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3 O Basquetebol em sua Essência

Ricardo de Camargo

Introdução
Ao lermos e falarmos sobre o basquetebol nas escolas, podemos perceber que esta
ainda é uma área onde poucos estudos são encontrados sobre o tema, pois a
literatura na maioria dos casos cita o basquetebol em sua forma competitiva e
profissional, dando pouco ênfase ao caráter lúdico e a espontaneidade no ensino
desta modalidade principalmente no que diz respeito às escolas.

Além disso, a importância do papel do professor e da escola no processo de ensino e


aprendizagem torna-se cada vez maior e ganha papel fundamental para que o
basquetebol volte a obter espaço perante as outras modalidades esportivas ensinadas
nas escolas, visto que o basquetebol é sem dúvida um dos esportes mais completos,
já que exige uma gama de habilidades motoras fundamentais e complexas, sendo
portanto, de grande importância na aprendizagem motora do aluno e quando ensinado
de forma lúdica, inclusiva e dinâmica, essencial para o enriquecimento do aluno no
que diz respeito a aspectos sociais e emocionais.

Bom estudo a todos!

Objetivos
Ao término do estudo deste capítulo, esperamos que você seja capaz de:

 explicar a essência do basquetebol;


 descrever as capacidades motoras necessárias para praticar o jogo;
 explicar a trajetória das metodologias aplicadas ao ensino do esporte;
 descrever os princípios metodológicos atuais;
 descrever os fundamentos presentes no jogo;

Esquema
1.1 A essência do basquetebol
1.2 Capacidades motoras e habilidades motoras
1.3 Metodologias aplicadas ao ensino do basquetebol
1.3.1 Princípios metodológicos atuais
1.4 Os fundamentos do jogo
1.5 Considerações Finais

Ter talento é importante, mas não é suficiente. Para ser um jogador


completo, não basta se destacar em uma função, mas sim estar
preparado e ter a persistência necessária para lidar com situações
adversas.
1.1 A essência do basquetebol
Desde o começo, os pesquisadores buscaram classificar o esporte das mais variadas
formas. Os primeiros estudos não apenas o definiram como individuais ou coletivos;
estabeleceram-no de forma muito simples e desconsideraram vários aspectos
presentes na prática esportiva. Um simples exemplo é o basquetebol. Mencione-o
como uma disputa de dois ou mais jogadores com outra equipe, em que,
normalmente, cada jogador tem uma determinada função e posição, por exemplo, e
muitas pessoas irão imediatamente associar a qualquer esporte que envolva um
embate entre dois times. No entanto, com a evolução dos estudos na área, as
modalidades esportivas passaram a ser classificadas de acordo com determinadas
características, e elas podem ser, assim como o basquetebol, esportes de invasão e
não-invasão. Dessa forma, ao contrário do que seu nome indica, esse esporte é muito
mais do que seu objetivo final: a conversão da cesta.

O basquetebol é, em especial, um esporte dinâmico, participativo e com uma


complicada rede de comunicação que compõe a essência de um jogo da modalidade –
ações coletivas, cooperação, oposição e invasão. Nessas circunstâncias, duas
equipes jogam em um espaço compartilhado ainda mais reduzido (meia quadra),
exercendo funções de ataque e defesa, sem que haja a necessidade de esperar o fim
da ação da equipe que detém o objeto do jogo (a bola), acentuando a luta por sua
posse.

Essa dinâmica ocorre devido à constante e inevitável interação defesa-ataque, pois, se


uma equipe está com a posse de bola, consequentemente ela está em ataque; por
outro lado, a equipe sem posse de bola está em defesa. Dessa forma, essa relação
apoia-se em uma estrutura funcional em que, na condição de atacante, uma equipe
deve ter claro o objetivo de buscar ou criar situações favoráveis para marcar pontos.
Enquanto isso, na condição defensiva, os jogadores deverão estabelecer estratégias
para neutralizar o ataque por meio de ações não faltosas. Por esse motivo, a
imprevisibilidade, a cooperação e a oposição e a criação e diminuição de espaços são
os três fatores fundamentais para a prática do esporte. Contudo, capacidades motoras
e físicas são exigidas para que essa prática ocorra.

Figura 1 – Dinâmica do jogo de basquetebol.

Fonte: Elaborado pelo autor.


