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Obsessão cartográfica ou
Aproximações a um mapa
de Montalegre
Entretanto, este canto noroestino vai-se modificando aqui à nossa volta, vestindo
hoje as ruínas de uma paisagem quase desconhecida, por vezes estranha. Cada
vez mais protegido por associações de fieis, este nosso nicho verde, vai criando
efeitos de exotismo no seu interior, seduzindo a nostalgia que se apega a um
mundo em vias de extinção.
Data de 2500 a.C. a célebre placa de argila descoberta nas ruínas da cidade de Ga
Sur na Babilónia que, representando o vale de um rio, provavelmente o Eufrates,
será um dos mais antigos mapas conhecidos. Também os agrimensores egípcios
teriam elaborado desenhos e cartas, resultantes das medições feitas no vale do
Nilo durante o reinado de Ramsés (1333-1300 a.C.). A noção de itinerário e de
limite, constituiriam pois um dos primeiros degraus da cartografia.
Daí até aos nossos dias da informatização do espaço em grande escala, através do
recurso a satélites e à parafernália sofisticada da tecnologia, distará apenas o curto
passo representado pelo liberal e colonial século XIX.
Mas, para não nos perdermos em demasia, convém identificar o autor da obra, e
para tal, socorremo-nos do sempre fiel Inocêncio F. da Silva e do seu não menos
fiel Dicionário que nas páginas 119 do Tomo V nos diz ter nascido José dos
Santos Dias, na aldeia de Cortiço, termo de Montalegre em 26 de Dezembro de
1778 e falecido na mesma vila a 19 de Setembro de 1846.
Estamos em crer que o mérito deste simpático livrinho e do seu notável mapa é
hoje, com certeza, muito superior ao do tempo em que via pela primeira vez a
luz, já que, se perdeu em actualidade, foi amplamente compensado pela visão
dinâmica e sinóptica que deixou da região de Montalegre nos inícios de
oitocentos.
Está portanto bem patente neste discurso de J. S. Dias, a ideia de que o seu texto
como descrição e definição e o seu exacto mapa como representação, funcionam
como simulacro, quase figura jurídica que permitirá ao poder coevo, a
apropriação da terra de Montalegre na sua totalidade.
A quem se quiser extasiar com o livrinho, faz-se saber que este tem a Cota A.372
da Biblioteca do Parque Nacional da Peneda-Gerês .