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A ANÁLISE RETÓRICA

DAS CARTAS PAULINAS


INTRODUÇÃO À METODOLOGIA DE ESTUDO

INTRODUÇÃO
POR QUE ES TUDAR A RETÓRIC A LITERÁRIA DAS C ARTAS PAULINAS?

Difícil sintaxe

Amplo vocabulário

Herança greco-romana

Técnicas argumentativas

I. O QUE É A ANÁLISE RETÓRICA


VERTENTES PRESENTES NO DOCUMENTO DA PCB (1993)

A. “Rhetorical Criticism” – a crítica literária americana dos anos 1970:

Cinco passos para a análise dos clássicos da literatura greco-romana


1. Determinar a unidade retórica (carta, seção ou perícope)
2. Analisar os elementos retóricos (destinatário, autor, contexto)
3. Determinar o gênero literário (segundo a divisão aristotélica)
4. Composição do texto e sua relevância para a argumentação
5. Considerar o auditório e o orador

Útil para entender a intenção do autor, mas muito rígida.



I. O QUE É A ANÁLISE RETÓRICA
VERTENTES PRESENTES NO DOCUMENTO DA PCB (1993)

B. Procedimentos de composição semítica

- Natureza binária e paralelismos


- Prevalência da parataxe (em vez de sintaxe e hipotaxe)
- Uso de estruturas simétricas (concêntricas e quiásticas)

Evidencia a essência do discurso e os argumentos que o rodeiam/embasam


Estrutura confusa ou longa demais para a índole epistolar
A interpretação do texto não deve ser só estética

I. O QUE É A ANÁLISE RETÓRICA


VERTENTES PRESENTES NO DOCUMENTO DA PCB (1993)

C. Pesquisa moderna ou “new rhetoric”

Contribuições da semiótica, linguística, antropologia e sociologia


Duas dimensões da linguagem: informativa e performativa
Estudo funcional dos escritos conforme o seu grau de convencimento
Impacto do contexto social

Possível anacronismo

I. O QUE É A ANÁLISE RETÓRICA


UMA NOVA VERTENTE

A retórica literária

Desenvolvida mais recentemente


Síntese entre os pontos fortes dos demais métodos
Intenção de superar uma análise meramente formalista
Reforço da conexão entre retórica e teologia

II. A HISTÓRIA DA RETÓRICA


ANTES DE ARIS TÓTELES

Os sofistas, a arte do bem falar

Górgias e o primeiro tratado

Profissionalização da retórica

Oposição por parte da dialética


II. A HISTÓRIA DA RETÓRICA


ARIS TÓTELES

Complementaridade entre retórica e dialética

A Arte da Retórica
O orador
O auditório
A mensagem

Primazia da argumentação
Exemplo
Entimema

II. A HISTÓRIA DA RETÓRICA


ARIS TÓTELES

OS GÊNEROS LITERÁRIOS DA RETÓRIC A E SUAS ESPECIFICIDADES

Gênero Auditório Método Tempo Objeto Argumento

Defender/
Judiciário Juízes Passado Justo/Injusto Entimema
acusar
Aconselhar/
Deliberativo Assembléia Futuro Útil/Nocivo Exemplo
desaconselhar

Epidítico Espectadores Elogiar/criticar Presente Belo/Feio Amplificação


II. A HISTÓRIA DA RETÓRICA
ARIS TÓTELES

AS CINCO PARTES DA TÉCNIC A RETÓRIC A

Parte Signi cado

Inventio procurar o que dizer

Dispositio ordenar o que se encontrou

Elocutio acrescentar o ornamento da palavra

Actio recitar o discurso como um ator

Memoria recorrer à memória


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II. A HISTÓRIA DA RETÓRICA
ARIS TÓTELES

A SUBDIVISÃO DA DISPOSITIO

Característica
Parte Signi cado
associada
Exordium início, captatio benevolentiæ Ethos

Narratio exposição clara e breve dos fatos da questão Logos

Propositio apresentação dos termos essenciais Logos

Argumentatio Probatio [+ Refutatio] = provas favoráveis [e contrárias] Logos

Peroratio recapitulação dos pontos [+ Digressio] Ethos ou Pathos


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II. A HISTÓRIA DA RETÓRICA
DEPOIS DE ARIS TÓTELES

Emprego no mundo greco-romano

Uso na Igreja (Patrística e Idade Média)