<DIAGRAMAÇÃO, COLOCAR A FIGURA EM UM TAMANHO QUE O ALUNO-LEITOR
CONSIGA PERCEBER OS DETALHES DA IMAGEM NO LIVRO IMPRESSO.>

1.2 Capacidades motoras e habilidades motoras


Um dos temas implícitos no estudo dos esportes, seja para o desenvolvimento ou para
o treinamento, é a ênfase na função motora. O ponto principal é o que você é
(capacidade) ou não é (habilidade) capaz de fazer quando nasce, embora em ambos
os casos possamos desenvolver e treinar a função motora.

Essa distinção entre habilidade e capacidade se localiza no cerne da diferença entre os


caminhos tradicionais voltados para o aprimoramento dos fundamentos básicos do
basquetebol durante o processo de iniciação ao esporte. Capacidade refere-se as
qualidades físicas de uma pessoa, um potencial, definido geneticamente, que pode ser
atingido ou não. Enquanto que habilidade se refere a uma tarefa com uma finalidade
especifica a ser atingida. Todos nascemos com uma determinada força, ou resistência,
mas precisamos aprender a jogar basquetebol. Assim, quando observamos a execução
dos diferentes fundamentos do jogo – saltar para um rebote, por exemplo, ou executar
um arremesso –, é possível encontrar formas básicas de movimento do ser humano
como correr, saltar e lançar. Por outro lado, também podemos observar a força, a
resistência, a velocidade, a flexibilidade e a agilidade necessárias para garantir o
sucesso na tarefa. No caso do rebote, perceba que o atleta precisa não só do salto,
como da força impulsora, da agilidade e da velocidade de reação, por exemplo. Em
suma, quando essa soma de habilidades específicas (fundamentos) do jogo, ao
contrário, evolui para situações específicas, uma maior organização é requerida – ou
seja, derivam para aspectos táticos (defensivos e ofensivos). Dessa forma, toda a
estrutura da modalidade depende, fundamentalmente, do correto aperfeiçoamento de
dois tipos de capacidades motoras: as capacidades condicionantes e as capacidades
coordenativas. A seguir vamos entender mais um pouco sobre cada uma delas:

Capacidades motoras condicionantes. São capacidades que dizem respeito a maneira


quantitativa que é realizado o movimento, sendo dependentes da transformação da
energia que os músculos liberam. Portanto, quanto mais elevado o nível competitivo no
basquete, maior deve ser seu estado de performance e, consequentemente, maior
deve ser a potencialização das capacidades e habilidades individuais, utilizando
constantemente força, velocidade, resistência, flexibilidade, agilidade e suas diferentes
formas de manifestações.

A resistência física refere-se à capacidade do corpo de resistir à fadiga durante um


esforço físico. Isso possibilita aos atletas a realização de contrações musculares por
tempo prolongado, suportando condições de grande esforço exigidas nos jogos e
retardando ao máximo o aparecimento da fadiga muscular. Já a força é identificada
como a capacidade que o músculo tem de gerar tensão para opor-se a uma resistência
externa. No caso do basquetebol, a força é necessária para garantir a boa execução
dos movimentos. Enquanto isso, a velocidade se traduz na capacidade de desenvolver
uma resposta motriz em um menor tempo possível. Durante o jogo, podemos identificar
a velocidade durante deslocamentos rápidos com ou sem a posse da bola, para
responder rapidamente aos estímulos. Mas além dessas capacidades motoras
condicionantes básicas, outras são igualmente importantes para o desenvolvimento dos
fundamentos técnicos são: a flexibilidade e a agilidade.

A flexibilidade refere-se à propriedade de extensão máxima de um movimento em uma


determinada articulação. Esta facilita a aprendizagem, a execução dos fundamentos e
também atua como agente de prevenção de lesões tanto articulares como musculares.
A agilidade, por sua vez, é entendida como a virtude de mover-se pelo espaço com a
combinação eficiente de coordenação e força. Dessa forma, auxilia o jogador na
adaptação frente a diferentes situações como, por exemplo, trocas de direção e altura
do movimento.

<ABRIR BOX PARADA OBRIGATÓRIA>

A força pode ser dividida em: força de salto (utilizada em arremessos do tipo jump ou
bandeja, ou para rebotes); força de resistência (pré-requisito físico para manter a
qualidade dos gestos técnicos durante o jogo); e força de sprint (para acelerações,
saídas rápidas e mudanças de direções).

