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Unidade II
5 HABILIDADES MOTORAS
Desafiamos você a tentar explicar o que é uma habilidade, usando, para esse fim seus conhecimentos
atuais. Tome algum tempo refletindo sobre isso, antes de continuar a leitura a partir desse ponto.
Se você se propôs a fazer o que foi pedido, é provável que, para explicar o que é uma habilidade,
você recordou de situações em que viu uma pessoa resolvendo uma determinada tarefa demostrando
uma facilidade incomum. Por exemplo, já deve ter assistido no programa Silvio Santos a um quadro
em que um calouro faz contas de cabeça, propostas pelo apresentador e pela plateia, e acerta todos os
desafios. Esse é um modelo de habilidade: a habilidade para cálculos matemáticos. Outro exemplo é o
de um advogado sustentando uma defesa oral perante o juiz e o corpo de jurados. Ele notavelmente
organiza bem sua fala, usa um vocabulário amplo e apresenta argumentos convincentes para defender
seu cliente das acusações que alguém faz contra ele. Essa é outra habilidade: a da oratória. Repare que
nessas duas situações, as pessoas apresentam uma facilidade para resolver um problema. O primeiro,
para dar os resultados corretos das contas; o segundo, para organizar o pensamento e expor suas ideias,
usando as palavras adequadas sem gaguejar e perder a lógica. São habilidades diferentes, mas que têm
em comum o fato de dependerem da cognição. Elas não envolvem movimentos.
Entenda que estamos usando o exemplo de atletas que são as maiores expressões de suas modalidades
como uma maneira de facilitar a sua compreensão a respeito do tema. Não estamos dizendo que uma
habilidade motora representa o nível mais alto de eficiência na realização de uma atividade. Cumprir
o objetivo de uma tarefa motora representa uma habilidade motora. Obviamente, as pessoas vão
apresentar maior ou menor facilidade para fazê‑lo.
Dito isso, voltemos aos nossos atletas. Será que Lionel Messi nasceu sabendo jogar futebol como
sugerem alguns? Óbvio que não! Jogar futebol implica realizar uma série de movimentos específicos,
como driblar, conduzir a bola, passá‑la a um companheiro e finalizar com o gol, que são ações que
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Unidade II
precisamos aprender. E para efetuá‑las com eficiência é preciso repeti‑las muitas vezes, ou seja, não
nascemos sendo capazes de executar uma habilidade motora específica, mas temos de aprendê‑la ou
reaprendê‑la. Contudo, um fato é curioso sobre as pessoas que se sobressaem pelo nível de manifestação
de uma habilidade: desde muito cedo elas apresentam uma facilidade acima da maioria dos indivíduos
para realizá‑las. Comprove isso procurando por vídeos desses atletas quando crianças. Você vai achar
vídeos do Messi driblando cinco, seis adversários sempre em direção ao gol, como o vê fazendo hoje.
Obviamente, o padrão de realização dos seus dribles e fundamentos foram melhorando ao longo dos
anos, o que foi conseguido com muitos treinos e jogos (repetições). Messi não nasceu sabendo jogar
futebol, assim como ninguém nasce. Entretanto, nasceu com os atributos que o permitiram desenvolver
essa habilidade num tempo menor, e num nível de eficiência superior à maioria dos cidadãos.
Resumindo, uma habilidade motora reflete a eficiência para realizarmos uma tarefa motora.
Uma habilidade precisa ser aprendida para ser executada, e sua melhora é conseguida pela
repetição. Qualquer pessoa pode aprender uma habilidade motora e aperfeiçoá‑la, mas a taxa e
o nível de melhora variam entre os homens. O que ocorre é que alguns não têm oportunidade de
aprender ou de desenvolver certas habilidades.
As habilidades motoras compreendem também as ações que realizamos no nosso cotidiano, fora
do contexto do esporte, como andar, dirigir e dançar. Todas elas precisam ser aprendidas para serem
executadas com eficiência, porém, algumas vezes, pode ser necessário reaprendê‑las. Por exemplo, uma
pessoa que sofre um AVC pode ter um dano neurológico que comprometa sua marcha, e, para voltar a
andar normalmente, vai precisar reaprender a andar.
Agora, sim, podemos falar das capacidades motoras. Afinal, dissemos que é preciso saber diferenciar
habilidades de capacidades. E a primeira parte já resolvemos.
Saiba mais
6 CAPACIDADES MOTORAS
Magill (2004), define capacidade motora como sendo um traço geral de um indivíduo, que sustenta
a realização de uma variedade de habilidades motoras. As capacidades motoras podem ser classificadas,
como: coordenativas e condicionais. As coordenativas são aquelas que dependem dos processos de
organização, controle e regulação dos movimentos. São exemplos de seus componentes: o equilíbrio,
a reação simples e complexa, o ritmo, a orientação espacial/temporal. Por sua vez, as condicionais são
aquelas que dependem dos processos de produção e utilização de energia, como a força, a velocidade,
a resistência e a flexibilidade (BARBANTI, 2010).
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METODOLOGIA DO TREINAMENTO FÍSICO
Lembrete
Na definição da física, força é o agente físico capaz de alterar o estado de repouso ou de movimento
uniforme de um corpo material. Isso significa que se um objeto está parado e você quer colocá‑lo em
movimento, ou ao contrário se está em movimento e você quer pará‑lo, precisará aplicar uma força
nele. A mesma coisa deverá acontecer se o objeto estiver em movimento e você quiser que mude de
direção, que se movimente em velocidade mais alta ou que pare de se movimentar.
De forma geral, a relação do corpo humano com o ambiente e outros objetos se dá pela interação
entre forças. Quando caminhamos, aplicamos força contra o solo empurrando‑o para trás. Como a massa
da terra é maior que a nossa massa corporal, quem se desloca é o nosso corpo. A mesma coisa acontece
quando saltamos. Todavia quando golpeamos uma bola, é ela que se desloca a uma longa distância em
alta velocidade. Note que, independentemente de a alteração no estado de movimento acontecer em
nosso corpo ou nos objetos com os quais interagimos, o que há em comum nesses exemplos é o fato de
nosso corpo precisar produzir força.
A força, como capacidade física, representa a tensão gerada por um músculo ou grupo de músculos.
A força muscular é referida como força interna, enquanto a força dos objetos com os quais interagimos é
denominada força externa (gravidade, atrito, força de resistência do ar, massa corporal de um adversário
ou de um implemento de treinamento etc.). Dependendo de como acontece a interação entre nosso
corpo e o mundo externo, os músculos são exigidos a gerar tensão de maneiras diferentes. Por exemplo,
se a carga que precisamos levantar for muito grande, talvez nossos músculos sejam exigidos a gerar
o nível mais alto de tensão possível. Quando isso ocorre, estamos manifestando nossa força máxima.
Entretanto, quando golpeamos uma bola, como acontece num chute, no futebol, ou num ataque, no
voleibol, temos de gerar força em um intervalo de tempo restrito. Nesse caso, os músculos necessitam
criar tensão no tempo que há disponível para a ação acontecer, o que caracteriza a manifestação
da força rápida. Há ainda situações, no esporte ou fora dele, em que somos exigidos a manter uma
atividade muscular de baixa ou elevada intensidade por períodos prolongados que chegam a se estender
por alguns segundos ou horas. Usando novamente o esporte como exemplo, podemos citar o caso do
ginasta no exercício da argola, que deve sustentar sua massa corporal por três segundos na posição do
cristo, ou do corredor de maratona, que precisa repetir milhares de ativações musculares para produzir
suas passadas por mais de duas horas. Nessas situações, estamos falando da manifestação da força de
resistência ou resistência de força.
Dito de forma direta, a força pode apresentar‑se de três maneiras: força máxima, força rápida
e força de resistência. Além disso, cada uma dessas manifestações pode acontecer em um regime
especifico de ação muscular, ou seja, numa ação muscular concêntrica, excêntrica ou isométrica.
Assim, é correto admitirmos que em determinadas situações podemos ser exigidos a produzir
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Unidade II
força máxima concêntrica, força máxima excêntrica ou força máxima isométrica. O termo força
dinâmica é usado para descrever a força produzida em ações musculares puramente concêntricas
ou excêntricas, ou que combinem esses dois tipos de ações, como no caso das ações do ciclo
alongamento‑encurtamento (CAE). Por outro lado, o termo força estática é utilizado para diferenciar
a produção de força quando os músculos são ativados numa ação isométrica. Repare que os termos
força dinâmica e força estática não se referem a manifestações da força, mas refletem o regime
de ação muscular responsável por gerar tensão.
Estudando diferentes autores, você vai se deparar com muitas nomenclaturas distintas. Não se
desespere. Pense que as manifestações principais da força vão se enquadrar em uma dessas maneiras
que descrevi, independentemente do nome que deem a elas. Porém, não acredite se alguém disser a
você que existem ainda as formas de manifestações da força isocinética, isotônica e hipertrófica. É um
equívoco usar esses termos para diferenciar as manifestações da força.
O termo isocinético vem do nome de um aparelho que se usa para a reabilitação física ou para a
avaliação da força muscular, chamado dinamômetro isocinético. Usando esse equipamento, podemos
avaliar as manifestações da força máxima, rápida, ou de resistência, em diferentes tipos de ações
musculares e velocidades de execução.
O dinamômetro isocinético pode operar numa cadeira extensora, como aquela que você conhece
das academias de musculação, mas com algumas diferenças importantes. No aparelho convencional da
academia, você seleciona quantos tijolinhos vai usar como carga para realizar as extensões de joelho. A
carga selecionada é a mesma durante todo o movimento, mas ao longo da extensão do joelho a tensão
muscular varia em razão das variações dos braços de alavanca (e consequentemente nos toques) e do
comprimento muscular. Assim, a velocidade que sua perna se movimenta durante a extensão do joelho
não é a mesma. Além disso, nesse caso, os músculos são mais exigidos em determinadas angulações.
No dinamômetro isocinético isso não acontece. Nele, em vez da carga, você seleciona a velocidade que
deseja que o movimento aconteça, e o aparelho modifica a resistência ao longo do movimento para
que a velocidade seja constante durante todo percurso articular. Por exemplo, se for selecionada a
velocidade de 90º/s, terá de completar a extensão do joelho em 1 segundo, considerando que na posição
inicial o joelho esteja flexionado a 90º. Esse será o tempo de duração da execução, independentemente
da força que você aplicar e das variações de torque que ocorrem ao longo do percurso articular, pois
o aparelho aumenta ou diminui a resistência oferecida em oposição para compensar as variações de
torque e, assim, manter a velocidade constante. Ou seja, no dinamômetro isocinético as variações da
carga mantêm a velocidade constante durante o percurso, o que faz com que a tensão muscular sofra
menor variação. Portanto, o termo isocinético denota que o aparelho se movimenta em velocidade
constante, mas a força produzida não é constante.
