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tales-proporcao-aplicada-a-geometria

Publicado em NOVA ESCOLA Edição 235, 01 de Setembro | 2010

Prática Pedagógica

Teorema de Tales:
proporção aplicada à
Geometria
Segmentos, paralelas, transversais e proporção. Relacione
esses elementos e oriente o uso do teorema que ajuda no
cálculo de medidas
Cinthia Rodrigues

Três paralelas cortadas por duas transversais,


formando quatro segmentos. Essa imagem,
como a do desenho à esquerda, é a
representação mais clássica do teorema de
Tales. Os exercícios escolares normalmente
apresentam essa figura e dão valores a três dos
quatro segmentos. O desafio do aluno é
descobrir o segmento cuja medida é
proporcional ao outro e encontrar o número desconhecido fazendo uso da
regra de três. Se o professor não colocar novos problemas para serem
resolvidos nas aulas, o ensino do teorema parece finalizado. Mas é possível ir
além - afinal de contas, há aplicações muito mais amplas e instigantes
(leia diversos problemas e possíveis equívocos na próxima página). Em linhas
gerais, o teorema de Tales é a proporcionalidade aplicada à geometria. "Por
isso, é essencial diagnosticar se os alunos entendem a ideia de
proporcionalidade ou precisam consolidar conceitos geométricos", diz o
professor Luiz Marcio Imenes, mestre em Educação Matemática e autor de
livros didáticos. Como visto na primeira reportagem desta série, na edição de
agosto de 2010, a proporcionalidade ocorre quando existe a mesma variação
(chamada de razão) de valores em duas grandezas. Por exemplo: se a medida
de um lado da figura dobra, o outro também deve dobrar. Quando um deles
triplica, ocorre a mesma mudança com o outro. Uma forma de retomar o
assunto é propor problemas em que exista ou não a proporcionalidade, ou
casos em que as variações não são aleatórias. Também é fundamental garantir
que os alunos entendam os termos geométricos usados em Tales (paralelas,
transversais e segmentos).

Passada essa etapa, introduza o teorema de Tales com a análise do desenho


de um triângulo que tenha lados de medidas diferentes cortado na metade de
sua altura por uma linha paralela à base. É possível ver que o lado que mede,
digamos, 12 centímetros, ficará com duas partes de 6 centímetros e o lado de
18 centímetros vai ter outros dois segmentos com 9 centímetros. Em seguida,
uma sugestão é mostrar o mesmo triângulo com uma paralela que cruze o
desenho formando segmentos de 10 e 2 centímetros em um dos lados e 15 e 3
centímetros no outro. Diante desse contexto, a turma precisa descobrir qual a
relação entre os segmentos e os lados. A chave será encontrar a razão de
proporcionalidade entre os segmentos de um mesmo lado, o que é calculado
dividindo 10 por 2 ou 15 por 3 (razão 5). Aí, então, discuta com os alunos uma
regra básica do teorema de Tales: existe a proporção entre segmentos de
transversais que são delimitadas por paralelas.

De olho na proporção das figuras geométricas, os adolescentes podem


encontrar diversas medidas (leia a sequência didática). Ao pedir que o aluno
trace uma transversal de 4 centímetros e a divida em 3 e 1 centímetros por
uma paralela, ele pode concluir que a outra transversal terá um segmento com
tamanho três vezes maior que a outra. Esse e outros raciocínios são válidos - o
importante é intermediar as discussões e tomar os erros e acertos como um
material de debate com a turma.

Enunciados, respostas equivocadas e análises


Nos exemplos abaixo estão alguns problemas que envolvem, explicitamente ou
nem tanto, o teorema de Tales. Veja algumas possíveis resoluções de alunos e
como interpretá-las

Um jardineiro divide um canteiro triangular e encontra as medidas a seguir.


Qual a extensão do trecho marcado com x e por quê?

Resolução do aluno
5, porque 2 + 6 = 8 e 8 - 3 = 5

Comentário O aluno ainda não entendeu a proporcionalidade e pensa que


todo triângulo tem dois lados iguais, ou seja, é isósceles. Ao verificar que um
lado é maior e que há a proporção de 3 para 1, vai concluir que a resposta é 9.

Num bairro em que os quarteirões têm os tamanhos mostrados na figura


abaixo, qual o comprimento aproximado da praça?

Resolução do aluno
Não sei.

Comentário O estudante não visualizou as paralelas e transversais nem aplica


a geometria em situações reais. A resposta tanto de

como de

seria 70.

Um turista resolveu contar em passos a distância do obelisco da cidade que


visitava até o primeiro cruzamento de cada uma das quatro ruas que
começavam ali. Quando terminou de percorrer a terceira, percebeu que os
quarteirões formavam paralelas. Ele consegue saber quantos passos terá o
último trecho com base nas medidas anotadas no mapa?

Resolução do aluno

Comentário

O estudante considerou proporcionais dois segmentos de retas diferentes. O


correto seria
Um fazendeiro quer construir uma ponte de um extremo a outro de um lago,
como o mostrado no desenho à direita, mas primeiro precisa saber quanto
mede essa extensão. Como ele pode descobrir?

Resolução do aluno

Comentário

Muitos pensam que as paralelas e transversais precisam existir para aplicar


Tales, sem enxergar a possibilidade de criá-las. Nesse esquema, foram traçadas
duas paralelas: uma na base do lago e outra mais distante. Entre elas, formou-
se um segmento (c) contínuo à transversal que se visualiza sobre o lago (d).
Outra transversal foi criada em um ponto onde o fazendeiro poderia fazer a
medição (formando os segmentos a, b).

Quando paralelas e transversais não estão evidentes

Para ampliar a variedade de situações em que o


teorema de Tales é aplicado, vale trabalhar em
sala de aula com enunciados em que não haja
distâncias nem medidas conhecidas. Isso
porque esses problemas podem ser resolvidos,
mesmo que não haja informações evidentes -
nem números nem transversais ou paralelas
que se cruzam. O caminho nesses casos é
pensar em transversais e paralelas em volta de
uma figura qualquer e traçar segmentos que
possam ser úteis para o cálculo das medidas
desconhecidas, como no exemplo do lago (descrito no problema da página
anterior). "O ensino de geometria implica outro modo de pensar. Não é só
conhecer uma fórmula, mas saber encaixá-la em uma situação", afirma Cecília
Lamela, professora da área de Didática da Matemática da Universidade de
Buenos Aires, na Argentina.

Além de ferramenta para a resolução de problemas, o teorema de Tales é uma


oportunidade de discutir como a ciência da Matemática é aperfeiçoada. Tales
de Mileto (século 6 a.C.) foi o primeiro a usar a dedução para chegar a uma
medida (com isso, é considerado um dos fundadores da geometria dedutiva).
Ele verificou que poderia calcular alturas de pessoas e construções com base
em suas sombras. Duzentos anos depois, o pesquisador Euclides (século 4 a.C.)
se apoiou nessa constatação e formulou o teorema que afirma que duas
transversais interceptadas por um feixe de paralelas têm segmentos
proporcionais. Em homenagem ao pioneiro, batizou a criação de teorema de
Tales.

Quer saber mais?

CONTATOS
Cecília Lamela
Luiz Marcio Imenes

BIBLIOGRAFIA
Geometria Euclidiana por Meio da Resolução de Problemas, Lucia Tinoco, 176 págs., Ed. do Projeto Fundão da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), tel. (21) 2562-7511, 18 reais

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