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Autor
Ismael da Silva Costa
Mestre em Saúde Coletiva pelo Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Graduado em enfermagem pela UERJ e em Cinema pela Universidade Estácio de Sá. Funcionário da secretaria
municipal de saúde da cidade do Rio de Janeiro desde l 996. Professor da graduação em enfermagem da
Universidade Estácio de Sá desde 2004. Também atua como professor dos seguintes cursos de pós-graduação:
Enfermagem em saúde da familia (Faculdade Souza Marques), Enfermagem do Trabalho (Universidade Estácio
de Sá), Saúde Coletiva (Universidade Celso Lisboa). Professor dos cursos preparatórios para concursos públicos
Saúde Aprovação e Aprimore. É coautor dos seguintes livros: Quimo nos concursos - Enfermeiro, Quimo nos
concursos - Técnico e auxiliar de enfermagem, Quimo língua portuguesa - SUS. É colaborador dos seguintes
livros: Quimo nos concursos - saúde do trabalhador e Quimo nos concursos - Fonoaudiologia (ambos no prelo).

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Editoração Eletrônica Ilustração


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CEP 70.302-914 - Brasília - DF
Fone: (61} 3421-9200
sac@grupont.com.br
www.nteditora.com.br e www.grupont.com.br

Costa, Ismael da Silva.

Saúde coletiva 1 / Ismael da Silva Costa - 1• ed. - Brasília:


NT Editora, 201 5.
104 p. il.; 21,0 X 29,7 cm.

ISBN 978-85-841 6-086-0

l . Saúde. 2. Sociedade.
1. Título

Copyright © 2015 por NT Editora.


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LEGENDA

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Saiba mais

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Dicas
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Exercícios

"Q Toda vez que você vir o ícone de exercícios, responda às questões propostas.

Exercícios
Ao final das lições, você deverá responder aos exercícios no seu livro.

Bons estudos!
Sumário

1 O CONCEITO DE SAU DE ................................................................................... 7


1.1 Afinal,oqueésaúde? .............................................................................................................7
1.2 Conceitos de saúde ao longo da história ........................................................................9
1.3 O processo de saúde-doença-cuidado ......................................................................... 11
1.4 Modos de adoecer e modos de curar ao longo da história ................................... 14
1.5 As profissões da área da saúde ......................................................................................... 17
1.6 A inserção do Estado na saúde ......................................................................................... 18
1.7 O que é saúde pública? ....................................................................................................... 20

2 FUNDAMENTOS DE EPIDEMIOLOGIA .......................................................... 30


2.1 História da epidemiologia .................................................................................................. 30
2.2 Os modelos explicativos em epidemiologia ............................................................... 32
2.3 Conceitos básicos em epidemiologia ............................................................................ 37
2.4 A vigilância epidemiológica .............................................................................................. 41
2.5 Indicadores epidemiológicos ............................................................................................ 45
2.6 Transição epidemiológica .................................................................................................. 46
2.7 Medidas gerais de profilaxia e controle ........................................................................48

3 OS MODELOS DE ATENÇÃO À SAÚDE .......................................................... 53


3.1 Paradigmas da atenção à saúde ...................................................................................... 53
3.2 Os modelos de proteção social ........................................................................................ 58
3.3 Os modelos de atenção à saúde ...................................................................................... 60
3.4 O Sistema Único de Saúde ................................................................................................. 64

4 O MODELO DA VIGILÂNCIA À SAÚDE .......................................................... 75


4.1 Introdução à vigilância em saúde ................................................................................... 75
4.2 A atenção primária à saúde ............................................................................................... 78
4.3 O conceito de campo da saúde de Marc Lalonde ..................................................... 80
4.4 O conceito de promoção da saúde ................................................................................. 81
4.5 O conceito de qualidade de vida ..................................................................................... 87
4.6 Introdução às práticas educativas em saúde .............................................................. 88
4.7 A estratégia de saúde da família ...................................................................................... 91

GLOSSARIO ........................................................................................................ 98

BIBLIOGRAFIA ................................................................................................. 102

4
APRESENTAÇÃO

Bem vindo(a) ao curso de Saúde Coletiva I!

A saúde é um dos temas mais debatidos na imprensa brasileira. É muito comum lermos e ou-
virmos frases como: "isto é uma questão de saúde pública'; "saúde é prioridade'; "precisamos construir
mais hospitais''. Mas, afinal, o que é saúde? De que forma o Estado pode se organizar para garantir este
direito à população? Como saber se as políticas de saúde pública estão sendo eficientes ou não? Com-
preender os conceitos de saúde e políticas de saúde é fundamental para que um profissional de saúde
esteja consciente do seu papel na sociedade. Convido-os para que de forma dinâmica e agradável,
possamos nos aventurar na descoberta desses conceitos. Vamos lá?

Bons estudos!

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5
1 O CONCEITO DE SAÚDE

Olá, caro leitor, nesta lição você irá estudar:


• Os conceitos de saúde e doença.
• A inserção do Estado na saúde.

• O que é saúde pública.

1.1 Afinal, o que é saúde?

Olá, seja bem-vindo ao curso de


saúde coletiva 1, neste curso apren-
deremos juntos os principais funda-
mentos desta área do conhecimento
tão falada e tão pouco conhecida: a
saúde pública ou saúde coletiva.

Em primeiro lugar, cabe uma pergunta que pouca gente se faz: afinal, o que é saúde? Nós pode-
mos perceber que essa palavra pode ser utilizada com vários sentidos diferentes no dia a dia, observe:

a) Quando alguém espirra:

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7
b) Num protesto por melhores condições de vida:

- corrupção
+ saúde

c) Ao fazer um brinde:
Feliz sexta-feira!
Um brinde à nossa amizade!'
Saúde e Paz!

" Exercitando o conhecimento

Faça duas experiências:


1. Entre na internet, acesse um buscador e pesquise imagens com a frase: Que saúde!
O que aparece?

Comentário: provavelmente você deve ter visto uma série de imagens de homens e
mulheres em trajes de banho e em boa forma física. Isso acontece, porque atualmente
há grande relação nos meios de comunicação entre saúde e um físico atlético, mas nem cl
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sempre foi assim. No passado, o obeso era considerado saudável, uma vez que a pobreza {?.
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estava associada à falta de acesso a alimentos, e um corpo atlético estava associado ao E

trabalho braçal (algo indesejável). LJ.J
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2. Pergunte a alguém que você conheça: o que é saúde para você?
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8
Saúde popularmente pode ser definida como:
• Ausência de doença.
• Capacidade de trabalhar, de fazer suas atividades no cotidiano.
o
Bile amarela:
• Estar em boa forma física. Hipócrates
formulou a
• Ter bons hábitos. teoria humoral
(fluidos) e
• Ter independência e autonomia.
acreditava
que a bile
amarela estava
associada com
a raiva (humor
Não é por acaso que o conceito de colérico).
saúde pode ter vários significados, o
conceito de saúde tem sido modificado Bile negra:
ao longo da história de acordo com as um dos quatro
humores (flui-
mudanças da cultura e das ciências.
dos) da teoria
de Hipócra-
tes, e esta ria
associada à
tristeza. A pa-
lavra melanco-
1.2 Conceitos de saúde ao longo da história lia é derivada
desta teoria.
Na Grécia antiga, Hipócrates, considerado o pai da medicina, considerava que a saúde era o O melancólico
(triste) seria
perfeito equilíbrio entre os líquidos (na época, chamados de humores) corporais: bile amarela, bile
uma pessoa
negra, fleuma e sangue. com excesso
de bile negra.

Importante!

O mais conhecido conceito de saúde foi formulado pela organização mundial da saúde em
1948:•como um completo estado de bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência
o
de doença ou enfermidade• (WHO, 1948).
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"'> Observe que a OMS define saúde como um estado de ªcompleto bem-estar~Você acha isso pos-
~ sível? De acordo com esse conceito, você conhece alguém que tenha ªessa• saúde?
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'õ Fleuma: um
"'o dos quatro
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g Em 1986, integrantes do movimento sanitário, um movimento surgido na década de 1970, humores
composto por intelectuais, sindicalistas, líderes comunitários e políticos que lutava por uma mudança (fluidos) da
e teoria de
B no sistema de saúde do Brasil, criou um conceito próprio de saúde:

UJ Hipócrates. A
f-
z Fleuma esta-

-
(Q)
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.!:e' Em seu sentido mais abrangente, a saúde é a resultante das condições de alimentação,
ria associada à
indiferença .
~
o
habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liber-
u dade, acesso e posse de terra e acesso a serviços de saúde. É ass im, antes de tudo, o
,,; resultado das formas de organização social da produção, as quais podem gerar grandes
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15 desigualdades nos níveis de vida. (CONFERÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE, 1987, p.382).

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9
Observe que o conceito da 8° Conferência Nacional de Saúde não d iz o que é saúde, mas diz o
que é necessário para ela. Este conceito é chamado de conceito ampliado de saúde. Este termo "am-
pliado"tem o objetivo de mostrar que a saúde é mais que a ausência de doenças e sim o resultado das
condições de vida.

Esse conceito teve clara influência no texto da Lei nº 8080 de 19 de setembro de 1990. Veja:

Art. 3° - Os níveis de saúde expressam a organização social e econômica do País, tendo


a saúde como determinantes e condicionantes, entre outros, a alimentação, a mora-
dia, o saneamento básico, o meio ambiente, o t rabalho, a renda, a educação, a ativida-
de física, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais. (Redação dada
pela Lei nº 12.864, de 2013).
Parágrafo único. Dizem respeito também à saúde as ações que, por força do disposto
no artigo anterior, se destinam a garantir às pessoas e à coletividade condições de
bem-estar físico, mental e social.

Esses conceitos mais recentes de saúde buscam trazer uma visão "positiva" do que seja saúde,
em contraposição à chamada visão "negativa''. A visão negativa seria a conceituação de saúde como
ausência de doença, ou seja, a saúde não seria a presença de alguma coisa, e sim a ausência de outra
coisa: a doença.

Exercitando o conhecimento

Qual dos itens abaixo NÃO se refere a um determinante ou condicionante da saúde


segundo a lei n° 8080/90?
a) A renda. b) A moradia. c) O prazer. d) O lazer.

Comentário: o prazer é algo subjetivo, logo não cabe na legislação. Embora possa ser
considerado um fator condicionante.
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Você já deve ter percebido que a ~
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palavra saúde tem o significado B
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modificado ao longo do tempo. E a UJ
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doença, segue o mesmo caminho? z
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Veremos no próximo item. .ec:n
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10
1.3 O processo de saúde-doença-cuidado

O que é doença?
Uma das maiores e mais antigas preocupações da humanidade é entender como as doenças
surgem e como elas devem ser curadas. Entretanto, até mesmo o conceito do que seja doença tem se
modificado ao longo do tempo.

Você já percebeu que há uma grande diferença em dizer que: uma pessoa É DOENTE, ou uma
pessoa ESTÁ DOENTE? No primeiro caso, doença aparece como um mal permanente que se torna uma
caraterística daquela pessoa; no segundo caso, o termo se refere a algo transitório que pode passar
após algum tempo.

Importante!

Situações como a obesidade e o alcoolismo já foram tratadas como desvio de comportamen-


to e hoje são tratadas como doenças. O comportamento homossexual já foi tratado como
doença e hoje não é mais.

Em linhas gerais, podemos conceituar doença de cinco formas: o sofrimento, o estar e o poder
estar doente, adversidade, perigo ou sinal (CARVALHO; GOULART, 1998).

Sofrimento: está relacionado ao mal-estar, à incapacidade de realizar algo desejado, não ne-
cessariamente tem a presença do mal-estar físico.

O estar e o poder estar doente: neste caso, trata-se da capacidade declarar-se ou não como
doente, dependendo do interesse da pessoa. Um deficiente físico pode se sentir doente ou não, de-
pendendo do seu grau de inclusão ou de satisfação com a própria vida, ou ainda, com a possibilidade
de entrar no mercado de trabalho.

A adversidade: a sensação de não se incluir dentro do padrão de normalidade.

O perigo: está associada à ideia de contágio. Uma pessoa portadora de uma


doença transmissível grave poderá ser vista como um perigo para a sociedade.

Um sinal: algo que serve para marcar um grupo, uma situação social
ou um comportamento. Exemplos: tuberculose - pobreza, cirrose - alcoolis-
"'o mo, AIDS - promiscuidade sexual. Observe que essa
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""O associação pode ser verdadeira, parcialmente
~ verdadeira ou preconceituosa.
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B

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f-
z Conforme você viu no tópico anterior
(Q) (afinal, o que é saúde?), o conceito de saúde
.ecn não é fácil de definir. Percebemos agora que o
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o conceito de doença também não é. Isso ocorre
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<O porque saúde e doença são um binômio insepa-
""O
:õ rável, ou seja, saúde e doença andam juntas e é

ã. resultado de um equilíbrio instável ora tendendo
o
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V, para a saúde, ora tendendo para a doença. SAÚDE DOENÇA
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11

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Exercitando o conhecimento

Correlacione as situações na coluna 1 com as visões da doença na coluna 2:

Situação Visões

Luto pela morte de


a Perigo.
uma pessoa próxima.

Uma pessoa com


b 2 Sinal.
hanseníase (lepra).
c Surdez. 3 Sofrimento.
Um deficiente
d 4 Adversidade.
físico trabalhando.

e Um viciado em crack. 5 O estar e o poder estar doente.

Comentário: uma pessoa em luto está em SOFRIMENTO, tendo mal-estar físico ou não.
Uma pessoa com hanseníase possui lesões de pele que são contagiosas, logo podem re-
presentar um PERIGO. A surdez é entendida como uma ADVERSIDADE, pois o indivíduo
não inclui nos critérios de normalidade. O deficiente físico, dependendo das condições ou
intenções, pode SE DECLARAR OU NÃO UM DOENTE. Um viciado em crack está associado
à pobreza (embora não sejam necessariamente pobres), logo representa um SINAL.

Atenção!

Assim podemos dizer que saúde-doença é um processo, isto é, algo em constante movimento.
Então, devemos estudar o que leva a gangorra a pender para um lado ou para o outro.

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12
• O tabagismo chegou à Europa trazido pelos exploradores do novo mundo (as améri-
cas). Era um hábito dos indígenas muitas vezes relacionados às práticas de cura. Na Euro-
pa, passou a ser um hábito extravagante da nobreza.

• Com a industrialização, o consumo do tabaco se popularizou. O cinema de Hollywood


passou associá-lo ao glamour: as grandes estrelas sempre apareciam fumando nos filmes.

• Atualmente, o hábito de fumar é muito malvisto pela sociedade. É considerada uma


prática não saudável e os fumantes são vistos como pessoas mal-educadas.

Condições socioeconômicas, políticas, culturais e ambientais


Uma das mais populares religiões do mundo oriental é o Budismo. Essa religião tem como figura
principal o Buda (iluminado), nome dado a Sidarta Gautama, o fundador da religião. Conheça um pouco
dessa história a seguir para compreender as relações entre as doenças e as condições de vida.

Sidarta nasceu príncipe, na Índia há cerca de 3000 anos, seu nascimento envolveu uma profecia:
ele seria um grande líder religioso. Seu pai o envolveu de luxos e escondeu do menino todo tipo de
sofrimento para que não se interessasse por religião.

Aos 29 anos, apesar de todo luxo, se sentia triste e resolveu conhecer o mundo fora do palácio,
foram os chamados quatro passeios de Buda e determinaram sua busca religiosa:

1° Passeio: encontrou um velho, enrugado, com dificuldades de caminhar: compreendeu en-


tão que o homem envelhecia e suas capacidades eram reduzidas.

2° Passeio: encontrou uma pessoa gemendo de dores terríveis: viu então que o corpo não era
saudável para sempre, descobriu a doença.

3° Passeio: se deparou com um cortejo fúnebre, percebeu então que a vida tinha um fim, Si-
darta descobrira a morte.

4° Passeio: Sidarta viu um mendigo pedindo comida, porém parecia sereno e saudável, desco-
bria a pobreza e a vida religiosa de um asceta.
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'õ Saiba Maisl
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o Leia a reportagem da revista Super Interessante sobre a história do príncipe hindu Sidarta Gauta-
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ma: http://super.abril.eom.br/religiao/principe-hindu-sidarta-gautama-iluminado-442777.shtml.
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_,: Sidarta percebeu que a vida fora do palácio era bem diferente: as formas de viver, adoecer e
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morrer. Percebeu também coisas que são comuns a todos os seres humanos: o envelhecimento, a
~
o
u doença e a morte.
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Se o envelhecimento, a doença e a morte são fatos comuns a todos os seres humanos, as formas
õ. de envelhecer, adoecer e morrer não o são. Provavelmente você já ouviu dizer as expressões: doença
o
'"'::,u, de rico e doença de pobre.
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13
Da mesma forma que existem modos diferentes de adoecer de acordo com a riqueza de uma
1
sociedade, existem também modos diferentes de tratar as doenças de acordo com os momentos da
história e a cultura de uma determinada sociedade. Os modos de adoecer e de tratar as doenças são
mutáveis no tempo e no espaço.

Para refletir!

Então, o que seria o


chamado processo ge-
rador saúde-doença?

Esse é o estudo dos fatores sociais, biológicos, culturais e históricos que determinam:

• O que uma sociedade define que sejam saúde e doença.

• A descoberta dos fatores que geram saúde e que geram doenças.

1.4 Modos de adoecer e modos de curar ao


longo da história
As formas de adoecer e de tratar as doenças ao longo da história são influenciadas pelos cha-
mados modos de produção. Modos de produção são formas como as sociedades se organizam e se
organizaram no decorrer do tempo para produzir riquezas e regular as relações sociais. Vejamos então

o
Xamãs:
de que forma essas mudanças influenciaram o processo gerador saúde-doença.

• Pré-história

As principais atividades econômicas da pré-história eram a pesca, a caça e a coleta. Diante disso,
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V,

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sacerdote as pessoas estavam muito expostas aos riscos da natureza: mudanças de clima, exposição a animais 'õ
V,

tribal de certos o
ferozes e acidentes. Assim, podemos inferir que as principais causas de doenças e mortes eram relacio- o
V,

povos da Asia
setentrional, nadas a acidentes e escassez de alimentos. As pessoas viviam pouco, comparado ao mundo de hoje. "~
oi
América do
Os métodos de tratamento e cura estavam relacionados a explicações sobrenaturais. Assim, os sa- li

Norte etc., que LJ.J

utiliza meios cerdotes religiosos, bruxos e xamãs eram quem dominavam os procedimentos de cura através de rituais. 1-
z
mágicos para ~
...,
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curar males Ol
e doenças, • Idade antiga ·~
encontrar ob- o
u
jetos perdidos A idade antiga é marcada pelo surgimento de grandes civilizações, povoamentos marcados oi

e controlar pela economia baseada na agricultura e com forte presença da religião no dia a dia. "


acontecimen- ã.
o
tos. '"'...,.:::,
".,ee.
a:

14
Fatores como: aglomeração populacional, falta de saneamento básico, e estocagem de alimen-
tos, favoreceram a disseminação de doenças transmissíveis de pessoa para pessoa, por água e alimen-
tos ou por animais e insetos. Doenças como: hanseníase (lepra), tuberculose, malária, peste etc.

Os métodos de tratamento ainda estavam concentrados nos sacerdotes, entretanto surge na


sociedade grega a tentativa de se buscar explicações racionais para o funcionamento do corpo e junto
dessa tentativa, a profissão médica. o
Incomensu-
• Sociedade feudal rável : aquilo
que é impos-
O modo de produção agrário continua influenciando o surgimento de doenças transmissíveis, sível
contudo o aumento das cidades propiciou o aparecimento de grandes pestes que dizimaram um nú- de med ir.
mero incomensurável de pessoas na Europa.

As práticas de cura associavam antigos costumes das religiões antigos à expiação dos pecados
do Cristianismo.

Saiba mais:
Leia sobre a peste negra em: http://www.historiadomundo.eom.br/idade-media/peste-negra.htm.
o
• Sociedade industrial

O crescente desenvolvimento da ciência e da indústria propiciaram um acúmulo de conheci-


mentos que causa ram grande impacto nas profissões da área da saúde que foram gradativamente se
desvinculando das práticas religiosas.

O surgimento de novas terapêuticas como vacinas e antibióticos, novos equipamentos para


diagnóstico e tratamento causaram uma grande mudança no perfil das causas de adoecimento e
morte, sobretudo nos países mais desenvolvidos. Conforme os países vão se tornando mais ricos, as
.,; doenças e os agravos não transmissíveis vão substituindo as doenças transmissíveis como as princi-
o
-o pais causas de adoecimento e morte.
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ai
Vl
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Vl
A saúde também tem se tornado um sinal de status social. Valoriza-se como nunca o culto ao cor-
.8 po, estamos na era da geração saúde. Pessoas com musculatura bem definida são chamadas de "saradas''.
-~

Vl
o Outra novidade da era industrial é o início do estudo da relação entre as doenças e o mundo
:g
-o do trabalho. A industrialização propiciou a exposição das pessoas a matérias e máquinas que eram
~ novidades até então, fazendo surgir também novas doenças relacionadas ao trabalho. É o advento
oi
B

da saúde do trabalhador e da medicina ocupacional. A poluição das grandes cidades trouxe consigo
LLJ
f-
males, como doenças respiratórias e câncer.
z
(Q)
E Entretanto, o acesso aos serviços de saúde não se tornou igual para populações de faixas de
.2' renda diferentes. Dessa forma, ricos e pobres passaram a se diferenciar agora não somente nas suas
~
u
o condições econômicas, mas também nas suas condições de saúde. Entre os mais pobres predominam
oi
-o as doenças transmissíveis, entre os mais ricos as doenças não transmissíveis.
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ºõ
o.
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Resumindo:

Problemas de saúde
Período Modo de produção Práticas terapêuticas
mais frequentes

Comunismo primitivo: Acidentes, escassez Mágicas: Bruxaria,


Pré-História
(caça, pesca e coleta). de alimentos. xamanismo.

Mágicas: religiosa,
Asiáticos: (baseado
Idade antiga Doenças transmissíveis. surgimento da medicina
na agricultura).
racional (Grécia antiga).

Feudalismo: (agricultura,
Sociedade Mágica religiosa
forte presença da Doenças transmissíveis.
medieval e racional.
igreja católica):

Transição
Capitalismo:
Era industrial epidemiológica: Medicina científica,
(desenvolvimento da
moderna aumento das doenças práticas interdisciplinares.
ciência e da indústria).
não transmissíveis.

Exercitando o conhecimento

Discuta com seus colegas:

1. As práticas terapêuticas mágicas desapareceram nas sociedades atuais?

2. De que forma os tipos de trabalho interferem na saúde? vi


o
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~
~
V>

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Comentário: -~
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1. As práticas de saúde evoluíram com o desenvolvimento da ciência, no entanto, as V>
o
V>
o
práticas mágicas não desapareceram. Ainda é possível ver curas religiosas em igrejas, a "O

presença de rezadeiras e benzedeiras. i2


~
.8
2. A cada tipo de trabalho existe um risco diferente para a saúde. Por exemplo: profis- '6
LJ.J

sionais de saúde estão mais expostos às doenças transmissíveis, trabalhadores que fazem 1-
z
(Q)
muito esforço físico estão mais sujeitos a distúrbios osteomusculares.
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1.5 As profissões da área da saúde
Você já deve ter percebido que o fenômeno saúde-doença tem tudo a ver com as formas como
as pessoas vivem, ou seja, com suas condições sociais e econômicas. Viu também que a definição do
o
Acupuntura:
método de
que é saúde e do que é doença mudam conforme a história. tratamento
complementar
As práticas de cura também foram mudando com o tempo. Nesse caso foram surgindo cada de origem chi-
vez mais profissões com o intuito de garantir o "mais completo bem-estar físico, mental e social ''. O nesa. Consiste
trabalho de tratar e curar começou com os religiosos e durante boa parte da história da humanidade na aplicação
ficou restrito a eles e aos profissionais e práticos de medicina e enfermagem. Todavia, na atualidade, de agulhas em
pontos defini-
existem outras profissões que se inserem nesse setor. dos do corpo.

Do-ln: técnica
Profissões tradicionais do setor saúde: de automassa-
gem de origem
Medicina, Enfermagem, Odontologia, Terapia Ocupacional, Fonoaudiologia, Psicologia, Farmácia. chinesa que uti-
liza os pontos
dos meridianos
As práticas alternativas: além das profissões citadas acima, a saúde conta com o trabalho das energéticos do
chamadas práticas alternativas que somam práticas antigas como: acupuntura, do-in, massotera ia, corpo humano.
com t erapêuticas novas: auriculoterapia, quiropraxia e a retlexoteraP-ia.
Massotera-
pia: técnica
de massagem
A intersetorialidade: percebemos nos tópicos anteriores que os problemas de saúde são oriun- terapêutica que
dos das condições de vida. Dessa forma, a solução para esses problemas na esfera coletiva não podem vir previne, trata
somente dos profissionais de saúde, há a necessidade do trabalho em conjunto com outros setores da e auxilia nas
sociedade. Damos a esse trabalho conjunto o nome de intersetorialidade. Exemplos: serviço social, pro- diversas d isfun-
ções orgânicas.
fissionais de educação, engenharia sanitária (saneamento básico), profissionais do meio ambiente etc.
Auriculote-
rapia: técnica
Esquema de uma ação intersetorial: de tratamento
através da
orelha.