A resistência está dividida em resistência geral ou aeróbia e resistência anaeróbia. Já


a velocidade se traduz na capacidade de deslocamentos rápidos – em reações, em
movimentos acíclicos ou de agilidade.

<FECHAR>

Capacidades motoras coordenativas. Definidas como uma classe de capacidades que,


em conjunto com as capacidades condicionantes e habilidades motoras, constituem a
base para a execução e domínio dos gestos técnicos. São, portanto, essencialmente
determinadas pelos processos de controle motor e regulação do sistema nervoso
central. Entre elas destacam-se:

 Percepção espaço-temporal;
 Seleção imagem-campo;
 Coordenação multimembros;
 Coordenação óculo-manual;
 Destreza manual;
 Estabilidade braço-mão;
 Precisão.

Um exemplo de certa forma mais simples de representação dessas capacidades é a


observação de um aluno/atleta realizar um movimento de arremesso em bandeja.
Suponha que você nunca ouviu falar no que é uma bandeja e nunca viu um arremesso
como esse. Quando você é introduzido ao conceito de arremesso em bandeja pela
primeira vez tudo consiste apenas em uma forma isolada de colocar a bola na cesta, e
as capacidades motoras envolvidas realmente não significam muito para você; é
apenas um rótulo para esse movimento. Gradualmente, no entanto, à medida que
você passa um tempo estudando esse tipo de arremesso e começa a entendê-lo, as
capacidades citadas anteriormente podem ser identificadas. Agora, quando você ouve
ou observa esse movimento, você vê o jogador aproximar-se da cesta em velocidade
(espaço-temporal), focar na cesta/alvo (seleção imagem-campo), iniciar a fase de
progressão segurando a bola e preparando o arremesso (coordenação de
multimembros, coordenação óculo-manual e destreza manual), na fase aérea controlar
a bola e arremessar (destreza manual, seleção imagem-campo, estabilidade braço-
mão e precisão). Além disso, percebe a importância do equilíbrio, que, nesse caso, é
fundamental para a retomada do contato com o solo (queda).

Com base nas características estudadas até aqui, podemos concluir que o
basquetebol se constitui de uma variedade de habilidades físicas, desde as formas
mais básicas do movimento corporal humano – como andar, correr saltar –, até as
mais complexas capacidades motoras – como deslocamento em várias direções,
saltar para ter a posse de bola no rebote, executar um arremesso para a cesta ou
passar a bola para um companheiro em movimento. Isso significa que são necessários
conhecimentos amplos e integrações contínuas com a preparação física, tática,
técnica e psicológica, fazendo com que as instituições que o administram estejam
constantemente preocupadas em mantê-lo dinâmico e atrativo, permitindo que haja
uma evolução gradual das suas diferentes formas de manifestação.

1.3 Metodologias aplicadas ao ensino do basquetebol


O fato de que o foco da iniciação esportiva no Brasil era o gesto técnico específico
enfatiza o contexto em que os fundamentos básicos do basquetebol – como o controle
do corpo, o drible, o passe, o arremesso e o rebote – eram aprendidos. O modelo
“esportivizado” era, em essência, caracterizado pelo método tecnicista de ensino para
melhorar o desempenho de uma certa habilidade.

O melhor lugar para se verificar isso em ação é na abordagem do método desportivo


generalizado. Desde a inserção dos conteúdos esportivos nas aulas de Educação
Física escolar na década de 1950 até um passado recente, estes tópicos eram
desenvolvidos por meio de sequências pedagógicas, baseadas na decomposição de
tarefas. Ao propor um padrão ideal de movimento, o professor preocupava-se em fazer
o jogador aprender a execução de determinados movimentos específicos da
modalidade e como essa movimentação, por sua vez, era automatizada.
Concretamente, esse método amplamente utilizado nas universidades e escolas de
educação básica possibilitava separar o movimento em vários outros gestos para que
o aluno treinasse com maior dedicação. Em contrapartida, a prática tecnicista tinha
como foco o desenvolvimento de habilidades específicas apenas fora do contexto de
jogo. A implicação, portanto, era clara: novos métodos de ensino aplicados aos
esportes coletivos precisavam surgir para suprir a prática desprovida de objetivos,
limitada, seletiva e excludente.