O termo força hipertrófica tem sido usado, indevidamente, para designar a força produzida
nos exercícios voltados para o aumento da massa muscular, ou seja, durante a realização de
um programa que objetive desenvolver hipertrofia. Mas, para obter hipertrofia, é preciso fazer
os músculos repetirem uma certa quantidade de trabalho sob um determinado nível de tensão.
E para conseguir isso, realizamos exercícios que ativam os músculos que queremos hipertrofiar,
usando uma carga que permita repetir em torno de 3 a 4 séries, de 10 a 12 repetições. Portanto, se
quisermos nos referir à força manifestada nesse tipo de exercício, o termo correto é resistência de
força. Força hipertrófica não existe!
Como chegamos a um acordo em relação a isso, vamos agora entender o que influencia nossa
capacidade de produzir força.
A produção da força muscular, em suas diferentes manifestações, é influenciada por diversos fatores.
Todavia, a área de secção transversal dos músculos (ASTM) é o fator principal que determina o quanto
de tensão um músculo é capaz de produzir. A ASTM se refere ao corte imaginário do músculo feito no
sentido perpendicular ao seu eixo longitudinal. Ela representa o diâmetro do músculo, ou seja, quanto
maior o diâmetro do músculo, maior é a capacidade desse músculo produzir tensão.
Diâmetro
muscular
Músculo A Músculo B
Diâmetro de A < Diâmetro de B
Força de A < Força de B
Figura 12 – Ilustração do diâmetro muscular e sua relação com a tensão produzida pelo músculo
Observação
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Unidade II
Intuitivamente todos sabemos disso, mesmo que sejamos leigos no assunto. Quer ver como isso
é verdade? Faça o seguinte exercício: imagine que peçamos para apontar quem é o mais forte entre
alguns dos seus amigos. Quem você iria eleger? Não conhecemos seus amigos, mas temos certeza de
que você pensou naquele que tem músculos mais desenvolvidos (aquele marombado), não foi?! Pois
é, fazemos isso porque percebemos, pelas nossas experiências nas situações do cotidiano, que aqueles
indivíduos com grande massa muscular se dão melhor em situações em que precisam produzir força.
Inclusive, nos referimos a eles como pessoas fortes, com base na sua massa muscular. Dizemos, “fulano
tá forte, olha o tamanho do braço dele”. Embora essa seja apenas uma análise subjetiva da capacidade
de gerar força de uma pessoa, se determinarmos condições equivalentes para a avalição da força de
indivíduos com diferentes massas musculares, de fato, as maiores cargas serão superadas por aqueles
que têm maior circunferência muscular.
A figura a seguir mostra a relação entre a ASTM e a força muscular. Repare que essa relação é positiva, ou
seja, quanto maior a massa muscular do indivíduo, maior a carga que ele é capaz de superar. Podemos concluir,
portanto, que se desejamos aumentar a força de uma pessoa, uma alternativa que temos é de prescrever
exercícios que induzam aumento da massa muscular. Porém, atenção, isso vai funcionar particularmente
para aumentar a força máxima. O que você precisa saber é se esse aumento vai refletir numa melhora no
desempenho de um gesto específico dentro do esporte ou de uma atividade da vida diária.
Força muscular (kg)
Vamos deixar para discutir isso melhor na próxima seção. Aqui a gente está tratando dos fatores
que determinam a produção de força muscular. E outro item muito importante para tanto é a eficiência
do sistema neural em ativar os músculos. Para entender ao que isso se refere, lembre‑se de que, numa
ação muscular voluntária, o comando para ativar os músculos é proveniente da área motora localizada
no encéfalo. Esse comando é enviado na forma de impulsos nervosos, (denominados potenciais de
ação – PA), os quais viajam pelos neurônios motores até chegarem às fibras musculares inervadas por
eles. Ao atingi‑las, os PA ativam o mecanismo contrátil muscular, e então o músculo desenvolve tensão.
Portanto, a capacidade de o músculo gerar tensão depende da ativação do conjunto formado pelo
neurônio motor e pelas fibras musculares que ele inerva denomina‑se unidade motora (UM). Uma UM
produz níveis diferentes de tensão, conforme a quantidade de PA que dispara em um segundo. Analise
a figura a seguir e note que a tensão produzida por uma UM aumenta conforme sobe a frequência de
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METODOLOGIA DO TREINAMENTO FÍSICO
disparos de PA. Logo, um músculo será capaz de produzir um nível mais alto de tensão se tiver unidades
motoras capazes de disparar PA em frequências mais elevadas.
24
20
Frequência de disparos das UM (Hz)
16
12
4
1 5 10 50 100 500 1000
Força voluntária (gramas)
Figura 14 – Relação da frequência de disparos de potenciais de ação com a força muscular produzida
5 100
Frequência (Hz)
Figura 15 – Relação entre a frequência dos PA e a tensão produzida por uma unidade motora
Observação
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Unidade II
Outro fator neural que interfere na eficiência da ativação dos músculos e, como consequência,
na produção de força, é a quantidade de UM recrutadas em uma ação. Para compreender isso, basta
recordar que um músculo é formado por centenas a milhares de UM. Quanto maior o número de UM
ativadas, maior a tensão produzida pelo músculo, ou grupo de músculos, num dado movimento. Assim,
quando intencionamos produzir nossa força máxima, realizamos o maior esforço com o intuito de
ativar todas as UM que compõem os músculos. No entanto, em um esforço voluntário, nunca somos
capazes de ativar todas elas, ou seja, sempre resta um conjunto de UM que não são ativadas. Essas são
chamadas de reserva de ativação. Quando somos destreinados, a reserva de ativação representa um
maior percentual das UM totais que compõem um músculo. O treinamento gradualmente promove
aumento na nossa capacidade de ativar UM. Consequentemente, a reserva de ativação de uma pessoa
muito treinada é muito pequena. É isso mesmo! Um indivíduo treinado também não consegue ativar
todas as UM que compõem um músculo. Isso ocorre particularmente com grandes grupos musculares.
Juntando o que dissemos até agora, podemos resumir da seguinte forma: à medida que treinamos,
aumentamos nossa eficiência de ativação, pois as UM passam a disparar PA em frequências mais altas
e um número maior delas passa a ser ativado. Esses dois fenômenos são referidos, respectivamente,
como aumento da taxa de codificação e aumento do recrutamento das unidades motoras.
Eles acontecem em maior magnitude no início de um programa de treinamento de força, mas são
adaptações que também podem ser observadas em indivíduos já treinados.
Força muscular
Progresso
Adaptações neurais
Hipertrofia
Tempo
O treinamento de força pode ser feito com o propósito de induzir essas duas formas de adaptação neural
sem que sejam induzidos ganhos de massa muscular. Isso pode representar uma vantagem interessante
para atletas que precisam aumentar sua força, mas não podem ficar mais pesados, como os envolvidos em
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METODOLOGIA DO TREINAMENTO FÍSICO
esportes de combate, em que existe um limite de peso para a categoria, aqueles que precisam se deslocar
em alta velocidade, como os velocistas, ou se sustentar e projetar seu corpo no ar, como os ginastas.
Curva força‑tempo
A chamada curva força‑tempo (f‑t) nada mais é que um gráfico que nos mostra que a magnitude
da força que somos capazes de produzir depende do tempo disponível para os músculos se manterem
ativados. A curva ilustrada a seguir reflete uma série de avaliações da força muscular isométrica, no
exercício de extensão do joelho. Note que, ao comando do avaliador, o indivíduo realiza o maior esforço
com intensão de produzir o maior valor possível de força, no entanto demora um certo tempo para ele
atingir sua expressão máxima de força (tensão). Isso varia de exercício para exercício, mas nesse exemplo
a força máxima isométrica foi atingida depois de 1‑2 segundos. Outra informação importante que essa
curva nos dá é a respeito do percentual da força que conseguimos produzir quando há uma restrição
de tempo para o movimento. Repare no exemplo ilustrado que, para tarefas com duração de 200 ms,
o sujeito avaliado conseguiu produzir 60% da sua força máxima. Esses dados são muito úteis para a
programação e a avaliação do treinamento, bem como para diferenciar os atletas.
O treinamento para melhora do desempenho de ações que têm restrição de tempo para acontecer,
como saltos, lançamentos, chutes, golpes e arremessos, deve promover o deslocamento para a esquerda
da curva f‑t, o que significa que o sujeito passaria a produzir um nível mais alto de força no período
disponível para a tarefa ser concluída.
Força %
100
90
60
30
Curva força‑velocidade
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Unidade II
excêntricas é maior que a oriunda em uma ação isométrica (velocidade zero) e nas ações concêntricas.
Além disso, nos revela que a velocidade da ação muscular influencia na magnitude da força produzida.
Veja que, quanto maior for a velocidade da ação muscular concêntrica, menor será força gerada
(lado direto da figura, em azul). No entanto, nas ações musculares excêntrica o efeito é o contrário.
Quanto maior a velocidade das ações excêntricas, maior a força oriunda (lado esquerdo da figura, em
vermelho). A razão para produzirmos mais força nas ações excêntricas é que nelas a tensão formada
é o resultado das tensões somadas dos componentes contráteis e elásticos. Enquanto nas ações
concêntricas e isométricas é o resultado da tensão produzida apenas pelo componente contrátil.
Força medida na ação isométrica
Aumenta 0 Aumenta
Velocidade da ação
Observação
A velocidade no contexto da física representa o tempo que se leva para cobrir uma determinada
distância. Com base nisso, no ambiente dos esportes, costumamos pensar na velocidade motora como a
capacidade de cobrir um percurso correndo, nadando ou pedalando no menor tempo possível. Embora
essa maneira de compreender a velocidade esteja correta, é errado pensar que ela seja a única forma
de manifestação dessa qualidade. Ao longo desse capítulo, vamos diferenciar as manifestações da
velocidade e tentar compreender os fatores que as influenciam.