Quiropraxia:
lida com o
diagnóstico,
,; tratamento e
o Setores fora da a prevenção
-o Setor saúde:
"'> área de saúde: das desordens
oi enfermagem, medicina,
V,
~
engenharia, arquitetura, do sistema neu-
odontologia, ro-músculo-es-
V,
saneamento básico,
-.8~ nutrição, etc.
serviço social, etc.
quelético e dos
'6 efeitos destas
V,
o desordens na
V,
o saúde em geral.
-o
~
~ Reflexotera-
·ª
-o
UJ
1-
pia: técnica de
tratamento por
z
meio de estí-
-
(Q)
.e
c:n
-~
Ações intersetoriais mulos em uma
área reflexa. É
a. o estudo das
o
u
,,; delimitações
-o destas áreas,
:n
"õ assim como as
e.
o suas funções
'"'::,
V,
e ações diante
-o das patologias
o
e.
Q) humanas.
a:

17
e- Exercitando o conhecimento

Qual das ações abaixo pode ser considerada uma ação intersetorial?

o
a) Uma palestra sobre doenças sexualmente transmissíveis.
b) A vacinação de escolares contra o tétano.
c) A detecção de um esgoto a céu aberto numa comunidade, pela equipe de saúde.
Interseto-
d) O tratamento de um caso de tuberculose.
rial: ação
em conjunto
de setores
diferentes da
sociedade.
Coment6rlo: não é de responsabilidade de uma equipe de saúde atuar no saneamento bási-
co, entretanto a falta de condições ideais de saneamento pode interferir na saúde de uma comu-
nidade. Assim, uma ação conjunta entre esses dois serviços essenciais é uma ação intersetorial.

1.6 A inserção do Estado na saúde


O artigo n° 196 da constituição brasileira, que trata da saúde tem o seguinte texto: "a saúde é
um direito de todos e um dever do Estado [...]". Em primeiro lugar, precisamos definir o que é um
direito. Direito é uma obrigação que uma pessoa ou instituição tem com você definida por uma lei.
Vejamos: se uma lei diz: todos têm direito à saúde, significa que alguém terá a obrigação de lhe forne-
cer a saúde, em nosso país esse alguém é o Estado. No entanto, o que é o Estado? Vamos lembrar um
pouco das aulas de história:

De forma bem resumida, podemos dizer que o Estado trata-se de um conjunto de poderes que
servem para regular uma sociedade. Nós podemos definir três poderes:

• Executivo: poder de governar e administrar recursos públicos. Exemplos: Presidência, Gover-


nadores, Prefeitos.

• Legislativo: poder de fazer lei. Exemplos: Câmara de Deputados e Senadores.


• Judiciário: poder de fazer cumprir as leis. Exemplos: Juízes, Promotores, Desembargadores.

Podemos dizer então que, no Brasil, o executivo deve ofertar e administrar serviços de saúde; o legis- "'o
ô
lativo deve fazer leis que garantam a saúde; e o judiciário deve fazer cumprir as leis que garantam a saúde. "O
~
.;
Contudo, se uma pessoa ficar hipertensa por excesso de consumo de sal, isso é um problema B

do Estado ou da pessoa? Bem, você pode concluir que, atualmente, de acordo com nossa lei, é um UJ
1-
z
problema para ambos. Entretanto, será que o Estado sempre foi responsável pela saúde das pessoas, (Q)
será assim em todos os lugares do mundo? E
Ol
-~
o.
O direito à saúde faz partes dos chamados direitos sociais, tais como: educação, habitação e o
u
previdência. O acesso a esses direitos não se dá de forma igual em todo o mundo. Eles podem ser .;
"O

universais e igualitários (como o SUS no Brasil}, estar dirigidos a populações menos favorecidas (como 'ê
o Bolsa Família no Brasil), ou, ainda, divididos de forma diferente entre os componentes de uma socie- o.
o
dade (como a Previdência no Brasil). ""
u,
:::,
"O
eo.
Q)
a:

18
Essas diferenças são decorrentes de um processo histórico, logo não existem desde sempre. São
frutos dos embates políticos que ocorrem na sociedade.

Os direitos sociais só foram acontecer de forma efetiva no mundo a partir do século XX. Antes
disso, havia sido criada na Alemanha, no final do século XIX, uma legislação que foi pioneira nessa área.

O primeiro grande sistema público e universal de saúde surgiu na Inglaterra após a Segunda
Guerra Mundial, o chamado Plano Beveridge (1944-1948), que organizou o National Health System.
No Brasil, o Sistema Único de Saúde foi criado em 1988 na Constituição Federal.

Saiba Mais!

Leia o artigo de José Luís Fiori, O estado de bem-estar social: padrões


http://www.scielo.br/pdf/physis/v7n2/08.pdf.
e crises, disponível em:
o
Exercitando o conhecimento

Leia as assertivas abaixo e marque V para verdadeiro e F para Falso:

1. ( ) o Brasil, saúde é um direito desde a Constituição Federal de 1988.


li. ( ) A saúde é um direito assegurado apenas para quem contribui com a previdên-
cia social.

Ili. ( ) Os direitos sociais são distribuídos de forma igualitária em todos os países


do mundo.

IV. ( ) Os direitos sociais foram efetivados nos países ricos da Europa desde a Revolu-
ção Francesa.
vi
o
"O
"'> Comentjrio: os direitos sociais não são igualitários sequer num mesmo país. No Brasil,
~ por exemplo, a saúde é igualitária mas a previdência não. Os direitos sociais começaram a
.,,~
.9 ser efetivados na Europa após a Segunda Guerra Mundial, já no séc. XX .
-~

.,,
.,,o
o
"O
{l.
~
.9 Contudo, a intervenção do Estado na saúde das pessoas é bem anterior ao século XX. Você deve

LJ.J
1-
lembrar-se de que as doenças podem ser vistas como um perigo para a sociedade. Lembre-se também
z
© que desde as sociedades antigas até o séc. XX, as principais doenças que acometeram as sociedades fo-
....
.e ram as doenças transmissíveis. Dessa forma, os Estados tiveram a preocupação de conter a disseminação
.9'
& dessas doenças, mesmo quando ainda conhecimento adequado para conter sua disseminação.
o
u

"O
A área de atuação do Estado que se tornou responsável por essa tarefa recebeu o nome de
]5
·e
Q.
Saúde Pública ou Saúde Coletiva.
o
'"':,u,
"O
2
Q.
QJ
a:

19
Exercitando o conhecimento

Pesquise:
A reforma do sistema de saúde dos EUA foi o principal tema da campanha de Barack
Obama para a presidência do país. Como era antes? Como ficou agora?

Comentário:
Os americanos não contam com um sistema universal de saúde conforme o SUS. O Es-
tado americano possui 2 programas de saúde: o Medicaid e o Medicare: voltados para
famílias muito pobres ou idosos acima de 65 anos respectivamente.
A reforma de Obama teve o objetivo de obrigar as empresas a fornecer um seguro-
-saúde a seus empregados, custear um seguro-saúde para população carente ou subsidiar
planos de saúde para os mais pobres.

Saiba Mais!
Leia o artigo sobre a reforma no sistema de saúde dos EUA: http://www.cqh.org.br/?q=entenda-
-reforma-no-sistema-de-sa%C3%BAde-dos-eua.

1.7 O que é saúde pública?


Segundo Winslow (1 920):

vi
Saúde p ública é a ciê ncia e a a rte de evitar doenças, prolongar a vida e desenvolver saúde o
"t)

ffsica, mental e a eficiência, através de esforços organizados da comunidade para o sa- ~


neamento do meio ambiente, o controle das infecções na comunidade, a organização dos ~
~
serviços médicos e paramédicos para o diagnóstico precoce e o tratamento preventivo de V,

B
doenças, e o aperfeiçoamento da móquina social que irá assegura r a cada indivíduo, den- -~
tro da comunidade, um padrão de vida adequado à manutenção da saúde. (Grifo nosso). 'õ
ô
V,
o
"t)

i2
~
Vamos olhar com cuidado os pontos grifados no texto: B

LJ.J
1-
A saúde pública visa: desenvolver a saúde física, mental e social. Nesse caso, a saúde pública está z
(9
tratando do ser humano individualmente para que ele possa obter a saúde. ..,
.e
Ol
-~
A saúde pública se preocupa com: saneamento do meio ambiente, o controle das infecções na
o
comunidade. Nesses casos, a saúde púbica tem uma ação coletiva e na sociedade. u
,,;
"t)
1i
A saúde pública realiza: a organização dos serviços médicos e paramédicos para o diagnóstico preco- ·e
Q.
ce e o tratamento preventivo de doenças. Nestes casos, a saúde pública traba lha combatendo as doenças. o
"":::,u-
"t)
o
Q.
(lj
e::

20
A saúde pública também colabora para: aperfeiçoamento da máquina social. Assim, ela acaba
interferindo em toda organização de uma sociedade.

As ações da saúde pública são então bastante abrangentes, veja as seguintes ações do ministé-
rio da saúde do Brasil:

• Academia da saúde: busca construir espaços públicos para a prática de exercícios físicos.
• Combate ao tabagismo: busca estimular a cessação do hábito de fumar.
• Programa volta pra casa: busca a reintegração social de pessoas acometidas de doenças men-
tais após longos períodos de internação.

Observe que essas ações não estão relacionadas diretamente com o combate de doenças, mas
agem principalmente no estilo de vida das pessoas.

Se hoje as ações da saúde pública parecem se preocupar principalmente com a saúde das pes-
soas, no passado a saúde pública tinha como objetivo principal eliminar o perigo das doenças infec-
ciosas. A saúde pública agia principalmente segregando doentes mentais e portadores de doenças
transmissíveis, muitas vezes praticando ações contra a vontade das pessoas, como as vacinações obri-
gatórias e a internação compulsória de pessoas acometidas com lepra (hanseníase).

Saiba Mais!

Para saber mais sobre os leprosários, leia memórias do preconceito, disponível em: http://www.
sinpro-rs.org.br/extra/jul99/memoria.htm.
o
A abrangência das ações da saúde pública hoje em dia tem relação direta com o desenvolvimento
do conhecimento científico, mas também como o humor da opinião pública, leia a seguinte notícia:
.,;
o
"O
"'e:
s:~
V,

B 90% aprovam internação involuntária. Datafolha mostra que, para maioria, viciados em
·~
'õ crack devem ser internados para tratamento mesmo que não queiram. Conselho Federal
ô
V, de Psicologia é contra a medida, mas alguns a defendem para casos agudos de vício.
o
"O
~ Fonte: http://www1 .folha .uol.com.br/fsp/cotidiano/22009-90-aprovam-internacao-involuntaria.shtml
~
B

w
1-
z
(Q)
1:
.2'
~
o Repare que mesmo que o vício do crack não seja uma doença transmissível, a sociedade vê a
u
,,;
"O
disseminação de viciados nas grandes cidades como um perigo e, portanto, demanda uma ação da
15 saúde pública para internar à força essas pessoas. Observe também que o Conselho Federal de Psico-

a.o logia é contra tal medida.
'"'
V,
:::,
"O
2
Q.
Q)
a::

21
o
Miasmas:
A internação compulsória de leprosos, hoje vista como um absurdo, no passado era vista como
aceitável. As ações de saúde pública também mudam conforme muda a sociedade.

conjunto de A trajetória da saúde pública


odores fétidos
provenientes • Mundo greco-romano (antiguidade) - os estudiosos buscavam compreender as relações
de matéria entre os homens e a natureza, dessa forma também compreender o surgimento das doenças como
orgânica em um processo racional. É desse período a publicação do livro de Hipócrates: Dos ares, águas e lugares.
putrefacção
nos solos e • Idade média - doença vista como castigo divino. As práticas de saúde pública buscavam eli-
lençóis freáti- minar os miasmas (ares corrompidos), segregação e isolamento de doentes para evitar contágios. Na
cos contami-
Europa são construídos hospitais religiosos para cuidar de moribundos.
nados.
• Idade moderna - o surgimento dos movimentos chamados renascimento e iluminismo reto-
mam a racionalidade no estudo das doenças. A centralidade do estudo no ser humano leva o estudo
Moribundos:
do corpo humano e ao desenvolvimento da medicina.
agonizante,
o que está • Idade contemporânea - a partir do séc. XIX, a saúde pública sofre uma grande revolução.
prestes a Nessa época são desenvolvidos estudos que desvendam os mistérios da disseminação das doenças
morrer.
infecciosas. Surge a epidemiologia.

Renascimen-
to: importan-
A ciência se desenvolve e importantes descobertas aparecem: os micro-organismos, as vacinas,
te movimento
de ordem
o funcionamento da célula, a descoberta do genoma humano etc.
artística,
As novas descobertas dos mecanismos de surgimento das doenças abrem novas frentes de
cultural e
científica que intervenção para a saúde pública.
se deflagrou
na passagem Isso é uma questão de saúde pública!
da Idade
Média para Veja as manchetes abaixo:
a Moderna.

Iluminismo: Manchete 1: Obesidade é questão de saúde pública, diz especialista.


movimento
que surgiu Publicado em 25/07/2012, às 16h51.
na França do vi
o
século XVII Doença é cada vez mais crescente na população, e se medidas urgentes não forem ado- "O
"'1:
e defendia o tadas, o perfil do brasileiro será o de obeso. ~
domínio da ~

razão sobre Fante: http:/~conli ne.ne 1O.uol.com.br/ca na l/mundo/brasil/noticia/2012/07125/obesidade-e-questao-de-saude-publica- "'


B
diz-especialista-50346.ph p ·~
a visão teo- '6
cêntrica que ô
dominava a "'o
"O
Europa desde ~
a Idade Mé- ~
Manchete 2: Ministro defende que aborto seja tratado como questão de saúde pública B
dia. Segundo '6
LJ.J
os filósofos 1-
Publicado em 20/04/1 O, às 18h37. z
iluministas, (9
...,
esta forma de O ministro da Secretaria de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, afirmou nesta terça-feira ..e
,Ql
pensamen- >-
(20) que vai tentar manter no 3° Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH 3) a Q.
to tinha o o
abordagem do aborto como uma questão de saúde pública. u
propósito de ,,;
"O
iluminaras 15
Fonte: http://www.otempo.eom.br/capa/pol%C3%ADtica/ministro-defende-que-aborto-seja-tratado-como-quest%- 'õ
trevas em que õ.
C3%A3o-de-sa%C3%BAde-p%C3%BAblica-1.481 179 o
se encontrava
a sociedade.
'"'::,'-"
"O
e
Q.
QJ
CC

22
Manchete 3: Dependência

Consumo é caso de saúde pública

Líderes mundiais defendem o fim da criminalização dos entorpecentes e recomendam


que dependentes sejam tratados como pacientes.

Publicado em 03/06/2011 1 Agência Estado e Folhapress

A Comissão Global de Políticas sobre Drogas, formada por líderes de vários países, entre
eles o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, defende que o uso de drogas no mun-
do seja tratado como um problema de saúde público e não um caso de polícia.

Fonte: http://www.gazetadopovo.eom.br/vidaecidadania/conteudo.phtml?id=1132960

Como podemos diferenciar


um problema de saúde
individual de um problema
de saúde pública?

.,;
o
-o
Como você já deve ter percebido, o termo "questão/problema de saúde pública" é aplicado
nas mais diversas situações. A definição de um problema como "de saúde pública" tem um claro viés
político, pois uma vez que algo é visto dessa forma, passa a demandar uma intervenção do Estado, a
criação de uma repartição para tratar desse problema, a definição de recursos financeiros materiais e
o
Morbidade:
"'> humanos para isso. Isso sem contar que aqueles que primeiramente tomaram a dianteira nessa cam-
~ panha passam a gozar de popularidade imediata. quantidade de
~ casos de doen-
V,

B Podemos encontrar algumas similaridades entres os "problemas de saúde pública'; segundo ça numa dada
·~
'õ população.
V,
Rocha e Cesar (2008, p. 275), um problema será de saúde pública quando: "constitui causa comum de
o
V,
o morbidade ou mortalidade; existem métodos eficazes de prevenção e controle; os métodos não estão
-o
~ sendo adequadamente utilizados''. Mortalidade:
~ quantidade
B Todavia, mesmo com essa definição, os problemas de saúde pública podem ou não determinar
'õ de óbitos em
LJ.J
1- ações concretas, pois os recursos não são infinitos, ou pelo menos não existem na mesma medida em que relação a uma
z
as solicitações são feitas. Assim, a saúde pública precisará definir prioridades a partir de critérios como: dada popula-
-
(9
.e
.121
>, • Número de pessoas atingidas.
ção.
a.
o
u • Seriedade do dano.
ni
-o
15 • Custo.
·o
ã.
o • Grau de interesse da comunidade. (CHAVES apud ROCHA; CESAR, 2008).
'"'::,u,
-o
e
a.
Q)
a:

23
Exercitando o conhecimento

Pesquisa: De que forma o SUS trata a questão da "mudança de sexo"?

o
Discuta com seus colegas: A •mudança de sexo" é uma prioridade para a saúde pública?

Comen~rio:

Redesigna-
Desde 2008, a cirurgia de redesignação sexual é um dos procedimentos autorizados
ção: nova pelo SUS. Os interessados passam por avaliação de uma junta de especialistas para avaliar
designa- se o desejo da adequação justifica o procedimento. Caso o interessado seja classificado
ção, novo como portador de transtorno de gênero, seu procedimento será autorizado.
design, novo
desenho. É A redesignação sexual não é considerada uma prioridade para a saúde pública, no en-
sinônimo de tanto, grupos organizados pelos direitos da comunidade LGBT+ têm atuado para aumen-
mudança, no tar a cobertura desse procedimento para aqueles que desejam fazê-lo.
ca so do texto,
de sexo.

A ciência base da saúde pública é a epidemiologia, a ciência que estuda o processo saúde-
doença. Os estudos epidemiológicos são fundamentais para que a saúde pública possa definir suas
prioridades. Aprender os fundamentos da dessa ciência é tarefa do próximo capítulo, está preparado?

Nesta lição você aprendeu:

• Que saúde e doença são conceitos polissêmicos, ou seja, que podem ter diferentes significados.
• Que a saúde pública é uma área de atuação abrangente, que interfere na vida das pessoas, e
que suas ações têm prioridades diferentes ao longo do tempo.

• Que os modos de adoecer, morrer e tratar as doenças mudam de acordo com a organização
das sociedades.

• O que é uma questão de saúde pública. .,;


o
"O
10
>
~
~

Agora, verifique se você está apto a: "'


.9
• Conceituar saúde e doença.
:~
"O
"'
o
"'
o
• Abordar sobre a inserção do Estado na saúde. "O
~
• Conceituar saúde pública. ê
.9

LJ.J
1-
z
(Q)
E
O\
·~
o.
o
u
,,;
"O
15

ã.
o
'"':::,
V,

"O
eo.
(li
e::

24
Exercícios Q
Parabéns,
Questão 1 - Qual definição abaixo se refere ao conceito de saúde da OMS de 1948?
você finalizou
a) A saúde é o estado de ausência de enfermidades. esta lição!
b) A saúde é o perfeito equilíbrio do corpo humano. Agora
responda
c) Um completo estado de bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de às questões
doença ou enfermidade. ao lado.
d) O resultado da combinação de alimentação saudável, exercícios físicos e qualidade
devida.

Questão 2 - Quais são as principais causas de morte do período pré-histórico?


a) Acidentes, escassez de alimentos.

b) Doenças transmissíveis.

c) Doenças crônicas.

d) Doenças congênitas.

Questão 3 - De acordo com os conceitos de doença vistos na aula, a epidemia de crack


pode ser vista como?
a) Sofrimento.

b) Perigo.

c) Adversidade.

d) O estar e o poder estar doente.

Questão 4 - Qual das alternativas abaixo apresenta as causas mais comuns da dissemi-
nação das doenças transmissíveis?
e.'
"O
"'> a) Envelhecimento da população.
êii
V,
~
V, b) Aglomeração de pessoas, falta de saneamento básico.
.8
-~
'õ c) Exposição às condições adversas da natureza.
V,
o
V,
o d) Exposição à poluição ambiental.
"O
~
,.;
§
'õ Questão 5 -Qual dos conceitos abaixo é mais representativo do termo intersetorialidade?
LJ.J
1-
z a) A visão do homem como ser pleno, físico, mental e social.
(Q)
1:
Ol b) Ações de prevenção de doenças transmissíveis.
-~
o.
u
o c) Intervenção do Estado na saúde.
,.;
"O
15 d) Ação conjunta do setor saúde com outros setores de fora da saúde.

ê.
o
'"':::,u,
"O
eo.
Q)
e::

25
Questão 6- Marque a alternativa que se apresenta incorreta?
a) O direito à saúde não é garantido da mesma forma em vários lugares do mundo.
b) Nem sempre a intervenção do Estado na saúde é benéfica.
c) Doença significa somente o mau funcionamento do corpo humano.
d) Práticas mágicas foram utilizadas no tratamento das doenças ao longo da história.

Questão 7 - Em que época da história é disseminada a ideia de que a doença é um


castigo divino?
a) Pré-história.
b) Idade antiga.
c) Idade média.
d) Idade contemporânea.

Questão 8 - Qual dos itens abaixo pode elevar um problema a uma "questão de saúde
pública"?

a) Um plebiscito.

b) Não existir métodos eficazes de prevenção e controle.


c) Os métodos existentes estão sendo adequadamente utilizados.
d) Ser causa comum de morbidade ou mortalidade.

