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Universidade de São Paulo


Escola de Educação Física e Esporte

O ENSINO DO JOGOS ESPORTIVOS COLETIVOS: O CASO


BASQUETEBOL E AS CORRENTES TEÓRICAS

Bruno Pimentel Guidorizzi

São Paulo,
2006
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O ENSINO DO JOGOS ESPORTIVOS COLETIVOS: O CASO


BASQUETEBOL E AS CORRENTES TEÓRICAS

Bruno Pimentel Guidorizzi

Orientador
Prof. Dr. Umberto Cesar Corrêa
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Sumário

1. Introdução 4
2. Revisão de literatura 5
2.1. Definindo o jogo 5
2.2. Ensino – Aprendizagem 8
2.3. Tomada de decisão 11
2.3.1 Aspectos Individuais da Tomada de Decisão 13
2.3.2 Aspectos coletivos da Tomada de Decisão 15
3. Correntes Teóricas 16
3.1 Corrente Ibérica 16
3.2 Corrente Inglesa 19
3.3 Corrente Argentina 21
3.4 Corrente Alemã 25
3.5 Corrente Brasileira 29
4. Considerações finais 33
5. Referências bibliográficas3 35
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1. Introdução.

Hoje em dia muito se discute sobre a forma como deve ser ensinado
o desporto no Brasil. Este trabalho quer mostrar algumas das principais
formas de ensino utilizadas atualmente, a abordagem técnica-base,
tradicionalista, uma e a abordagem a partir do desenvolvimento táctico,
onde se inclui como exemplo o GFU, Games For Understanding (Bunker
and Thorpe, 1982), que em português significa Jogo para compreensão,
para evidenciar qual modelo de ensino atualmente seria mais eficaz para a
formação de um jogador que se adeqüe as características e exigências
atuais do jogo, bem como a manutenção do iniciante na modalidade caso
esse não venha a se tornar um atleta profissional, por fatores variados,
como o biótipo, genética, família, estudos, etc. ele se torne um praticante
de atividade física e possa apreciar o jogo em todas as suas características.
O jogo apresenta situações que sofrem mudanças permanentes e de
uma forma rápida, que exigem a tomada de decisões táticas com rapidez e
prontidão (Konzag, 1983), logo o bom jogador de basquetebol, é aquele que
consegue tomar decisões corretas rapidamente e utiliza a habilidade
motora de maneira eficiente para que a tomada de decisão acertada se
concretize, ou seja, não adianta saber fazer um bom passe, se este for para
um companheiro marcado, assim como de nada adiantará saber que deve-
se passar a bola ao jogador desmarcado se não se tem a capacidade para
fazê-lo, e ainda será inútil descobrir que a bola deveria ser passada ao
jogador que estava livre e agora já está marcado pois demorou-se para
tomar a decisão de passar a bola.
É neste ponto em que este trabalho terá seu foco, em um trabalho de
iniciação no basquetebol, seria melhor ensinar todo o fundamento técnico
para que o atleta seja capaz de realizar a tática, ou é melhor ensinar o jogo
de maneira simplificada e ir gradualmente aumentando a complexidade,
para a partir de uma situação problema o atleta sentir a necessidade do
fundamento técnico e daí então aprimorá-lo? Konzag, 1983 diz que depois
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de ter sido aprendido a forma padrão de movimento, os elementos técnicos


deverão ser exercitados de modo diferenciado, começando pôr faze-lo sem
oposição do adversário e depois em combinação com os outros elementos.
Segundo Doolitle e Girard, 1991, a abordagem Teaching for
Understanding (Ensinando para compreensão), ensina o jogo e os
aprendizes praticam as habilidades jogando jogos modificados. A
demanda física de cada jogo são simples e os aprendizes podem praticar
as habilidades mas focando o jogo.
Segundo Graça e Mesquita, 2002, tradicionalmente, as práticas de
ensino dos jogos colocam a aprendizagem das habilidades dos jogos como
um pré-requisito para o sucesso da participação no jogo. As progressões
didáticas concentram-se básica ou exclusivamente nos aspectos da
execução motora das habilidades básicas em situações
descontextualizadas (...). Nos anos mais recentes, as perspectivas
cognitivas e construtivistas recentraram ou alargaram as abordagens e a
investigação sobre os jogos a domínios tradicionalmente negligenciados,
como sejam o domínio da tática e de sua interação complexa com a
técnica, envolvendo o conhecimento, a compreensão, a tomada de decisão
e a capacidade da ação em situação de jogo.

2. Revisão de literatura

2.1 Definindo o jogo.

Assim como o futebol e handebol, o basquetebol é um jogo coletivo e


invasivo. Coletivo, pois joga-se em equipe e invasão porque a equipe
atacante invade a zona de defesa adversária para atingir o objetivo do jogo,
no caso do basquetebol, a cesta. Essa “invasão” não ocorre por exemplo
em esportes de rede, como por exemplo o vôlei e o badminton, onde as
equipes ficam no seu lado do campo separados por uma rede.
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Uma definição para os jogos (Gréhaigne e Godbout, 1995 ), são de


que estes apresentam características indissociáveis, que contém regras
orientadas à produtividade dos objetivos do jogo: ganhar a disputa. Essas
características são as seguintes:

- Harmonia entre forças: Um grupo de jogadores confronta outro


grupo de jogadores, lutando por ou permutando um objeto (no
caso do basquetebol e na maioria deles, a bola ).
- Escolha de habilidades motoras: Os jogadores precisam dominar
uma certa quantidade habilidades motoras, algumas delas são do
dia-a-dia e outras mais específicas e elaboradas.
- Estratégias Individuais e coletivas: Decisões implícitas ou
explícitas, tomadas pelo grupo baseado numa referência comum,
com o objetivo de vencer os oponentes.