Nos 30 anos que se seguiram àquele momento, outras teorias desenvolvimentistas


contribuíram fortemente para a iniciação esportiva no Brasil. Por exemplo, a proposta
pedagógica defendia a necessidade de aprender as habilidades básicas antes de
aprender as habilidades específicas. Mais tarde, no final da década de 1970 e início de
1980, com base nestas teorias, o processo de ensino-aprendizagem passou a
considerar a importância da aprendizagem e do desenvolvimento das habilidades
primárias – como andar, correr, saltar, entre outras. Não era possível continuar
limitando a pedagogia que trata iniciação em basquetebol somente abordando a
dimensão do aprendizado dos fundamentos técnicos e sistemas táticos. Era preciso
dar continuidade nos avanços nessa área do conhecimento e buscar novas soluções
de “pedagogizar” o esporte. Assim, chegava ao país, no final da década de 1980, um
tema que estava muito presente nas discussões acerca da pedagogia do esporte: o
construtivismo.

Embora seu objetivo fosse compreender, de forma simples, certas influências relativas
ao ensino esportivo, a perspectiva de construção do gesto técnico pelo jogador era
tida como fundamental em seu processo de aprendizagem esportiva. Dessa forma,
sua principal tese mostrava a necessidade de o jogador compreender melhor os
movimentos executados e valorizar sua essência individual. Isso significa transcender
a aprendizagem de uma técnica preestabelecida e permitir a manifestação original de
novas formas de movimento, de modo que valorize mais a intenção do arremesso, por
exemplo, do que sua técnica. Mais do que qualquer outra coisa, é preciso entender as
possíveis metodologias aplicadas ao ensino do basquetebol para que a cobrança seja
menor, ao passo que a permissão seja maior. Sob essa perspectiva, existem dois
principais métodos de ensino que podem ser aplicados: o método analítico-sintético e
o método global-funcional.

1.3.1 Princípios metodológicos atuais


Pense em quando você era criança e estava apenas começando a aprender a chutar
uma bola de futebol ou a arremessar uma bola de basquetebol ou imitar um bloqueio
do voleibol. Ou talvez pense em como eram as práticas quando estava apenas um
pouco mais à frente – jogando basquetebol havia seis meses e o jogo estava
justamente começando a fazer sentido, ou você se juntou a um time havia um ano e
finalmente conseguiu o controle básico do corpo, ou aprimorou seu manejo de bola,
seu arremesso ou seu drible e, então, seu professor passou a aplicar fundamentos
individuais de defesa durante jogos recreativos. Em alguns momentos, portanto,
desenvolvemos o gesto técnico decompondo-o em tarefas motoras. Em outros, o
desenvolvimento é pautado na resolução de situações-problema. Em todos esses
casos, no entanto, seja no desenvolvimento de habilidades ou na participação de
algumas partidas menos complexas, os princípios metodológicos estavam sendo
aplicados.

Figura 2 – Características dos principais métodos de ensino.

Fonte: Elaborado pelo autor.


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CONSIGA PERCEBER OS DETALHES DA IMAGEM NO LIVRO IMPRESSO.>

E, porque vemos tais diferenças na iniciação esportiva, é natural assumirmos que um


é melhor do que o outro, uma vez que apresentam características antagônicas. Esse é
um resultado compreensível ao se observar o início da viagem e se concluir que o
resto da viagem será semelhante. Isso está errado. A partir do momento em que
olhamos as circunstâncias, a mensagem é sempre a mesma: o lúdico deve estar
presente nas atividades. E talvez um dos melhores exemplos que temos disso se
origine no basquetebol. Se você examinar o processo de ensino-aprendizagem, verá
que há situações específicas para a aplicação de cada método que será abordado.

Ao longo dos anos, muitas teorias tentaram ser mais efetivas no processo de ensino
do esporte. Alguns dos primeiros trabalhos foram feitos nos anos 1960 com os
princípios analíticos-sintéticos, que partiam da ideia central de ensinar as habilidades e
os fundamentos de uma determinada modalidade mediante a repetição de exercícios
separados do contexto do jogo formal. Neste caso, o método foi desenvolvido para
que pudesse possibilitar mais rapidamente o êxito na execução de determinados
fundamentos, pois favorece a identificação de possíveis falhas e, posteriormente, a
correção de uma técnica. Mas, além de não garantir o mesmo êxito no momento de
aplicar o fundamento numa situação de jogo, muitos professores passaram a retardar
a abordagem do jogo.