Questão 9 - O que significa o "conceito ampliado de saúde"?

a) Uma forma de buscar uma definição positiva para a saúde, ou seja, não defini-la ape-
nas como ausência de doenças e sim como resultado das condições de vida .
b) A determinação de ações conjuntas da saúde com o serviço social.
.,;
o
c) A inserção do tema saúde no dia a dia das pessoas. "O
~
d) A intervenção do Estado em todos os setores da sociedade. ~
~
V>
.8
-~
'6
Questão 10 - Qual dos itens abaixo NÃO apresenta um critério para a saúde pública V>
o
V>
definir prioridades? o
"O
~
a) Número de pessoas atingidas. ~
.8
'6
b) Fatores religiosos. LJ.J
1-
z
c) Grau de interesse da comunidade.
d) Custos.
-
(Q)
.e
-~
~
o
u
,,;
"O
:.õ
·e
Q.
o
'"'
V-
::,
"O
e
Q.
QJ
ex:

26
1. Exercício de reflexão:
Leia a crônica abaixo:

Fonte: http://oglobo.globo.com/opiniao/o-correto-uso-do-papel-higienico-13297732

O correto uso do papel higiênico

O título acima é meio enganoso, porque não posso considerar-me uma autoridade no
uso de papel higiênico, nem o leitor encontrará aqui alguma dica imperdível sobre o as-
sunto. Mas é que estive pensando nos tempos que vivemos e me ocorreu que, dentro em
breve, por iniciativa do Executivo ou de algum legislador, podemos esperar que sejam
baixadas normas para, em banheiros públicos ou domésticos, ter certeza de que estamos
levandQ em conta não só o que é melhor para nós como para a coletividade e o ambiente.
Por exemplo, imagino que a escolha da posição do rolo do papel higiênico pode ser regu-
lamentada, depois que um estudo científico comprovar que, se a saída do papel for pelo
lado de cima, haverá um desperdício geral de 3.28 por cento, com a consequência de que
mais lixo será gerado e mais árvores serão derrubadas para fazer mais papel. E a maneira
certa de passar o papel higiênico também precisa ter suas regras, notadamente no caso
das damas, segundo aprendi outro dia, num programa de tevê.
Tudo simples, como em todas as medidas que agora vivem tomando, para nos prote-
ger dos muitos perigos que nos rondam, inclusive nossos próprios hábitos e preferências
pessoais. Nos banheiros públicos, como os de aeroportos e rodoviárias, instalarão câmeras
de monitoramento, com aplicação de multas imediatas aos infratores. Nos banheiros do-
mésticos, enquanto não passa no Congresso um projeto obrigando todo mundo a instalar
uma câmera por banheiro, as recém-criadas Brigadas Sanitárias (milhares de novos empre-
gos em todo o Brasil) farão uma fiscalização por escolha aleatória. Nos casos de reincidên-
cia em delitos como esfregada ilegal, colocação imprópria do rolo e usos não autorizados,
tais como assoar o nariz ou enrolar um pedacinho para limpar o ouvido, os culpados serão
encaminhados para um curso de educação sanitária. Nova reincidência, aí, paciência, só
cadeia mesmo.
Agora me contam que, não sei se em algum estado ou no país todo, estão planejando
proibir que os fabricantes de gulodices para crianças ofereçam brinquedinhos de brinde,
porque isso estimula o consumo de várias substâncias pouco sadias e pode levar a obesi-
dade, diabetes e muitos outros males. Justíssimo, mas vejo um defeito. Por que os brasilei-
ros adultos ficam excluídos dessa proteção? O certo será, para quem, insensata e desorien-
tadamente, quiser comprar e consumir alimentos industrializados, apresentar atestado
médico do SUS, comprovando que não se trata de diabético ou hipertenso e não tem taxas
de colesterol altas. O mesmo aconteceria com restaurantes, botecos e similares. Depois
de algum debate, em que alguns radicais terão proposto o Cardápio Único Nacional, a lei
estabelecerá que, em todos os menus, constem, em letras vermelhas e destacadas, as ne-
cessárias advertências quanto a possíveis efeitos deletérios dos ingredientes, bem como
fotos coloridas de gente passando mal, depois de exagerar em comidas excessivamente
-
..e
o,
·~
calóricas ou bebidas indigestas. O que nós fazemos nesse terreno é um absurdo e, se o
estado não nos tomar providências, não sei onde vamos parar.
a.
o
u
.,; Ainda é cedo para avaliar a chamada lei da palmada, mas tenho certeza de que, prote-
-o
j5 gendo as nossas crianças, ela se tornará um exemplo para o mundo. Pelo que eu sei, se
e
a. o pai der umas palmadas no filho, pode ser denunciado à polícia e até preso. Mas, antes
o
"":,
I>

-o
ea.
QJ
o:

27
disso, é intimado a fazer uma consulta ou tratamento psicológico. Se, ainda assim, persistir
em seu comportamento delituoso, não só vai preso mesmo, como a criança é entregue
aos cuidados de uma instituição que cuidará dela exemplarmente, livre de um pai cruel
e de uma mãe cúmplice. Pai na cadeia e mãe proibida de vê-la, educada por profissionais
especializados e dedicados, a criança crescerá para tornar-se um cidadão modelo. E a lei
certamente se aperfeiçoará com a prática, tornando-se mais abrangente. Para citar uma
circunstância em que o aperfeiçoamento é indispensável, lembremos que a tortura física,
seja lá em que hedionda forma - chinelada, cascudo, beliscão, puxão de orelha, quiçá um
piparote-, muitas vezes não é tão séria quanto a tortura psicológica. Que terríveis sensa-
ções não terá a criança, ao ver o pai de cara amarrada ou irritado? E os pais discutindo e até
brigando? O egoísmo dos pais, prejudicando a criança dessa maneira desumana, tem que
ser coibido, nada de aborrecimentos ou brigas em casa, a criança não tem nada a ver com
os problemas dos adultos, polícia neles.
Sei que esta descrição do funcionamento da lei da palmada é exagerada, e o que inven-
tei aí não deve ocorrer na prática. Mas é seu resultado lógico e faz parte do espírito des-
miolado, arrogante, pretensioso, inconsequente, desrespeitoso, irresponsável e ignorante
com que esse tipo de coisa vem prosperando entre nós, com gente estabelecendo regras
para o que nos permitem ver nos balcões das farmácias, policiando o que dizemos em voz
alta ou publicamos e podendo punir até uma risada que alguém considere hostil ou des-
respeitosa para com alguma categoria social. Não parece estar longe o dia em que a maio-
ria das piadas será clandestina e quem contar piadas vai virar uma espécie de conspirador,
reunido com amigos pelos cantos e suspeitando de estranhos. Temos que ser protegidos
até da leitura desavisada de livros. Cada livro será acompanhado de um texto especial,
uma espécie de bula, que dirá do que devemos gostar e do que devemos discordar e como
o livro deverá ser comentado na perspectiva adequada, para não mencionar as ocasiões
em que precisará ser reescrito, a fim de garantir o indispensável acesso de pessoas devo-
cabulário neandertaloide. Por enquanto, não baixaram normas para os relacionamentos
sexuais, mas é prudente verificar se o que vocês andam aprontando está correto e não
resultará na cassação de seus direitos de cama, precatem-se.

João Ubaldo Ribeiro (1941-2014) era escritor e imortal da Academia Brasileira de Letras
vi
Leia mais sobre esse assunto em: http://oglobo.globo.com/opiniao/o-correto-uso-do- o
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© 1996 - 2014. Todos direitos reservados a lnfoglobo Comunicação e Participações S.A. V>

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Este material não pode ser publicado, transmitido por broadcast, reescrito ou redistribuído ·~
sem autorização. 'õ
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Responda as seguintes questões: é
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1. O que o texto acima tem a ver com a saúde pública? LJ.J
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2. Você acha que a ação do Estado no texto é adequada? Por quê? u
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28
2. Estudo de caso
Leia a notícia abaixo:

Fonte: http://oglobo.globo.com/sociedade/saude/brasil-teve-aumento-de-11-nos-casos-de-infeccoes-por-hiv-en-
tre-2005-2013-13273033

Em queda em quase todo o mundo, a taxa de novas infecções pelo vírus da Aids teve
aceleração de 11 o/o entre 2005 e 2013 no Brasil, revela o relatório "The Gap Report'; do
Programa Conjunto das Nações Unidas HIV/Aids (Unaids), divulgado ontem. No planeta
- onde o total de pessoas infectadas está estável em cerca de 35 milhões-, houve dimi-
nuição de 28% no número de novos casos. O resultado é puxado pelo recuo em regiões
críticas para a epidemia, como a África Subsaariana, onde a redução nas novas infecções
chegou a 33%. Fora do continente africano, alertam membros da agência da ONU, a ex-
pansão do HIV ocorre impulsionada pela contaminação de indivíduos de grupos vulnerá-
veis, sobretudo homens que fazem sexo com homens. O fenômeno inclui o Brasil.
O anúncio acontece quatro dias depois da Organização Mundial de Saúde afirmar que
há um crescimento alarmante da doença em grupos de risco e recomendar o uso de antir-
retrovirais para todos os homens que fazem sexo com outros homens.
[...]

- Nos países onde há avanço da epidemia, o crescimento é sobretudo entre os homens


gays. Principalmente os jovens - afirma Loures. - É como se estivéssemos voltando no
tempo, à epidemia que vimos nos anos 1980. Há uma contradição, já que esses grupos
foram justamente os que começaram a mobilização em torno do combate.

CAI USO DE PRESERVATIVOS


Entre os motivos relacionados a esse crescimento, ele lista a discriminação, que dificulta
o acesso a serviços médicos, e a redução no uso de preservativos, estimulada pela falsa
ilusão de que a epidemia acabou. Loures também cita uma mudança de agenda do movi-
.,;
mento LGBT, que teria se voltado mais às questões de direitos civis, afastando parcialmen-
o
"O te a doença de sua pauta.
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~
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V,

.9 Leia mais sobre esse assunto em: http://oglobo.globo.com/sociedade/saude/brasi1-teve-


-~
'õ -aumento-de-11-nos-casos-de-infeccoes-por-hiv-entre-2005-2013-13273033#ixzz3843qP3vl
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~
.,; 1. Discuta com seu tutor e colegas: Quais são os possíveis motivos que levam ao au-
§
'õ mento do número de casos de AIDS no Brasil e a diminuição na maior parte do mundo?
LJ.I
r- Quais são os erros e os acertos da saúde pública neste campo?
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29
2. FUNDAMENTOS DE EPIDEMIOLOGIA

2.1 História da epidemiologia


Olá, caro leitor, nesta lição você irá estudar:

• O que é epidemiologia.

• Como a epidemiologia ajuda a explicar a origem das doenças.

• Como a epidemiologia ajuda a saúde pública a definir prioridades.

Você, com toda certeza, já deve


ter lido ou ouvido termos relacio-
nados à ciência epidemiológica.
Leia a notícia abaixo e confirme:

Epidemia de dengue chega a 32,3 mil notificações e 3 mortes em Campinas


Após pane no sistema do governo federal, município divulgou dados brutos.

Para secretário, situação está atenuando, mas ainda exige prudência.

Lana Torres - Do Gl Campinas e Região


~
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"'>
~
A epidemia de dengue em Campinas (SP) chegou à marca de 32.384 casos notificados e l!:'
três mortes de acordo com balanço divulgado nesta terça-feira (20) pela Secretaria Munici- "'
B
-~
pal de Saúde. Os dados, que incluem registros processados até 15 de maio, indicam, ainda, i5
que outros três óbitos estão sendo investigados por suspeita de relação com a doença. "'o
"'o
Segundo o secretário municipal Cármino de Souza, é possível que aproximadamente 10% 'U
i2
deste total ainda seja descartado após atualização de parte dos diagnósticos''. ~
B
Fonte: http://g1 .globo.com/sp/campinas-regiao/noticia/2014/05/epidemia-de-dengue-chega-323-mil-notificacoes-e- i5
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3-mortes-em-campinas.html z
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o
u
A epidemiologia é a ciência que estuda o processo saúde-doença, ou seja, quais são os motivos ,,i
'U
(fatores) que levam a determinadas populações a ter ou não ter determinada doença. Ela se preocupa :õ

com o coletivo, ou seja, aquilo que afeta uma população específica, por esse motivo os dados epide- ã.
o
miológicos são de relevância pública e, por isso, são tão divulgados na imprensa. '"'::,u,
'U
ee.
QJ
ex:

30
A epidemiologia também é utilizada pelos governantes para definir prioridades em saúde pú-

1 blica. Os dados epidemiológicos demonstram quais são os principais problemas de saúde que afetam
os habitantes de um determinado território, mostram QUEM é mais atingido, QUANDO é mais atingi-
do e ONDE o problema acontece com mais frequência. Vejamos o exemplo da dengue:

• Acontece mais no verão e no outono - TEMPO (quando).


o
Dados: são
• Acontece mais onde há aglomerados populacionais - ESPAÇO (onde). fatos brutos
ainda não
• Todas as pessoas são suscetíveis - PESSOA (quem). analisados.
Ex.: uma
notificação.
Para sabermos se uma política ou um programa de saúde estão sendo efetivas, é necessário obser-
var se há impacto nos indicadores epidemiológicos: incidência, prevalência, morbidade, mortalidade etc.
Casos: "Uma
A epidemiologia é a ciência base da saúde pública. É tão importante que é citada na lei orgânica pessoa iden-
da saúde do Brasil, Lei nº 8080/90, artigo 7 (princípios e diretrizes do SUS), inciso Vll: "utilização da epide- tificada como
miologia para o estabelecimento de prioridades, a alocação de recursos e a orientação programática''. portadora de
uma caracte-
Para dar conta de tamanha responsabilidade, a epidemiologia utiliza conhecimentos de várias rística particu-
lar, como uma
áreas: biologia, medicina, ecologia, sociologia, matemática, estatística etc.
doença, com-
portamento
A epidemiologia tal como a conhecemos é uma ciência nova. Embora o estudo da ocorrência
ou problema.
de doenças numa coletividade ocorra desde a antiguidade, a moderna epidemiologia surge no séc. A defin ição
XIX. Considerado o pai da epidemiolog ia moderna, John Snow (1813 - 1858), foi um médico britâni- epidemiológi-
co que estabeleceu a relação entre o abastecimento de água em Londres e ocorrência de óbitos de ca de um caso
cólera. Antes de John Snow acreditava-se que a cólera era transmitida pelo ar, através dos m iasmas. não é neces-
sariamente a
Este é o clássico registro de Snow para demonstrar a distribuição dos casos de cólera na cidade: mesma que
a defin ição clí-
nica. Os casos
Figura 2.1 - Registro de John Snow para os casos de cólera.
podem ser
divididos en-
tre possíveis,
prováveis e
y,,_,. confirmados,
x ,.,,,..,, "'
• D, ..tJo, , , _ d•a1luv à medida que
satisfazem
determina-
.,; dos critérios
o
-o específicos~
"'> (WALDM AN,
oi
"'~ 1998, p. 233).
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Imagem de domínio público.
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31
G Exercitando o conhecimento

1. Qual é o objeto de estudo da epidemiologia?


a) As epidemias. c) O processo saúde-doença.
b) Os surtos. d) As doenças.

Comentário: a epidemiologia estuda quais são os fatores que geram saúde e doenças,
ou seja, o processo saúde-doença.

2. Como a epidemiologia pode avaliar a eficácia e efetividade das ações de saúde pública?
a) Pela imprensa. c) Pelos registros das unidades de saúde.
b) Pelos indicadores epidemiológicos. d) Pelo grau de satisfação da sociedade.

Comentário: a epidemiologia utiliza os indicadores epidemiológicos para avaliar a efi-


cácia e efetividade das ações. Estes indicadores são medidas obtidas através de cálculos. A
imprensa e os registros das unidades de saúde são fontes de dados para que epidemiolo-
gia possa fazer investigações e depois calcular indicadores.

2.2 Os modelos explicativos em epidemiologia


Para conseguir explicar o surgimento das doenças, a epidemiologia criou ao longo do tempo
vários modelos explicativos. Modelos são concepções teóricas representativas da realidade, não cor-
respondem à totalidade dos acontecimentos reais, no entanto servem para que possamos ter a com-
preensão de como (numa forma ideal) os fenômenos acontecem.

vi
o
Modelo Monocausal "O
~
~
O século XIX (1801-1900) foi um período de grandes descobertas científicas. Entre os grandes ~
V,

feitos está a confirmação da relação entre os micro-organismos e a causa das doenças. Embora os mi- B
-~
cro-organismos já fossem conhecidos e a relação entre eles e as doenças fossem apontadas. '6
V,
o
V,

A explicação monocausal pode ser melhor compreendida pelo esquema abaixo: o


"O
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Indivíduo Indivíduo .2'
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saudável Micro-organismo doente u
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QJ
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32
A correlação entre o surgimento de uma doença causada por um micro-organismo só foi aceita
em 1876, por meio da demonstração de um experimento de Robert Koch. Antes dessa descoberta
prevalecia a crença na teoria miasmática: acreditava-se que as doenças eram resultado do contato das
pessoas com "ares corrompidos'; os chamados miasmas.

Saiba Mais!

Leia o artigo sobre a teoria miasmática: http://www.snh2011.anpuh.org/resources/anais/14/


1300472386_ARQUIVO_Mastromauro.pdf
o
Os estudos da bacteriologia do final do séc. XIX e início do séc. XX propiciaram a descoberta de
vários agentes infecciosos, o papel de vetores (mosquitos, ratos etc.) na transmissão das doenças, a
criação de vacinas, soros e antibióticos para tratar doenças infecciosas.

No entanto, algumas perguntas estavam sem respostas, uma delas em particular:


o
Bacteriologia:
estudo das
bactérias, seus
tipos, formas
de repro-
dução, suas
relações com
o homem,sua
relação com a
etiologia das
Por que nem todas as pesso- doenças eos
mecanismos
as expostas aos micro-orga-
de eliminação
nismos adoecem? das mesmas
quando
necessário.

ui
o
"'O
"'>
~
~
V, Modelos multicausais
.8
-~

V,
Após a segunda guerra mundial, houve uma melhora das condições de vida nos países euro-
o peus, o que levou ao aumento do tempo de vida da população. Esse envelhecimento populacional
V,
o
"'O
desencadeou um aumento do número de doenças crônicas não transmissíveis.
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1:
Ol Importante!
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o As doenças não transmissíveis não são causadas por micro-organismos, era então necessário
u

"'O descobrir novas explicações para o surgimento das doenças.


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V-

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o
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Q)
e::

33
Os novos modelos explicativos descreviam o surgimento das doenças pelo somatório de múl-
tiplas causas, como por exemplo: predisposição genética, alimentação, condições de habitação, pre-
sença do vetor etc. Podemos compreender os modelos multicausais pelo esquema abaixo:

A história natural da doença


O modelo multicausal mais conhecido chama-se história natural das doenças (HND). Esse mo-
delo foi proposto pelos pesquisadores Leavell e Clark (1976). Segundo seus autores, as doenças seriam
fruto da interação de três elementos:
• O agente etiológico - a causa da doença.
• O hospedeiro suscetível - aquele que vai adoecer.

• O meio ambiente - onde existem elementos que facilitam a interação entre os dois primeiros.
vi
o
-o
Estes três elementos são chamados de tríade (pois são três) de Leavell e Clark, ou tríade da "'>
HND. Podem ser representados graficamente por um triângulo onde em cada vértice está um dos ~
~
três elementos: "'
E
-~

Idade, sexo, "'o
"'o
raça, hábitos, -o
costumes, etc. ~
~
E

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Idade, sexo,
li Idade, sexo,
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15
raça, hábitos, Agente raça, hábitos, ·ea.
costumes, etc. costumes, etc. o
'"'::,
V-

-o
o
e.
QI
o::

34
Leavell e Clark descrevem que as doenças seguem um roteiro, uma história que possui dois
momentos: a pré-patogênese e a patogênese.

A pré-patogênese é o momento anterior à doença. Os três elementos estão presentes, intera-


gindo, porém em equilíbrio.

Na patogênese surge a doença a partir do desequilíbrio de um dos três elementos.

Caberia então à epidemiologia descobrir como interagem os três elementos de qualquer doen-
ça, descrever a sua história e desenvolver métodos para conter o avanço da doença. Estes métodos
foram definidos em três níveis de prevenção: primária, secundária e terciária.

Prevenção primária - evitar que a doença apareça.


Ações:
• Promoção da saúde - inespecífica. Ex.: alimentação saudável.
• Proteção específica - medidas específicas. Ex.: vacinação.

Prevenção secundária - evitar que a doença evolua.


Ações:
• Diagnóstico precoce.
• Tratamento imediato.

Prevenção terciária - recuperar o potencial de saúde do organismo.

Ações:
• Limitação do dano.
• Reabilitação.

Horizonte Clínico

Pré-patogénese Patogênese Sequelas

vi lnespeclfica Especifica Precoce Avançada


o
"O As sequelas ou conse-
"'> A presença de uma Da situação A doença segue sua quências da doença
oi Condições gerais
V> constelação de anterior resultou evolução própria, podem ser reparadas
~ do indivíduo ou
V> fatores causais num uma doença cujos terminando com a com maior ou menor
.g do ambiente que
instante dado, favo- primeiros sinais e morte, com a cura eficiência, permitindo
~ predispõem a uma
'õ rece o aparecimen- sintomas torna- completa ou deixan- a reabilitação.
ou várias doenças.
V>
o to de uma doença. ram-se aparentes. do sequelas.
V>
o
"O
~ História natural de uma doença humana qualquer
~
o
.-te
"O Posição das barreiras que podemos opor à marcha da doença
u.J
1--
z 1º nível 2ºnível 3º nível 4º nível Sº nívei
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1: Promoção da saúde
.Ql Proteção específica Diagnóstico pre-
>-
Q.
{alimentação, ações
{vacinas, tluoretação coce e tratamento
Limitação Reabilitação,
u
o educativas, sanea- do dano. PrevençãoTerciária.
das águas, etc.) imediato.
.,; mento, etc.)
"O
15
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Q. Prevenção Primária
Prevenção
Prevenção Terciária
o Secundária
'"'
V,
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Q.
Q/
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35

1
(J Exercitando o conhecimento

1. O que significa o termo: agente etiológico?


a) O vetor que transmite uma doença.
b) A pessoa que vai adoecer.
c) O ambiente onde a causa da doença está presente.
d) A causa da doença.

Comentário: o agente etiológico é a causa da doença. Pode ser um micro-organismo,


um alimento, uma substancia química, um agente físico (calor, radiação, fogo etc.).

2. Uma unidade de saúde realiza testes de glicemia (níveis de açúcar no sangue) para
detectar precocemente casos de Diabetes Mellitus. De acordo com a HND, a que nível de
prevenção corresponde este teste?
a) Prevenção primária. c) Prevenção terciária.
b) Prevenção secundária. d) Prevenção quaternária.

Comentário: ações de diagnóstico precoce são consideradas como prevenção secundária.

Lembra-se da pergunta sem respos-


ta do modelo monocausal: por que .,;
o
""O
nem todas as pessoas expostas aos "'>
micro-organismos adoecem? Discuta ~
~
com seus colegas como podemos "'
.8
responder a essa pergunta. -~

"'
o
~
""O
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~
.8

UJ
1-
z
Comentário: além da exposição ao agente, temos que considerar também as características ...
(Q)
..e:
físicas e genéticas da pessoa exposta, seus hábitos e costumes. O>
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n:i
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15

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V-

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(l)
o::

36
2.3 Conceitos básicos em epidemiologia

Para compreender um
texto em epidemiologia,
é necessário conhecer os
conceitos básicos dessa
ciência, vamos lá?

• Agente Etiológico - é o agente causador de uma doença. Pode ser biológico (uma bactéria,
um vírus), pode ser físico (calor, frio, radiação), pode ser nutricional (falta de alimento, excesso de ali-
mento) etc.
• Hospedeiro - ser vivo homem ou animal que serve de alojamento a um agente etiológico.
• Reservatório- é local onde o micro-organismo vive, sobrevive, multiplica-se e sem o qual ele
não existe na natureza. O reservatório pode ser o homem, um animal ou local do meio ambiente. É a
partir do reservatório que o agente etiológico pode ser transmitido a um hospedeiro. Ex.: na leptospi-
rose, nós humanos somos hospedeiros, os ratos são reservatórios.
• Portador - é o ser vivo que está infectado, é capaz de transmitir o agente etiológico, porém
no momento, não apresenta sintomas.
• Vetores - são seres vivos que transmitem um agente etiológico do reservatório para o hospe-
deiro. Ex.: O mosquito Aedes aegyptitransmite o Ffavivirus agente etiológico da dengue.
• Veículos - são fontes inanimadas de transmissão de um agente etiológico. Ex.: O vibrião da
cólera (agente etiológico) é transmitido pela água e pelos alimentos contaminados (veículos).
vi
o
-o • Fômites - são objetos de uso pessoal de um doente ou portador que servem como fonte de
"'>
~ transmissão. É um tipo de veículo. Ex.: O ácaro que causa a escabiose (sarna) pode ser transmitido por
~
V,
roupa de cama (fômite).
B
·~ • Agravo - "qualquer dano à integridade física ou mental do indivíduo, provocado por circuns-
'6
o
V,
tâncias nocivas, tais como acidentes, intoxicações por substâncias químicas, abuso de drogas ou le-
V,
o sões decorrentes de violências interpessoais, como agressões e maus tratos, e lesão autoprovocada''.
-o
~ (Definição da portaria nº 1.271, de 6 de junho de 2014). Ex.: fraturas, entorses, queimaduras etc.
~
B
'6 • Evento de saúde pública (ESP) - "situação que pode constituir potencial ameaça à saúde
LJ.J
f-
z pública, como a ocorrência de surto ou epidemia, doença ou agravo de causa desconhecida, altera-
Q) ção no padrão clínico-epidemiológico das doenças conhecidas, considerando o potencial de disse-
1=
o,
-~ minação, a magnitude, a gravidade, a severidade, a transcendência e a vulnerabilidade, bem como
a. epizootias ou agravos decorrentes de desastres ou acidentes''. (Definição da portaria nº 1.271, de 6
o
u
oi de junho de 2014) (Grifo nosso).
-o

'õ • Infecção - processo de interação e adesão entre um micro-organismo e um hospedeiro.
ã.
o Atente para o fato de que infecção não é sinônimo de doença. Para ser chamada de doença infecciosa
'"'::::,
V,
é necessária a presença de sinais e/ou sintomas.
-o
e
a.
QJ
CC

37
• Doença - "enfermidade ou estado clínico, independente de origem ou fonte, que represente
ou possa representar um dano significativo para os seres humanos''. (Definição da portaria nº 1.271,
de 6 de junho de 2014). Ex.: Sífilis, tuberculose, hipertensão etc.

• Doença aguda - doença de curta duração. Ex.: dengue, gripe, raiva humana.
• Doença crônica - doença de longa duração. Ex.: tuberculose, hanseníase, AIDS, Hipertensão
arterial. Erroneamente, muitas pessoas definem doença crônica como doença que não tem cura. A
hanseníase e a tuberculose são crônicas e curáveis.

Atributos dos agentes etiológicos


• lnfectividade - capacidade do micro-organismo de penetrar e interagir com o hospedeiro.
• Patogenicidade - capacidade do micro-organismo de causar sinais e sintomas no hospedeiro.
• Virulência - capacidade do micro-organismo de provocar sinais e sintomas graves no hospedeiro.

• lmunogenicidade - capacidade do micro-organismo de provocar imunidade no hospedeiro.


• Poder invasivo - capacidade do micro-organismo de se difundir (se espalhar) pelo organis-
mo do hospedeiro.

Atributos do hospedeiro
• Resistência - é a soma de todas as capacidades de defesa do organismo contra o agente
etiológico. A resistência total é dada pela soma da resistência natural com a imunidade.