A cisão renascentista: Inventio + Dispositio || Elocutio

A crítica do romantismo

Redescoberta

III. A RETÓRICA E OS TEXTOS BÍBLICOS


DESDE OS PRIMÓRDIOS

Aptidão dos textos bíblicos

Patrística: Orígenes, São João Crisóstomo, Santo Agostinho, São Cirilo

Reforma: Erasmo, Lutero e Calvino

Séculos XVI-XVII: foco na Elocutio

Década de 1970-atualmente

III. A RETÓRICA E OS TEXTOS BÍBLICOS


OS PIONEIROS

BETZ (1975) E A ANÁLISE DA C ARTA AOS GÁL ATAS

Trecho Parte correspondente

1,6-11 Exordium
1,12–2,14 Narratio

2,15-21 Propositio

3,1–4,31 Probatio

5,1–6,10 Exhortatio

6,11-18 Peroratio
III. A RETÓRICA E OS TEXTOS BÍBLICOS
DESENVOLVIMENTOS ATUAIS EM SUAS TRÊS TENDÊNCIAS

A. Uso da retórica para evidenciar as anomalias redacionais

Subdivisão das Cartas em elementos similares a blocos de notas


Dependência de dispositiones hipotéticas
Descarte da possibilidade clássica de cartas com mais de um tema

III. A RETÓRICA E OS TEXTOS BÍBLICOS


DESENVOLVIMENTOS ATUAIS EM SUAS TRÊS TENDÊNCIAS

B. Abordagens semióticas

Análise orgânica da natureza dos discursos em função de sua sintaxe


Abordagem útil, mas limitada: excessivamente focada nos aspectos literários

III. A RETÓRICA E OS TEXTOS BÍBLICOS


DESENVOLVIMENTOS ATUAIS EM SUAS TRÊS TENDÊNCIAS

C. Comunicação entre as dimensões narrativa e retórica

Abordagem multidisciplinar
Diálogo entre escolas e épocas
Análise textual multidimensional (estrutura interna e contextos)
Importância do contexto
Inaplicabilidade aos Evangelhos
Salvaguarda de riscos

IV. USO DA ANÁLISE RETÓRICA


OBJEÇÕES AO USO DA ANÁLISE RETÓRIC A

A. Não se faz menção alguma à formação helenista de Paulo, apenas semita

B. As problemáticas de 1Cor 2,1-5 e 2Cor 11,6

C. Epistolografia não tem relação com produção em forma de discursos

IV. USO DA ANÁLISE RETÓRICA


OBJEÇÕES AO USO DA ANÁLISE RETÓRIC A

Contra A (A formação clássica de Paulo)

No Século I d.C., a distinção entre cultura helênica e judaica era artificial

Qualquer pessoa razoavelmente bem educada tinha formação em retórica

IV. USO DA ANÁLISE RETÓRICA


OBJEÇÕES AO USO DA ANÁLISE RETÓRIC A

Contra B (As problemáticas de 1Cor 2,1-5 e 2Cor 11,6)

Recusa apenas do uso manipulador (cf. 1Cor 2,4)

Busca da persuasão pela Cruz de Cristo

O contraste das sabedorias em 2Cor 11–12


IV. USO DA ANÁLISE RETÓRICA


OBJEÇÕES AO USO DA ANÁLISE RETÓRIC A

Contra C (Epistolografia e discursos)

Superação das divisões


Escrita para as comunidades -> escrita para a Igreja
Auxílio de um secretário (cf. Rm 16,22 e Gl 6,11)
Indício de uma comunicação viva entre fundador e comunidades
Estrutura peculiar

IV. USO DA ANÁLISE RETÓRICA


OBJEÇÕES AO USO DA ANÁLISE RETÓRIC A

Contra C (Epistolografia e discursos)

Estrutura peculiar
Præscriptum (remetente, destinatário e saudação)
Corpus (a mensagem em si mesma)
Postscriptum (despedida autoral)