Em relacionamento de oposição (Deleplace, 1979 apud Gréhaigne,


1995), cada um dos dois times deve coordenar suas ações para recuperar,
conservar e mover a bola, levando-a à zona de pontuação, para que possa
pontuar efetivamente.
Deste modo Ruiz, 2001 diz que: o basquetebol é uma tarefa
como denomina Knapp (1973) predominantemente perceptiva, aberta
(Poulton, 1957), e que tem uma seqüência de execução não prevista, e
sim variável e ajustável ao redor e controlado com feedback externo. É
decidir, como Singer (1980) denomina uma tarefa de regulação
externa: são as condições externas que ajustam o comportamento do
jogador. É uma tarefa que implica na movimentação de objetos (Fitts,
1975), em concreto, o jogador se relaciona com outros através de um
objeto móvel, a bola, e a equipe interage com os adversários. Ou seja,
existe cooperação e oposição (Parlebas, 1981). Segundo a ordem
seqüencial de das decisões é uma atividade de baixa organização, é
decidir, não apresenta uma seqüência fixa na execução dos elementos
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(meios técnicos - táticos) que podem compo-lo, e sim que está se


ajustará a cada circunstância dependendo da incidência do meio,
tempo, companheiros,....Além disso o basquetebol se caracteriza por
exigir do jogador (Sanchez, 1990) tomar muitas decisões motoras em
muitos propósitos diferentes como objetivo final(por exemplo, o jogador
pode progredir à cesta, reter a bola, ou realizar um arremesso) em
diferentes alternativas (por exemplo: progredir à cesta tem diferentes
possibilidades: progredir mediante passes ou deslocamento com
drible). Requer um conhecimento de uma grande variedade de meios
técnicos - táticos individuais e de caráter coletivo. O basquetebol
moderno exige muita velocidade.
Segundo Konzag, 1983, a atividade de um jogo desportivo (desporto
de equipe) realiza-se sempre em cooperação direta (interação) com os
companheiros de jogo. Para que seja uma colaboração frutuosa, que
corresponda aos objetivos do jogadores durante a sua participação no jogo,
são necessárias capacidades específicas que permitam a completa
organização do desenvolvimento do jogo, a coordenação das ações
coletivas, bem como também as relações de comunicação recíproca e de
cooperação que se estabelecem entre os jogadores. Os requisitos que
capacitam o praticante são os seguintes:

- Requisitos Psicológicos: Qualidades Volativas ( tomada de


decisão, coragem, etc.); Qualidades de atenção; Funções
Cognitivas ( percepção, raciocínio, imaginação, etc.); Qualidades
Psico-Sociais ( cooperação, comunicação).
- Requisitos Técnicos: Técnica no jogo é a execução do movimento
adaptado a situação e ao tipo somático do jogador, isto é,
execução funcional e econômica que leve ao objetivo do jogo.
- Requisitos Táticos: Servem para, na situação de jogo utilizar os
pressupostos que a sustentam, otimizando, quer se trate dos
componentes (capacidades) condicionais, motoras ou psicológica,
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tendo sempre em conta as grandes linhas de conduta, as


capacidades de prestação e a maneira de jogar do adversário, as
condições externas existentes, as regras do jogo e as próprias
condições particulares da competição.
- Requisitos Coordenativos e Condicionais: Capacidade
coordenativa, são determinadas em primeiro lugar, pela noção de
coordenação motora que os movimentos obrigam a estar
presente. Entre os aspectos condicionais encontram-se, força,
velocidade, resistência, etc.

2.2 Ensino – Aprendizagem

A aprendizagem eficaz de um comportamento tático - técnico


adequado a criança que está aprendendo a jogar basquetebol, será aquela
em que o aluno aprende implicando-se ativamente a dois níveis, motriz:
através da ação e experimentação e cognitivo: reflexão de porque fazê-lo,
para quê fazê-lo e quando fazê-lo. O papel do professor deve ser
principalmente um mediador que proporciona problemas motores, e pedir
aos alunos que tentem solucioná-los (Ruiz, 2001).
O primeiro que devemos saber é que não se pode ensinar tudo em
qualquer momento. Deve-se estabelecer uma planificação do trabalho a se
realizar em que se estabeleça uma ordem de execução. Esta ordem não só
deve estar marcada pela idade do jogador, e sim também por sua
experiência desportiva e seu desenvolvimento físico e intelectual. É um
erro considerar que a um jogador pode-se ensinar um determinado
fundamento só porque tem uma idade concreta (Liras, 2001).
Nos esportes coletivos temos que tomar decisões
continuamente. Decidir é um elemento essencial e muito importante nos
esportes de equipe. O que ocorre, o que fazer, e como fazer? (Iglesias,
Julian, Ramos, Fuentes, Dell Villar, 2001) .
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Se revisarmos de forma esquemática como se desenvolve a ação do


jogo, podemos distinguir três processos (Malho, 1968): Análise perceptiva,
pensamento tático ou solução mental, e solução motriz.
Tradicionalmente, no ensino do basquetebol há predominância do
ensino dos fatores de execução sem considerar os mecanismos de
percepção e decisão por um desconhecimento da estrutura do jogo, suas
características e os fatores que compõe a ação motriz do jogador (Pintor,
1991).
Segundo Hopper, 1998, os exercícios planejados pelos
professores/treinadores centram-se exageradamente em aspectos técnicos
isolados do contexto de jogo, fato que os torna pouco exigente e monótono,
levando a que os aprendizes não tirem proveito de sua prática, conduzindo
futuramente que não a incluam no seu modo de vida. O tempo destinado à
tarefa de jogar constitui-se como o período mais motivante da sessão de
ensino (Griffin, Mitchell, Oslim, 1997). De fato, o jogo é um desafio
permanente para os aprendizes, otimiza suas tomadas de decisões e,
inevitavelmente, conduz a um aumento das ações a realizar com sucesso
(Antunes & Sampaio, 2001).
Doolittle e Girard (1991) referem que as formas jogadas que fazem
parte da planificação das sessões de ensino devem constituir-se como uma
fonte de problemas a serem resolvidos pelos aprendizes. Com o decorrer do
tempo, estes problemas serão minimizados, mediante a utilização correta e
enquadrada das ações técnicas, envolvendo assim os aprendizes no
processo de tomada de decisão do jogo.
Conforme Figura 1, parece evidente que se deve ensinar primeiro a
tática, pois só esta provoca o contexto que justifica o aparecimento da
técnica, que no entanto, poderá parecer remetida para um plano
secundário, o que na realidade não acontece (Antunes & Sampaio, 2001).
Apesar da técnica se constituir exclusivamente como uma ferramenta da
tática (Malho, 1968), o envolvimento da aprendizagem deve articular
ambas as componentes.
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JOGO

APRECIAÇÃO DO PRESTAÇÃO
JOGO

APRENDIZ

CONHECIMENTO EXECUÇÃO MOTORA


TÁCTICO

TOMADA DE DECISÃO
O que Como
fazer? fazer?