+ ----+
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o
-o
~
Imunidade ~
~
(Específica) §
-~

ô
ô
-o
i!2
~
• Resistência natural - são as defesas inespecíficas do organismo. Suas condições de nutrição, B

genéticas, estado geral de saúde e as barreiras naturais do organismo: pele, suor, lágrimas etc. UJ
1-
z
• Imunidade - São as defesas específicas do organismo dadas pela presença de anticorpos. (Q)
...,
.s::::
• Suscetibilidade - É a medida da fragilidade de um organismo frente a um agente etiológico. .Ql
>-.
Q.
Exemplo: uma pessoa não vacinada contra o tétano é suscetível ao tétano. u
o
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-o
15
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o
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V,

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QJ
a:

38
Exercitando o conhecimento CJ
1. O que significa o termo poder invasivo de um agente etiológico?
a) Capacidade do micro-organismo de penetrar no organismo.
b) Capacidade de o micro-organismo provocar sinais e sintomas no organismo.
c) Capacidade do micro-organismo se difundir pelo corpo.
d) Medida da fragilidade do organismo.

Comentário: não confundir infectividade com poder invasivo de micro-organismo. ln-


fectividade é a capacidade de penetrar no organismo. Poder invasivo é a capacidade de se
espalhar pelo organismo.

2. O que é uma doença crônica?


a) Doença de longa duração. Pode ser curável ou não.
b) Doença de longa duração e incurável.
c) Doença de curta duração e incurável.
d) Doença de curta duração. Pode ser curável ou não.

Comentário: o termo crônico vem da palavra grega cronos que significa tempo. Uma
doença crônica é uma doença de longa duração que pode ser curável ou não.

3. Preencha a palavra cruzada Horizontal


2. Causa da doença.
4. Capacidade de causar sinais e sinto-
mas graves no hospedeiro.
.,;
o 5. Ser vivo que transmite a doença.
tl
~
6. Doença de curta duração.
~
~
V>

E Vertical

'õ 1. Propriedade do agente etiológico
cl penetrar no hospedeiro.
cl
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~
3. Doença de longa duração.
~
E 4 5

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o
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tl
e
.,a.
a:

39
o
Prodrômico:
O processo de adoecimento e seus períodos:
• Período de incubação - período compreendido entre a infecção inicial e o aparecimento dos
primeiros sinais e/ou sintomas.

• Período prodrômico - período que marca o início da doença. Só dizemos que uma doença
relativo à tem período grodrômico quando os sintomas iniciais são diferentes dos sintomas da doença em sua
pródromo-o fase manifesta.
que antece-
de a (algo); • Período de transmissibilidade- período em que o doente ou portador é capaz de transmitir
precursor, o agente etiológico. Esse período pode começar ou terminar antes, durantes ou após os sintomas.
prenúncio,
antecedente.
Classificação das doenças de acordo com seu reservatório:
• Antroponose - doença transmissível somente entre seres humanos. Ex.: Hanseníase.
• Antropozoonose - doença transmissível ao homem cujo reservatório está em um animal.
Ex.: Leptospirose.

• Anfixenose - doença que possui homens e animais como reservatórios. Ex.: Leishmaniose.

• Fitonose- doença transmissível ao homem cujo reservatório está em um vegetal. Ex.: Blastomicose.

• Zooantroponose - doença transmissível ao animal cujo reservatório é o ser humano.


Ex.: Amebíase.

• Zoonose - infecção ou doença infecciosa transmissível, de homens a animais, e vice-versa. A


zoonose é um termo genérico que inclui: Antropozoonose, Zooantroponose e Anfixenose, confor-
me você pode perceber no esquema abaixo:

+ .,;
o
"'O
ro

~
>

__. ZOONOSES
~
V,

.8
-~

ô
ô

+
"'O
~
~
.8
'6
LJ.J
1-
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E
Ol
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e.
o
u
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"'O
15

ã.
o
'"'::,
V-
"'O
ee.
(l)
o::

40
Exercitando o conhecimento G
1. A raiva humana é uma doença transmitida ao homem pela mordida de animais silves-
tres ou domésticos infectados. Segundo o que você aprendeu, podemos classificá-la como:
a) Doença crônica. c) Fitonose.
b) Zooantroponose. d) Antropozoonose.

Comentário: Antropo significa homem, logo o homem adoece. Zoonose - zoo significa
animal, logo o animal transmite.

2. Após ser picada pelo mosquito Aedes Aegypiti, uma pessoa leva de 3 a 15 dias para
apresentar a febre. Esse período corresponde a:
a) Período prodrômico. c) Período de incubação.
b) Período de transmissibilidade. d) Período latente.

Comentário: o período compreendido entre a infecção inicial e os primeiros sinais e


sintomas chama-se período de incubação.

2.4 A vigilância epidemiológica


Agora que você conhece o vocabulário básico da epidemiologia, podemos estudar uma das
mais importantes aplicações práticas dessa ciência, a vigilância epidemiológica. Segu ndo a lei nº
8080/90, artigo 6°, §2°, a vigilância epidemiológica pode ser definida como:

[ ... ] um conjunto de ações que proporcionam o conhecimento, a detecçã o ou preven-


ui ção de qualquer mudança nos fatores determinantes e condicionantes de saúde
o
"O ind ividual ou coletiva, com a finalidade de recomendar e adotar as medidas de pre-
"'> venção e controle das doenças ou agravos.
~
~

.8"'
·~

"'o
"'o Vamos decifrar este conceito? O texto fala em fatores
"O
~ condicionantes e determinantes de saúde. Esses fatores
~ são aqueles que levam ao aparecimento de doenças:
.8

LJ.J
vírus, vetores, água contaminada, pré-disposição do indi-
1-
z víduo, ou levam à promoção da saúde: alimentação sau-
(QI
Eo,
dável, práticas de exercícios físicos, saneamento básico.
-~
o
u

"O
15 Vamos aplicar esse conceito numa

e.o doençaconhec~a,adengu~
'"':::,
V,

"O
ee.
QJ
a:

41
Lembremos: a dengue
é causada pelo Flavi-
virus (agente etiológi-
co), transmitida pelo
Aedes Aegypti (vetor).

Se a vigilância perceber mudanças como: a introdução de um novo tipo de vírus, um aumento


da infestação do mosquito, um aumento da incidência de chuvas, um aumento do número de casos
além do esperado etc., seus técnicos irão avisar às autoridades de saúde pública das mudanças que
estão acontecendo e recomendar medidas de prevenção e controle: controle da infestação de mos-
quitos, eliminação dos criadouros, alerta para os serviços de saúde etc.

No início do capítulo vimos uma notícia que tratava de: epidemia, dados, notificações, casos
confirmados, casos descartados, casos suspeitos etc. Vamos, agora, entender estes conceitos.

Numa determinada comunidade começam a aparecer casos de pessoas com febre e dor no cor-
po no período do verão. Ao chegar aos serviços de saúde, eles serão tratados como casos suspeitos.

Casos suspeitos - São pessoas ou animais cuja história clínica e sintomas sugerem que
estes estejam ou venham a desenvolver alguma doença infecciosa.

Como esses são casos suspeitos de dengue, o profissional de saúde deve saber que essa doença
consta na lista de notificação compulsória. Logo, deverá notificar todos os casos que se enquadrem
no critério de suspeita de dengue.

~
"O
"'>
~
2!
SalbaMaisl "'
E
·~

Veja a lista nacional de doenças de notificação compulsória no site: http://www.brasilsus.com. "'o
br/legislacoes/gm/124235-1271.html. ô
"O
i::'
~
B
'i5
UJ
t-
z
(Q)
"Notificação compulsória: comunicação obrigatória à autoridade de saúde, realizada ..,
.s::::
Ol
pelos médicos, profissionais de saúde ou responsáveis pelos estabelecimentos de saúde, -~
e.
públicos ou privados, sobre a ocorrência de suspeita ou confirmação de doença, agra- u
o
vo ou evento de saúde pública, [...], podendo ser imediata ou semanal''. (Definição da ,.;
"O
15
portaria nº 1.271, de 6 de junho de 2014) . (grifo nosso). 'õ
e.
o
'"'::,
V,

"O
o
e.
Qi
o::

42
A suspeita da doença requer que sejam feitos estudos para que os casos sejam confirmados
ou descartados.

Caso descartado: caso suspeito em que não foi possível a confirmação dentro dos crité-
rios da vigilância epidemiológica.

Caso confirmado: "pessoa de quem foi isolado e identificado o agente etiológico ou de


quem foram obtidas outras evidências epidemiológicas e/ou laboratoriais da presença
do agente etiológico, como, por exemplo, a conversão sorológica em amostras de sangue
colhidas nas fases aguda e convalescente''. (WALDMAN, 1998, p.245).

Os estudos que levam à confirmação ou não de um caso são chamados de investigações epi-
demiológicas de campo.

Investigação epidemiológica:"estudos efetuados a partir de casos clínicos ou de portadores


com o objetivo de identificar as fontes de infecção e os modos de transmissão do agente.
Pode ser realizada em face de casos esporádicos ou surtos''. (WALDMAN, 1998, p.255).

Observe o esquema abaixo:

Caso suspeito

notificação compulsória

"O
~ 1
"'>
~ Investigação epidemiológica
~
V,

.8
-~
'õ resultado negativo resultado positivo
ô
"O
~
ê
V,
o
I
.8 Caso descartado Caso confirmado

u.J
f--
z
(Q)
E
O>
-~ acúmulo de casos confirmados
Q.
o
u
n:i
"O
1i
"êQ.
Aviso às autoridades sanitárias
o
'"':::,u,
"O
e
.,
Q.

e::

43
Conforme os casos confirmados vão sendo acumulados, a vigilância epidemiológica poderá
emitir boletins relatando a situação epidemiológica de uma região. Alguns termos são frequentes nos
meios de comunicação:
• Surto: a ocorrência de dois ou mais casos relacionados, ou o aumento do número de casos
numa região bem delimitada (uma rua, um bairro, um clube).
• Epidemia: a ocorrência de um aumento de casos claramente acima do número de casos es-
perados para aquela época e região.

Algumas doenças são frequentes em algumas regiões e não existem em outras. Quando uma
doença mantém um número de casos regulares e constantes numa região a chamamos de Endemia,
como a dengue na maior parte das regiões do Brasil. Quando a ocorrência de uma doença ultrapassa
fronteiras de países ou continentes a chamamos de Pandemia, como a AIDS no mundo inteiro.

AVE ainda pode fazer outros estudos especiais. Se os pesquisadores quiseram fazer uma avalia-
ção da situação de saúde de uma região o nome do estudo é inquérito epidemiológico. Para avaliar
a tendência da ocorrência de uma doença numa região, ou seja, a partir dos casos notificados numa
base de dados, saber se a doença tende a aumentar, diminuir ou se estabilizar o nome do estudo é
levantamento epidemiológico. Alguns sinais de alerta para saúde pública são frequentemente pes-
quisados para detectar antecipadamente a ocorrência de um evento de saúde pública são os chama-
dos sistemas de vigilância sentinela.

o Saiba Mais!
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_vig_epid_novo2.pdf

G Exercitando o conhecimento

1. A ocorrência de casos em número acima do normal esperado chama-se?


.,;
a) Endemia. c) Pandemia. o
"O

b) Surto. d) Epidemia. "'>


~
~
"'
Comentário: epidemia significa um aumento do número de casos acima do esperado. -B~

Não é preciso que sejam necessariamente muitos casos, desde que estejam claramente "'
o
"'
o
acima do que se espera. "O
~
~
B

2. O que significa o termo notificação compulsória? LJ.J
1-
z
a) Notificação em 24h. c) Notificação obrigatória. ~
1:
.Q'
b) Notificação em uma semana. d) Notificação facultativa.
~
o
u
ni
"O
O termo compulsório significa obrigatório. Dependendo do caso, a notificação poderá 15
ser imediata (24h) ou semanal.
·e
Q.
o
'"'
V-
:,
"O
e
Q.
QJ
a:

44
2.5 Indicadores epidemiológicos
Para que a epidemiologia avalie o estado de saúde de uma população, será necessário utilizar
medidas de avaliação. Essas medidas são chamadas indicadores.

Indicadores de mortalidade

Os indicadores de mortalidade trabalham com dados de óbitos da população, eles podem ser
divididos em 3 tipos:
• Taxas de mortalidade: são indicadores que medem o risco de morte numa dada população
suscetível. São calculadas dividindo-se o número de óbitos de um determinado tipo (causa, sexo, ida-
de) por uma população.

Ex.:

N° de óbitos de crianças menores de um ano de idade, no período


Coeficiente de mortalidade infantil - - - - - - - - - - - - -- - - -- - - -- -- xl000
Número de nascidos vivos, no período

• Taxas de letalidade: medem o risco de morrer para quem já está doente, ou seja, medem
a gravidade de uma doença. São calculadas dividindo-se o número de óbitos de uma determinada
doença pelo número de casos desta doença nesta mesma população.

Ex.:

Número de óbitos por determinada doença


Taxa de letalidade - - - - - - - - - - - - ----xl00
Número de casos da mesma doença

• Mortalidade proporcional: avaliam a frequência de um determinado tipo de óbito em re-


lação ao total de óbitos. São calculadas dividindo-se o número de óbitos de um determinado tipo
(causa, sexo, idade) pelo total de óbitos numa dada população.

Ex.:
.,;
o
.,,
-o
> Número de óbitos por determinada causa (ou grupo de causas), no período
cii
V, Mortalidade proporcional por causa = - - - -- - -- -- - -- - - - -- -- - - -- - -- --x 100
~
V,
Todos os óbitos, no período
B
-~
'6
V,
o
V,
o
-o
~
~ Indicadores de morbidade
.8
'6
LJ.J
f-
z Os indicadores de mortalidade trabalham com dados de casos de doenças de uma determina-
(Q) da população. Os principais são:
1:
O'l
-~ • Incidência: o número de casos novos de doença numa população.
o
u • Prevalência: o total do número de casos de uma doença numa população. Incluem casos
.,;
-o
:õ novos e antigos.
·ea.
,.,,o
V-
::,
-o
o
a.
a,
CC

45
G Exercitando o conhecimento

o
Etiologia:
A letalidade é a medida:
a) Do número de óbitos de uma doença numa população.
b) Do risco de morrer numa determinada população.
estudo das
causas das
c) Da gravidade de uma doença.
doenças.
d) Do número de casos novos de uma doença.
Demografia:
"Estudo de
populações, Comentário: a letalidade é calculada dividindo-se o número de óbitos de doença pelo
com referência
número de casos dessa mesma doença numa população. O resultado demonstra a gravi-
a fatores como
tamanho, estru-
dade, ou seja, o risco de morrer entre os doentes.
tura de idade,
densidade,
fecundidade,
mortalidade,
crescimento e
variáveis sociais
e econõmicas~ 2.6 Transi§:ão epidemiológica
(WALDMAN,
1998, p. 236). Você já pode perceber que os tipos e a frequência das doenças numa população têm relação
direta com as condições de vida de uma população (ver lição 1). Os epidemiologistas perceberam que
Fecundida-
as características epidemiológicas de uma população mudam com o tempo e são provocadas pelas
de:"Número
médio de filhos mudanças das condições de vida .
nascidos vivos,
tidos por uma A partir da descoberta da relação entre os micro-organismos e a etiologia das doenças, da uti-
mulher ao final lização de vacinas e antibióticos, da expansão do saneamento básico e da melhoria das condições
do seu período de vida da população, o número de casos de doenças transmissíveis foi diminuindo em relação ao
reprodutivo, número de casos de doenças não transmissíveis que, por sua vez, foram aumentando. Outro impacto
na população
das mudanças das condições de vida é o aumento da proporção de causas externas como acidentes e
residente em
violência. O nome dessa mudança é transição epidemiológica.
determinado
espaço geo-
Transição epidemiológica é o nome que se dá às mudanças dos padrões de morbimortalidade ~
gráfico, no ano "O
considerado''. de uma população. A transição epidemiológica é acompanhada de mudanças demográficas nessa "'>
(RIPSA, 2008, mesma população: ~
~
p.75.). V>

• Diminuição do número de filhos por mulher (fecundidade). .s


·~
Expectativa de 'õ
• Aumento da expectativa de vida.
vida: "Núme- ô
V>
o
ro médio de • Envelhecimento da população. "O

anos devida ~
~
esperados para .s

um recém-nas- LJ.J
1-
cido, mantido z
o padrão de @

mortalidade 1:
Cl
existente na -~
população o
u
residente, em n:i
"O
determinado 15

espaço geo- e.
o
gráfico, no ano '"'::,u-
considerado''. "O
o
(RIPSA, 2008, .,e.
e:
p.86.)

46
Observe o gráfico abaixo:

Gráfico 2.1 - Mortalidade proporcional por quatro causas de óbito selecionadas.


o
Eliminação
(erradicação
Capitais brasileiras - 1930 a 1990 regional):
"A erradicação
regional ou
50 , 0 0/ . ~ , , . . .,., ··-· 1
10 h-.-...~...~~"''"'"""~ - ~- DIP eliminação
-a- Neoplasias é a cessação
- - Circulatório da trans-
37,5%
-o- Externas missão de
determinada
25,0% infecção em
ampla região
geográfica
12,5% ou jurisdição
política".
(WALDMAN,
0,0% 1998, p.238).
1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990

Erradicação:
"Cessação
CAUSAS 1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 de toda a
transmissão
DIP 45,7% 43,5% 35,9% 25,9% 15,7% 11,4% 6,3% da infecção
5,7% 9,7% 14,3% pela extinção
Neoplasias 2,7% 3,9% 8,1% 11,2%
artificial da
Circulatório 11,8% 14,5% 14,2% 21,5% 24,8% 30,8% 32,0% espécie do
agente em
Externas 1 2,6% 2,4% 3,3% 4,8% 7,5% 7,7% 14,3% questão. A
erradicação
pressupõe
a ausência
completa
de risco de
Você pode perceber que as DIPs (doenças infecto-parasitárias) eram as principais causas de
reintrodução
vi doença e morte nas capitais brasileiras no início do século XX, hoje as doenças do aparelho circulató- da doença,
o
-o rio estão na frente.
"'> deforma a
~ permitir a
~ Contudo, nem todas as DIPs estão diminuindo, existem quatro tendências: suspensão de
"'
E
-~ toda e qual-
• Doenças emergentes: são aquelas que não existiam e passaram a existir, por exemplo: Han-
'õ quer medida
cS taviroses, Gripe Hl Nl, Dengue tipo 4. de prevenção
"'o ou controle':
-o • Doenças reemergentes: doenças que já foram controladas, eliminadas e que voltaram, por
g (WALDMAN,
é exemplo: Cólera, nos anos 90; Dengue, nos anos 80; Sarampo, atualmente. 1998, p.238).
E

UJ • Doenças declinantes: são aquelas cujas medidas de saúde pública conseguiram sua elimi-
1-
z nação, erradicação, controle ou que tendem a diminuir com o passar do tempo, por exemplo: rubéola,
(Q) Controle:
:e pálio (eliminada), varíola (erradicada), tétano, raiva humana. a redução do
.2'
>-
a. • Doenças persistentes: são aquelas que apesar de todos os esforços da saúde pública, o nú- número de
o casos a níveis
u mero de casos se mantém basicamente o mesmo ou diminuem muito lentamente, por exemplo: tu-
,,; considerados
-o berculose, meningites, febre amarela.
:ã aceitáveis

õ. para a saúde
o pública.
'"'
U>
Cj
-o
e
a.
QJ
a:

47
o
Comunican-
te/contato:
2.7 Medidas gerais de profilaxia e controle
A epidemiologia trata do processo saúde-doença na coletividade, logo a vigilância epidemiológica
pode lançar mão de medidas que evitam a disseminação das doenças, são as chamadas medidas gerais.

"Pessoa ou • Imunização coletiva: imunização de uma grande proporção da população para que os imu-
animal que nes dificultem a propagação protegendo assim também os suscetíveis. Ex.: campanha de vacinação
teve contato de poliomielite.
com pessoa
ou animal • Isolamento: separação de um doente ou portador do convívio com as outras pessoas duran-
infectado, te o período de transmissibilidade da doença. Ex.: isolamento respiratório de uma pessoa com menin-
ou com gite meningocócica por 24h após o início do tratamento com antibióticos.
ambiente
contaminado, • Quarentena: separação de um indivíduo sadio que teve contato com uma fonte de infecção
de forma a ter durante o período máximo de incubação. Ex.: quarentena de um profissional de saúde que cuidou de
oportunidade pacientes com Ebola.
de adquirir
o agente • Quimioprofilaxia: administração de um medicamento para evitar que um comunicante se
etiológico~ infecte ou que um comunicante infectado adoeça. Ex.: Quimioprofilaxia dos contatos íntimos de um
(WALDMAN, doente de meningite meningocócica.
1998 p. 236).

"o Exercitando o conhecimento

1. Quais são as principais causas de morbimortalidade atualmente no Brasil?


a) Doenças transmissíveis.
b) Doenças não transmissíveis.
c) Causas externas.
d) Neoplasias.

Comentário: após a transição epidemiológica, as doenças não transmissíveis tornaram-


Morbimorta-
lidade: indi- -se as principais causas de morbimortalidade no Brasil. Destacam-se nesse grupo as doen-
cadores que a ças do aparelho circulatório.
frequência e
as causas de
morbidade 2. Uma criança que convive com uma pessoa com tuberculose pulmonar precisou usar .,;
(doenças) e o
um medicamento para impedir que ela se infecte. Qual o nome desta medida de controle? -o
mortalidade "'>
(óbitos) numa a) Isolamento. b) Quarentena. c) Imunização. d) Quimioprofilaxia. ~
~
determinada V,

população.
B
·~
Comentário: a Quimioprofilaxia é administração de um medicamento para evitar que 'õ
ô
um comunicante se infecte ou que um comunicante infectado adoeça. ô
-o
~
~
B
3. A taxa de prevalência da hanseníase no Brasil era de aproximadamente 17 casos para 'õ
UJ
1-
cada 10.000 habitantes em 1985. Atualmente são de menos de 2 casos para cada 10.000 z
(QI
habitantes. A hansenfase é uma doença de tendência:
.E
O"l
a) Emergente. b) Reemergente. c) Declinante. d) Persistente. ·~
o.
o
u
t<Í
-o
Comentário: apesar de termos a segunda maior prevalência de hansenfase do mundo, :õ
·eo.
a doença tem uma tendência declinante. o
"":::,u,
-o
eo.
Q/
a:

48
Nesta lição você aprendeu:
• Que a epidemiologia estuda o processo saúde-doença para recomendar ações de preven-
ção e controle.
• Conceitos básicos em epidem iolog ia como: diferença entre epidemia e surto, doença e
infecção etc.
• A importância e os métodos de trabalho da vigilância epidemiológica.

• O que é a transição epidemiológica.

Agora, verifique se você está apto a:


• Conceituar epidemiologia.
• Saber como a epidemiologia ajuda a explicar a origem das doenças.
• Discorrer como a epidemiologia ajuda a saúde pública a definir prioridades.

Exercícios Q
Parabé ns,
Questão 1 - Antes da demonstração da relação entre os micro-organismos e a etiolo-
gia por R. Kock acreditava-se que as doenças eram causadas por "ares corrompidos''. Estes você final izou
eram denominados: esta lição!
Ago ra
a) Microares. c) Aeroagentes.
res ponda
b) Miasmas. d) Bioagentes. às questões
ao lado.

Questão 2 - Um pesquisador britânico demonstrou no séc. XIX a relação entre os casos


de cólera e a distribuição da água, ele é considerado o pai da epidemiologia moderna. Seu
nome era?
a) Robert Kock. c) John Snow.
b) Louis Pasteur. d) Karl Marx.
:s
""O
"'>
~
.,,~ Questão 3 - Observe o esquema abaixo e responda :
B
-~

.,,
.,,o
o
""O
Germe
~ Indivíduo Indivíduo
.;
s

saudável Micro-orga nismo doente
UJ
f--
z
©
1:
.!:1'
>-e. Este esquema corresponde a qual modelo explicativo em epidemiologia?
o
u
.;
""O a) Monocausal. c) História natural das doenças.
:.õ

o.. b) Multicausal. d) Abordagem sistêmica.
o
'"':::,
V,

""O
o
o..
C1)
o::

49
1
l

Questão 4 - Quais são os elementos da tríade de Leavell e Clarck?


a) Agente etiológico, vetor e hospedeiro.

b) Agente biológico, meio ambiente e hospedeiro resistente.

c) Agente etiológico, meio ambiente e hospedeiro suscetível.


d) Agente biológico, vetor e hospedeiro suscetível.

Questão 5 - O bacilo da hanseníase tem como características ter alta infectividade e


baixa patogenicidade, isso significa respectivamente:
a) Muitas pessoas adquirem o bacilo, muitas adoecem.
b) Poucas pessoas adquirem o bacilo, muitas adoecem.

c) Muitas pessoas adoecem, poucas se infectam.


d) Muitas pessoas adquirem o bacilo, poucas adoecem.