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METODOLOGIA DO TREINAMENTO FÍSICO
Velocidade cíclica
O termo cíclico significa: volta ao início e se repete novamente. Quando usado para diferenciar
classes de movimentos, ele se refere a ações sequenciais realizadas com os braços, pernas ou tronco, de
maneira rítmica e repetida. Nesse tipo de deslocamento, não conseguimos distinguir o início e o término
do movimento. Exemplos de ações dessa natureza são os executados pelos membros inferiores durante
a corrida e o ciclismo, e pelos membros inferiores e superiores durante os diferentes estilos de nado.
Quando nos referimos à velocidade cíclica, portanto, estamos considerando a capacidade de o indivíduo
repetir movimentos com membros superiores ou inferiores, no menor tempo possível, com o propósito de
deslocar‑se por uma determinada distância. Bons exemplos da manifestação da velocidade cíclica são as
exigências motoras impostas nas provas de 100 m e 200 m rasos no atletismo e de 25 m e 50 m na natação.
Velocidade acíclica
O termo acíclico significa: que não se repete. Chamamos de ações acíclicas os movimentos isolados,
realizados com os braços ou as pernas, que não têm como propósito promover o deslocamento do corpo no
espaço. Essas ações têm seu início e término bem definidos, diferentemente do que ocorre nas ações cíclicas.
São exemplos de ações dessa natureza, os chutes, os lançamentos, os arremessos e as rebatidas. A expressão
da velocidade nesse tipo de ação se verifica no tempo gasto entre o seu início e o término. Quanto mais rápido
o golpe de um carateca, menor são as chances de seu adversário defender‑se. Da mesma maneira, quanto
mais rápida a movimentação do braço do jogador de vôlei, maior será a potência transferida para a bola, e
mais rápida ela viajará em direção à quadra adversária, dificultado as ações dos jogadores da outra equipe.
Velocidade de reação
Tempo (ms)
Por outro lado, na velocidade de reação complexa os estímulos podem variar, o que exige
que o indivíduo selecione a reposta motora mais adequada ao sinal oferecido. Portanto, nesse
caso o estímulo é variado e a resposta deve ser selecionada. O goleiro que se posiciona para
tentar defender uma cobrança de pênalti sabe que o batedor vai chutar ao gol, mas não sabe
a velocidade que a bola virá, nem o canto ao qual ela será direcionada. Quando o chutador
golpear a bola, ele precisará tomar a decisão acertada para aumentar sua chance de defesa. Da
mesma maneira, um lutador de MMA sabe que seu oponente tentará atingi‑lo, mas não se isso
acontecerá com um direto, um cruzado ou mesmo com um chute. Ao sinal de uma investida
de seu adversário, ele precisará determinar a ação que iniciará para se esquivar e conseguir
contra‑atacar.
Lembrete
Velocidade de ação
A velocidade de ação reflete o quão rápido um atleta toma uma decisão durante o jogo. Não se
concretiza na ação em si, mas na rapidez que o esportista manifesta para encontrar uma solução
técnico‑tática para uma situação específica no jogo. Um exemplo disso, pode ser a escolha de um
jogador de defesa no futebol que deve optar por tentar desarmar o atacante adversário ou apenas
acompanhá‑lo numa situação de contra‑ataque em que a defesa está desorganizada. Ou ainda do
goleiro que deve decidir se sai da área para interceptar um cruzamento ou se espera o atacante finalizar
para tentar a defesa.
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METODOLOGIA DO TREINAMENTO FÍSICO
Manutenção Fase de
Fase de aceleração da velocidade desaceleração
12
a b c d
10
0 2 4 6 8 10
Tempo (s)
Repare que na primeira parte do percurso, que vai do ponto “a” ao “b”, os atletas estão aumentando
sua velocidade de deslocamento, isto é , estão acelerando. No momento “b”, é atingida a maior
velocidade de deslocamento, que é sustentada até o momento “c”. Esse intervalo entre os momentos “b”
e “c” refletem a resistência de velocidade. Como a partir do ponto “c” a velocidade começa a diminuir,
o término da corrida acontece em uma velocidade inferior à máxima atingida, ou seja, quando o atleta
não suporta mais a velocidade máxima, inicia‑se a fase de desaceleração (ponto “c” ao ponto “d”).
Cabe‑nos destacar que, embora a resistência de velocidade seja muito importante, o sucesso nas
provas de velocidade de 100 m e 200 m depende também da magnitude da velocidade atingida, do
tempo que o atleta leva para alcançá‑la, bem como da magnitude de redução da velocidade após o
instante que o sujeito começa a desacelerar.
Flexibilidade é o termo adequado para descrever essa capacidade motora, que reflete o grau de
amplitude alcançado numa articulação em um determinado movimento.
Contudo, é comum ouvirmos pessoas se referindo a essa capacidade usando o termo alongamento.
Por exemplo: “você precisa melhorar seu alongamento” ou “você está ruim de alongamento, hein?!”, são
frases frequentemente ditas a uma pessoa que tem arco de amplitude articular limitado. Alongamento
é o meio que usamos para aumentar a amplitude de um movimento, ou seja, é o exercício que fazemos
para melhorar a capacidade de flexibilidade.
47
Unidade II
Os atletas precisam melhorar sua flexibilidade com o intuito de satisfazer as demandas particulares
em termos de amplitude dos movimentos exigidos em suas modalidades. Enquanto os não atletas
necessitam melhorar sua flexibilidade para conseguirem realizar os movimentos do dia a dia com
menos esforço e atenuar as restrições de movimentos causadas pelo desuso e pelo processo natural de
envelhecimento. Para isso, ambos os grupos devem realizar exercícios de alongamento.
Existem diferentes tipos de exercícios de alongamento. A escolha por trabalhar com um determinado
tipo depende da manifestação da flexibilidade que se quer aprimorar. Assim, antes de falarmos dos
exercícios de alongamento, vamos conhecer as diferentes manifestações da flexibilidade.
Movimento lento
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METODOLOGIA DO TREINAMENTO FÍSICO
Aqui, a amplitude do movimento é explorada por meio de uma movimentação que ocorre em
velocidade normal ou rápida. Alguns autores usam o termo flexibilidade balística para se referir à
flexibilidade dinâmica manifestada em ações de alta velocidade.
Por sua vez, a flexibilidade balística é muito exigida nas ações esportivas, como na passagem pela
barreira no atletismo, no chute no futebol, nos chutes altos nas modalidades de combate, na ginástica
e na dança. Também aparecem nos saques no voleibol e no tênis para ilustrar essa manifestação da
flexibilidade em ações que envolvem os membros superiores.
a b
A flexibilidade é considerada ativa quando o sujeito usa a tensão muscular produzida por
seus músculos agonistas e sinergistas para alongar os músculos antagonistas. Por exemplo, se
você estiver em pé e ativar os músculos flexores do quadril de um dos segmentos, isso vai
provocar a projeção do membro inferior à frente (flexão do quadril), com o consequente aumento
do comprimento dos extensores do quadril (glúteo máximo e isquiotibiais) e da amplitude de
movimento nessa articulação.
Por outro lado, a flexibilidade é passiva quando a amplitude de movimento não é explorada pela
ação de um músculo agonista ativo, mas, em vez disso, por agentes externos, como a força gravitacional,
a inércia, a ação de uma máquina ou de um companheiro de treinamento, assim como pela tração feita
pelo próprio indivíduo.
49
Unidade II
a b
Ação muscular Força gravitacional
Sentido do
movimento
Sentido do movimento
Algumas vezes se faz referência à flexibilidade geral para designar a amplitude de movimento
observada em múltiplas articulações, enquanto a flexibilidade específica se refere à amplitude do
movimento em uma dada articulação e verificada num movimento característico de uma modalidade.
Por exemplo, o salto sobre barreira exige grande amplitude de movimento ao longo da coluna vertebral,
ombros e quadril, isto é, sem uma grande mobilidade envolvendo múltiplas articulações, esse atleta
provavelmente não teria sucesso em sua prova. Por outro lado, os esportistas participantes de corridas
com barreiras precisam ter grande amplitude de movimento apenas nos quadris, o que caracteriza uma
amplitude específica em uma articulação.
Você deve ter ficado com a impressão de que repetimos alguns exemplos para ilustrar as
manifestações da flexibilidade. Não é que tenha me faltado criatividade, mas o fato é que pode
50
METODOLOGIA DO TREINAMENTO FÍSICO
haver uma combinação delas. A figura na sequência ilustra essas combinações. Repare que as
flexibilidades estática e dinâmica podem ser exploradas tanto de maneira ativa como passiva.
Podemos dizer que a classificação estática ou dinâmica se diferencia apenas se a amplitude de
movimento alcançada foi mantida ou não, respectivamente. Todavia, a movimentação do segmento
(perna, braço, tronco), tanto numa manifestação estática como dinâmica, pode acontecer por
ação de um músculo (ativa) ou por uma força externa (máquina, força gravitacional, companheiro
de treino). Então, dependendo da condição que a amplitude aconteceu, teremos que usar as
classificações passiva ou ativa.
Por exemplo, imagine que você esteja sentado no chão, com os joelhos estendidos e as pernas
paralelas. Nessa posição, é possível forçar a flexão do seu quadril à frente, através da ação dos flexores
do quadril, em uma ação lenta. Ao atingir a maior amplitude de movimento, ela é mantida por alguns
segundos. Nesse caso você estará manifestando a flexibilidade estática ativa, porque sustentou uma
posição (estática) que foi alcançada pela ação de um grupo de músculos (ativa). Por outro lado, se
esse mesmo movimento for realizado, mas com um colega forçando seu tronco à frente, você estará
manifestando a flexibilidade estática passiva, uma vez que a posição foi mantida, mas alcançada pela
ação de uma força externa.
Flexibilidade
Estática Dinâmica
Para consolidar esse aprendizado, sugiro que você pense em outros exemplos no esporte, ou em
situações do cotidiano. Isso também vai ajudá‑lo a mudar de ideia a respeito da capacidade criativa.
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Unidade II
O grau de amplitude que atingimos em uma articulação pode ser influenciado por um número
muito elevado de fatores. Uma maneira de simplificar a análise deles é classificando‑os em dois grupos:
fatores internos (endógenos) e fatores externos (exógenos).
A complacência da UMT diz respeito à resistência que os tecidos conjuntivos que compõem os
músculos, as articulações, os tendões e os ligamentos oferecem ao serem tracionados. Dois de seus
componentes comuns são o colágeno e a elastina. O colágeno é um tecido com pouca extensibilidade,
contrário ao que caracteriza a elastina. Assim, seria natural esperar que pessoas com diferentes proporções
de colágeno e elastina em seus tecidos conjuntivos apresentassem distintos graus de flexibilidade.