Figura 1 - Ensino dos jogos desportivos através do conhecimento: O


programa do modelo táctico (adaptado de Bunker & Thorpe, 1982).

Gréhaigne et al. (2001) assinala que, nos esportes coletivos, jogar


bem significa ser capaz de eleger uma ação (tomada de decisão) pertinente
a cada momento e levá-la a cabo de forma eficiente e consistente durante
todo o encontro.
A partir disso e da figura acima, vemos a importância fundamental
do aprendiz saber tomar decisões.
As habilidades abertas requerem um nível de atenção seletiva para
permitir a percepção e o processamento de todos os estímulos
significativos para alcançar a decisão ótima (Tenenbaum, Yuval, Elbaz,
Bar-Eli, e Weinberg, 1993 apud Iglesias 2005).
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2.3 Tomada de Decisão

O jogador competente desenvolve uma série de mecanismos


cognitivos e emocionais antes e durante o processo de tomada de decisão,
que determinarão sua posterior atuação. Portanto a tomada de decisão é
uma atividade influenciada por aspectos racionais e também por fatores
emocionais (Iglesias, Moreno , Fuentes, Julián, e Dell Villar, 2001).
O modelo tradicional de processamento da informação estabelece
três processos seqüenciais no desenvolvimento de uma ação motriz:
percepção, tomada de decisão e execução do movimento (Malho, 1968).
Nota-se por base neste modelo, que a execução de é importante,
porém não se pode ignorar os outros processos, de percepção e tomada de
decisão, que são grande importância e aferem a parte tática do jogo.
Knapp (1963) afirmou que a habilidade nos esportes de equipe vem
determinada pela técnica e tomada de decisões, entendendo técnica como
capacidade de levar a cabo o componente motor da ação, e tomada de
decisão como o conhecimento para eleger a técnica correta em função de
uma situação particular de onde se desenvolve a ação de jogo.
A qualidade da tomada de decisão em uma situação de jogo é tão
importante como a execução das destrezas motoras, sendo ambas
determinantes para o rendimento esportivo (Thomas, 1994; Blomqvist,
Luhtanen, y Laakso, 2001 apud Iglesias, 2005).
Anderson (1992) propôs dois tipos de conhecimento: declarativo e
procedimental. O conhecimento declarativo é o conjunto de atributos e
características que dizemos de um objeto, um sucesso ou uma idéia. É o
conceito que temos de algo. Se identifica com “o saber”, “saber decidir”,
“saber o que”. O conhecimento procedimental se define como o
conhecimento sobre como atuar e fazer as coisas (“saber como”), é uma
descrição sobre como fazer algo. O conhecimento procedimental inclui a
seleção apropriada dentro do contexto de jogo indicam que o conhecimento
de “como” poderia se referir, indistintamente, a seleção de resposta, ou a
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sua execução, é decidir, “fazer”. Deste modo, Thomas (1994) apud Iglesias
(2005) estabelece uma subdivisão do conhecimento procedimental,
diferenciando os procedimentos de seleção de resposta e os procedimentos
motores.
Estudos de caráter transversal tem demonstrado que os jogadores
experientes diferem dos novatos em conhecimento declarativo e
procedimental (Rink, French e Tjeerdsma 1996). Assinalam também uma
relação de fatores cognitivos característicos dos experientes:
- Conhecimento declarativo e procedimental superior.
- Um conhecimento mais organizado e estruturado.
- Tomada de decisão mais rápida e acertada.
- Antecipação superior aos movimentos e ações do adversário.
- Conhecimento superior das probabilidades situacionais.
McMorris e MacGillivary (1988) apud Iglesias (2005), dizem que na
tomada de decisão, além do jogador perceber a situação e ver a quais são
as melhores opções, os jogadores tem que levar em conta a própria
habilidade, a habilidade do adversário, as condições físicas no jogo, o
placar no momento da ação e local onde a ação está sendo efetuada.
Na figura 2, Gréhaigne, Godbout, e Bouthier, 2001, colocam os
elementos que influenciam uma tomada de decisão. Os elementos listados
do lado esquerdo são de caráter coletivo, e os da direita individuais.
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Ação de Jogo

Percepção

Estratégia coletiva Estratégia individual

Mapa Cognitivo, estrutura de


Harmonia de Forças referências

Conhecimento Tático
Rede de
Competência Recursos

Localização e postura do
jogador

Tomada de Decisão

Execução Para outras ações

Figura 2 – Elementos do processo de tomada de decisão em


esportes coletivos.