IV. USO DA ANÁLISE RETÓRICA


OBJEÇÕES AO USO DA ANÁLISE RETÓRIC A

Contra C (Epistolografia e discursos)

Estrutura peculiar
Præscriptum (remetente, destinatário e saudação)
Ação de Graças || Exordium
Corpus (a mensagem em si mesma)
Postscriptum (despedida autoral)

IV. USO DA ANÁLISE RETÓRICA


O MÉTODO DA ANÁLISE RETÓRICO-LITERÁRIA

Método sincrônico

Estudo do objeto no presente


Contraste complementar com os métodos diacrônicos
Útil em situações de estabelecimento de comunicação autor-leitor
Apto ao projeto paulino de formação do præscriptum ao postscriptum

IV. USO DA ANÁLISE RETÓRICA


O MÉTODO DA ANÁLISE RETÓRICO-LITERÁRIA

Etapas do método

Delimitação do texto (critérios literários e retóricos)


Discussão do texto (crítica textual)
Composição do texto (oral, discurso ou midrash)
Gênero e origem literários
Análise exegética
Texto no contexto (seção ou Carta)
Contexto histórico e social
Lógica global do texto

V. EXEMPLOS DE USO DA ANÁLISE RETÓRICA

Possibilidades levantadas pelo autor

A. Romanos 1–4 e a Dispositio

B. Filipenses 3,1–4,1 e o gênero literário

C. 1Coríntios 12–14 e o procedimento argumentativo


V. EXEMPLOS DE USO DA ANÁLISE RETÓRICA


1COR 12–14 E O PROCEDIMENTO ARGUMENTATIVO

Dissonância entre os temas dos capítulos 12;14 e 13

Tentativa de explicar a pertença orgânica do capítulo 13 à mesma seção

Conexões léxicas

A dobradiça

V. EXEMPLOS DE USO DA ANÁLISE RETÓRICA


1COR 12–14 E O PROCEDIMENTO ARGUMENTATIVO

O capítulo 13 todo é uma Digressio dentro de um esquema maior:

Trecho Parte correspondente


12,31b Propositio I: a via por excelência
13,1-3 Probatio I: mesmo com todo o resto, sem a caridade, eu nada seria
13,4a Propositio II: a caridade é paciente e boa
13,4b-7 Probatio II: o agir da caridade não faz mal e tudo suporta
13,8 Propositio III: a caridade jamais desaparecerá
13,9-13 Probatio III: os carismas e as virtudes passarão, mas não a caridade
14,1a Conclusão exortativa
V. EXEMPLOS DE USO DA ANÁLISE RETÓRICA
1COR 12–14 E O PROCEDIMENTO ARGUMENTATIVO

O capítulo 13 é um discurso epidítico, um encomium à virtude

Paulo usa a díade de questões para resolver o que lhe perguntam


Enfrenta a quæstio finita (sobre os dons espirituais),
respondendo com a quæestio infinita (sobre a Caridade)

Evidência de como o Apóstolo respondia às questões e como seu pensamento


funcionava (não apenas como autor, mas também como discípulo de Cristo)

Apesar de o capítulo 13 ser epidítico, a seção como um todo é deliberativa

VI. OS GANHOS DA ANÁLISE RETÓRICA

Consideração do estilo de escrita e do contexto do Apóstolo dos Gentios

Perscruta o sentido do texto, apoiado no contexto

Uso eficaz do Apóstolo de Logos, Ethos e Pathos

Exaltação de elementos paradoxais

Emprego da auxese

VI. OS GANHOS DA ANÁLISE RETÓRICA


ELEMENTOS CONCLUSIVOS

Caminhos de desenvolvimento

Ver como a retórica do Apóstolo é baseada no Evento-Cristo

Tomar cuidado para não reduzir a análise a apenas um aspecto

Fazer um uso apropriado do novo e flexível método para ser um bom exegeta

MUITO OBRIGADO
A ANÁLISE RETÓRICA DAS CARTAS PAULINAS:
INTRODUÇÃO À METODOLOGIA DE ESTUDO

MATHEUS CAMILO | 2023

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