Tolerância ao alongamento
Uma vasta literatura mostra que um fator muito importante na determinação da amplitude de
movimentos que podemos alcançar é nossa tolerância ao desconforto causado pelo alongamento.
Um fato interessante nesses estudos é que os sujeitos submetidos a algumas semanas de
treinamento da flexibilidade reportam a impressão de uma melhora na sua flexibilidade, que não
é confirmada por medidas da amplitude articular. No entanto, acompanhado dessa percepção
subjetiva, os indivíduos relatam uma menor incidência de dor comparada àquela que informaram
antes do treinamento, para uma dada amplitude e carga aplicadas. Esse tipo de dado confirma que
podemos limitar a amplitude articular para evitar o desconforto em angulações mais amplas.
Como você deve se lembrar, nosso sistema musculoesquelético é equipado com receptores sensoriais
especiais que controlam o movimento, chamados proprioceptores. Os fusos musculares são receptores
que estão dispostos paralelos às fibras musculares regulares e têm a função de monitorar tanto o
comprimento como a taxa de modificação no comprimento das fibras musculares. O fuso desempenha
sua função disparando potenciais de ação que resultam numa ativação involuntária do músculo que
está sendo alongado, chamada de reflexo miotático, ou seja, trata‑se de uma resposta contrátil do
próprio músculo que está sendo alongado.
52
METODOLOGIA DO TREINAMENTO FÍSICO
Por causa da limitação que esse reflexo impõe ao alongamento muscular, as pessoas cujos
músculos têm fusos musculares muito sensíveis ao alongamento tendem a apresentar menor
flexibilidade. A interferência desse reflexo na amplitude de um movimento é bastante evidente
em indivíduos que sofreram danos cerebrais decorrentes de um acidente vascular encefálico
(AVE). Cerca de 40% deles passam a apresentar uma rigidez muscular muito grande que impede
a movimentação da articulação, denominada espasticidade. Essa rigidez tem como causa uma
exacerbação do reflexo miotático produzida quando o músculo sofre pequenas alterações em seu
comprimento. Essa resposta é tão ampliada que impede que o indivíduo estenda a articulação,
permanecendo o tempo todo com o membro flexionado. Ela é decorrente de danos provocados em
regiões do encéfalo que afetam as estruturas responsáveis pela inibição desse reflexo.
Idade
Notou que as crianças são normalmente muito flexíveis, enquanto os idosos tendem a ter dificuldade
em realizar movimentos amplos. Quem não se lembra de conseguir morder o dedão do pé quando
criança? Todavia, se você tentou fazer isso recentemente, deve ter ficado desapontado por ter perdido
essa habilidade.
O período sensitivo para o desenvolvimento da flexibilidade se situa entre 7 e 11 anos. Por volta
dos 15 anos de idade, nós atingimos nossa flexibilidade máxima, que tenderá a diminuir conforme
envelhecemos. Isso não quer dizer que um adulto não possa melhorar sua flexibilidade, mas que,
uma vez que deixemos de treinar essa capacidade antes da puberdade, teremos muita dificuldade em
desenvolvê‑la em níveis ótimos na idade adulta.
Essa dificuldade crescente pode estar relacionada com as alterações que ocorrem na composição dos
músculos conforme envelhecemos. O processo natural de envelhecimento é associado a uma série de
mudanças fisiológicas que acometem os tecidos corporais. Uma dessas alterações, que podem impactar
significativamente na flexibilidade, é a diminuição da resiliência das fibras de elastina que compõem os
tecidos conjuntivos, reduzindo a extensibilidade dos tecidos que envolvem as microestruturas musculares
(endomísio, perimísio e epimísio).
que compõem os músculos. Essa perda de fibras é compensada por um aumento na quantidade de
tecidos gordurosos e de colágeno. Como o colágeno tem uma capacidade de extensibilidade muito
baixa, essa substituição implica maior resistência do músculo ao alongamento.
Observação
Gênero
Todos já percebemos que as mulheres tendem a ser mais flexíveis que os homens, não é verdade?
Isso é bastante evidente quando comparamos a amplitude de movimento nas mesmas articulações de
pessoas com idade similar.
Outra diferença na estrutura óssea, que torna as mulheres mais flexíveis que os homens, é observada
na anatomia do cotovelo. Uma vez que elas têm uma curvatura superior mais curta no olécrano, é
comum que sejam capazes de hiperestender os cotovelos, diferentemente dos homens.
Por sua vez, no que diz respeito à resiliência dos tecidos conjuntivos, as mulheres possuem uma
maior taxa de amortecimento para os tecidos moles em comparação aos homens, o que as capacita a
absorver com eficiência o alongamento elástico, isto é, sob a ação de uma carga de igual magnitude, os
tecidos conjuntivos das mulheres sofrem maior aumento de comprimento.
Além da tendência em ser mais flexíveis que homens, elas têm um aumento da sua mobilidade
articular durante a gravidez. Essa flexibilidade extra é decorrente do aumento da lassidão articular,
que pode ser provocada tanto por fatores mecânicos, por exemplo a atuação do peso do útero sobre a
borda pélvica ou por modificações no centro de massa, como também pelo aumento da circulação do
hormônio relaxina nos períodos que precedem o parto. Esse hormônio tem a capacidade de diminuir a
resistência dos ligamentos ao alongamento, permitindo uma maior mobilidade articular. Após o parto,
a concentração da relaxina na circulação é reduzida, e os ligamentos se enrijecem novamente, fazendo
com que as mulheres restaurem sua flexibilidade normal na região pélvica.
54
METODOLOGIA DO TREINAMENTO FÍSICO
Observação
Temperatura
As pessoas costumam ter a sensação de que sua flexibilidade é diferente dependendo do horário do
dia. De fato, pesquisas mostram uma tendência de apresentarmos uma menor flexibilidade nas primeiras
horas da manhã, logo ao acordarmos. A amplitude dos movimentos tende a aumentar nas primeiras
horas da manhã e da tarde, voltando a diminuir novamente ao anoitecer. Particularmente, quando essa
modificação da flexibilidade diz respeito à flexão lombar, especula‑se que sua causa seja a expansão
dos discos intervertebrais ao longo da noite, provocada pela reidratação que sofrem quando estão sob
menor carga durante o repouso deitado (ALTER, 2010).
Considerando os exemplos que foram usados neste livro‑texto para ilustrar as diferentes manifestações
da flexibilidade, você pode ter sido induzido a pensar que o treinamento dessa capacidade seja importante,
particularmente, para os atletas. No entanto, tal treinamento é da mesma forma importante para
indivíduos comuns. Pessoas comuns podem necessitar dedicar tempo para melhorar essa capacidade
quando passam a ter restrições na amplitude de movimento em decorrência de uma fratura, de uma
lesão, do desuso crônico ou do processo natural de envelhecimento. Seja qual for o motivo da diminuição
da amplitude do movimento, uma baixa flexibilidade pode afetar significativamente a funcionalidade
do indivíduo não atleta e, consequentemente, sua qualidade de vida. Para essa população, treinar a
flexibilidade é importante a fim de poder realizar com menos esforço as atividades do dia a dia, para a
promoção das sensações de bem‑estar e conforto. Além disso, ele pode ainda ser indicado para promover
a melhora da postura e a diminuição de dores nas costas, especialmente na região lombar, decorrentes
do encurtamento natural de músculos posturais.
Da mesma maneira, o atleta também se beneficia do treinamento da flexibilidade por múltiplas razões.
Em modalidades, como a ginástica artística, a dança e a patinação artística, a flexibilidade é um fator que
tem influência fundamental no resultado do esporte. Nesses esportes, os atletas devem realizar movimentos
55
Unidade II
de amplitudes máximas, caso contrário sofrem deduções importantes em suas notas. Por sua vez, esportistas
de outras áreas, como a natação, o remo e as modalidades coletivas, não precisam atingir arcos articulares
máximos e não são sequer avaliados pela sua amplitude de movimento. No entanto, a otimização da
flexibilidade para eles pode aumentar a potência dos movimentos, melhorar a técnica e diminuir o risco de
lesões musculares, o que também acaba afetando positivamente no sucesso em sua carreira.
Pois bem, como vimos ao longo desse tópico, a amplitude do movimento pode ser explorada em
diferentes condições, ou seja, a flexibilidade não se manifesta de uma única maneira. Do mesmo modo,
existem diferentes exercícios para o seu treinamento. Vamos tratar deles a seguir.
Alongamento estático
Não existe consenso em relação à dosagem ideal dos exercícios de alongamento estático, no entanto,
parece que realizar de três a quatro aplicações, com duração entre 15 e 60 segundos, pode ser suficiente
para promover ganhos significativos na amplitude articular.
Outra variável que pode ser modulada no treinamento da flexibilidade através do alongamento estático
é a intensidade da força aplicada para ampliar o arco articular normal. No entanto, os estudos a esse
respeito são controversos. Em um deles, realizado por Walter et al. (1996) apud Alter (2010), os exercícios
executados na intensidade entre 85% e 100% da máxima produziram ganhos superiores aos conseguidos
com o treinamento a 60% de intensidade. Apesar disso, Apostolopoulos (2001) apud Alter (2010), defende
que o alongamento deve ser sempre feito em intensidade abaixo de 30% a 40% do esforço máximo.
É importante destacar, no entanto, que nas situações práticas fora do ambiente de laboratório a
dosagem dessa variável é baseada na percepção subjetiva, já que não existe uma maneira de medir
56
METODOLOGIA DO TREINAMENTO FÍSICO
a força aplicada no alongamento realizado nessas condições. Em razão disso, sugere‑se que a tensão
imposta seja dosada com base na resistência oferecida ao alongamento e em consideração ao relato de
desconforto do sujeito. Se a pessoa disser que está doendo muito, seria aconselhável respeitar seu relato
e não forçar a amplitude além desse ponto. Contudo, os indivíduos têm diferentes sensibilidades para a
dor. Por isso, se você estiver usando esse método em alguém, sua decisão em aumentar ou não a força
aplicada precisa considerar se o sujeito não está com medo de se lesionar.
De qualquer forma, se o medo for o fator limitante para alcançar maior amplitude articular, o
treinador deve ser paciente e gradativamente ganhar a confiança do aluno. Com o passar das sessões,
o discente irá perdendo o medo e relaxará, o que o levará a alcançar uma amplitude articular maior.