2.3.1 Aspectos Individuais da Tomada de Decisão

Estratégia Individual. É um plano de jogo adiantado,


baseado na hipótese das ações que serão tomadas pelos oponentes e
companheiros de equipe (Gréhaigne et al., 1999); este plano primário
é influenciado pela atenção seletiva do jogador e já lhe dá uma
orientação particular sobre as ações que irá realizar durante o jogo,
antes dele começar.
Mapa Cognitivo do Jogador ou Conhecimento Base.
Conhecimento declarativo e procedimental acumulado através de
experiências passadas influencia a interpretação do jogador da
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configuração do jogo percebida em conexão com regras de ação


eficientes (Gréhaigne e Godbout, 1995).
Conhecimento Tático. Este tipo de conhecimento está em
alguns conceitos teóricos, porém na maioria experimentais, baseada
em noções extraídas da prática. Uma vez que a configuração de jogo
é percebida, o jogador pode notá-la ou não. A recordação do sucesso
ou insucesso de soluções adaptadas ajuda a avaliar a relevância
desta resposta. Desta maneira, estratégia e conhecimento tático
orientam a tomada de decisão. A lembrança reside na memória de
longo prazo, envolvendo perfis de plano de ação, e/ou memória de
curto prazo, focando em eventos do jogo em realização ou
envolvendo algum evento atual.
Recursos do Jogador. Conhecimento sobre e consciência
sobre os recursos atuais dos jogadores, serve como um filtro,
permitindo ao jogador considerar ou descartar a possibilidade de
uma ação. Tais recursos dizem respeito ao nível do jogador e a
abrangência das habilidades motoras, competências motoras e
habilidades motoras específicas do esporte. Na maioria dos casos,
especialmente esportes de invasão, onde atacantes devem invadir o
campo adversário para marcar pontos, estes recursos também dizem
respeito a capacidade de resposta fisiológica do jogador,
considerando o custo de energia que se irá gastar na hipótese de
uma ação. Finalmente, embora não necessariamente a um nível
consciente, outra característica variável do jogador, é o nível de
concentração e motivação, que pode otimizar ou prejudicar a
percepção e/ou tomada de decisão.
Localização do Jogador e Postura. Determina as
possibilidades de respostas oferecidas aos recursos do jogador; uma
errada percepção da posição e postura pode prejudicar diretamente
uma tomada de decisão.
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2.3.2 Aspectos coletivos da Tomada de Decisão

Estratégia Coletiva. Esta refere-se a vários planos, princípios, ou


ações guias selecionadas primariamente para o jogo tendo na perspectiva
de organizar a atividade dos jogadores e do time, como um conjunto
durante a competição. A estratégia idealizada deve conter a maioria das
opções de jogo ou especificar a conduta do jogador para várias categorias
de situações de jogo. No entanto, a estratégia coletiva pode direcionar no
avanço da atenção dos jogadores para aspectos específicos do jogo e
orientar, desde o início, o curso geral do processo de tomada de decisão.
Harmonia de Forças. Refere-se ao antagonismo existente entre
vários jogadores ou entre dois de jogadores vindo juntos em uma relação
de oposição em virtude das regras do jogo que determinam o modo de
interação. Hipóteses prévias sobre essa harmonia de forças e a percepção
atual durante o encontro (com repercussão no perfil atual do evento) pode
orientar bem em uma parte da estratégia individual dos jogadores e suas
adaptações táticas durante a partida.
Rede de Competência. Esta rede é feita das várias relações entre os
jogadores enquanto um time. Isso influencia as ações de jogo dos
jogadores e condutas dependendo do status com o time e a harmonia de
forças encontrada. Nesse sentido a rede de competência pode não
influenciar diretamente a tomada de decisão dos jogadores, mas seu peso
está implícito se for levado para o lado da estratégia coletiva e não
individual. No entanto, a rede competência irá normalmente orientar a
atribuição de papéis específicos para cada jogador, portanto isso influencia
a tomada de decisão.
Todos esses elementos interagem durante a tomada de decisão,
fazendo parte do contexto do jogo e irão determinar se a decisão foi
relevante ou não.
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3. As correntes Teóricas

Nessa parte será apontado o que se tem feito em alguns países sobre
o ensino dos jogos coletivos, quais correntes teóricas vem sendo
discutidas, ou seja, qual a metodologia vem sendo encontrada na
literatura.

3.1 Corrente Ibérica

Ruiz, 2001 apresenta um estilo de ensino implicam cognitivamente o


aluno. Os exercícios do modelo tradicional, se centram na técnica, que a
criança adquira um arremesso mais parecido com o modelo ideal, igual ao
passe e o deslizamento defensivo, porém o basquetebol exige do jogador
estar continuamente percebendo a ação dos companheiro, da bola, dos
oponentes; tomar continuamente decisões e em função de tudo isso, por
último, executar um gesto técnico.
Segundo esquema de Pintor, 1991 apud Ruiz 2001, vemos as reais
necessidades do jogador na sua ação motora:
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Ação dos oponentes Deslocamentos


Trajetórias
Intenção dos Velocidades
companheiros Orientações

Ações próprias
Espaços livres Amplitude
OBSERVAR- Espaços ocupados Modificação constante
PERCEBER

Trajetórias
ANALISAR Deslocamentos da Velocidades
Bola Características de sua
posse
Companheiros
Oponentes
Distancias e sua Bola
variabilidade Elementos materiais do
local de jogo
Objetivos da execução
em relação com os
Princípios de Aplicação
DECIDIR Meios técnicos de
utilização
Momento de aplicação
Espaço de utilização
Intensidade da ação
motora

EXECUTAR Meio técnico escolhido,


no momento, lugar e
com a intensidade
adequados.

O jogador necessita desenvolver todas essas capacidades, não


somente saber executar o gesto técnico parecido com o modelo ideal, pois
uma execução eficiente do gesto motor, será válida se tiver significação
concreta dentro do jogo.
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Ruiz, 2001 aponta três diferenças sobre o método de ensino


