante crescimento e vem se tornando um


fenômeno esportivo que se caracteriza como um esporte coletivo, cooperativo, de
oposição invasão e que permite diversas possibilidades de atuação para o professor
de Educação Física determinar como ocorrerá o processo de ensino-aprendizagem.
Dessa forma, uma prática consciente e criativa do basquetebol se inicia com uma boa
base teórica, considerando seu histórico, suas características iniciais e sua evolução
ao longo do tempo.

Resumo
Neste capítulo, você viu que, ao contrário de outros grandes esportes, as origens do
basquete não são muito antigas e a maioria dos historiadores concorda que o esporte
foi fundado em 1891 pelo canadense James Naismith, professor de Educação Física
no YMCA (atualmente Springfield College).

Naismith era um estudante de 31 anos do segundo ano da pós-graduação em


Educação Física na YMCA e foi incumbido de fazer uma atividade a ser disputada em
ambientes internos durante os meses de inverno intenso nos Estados Unidos. Diante
das características iniciais que o jogo deveria ter – comportar um grande número de
participantes, ser adaptado a qualquer espaço, servir de exercício completo, ser
atraente e menos agressivo quanto o futebol americano – James buscou exemplos de
vários outros esportes de sua época e até mesmo de séculos passados (com a ironia
sendo que todos os esportes eventualmente teriam versões internas), mas todos
falharam. O professor rapidamente verificou que elas eram insuficientes para controlar
o jogo, de modo que se fazia necessária uma organização para a prática. Nesse
sentido, ele elaborou as primeiras regras do basquetebol, que foram distribuídas em
13 itens, e regulamentou inicialmente o novo jogo.

Como o basquete foi fundado em uma YMCA, que é uma instituição cristã, a
disseminação do jogo coincidiu também com atividades missionárias e médicas
realizadas pela universidade. Usado como parte de seu trabalho no exterior e dentro
da América do Norte, tanto a YMCA como o basquetebol se popularizaram no mundo
todo. Semelhante ao futebol americano, as faculdades então tornaram-se pontos-
chave para a disseminação da modalidade. Com longos meses de inverno em muitas
partes dos Estados Unidos, os estudantes passaram a buscar cada vez mais
atividades recreativas praticadas em ambientes internos durante este tempo. As
faculdades desenvolveram ginásios, equipes, regras e novos conceitos, espalhando a
popularidade do jogo. Mas seu crescimento não se limitou apenas ao âmbito
doméstico; na verdade, foi quase igualado pelo seu crescimento internacional.

Tornando-se um dos primeiros jogos verdadeiramente globais do mundo, ganhou o


conhecimento do Comitê Olímpico Internacional e foi introduzido nos Jogos
Olímpicos de 1904 em St. Louis como um evento de demonstração. Foi só em 1936
que o basquete foi reconhecido como um evento de medalhas.

Em 1896, cinco anos após a criação do novo jogo, o basquetebol chega ao Brasil no
colégio Mackenzie, em São Paulo, trazido pelo professor Augusto F. Shaw. O país se
torna o primeiro da América do Sul e o quinto do mundo a conhecer o esporte.

Referências

BETRÁN, J. O. 1250 ejercicios y juegos em baloncesto: bases teóricas y


metodológicas – Lá iniciación. Barcelona: Editorial Pai do Tribo, 1992, 394p.

CBB. Regras oficiais do basquetebol e manual de árbitros. Rio de Janeiro, 2004.

CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE BASQUETEBOL (CBB). A História Oficial do


Basquete. Disponível em: <https://www.cbb.com.br/basquete>. Acesso em 15 fev.
2022.

CONTECHA CARRILHO, L. F. História del baloncesto. Artigo em publicação


periódica científica eletrônica: lecturas: Educación física y deportes. Buenos Aires, año
7, n. 36, mayo, 2001, 6p.
DAIUTO, M. Basquetebol: origem e evolução. São Paulo: Iglu, 1991.

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