Questão 6-A malária é transmitida pelo mosquito do gênero Anopheles e causada pelo
protozoário Plasmódio. Eles são respectivamente:
a) Agente etiológico e hospedeiro. c) Reservatório e vetor.

b) Vetor e hospedeiro. d) Vetor e agente etiológico.

Questão 7 -A ocorrência do número de casos de uma doença de forma regular e cons-


tante é denominada:
a) Endemia. c) Pandemia.
b) Epidemia. d) Surto.

Questão 8 - Para avaliar o número de casos novos de uma doença numa região, a epi-
demiologia utiliza o seguinte indicador:
,,;
o
a) Prevalência. c) Letalidade. -o
"'>
b) Incidência. d) Mortalidade. ~
~
V>

B
Questão 9-Qual das seguintes situações pode ser classificada como uma causa externa? :~
-o
V>
o
a) Tuberculose. c) Suicídio. e,
-o
{?.
b) Diabetes. d) Epilepsia. oi
s

LJ.J
1-
Questão 10 -A separação de um indivíduo sadio durante o período máximo de incu- z
@
bação de uma doença chama-se: ...,
.s::::
,Ql
a) Isolamento. c) Isolamento profilático. ~
o
u
b) Quimioprofilaxia. d) Quarentena. oi
-o
15
·eo.
o
'"'...,.
:,
-o
12o.
.,
e::

50
1. Estudo de caso:
Leia a notícia abaixo:

Mato Grosso, Tocantins e Maranhão registram as maiores incidências de hansení-


ase do país.

14/01/2014 - 13h33

Paula Laboissiere - Repórter da Agência Brasil

Brasília - Balanço divulgado hoje (14) pelo Ministério da Saúde indica que três estados
registram as maiores incidências de hanseníase do país, com coeficiente de prevalência
acima de três casos para cada 1O mil habitantes - Mato Grosso (7,69), Tocantins (5,54) e
Maranhão (5,22). Já Rio Grande do Sul (O, 12), Santa Catarina (0,29) e São Paulo (0,34) apre-
sentam as menores taxas de prevalência da doença.

Dados da pasta mostram que o Brasil identificou 33.303 novos casos de hanseníase em
2012. Os números referentes ao ano passado ainda não foram fechados, mas a estimativa
do governo é que eles fiquem entre 30 mil e 33 mil novos casos. Ainda assim, a taxa de
prevalência da doença caiu 65% nos últimos dez anos, passando de 4,33 para cada 1O mil
habitantes em 2002 para 1,51 para cada 10 mil habitantes em 2012.
De acordo com o balanço, em 2012, o coeficiente de detecção da hanseníase no Brasil
foi 17, 17 para cada 100 mil habitantes na população em geral. Entre menores de 15 anos,
o índice foi 4,81/100 para cada 100 mil habitantes.

Entre as ações adotadas pelo ministério está o Monitoramento para Eliminação da Han-
seníase, que coletou dados em 60 municípios brasileiros. Foram pesquisadas 164 unida-
des de saúde de todo o país, representando 27% da população brasileira (52,8 milhões de
pessoas). Os municípios selecionados foram os que apresentam maior carga da doença e
concentram 60% dos casos.
Ao todo, foram examinados 6. 170 prontuários, além de 656 entrevistas feitas com pa-
cientes e 279 com profissionais de saúde. Os dados mostram que 87,5% das cidades ofere-
vi
o cem serviços de diagnóstico e tratamento para a hanseníase. Também foi observada uma
"O
"'> redução de 18% da proporção de casos com grau 2 de incapacidade física, quando com-
~
.,,~ parado os anos de 2007 e 2011, demonstrando que o diagnóstico precoce está crescendo.
B
:~.,,
"O
o Fonte: htlp://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/nolicia/2014-01-14/mato-grosso-tocantins-e-maranhao-registram-
cS -maiores-incidencias-de-hanseniase-do-pais.
"O
~
.,;
B

UJ
f-
z Respondas as perguntas abaixo:
(Q)
.eo, 1) Qual a diferença entre os termos incidência e prevalência?
-~
Q.
o
u
.,;
"O
:.õ
·e
Q.

,,,,o
u-
::,
"O
e
Q.
QJ
cr:

51
2) Quais motivos devem estar relacionados às diferentes taxas de prevalência da hanse-
níase nas diferentes regiões do país?

3) Quais foram os tipos de estudos epidemiológicos utilizados para compor este panorama?

2.lnvestigação e pesquisa:
As autoridades sanitárias brasileiras estão preocupadas com a possibilidade de introdu-
ção da doença chamada Febre chikungunya no país. Pesquise:
a) Qual é o agente etiológico desta doença?
b) Qual (is) é (são) a(s) forma(s) de transmissão?

c) Em quais regiões do mundo ela é endêmica, em quais regiões têm sido relata-
das epidemias?

d) Quais são as medidas gerais que estão sendo adotadas pela vigilância epidemiológi-
ca do Brasil?
e) Esta doença faz parte da lista nacional de doenças de notificação compulsória?

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52
3. OS MODELOS DE ATENÇÃO À SAÚDE

3.1 Paradigmas da atenção à saúde


Olá, caro leitor, nesta lição você irá estudar:

• O que é e quais são os paradigmas da atenção à saúde.


• O que são modelos de atenção à saúde.

• Quais são os modelos de atenção à saúde que apareceram no Brasil.

• De que forma os modelos de atenção à saúde influenciam as políticas setoriais de saúde.

Na lição 1, você percebeu que a preocupação do Esta-


do com a chamada saúde pública não existe tal qual
a conhecemos desde sempre. Esse foi um processo
histórico que se consolida no séc. XX. Porém, faltou di-
zer que a forma com que o Estado intervém na saúde
também sofre modificações ao longo do tempo e
essas formas são diferentes de lugar para lugar.

De tempos em tempos, a comunidade acadêmica chega


a um consenso (motivado por estudos científicos, mas também
o
Paradigmas:
por influências políticas) de qual seria a maneira ideal de se or- "No sentido
lato corres-
ganizar um sistema de saúde. É a essa forma ideal que damos o
ponde a algo
nome de paradigmas da atenção à saúde. que vai servir
,;
o de modelo ou
"O Observe a imagem abaixo:
"'> exemplo a ser
t ~
e:,
seguido em
determinada
"'
B situação. São
:~
"O
hospitais as normas
o"' padrão FIFA orientadoras
~ de um grupo
"O
~ que estabele-
e cem limites e
B

UJ
que determi-
f--
z nam como
(QJ um indivíduo
.E deve agir
.':e'
>-
a.
dentro desses
o limites''. Fonte:
u
i
1
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"O
....... http://www.
15 significados.
r ·ea. com.br/para-
o digma/
! '"':::,u-
"O
e
.,a.
a:

~
53
Uma das reivindicações mais presentes nos protestos ocorridos antes e durante o período da
copa do mundo no Brasil foi a construção de "hospitais padrão FIFA''. O tal "padrão FIFA" fazia alusão
aos modernos, confortáveis, caros e em alguns casos luxuosos estádios construídos para a copa do
mundo, segundo o caderno de exigências da federação internacional de futebol.

o Atençiol
Você já reparou nas propagandas de planos de saúde privados? Reveja:
https://www.youtube.com/watch?v=DkDafQf02Kc.

Há um grande destaque para a disponibilidade de equipamentos tecnológicos de última gera-


ção e para as novas fachadas dos hospitais.

Agora, observe o que vemos quando acessamos o site do ministério da saúde:

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0 Miniltéio 1k s.úck - P« x

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C CI portalsaudo.saudo.gov.br/ind•~p!àdadao/saud•· para-voce
Aceuo i inlOrmaçio
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Pardtlpe Servtço. L.egis'8!çlo
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CaMil

au.car 0K

1. f:l sàtfàe- + ,.,_


r . ~ "-"
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Odad~ Proftsslonal e Gestor o Nlnistúio Serviços Blbliotecil ' Acesso à InfomaçJQ

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Saúde para Voei

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Conheta. a PolMca NK.ioNI de AtlnÇJo
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di sa:m que traz prinôptos e dirmtm
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~
Fonte: http:1/portalsaude.saude.gov.br/index.php/cidadao/saude-para-voce n:i
s

UJ
1-
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Perceba que não há imagem de hospital e nenhuma menção à tecnologia. Procure na internet
vídeos de campanhas do ministério da saúde. O que você encontra? Quase sempre campanhas edu-
-
(9
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cativas para prevenção de doenças. o
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Essa diferença existe porque as duas propagandas correspondem a visões de mundo diferen- :õ

tes. Elas se referem a paradigmas diferentes de atenção à saúde. õ.
o
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V,

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Q.
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o:

54
O Paradigma Biomédico
O desenvolvimento científico e tecnológ ico que aconteceu entre meados do século XIX e no
séc. XX propiciou a criação de novas formas de diagnóstico e tratamentos, problemas de saúde que
por séculos eram insolúveis passaram a ter solução.

A pesquisa científica e alta tecnologia passaram a ser as maiores esperanças para solucionar os pro-
blemas de saúde da população. Dessa forma, o processo saúde-doença passa a ter como únicas fontes de
explicações, as ciências biomédicas. Saúde passa a ser vista exclusivamente como ausência de doenças.

Paralelamente, os hospitais passaram gradativamente a ser o principal local para a realização


das ações de saúde por acumular a maior quantidade de recursos e equipamentos.

Importante!
As intervenções no processo saúde-doença passam a ter o médico como seu principal protagonista.
8
Esta visão das ações de saúde centrada no médico, nos hospitais e na alta tecnologia recebe o
nome de paradigma biomédico, também conhecido como paradigma Flexneriano em referência ao
professor americano Abraham Flexner (1866-1959).

O relatório Flexner

Em 191 O, Flexner publicou o estudo Medical Education in theUnited States and Canada-A Report
to the Carnegie Foundation for the Advancement of Teaching, texto que ficou mais conhecido como
relatório Flexner.

Segundo Pagliosa e Da Ros:"é considerado o grande responsável pela mais importante reforma
das escolas médicas de todos os tempos nos Estados Unidos da América (EUA), com profundas impli-
cações para a formação médica e a medicina mundial". (2008, p.493).

Na verdade, Flexner não criou um modelo, ele estudou experiências novas de formação do
profissional de medicina e propôs um conjunto de regras para isso:
~
"O
"'> • As escolas médicas deveriam estar baseadas em uma universidade.
~
!'! • O curso deveriam ter laboratórios e condições adequadas.
.8"'
-~ • O aluno deveria passar ao menos 2 anos do curso em hospitais.
'6
"'
o • O currículo deveria ter uma base científica.
"'
o
"O
~
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Apesar de o modelo biomédico trazer inquestionáveis benefícios para a saúde individual, al-
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LJ.J
1-
guns especialistas apontam algumas frag ilidades:
z
(Q) • Aumento gradativo dos custos da atenção à saúde.
Ee,
-~ • Dificuldade de resolver problemas de saúde de ordem psicológica ou de cunho socia l.
o.
o
u • Distanciamento da relação entre o profissional de saúde e a realidade social dos usuários dos
oi
"O

serviços de saúde.
·eo.
• Medicalização da sociedade, ou seja, todo tipo de angústia ou sofrimento passa a ter um diag-
o
""
V-
:::,
nóstico e tratamento definido.
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o
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a,

-
o::

55
O paradigma biomédico é a filosofia que está por trás das reivindicações de "hospitais padrão FIFA''.

" Exercitando o conhecimento

~ uma característica do paradigma biomédico:

a) ~nfase em ações preventivas.


b) Campanhas de vacinação.
c) ~nfase em ações curativas.
d) Aproximação entre o profissional de saúde e a população.

Comentário: o paradigma biomédico está baseado em ações curativas, na medicina


especializada e na alta tecnologia.

O paradigma sanitarista:

o
Sanitarismo:
Diferentemente do paradigma biomédico, o paradigma sanitarista tem uma preocupação com
a coletividade, prioriza intervenções nos espaços urbanos e entende que é preciso haver mudanças
nas condições sociais e econômicas para melhorar as condições de saúde da população.

Para entendermos melhor esse conceito, devemos conhecer as experiências que lhe serviram
relativo à con-
de base: a polícia médica da Alemanha, a medicina urbana da França, o sanitarismo inglês e a
servação da
saúde pública
medicina social.
ou individual,
No século XVIII, surge na Alemanha o conceito de polícia médica. A Alemanha dessa época ain-
à higiene.
da era um Estado unificado, trata-se de um conjunto de principados autônomos que tinham o idioma
alemão como fato comum. O processo de unificação precisou da atuação de um forte governo central.
Um dos objetivos deste governo era controlar rigidamente a vida de seus habitantes.
.,;
o
A polícia médica realizava as seguintes atividades: contabilização dos casos de morbidade (um ,:,

protótipo da vigilância epidemiológica), normatização do ensino da medicina, controle das atividades


"'>
~
dos profissionais de saúde e a formação de um grupo de médicos vinculados ao governo para intervir E:'
V,

diretamente na saúde da população por regiões. O médico assume o papel de administrador da saúde -B~
opinando inclusive na organização das cidades, ruas e moradias. 'õ
ô
Ainda no séc. XVIII desenvolve-se na França a medicina urbana. As ações da medicina urbana ô
,:,
~
consistiam em controlar os fatores que poderiam provocar doenças e perigo nas cidades. A intervenção ~
na estrutura das cidades era uma ação prioritária: alargamento das ruas, afastamento dos cemitérios e B

u.J
de tudo que poderia "corromper" o ar e as águas para as periferias. Era fundamental "arejar" as cidades, f-
z
uma vez que vigorava a ideia de que o ar corrompido (miasmas) eram as principais causas de doenças. ~
1:
Na Inglaterra do séc. XIX surge a polícia sanitária. Essa organização tinha como principais obje- -~
>-a.
tivos: controle do estado de saúde das classes mais pobres, proverem trabalhadores para as indústrias, o
u
.,;
controle de vacinação, registro de epidemias, localização e eliminação de lugares insalubres. ,:,

·ea.
o
"":,
V-
,:,
e
.,a.
a:

56
Importante!

A chamada medicina social nada mais é do que a soma das experiências anteriores, a ideia de
que os problemas de saúde demandam intervenções na sociedade, ao invés de simplesmente
o
investir no tratamento individual de cada pessoa, na cura de cada doença.

Diferentemente do paradigma biomédico que centrado na figura do profissional médico, o para-


digma sanitarista utiliza o conceito de interdisciplinaridade, isto é, a o trabalho em conjunto de diversos
profissionais somando seus conhecimentos em prol da melhoria das condições de saúde da população.

O paradigma san itarista é o pensamento que está por trás das ações do ministério da saúde.

Saiba Mais!
http://www2.uefs.br/sitientibus/pdf/13/campos_de_saude_coletiva.pdf
o
Exercitando o conhecimento
1. Marque V para verdadeiro e F para Falso. O paradigma sanitarista:
e-
Prioriza ações individuais.
Dá ênfase a intervenções nos espaços urbanos.
) Acredita que o binômio saúde-doença é resultado das condições sociais e econômicas.
o
Binômio:
expressão
de origem
Comentário: o paradigma sanitarista prioriza ações coletivas.
matemática
~ que indica a
-o
<ti
> união entre
~ 2. Faça as palavras cruzadas e complete as frases abaixo: dois termos.
~
"'
.8
-~
'õ Vertical
"'o 1) _ _ _ _ _ _ _ _ _ especializada e alta
"'o
-o tecnologia são prioridades do Modelo Biomédico.
~
.,; 2) O _ _ _ _ _ _ _ _ _ sanitarista tem enfo-
-~
-o que em ações preventivas e coletivas.
UJ
1-
z
<9 Horizontal
Eo, 3) O paradigma _ _ _ _ _ _ tem enfoque
-~ em ações individuais e curativistas.
o
u
.,;
-o


o.
o
•<ti
u-
::,
-o
eo.
llJ
cr:

Saúde Coletiva 1 57
3.2 Os modelos de proteção social
Observe a notícia abaixo:

Saúde e educação são as prioridades dos brasileiros, aponta lpea.

Os dados sobre percepção social foram divulgados após a cerimônia de entrega do Prê-
mio 'My World; das Nações Unidas.

A melhoria dos serviços de saúde foi a opção assinalada como prioridade por 87,64%
dos 3.81 O entrevistados da pesquisa Sistema de Indicadores de Percepção Social (SIPS) -
Nossos Brasis: prioridades da população, realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (lpea) em agosto deste ano, em mais de 21 Ocidades brasileiras. Uma educação
de qualidade (72,97%), a proteção contra o crime e a violência (61,44%), melhores opor-
tunidades de trabalho (60,28%), um governo honesto e atuante (59,85%), além do acesso
a alimentos de qualidade vêm na sequência na lista das escolhas, feitas entre 16 opções
ordenadas aleatoriamente.

Fonte: http:/fwww.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=20859

Essa pesquisa confirma aquilo que podemos detectar em qualquer conversa sobre política em
nosso dia a dia: saúde e educação são prioridades para os brasileiros. Observe que na sequência vem:
segurança e oportunidades de trabalho.

O que todas essas coisas têm em comum? Tratam-se de questões públicas, ou seja, assuntos
que interessam à sociedade como um todo. Quando o assunto é da esfera pública, dizemos que é um
assunto político. Todavia, as políticas públicas não funcionam do mesmo jeito nas diferentes áreas,
oferecer acesso à educação infantil para todos os brasileiros é obrigatório para os gestores públicos,
no entanto a educação superior para todos não é uma obrigação.

8 Atenção!

As políticas públicas funcionam de forma diferente nos diferentes países, de uma forma geral,
"O

~
~
v;
o
~

podemos classificar a intervenção do Estado na proteção social de 3 formas diferentes: o Estado Ê


-~
Liberal, o Estado conservador e o Estado de bem-estar social. 'õ
V,
o
V,
o
"O
t2
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§

UJ
f--
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Lembrando sempre @
...,
o que vimos anterior- .e
.2'
mente: os modelos >-
a.
o
não puros são aproxi- u
.;
mações da realidade. "O
ii
·ea.
o
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u,
:::,
"O
e
a.
Q/
e::

58 NT Editora
O Estado Liberal
Neste tipo de regime, a atuação do Estado é a mais restrita possível. As pessoas deverão buscar
atendimento no setor privado, cabendo ao Estado apenas prover e organizar serviços para a popula-
ção mais pobre. São exemplos de países de orientação predominantemente liberal: Estados unidos,
o
Grã-Bretanha:
ilha onde ficam
Suíça, Austrália.
três países: In-
glaterra, País de
Gales e Escócia.
O Estado conservador
Seguro-social
Neste tipo de regime, praticamente todos os cidadãos tem acesso a algum meio de proteção /Previdência
social (saúde, previdência, assistência etc.), entretanto ela não se dá de forma igualitária. O acesso ao be- social: "A Previ-
nefício está condicionado ao pagamento prévio de um seguro-sogfil] e organizado por categoria profis- dência Social é
sional. Nesse caso, o acesso a esses serviços é considerado um benefício, isto é, o acesso se dá de acordo um seguro que
garante a renda
com a contribuição. Esse modelo é adotado por muitos países da Ásia, América Latina e da Europa.
do contribuinte
e de sua família,
em casos de
O Estado de bem-estar social doença, aciden-
te, gravidez,
Os Estados organizados no modelo de bem-estar social também chamados de estado social- prisão, morte
democrata ou de welfare-state têm como objetivo oferecer um mínimo de bem-estar a todos os seus e velhice[...].
cidadãos e de forma igualitária. Nesses países o acesso aos serviços de proteção social é considerado Para ter essa
direito do cidadão e não somente um benefício como no caso do estado conservador. São exemplos proteção, é
necessário se
de estados social-democratas: Dinamarca, Noruega, Suécia e Finlândia.
inscrever e con-
tribuir todos os
meses''.

Atenção!

Cabe ressaltar que um mesmo país, pode ter diferentes abordagens para serviços diferentes. Na
Grã-Bretanha, por exemplo, a saúde é de acesso universal (bem-estar social) a previdência e a as-
e
sistência são de caráter liberal.

e-
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~
~

B
V,
Exercitando o conhecimento
-~

e:
V,
Discuta com seus colegas! A saúde e a previdência social do Brasil estão organizadas
o segundo qual(is) modelo(s) de proteção social?
""O
~
,,;
§
'6
LJ.J Comentário: as ações de saúde do Brasil são organizadas segundo o modelo de estado
1-
z de bem-estar social, pois são universais (para todos) e igualitárias (sem distinção). A previ-
©
1: dência social está organizada segundo o modelo conservador, pois depende da contribui-
o,
-~ ção dos trabalhadores à previdência social.
a.
o
u
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o
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59
3.3 Os modelos de atenção à saúde
Agora que você aprendeu o que são os paradigmas de atenção à saúde e de que forma os Esta-
dos se organizam para prover serviços de proteção social, vamos compreender como essas formas de
pensamento influenciam as políticas de saúde.

As políticas de saúde são leis, normas, programas e projetos que organizam os sistemas de saú-
de. As políticas de saúde são reflexo do modelo de atenção à saúde adotado, que por sua vez, é reflexo
do paradigma de atenção à saúde vigente. Observe o esquema abaixo:

Carvalho e Goulart definem modelos de atenção à saúde como "[ ...] a forma de organização e
articulação entre os diversos recursos físicos, tecnológicos e humanos disponíveis de forma a enfren-
tar e resolver os problemas de saúde vigentes numa coletividade''. (1998, p.40).

Os modelos têm algumas características comuns:

• São construções históricas - sua formulação depende da época em que foi concebido e logo
do pensamento vigente.

• São construções sociais - os modelos são resultados de disputas políticas na sociedade, suas
.,;
crenças e valores. o
-o
~
• São construções teóricas- sua prática não é exatamente igual ao que está descrito na literatura.
~
~
V,

.8
A história das políticas de saúde do Brasil descreve a existência de três modelos de atenção -~

à saúde: o sanitarismo-campanhista, o médico-assistencial e mais recentemente o modelo da ô
V,
vigilância à saúde. o
-o
iS?
~
.8
O modelo sanitarista-campanhista 'õ
LJ.J
1-
z
O chamado modelo sanitarista-campanhista foi o primeiro modelo de atenção à saúde adotado
pela república brasileira. -
@
.e
->.~
e.
o
No final do séc. XIX, após a proclamação da república (1889), o Brasil adota o modelo que seria u

depois denominado sanitarismo-campanhista com clara influência das experiências europeias e das -o
:.õ
descobertas da microbiologia. 'õ
õ.
o
"":,
V-

-o
o
õ.
Q/
e::

60

1
O Brasil do início da era republicana era um país cuja economia estava baseada no modelo
agrário-exportador, ou seja, produzia bens agrícolas que geraram divisas ao serem exportados para
outros países. Todavia, as cidades portuárias brasileiras eram conhecidas pelo alto índice de doen-
ças infecciosas, fato que atrapalhava o comércio. Logo, uma das prioridades dos governos da Repú-
Divisas:
blica Velha (1889-1930) era sanear as grandes cidades portuárias de forma a facilitar a exportação
são moedas
dos bens agrícolas. estrangeiras
emitidas por
O governo federal criou a diretoria geral de saúde (depois denominada departamento nacional economias
de saúde pública) e nomeou como diretor o médico sanitarista Oswaldo Cruz. fortes.

Em 1930, as ações de saúde passam a ficar sob a responsabilidade do então criado Ministério da República Ve-
educação e saúde pública que também cuidava de questões relativas a meio ambiente, esportes, lazer lha:"República
e cultura. Em 1953, foi criado o ministério da saúde com a finalidade específica de organizar as ações Velha compre-
da saúde pública de cunho fortemente campanhista. ende o perí-
odo entre os
O modelo sanitarista-campanhista tinha como principal objetivo o combate às doenças trans- anos de 1889 e
1930, quando
missíveis que afetavam as coletividades como: a febre amarela, a tuberculose e a peste.
a elite cafeeira
paulistana e
mineira reve-

o
zava o cargo
da presidência
Atençiol da República
movida por
Não era prioridade desse modelo o tratamento de problemas de saúde individuais. Suas princi- seus interesses
pais ações eram grandes campanhas de saúde, por isso o nome sanitarismo-campanhista. políticos e
econômicos''.
Fonte: http://
www.infoesco-
la.com/histo-
ria-do-brasil/
Importante notar que o termo campanha tem forte conotação de ação militar de guerra: um republica-ve-
grande contingente de agentes públicos, mobilizados para ações pontuais num relativo curto período lha/
de tempo, são exemplos dessas ações:
Estado de
• Campanhas de vacinação (obrigatórias no início do século). sítio: "É o
instrumento
• Combate a vetores de doenças (mosquitos e ratos, especialmente). através do
qual o Chefe
~ • Educação sanitária (para prevenção de doenças transmissíveis) .
"O de Estado
"'> • Saneamento das cidades - criação de largas avenidas, eliminação de cortiços e ambientes suspende tem-
~ porariamente
~ considerados insalubres.
os direitos e
B
-~ as garantias
'õ dos cidadãos
V,
o
A revolta da vacina
V, e os poderes
o
"O
Um dos episódios marcantes deste período foi a chamada revolta da vacina. Em 1904, no Rio legislativo e
t2 judiciário são
~ de Janeiro, a população se revoltou contra uma campanha de vacinação obrigatória contra varíola.
.8 submetidos
'õ Bondes foram virados, lojas foram depredadas. Houve dezenas de mortes e feridos. ao executivo,
LU
1-
z tudo como
19 O governo reagiu interrompendo temporariamente a campanha, decretando rnado de sítio, medida de de-
Ee,, manifestantes foram presos e deportados para o Acre. A vacinação prosseguiu após as ações e a va- fesa da ordem
·~ ríola foi erradicada da cidade. pública''. Fonte:
8 http://www.di-

"O Durante todo o século XX, diversas ações de cunho campanhista foram desenvolvidas no Brasil, reitonet.com.
15
"êQ. destacamos algumas abaixo: br/dicionario/
exibir/153/Es-
o
• O serviço especial de saúde pública (SESP) - este serviço foi criado no governo Vargas, em tado-de-s itio
'"'::,
I>

"O 1942, e tinha como objetivo levar profissionais de saúde para o interior do Brasil.
e
Q.
QJ
o:

61
• Departamento nacional de endemias rurais (1953) - campanhas de combate à malária,
leishmaniose, doença de Chagas, peste, brucelose e febre amarela.