tradicional pela técnica e o estilo de ensino que implica o aluno
cognitivamente: o comportamento do professor sobre a forma de passar a
informação, a apresentação das tarefas e exercícios e as reações do
professor quanto a execução dos alunos. Essas premissas guiam as
seguintes orientações metodológicas:
Aluno como eixo central do processo ensino-aprendizagem: Nos
modelos tradicionais o aluno torna-se um receptor passivo, enquanto
deveria ser o protagonista da construção do aprendizado, ser colocado
frente a uma situação problema e através da experimentação e exploração
buscar soluções motrizes e refletir a sua própria prática.
Professor como mediador do processo ensino-aprendizagem: A
função do professor não consiste em transmitir conhecimentos, e sim em:
- Conhecer os alunos em seu nível técnico, tático individual, tático
coletivo e psicológico.
- Ser capaz de incitar os alunos a um estado de querer investigar
novas situações, buscar novas soluções, enfrentar novos
problemas.
- Ser mediador que proporciona problemas motores adequados a
características dos alunos.
- Oferecer grande variedade de padrões de movimento, não fazer
com que se automatize gestos motores e sim que aprenda padrões
de movimento com múltiplas variáveis.
Utilizar o jogo como meio de aprendizagem: Todas as atividades
apresentadas devem fazer sentido para o aluno e o melhor meio de
conseguir isso é através do jogo, apresentando as atividades com um
envoltório lúdico, fazendo com que o aluno sinta mais interesse no
esporte. Deve-se propor tarefas que englobem os fatores do jogo, com
o fim de oferecer formas simples de um jogo completo.
Mahlo 1968, complementa dizendo que na base de toda formação
tática encontra-se o desenvolvimento das técnicas motoras e das
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qualidades físicas, sendo que o conteúdo desta formação tática deve


corresponder sempre ao nível de evolução dos jogadores.
De acordo com Graça e Mesquita, 2002, os esportes de natureza
aberta, devem conter situações de práticas variadas com problemas
semelhantes a situação de jogo, ao invés de situações de repetições
descontextualizadas, onde além de não estimular o aluno não há uma
transferência para a solução de um problema real enfrentado no jogo.

3.2 Corrente Inglesa

Nesta parte, o que muito se discorre, é sobre o modelo Teaching


Games for Understanding (TGU), e esse foi introduzido devido a problemas
encontrados com as crianças que saiam da escola com: (1) pouco sucesso
para uma ênfase na performance; (2) pouco conhecimento sobre os jogos;
(3) algumas supostas habilidades, pois se mostram técnicas inflexíveis e
pobre capacidade de tomada de decisão; (4) dependência do
técnico/professor; e (5) pequeno desenvolvimento como um espectador
consciente (Bunker & Thorpe, 1982).
Conforme demonstrado em capítulo anterior na figura 1, Bunker e
Thorpe, apontam como é feita a progressão deste modelo.
1. O Jogo – é necessário para reconhecer a habilidade da criança.
2. Apreciação do jogo – a criança deve entender o propósito do jogo,
e deve ser despendido tempo para isso. Se as regras do jogo forem
colocadas quando se tornarem necessárias, maior será a
apreciação do jogo, pois as crianças, entendendo a sua
necessidade, irão aceitar sua necessidade para um bom jogo.
3. Conhecimento tático – As crianças devem gostar de resolver
problemas impostos pelo jogo, e isso irá dar conhecimento para
entender o jogo que eles gostariam de jogar ou assistir.
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4. Tomada de decisão: O que fazer e como fazer? – Aqui foi


necessário dividir em duas fases. Duas crianças sabem que em
uma determinada situação, o passe quicado seria a melhor opção,
porém uma com habilidade limitada, o faz com um passe direto,
enquanto outro melhor dotado, sabe da necessidade da finta
antes da execução . O que leva ao próximo passo.
5. Execução motora – Isso é sempre medido considerando a
individualidade. Por exemplo o passe quicado descrito
anteriormente será apropriado quando a situação do jogo e a
habilidade do aluno for considerada.
6. Performance – Os professores devem estar atentos quanto ao
nível absoluto da performance para avaliação. O professor deverá
reconhecer que o passe sem a finta não será bom em termos
absolutos, porém essa avaliação absoluta será insignificante em
relação a situação de aprendizagem.
Gréhaigne e Goodbout, 1995 em concordância com Bunker e Thorpe
colocam que a performance individual deve estar contextualizada ao
jogo e aponta um modelo sobre uma perspectiva cognitiva baseado
no Construtivismo.
Durante o jogo, a oposição gera sempre o inesperado, fazendo
com que ocorra constantemente uma adaptação para confrontação,
que nem sempre são idênticas às de treino (Gréhaigne & Goodbout,
1995). Logo a importância de saber tomar as decisões, assunto já
discutido em capítulo anterior.
Gréhaigne e Goodbout, 1995 ainda colocam três postulados
sobre o processo de aprendizagem para a construção de um
conhecimento tático: (a) aprendizagem implica um processo de
interação; (b) aprendizagem implica um processo construtivo; (c)
aprendizagem implica um processo cognitivo. E ressalta também que
os jogadores experientes possuem um conhecimento declarativo e
procedimental maior (como discutido anteriormente).
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Holt, Strean e Bengoechea, 2002 apontam o TGU como uma


reação ao modelo tradicional, fazendo com que muitos pesquisadores
fossem buscar evidências de qual o melhor método. E segundo suas
perspectivas, a instrução tática ou técnica, assim como a
combinação de ambas, promovem um desenvolvimento do aluno. O
desenvolvimento técnico está explícito na abordagem tática, assim
como o desenvolvimento do jogo está presente na abordagem
técnica, porém o ponto crucial está em quando introduzir esses
métodos. Assim o que o modelo TGU mostra é o modelo tático deve
ser introduzido primeiramente, e depois que os alunos quando e
porque as habilidades são necessárias no contexto do jogo, aí sim o
modelo técnico será introduzido.
Completando essa idéia, nota-se no basquetebol que muitas
vezes os alunos que compreenderam a necessidade da técnica no
contexto do jogo, buscam aprimorá-la sozinha, ou pedem auxílio ao
professor para que ela possa melhorar sua técnica.