Uma observação importante em relação a isso é que durante a aplicação desse método percebe‑se
que, mesmo não aumentando a força aplicada, após alguns segundos a amplitude de movimento cresce.
Tal fato pode acontecer porque o sujeito relaxa e diminui a resistência em oposição ao alongamento.
Todavia pode ser também decorrente da acomodação das fibras de colágeno que compõem os tecidos
conjuntivos (efeito creep), ou da diminuição da atividade dos fusos musculares, reduzindo a tensão
gerada no reflexo miotático. Portanto, tão importante quanto a magnitude da força aplicada no
alongamento estático, parece ser o tempo de manutenção na posição limite alcançada (AVELA et al.,
1999; KUBO et al., 2001).
Com relação a isso, tem sido sugerido que durante a aplicação do alongamento estático, em
indivíduos iniciantes no treinamento dessa capacidade, deve‑se priorizar o aumento gradual do tempo
de aplicação do exercício, enquanto a aplicação de tensões mais altas tem de ser feita em pessoas mais
experientes e que precisam atingir amplitudes máximas de movimento, como os ginastas e artistas
performáticos (ALTER, 2010).
Alongamento dinâmico
Alongamento balístico
Um aspecto particular do alongamento balístico que precisa ser mencionado é o risco aumentado
de lesão muscular, em contraste ao uso do método estático e dinâmico. No uso do método estático,
a aplicação da tensão é gradual, o que permite melhor controle da sobrecarga. No método dinâmico,
a velocidade é baixa, então o estresse sobre os tecidos não é elevado. No entanto, durante o método
balístico, a elevada velocidade de execução e o momento gerados tornam‑no muito agressivo para
as estruturas musculotendíneas. Por isso, não é aconselhável a sua utilização em crianças e idosos.
57
Unidade II
Esse método é particularmente apropriado para atletas que precisam desenvolver a flexibilidade
dinâmica em níveis máximos, como ginastas, bailarinas e caratecas.
A FNP não é exatamente um exercício, mas um método, já que consiste em combinar exercícios de
alongamento estático ou dinâmico com contrações musculares isométricas ou dinâmicas. Através das
diferentes combinações possíveis, consegue‑se realizar múltiplas técnicas de FNP.
Independentemente da técnica de FNP que se aplique, o princípio desse método consiste em induzir
o reflexo miotático inverso (RMI) e/ou o reflexo de inibição recíproca (RIR) no músculo‑alvo (músculo
que se quer alongar). Como você deve se lembrar, o RMI é desencadeado pelos OTG, e consiste na inibição
dos motoneurônios alfa de um músculo que está submetido a uma elevada tensão. Por sua vez, o RIR
é a resposta inibitória que se observa nos antagonistas de um músculo que é alongado. Aproveitando
o efeito inibitório produzido por esses reflexos, pode‑se forçar o segmento além da amplitude normal,
uma vez que o músculo alvo deverá oferecer menos resistência ao alongamento.
Técnica sustentar‑relaxar
Essa técnica é também chamada de contrair‑relaxar. A ideia desse procedimento é induzir o reflexo
miotático inverso no músculo agonista (que está sob alongamento) para que nessa condição ofereça
menor resistência ao alongamento. Para conseguir isso, devem‑se executar os seguintes passos:
• realizar o alongamento estático passivo do músculo agonista, levando o segmento corporal até o
limite da amplitude articular;
• solicitar, na posição alcançada, que o sujeito realize uma contração isométrica desse músculo
contra uma resistência (restrição feita por um parceiro, por exemplo). Essa contração deve durar
entre 5 e 10 segundos e ser de intensidade máxima;
• aplicar o alongamento estático passivo do músculo agonista, procurando levar o segmento a uma
amplitude maior do que a conseguida inicialmente. A amplitude alcançada nesse alongamento
passivo deve ser mantida por 30 a 40 segundos, antes de se repetir a técnica.
58
METODOLOGIA DO TREINAMENTO FÍSICO
Técnica sustentar‑relaxar‑contrair
• terminada a contração, deve‑se alongar de maneira passiva o músculo agonista (alvo) por cerca
de 30‑40 segundos;
• em seguida, ainda mantendo a posição alcançada, deve‑se contrair os agonistas por cerca de
8‑10 segundos, de maneira isométrica;
Técnica contrair‑relaxar‑balancear
Técnica alongamento‑estático‑alongamento‑dinâmico
Não se deve usar essa técnica em pessoas que não precisam desenvolver níveis máximos de
flexibilidade, especialmente crianças e idosos. Ela envolve a combinação dos alongamentos estático e
dinâmico. O alongamento dinâmico de velocidade crescente no músculo antagonista é efetuado com o
propósito de ativar a inibição recíproca, que nesse caso irá afetar o agonista. Uma vez inibido, o agonista
oferecerá menor resistência ao alongamento.
As pesquisas não são definitivas em apontar quantas vezes por semana é preciso realizar exercícios de
alongamento para aumentar sua flexibilidade, mas são bem respaldadas as orientações que propõem um
mínimo de dois treinos semanais para manter níveis satisfatórios dessa capacidade. Contudo, o desenvolvimento
ótimo da flexibilidade pode exigir até dois treinos diários, executados todos os dias da semana.
7 RESISTÊNCIA MOTORA
Na literatura encontramos uma série de definições sobre essa capacidade. Muitas delas têm o mesmo
significado; outras, são específicas a um tipo de resistência, mas não refletem as demais manifestações. Porém,
uma definição bem aceita para a resistência motora é a que a descreve como a capacidade de o indivíduo sustentar
um determinado nível de produção de força. Inicialmente, essa explicação pode causar certa estranheza, porque
relaciona a resistência à força. Todavia, como verá ao longo desse tópico, ela se aplica adequadamente a todas
as expressões da capacidade. E como também já deve ter notado, as capacidades motoras se inter‑relacionam.
Manifestações da resistência
Se lhe for pedido para dar um exemplo de atividade motora que seja uma expressão da capacidade de
resistência, aposto que vai pensar na maratona. Se esse fosse o seu exemplo, não estaria errado, porque
trata‑se de uma prova de resistência aeróbia de longa duração. Contudo diz respeito a apenas uma
das diferentes formas de manifestação dessa capacidade. A resistência recebe diversas classificações,
conforme os critérios que se consideram, os quais incluem: o volume muscular envolvido na atividade;
o grau de semelhança da atividade praticada em relação à modalidade do atleta ou ao gesto que se
pretende aprimorar; o sistema energético predominante e a duração do esforço; e os requisitos motores.
Vamos então verificar quais são as classificações da resistência, de acordo com esses critérios:
É difícil saber o que é um 1/6 do volume muscular total, não? Como um parâmetro, Weineck (1999)
nos sugere que a musculatura de uma perna representa cerca de 1/6 do volume muscular total. Faltou
esclarecer se isso é válido para indivíduos sedentários ou apenas para atletas.
Uma alternativa bem aceita a essa referência, é a que correlaciona como resistência geral aqueles exercícios
sustentados que envolvem a movimentação simultânea de mais de uma articulação. Em contrapartida, os
60
METODOLOGIA DO TREINAMENTO FÍSICO
exercícios monoarticulares são classificados como de resistência localizada. Obviamente, essa distinção
também considera o volume muscular ativado no exercício, já que quanto maior o número de articulações
em movimento, maior será a massa muscular ativa. Por exemplo, na realização de múltiplas repetições do
exercício de agachamento movimenta‑se as articulações do quadril, joelhos e tornozelos, então ele seria
classificado como de resistência geral. Por outro lado, o exercício de rosca direta com halter (flexão de
cotovelos) seria um exemplo de prática de resistência localizada.
De acordo com o grau de semelhança que a atividade desenvolvida tem com o gesto realizado numa
modalidade, ou prova competitiva, a resistência pode ser classificada como geral (ou de resistência
básica) ou específica. Nesse caso, quando o exercício não tiver relação com as características da
modalidade, ele será correlacionado como de resistência geral. Por exemplo, se um jogador de voleibol
realizar várias sessões de treinos de corridas de 10 km em ritmo constante, ele estará desenvolvendo sua
resistência geral, porque não corre longas distâncias em velocidade constante, e numa única direção.
Contudo, o mesmo treinamento de corrida promoveria o desenvolvimento da resistência específica para
um corredor de provas de longa distância.
Esse critério, embora bastante utilizado, pode ser fortemente contestado, já que há algum tempo
sabe‑se que a participação e a predominância do sistema aeróbio ocorrem muito mais cedo do que
sugerido nessa classificação. Conforme demonstrou Gastin (2001), o sistema aeróbio contribui com
aproximadamente 50% da energia total necessária para a realização de um esforço máximo com duração
entre 60 e 75 segundos. Trata‑se do sistema energético predominante num esforço de 90 segundos de
duração, sendo responsável por 56% da energia total utilizada. Portanto, nos esforços que Weineck
(1999) classificou como de RCD já haveria uma predominância aeróbia, e não dos sistemas anaeróbios.
61
Unidade II
Essa classificação considera a relação intercambial da resistência com outros dois fatores do
condicionamento físico: a força e a velocidade. De acordo com isso, a resistência pode ser classificada como
resistência de força, resistência de força rápida e resistência de velocidade (WEINECK, 1999). A resistência
de força reflete a capacidade de sustentar um determinado nível de força, por períodos curtos, médios ou
longos. A duração da manutenção da força obviamente, está atrelada à magnitude do esforço realizado,
ou seja, quanto maior o esforço exigido na atividade, menor será sua duração. Por exemplo, no movimento
crucifixo na prova das argolas, na ginástica, o atleta precisa produzir um nível de força elevado e a manter
por 3 segundos para se sustentar na posição e ter o exercício validado. Esse é um modelo de manifestação
da resistência de força de curta duração. Por sua vez, o esquiador que participa de uma prova de descida
montanha abaixo, deve se manter na posição agachado ao longo da descida que dura de 1,5 a 2,5 minutos,
o que é uma expressão da resistência de força de média duração. Já os corredores de meio‑fundo e de
fundo, precisam repetir a aplicação de força durante as milhares de passadas que dão para completar suas
provas. Como a duração é longa, o nível de esforço é baixo, essa solicitação caracteriza a manifestação da
resistência de força de longa duração.