• Serviço de unidades sanitárias aéreas (SUSA) - criado em 1957 por Noel Nutels tinha como ob-
jetivo levar assistência à saúde de populações indígenas, especialmente da região centro-oeste do país.

• Programa de Interiorização das Ações de Saúde e Saneamento - PIASS (1976) - organização


de serviços de saúde em cidades do interior com até 20.000 habitantes.

o SalbaMaisl

1: possível compreender um pouco dessas ações no interior do país ao assistir o filme "Xingu~
que traz a história dos irmãos Villas Boas.

Confira informações sobre o filme em: http://veja.abril.com.br/blog/ricardo-setti/dica-de-leitu-


ra/o-filme-xingu-a-trajetoria-epica-dos-irmaos-villas-boas/.

Embora seja notório que esse modelo tenha trazido benefícios ao reduzir a incidência de doen-
ças transmissíveis, era também notório que muitos problemas de saúde eram deixados de lado.

o Sobre a revolta da vacina leia: http://www.rio.rj.gov.br/dlstatid10112/4204434/4101424/me-


moria 16.pdf

O modelo médico-assistencial

~
A lei Elói Chaves ""O
"'>
~
A crescente industrialização das regiões metropolitanas do Brasil que ocorreu no início do sé- ~
V>

culo XX teve como consequência a criação de sindicatos e reivindicação dos trabalhadores por melho- B
·~
res condições de vida e trabalho. '6
ô
V,

A proteção social moderna teve início no Brasil com a criação das Caixas de Aposentadorias e o
""O

Pensões (CAPs). As CAPs foram criadas a partir da publicação da lei Elói Chaves, em 1923, que garantia ~
~
ao trabalhador ferroviário a aposentadoria ao final de uma vida inteira de trabalho, aos poucos este B

tipo de benefício foi se estendendo para outras categorias profissionais. Além de aposentadorias e LJ.J
1-
z
pensões, as CAPs proviam assistência médica, medicamentos a preços especiais e cobriam despesas
em casos de acidentes de trabalho. -
(Q)
.e
-~
~
o
u

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o
'"'u-
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e
Q.
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cr:

62
AeraVargas

Durante o governo de Getúlio Vargas as antigas CAPs foram abolidas e foram substituídas pelos
chamados Institutos de Aposentadorias e Pensões IAPs. A diferença entre as CAPs e os IAPs é que no
primeiro caso o conselho gestor era formado pela empresa e pelos trabalhadores e no segundo caso o
o
Autarquia:
conselho tinha um representante do governo, pois os IAPs eram uma ª-l,llil rQ!,@;. Cada categoria profis- "Autarquia na
sional tinha o seu instituto em particular, e a assistência ao trabalhador dependia da força da categoria administração
pública (ou em
no mercado de trabalho e seu poder de organização. São exemplos de IAPs:
direito adminis-
• IAPM - Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Marítimos. trativo) é uma
entidade autô-
• IAPC - Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Comerciários. noma, auxiliar e
descentralizada
• IAPB - Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Bancários. da administra-
• IAPI - Instituto de Aposentadoria e Pensões dos lndustriários. ção pública, po-
rém fiscalizada
• IPASE - Instituto de Pensões e Assistência dos Servidores do Estado. e tutelada pelo
Estado, com
patrimônio for-
mado com re-
Alguns IAPs construíram hospitais próprios como o IAPETEC nos estados do Rio de janeiro cursos próprios,
(atual Hospital de Bonsucesso) e em São Paulo (atual Hospital lpiranga). Outros construíram conjuntos cuja finalidade
habitacionais como o IAPI no Rio de Janeiro, Porto Alegre e Salvador. é executar
serviços que
interessam a
O regime militar coletividade
ou de natureza
Em 1966, o regime militar (que durou de 1964 a 1984) fundiu os antigos IAPs num único instituto estatal''.
chamado Instituto Nacional da Previdência Social (INPS). Em 1968, o INPS cria uma linha de crédito a Fonte: http://
www.signifi-
fundo ~ d.[gg para o financiamento da construção de hospitais privados para a população beneficiária.
cados.com.br/
autarquia/
Em 1974, foi criado o INAMPS, uma autarquia vinculada ao ministério da previdência e assistên-
cia social para ser gestor da assistência médica previdenciária.
Fundo perdi-
O modelo médico-assistencial possuía algumas características bem peculiares: do: "Refere-se
• Curativista - tinha como finalidade principal atuar na cura de doenças, as pessoas eram aten- a recursos
disponibiliza-
didas à medida que ficavam doentes, não havia ações preventivas.
dos por um em-
vi • Hospitalocêntrico - o principal local para atendimento das pessoas era o hospital. prestador sem
o perspectivas
-o
"'> • Privatista - o atendimento era feito em hospitais privados conveniados ao INAMPS, muitas de reembolso.
~ vezes construídos com recursos de empréstimos do próprio governo. Normalmente,
.,,~ os recursos
B
-~ são cedidos
'6
.,, pelo Estado e
o
cj Durante grande parte do século XX, o Brasil conviveu que dois modelos de atenção à saúde fun- o investimento
-o é voltado para
cionando de forma paralela: as campanhas sanitárias lideradas pelo ministério da saúde e o modelo
i-2 funções sociais,
.,; médico-assistencial dos IAPs e do INAMPS. Na década de 1970, surge no meio acadêmico o chamado
li movimento sanitário cujo principal objetivo era realizar uma ampla reforma no sistema de saúde, a
como obras de
'6
LJ.J infraestrutura,
1-
z chamada Reforma Sanitária. saneamen-
€2> to básico e
1: O movimento sanitário era composto por intelectuais, políticos e integrantes de movimentos
O'> construção de
-~ sociais que faziam oposição ao governo militar. Várias iniciativas desse movimento propiciaram o au- moradias popu-
o
u mento do acesso a serviços de saúde para a população brasileira. lares''.
.,;
-o Fonte: http://
15
·ea. economiaclara.
o wordpress.
'"'::l
V, com/2010/
-o 03/16/credito/
o
ã.
Q/
o::

63
" Exercitando o conhecimento

1. Modelos de atenção à saúde são construções teóricas, pois:

a) Não existem em forma pura.


b) São resultados de disputas políticas.

c) Tem influência da época em que foi concebido.


d) Existem apenas na teoria, nunca foram aplicados na prática.

Comentário: os modelos são construções teóricas, pois a prática não é exatamente


igual à teoria, ou seja, não existem em sua forma pura.

2. Qual das ações abaixo NÃO é uma prioridade do modelo sanitarista-campanhista?


a) Eliminação de criadouros de mosquito. c) Assistência médica.
b) Vacinação obrigatória. d) Saneamento das cidades.

Comentário: a assistência médica individual não tinha impacto na coletividade, logo,


não era prioridade do modelo sanitarista.

3. Discuta com seus colegas: as grandes campanhas sanitárias ainda existem ou são coi-
sas do passado?

Comentário: as grandes campanhas sanitárias ainda existem, temos como maiores


exemplos as campanhas de vacinação e de combate à dengue.

vi
o
"O
"'>
3.4 O Sistema Único de Saúde ~
~
V>

O Sistema Único de Saúde conhecido popularmente pela sigla SUS foi criado como resultado .8
-~
de uma série de mudanças no sistema de saúde do Brasil, a chamada Reforma Sanitária. 'õ
V>
o
V>
o
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~
A Reforma Sanitária e
.8

Antes da criação do SUS, na constituição de 1988, várias inciativas ocorreram com o objetivo de UJ
1-
descentralizar as ações de saúde e ampliar o acesso da população brasileira aos serviços: z

• O Programa de Interiorização das Ações de Saúde e Saneamento (PIASS), em 1976. ->.


(Q)
.<::
,Ql
Q.
• Programa Nacional de Serviços Básicos de Saúde (PREV-SAÚDE), em 1980, que ficou somente o
u
,,;
no papel. "O
j5

• O Conselho Nacional de Administração da Saúde Previdenciária (CONASP), em 1982, a partir ci.
o
do qual foi implantada a política de Ações Integradas de Saúde (AIS), em 1983. '"'::,u,
"O
e
Q.
QJ
ex:

64
Entretanto, o grande momento da reforma sanitária do Brasil aconteceu em 1986 com a realiza-
ção da 8° Conferência Nacional de Saúde (8° CNS).

A 8° CNS contou com a participação de políticos, acadêmicos, intelectuais e representantes


populares num total de 1000 delegados com direito a voto e aproximadamente 3000 participantes.
O documento final da oitava conferência apontava caminhos, muitos dos quais, seriam seguidos e
culminaram com a implantação do SUS dois anos mais tarde em 1988.

Uma consequência imediata da conferência foi a criação do Sistema único e descentralizado de


saúde (SUDS) em 1987. O SUDS era um convênio entre o INAMPS e as secretarias estaduais de saúde.

Podemos perceber claramente a influência da 8°CNS nas políticas de saúde, veja um trecho do
documento final abaixo:

Direito à saúde significa a garantia, pelo Estado, de condições dignas de vida e acesso
universal e igualitário às ações e serviços de promoção, proteção e recuperação de
saúde, em todos os níveis, a todos os habitantes do território nacional, levando ao
desenvolvimento pleno do ser humano em sua individualidade.

Agora, compare com artigo 196 da Constituição federal de 1988:

A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e


econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso
universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.

lmportantel

Outro aspecto importante previsto no documento foi a separação das ações da previdência so-
cial da assistência à saúde, algo que acontecia desde os IAPs do governo Vargas.

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Mas, afinal, o que é o SUS? O Sistema Único de Saúde foi definido no artigo 4° da lei nº 8080 de 1990:
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Art. 4° O conjunto de ações e serviços de saúde, prestados por órgãos e instituições
~ públicas federais, estaduais e municipais, da Administração direta e indireta e das fun-
~ dações mantidas pelo Poder Público, constitui o Sistema Único de Saúde (SUS).
.8
'6
LJ.J 1°§ - Estão incluídas no disposto neste artigo as instituições públicas federais, esta-
1-
z duais e municipais de controle de qualidade, pesquisa e produção de insumos, me-
€))
dicamentos, inclusive de sangue e hemoderivados, e de equipamentos para saúde.
1:
o,
i >-a. 2°§ - A iniciativa privada poderá participar do Sistema Único de Saúde (SUS), em ca-
1
o ráter complementar.
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ea.
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65

~
A iniciativa privada pode participar do SUS mediante contrato para prestação de serviços quan-
do o SUS detectar que este serviço não existe ou é insuficiente no sistema (caráter complementar). A
mesma lei define a participação das unidades de saúde militares e dos hospitais universitários:

Art. 45. Os serviços de saúde dos hospitais universitários e de ensino integram-se ao


Sistema Único de Saúde (SUS), mediante convênio, preservada a sua autonomia admi-
nistrativa, em relação ao patrimônio, aos recursos humanos e financeiros, ensino, pes-
quisa e extensão nos limites conferidos pelas instituiçôes a que estejam vinculados.

[... ]

§ 2 °. Em tempo de paz e havendo interesse recíproco, os serviços de saúde das Forças


Armadas poderão integrar-se ao Sistema Único de Saúde (SUS), conforme se dispuser
em convênio que, para esse fim, for firmado.

Podemos compreender o SUS segundo o esquema abaixo:

Unidades públicas
de saúde.

Iniciativa privada


em caráter
Hospitais
complementar
universitários.
(prestadores
de serviço).

Instituições públicas
~/ (1
Hospitais militares

e;> ( sus '9


de controle de quando realizam .,;
o
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qualidade, pesquisa convênio (em tempo "'>
e produção de paz e havendo ~
~
de insumos. interesse recíproco). B
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66

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Exercitando o conhecimento G
1. O que significa o termo Reforma sanitária?
a) Uma grande mudança no sistema de saúde do Brasil.
b) Uma grande reforma no regime previdenciário do Brasil.
c) Uma grande reforma do saneamento básico do Brasil.
d) Uma grande mudança no INAMPS.

Comentário: a reforma sanitária foi um conjunto de mudanças na estrutura do sistema


de saúde do país que culminaram com a criação do SUS na constituição federal de 1988
que tornou a saúde um direito para todos os brasileiros.

2. O Sistema Único de Saúde (SUS) é um conjunto de ações e serviços de saúde, presta-


dos por órgãos e instituições:
a) Federais, estaduais e municipais, da Administração direta e das fundações mantidas
pelo Poder Público e das filantrópicas.
b) Federais, estaduais e municipais, da Administração indireta e das filantrópicas manti-
das pelo Poder Público.
c) Federais, estaduais e municipais, da Administração indireta, das instituições privadas
e das filantrópicas mantidas pelo Poder Público.
d) Públicas Federais, estaduais e municipais, da Administração direta e indireta e das
fundações mantidas pelo Poder Público.

Comentário: além dos órgãos acima também fazem parte do SUS: órgãos públicos de
controle de qualidade, pesquisa e produção de insumos, medicamentos de sangue e he-
moderivados, e de equipamentos para saúde. A inciativa privada em caráter complemen-
.,;
o
-o
tar e os hospitais universitários.

E
"'>
~
.,,~
-~

.,,
o
Princípios e diretrizes do SUS
o
Princípios:
cS regras, leis
-o O Sistema Único de Saúde foi uma importante conquista da população brasileira, uma vez que,
~ gerais que
~ o direito à saúde passou a ser garantido na constituição federal. Para entendermos melhor o que o SUS servem como
E significa, precisamos conhecer seus princípio~ e suas diretrizes: base de uma

UJ
1-- arte, de uma
z • Universalidade: todas as pessoas têm acesso às ações e aos serviços de saúde. ciência, de
-
(Q)
..e
.2'
• Integralidade: as ações e os serviços de saúde devem ser organizados para resolver todos os uma política.
>-e. tipos de problemas de saúde.
o
u
.,; • Igualdade: acesso igualitário significa que não devem existir preconceitos nem privilégios de Diretrizes:
-o
:õ qualquer espécie. são linhas
ºõ
ã.. mestras, guias
o • Equidade: os serviços de saúde devem ser organizados de forma a atender às pessoas de para uma
'"':,
V-
acordo com suas necessidades. Distribuindo mais recursos para quem precisa mais. ação.
-o
~
e.
QJ

-
CC

1
1 67
1

l
• Descentralização: a gestão (comando) do sistema é descentralizada, ou seja, cada esfera de
governo (federal, estadual e municipal) tem a capacidade de gerenciar as ações, orçamento e serviços
que lhe correspondam.

• Participação da comunidade: a comunidade tem o direito de participar da gestão do siste-


ma nos conselhos e conferências de saúde.

• Hierarquização: os serviços são organizados em níveis de complexidade crescentes.

• Regionalização: a rede de serviços deve ser organizada em cada região.

o
Colegiadas:
A participa~ão social
Uma das grandes novidades trazidas pelo SUS foi a diretriz da participação social. O movi-
mento sanitário era composto de pessoas que participaram da luta política em favor da redemocra -
tização do país, nada mais natural que fossem criados espaços oficiais de participação dos cidadãos
tipo de orga- na gestão da saúde.
nização em
que a chefia é A lei nº 8142 de 1990 define que os espaços oficiais de participação das comunidades são as
exercida por seguintes instâncias colegiadas, os conselhos de saúde e as conferências de saúde.
mais de uma
pessoa, ou Os conselhos de saúde são espaços permanentes e daj_iberativos, ou seja, acompanham a exe-
seja, a decisão cução da política de saúde inclusive em seus aspectos econômicos e financeiros, os conselhos fazem a
é de fórum atividade chamada controle social, o controle realizado pela população das ações do governo.
coletivo.
As conferências de saúde são grandes reuniões que acontecem a cada quatro anos, elas têm um
caráter consultivo, isto é, apenas fazem propostas para a política de saúde. As conferências se reúnem a
Deliberati-
cada 4 anos em cada esfera de governo, ou seja, existem conferências municipais, estaduais e nacional.
vos: "Promo-
ver, executar
Observe abaixo o quadro resumido:
ou organizar
discussões
acerca de um
determinado
assunto e/ Instâncias de participação
Caráter Atribuições
ou circuns- da comunidade (colegiadas)
tãncia com o
propósito de Atua na formulação de estratégias
decidir o que e no controle da execução da política vi
o
fazer; resolver Conselhos de saúde Deliberativo Permanente de saúde na instância correspondente, -o
mediante
"'>
inclusive nos aspectos econômicos ~
discussão ou ~
e financeiros. V>
exame''. Fonte: .8
http://www. Reúnem-se a Propor diretrizes para a política
-~
Conferência de saúde Consultivo '6
dicio.com.br/ cada 4 anos de saúde.
V>
o
deliberar/ lS
-o
~
~
.8
Os participantes dos conselhos e das conferências de saúde têm quatro origens (segmentos) di- '6
u.J
1-
ferentes: governo, prestadores de serviço, profissionais de saúde e usuários. A lei nº 8142 define que a z
(Q)
participação dos usuários nos conselhos e conferências deve ser paritária em relação aos demais seg- ..,
.e
mentos, ou seja, o número de representantes dos usuários deve corresponder a 50% das instâncias. .Ql
>-
Q.
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o
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-o
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Q.

"'
a: 1

68
Figura 3.1 - Composição dos conselhos e conferências.

Composição dos conselhos


e conferências

Gestores
(governos+prestadores) 25%

Usuários
50%

Profissionais de
saúde 25%

Você pode notar que os princípios


e as diretrizes do SUS apontam para
uma política do tipo social-democrata.
Entretanto, em relação ao modelo de
atenção à saúde, o SUS no início apenas
somou as ações sanitaristas-campanhas
às ações médico-assistenciais.
.,;
o
"O
"'>
~ Com o passar dos anos, os gestores foram percebendo
~
"'
B que estas ações não eram suficientes para resolver todos
-~
'õ os problemas de saúde da população, perceberam que
"'o era necessário mudar o modelo assistencial. O novo
.s
"O modelo assistencial, chamado de vigilância à saúde, tem
~
uma história complexa e está em pleno processo de
~
B construção, ele será o assunto de nosso próximo capítulo.

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69
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e- 1
Exercitando o conhecimento

1. Encontre no caça-palavras abaixo os princípios e as diretrizes do SUS:

S Q S U O K D E Z J V V D U
G X D S A F E D S K T V Ã T
C U Y T K K S A Y G 1 N F y
G B R K p z e D M u K e T G
G S O F M Y E 1 F H M T T W
H X U U R G N L J K D M J o
F T B G K Y T A Q E S W N V
B X J R P T R RWKFQDX
Q N D D L T A G R G N W X B
N p J V C K L E Q E S V X G
F J G G K P 1 T Z Y Z Q E B
O N C B W F Z N Y D E D C U
G Ã L R G Y A 1 z E A T N W
H N Ç E 1 A Ç 1 E D K 1 E s
L K H A W B Ã P 1 Q V B Q W

o
Hemodiáli-
D
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p R L
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Z
Z
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K O N Z E L C U Y
1 U Q R A R E 1 H
M L S C V G F D D
R A A T C V B A Z
se:processo O G P C A L Q Q N V R Z D V
artificial de M X S L 1 P e v u o P E E s
substituição R U O D Z X C U B p 1 y y y
das funções
de excreção
D M A R O Z E F L F G G Z G
realizadas p D 1 G U A L D A D E W E Y
pelos rins. O E 1 z F T N Q Z S F B C 1 R
processo de v;
o
"O
eliminação
de excretas
"'>
2. Analise a seguinte situação: Uma usuária de um serviço de saúde necessita fazer he- ~
como a ureia, ~

o sódio e o modiálise. O funcionário da prefeitura informou que o serviço não existe naquela cidade. .8"'
potássio é Qual o princípio do SUS não foi atendido? -~

real izado fora cl
do corpo por
a) Universalidade. c) Igualdade. "'
o
"O
um disposi- b) Integralidade. d) Equidade. ~
tivo de fibras oi
mu ito finas .9

LJ.J
geralmente f-
confecciona- Comentário: o SUS deve oferecer ações e serviços de saúde para resolver todos os tipos z
das à base de
celulose, os
de problemas de saúde existentes, este é o princípio da integralidade. -
@
..e
c:n
-~
capilares. a.
o
u
oi
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15
·ea.
o
'"':::,u-
"O
ee.
QJ
o:

70
- - -
Saiba Mais!

Para ter uma visão mais detalhada da história das políticas de saúde do Brasil desde o início do
século XX até os dias atuais, não deixe de assistir a este documentário: http://www.youtube.
com/watch?v=SP8FJc7YTa0.

Nesta lição você aprendeu que:

• Existem 2 paradigmas da atenção à saúde que influenciam a formulação das políticas de saúde.

• O Brasil conviveu com 2 modelos de atenção à saúde durante o século XX e há uma tentativa
de mudança de modelo atualmente.
• O que foi a Reforma Sanitária e sua importância na criação do Sistema Único de Saúde.

Exercícios Q
Parabéns,
Questão 1 - O relatório do educador americano Abraham Flexner teve grande impor-
tância na história das políticas de saúde, pois: você finalizou
esta lição!
a) Influenciou a formação do paradigma biomédico.
Agora
b) Influenciou a formação do paradigma sanitarista. responda
às questões
c) Influenciou a criação do Sistema Único de Saúde. ao lado.
d) Influenciou a criação da medicina previdenciária.
1
i
Questão 2 - É uma característica do paradigma sanitarista:

'~ ui
o
-o
"'>
a) Investimentos em alta tecnologia.

b) O entendimento de que a saúde é resultado das condições de vida.


~ c) A explicação biológica para o surgimento das doenças.
~

1
V>

.8 d) O hospital como espaço privilegiado da atenção à saúde.


-~
~ 'õ
V>
o
V>
o
-o Questão 3 - É uma característica do Estado liberal:
~

.§ a) Proteção social universal e igualitária.

UJ
1- b) Proteção social universal, porém não igualitária.
z
g
.E c) Proteção social apenas para contribuintes.
cn
-~ d) Proteção social apenas para os mais pobres e necessitados.
o
u

, i

1 i
71
Questão 4- O Sistema Único de Saúde (SUS) é uma política que é típica do Estado:
a) Liberal. c) Social-democrata.
b) Conservador. d) Neoliberal.

Questão S - O INAMPS foi uma política do seguinte modelo de atenção à saúde:


a) Sanitarista-campanhista. c) Liberal.

b) Médico-assistencial. d) Polícia médica.

Questão 6 - Qual era o principal objetivo das ações do modelo sanitarista-campanhista


no início do século XX?
a) Oferecer assistência médica à população.

b) Construir hospitais para a população mais carente.

c) Eliminar cortiços dos centros das cidades.

d) Sanear as cidades que abrigavam zonas portuárias.

Questão 7 - Os Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAPs) foram criados durante:


a) A República Velha. c) O Regime Militar.

b) O Governo Vargas. d) A Nova República.

Questão 8 - Qual a importância da 8º Conferência Nacional de Saúde?


a) Discutiu diretrizes para um novo sistema de saúde, algumas das quais foram aprova-
das na Constituição de 1988.
b) Criou o Sistema Único de Saúde (SUS).

c) Criou o Instituto Nacional da Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS). .,;


o
'O
d) Criou campanhas sanitárias para o interior do país. ~
.,,oi
~
.,,
B
-~
Questão 9 - O que significa o princípio da universalidade no Sistema Único de Saúde: 'õ
()
a) As pessoas deverão ter acesso a todos os tipos de serviços de saúde. .,,
o
'O

b) Os serviços deverão ser organizados em níveis de complexidade crescente. ~


~
B
c) Todas as pessoas deverão ter acesso aos serviços de saúde. 'õ
UJ
1--
d) Os serviços de saúde devem ser organizados de forma a atender às pessoas de acor- z
do com suas necessidades. -
(Q)
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o
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Q.
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V-

'O
e
Q.
Q)
o::

72
Questão 1O- Quais são as instâncias de participação social no SUS:
a) INAMPS e IAPs. c) Câmara de vereadores e deputados.

b) Comissão bipartite e tripartite. d) Conselhos e conferências.