Figura 3 – Método analítico-sintético.


Fonte: Elaborado pelo autor.
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Dessa forma, ao contrário do princípio analítico-sintético, o método global-funcional


ensina e oportuniza vivências de questões tanto táticas como técnicas do jogo coletivo
por meio de jogos recreativos. Aqui o aluno experimenta diversas situações-problema
semelhantes às do jogo formal, pois tem melhores condições de interagir com a sua
imprevisibilidade, o que se traduz em uma constante necessidade de resolução de
problemas. Quando, por exemplo, um jogador é marcado de perto, é preciso que ele
tome uma decisão entre tentar driblar o adversário, passar a bola ou arremessar.
Entretanto, é muito importante ressaltar que a prática de deixar alunos jogando
livremente uma partida de basquetebol não se caracteriza como este princípio. Assim,
não se recomenda a escolha de um único método de trabalho, mesmo porque não há
um método capaz de abranger a complexidade de um jogo como o basquetebol.

Figura 4 – Método global-funcional.

Fonte: Elaborado pelo autor.


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E aqui encontramos nossa principal mensagem: é necessário levar em consideração
que as pessoas aprendem por meios diferenciados para que, de acordo com sua
filosofia de trabalho, possa criar um método que seja compatível com as necessidades
e os objetivos do grupo com o qual trabalha, considerando sua faixa etária e o nível de
compreensão do jogo, a fim de que sejam atendidas as questões técnicas e físicas do
jogo, do mesmo modo que as questões cognitivas, afetivas e sociais de quem joga.

1.4 Os fundamentos do jogo

Em geral, conforme o próprio James Naismith, o basquetebol não é apenas um jogo


fácil de jogar; ele também é um jogo difícil de dominar, uma vez que para praticá-lo de
forma competitiva faz-se necessário que os jogadores dominem as técnicas individuais
(fundamentos) do jogo. Algumas das melhores evidências para isso vêm de uma
perspectiva pedagógica. Várias estratégias de ensino têm sido embasadas
teoricamente nos métodos de ensino citados anteriormente, e vão desde exercícios
isolados, em que se trabalha apenas um fundamento, até o jogo de basquetebol
formal, a fim de dar condições necessárias para que o aluno/jogador possa praticar
essa modalidade de forma fácil e natural. Estes fundamentos, por sua vez, podem ser
caracterizados como uma representação técnica de um movimento que é a estrutura
racional de um ato motor para atingir um determinado objetivo – ou seja, é a
sequência de movimentos de determinado gesto esportivo. Sua realização ideal,
portanto, é proveniente da interpretação tempo-espaço e situação do meio
instrumental operativo pertinente à solução da tarefa ou problema com o qual se
defronta. Isso significa que o treinamento da capacidade técnica objetiva
operacionalizar o momento de evolução e consolidação das habilidades motoras
básicas e específicas. Assim, quando classificados de acordo com suas características
e formas variadas de execução, os fundamentos podem ser segmentados em sete
movimentos:

Figura 5 – Fundamentos básicos do basquetebol.

Fonte: Elaborado pelo autor.


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Todas as modalidades esportivas demandam que o praticante tenha consciência e


domínio de seu corpo, mas entre os esportes com bola, é igualmente indispensável o
manuseio e manejo da bola em diferentes contextos do jogo. Sendo o controle
corporal a capacidade de movimentar-se e realizar os gestos específicos relacionados
à pratica do basquetebol e o manejo de bola a capacidade de interação e manuseio da
bola, parado e em movimento, dentro e fora do jogo, ambos os fundamentos servem
de base para todas as ações no esporte. Entre os gestos do controle do corpo
podemos citar corridas para frente, para trás e lateralmente, corridas com mudança de
direção, fintas, giros, paradas bruscas, saídas rápidas e saltos (com impulsão em
ambas as pernas e em uma das pernas) – por isso exercícios para controle do corpo
devem incluir: zigue-zague com cones, saltos com corda, treinamento de pés em
escada de agilidade, deslocamentos laterais, entre outros. Já o manejo de bola está
relacionado ao fato de proporcionar ao aluno o conhecimento sobre o peso e o
tamanho da bola, os movimentos relacionados que ela realiza, além de noções de
tempo e espaço. Para isso, a bola de basquetebol deve ser segurada pela ponta dos
dedos e a palma da mão não deve encostar na bola. Consequentemente, deve-se
oferecer aos praticantes a oportunidade de conhecer as diversas possibilidades de
movimentos com a bola: rolar, tocar, driblar, segurar, lançar, trocar de mãos e
movimentá-la em relação aos planos do corpo. Estes processos devem ser realizados
com o intuito de levar o praticante a obter um eficiente grau de domínio em relação à
bola e ao seu corpo, tornando mais fácil o aprendizado dos demais fundamentos
básicos.