3.3 Corrente Argentina

Di Cesare, 2000, discursa sobre duas grandes metodologias,


tradicional e global. Ele ainda destaca as diferentes denominações
para esses métodos. Os tradicionais podem ser habitualmente
utilizados como método analítico, método passivo, método
mecanicista, método diretivo, método intuitivo e método
associacionista, e dentre o método global apresenta-se os métodos,
ativos, sintéticos, da pedagogia das situações, da pedagogia de
descobrimento, pedagogia exploratória e método estruturalista, que
tem aplicações muito próximas, pertencendo ao mesmo bloco, porém
com algumas singularidades.
O método tradicional coloca o aprendizado das técnicas como
a principal sua preocupação e segundo Di Cesare este modelo vai do
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simples ao complexo, sendo simples o gesto técnico e complexo a


prática global, sem considerar a dificuldade do aluno.
Baseado na teoria construtivista de Piaget, em que a interação
com o meio proporciona bases para a criação de uma estrutura, Di
Cesare, 2000 sobressalta a impossibilidade que a criança tem de
conectar estas habilidades com a sua realidade dificulta
notoriamente sua aprendizagem. Com a preocupação de simplificar a
aprendizagem (aparentemente), e assegurar uma mínima base de
gestos técnicos, o educador elimina a possibilidade de uma
conscientização, por parte do jogador, do momento, lugar e razões da
utilidade deste gesto técnico em jogo, o que suprime a relação gesto-
jogo.
No quadro seguinte são colocadas algumas deficiências
apresentadas por esse método.

O ensino tradicional dos esportes é criticado por...

- Seu caráter analítico... perda de contato com o contexto global e real!


- O diretivismo... perda da iniciativa por parte da criança!
- O desencanto... não é tão divertido como o iniciante imaginava!
- Atraso na culminação da aprendizagem... não se jogo até que se domine os
gestos técnicos!
- Produz descontentamento... prefere jogar a...!
- Focalizar a aprendizagem na obtenção do êxito ante os demais... só se
reconhece os resultados demonstrados!

Crítica ao ensino tradicional de Sánchez Bañuelos, retirado de Di


Cesare, 2000.

Esta pedagogia, representa uma abstração da realidade, dado


que não se analizam situações de jogo, e sim elementos desconexos,
isolando o gesto do seu contexto.
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Em resumo, a cadeia cinética Percepção, Decisão, Execução,


própria de todo o modelo de processamento da informação, não é
tratada eqüitativamente pelo prisma da pedagogia analítica (Di
Cesare, 2000).
A teoria Global surge para superar as deficiências dos métodos
tradicionais, onde o elemento isolado, deverá ser analisado como
parte do sistema, subordinando sua importância ao conjunto, sendo
considerado a necessidade de uma formação inteligente do jogador.

É possível o ensino do esporte em conexão com o mundo da


criança...

- Potencializando o lúdico... vamos jogar a...!


- Favorecendo o contato com a realidade global... quem é capaz de...?
- Despertando a imaginação... quem faria de outra maneira?
- Centrando-se no progresso e domínio das habilidades... como posso
aprender melhor isso?
- Perdendo preocupação pela estrita correção técnica... na próxima
vez fará melhor!
- Desenvolvendo afeição pelo esporte... quem bom que
conseguimos!!!

A Quadro sobre a pedagogia ativa de Sánchez Bañuelos, retirado de Di


Cesare, 2000

A magnificação da técnica como pilar do processo de ensino, tem


levado a um importante erro, eliminar o prazer que o jogo gera ( e
consequentemente a atitude essencial de diversão) e substituí-lo por
instrução. Isto transforma a atividade do jogo em trabalho e a
atmosfera que se cria, distingue-se dos interesses das crianças.
É inútil que a criança pratique exercícios técnicos antes que
tenha jogado. O tempo dedicado a aprendizagem dependerá das
dificuldades surgidas durante o jogo, as quais não serão impostas a
priori pelo educador. A partir do momento em que a criança expresse
a necessidade de determinados aprendizagens ( lançamento, passe,
24

arremessos, etc.) isto deve ser aproveitado ( sobretudo ao nível da


motivação) para enriquecer a atividade que se pratique (Di Cesare,
2000).
Di Cesare, 2000 apresenta os princípios que presidem esta
concepção:
1. Partir da totalidade e não das partes: não considerar o jogo
como uma soma de jogadores, e sim com um conjunto
estruturado com um objetivo comum, a ação individual vai
ter significação em relação a essa totalidade.
2. Partir da situação real de jogo: é através do dinamismo e a
motivação imposta pelo jogo que a criança encontra uma
importante causa para seguir em frente.
3. O treinador deverá enfrentar o jogador, de forma individual
ou grupal, com situações problemas, encontrados nas
atividades esportivas: o esforço pessoal utilizado em
solucionar, com a ajuda do treinador, permite ao jogador
dominar a atividade melhorando suas aptidões funcionais.
4. Os gestos técnicos correspondem a um comportamento
grupal: estes gesto técnicos devem ser deduzidos a partir de
uma situação de jogo, respeitando a disponibilidade da
criança, evitando respostas estereotipadas.
Complementando Di Cesare, 2000 coloca que, se uma
habilidade técnica possui algum significado e se converte na
expressão de um conhecimento prático em seu sentido forte, é
porque se aprende dentro do contexto de jogo. Isto é assim
desde o ponto de vista psicológico e de aprendizagem motora,
porque as habilidades técnicas dos jogos esportivos são
habilidades abertas.
25

3.4 Corrente Alemã

O referencial alemão adotado é o de Kröger e Roth, que


desenvolveram a Escola da Bola, com base nas atuais pesquisas
alemãs.
A Escola da bola apresenta 3 pilares que sustentam sua teoria,
a tabela seguinte resume estes pilares.

Forma de Aproximação Objetivos Conteúdos e métodos


A: Orientado para a Aprender a jogar Somente jogos em forma
situação de elementos táticos para
construir o jogo.
B: Orientado para as Melhoria da Melhoria da coordenação
capacidades coordenação com bola e dos jogos em elementos
para construir a melhoria
das informações motoras
necessárias.
C: Orientado para as Melhoria das atividades Exercitar as técnicas
habilidade básicas de domínio da básicas aos elementos que
bola permitirão desenvolver-se
como mais possibilidades
técnicas.