1. Estudo de caso:
Leia a notícia abaixo:

Cidades sofrem impactos da romaria de haitianos no Acre.

Serviço público de saúde em Brasileia e Epitaciolândia entra em colapso.

POR JAQUELINE FALCÃO E GUSTAVO URIBE

21/01/2014 7:00 / ATUALIZADO 21/01/2014 9:32

Fonte: http://oglobo.globo.com/brasil/cidades-sofrem-impactos-da-romaria-de-haitianos-no-acre-11355638#ixzz3AE-
QkdRaL acesso em 12/08/2014 às 22:53h

SÃO PAULO - A entrada em massa de haitianos no Brasil, só este ano 880 imigrantes já
pediram refúgio ao país, tem causado impactos na oferta de serviços públicos em cidades
t como Brasileia e Epitaciolândia, no Acre, principais portas de entrada dos estrangeiros na

~
fronteira com a Bolívia e o Peru. Atualmente, 1, 1 mil imigrantes vivem em abrigos na região
fronteiriça, o que tem levado as cidades a enfrentarem problemas como falta de infraestru-
tura e aumento das despesas municipais.

Em Epitaciolândia, além dos estoques de medicamentos terem diminuído, aumentou


1 a sujeira nas ruas e praças, e o poder público tem lidado com brigas entre estrangeiros,
sobretudo entre haitianos e senegaleses. Em Brasileia, o principal posto de saúde tem
atendido, por dia, 70 haitianos para três moradores que procuram por ajuda. Na cidade, a
vi
o situação de saúde dos haitianos, boa parte com problemas respiratórios, deixa o atendi-
""'~ mento aos moradores da cidade"em segundo plano''. Na primeira quinzena deste ano, por
~ exemplo, 480 haitianos já foram atendidos no principal posto de saúde.
~
"'
.8 A prefeitura de Brasileia cobra atenção do estado e diz que, até agora, a única ajuda que
-~
'õ recebeu foi um repasse de RS 56 mil do Ministério da Saúde, em outubro do ano passado. Por
"'o mês, o município gasta RS 30 mil apenas com remédios para imigrantes, os quais represen-
~
tam cerca de 10% da população. Os recursos, segundo autoridades locais, seriam suficientes
"~,,;
para arcar com os custos em medicamentos por dois meses para a população local.
.s

UJ - Cuidar desses haitianos não é só uma atribuição do município. Nós precisamos de
f-
z ajuda . O Ministério da Saúde libera recursos para os estados, que fazem repasses aos mu-
(Q)
.E nicípios. A situação está ficando cada dia mais difícil. A nossa população está ficando em
.12' segundo plano para atendermos essa demanda de haitianos. Isso não está certo - afirmou
>-a.
u
o a secretária municipal de Saúde, Aldenice Ferreira.
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C1)
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73
Discuta as seguintes questões:

a) Você acha correto que o Brasil gaste recursos do SUS para o atendimento de Haitia-
nos no Acre?
b) Qual esfera de governo deverá ser a responsável por resolver este problema: o gover-
no federal, estadual ou municipal?

2. Investigação e pesquisa:
Leia a seguinte manchete:

OMS declara emergência em poliomielite para todo o mundo


Doença existe em dez países. Em três deles o risco de propagação é maior: Paquistão,
Camarões e Síria.
Fonte: http://g l .g lobo.com/jornal-nacional/noticia/2014/05/oms-decla ra-emergencia-
-em-poliom ielite-em-todo-o-m u ndo.html acesso em 12/08/2014 às 22:44

Pesquise:
a) Qual é a situação da poliomielite no Brasil?

b) Como o país tem lidado com esta doença ao longo dos anos?

c) Qual o modelo de atenção à saúde tem sido usado para combater esta doença no mundo?

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ai
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V"

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e
Q.

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e:

74
4. O MODELO DA VIGILÂNCIA À SAÚDE

4.1 Introdução à vigilância em saúde


Ao final desta lição, você deverá ser capaz de:
• Conceituar vigilância à saúde.
• Conceituar promoção da saúde.
• Saber como as práticas educativas ajudam a promover saúde.

• Conhecer o funcionamento da estratégia de saúde da família.

Na lição 2 deste curso, você aprendeu o significado de


vigilância epidemiológica. São as ações de saúde públi-
ca que visam "qualquer mudança nos fatores determi-
nantes e condicionantes de saúde individual ou coleti-
va, com a finalidade de recomendar e adotar as medidas
de prevenção e controle das doenças ou agravos''.

Na prática, a vigilância epidemiológica estuda muito mais os fatores que levam ao aparecimen-
to das doenças do que propriamente os fatores condicionantes da saúde. Suas ações tradicionais são
vi
o frutos do modelo da história natural das doenças: a busca e o controle da circulação dos agentes etio-
-o
"'> lógicos (causas), hospedeiros suscetíveis e do meio ambiente.
~
~
"' Entretanto, percebemos que o processo saúde-doença depende de uma série de fatores que
B
-~ extrapolam as ações da vigilância epidemiológica. Atualmente sabemos que o binômio saúde-doen-

"'o ça é resultado das condições de vida. Dessa forma, para promover saúde é necessário um modelo
"'o assistencial em saúde que trabalhe em conjunto com outros setores da sociedade (intersetorialidade
-o
~ - ver liçãol) e que faça mais do que prevenção e tratamento de doenças. O nome desse modelo é
~ Vigilância à saúde.
B

LI.J
1-
z Segundo a portaria nº 1.378, de 9 de julho de 2013 do ministério da saúde em seu artigo 2°,

-
(9
..e
.2'
vigilância à saúde:

>-
a.
u
o [...] constitui um processo contínuo e sistemático de coleta, consolidação, análise e
.,;
-o
disseminação de dados sobre eventos relacionados à saúde, visando o planeja-
15 mento e a implementação de medidas de saúde pública para a proteção da saúde
·ea. da população, a prevenção e o controle de riscos, agravos e doenças, bem como para
o a promoção da saúde.
"":::,u,
-o
~
a.
(l)
e::

75
São ações da vigilância:

1- a vigilância da situação de saúde da população, com a produção de análises que


subsidiem o planejamento, estabelecimento de prioridades e estratégias, monitora-
mento e avaliação das ações de saúde pública;

li - a detecção oportuna e adoção de medidas adequadas para a resposta às emer-


gências de saúde pública;
Ili - a vigilância, prevenção e controle das doenças transmissíveis;

IV - a vigilância das doenças crônicas não transmissíveis, dos acidentes e violências;

V - a vigilância de populações expostas a riscos ambientais em saúde;

VI - a vigilância da saúde do trabalhador;

VII - vigilância sanitária dos riscos decorrentes da produção e do uso de produtos,


serviços e tecnologias de interesse a saúde;
VIII - outras ações de vigilância que, de maneira rotineira e sistemática, podem ser de-
senvolvidas em serviços de saúde públicos e privados nos vários níveis de atenção,
laboratórios, ambientes de estudo e trabalho e na própria comunidade.

Podemos esquematizar as ações da vigilância à saúde da seguinte forma:

' '
/ /

Ambiental: riscos Epidemiológica:


oriundos do meio controle de
ambiente doenças e agravos

\... /'

Vigilância à saúde
'
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Saúde do ' ~
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V,

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Sanitária: riscos trabalhador: ·~

oriundos de riscos oriundos V,
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produtos e serviços do ambiente de 8
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trabalho «i
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\. \. 'õ
LJ.J
1-
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Os dados e as análises das ações de vigilância à saúde permitem aos técnicos da saúde pública a.
o
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controlar determinantes riscos e danos que afetam a saúde das pessoas. «i
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o 1
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V"

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QJ
CC

76
Exercitando o conhecimento

Correlacione as ações da vigilância à saúde a seus respectivos exemplos:


1. Fiscalização de restaurantes.
2. Observação da caderneta de va-
) Vigilância epidemiológica.
) Vigilância sanitária.
"
cinação de trabalhadores.
) Vigilância ambiental.
3. Investigação de um caso suspeito
) Vigilância em saúde do trabalhador.
de dengue.
4. Controle da poluição dos rios.

Comentário: restaurantes e farmácias são áreas de atuação da vigilância sanitária; ave-


rificação das condições e dos riscos para o trabalhador é da competência da vigilância em
saúde do trabalhador; o controle da poluição é da competência da vigilância ambiental e
a notificação e investigação de doenças é atribuição da vigilância epidemiológica.

É a forma de agir depois da análise dos dados que determina o novo modelo assistencial cha-
mado também de vigilância à saúde (Carvalho e Goulart, 1998), apoiado pelo movimento chamado
de nova saúde pública (Westphal, 2008).

Na lição 3, vimos que na história das políticas de saúde do Brasil apareceram dois modelos
assistenciais:
• O modelo sanitarista-campanhista.
• O modelo médico-assistencial.

.,; Vimos também que suas ações preventivas e curativas não conseguiam mais dar conta no final
o
-o
"'> do século XX dos problemas de saúde do país.
~
~
V> O novo modelo assistencial tenta alcançar essas respostas somando: atenção curativa, ações
B preventivas e um novo campo de ação: a promoção da saúde. O nível principal de atenção desse
:~
-o modelo é a atenção primária à saúde e o objetivo final é a busca da qualidade de vida.
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V>
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1-
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(Q)
1: Vamos compreender
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-~ melhor esses conceitos?
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77
4.2 A atenção primária à saúde
A rede de ações e serviços de saúde que compõem o nosso Sistema Único de Saúde (SUS) é or-
ganizada de forma regionalizada e hierarquizada. A diretriz da hierarquização significa que os serviços
de saúde são organizados em níveis de complexidade crescentes, conforme esquema abaixo:

Referência Contrarrefência

Nível secundário
(média complexidade)

o
Sistema de
Nível primário
(atenção básica)

referência e
contrarrefe-
rência: siste-
ma utilizado O acesso aos serviços que compõem o SUS se dá pelas chamadas portas de entrada do sistema.
para organizar Portas de entrada são os serviços de atendimento inicial à saúde do usuário, ou seja, são os serviços que
os serviços um cidadão pode ter acesso sem necessitar de encaminhamentos. São portas de entrada: a atenção pri-
de saúde hie-
mária (postos de saúde, unidades de saúde da família), unidades de urgência e emergência.
rarquizados
(em níveis de O acesso aos serviços especializados e de maior complexidade se dá por encaminhamento (re-
complexidade
ferência). A volta do usuário ao serviço que fez a referência chama-se contrarreferência.
crescentes). A
referência é o .,;
No modelo médico-assistencial os serviços de urgência e emergência são as principais portas o
encaminha- -o
de entrada do sistema. No modelo sanitarista, as ações se encerram na atenção primária com pouca ~
mento de um
conexão com a média e alta complexidade. ~
nível inferior ~
V,
de comple- .8
xidade para No modelo da vigilância, os três níveis de complexidade deverão trabalhar interligados me- ·~

um nível mais diante o sistema de referência e contrarreferência, no entanto a atenção primária deverá ser a porta de V,
o
complexo. A entrada preferencial do sistema de saúde. ~
-o
contrarrefe- ~
rência é o en- Segundo Starfield (2002, p.28): ,,;
caminhamen- §

to de volta ao LJ.J
1-
nível que fez a z
A atenção primária é aquele nível de um sistema de serviço de saúde que oferece a en- @
referência. .E
trada no sistema para todas as novas necessidades e problemas, fornece atenção o,
sobre a pessoa (não direcionada para a enfermidade) no decorrer do tempo, fornece -~
o.
atenção para todas as condições, exceto as muito incomuns ou raras, e coordena ou o
u
integra a atenção fornecida em algum outro lugar ou por terceiros. [...] É a atenção que ,,;
-o
organiza e racionaliza o uso de todos os recursos, tanto básicos como especiali- 15
zados, direcionados para a promoção, manutenção e melhora da saúde. (Grifo nosso).
·e
o.
o
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V-

-o
o
ã.
(lJ
o::

78
Atenção primária é o serviço de saúde que está mais próximo dos usuários, ou seja, atende às pes-
soas e não às doenças. Conhece, portanto, a realidade e os problemas mais comuns de cada indivíduo.

Importante!
A atenção primária fornecerá dados para que todo o restante do sistema se organize, ao de-
monstrar quais são os principais problemas e riscos aos quais as pessoas estão submetidas.
o
Aqui no Brasil, a atenção primária recebe o nome de atenção básica. A portaria nº 2.488, de 21
de outubro de 2011 define a política nacional de atenção básica e destaca quais são as quatro funções
da atenção básica na rede de atenção à saúde:
• Ser base - deve ser o contato preferencial dos usuários com o sistema de saúde.
• Ser resolutiva - deve ser capaz de resolver os problemas de saúde mais frequentes e relevan-
tes no território.
• Coordenar o cuidado - deve ser corresponsável (junto com os usuários) pelos níveis de saú-
de da população sobre seus cuidados, acompanhando-os ao longo do tempo.

• Ordenar as redes - gerar dados e informações que servirão para os gestores da saúde orga-
nizarem todo o sistema, prevendo as demandas e as necessidades.

Exercitando o conhecimento

Após ser atendida por um médico especialista, uma usuária do SUS foi orientada a voltar
G
a ser acompanhada pelo seu médico do posto de saúde. A qual das funções da atenção na
rede assistencial essa ação corresponde?
a) Ser base. c) Coordenar o cuidado.

~ b) Ser resolutiva. d) Ordenar as redes.


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o
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"'>
r ~
~
V, Com9""rio: o especialista mandou a paciente retomar, pois os profissionais que deverão
t· B
"ê acompanhá-la e coordenar todas as etapas de seu cuidado são os profissionais da atenção básica.

V,
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B

A conferência de Alma-Ata e O SPT 2000
UJ
1-
z
t
1
(Q)
No ano de 1978 foi realizada na cidade de Alma-Ata, na extinta União Soviética, a Conferência
E internacional de cuidados primários de saúde. O objetivo da conferência foi discutir quais seriam os
i· .Q>
>-a. elementos necessários para a promoção da saúde em todos os países do mundo, em especial nos
o países subdesenvolvidos. A declaração final da conferência estipulou dez itens necessários para a pro-
~
u
"'
"O moção da saúde no mundo, todos com ênfase na atenção primária à saúde. Observe o que diz o item
1'i
~ 'õ
ci.
cinco da declaração:
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V-

"O
ea.
QJ
o:

79

~
Os governos têm pela saúde de seus povos uma responsabilidade que só pode ser
realizada mediante adequadas medidas sanitárias e sociais. Uma das principais me-
tas sociais dos governos, das organizações internacionais e de toda a comunidade
mundial na próxima década deve ser a de que todos os povos do mundo, até o ano
2000, atinjam um nível de saúde que lhes permita levar uma vida social e econo-
micamente produtiva. Os cuidados primários de saúde constituem a chave para
que essa meta seja atingida, como parte do desenvolvimento, no espírito da justiça
social. (DECLARAÇÃO DE ALMA-ALTA, 1978) (grifo nosso).

Esta declaração recebeu o apelido de SPT 2000, ou saúde para todos no ano 2000. O seu texto
serviu de base para reformulação de vários sistemas de saúde pelo mundo, inclusive no Brasil.

o Saiba Mais!

Para saber mais leia a Declaração de Alma-Ata: http://cmdss2011.org/site/wp-content/uplo-


ads/2011 /07/Declara%C3%A7%C3%A3o-Alma-Ata.pdf.

4.3 O conceito de campo da saúde de Marc Lalonde


Em 1974, o então titular do Ministério da Saúde e do Bem-estar do Canadá elaborou o docu-
mento intitulado: A new perspective on the health of Canadians (Uma nova perspectiva da saúde de
canadenses), que ficou conhecido como relatório Lalonde.

Nesse relatório, Marc Lalonde fez uma crítica ao modelo biomédico e propôs um conceito de
campo da saúde, em que a saúde poderia ser classificada em quatro elementos:

• Biologia humana: resultado de fatores genéticos, biológicos e típicos do envelhecimento.


• Meio ambiente: fatores relacionados aos ambientes social, econômico, físico e local de trabalho.
• Estilo de vida: relacionado ao comportamento do indivíduo.
• Organização da atenção à saúde: relacionado à forma como se organizam os serviços de saúde.

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80

~
O relatório de Lalonde teve grande importância para a história da saúde pública ao promover o
conceito, já existente, porém pouco difundido, da promoção da saúde.

Exercitando o conhecimento ~
1. Uma pessoa adoece de cirrose hepática após consumir grandes quantidades de be-
bidas alcoólicas diariamente por longos anos. De acordo com o conceito de campo da
saúde, qual dos itens foi o maior contribuinte pra o seu adoecimento?
a) Biologia humana. c) Estilo de vida.
b) Meio ambiente. d) Organização da atenção à saúde.

Comentário: o consumo ou não de álcool é uma decisão particular do indivíduo, ou


seja, do seu estilo de vida.

2. A conferência internacional de Alma-Ata discutiu os problemas de saúde principal-


~
L
mente de países:
a) Africanos. c) Europeus.
b) Desenvolvidos. d) Subdesenvolvidos.

f
1 Comentário: a conferência de Alma-Ata discutiu principalmente os problemas de saú-
de dos países subdesenvolvidos, de todos os continentes. Entretanto, suas recomenda-
ções foram a todos os países do mundo.
t

4.4 O conceito de promoção da saúde


~
"O
"'> Alguns autores atribuem a Henry Sigerist a criação da expressão promoção da saúde na déca-
~- ~ da de 1940. A ideia de promover saúde é complementar às ações de prevenção e ao tratamento das
~
"' doenças. Os sistemas de saúde passam a ter a responsabilidade de produzir condições que favorece-
-B~ ram a produção de um estado saudável do indivíduo, isto é, gerar condições de vida e promover hábi-

1 "'o tos considerados saudáveis ao invés de serem orientados apenas para o estado patológico (doenças).
f <:>
"O
~ A promoção de saúde ganha força, na medida em que, as ações preventivas e curativas passam
r .,;
§ a não ser mais suficientes para dar conta dos problemas existentes. As soluções até então existentes

UJ estão voltadas para os fatores biológicos das doenças, no entanto, muitos problemas são oriundos do
1-
z estilo de vida, do ambiente e da organização dos serviços de saúde, como por exemplo: obesidade
(Q)
1: pelo excesso de consumo de alimentos calóricos e sedentarismo, problemas respiratórios causados
.2'
>- por poluição atmosférica e acidentes de trânsito.
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QJ
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~
81
~

~
A conferência internacional de Ottawa
No ano de 1986, foi realizada na cidade de Ottawa no Canadá, a 1° conferência internacional de
promoção da saúde em que foram discutidas, principalmente, as necessidades de saúde dos países
industrializados (desenvolvidos).

Ao final da conferência, foi elaborada e divulgada a chamada carta de Ottawa que conceitua a
promoção da saúde:

Promoção da saúde é o nome dado ao processo de capacitação da comunidade


para atuar na melhoria de sua qualidade de vida e saúde, incluindo uma maior
participação no controle deste processo. Para atingir um estado de completo bem-es-
tar físico, mental e social os indivíduos e grupos devem saber identificar aspirações,
satisfazer necessidades e modificar favoravelmente o meio ambiente. A saúde deve
ser vista como um recurso para a vida, e não como objetivo de viver. Nesse sentido, a
saúde é um conceito positivo, que enfatiza os recursos sociais e pessoais, bem como as
capacidades físicas. Assim, a promoção da saúde não é responsabilidade exclusiva
do setor saúde, e vai para além de um estilo de vida saudável, na direção de um
bem-estar global. (BRASIL, 2002, grifo nosso).

A carta traz ainda os pré-requisitos para a saúde:

r
Educação
~ 1

( Equidade 1 1 Renda

li
( Paz
J Pré-requisitos para a
saúde. (Ottawa, 1986). 1 1 Justiça social

\\ .,;
o

1 1 ,~
'O
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Recursos 2:
Habitação e(
sustentáveis ~
V,
o
Alimentação ·i

V,
o
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'O
~
~
Esse documento tem tanta importância para as políticas de promoção de saúde no mundo .8

UJ
quanto o SPT 2000 teve importância para as políticas de atenção primária. 1-
z
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....
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o,

o
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a.
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Saiba Mais! ro j
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1i ~
Leia a carta de Ottawa: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/carta_ottawa.pdf. ·e
a.
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ea.
Q)
e::

82
Exercitando o conhecimento ~
1. Qual conferência internacional teve como tema a promoção da saúde?
a) A conferência de Estocolmo, em 1992. c) A conferência de Alma-Ata, em 1978.

b) A conferência do Rio, em 1992. d) A conferência de Ottawa, em 1986.

Comentário: as conferências de Estocolmo e do Rio tiveram como tema o meio ambiente.


A conferência de Alma-Ata teve como tema os cuidados primários (atenção primária) à saúde.

2. Qual dos itens abaixo NÃO é dos um dos pré-requisitos para a saúde segundo a Carta
deOttawa?
a) Paz. c) Acesso a medicamentos.

b) Habitação. d) Recursos sustentáveis.

Comentário: embora sejam necessários para o tratamento de doenças, os medicamen-


tos não são pré-requisitos para ter saúde, pois a saúde é resultado das condições de vida e
não do acesso às ações e aos serviços de saúde segundo o documento.

A política nacional de promoção da saúde


r
1 A portaria nº 687, de 30 de março de 2006 define a política nacional de promoção da saúde cujo
objetivo geral é:
t
1
1 Promover a qualidade de vida e reduzir vulnerabilidade e riscos à saúde relacio-
nados aos seus determinantes e condicionantes - modos de viver, condições de
1 vi
o trabalho, habitação, ambiente, educação, lazer, cultura, acesso a bens e serviços essen-
""O
"'> ciais. (BRASIL, 2006, grifo nosso) .
~
l!:'
2
-~
'õ Observe que o texto não fala em doenças ou fatores biológicos, isso fica ainda mais explícito
V,
o quando lemos as áreas prioritárias da política:
~
""O
i2 • Alimentação Saudável.
~
E • Prática Corporal/Atividade Física.
1 'õ
UJ
1-

~
z • Prevenção e Controle do Tabagismo.
©
E • Redução da morbimortalidade em decorrência do uso abusivo de álcool e outras drogas.
.'?
>-
e. • Redução da morbimortalidade por acidentes de trânsito.
o

'
~
u
oi
""O
15
• Prevenção da violência e estímulo à cultura de paz.

~ ºê
e.
o
• Promoção do desenvolvimento sustentável.
t '"':::,u-
""O
ee.
Q)
1 ex:

83

t
A política nacional de promoção da saúde influencia e determina várias ações governamentais,
tais como: direção segura no trânsito, implementação da ficha de notificação de violência doméstica,
ações educativas durante as blitzen da lei seca, promoção de ambientes livre do tabaco, criação de
academias da saúde para práticas de atividade física etc.

Um dos temas do momento mais comentados no mundo inteiro é a sustentabilidade, cujo con-
ceito tem origem nas políticas de meio ambiente, mas que atualmente influencia ações nas mais di-
versas áreas da vida humana. Esse assunto merece um tópico separado.

o Saiba Mais!
Sobre a lei seca no Brasil:
http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/perguntas_respostas/lei_seca/

Sobre a situação da segurança no trânsito no mundo:


http://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=3176&ltemid=1

o
Blitzen: plural
O homem e o meio ambiente
A relação entre as condições de saúde e o meio ambiente é muito antiga. Hipócrates já consi-
derava desde a Grécia antiga que o ambiente influenciava o estado de saúde das pessoas. Já vimos na
de blitz - Pala-
lição 2, a teoria dos miasmas, que segundo Scliar é consequência dos estudos de Hipócrates:
vra de origem
alemã que
significa: "1.
Batida policial O texto conhecido como 'Ares, águas, lugares' discute os fatores ambientais ligados à
de improviso doença, defendendo um conceito ecológico de saúde-enfermidade. Da í emergirá a
e que utiliza ideia de miasma, emanações de regiões insalubres capazes de causar doenças como
grande apara- a malária, muito comum no sul da Europa e uma das causas da derrocada do Império
to. 2. Conjun- Romano. O nome, aliás, vem do latim e significa "maus ares" (é bom lembrar que os
to oficia I orga- romanos incorporam os princípios da medicina grega}. (2007, p.33).
nizado para
combater vi
o
-o
qualquer tipo "'>
de infração''. Contudo, o papel da natureza nas condições de saúde era então visto como negativo. As condi- oiVI
Fonte: http:// ções do ambiente eram consideradas como geradoras de doença e não como promotoras de saúde. ~
VI

www.dicio. A busca pela preservação da natureza e pelo desenvolvimento sustentável são relativamente novas. B
-~
com.br/ blitz/ 'õ
VI
Durante o séc. XIX começam a surgir os primeiros textos que pregam a defesa da preservação o
~
da natureza, muitos deles inspirados pela obra do cientista Charles Darwin (a origem das espécies). -o
~
~
O movimento de defesa da preservação da natureza vai ganhado corpo conforme vão se de- B

gradando as condições de vida nas grandes metrópoles. A poluição vai ganhado destaque crescente UJ
1--
como grande problema público. z
@
..,
.e
O primeiro grande evento realizado sobre esse tema foi a Conferência das Nações Unidas sobre .Ql

o Meio Ambiente Humano, em 1972. Observe alguns trechos da declaração final: ~


o
u
n:i
"A proteção e o melhoramento do meio ambiente humano é uma questão fundamental que -o
15
afeta o bem-estar dos povos e o desenvolvimento econômico do mundo inteiro, um desejo urgente ·ea.
dos povos de todo o mundo e um dever de todos os governos''. (ONU, 1972). o
'"':,
V-

-o
o
ã.
(1)
CI:

84
Um dos princípios dessa carta fala especificamente da relação entre o meio ambiente e a saúde:

Os Estados deverão tomar todas as medidas possíveis para impedir a poluição dos
mares por substâncias que possam por em perigo a saúde do homem, os recursos
vivos e a vida marinha, menosprezar as possibilidades de derramamento ou imped ir
outras utilizações legítimas do mar. (ONU, 1972).