Nessa variante, o ritmo do exercício é mantido do início ao término do percurso planejado. Pode ser
diferenciado em método contínuo de ritmo uniforme extensivo e método contínuo de ritmo uniforme
intensivo. A melhor opção para prescrição do ritmo nessa variação é através do tempo médio que se
leva para percorrer um quilômetro ou, no caso do ciclismo, determinar a velocidade média a ser mantida
no velocímetro da bicicleta. Trata‑se da variante mais conhecida do método. A variante extensiva é
bastante apropriada quando se deseja aumentar a distância já percorrida habitualmente por alguém que
treina há pouco tempo. Contudo, também, é utilizada no desenvolvimento da RLD III, por exemplo para
maratonistas e ciclistas de estrada. Esse método já foi muito popular entre os corredores de distância,
mas tem sido menos empregado nos dias atuais.
Já o método contínuo de ritmo uniforme intensivo, quando usado para atletas experientes,
compreende cobrir distâncias de treinamento dentro do tempo de 45 a 60 minutos, e de 15 a 30 minutos
para esportistas amadores. Em razão de a intensidade da atividade ser alta, as distâncias percorridas são
mais curtas em comparação à variante extensiva. Pela mesma característica, aconselha‑se não repetir
esse treinamento mais do que 2 ou 3 vezes por semana.
62
METODOLOGIA DO TREINAMENTO FÍSICO
Intensidade
Intensidade
Tempo/distância Tempo/distância
Nessa variante do método contínuo, são programados aumentos graduais no ritmo (velocidade)
ao longo do percurso. Eles devem ser suaves. As distâncias percorridas e o número de rampas de
velocidade são determinados livremente pelo treinador. É uma variante usada para elevar o ritmo
médio da prova.
Intensidade
Tempo/distância Tempo/distância
63
Unidade II
O método contínuo de ritmo variado combinado pode ser feito de duas maneiras:
incrementando a velocidade ao longo da primeira parte do percurso e diminuindo na segunda
parte, ou na ordem inversa. Além disso, é possível fazer mais de uma rampa de aumento e
diminuição da velocidade. Essa variante é útil para simular as variações das condições em
percursos acidentados.
Intensidade
Intensidade
Tempo/distância Tempo/distância
Esse método é também chamado de Fartlek. Muito popular entre os atletas e treinadores,
ele se caracteriza pela realização de corridas contínuas que incluem alternâncias de distâncias,
de intensidades e do tipo de terreno, de acordo com a disposição do indivíduo e de maneira
totalmente aleatorizada.
Sua principal característica é a realização de um treino livre, sem controle. O que prevalece são a
vontade e a disposição do corredor, que tem a liberdade de variar a velocidade sem planejamento prévio,
regras ou sistematizações, além de alternar o tipo de terreno (asfalto, grama, areia, terra batida) e o tipo
de plano, como aclives e declives. Tudo isso feito sem controle ou rotina, o que incorpora um caráter
lúdico ao treinamento.
Métodos intermitentes
Os métodos intermitentes são caracterizados por haver a intercalação de períodos de esforços com
outros de repouso. Os esforços aqui utilizados são cíclicos e produzem deslocamento de todo corpo ao
longo de uma distância. Podem ser distinguidos em método intervalado extensivo, método intervalado
intensivo e método de repetições.
64
METODOLOGIA DO TREINAMENTO FÍSICO
R R R
E E E E
Intensidade
Intensidade
R R R R
E E E E E
Tempo/distância Tempo/distância
O método intervalado extensivo é caracterizado por um volume elevado, mas com intensidade
baixa. Os percursos são feitos em distâncias entre 200 e 1.000 metros, com intervalos de repouso
entre os esforços com duração de 30 a 300 segundos. A tabela a seguir é uma sugestão de
configurações de treinos de corrida com essas características (SCHMOLINSKY, 1980 apud
WEINECK,1999).
Tabela 1
Percurso Total de corridas Séries Repetições Pausa entre repetições Pausa entre séries
200 m 20‑40 3a4 7 a 10 30‑90 s 3 a 10’
400 m 20‑40 3a4 7 a 10 60‑90 s 3 a 10’
800 m 10‑20 3a4 3a5 60‑120 s 3 a 10’
1.000 m 8‑12 3a4 3a4 120‑300 s 3 a 10’
O método intervalado intensivo é caracterizado por um volume baixo, mas com intensidade
alta. Os percursos são feitos em distâncias entre 600 e 2.000 metros, com intervalos de repouso
entre os esforços com duração de 2 a 8 minutos, e de 5 a 10 minutos entre as séries. A tabela a
seguir é uma sugestão de configurações de treinos com essas características (SCHMOLINSKY,1980
apud WEINECK, 1999).
65
Unidade II
Tabela 2
Percurso Total de corridas Séries Repetições Pausa entre repetições Pausa entre séries
600 m 4a6 2 2a3 2 a 5’ 5 a 10’
800 m 4a8 2 2a4 2 a 5’ 5 a 10’
1.000 m 4 a 10 2 2a5 3 a 5’ 5 a 10’
1.600 m 4a8 2 2a4 3 a 5’ 5 a 10’
2.000 m 3a6 2 3 4 a 8’ 5 a 10’
Método de repetições
Como o próprio nome sugere, o método consiste em repetir um mesmo percurso, de duração curta,
média ou longa, com velocidade cada vez mais alta, após um intervalo de repouso que possibilite a
recuperação completa. Ele pode ser usado tanto com esforços cíclicos como com esforços acíclicos.
Nesse caso, é muito útil para o desenvolvimento da resistência específica.
Método de competição
Esse método consiste em submeter o atleta a uma simulação da prática da modalidade, com o intuito de
estressar seu organismo com as mesmas exigências psicofisiológicas que acontecerão na competição real. Ele,
portanto, dá grande ênfase à especificidade do treinamento. Podemos citar como exemplos o chamado treino
coletivo, aplicado nas modalidades esportivas coletivas, em que uma equipe titular joga contra a reserva, ou a luta
feita entre o pugilista e seu sparring. Nessas duas situações, quase todos as exigências impostas na hora do jogo/
competição acontecerão no treino. Por envolver a prática da própria modalidade, é o método que mais agrada aos
atletas. Seu uso é feito com mais frequência nos períodos do treinamento mais próximos à competição.
8 PERIODIZAÇÃO
O primeiro modelo de periodização sistematizado foi proposto por volta de 1950, e aperfeiçoado ao
longo da década seguinte, por Lev Pavilovitch Matveev. Em razão disso, ele é considerado o pai do modelo
denominado como periodização clássica ou moderna. Matveev fundamentou seu modelo de periodização
na teoria da Síndrome Geral de Adaptação (SAG), proposta por Hans Selye (GOMES, 2002). A SAG é uma
explicação sobre como o organismo reage a um agente estressor que perturba a homeostase (MANSO, 1997).
Matveev idealizou a periodização do treinamento apoiado em avaliações e estatísticas do comportamento
de indivíduos de diversas modalidades esportivas da antiga União Soviética, nas décadas de 1960 e 1970.
Essa periodização fundamentou‑se na premissa de que o atleta deve construir, manter e depois perder
relativamente a forma desportiva ao longo dos grandes ciclos anuais de treinamento (DE LA ROSA, 2001).
66
METODOLOGIA DO TREINAMENTO FÍSICO
Essas três fases, aquisição, manutenção e perda temporal da forma esportiva, transformaram‑se
nos três grandes períodos do treinamento esportivo, que são: o período preparatório, o período de
competições e o período de transição (DE LA ROSA, 2001). Ou seja, cada etapa corresponde a uma fase
da dinâmica da forma física.
Quando se opta pela periodização dupla, a programação deve ser feita de maneira que as competições de
maior grau de importância ocorram no segundo período competitivo. Assim, todos os estágios precedentes,
inclusive as competições do primeiro ciclo, servirão como preparação para as competições principais.
Saiba mais
A seguir, analise as figuras que mostram, respectivamente, os modelos de periodização simples e dupla.
Repare que cada um dos períodos é mais longo na periodização simples. Note também que na periodização
dupla o segundo período de preparação se funde com o primeiro período de transição. Isso acontece para evitar
que o atleta tenha uma perda muito acentuada no desempenho durante o período de transição, já que em
algumas semanas deverá estar pronto para competir em alto nível novamente (segundo período de competição).
I II III
67
Unidade II
I II III - I II III
Período de preparação
O período de preparação é o mais longo entre os três ciclos. No modelo de periodização simples, ele
pode ter duração total de 20 a 28 semanas (5 a 7 meses). Na periodização dupla, sua extensão pode
variar de 3,5 a 4 meses (12 a 20 semanas). Divide‑se nas fases de preparação geral e de preparação
específica. Na periodização simples, a fase de preparação geral tem aproximadamente o dobro da fase de
preparação específica. Na periodização dupla, pode‑se suprimir a fase de preparação geral no segundo
ciclo em função da sua realização longa no primeiro ciclo.
Uma característica importante do modelo de periodização clássica é a multilateralidade. Isso significa que
esse modelo estabelece que todos os componentes da preparação têm de ser trabalhados, independentemente
da modalidade praticada, ou seja, deve‑se dar atenção ao desenvolvimento de todas as capacidades
condicionais, além de se preocupar com o aprimoramento dos componentes técnico, tático e psicológico. No
entanto, durante a preparação o enfoque deve recair sobre o desenvolvimento das capacidades condicionais.
Ao longo da fase de preparação geral, esse desenvolvimento deve ser feito predominantemente através de
exercícios gerais, isto é, usando aqueles exercícios que estressam os principais sistemas corporais, mas que têm
um grau muito baixo de semelhança mecânica com o gesto esportivo. A medida que a fase de preparação geral
vai se estendendo, gradativamente deve‑se aumentar a proporção dos exercícios específicos na composição
das rotinas de treino, ainda com o objetivo de continuar o desenvolvimento das capacidades condicionais.
Nessa primeira etapa do período preparatório, a proporção da preparação geral para a específica tem de ser
de 2:1 (66% geral, 33% específica) ou de 3:2 (60% geral, 40% específica).
Um aspecto importante sobre esse modelo é a ideia de se dar importância especial ao desenvolvimento
da resistência aeróbia do atleta, independentemente da modalidade que ele pratique. Matveev (1997)
entendia que, ao aprimorar essa capacidade motora, estaria criando a base para o desenvolvimento
ótimo das demais.