A base e o objetivo da Escola da bola é permitir que as


crianças possam experimentar e provar de forma rica e variada,
diferentes alternativas de movimento. As crianças devem aprender
“somente” a jogar com liberdade, reconhecer e perceber situações de
26

forma concreta e compreendê-las desde o ponto de vista tático


(Kröger & Roth, 2002).
Com relação à forma de aproximação orientado pela situação,
as crianças devem adquirir uma capacidade geral do jogo e
competência tática; os jogos devem ser construídos de forma que
determinadas constelações típicas dos jogos e os conseqüentes
elementos táticos do jogo possam ser desenvolvidos.
Os sete elementos táticos ofensivos apontados pela Escola da
Bola são:
- Acertar o alvo – Relacionado com o objetivo
- Transportar a bola ao objetivo – Relacionado com o objetivo
- Tirar vantagem tática do jogo – Relacionado com o colega
- Jogo Coletivo – Relacionado com o colega
- Reconhecer espaços – Relacionado com o adversário
- Superar o adversário – Relacionado com o adversário
- Oferecer-se e orientar-se - Relacionado com o meio ambiente
Os elementos táticos defensivos são formulados do ponto de
vista ofensivo de modo a evitar essas situações táticas ofensivas.
Na orientação para as capacidades a ênfase está na área
coordenativa, e não é mais contestado que essas capacidades
coordenativas e pré-requisitos coordenativos de rendimento podem e
devem ser treinados (Kröger & Roth, 2002). Para o treinamento de
coordenação com bola, a Escola da Bola apresenta uma fórmula
básica: Habilidades básicas com bola +Variabilidade + situações de
pressão.
Com relação à variabilidade, apontam-se as exigências
eferentes e aferentes.
- eferentes: Motricidade grossa e fina.
- aferentes: Óptico, acústico, tátil, cinestésico e vestibular.

Com relação às pressões, apontam-se seis situações:


27

- do Tempo: tarefas coordenativas nas quais é importante a


minimização do tempo ou maximização da velocidade.
- da Precisão: tarefas coordenativas nas quais é necessária a
maior exatidão possível.
- da Complexidade: tarefas coordenativas nas quais devem ser
resolvidas uma série de exigências sucessivas, uma através da
outra.
- da Organização: tarefas coordenativas nas quais se apresenta a
necessidade de superação de muitas (simultâneas) exigências.
- da Variabilidade: tarefas coordenativas nas quais há necessidade
de se superar exigências em condições ambientais variáveis e
situações diferentes.
- da Carga: tarefas coordenativas nas quais a exigência é do tipo
físico-condicional ou psíquica.

Considerando agora o terceiro pilar da Escola da Bola, que é


orientado para o desenvolvimento das habilidades, vemos que esse é
altamente voltado a universalidade e muito correlacionado com a
tática.
As habilidades descritas pela escola da Bola servem como uma
caixa de fundamentos para a utilização e aprimoramento tático, e
são apontados oito elementos que se relacionam com a tática
conforme demonstrado a seguir.
28

o
a

vantagem
bola ao objetivo
Acertar o alvo

tática do jogo

Jogo coletivo
Transportar

Reconhecer

Orientar-se
Oferecer-se
adversário
Superar
espaços
Tirar
Organizar os
x x x
ângulos
Dirigir a aplicação
x x x
de força
Determinar o
x x x
momento e o
tempo da bola
Determinar a linha
x x x
de corrida e o
tempo da bola
Oferecer-se e
x x x x
orientar-se
Determinar a
x x x
direção e a
distância do passe
antecipadamente
Antecipar a
x x x x x x
posição do
defensor
Observar linhas de
x x x x x x
corrida
Elementos técnico e sua relação com os elementos táticos (Kröger
&Roth, 2002).
29

A significação das peças técnicas são as seguintes:

- Controle de ângulos: regular e conduzir, de forma precisa, a


direção de uma bola lançada, chutada ou rebatida.
- Regulação de aplicação de força: conduzir/regular de forma
precisa a força de uma bola lançada, chutada ou rebatida.
- Determinar o momento do passe: determinar o espaço, o
momento espacial para passar, chutar ou rebater uma bola de
forma precisa.
- Determinar linhas de corrida e tempo da bola: determinar com
precisão a direção e a velocidade de uma bola no momento de
correr e pegá-la.
- Oferecer-se: preparar ou iniciar a condução do movimento no
momento certo.
- Antecipar a direção do passe: determinar as corretas direção e
distância de uma bola passada, antecipando-a corretamente.
- Antecipação defensiva: Antecipar, prever a real posição de um
ou vários defensores.
- Observação dos deslocamentos: perceber os movimentos,
deslocamentos de um ou vários adversários.

3.5 Corrente Brasileira

Aqui no Brasil a corrente que mais difundida na literatura é a


da Iniciação Esportiva Universal de Greco e Benda, 1998. A Iniciação
Esportiva Universal, pretendeu retomar, nos processos de ensino -
aprendizagem - treinamento, as formas de jogo e as brincadeiras da
cultura popular, enfatizando dois processos paralelos (Greco, 2006):

a) da aprendizagem motora ao treinamento técnico;


b) do desenvolvimento da capacidade de jogo ao treinamento tático.
30

Greco, 2006 diz que parece existir o mesmo padrão de


pensamento entre a IEU e a Escola da bola de Kröger e Roth, 2002,
porém a escola da bola prioriza atividades para o desenvolvimento de
ações com bola, e as atividades da IEU incluem vasta gama de
materiais auxiliares ( bola, bastão, arco, corda, pneu e outros).
Para o ensino das capacidades coordenativas (a), são oferecidos
atividades e jogos nos quais a recepção de informação por meio dos
analisadores (tátil, acústico, visual, cinestésico, vestibular ou
equilíbrio) é colocada em situação de pressão motora (elementos de
pressão de Kröger & Roth, 2002). Paralelo ao processo da
aprendizagem motora ao treinamento, deve-se proceder ao
desenvolvimento da capacidade de jogo, prévio ao treinamento tático
(Greco, 2006).
Para o desenvolvimento da capacidade de jogo, pretende-se a
partir dos parâmetros comuns aos jogos esportivos coletivos,
construir um processo de aprendizagem que decorre do ensino
implícito ao explícito (formal), no qual as regras de comportamento
tático possam ser aprendidas de forma implícita, seguindo o
princípio de experimentar jogando, oportunizando idéias e
criatividade, esses jogos devem ser priorizados entre 6 e 8 anos de
idade.
Bianco, 2006 observa que em uma aula de modalidade esportiva
é comum notar a seguinte estrutura de aula: a primeira parte
dedicada a exercícios de aquecimento (com ou sem bola), a Segunda
parte baseada no ensino de técnicas específicas da modalidade,
através de situações simplificadas (com ou sem oposição), e,
somente no final os jogos são empregados de forma reduzida ou
formal. Nota-se que ainda muitos professores evitam o “joguinho”
alegando que eles estão despreparados pois ainda não executam
perfeitamente a técnica específica da modalidade.
31