Outro importante fundamento básico, e de ataque, é o drible. Trata-se da habilidade


motora de quicar a bola, impulsionando-a contra o chão com apenas uma de suas
mãos (regra). Atrelado frequentemente ao deslocamento pela quadra, é a única
maneira, permitida pelas regras, que o praticante pode se deslocar pelo espaço de
jogo tendo a posse de bola, além de progredir com a bola em direção a cesta,
controlar o ritmo de jogo, infiltrar em uma defesa, melhorar o ângulo de um passe e
proteger a bola. De acordo com a ação realizada, torna-se possível distingui-lo em
dois tipos de drible: drible alto – ou de velocidade – e drible baixo – ou de proteção.
Quando utilizado para deslocar-se pela quadra sem marcação mais severa, a bola,
normalmente, sobe até a altura da cintura do jogador, quando é novamente
impulsionada ao solo, o que se caracteriza como um drible alto. O drible baixo, por sua
vez, é utilizado quando o jogador de posse da bola sofre uma marcação mais próxima.
A bola, normalmente, sobe até a altura do joelho do jogador, quando é novamente
impulsionada ao solo. Neste caso, deve-se utilizar o braço e a perna opostos à mão
que impulsiona a bola para proteção da mesma. Dessa forma, é preciso que o jogador
aprenda desde o princípio a driblar sem olhar para a bola, uma vez que perderá de
vista seus companheiros, adversários e a real situação na quadra, tendo como
referência o solo, e não a cesta.
Talvez a característica mais marcante do basquetebol desde a sua origem em 1891
seja o passe. É este fundamento que torna o jogo coletivo e dinâmico, pois consiste
em enviar uma bola de um companheiro a outro, favorecendo o jogo em equipe, e
aumenta a velocidade dos deslocamentos da bola, sendo os passes mais rápidos que
os dribles para avançar de um ponto ao outro da quadra de jogo. Isso significa que os
jogadores devem adequar o tipo de passe a ser realizado à distância e estatura
daquele que irá receber, além de levar em conta a presença ou não de defensores na
trajetória que a bola irá percorrer. Portanto, destacam-se diversas formas de realizar
um passe:

 Passe de peito: realizado com as duas mãos na altura do tórax, é o mais


comum de fácil execução, rápido e seguro, e geralmente é executado para
curta e média distância, quando não há adversários no caminho. Para dar mais
força ao passe, é indicado que o jogador dê um passo à frente.
 Passe picado: realizado com uma ou duas mãos, é comumente utilizado em
curta ou média distância, tendo o solo como intermédio do passe entre os
colegas de equipe. Também é muito utilizado para servir o pivô. Para executá-
lo, ambas as mãos devem estar em direção ao solo, fazendo um “quique” de
bola.
 Passe acima da cabeça: realizado com uma das mãos acima da cabeça, é
utilizado, principalmente, para repor a bola em jogo e tem como objetivo
proteger a bola em relação a um adversário mais baixo que o jogador que
realiza o passe.
 Passe de ombro: realizado com uma das mãos alinhada ou acima da cabeça,
é comumente utilizado para passes de média ou longa distância e, devido a
possível elevada amplitude de movimento, há a possibilidade de realizar o
passe com grande força.
 Passe de gancho: realizado com uma das mãos acima da cabeça, é utilizado
para surpreender o adversário, geralmente próximo ao garrafão e à cesta.

