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O Jardim da Verdade
INTRODUÇÃO
Muitos pesquisadores acreditam que este trecho deveria ser o começo da obra.
O Mishné Torá ensina que a Divindade deseja que o ser humano escolha viver
uma vida moral, de acordo com a Torá. Tendo chegado a tal nível, o Rambam
deseja que o ser humano aplique sua mente aos segredos da Torá.
O termo Hebraico para Orion é K’sil, um termo que, também implica a ideia de
tolo [tal qual observado pelo rabino Marcus Jastrow, 1829-1903 Z”L – autor do
Dicionário dos Targumim, Talmud Bavli e Ierushalmi - p. 653-4], sendo, uma
dica não tão sutil, para o leitor do Guia, a respeito do Melamed.
tenha sido uma figura familiar, seja em Córdoba ou no Cairo, uma pessoa mais
confortável com um intelectual Judeu do que com um Teólogo Islâmico.
O estudioso disse que Adam recebeu uma bênção na sua expulsão, que o
capacitou a distinguir o bem do mal, algo que nós chamamos de discernimento.
Mas, ele enfatiza que, discernimento é uma benção do intelecto, não um
castigo. Adam careceria de discernimento antes de comer o fruto proibido. E
neste prisma, ele não era diferente dos animais. Deus teria então, punido ele,
por comer o fruto; outorgando a ele o dom do discernimento, uma recompensa
no mínimo estranha, para uma transgressão.
O estudioso então, compara Adam a Orion. Orion engana Artêmis. E por causa
disso, ela o transforma numa estrela no céu. Desde que, uma estrela é [na
visão da época] uma “inteligência separada”, um ser mais espiritual do que, o
carnal ser humano; é um modo no mínimo, bem peculiar, de se “punir” alguém
mortal, com imortalidade.
A ideia de que, a serpente trouxe essa bênção [por causa da serpente, o fruto
foi comido] é também de origem mitológica Ofítica. Ofitismo é um termo
genérico de várias seitas gnósticas cristãs da Síria e do Egito, que
consideravam a serpente como incorporação de poderes divinos.
Pines comenta isso no trecho - Truth and Falsehood versus Good and Evil - da
obra: Studies in Maimonides, páginas 120-121.
O Rambam explica então que, quando “os olhos de Adam foram abertos”, para
ver que estava nu, não se trata de dizer que, ele era cego antes, pois via o que
viu naquele momento.
Ao invés disso, ele começou a ter um olhar diferente sobre tudo, uma forma
distinta de interação com o mundo a sua volta; nos moldes da opinião
convencional ou “senso comum”, em termos de bem e mal.
Apenas após, ele ter deixado a dimensão da consideração por aquilo que é
real, verdadeiro; em contraste com o que fosse falso; é que ele passou a ver
pelo senso comum, que nudez era algo mau; como se fosse uma espécie de
imoralidade.
Afinal, ele perguntou sobre, como devemos considerar o dom da noção moral,
como uma punição.
Por esta razão, foi considerado como se fosse, uma espécie de ser etéreo,
mas, no sentido de implicar; não atento ou apegado, ao material.
E este Adam então, contém em si, esta divisão primeira; a diferenciação entre
macho e fêmea como princípios, Adam e Havá = O Terráqueo e a Que dá Vida.
– בית מדרש חופשיBeit Midrash Livre – Sefer Moré Nevuhim Tomo I Cap 2
O Nahash a convenceu de que, ela não morreria de comer o fruto. Havá sabia
que, tinha liberdade sobre as próprias decisões – comer ou não comer o fruto –
e isso, somente seria possível; devido sua capacidade de discernimento.
נענש בששולל ההשגה ההיא השכלית ומפני זה מרה במצוה אשר בעבור שכלו
צווה בה
Esta sentença, não faz sentido, no modo convencional. Afinal, qual seria o
significado de se transgredir um mandamento moral; do qual Adam estaria,
encarregado?
Adam – que apenas conhecia verdadeiro e falso, é informado de, não comer o
fruto. Mas, o fruto não é falso – razão pela qual, o texto o descreverá com
termos realistas: agradável aos olhos, atrativo.
Deste modo, o sistema binário apresentado “de não se comer o fruto” é o que,
me referi como incongruente.
A conclusão então, deve ser que, a Divindade deseja que Adam, faça sua
primeira escolha. Quando Adam escolhe, ele ativa em si, habilidades
inerentemente associadas com sua liberdade: sua criatividade, imaginação.
Porém, neste estágio, o ser humano observa apenas, para fora de si – a partir
de si. Ele ainda não observa a si mesmo.
Assim, tal qual o propósito da Torá como um todo; o Guia procura criar o
Homos Profeticus.
Por isso, o Rambam coloca esta reflexão após o léxico, não antes.
AS QUESTÕES RELACIONADAS
O Rambam interrompe então, seu relato da impressionante questão do
estudioso.
Elohim sabe que, no dia em que comerem dela, seus olhos serão
abertos, e vocês serão como Elohim, conhecedores do bem e do
mal.
Este último verso parece ser, o que inspirou o estudioso questionador: Por qual
motivo o Elohim pune o Adam, fazendo-o como Elohim? Ele já não era imagem
de Elohim?
O Rambam corrobora com tal tradução, tal qual faz com todo o trabalho de
Onkelos. Mas ele considera que o termo, também poderia aludir a “malahim” ou
mesmo, “juízes” (tal qual faz, o Rashi, seguindo o Pirkei D’Rabi Eliezer, capítulo
13; aonde a tradução é: Criadores de mundos).
Ele agora se coloca, como se fosse juiz do mundo, uma categoria previamente
inexistente. É neste sentido, que o homem tornou-se Elohim.
Esta Agadá deixa claro que, apesar de Adam agora ser contado entre os
Elohim/juízes, ele não era um hassid, alguém piedoso, um homem perfeito.
O termo não é pejorativo então, mas, indica um olhar para dentro de si mesmo.
Por meio deste olhar para dentro de si, Adam percebeu seu erro; pois, foi
capaz de desassociar-se da própria imaginação - do próprio erro - percebendo-
se para além da mentalidade.
Esta alusão faz referência a idolatria, tal qual o alimento é alusão da Torá: o
pão, o leite e o mel.
Ou seja, ele declara que devemos ser agradecidos e ficar estupefatos com a
Divindade, pelo maravilhoso dom outorgado ao ser humano; nesta mesma
capacidade de Observar a Si Mesmo (abrir os olhos) pois, é exatamente isso,
que proporciona o retorno ao Éden, apesar de tudo.
Seus atos estão, portanto, acima do bem e do mal, acima das criações da
imaginação humana. Este é o patamar a ser alcançado pelo Adam Profético.