A técnica é uma maneira pelo qual é desempenhada uma


habilidade e tática é a utilização adequada e racional da técnica. As
modalidades coletivas são compostas basicamente por habilidades
cognitivas e abertas, para saber executá-las o jogador deve utilizar
os processos de percepção, reconhecimento de padrão e tomada de
decisão para ajustar o movimento (Bianco, 2006).
Quando a técnica é utilizada sem ligação com a tática, ocorre
uma diminuição do efeito de transferência do que foi aprendido para
a situação de jogo (Bianco, 2006). Nos esportes coletivos não basta a
mera aprendizagem dos padrões motores, mas o fundamento precisa
ser associado a outros elementos técnicos e colocado à prova em
situações de confronto com o adversário (Bizzocchi, 2006) .
Aprender é um processo essencial na vida do ser humano e
constitui uma parte indissociável da formação de sua personalidade,
através da qual este se expressa, se adapta e interage com o
ambiente que o rodeia. Em cada nível de performance do indivíduo
deve existir uma interação harmônica do desenvolvimento das
capacidades inerentes ao rendimento motor. Por esse motivo, é
importante que o processo ensino – aprendizagem – treinamento do
aspecto motor ocorra em concordância com o desenvolvimento
cognitivo e afetivo do indivíduo (Greco & Benda, 1998).
Como expressão do fenômeno observável, técnica e tática andam
juntas, são partes indissociáveis de um comportamento em situação.
Ao mesmo tempo em que a percepção, capacidade analítica e
decisória orientam as ações motoras, o nível de habilidade e
repertório técnico também orientam a percepção e a tomada de
decisão, sendo fatores limitantes destes mecanismos. Ações motoras
que sabidamente o jogador é incapaz de executar não são sequer
cogitadas em seu processo de tomada de decisão (Lamas & Seabra,
2006).
32

É fundamental que os praticantes tenham a compreensão da


dinâmica do jogo que envolve aspectos cognitivos de identificação e
interpretação das situações momentâneas e que leva o jogador mais
bem preparado a tomar decisões mais coerentes e adequadas. Este
trabalho de compreensão deve ser iniciado na formação dos atletas,
buscando dar a eles a prática integrada ao contexto do jogo e, não
somente, de serem meros repetidores de movimentos previamente
determinados (De Rose, 2006).
Em uma pesquisa feita com jogadores da seleção brasileira adulta
masculina de basquetebol, Oliveira e Paes 2002, conseguiram traçar
o perfil da trajetória de iniciação destes atletas.
Na fase de iniciação de 7 a 10 anos, de acordo com o depoimento
desses atletas, essa fase, foi repleta de brincadeiras, as atividades
eram livres, a prática de esportes não era objetivo.
Já na fase entre 11 e 13 anos, os atletas demonstraram interesse
em conhecer várias modalidades, indo de acordo com Greco e Benda,
1998 onde a diversificação deve ocorrer para aumentar o repertório
motor.
Ainda que algumas modalidades sejam citadas na fase entre 14-
15 anos, a prática do basquetebol predominava sobre essas outras
modalidades.
33

Prática de algumas modalidades e decisão pelo Basquetebol – 14 a 15 anos

Aprendizagem diversificada de modalidades esportivas – 11 a 13 anos

Atividades variadas em forma de brincadeiras


e jogos – 7 a 10 anos

Perfil da trajetória de iniciação dos atletas da seleção brasileira de


baquetebol, Oliveira e Paes, 2002

De Rose, 2006, ainda coloca que devemos buscar um atleta que


entenda o porque das ações no ambiente do jogo e saiba tomar
decisões com base em uma estrutura física, técnica e tática bem
definida. Não se deve buscar somente um “robô” repetidor de
movimentos e executor de “coreografias” preestabelecidas e que, nem
sempre, são possíveis de serem relizadas.

4. Considerações Finais

Esta revisão procurou mostrar como vem sendo discutido na


literatura o método de ensino-aprendizagem nas modalidades esportivas
coletivas, com atenção especial ao basquetebol. Procurando responder
questões como, qual melhor maneira de ensinar o jogo, como fazer com
que a criança aprecie o jogo, como fazer que o jogo seja incorporado na
vida da criança.
34

Pelo que foi revisado podemos notar que apesar das nomenclaturas e
terminologias diferentes, todas as correntes teóricas atuais preconizam a
importância da consciência tática e desenvolvimento cognitivo.
Os esportes de natureza aberta, devem conter situações de práticas
variadas com problemas semelhantes a situação de jogo, ao invés de
situações de repetições descontextualizadas, onde além de não estimular o
aluno não há uma transferência para a solução de um problema real
enfrentado no jogo (Graça & Mesquita, 2002).
Nenhuma das correntes diz que a técnica não é importante, porém
esta é importante se aliada a consciência tática. Uma dificuldade talvez
seria saber o momento de aplicação da consciência tática ou do
aperfeiçoamento técnico, atualmente é reconhecido a importância de
ambos, mas apesar das evidências (Di Cesare, 2000; Paes, 2002; Turner,
Allison e Pissanos, 2001) que se tem hoje sobre a abordagem tática, faltam
estudos a longo prazo que acompanhem e comparem essas abordagens.
35

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