Outros aspectos do treinamento que devem ser modulados ao longo dos períodos são a quantidade
(volume) e o grau de esforço (intensidade) empenhados nos exercícios. No início da fase de preparação
geral, o volume e a intensidade do treinamento devem ser baixos, mas o treinador precisa aumentar
progressivamente o volume, como forma de elevar a sobrecarga do treinamento (lembre‑se do princípio
da sobrecarga). Com esse aumento progressivo, no final da fase de preparação geral, o volume deve
chegar ao seu nível mais elevado. A partir daí, ele deve começar a diminuir e assim seguir ao longo
da fase de preparação específica e início do período de competições. A intensidade, por outro lado,
tem de permanecer baixa durante a fase de preparação geral, e apenas começar a sofrer acréscimos
mais expressivos no início da fase de preparação específica. Ao final da fase de preparação específica,
a intensidade do treino deve passar a predominar sobre o volume. Ou seja, na fase de preparação geral
a sobrecarga é aplicada pelo aumento progressivo da quantidade de treinamento efetuado (volume),
que se concretiza no acréscimo da quilometragem percorrida, do número de repetições, séries ou de
exercícios realizados, bem como da quantidade total de horas dedicadas ao treinamento. Nessa fase não
se pode aumentar o grau de esforço empenhado nos exercícios (intensidade), isto é, a velocidade de
execução ou a carga externa utilizada nos exercícios. As elevações da intensidade começam no início da
fase de preparação específica e assim seguem até o período de competições.
Período de competições
Como meios de preparação, deve‑se usar prioritariamente os exercícios de competição. Além disso,
é necessário estudar as características dos oponentes para a escolha da melhor estratégia a fim de
neutralizar suas ações, o que pode ser realizado por meio de análises de vídeos e de anotações feitas
sobre os desempenhos individuais e coletivos dos adversários (scouts). Complementarmente, uma vez
que o sujeito precisa continuar aprimorando sua preparação, mas necessita estar em condições ótimas
para competir, especial atenção deve ser dada aos procedimentos que aceleram a recuperação após as
sessões de treinos e jogos.
Observação
Período de transição
O autor salienta que se deve entender a transição como um período de recuperação ativa, já que não
há uma pausa no processo de treino, mas uma modificação da sua forma e conteúdo. Nesse período tem
de ocorrer a redução acentuada nas cargas de treinamento e a volta da priorização das cargas gerais
sobre as específicas. Os atletas necessitam ser orientados a participar de atividades novas, e a utilizar o
método de treinamento contínuo, programando práticas de baixa intensidade e longa duração, como
exercícios prioritários. Da mesma forma, também é bem adequado o uso de atividades com caráter
recreativo que possam contribuir para a recuperação do estresse mental.
Ao longo do período de transição o atleta pode ainda participar de todas as formas possíveis de atividades
recuperativas como banhos, saunas, massagens e terapias, que auxiliem na regeneração muscular e psicológica.
Tal época é também utilizada para oportunizar a recuperação completa de uma lesão que o esportista esteja
tratando, ou para efetuar algum procedimento cirúrgico eletivo que eventualmente viesse adiando.
Nas periodizações duplas, o primeiro período de transição é mais curto, e se caracteriza pela redução
sensível da carga e pela mudança de orientação do treinamento. Essa característica tem como propósito
permitir um alívio do estresse produzido pelo primeiro ciclo de treinamento sem possibilitar, no entanto,
uma queda muito acentuada no desempenho. Por essa razão, o período de transição se funde com o
início do segundo período de preparação, uma vez que se aproxima o segundo período competitivo no
qual estão concentradas as principais competições do ano.
Os ciclos de treinamento
70
METODOLOGIA DO TREINAMENTO FÍSICO
Os microciclos
Na sequência constam alguns modelos. Os microciclos “A” e “B” são denominados microciclos de
desenvolvimento. Eles são tipicamente usados no período preparatório. Repare que o microciclo “A”
inclui um pico de estimulação e o microciclo “B” inclui dois picos.
A
Estímulo Recuperação
Carga de treinamento
80%-90% Alta
70%-80% Média
50%-70% Baixa
0 Repouso
S T Q Q S S D
Dias do microciclo
B
Estímulo Recuperação Estímulo Recuperação
Carga de treinamento
80%-90% Alta
70%-80% Média
50%-70% Baixa
0 Repouso
S T Q Q S S D
Dias do microciclo
71
Unidade II
80%-90% Alta
70%-80% Média
50%-70% Baixa
0 Repouso
S T Q Q S S D
Dias do microciclo
D
Carga de treinamento R E R E R
90%-100% Muito alta
80%-90% Alta
70%-80% Média
50%-70% Baixa
0 Repouso
S T Q Q S S D
Dias do microciclo
Os mesociclos
Estímulo Recuperação
S T Q Q S S D S T Q Q S S D S T Q Q S S D S T Q Q S S D
Microciclo
O macrociclo
I II III - I II III
Mesociclo 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
Macrociclo I II
A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N
Mês b a u u g e u o e a e a b a u u g e u o
r i n l o t t v z n v r r i n l o t t v
73
Unidade II
A carga de treinamento deve variar ao longo do macrociclo, assim como acontece nos microciclos
e nos mesociclos. Na figura a seguir, isso é ilustrado pelas linhas pontilhadas que se estendem durante
os mesociclos. Repare que a carga aumenta do 1º para o 3º mesociclo, mas é reduzida no 4º mesociclo.
M M M M M M M M M M M M M M M M
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16
Mesociclo 1 Mesociclo 2 Mesociclo 3 Mesociclo 4
Essa dinâmica de alteração de carga entre mesociclos deve ser feita no decorrer dos diferentes
períodos, conforme a característica do período. Durante o período de preparação, a carga sofre um
aumento progressivo, que tem de atingir seu máximo e ser mantida durante o período de competições,
para então diminuir no período de transição e finalmente ser permitido ao organismo recuperar‑se.
Variação da carga
Micro 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36
Meso 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Macro I
Fases Geral Específica Pré- Competitiva Transitória
comp.
Períodos Preparação Competição Transição
Repare que aquilo que acontece nos ciclos maiores é determinado pela dinâmica dos eventos nos
ciclos menores, ou seja, para a carga ser aumentada ao longo do período de preparação (durante o
macrociclo), a construção desse período deve ser feita combinando mesociclos com graus de exigência
progressivamente maiores. Da mesma forma, para haver um aumento das cargas no decorrer do
mesociclo, deve‑se combinar microciclos de graus de exigências crescentes. Por sua vez, a configuração
de microciclos de maior carga é feita pela determinação das cargas nas sessões individuais que compõem
cada microciclo.
O modelo clássico, proposto por Matveev (1997), sofreu muitas críticas por parte de outros
treinadores. A seguir apresentamos as principais delas dirigidas a esse modelo:
74
METODOLOGIA DO TREINAMENTO FÍSICO
• O modelo pode ser adequado a atletas iniciantes, mas indivíduos de alto nível precisam aumentar
o percentual de treinamento dedicado à preparação específica (GAMBETTA, 1990 apud DE LA
ROSA, 2001).
• Os calendários competitivos atuais exigem que o atleta esteja apto a competir um período maior
ao longo do ano. Assim, não é possível dedicar tanto tempo à preparação geral (BOMPA, 1983
apud DE LA ROSA, 2001).
• Esse modelo de periodização mantém os atletas treinando com intensidade muito baixa, por
períodos muito longos. É um sistema muito rígido em relação à duração das fases. As diferentes
modalidades exigiriam períodos de diferentes durações (TSCHIENE, 1990 apud DE LA ROSA, 2001);
Com base nessas críticas, surgiram novas propostas de periodização do treinamento. Algumas delas
tiveram como propósito aperfeiçoar o modelo de Matveev, enquanto outras romperam completamente
com esse modelo. Vamos conhecer alguma dessas propostas.
O modelo pendular foi proposto pelos russos Arosiev e Kalinin em 1971. Este modelo aproveita os
conceitos desenvolvidos por Matveev, tentando aperfeiçoar seu modelo de periodização.
Nele, assim como no modelo clássico, há o uso de cargas gerais e específicas, mas com finalidades
distintas. Enquanto no modelo de Matveev as cargas gerais precediam as específicas com o objetivo
de criar a base para que elas se desenvolvam, aqui as cargas gerais são sempre utilizadas após as
específicas. A razão disso é que as cargas gerais são usadas por Arosiev e Kalinin para mudar a influência
do treinamento e permitir que o organismo se recupere das cargas específicas.
Outra diferença é que no modelo clássico as cargas gerais são usadas por um período bastante
extenso, que é maior que o período de aplicação das cargas específicas. No modelo pendular, as cargas
gerais nunca superam as cargas específicas e, à medida que o tempo de treinamento progride, cada
vez menos são utilizadas cargas gerais, enquanto o uso de cargas específicas cresce de período para
período, aumentando progressivamente a proporção das cargas específicas sobre as gerais. Em razão
dessa supremacia e de seu uso ser feito desde o início da temporada, os atletas estão prontos para
competir em períodos mais longos, o que é um ponto fraco no modelo clássico.
75
Unidade II
CP
C
100% C
90%
80%
70% Diferença entre cargas
específicas e gerais
(amplitude do pêndulo)
Carga especial
Figura 37
Esse modelo de periodização começou a ser esboçado no final dos anos 1970 para fornecer um padrão
inovador de treinamento a atletas de alto nível nas disciplinas esportivas de força e velocidade do atletismo.
Tal ideia consistiu na concentração seletiva de cargas direcionadas para um objetivo único de treinamento. Isso
deveria criar um estímulo de treinamento focado, capaz de influenciar cada um dos fatores que determinam a
melhora do desempenho esportivo. Ou seja, em vez de objetivar a melhora simultânea de múltiplos componentes
do treinamento (força, velocidade, resistência, flexibilidade, técnica e tática) em uma mesma etapa, como
propõe o modelo de Matveev, no modelo de blocos o treinamento é focado apenas nos conteúdos que têm
uma real influência na performance da modalidade. Além disso, nele o treinamento de cada conteúdo deve ser
separado temporalmente, numa ordem sequencial, de maneira que os teores trabalhados primeiro devem criar
condições favoráveis para o desenvolvimento ótimo dos conteúdos subsequentes. Por essa razão, esse modelo
foi batizado pelo seu idealizador, Yuri Verkhoshansky, com o nome de Sistema das Cargas Conjugadas.