Considerando o objetivo do jogo que é o de pontuar mais do que o adversário (regra


número um), o arremesso não só é a ação mais realizada em um jogo, como também
é o principal fundamento do basquetebol. Ele é, em especial, o mais plástico, mais
técnico e o que exige maior grau de precisão e concentração por parte de seus
executantes, apesar de ser simplesmente a habilidade de lançar a bola em direção à
cesta. Consequentemente, a posição do atacante e as características do adversário,
bem como a velocidade de deslocamento, e as características e a localização do
arremessador na quadra, são alguns dos fatores que levarão o jogador a optar por um
ou outro tipo de arremesso que deverá ser realizado. Dentre seus tipos, temos:

 Com uma das mãos: realizado sem salto, é tilizado na cobrança dos lances-
livres;
 Jump: similar ao arremesso com uma das mãos apenas com a inclusão do
salto, é utilizado para médias e longas distâncias;
 Bandeja: caracterizado por dois tempos rítmicos ou passo com uma perna, é
utilizado nos contra-ataques e nas infiltrações após aproximação da cesta;
 De gancho: arremesso em que o braço que lança a bola realiza trajetória
similar a de um ganho, é utilizado pelos pivôs;
 Enterrada: caracterizada pelo jogador “prensar” a bola para dentro da cesta, é
utilizada por jogadores altos ou com grande impulsão.

Por fim, temos o rebote é o ato de recuperar a bola após uma tentativa de arremesso
não convertido, podendo ser defensivo, caso a equipe que não realizou o arremesso
recupere a posse da bola, ou ofensivo, caso a equipe que realizou o arremesso
recupere a posse da bola. Quando a recuperação acontece através de um rebote
defensivo, a equipe terá uma grande chance de realizar contra-ataques. Contudo, ao
se recuperar a bola através de um rebote ofensivo, a equipe conta com duas
oportunidades: fazer a cesta ou ainda, em determinadas situações do jogo, contar com
um novo período de posse de bola. Isso se deve ao fato de que, para um rebote
efetivo, o jogador deve acompanhar visualmente a trajetória da bola arremessada para
a cesta. A partir disso, a equipe pode criar as maiores oportunidades de consignar
pontos a seu favor, fazendo com que um bom trabalho de rebote contará com uma
grande possibilidade de êxito na maioria dos jogos disputados.

1.5 Considerações finais


Ao fazer as considerações finais deste capítulo, desejamos que sejam abertas novas
discussões relacionadas à metodologia do ensino de desportos nas escolas, aqui
especificamente em se tratando do basquetebol. A principal delas talvez seja sobre o
fato de que avistamos a necessidade de negar, ao menos no âmbito escolar, a divisão
entre a brincadeira e o esporte, transformando assim o compromisso nem sempre
salutar com a vitória que poucos alcançam em uma participação que proporcione
prazer a todos.

Negando tal divisão, acreditamos que a relação do ensino dos fundamentos básicos
do basquetebol com as necessidades do aluno proporcionará a aprendizagem através
da alegria, da espontaneidade e da liberdade que a criança apresenta ao se relacionar
com aquilo que ela reconhece como nato.
A principal abordagem deste capítulo está em dar todo o suporte te aos procedimentos
muitas vezes utilizados nas aulas de Educação Física no que tange ao oferecimento
da prática do Basquetebol para alunos em fase de iniciação. Neles, percebemos a
prioridade concedida ao movimento corporal em todos os níveis, o que, infelizmente,
acaba por favorecer os alunos mais aptos, fato que faz da Educação Física uma
disciplina mergulhada num processo de exclusão e afunilamento.

Diante disso, entendemos que a Educação Física alcançará os seus objetivos


somente se houver uma maior atenção quanto a elementos indissociáveis e inerentes
aos anseios que as crianças depositam no seu contato com uma determinada prática.

Resumo

Neste capítulo, apresentamos algumas perspectivas pedagógicas que poderão ser


debatidas pelo leitor na construção do processo de ensino aprendizagem na
modalidade de basquetebol como iniciação esportiva geral. Além disso, evidenciamos
a necessidade de estabelecer novas posturas nos professores frente ao ensino dos
esportes, devido ao potencial de impacto na formação de cidadãos que o fenômeno
esportivo exerce por meio de suas diversas manifestações.

Assim, embora novas metodologias de ensino tenham surgido na literatura com


elevado embasamento teórico (analítico-sintético e global-funcional), é importante
notar que existem diversos outros métodos que possibilitam diferentes aplicações na
prática do processo ensino-aprendizagem-treinamento.

Por conseguinte, será possível, por esse processo de ensino aprendizagem, preparar
nossas crianças, que se maravilham no ambiente de jogos, para que se tornem
adultos integrados com o mundo e, principalmente, consigo mesmos, construindo suas
histórias de vida e enfrentando os obstáculos em sua formação durante a infância e a
adolescência.

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