No modelo incialmente proposto por Verkhoshansky, a temporada era dividida em duas etapas: uma
preparatória e uma de competição. Na etapa preparatória, denominada bloco A, deve‑se concentrar a realização
de meios de treinamento voltados para o desenvolvimento da força, com o intuito de induzir o efeito retardado
de treinamento. A concentração das cargas de força gera um estresse elevado no organismo do atleta, que
provoca a piora imediata na velocidade dos movimentos e na técnica do atleta. Na transição do bloco A para o
bloco B, deve‑se reduzir expressivamente o volume do treinamento de força e começar a priorizar o treinamento
da velocidade e da técnica dos movimentos. Como consequência da redução das cargas de força e da mudança
da orientação da carga (treino da força dá lugar ao treino da velocidade e da técnica), o organismo começa a se
recuperar, o que gradativamente se reflete na melhora dos desempenhos da velocidade das ações específicas da
modalidade e da qualidade técnica. Para a concretização do aperfeiçoamento do desempenho a níveis ótimos,
os exercícios de força e velocidade devem ser feitos com um pequeno volume no início do bloco B, e ter sua
intensidade aumentada gradualmente (VERKHOSHANSKY; VERKHOSHANSKY, 2011).
76
METODOLOGIA DO TREINAMENTO FÍSICO
Para assegurar o uso completo do potencial de adaptação do atleta, o bloco de cargas concentradas
de força (bloco A) deve durar entre 6 e 12 semanas. Durante essa fase, o atleta terá dificuldade de
executar os movimentos próprios da modalidade com a técnica correta e com elevado nível de potência.
Para conseguir induzir o mais alto nível de melhora no desempenho de esportistas de modalidades de
força e potência, a etapa das cargas concentradas de força tem de ser seguida por um período de cargas
concentradas de força rápida para, após isso, ser realizada uma etapa de trabalho objetivando a melhora
da técnica do exercício competitivo, executado no mais alto nível de produção de potência.
Assim, por meio do efeito retardado de treinamento em longo prazo (ERTLP), as melhoras no
desempenho deverão acontecer no período das competições. A duração do ERTLP é proporcional à
extensão da fase de cargas concentradas. Quanto maiores o volume e a duração da etapa de cargas
concentradas, maior será a duração do ERTLP. Ou seja, esse modelo de periodização visa intencionalmente
provocar um esgotamento do organismo, através do uso de cargas concentradas de força. Esse
esgotamento leva a uma piora inicial do desempenho. No entanto, a modificação na orientação da carga
(troca das cargas de força por cargas específicas) alivia o estresse imposto sobre o organismo e permite sua
recuperação gradual. Essa recuperação se caracteriza por uma melhora tardia no desempenho específico
(VERKHOSHANSKY e VERKHOSHANSKY, 2011).
O uso desse modelo deve ser feito em atletas experientes, capazes de suportar maiores estresses de
treinamento. Mesmo assim, os treinadores devem tomar muito cuidado para não exagerar na aplicação
das cargas de força e ultrapassar a capacidade de recuperação do organismo do atleta. Quando isso ocorre,
desenvolve‑se a síndrome do overtraining, que se caracteriza por uma incapacidade de recuperação do
organismo do indivíduo, que pode comprometer sua carreira e colocar em risco sua vida.
Etapa preparatória Etapa de competição
Velocidade
Técnica
A B
Tempo
Overtraining
Figura 38
77
Unidade II
O modelo estrutural proposto por Peter Tschiene é uma concepção que visa possibilitar aos atletas
competirem em alto nível durante um período mais longo do ano. Ele preserva algumas das ideias de
Matveev, como a divisão do ciclo anual nos períodos preparatório, competitivo e transitório, assim como
a ideia de modular a exigência do treinamento através das alternâncias entre volume e intensidade.
No entanto, as semelhanças entre os dois modelos se encerram por aí. Para Tschiene, sua
periodização propõe que as cargas de treinamento sejam sempre específicas, e que o volume e a
intensidade do trabalho sejam altas o ano inteiro. Mesmo a alternância entre volume e intensidade,
que é uma proposta comum com o modelo de Matveev, aqui se diferencia drasticamente, já que
ocorre após ciclos curtos e frequentes, enquanto no modelo clássico se concretiza de maneira gradual
ao longo de vários meses (mesociclos).
Uma vez que manter longos períodos de treinamento específico torna‑se muito desgastante ao
organismo, para que esse modelo funcionasse Tschiene planejou a realização de intervalos profiláticos
nos períodos que precedem as competições (repare que essas etapas se assemelham à ideia do tapering).
Juntamente à eliminação dos longos períodos de preparação com cargas gerais, essas ideias fazem
com que os atletas estejam aptos a treinar o ano todo. A propósito, para o autor a existência de
competições ao longo de toda a temporada é considerada como um fator fundamental para que os
esportistas possam atingir um nível elevado de desempenho.
C C C C C C
100%
80% Intensidade
Magnitude da carga
Volume
60% Cargas
específicas
40%
20%
1º PP IP 1º PC 2º PP IP 2º PC PT
Não se preocupe se estiver confuso, nesse momento, com tantas ideias diferentes sobre como
organizar as cargas de treinamento ao longo do tempo. Todavia não desanime. O truque para organizar
isso tudo na sua cabeça é voltar a ler sobre o modelo clássico, proposto por Matveev. Analise calmante
seus conceitos e anote as suas principais caraterísticas. Tente também se lembrar das críticas que o
modelo clássico sofreu. Quando estiver bem familiarizado com isso, reveja os demais modelos. Siga essa
leitura analisando os gráficos e compare o que cada modelo tem em comum e no que se diferencia do
modelo clássico. Quando se der conta, vai estar sabendo muito sobre periodização.
78
METODOLOGIA DO TREINAMENTO FÍSICO
Resumo
79
Unidade II
bem como para atletas iniciantes. Também se adequa muito bem aos
programas voltados à melhora da qualidade de vida.
Exercícios
Tendo o texto como referência e considerando a relação entre as etapas da preparação física e o
desempenho competitivo, avalie as afirmativas a seguir e a relação proposta entre elas.
PORQUE
A primeira afirmativa é verdadeira, pois de acordo com o período do treinamento em que o atleta
se encontra tem um maior ou menor volume ou intensidade. Já a segunda é falsa, porque o pico de
performance do atleta deve ser atingido no período competitivo e não durante a preparação.
Questão 2. A produção de força está relacionada com a velocidade de encurtamento do músculo. Na figura
a seguir é demonstrado o comportamento da curva força‑velocidade nos diferentes tipos de contração muscular.
Excêntrica
Força
Concêntrica
Máximo
isométrico
O
Velocidade de alongamento Velocidade de encurtamento
Figura 40
A) Na ação muscular excêntrica, quanto maior a velocidade de alongamento maior será o grau de
força produzido pelo músculo.
D) Na ação muscular isométrica, a velocidade é maior que nas ações musculares concêntricas e excêntricas.
E) A ação muscular excêntrica produz maior velocidade de alongamento que as ações musculares
isométricas e concêntricas.
FIGURAS E ILUSTRAÇÕES
Figura 13
POMPEU, F. A. M. S. et al. Áreas de secção transversa do braço: implicações técnicas e aplicações para
avaliação da composição corporal e da força dinâmica máxima. Rev. Bras. Med. Esporte, Rio de Janeiro,
v. 10, n. 3, 2004. Adaptado.
Figura 14
MONSTER, A. W.; CHAN, H. Isometric force production by motor units of extensor digitorum communis
muscle in man. J. Neurophysiol, Pennsylvania, v. 40, n. 6, p. 1432‑1443, 1977, p. 1.435.
Figura 15
Figura 17
HÄKKINEN, K.; ALÉN, M.; KOMI, P. V. Neuromuscular, anaerobic, and aerobic performance
characteristics of elite power athletes. European Journal of Applied Physiology and Occupational
Physiology, v. 53, n. 2, 1984. Adaptado.
Figura 21
Grupo Objetivo‑UNIP.
Figura 22
Grupo Objetivo‑UNIP.
Figura 23
Grupo Objetivo‑UNIP.
REFERÊNCIAS
Textuais
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muscle stretching. Journal of Applied Physiology, Jyväskylä, v. 80. n. 4, 1283‑1291, 1999. Disponível
em: <https://www.physiology.org/doi/10.1152/jappl.1999.86.4.1283>. Acesso em: 16 abr. 2018.
82
METODOLOGIA DO TREINAMENTO FÍSICO
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DE LA ROSA, A. F. Treinamento desportivo: carga, estrutura e planejamento. São Paulo: Phorte, 2001.
GASTIN, P. B. Energy system interaction and relative contribution during maximal exercise. Sports Med,
v. 31, n. 10, p. 725‑741, 2001.
ISSURIN, V. B. New horizons for the methodology and physiology of training periodization. Sports
Med, Netanya, v. 40, n. 3, p. 189‑206, 2010.
KUBO, K. et al. Influence of static stretching on viscoelastic properties of human tendon structures in
vivo. J. Appl. Physiol., Tokyo, v. 90, n. 2, p. 520‑527, 2001. Disponível em: <https://www.physiology.org/
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MAGILL, R. A. Motor learning and control: concepts and applications. 7. ed. Boston: McGraw‑Hill, 2004.
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<https://www.actamedicaportuguesa.com/revista/index.php/amp/article/view/2411/1826>. Acesso em:
16 abr. 2018.
MONSTER, A. W.; CHAN, H. Isometric force production by motor units of extensor digitorum communis
muscle in man. J. Neurophysiol, Pennsylvania, v. 40, n. 6, p. 1432‑1443, 1977. Disponível em: <https://
www.physiology.org/doi/10.1152/jn.1977.40.6.1432>. Acesso em: 16 abr. 2018.
OPPLERT, J.; BABAULT, N. Acute effects of dynamic stretching on muscle flexibility and performance:
an analysis of the current literature. Sports Med, Dijon, v. 48, n. 2, p. 299‑325, 2018.
PLISK, S. S.; STONE, M. H. Periodization strategies. Strength & Conditioning Journal, Connecticut,
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Periodization%20Strategies.pdf>. Acesso em: 16 abr. 2018.
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SAMULSKI, D. Psicologia do esporte. Conceitos e novas perspectivas. 2. ed. Barueri: Manole, 2008.
VERKHOSHANSKY, Y., VERKHOSHANSKY, N. Special strength training: manual for coaches. Rome:
Verkhoshansky, 2011.
ZAKHAROV, A. Ciência do treinamento desportivo. Rio de Janeiro: Grupo Palestra Sport, 1992.
Exercícios
84
85
86
87
88
Informações:
www.sepi.unip.br ou 0800 010 9000