Em 1987, foi publicado pela organização das nações unidas o relatório intitulado Report of the
World Commission on Environment and Development também conhecido como: Nosso futuro Comum
ou Relatório Brundtland. Esse relatório foi um marco na divulgação do conceito de desenvolvimento
sustentável. Veja alguns trechos desse documento:

O desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento que encontra as necessida-


des atuais sem comprometer a habilidade das futuras gerações de atender suas
próprias necessidades. [...] Muitos de nós vivemos além dos recursos ecológicos, por
exemplo, em nossos padrões de consumo de energia [ ... ] No mínimo, o desenvolvi-
mento sustentável não deve pôr em risco os sistemas naturais que sustentam a
vida na Terra: a atmosfera, as águas, os solos e os seres vivos. (ONU, 1987).

Não é surpresa que o item "recursos sustentáveis" foi apresentado como um dos pré-requisitos
, para a saúde na Carta de Ottawa. A 3° conferência internacional de promoção de saúde realizada em
► Sundsvall (Suécia) (1991) teve como tema:"Promoção da Saúde e Ambientes Favoráveis á Saúde''. Leia
um trecho da carta de Sundsvall:

"A Conferência conclama que um ambiente favorável é de suprema importância para a saú-
de e reconhece que todos têm um papel na criação de ambientes favoráveis e promotores de saúde.
Ambientes e saúde são interdependentes e inseparáveis''. (BRASIL, 2002).

Atualmente, um dos assuntos que mais tem preocupado a comunidade internacional é o cha-
mado aquecimento global.

O fenômeno do aquecimento global trata-se do aumento da temperatura média do planeta cau-


sado pelo excesso de gases do efeito estufa na atmosfera (como o CO2 e o metano, por exemplo). Esses
gases impedem que a luz do sol que incide sobre a terra reflita de volta para a atmosfera. Esse efeito é
normal e sem ele não existiria a vida no planeta terra, entretanto o excesso de gases torna a temperatura
vi
o mais elevada que a média normal, afetando o equilíbrio do clima no planeta. Veja o esquema abaixo:
"O
"'>
~
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V,
Radiação
t .8
'ê escapando

o
V, Camada de atmosfera
1 cS
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-~ ... Radiação absorvida
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t (9 combustíveis por gases de efeito
de efeito estufa
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a. efeito estufa
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85

l
Cabe ressaltar que existem cientistas que discordam do fato de que o aquecimento global é
causado pela ação do homem, as causas poderiam ser outras como aumento da frequência de explo-
sões solares, por exemplo. Esses cientistas são os chamados céticos do aquecimento global.

Ultimamente, o termo aquecimento global tem sido substituído por mudanças climáticas, pois i
nem sempre podemos observar o aumento da temperatura em todos os lugares, todavia cientistas
apontam um aumento dos eventos extremos do clima, como tempestades, furacões, nevascas e seca.
Não é muito difícil imaginar por que essas mudanças também afetam os indicadores das populações,
não é mesmo?

o Saiba Mais!
A agenda 21:
http://www.mma.gov.br/responsabilidade-socioambiental/agenda-21

Aquecimento global:
http://super.abril.eom.br/ecologia/aquecimento-global-comeco-fim-446034.shtml
http://super.abril.eom.br/ciencia/voce-deve-desconfiar-tudo-ou-quase-tudo-ouve-le-aqueci-
mento-global-446939.shtml

e- Exercitando o conhecimento

1. O que significa desenvolvimento sustentável, segundo o Relatório Brundtland (Nosso


futuro comum) de 1987?
a) A preservação total do meio ambiente.
b) O desenvolvimento que encontra as necessidades atuais sem comprometer a habili-
dade das futuras gerações.
c) O desenvolvimento que sustenta o meio ambiente.
vi
d) A preservação do meio ambiente para acabar com o aquecimento global. o
-o
"'>
iii ~

o
~
Comentário: desenvolvimento sustentável significa desenvolvimento socioeconômico B
V,

cujas ações não comprometam o futuro do planeta. -~



V,
o
V,
o
-o
Placas ~
2. Uma das maiores preocupações atuais são os efeitos do aquecimento global. Qual
tectônicas: ~
blocos que dos efeitos abaixo NÃO está relacionado às mudanças climáticas? B

compõem a) Furacões. c) Terremotos.
LW
1-
a camada z
sólida externa
do nosso
b) Enchentes. d) Secas. -
@
..e
·º'>-a.
planeta, sus- o
tentando os u
Comentário: os terremotos são causados pelos movimentos das placas tectônicas da Terra, .,;
continentes e -o
essas placas estão no interior no Planeta e não sofrem os efeitos das mudanças na atmosfera. :.õ
os oceanos. 'õ
õ.
o
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V,

-o
e
.,a.
a::

86
r
4.5 O conceito de qualidade de vida
1
A carta de Ottawa de 1986 relata que um dos objetivos da promoção da saúde é a busca da
qualidade de vida. Não é difícil perceber o quanto esse conceito está presente nos meios de comu-
1 nicação, veja:

1
38% dos americanos reduziu jornada, mesmo ganhando menos.

Em busca de mais qualidade de vida, muitos deles não se importaram em ter uma ren-
1
da menor.

Fonte: http://exame.abril.eom.br/carreira/noticias/38-<Jos-americanos-reduziu-jornada-mesmo-ganhando-menos

r
'~ A capital da qualidade de vida

A saúde está na praça, bem ao lado de casa . A qualquer hora do dia, professores de edu-
cação física estão a postos para orientar milhares de alunos - e de graça. É muito fácil
1 espantar a preguiça quando se vive em Aracaju.

"Se a gente ficar em casa quietinha daqui a pouco está com depressão e estresse. E aqui
ninguém tem estresse nem dores'; afirma dona Maria José de Santana, de 64 anos.

Fonte: httpJ/globoreporter.globo.com/Globoreporter/0,19125,VGC0-2703-19547-3-319428,00.html

A vez da bicicleta

É uma alternativa de transporte barata e saudável, mas que requer apoio e incentivo para
se tornar realidade nas grandes cidades.

Por Reinaldo Canto - publicado 24/03/2014 15:44

vi
o O singelo ato de ir e vir transformou-se em questão de máxima prioridade nos centros
-o
"'> urbanos. Mobilidade nas cidades brasileiras é pauta diária e dor de cabeça permanente
~ para 1O em cada 1O prefeitos de grandes e médias cidades brasileiras. O tema entrou até
~
mesmo nas discussões sobre qualidade de vida, em razão dos poluentes emitidos pelos
.B"'
-~ veículos e o sedentarismo. Além, é claro, dos acidentes causados, principalmente, por

ô motoristas inconsequentes que matam mais pessoas dos que nos casos de homicídio.
"'o
-o
{!. Fonte: http://www.cartacapital.eom.br/sustentabilidade/a-vez-da-bicicleta-3928.html acesso em 17/08/2014 às 11 :57h.
~
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LJ.J
1---
z
(Q)
..e
Na primeira notícia, a qualidade de vida estaria relacionada à redução da jornada de trabalho,
.'2" na segunda notícia à prática de exercícios físicos, na terceira ao uso da bicicleta tanto pelo aspecto da
>-a.
u
o prática de exercícios como da redução dos congestionamentos no trânsito e diminuição da elimina-
oi
-o ção de gases poluentes na atmosfera.


e.
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e.
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a:

87
o Importante!

o
O que podemos notar nessas e em outras notícias, é que o conceito da qualidade de vida é po-
lissêmico, ou seja, pode ter vários sentidos e podem mudar de acordo com o período histórico,
os aspectos culturais e as classes sociais.

Polissêmico:
palavra ou
conceito que
têm muitos
Assim, qualidade de vida nos tempos atuais não significa a mesma coisa no passado, não é mes-
significados.
ma coisa em culturas diferentes, não significa a mesma coisa para pobres e ricos.
Indicador:
cálculos e me- Segundo Westphal (2008), qualidade de vida pode ser:
didas matemá- • Um padrão de consumo: acesso a bens, lazer, viagens, comodidades, riqueza.
t icas utilizadas
para avaliação • Fatores subjetivos: necessidade de relacionar-se com outras pessoas, estar integrado social-
nas mais diver- mente, estar em contato com a natureza.
sas áreas do
conhecimento, • Possibilidade de desenvolver capacidades humanas básicas: neste caso, qualidade de vida
os indicado- seria ter acesso aos recursos necessários para o pleno desenvolvimento do ser humano: ter moradia,
res podem acesso a serviços de saúde, educação etc.
ser: epide-
miológicos
(incidência,
prevalência), O indicador mais conhecido para avaliar a qualidade de vida das populações chama-se índice
sociais (IDH,
de desenvolvimento humano (IDH). O IDH classifica as regiões desenvolvidas (desenvolvimento hu-
escolaridade),
mano muito alto), em desenvolvimento (desenvolvimento humano médio e alto) e subdesenvolvidas
econômicos
(inflação, PIB), (desenvolvimento humano baixo). Para tanto, são computados índices de expectativa de vida ao
demográficos nascer, educação e renda.
(mortalidade,
expectativa
devida).

o Atençiol

O IDH é utilizado como fator para definição de prioridade de alocação de recursos financei-
ros no SUS.
.,;
o
-o ~
"'>
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V,

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'õ 1
4.6 Introdução às práticas educativas em saúde cl
V,
o
-o
Outro item importante dos pré-requisitos para a saúde da carta de Ottawa que merece um tó- i2
~
pico à parte é a educação. Não é segredo que bons níveis de escolaridade aumentam as chances dos o
~
indivíduos terem acesso e também aumentam suas capacidades de interpretar e analisar informações. u.J
1--
Todavia, isso não significa necessariamente que, de posse e consciência dessas informações, as pes- z
@
soas irão mudar seu comportamento em busca de melhores condições de saúde. +-'
..e
.Ql

A tentativa de elaborar uma forma de educação que conseguiu efetivamente produzir saúde, ~
o
u
propiciou a definição de vários enfoques diferentes de educação em saúde. Segundo Stotz (1993), .;
-o
esta pode ser concebida de acordo com os seguintes enfoques: :.õ

õ.
o
'"'::,u,
-o
e
Q.
QJ
a:

88
o
r

r • Enfoque preventivo - trata-se de ações definidas pelos gestores da saúde para prescrever
comportamentos adequados ou desestimular comportamentos inadequados à população. Esses
1 comportamentos são analisados do ponto de vista biomédico, ou seja, para eliminar ou minimizar os

~ fatores determinantes e condicionantes da saúde e da doença.

• Enfoque da escolha informada - nesse enfoque, o papel do profissional de saúde seria infor-
Gestão
participativa:
mar à população sobre os aspectos relacionados à saúde e à doença, todavia não caberia ao profissional "Estratégia
determinar o caminho que os indivíduos deveriam seguir, esta seria uma escolha das próprias pessoas. transversa 1,
presente nos
• Enfoque do desenvolvimento pessoal - esse enfoque busca capacitar o indivíduo para au- processos
mentar suas potencialidades, a educação nesse caso, não seria apenas para a saúde, mas sim para cotidianos

, todos os aspectos relacionados à própria vida.

• Enfoque radical - esse enfoque é resultado da concepção da saúde como resultado das condi-
ções de vida, assim a educação em saúde seria uma educação voltada para que as pessoas sejam instruí-
das a ter participação política e a partir daí provocar uma mudança radical na estrutura da sociedade.
da gestão
do SUS, que
possibilita a
formulação e
a deliberação
pelo conjunto
de atores
Outra forma de agir sobre a educação em saúde é a chamada educação popular em saúde. no processo
de controle
A educação popular em saúde é o nome dado às características das experiências em educação po-
social. Requer
pular realizadas por profissionais de saúde nas décadas de 1960 e 1970. Educação popular significa: a adoção de
práticas e
mecanismos
[...] perspectiva teórica orientada para a prática educativa e o trabalho social emancipa- que efetivem
tórios, intencionalmente direcionada à promoção da autonomia das pessoas, à forma- a participação
ção da consciência crítica, à cidadania participativa e à superação das desigualdades dos profissio-
sociais. A cultura popular é valorizada pelo respeito às iniciativas, ideias, sentimentos nais de saúde
e interesses de todas as pessoas, bem como na inclusão de tais elementos como fios e da comuni-
condutores do processo de construção do trabalho e da formação. (BRASIL, 2012 p.5). dade''.
Protagonis-
mo: figurante
principal
Observe que aplicada à saúde, a educação popular absorve ideias tanto do enfoque do desen-
de uma apre-
volvimento pessoal quanto do enfoque radical. sentação.

Em 2012, o ministério da saúde publica a política nacional de educação popular em saúde que
tem como objetivos específicos:

~
"O
"'> 1. Promover o diálogo e a troca entre práticas e saberes populares e técnico-
~ científicos no âmbito do SUS, aproximando os sujeitos da gestão, dos serviços de
~
V, saúde, dos movimentos sociais populares, das práticas populares de cuidado e das
B instituições formadoras;
-~

ô 2. Fortalecer a ,gestão participailvi nos espaços do SUS;
V,
o 3. Reconhecer e valorizar as culturas populares, especialmente as várias expressões
"O
~ da arte, como componentes essenciais das práticas de cuidado, gestão, formação, con-
l<! trole social e práticas educativas em saúde;
B

LLJ
f- 4. Fortalecer os movimentos sociais populares, os coletivos de articulação social e
z as redes solidárias de cuidado e promoção da saúde na perspectiva da mobilização
@
popular em defesa do direito universal à saúde;
~
>.
a. 5. Incentivar o protagonismo popular no enfrentamento dos determinantes e condi-
o cionantes sociais de saúde;
u

"O
:.õ 6. Apoiar a sistematização, a produção de conhecimentos e o compartilhamento
·e
a.
das experiências originárias do saber, da cultura e das tradições populares que atuam
o na dimensão do cuidado, da formação e da participação popular em saúde;
'"'::,
V,

"O
ea.
Q/
a::

89
7. Contribuir com a implementação de estratégias e ações de comunicação e informa-
ção em saúde identificadas com a realidade, linguagens e culturas populares.

o
8. Contribuir para o desenvolvimento de ações intersetoriais nas Políticas Públicas
referenciadas na Educação Popular em Saúde;

9. Apoiar ações de Educação Popular na Atenção Primária em Saúde, fortalecendo a


gestão compartilhada entre trabalhadores e comunidades, tendo os territórios de
Educação saúde como espaços de formulação de políticas públicas.
Permanen- 1O. Contribuir com a Educação Permanente dos trabalhadores, gestores, conselheiros
te: política e atores dos movimentos sociais populares, incorporando aos seus processos os prin-
nacional de cípios e as práticas da educação popular em saúde;
capacitação
permanente 11 . Assegurar a participação popular no planejamento, acompanhamento, moni-
descentra- toramento e avaliação das ações e estratégias para a implementação da PNEPS-SUS.
lizado de (BRASIL, 2012, p. 20-21, grifo nosso).
profissionais
de saúde para
atender às
necessidades
Tudo o que vimos até o momento nesta lição: ênfase de atenção primária, educação em saúde,
do SUS. promoção da saúde, relação entre meio ambiente e saúde são características na chamada nova saúde
pública ou do modelo da vigilância à saúde. Para dar início a essa mudança de modelo assistencial,
o ministério da saúde criou em 1994 o chamado programa de saúde da família, este é o assunto de
nosso próximo tópico.

" Exercitando o conhecimento

1. Um profissional de saúde informa ao paciente diabético que ele não deve ingerir açúcar
para não ter complicações da doença. Qual foi o enfoque de educação em saúde utilizado?
a) Preventivo. c) Desenvolvimento pessoal.
b) Escolha informada. d) Radical.

Comentário: o profissional informou ao paciente o que ele deveria fazer, ou seja, não
.,;
deu oportunidade de escolha. o
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~
~
2. Qual dos fatores abaixo é utilizado para avaliar o IDH? E
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a) Incidência de doenças transmissíveis. 'õ
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o
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b) Incidência de doenças não transmissíveis. o
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c) Mortalidade infantil. ~ ~
E
d) Expectativa de vida ao nascer. 'õ
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1-
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Comendirio: os fatores utilizados para calcular o IDH são: educação, renda e expectati-
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va de vida ao nascer. u
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1
4.7 A estratégia de saúde da família
Em 1994, o ministério da saúde lança o então titulado Programa de saúde família, o objetivo
o
Generalistas:
principal da política era: reorganizar o modelo assistencial. No guia prática do programa de saúde da profissional
família (BRASIL, 2001) há exposição de motivos: de saúde
capacitado
para atender
os proble-
Porque o sistema anterior não deu resultados satisfatórios. Por razões históricas, que mas mais
entram pelo território da economia e passam pelas práticas políticas e costumes cultu- frequentes da
rais, o modelo de saúde predominante no Brasil criou grande distância entre as equi-
~
população. O
pes de saúde e a população. Por esse modelo, a especialização teve destaque absolu- trabalho do
to, praticamente apagando a visão integral das pessoas e a preocupação em trabalhar generalista se
com a prevenção das doenças, a promoção de hábitos saudáveis. (p.59). contrapõe ao
trabalho do
especialista.
O texto faz uma crítica ao chamado modelo biomédico que vimos na lição 3. Em texto anterior,
o ministério da saúde fala abertamente em mudança de modelo assistencial: Interdisci-
plinar: troca
de conheci-
Sob essa ótica, a estratégia utilizada pelo Programa Saúde da Família (PSF) visa à re- mento entre
versão do modelo assistencial vigente. Por isso, nesse, sua compreensão só é possível os saberes
através da mudança do objeto de atenção, forma de atuação e organização geral dos de áreas di-
serviços, reorganizando a prática assistencial em novas bases e critérios. (BRASIL, 1997). ferentes com
um objetivo
comum.

No ano de 2006, é publicada a política nacional de atenção básica que define o programa de
saúde da família como estratégia prioritária de atenção básica e muda a nomenclatura da política que Adscrição:
ato de inscre-
a partir de então passa a ser chamada de estratégia de saúde da família (ESF).
ver. No caso
da Estratégia
Mas o que é realmente a ESF? A estratégia de saúde da família trata-se de uma mudança na
de saúde da
forma de agir na atenção básica em busca da mudança de modelo assistencial. família é o ato
de cadastrar
Em vez de trabalhar com especialistas, as unidades de saúde da família (UBSF) vão trabalhar
os habitan-
com profissionais generalistas. O trabalho será predominantemente interdisciplinar e em equipe. As tes de um
UBSF vão atender a uma população adscrita numa território delimitado, no qual terão responsabilida- determinado
.,; de sanitária, ou seja, serão responsáveis pela saúde das pessoas que vivem nesse local. território sob
o
-o
ro
a responsa-
>
As ESF não deverão fazer ações de promoção à saúde, preventivas e curativas, deverão ser ca- bilidade da
~ equipe.
~ pazes de resolver os problemas de saúde mais frequentes e relevantes no território. Caso o problema
"'
B
-~ de saúde fuja da alçada de resolução da equipe, esse usuário deverá ser referenciado para níveis mais
'6 complexos do sistema, entretanto a responsabilidade pela saúde do usuário continua sendo da ESF,
e, Longitudi-
e, seguindo o princípio da l ongituainalidade do cuidado. nalidade:
-o
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relação entre
.,; equipe de
s
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saúde e
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usuário dos
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estende para
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-o uma relação

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:, dade e conti-
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ea. nuidade.
"'
o:

91
Podemos resumir da seguinte forma as diretrizes da ESF:

Adscrição de clientela Trabalho com população delimitada e cadastrada.

Conjugação de diversos saberes para aumentar a resolutividade


Interdisciplinaridade
das ações.

Trabalho em conjunto com outros setores da sociedade:


lntersetorialidade
educação, assistência social, etc.

Longitudinalidade
Acompanhar os indíviduous e as famílias ao longo do tempo.
do cuidado

As equipes deverão ter autonomia para planejar as ações de


Planejamento local
área de atuação.

Capacidade de resolver os problemas de saúde mais frequentes


Resolutividade
e realavntes da população na atenção básica.

Territorialidade Trabalho em território delimitado.

Vínculo Aproximação entre a clientela e os serviços de saúde.

Aspectos operacionais da ESF

Atualmente, as esquipes de saúde da família são compostas pelos seguintes profissionais: 1


médico generalista, 1 enfermeiro supervisor, 1 técnico de enfermagem e agentes comunitários de
saúde (ACS).

Cada equipe de ESF poderá ter até 12 ACS. Cada ACS será responsável por no máximo 750
pessoas. Cada ESF deverá ser responsável por uma média de 3000 habitantes podendo atender no
máximo 4000 habitantes.

As equipes de saúde da família poderão ter ajuda das equipes dos núcleos de apoio à saúde da
família (NASF). Um grupo formado por profissionais que não constam na equipe de saúde da família
vi
tais como: fonoaudiólogo, fisioterapeuta, psicólogo etc. o
"'O
"'>
ai
~
1
Etapas de implantação da ESF

• Recrutamento, seleção e contratação de recursos humanos - a contratação poderá ser feita ~


V,
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j
por concurso ou processo seletivo público. V,
o
V,
o
"'O
J
• Capacitação das equipes/treinamento introdutório - treinamento inicial para conhecimento i2
do funcionamento da ESF. "'
B
• Educação continuada e/ou permanente - atualização e aperfeiçoamento técnico permanen-
te das equipes para atuar nos principais problemas de saúde do local.

UJ
1-
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1
• Mapeamento - confecção do mapa da área de atuação da equipe com identificação das áreas
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de risco para a saúde na região. e.
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15

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ee.
QJ
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92
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j
• Cadastramento - coleta de dados das famílias para conhecimento da realidade local.

• Diagnóstico situacional - análise dos dados coletados para definir quais são os principais pro-
blemas de saúde da população adscrita.

• Planejamento local - planejamento das ações de saúde a serem realizadas por cada equipe
em sua área de atuação de acordo com o diagnóstico situacional.

• Avaliação e replanejamento - processo permanente de avaliação das atividades realizadas e


de apuração das necessidades de saúde dos moradores.

O diagnóstico situacional: constru~ão de perfil demográfico e abordagem


epidemiológica e assistencial nos servi~os básicos de saúde
Uma das etapas mais importantes do processo de trabalho das equipes de saúde da família é a
construção do diagnóstico situacional.

A ESF de saúde da família deverá ter postura proativa frente aos problemas de saúde da popu-
lação, ou seja, deverá conhecer os problemas passados e presentes e conceber um plano para ações
futuras. A postura da equipe de saúde da família não pode ser reativa, isto é, esperar que o problema
aconteça para então tomar alguma atitude.

O diagnóstico situacional é a principal fonte de informação para conhecermos a realidade da


população que será atendida pela equipe, para tanto serão coletados dados:

r • Demográficos - número de habitantes, sexo, faixa etária.

• Sociais e econômicos: renda, escolaridade etc.

1 • Epidemiológicos - doenças mais prevalentes na região.

• Culturais - aspectos religiosos, tradição, folclore etc.

Como fonte de dados poderão ser utilizadas as fichas de cadastramento das famílias, as entre-
vistas com a população, o IBGE, as secretarias governamentais, a imprensa local, os cartórios etc.

Assim, o plano de ação das equipes terá uma abordagem epidemiológica contemplando os
vi
o riscos ambientais, sociais, biológicos etc. Diferentemente de uma abordagem assistencial que estaria
"'O
<O
>
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voltada somente para curar doenças à medida que elas aparecem.
V,
~
V,

.8 É importante ressaltar que a ESF é apenas o primeiro e difícil passo em busca de uma nova
-~ saúde pública que ainda precisa resolver sérios problemas na própria atenção básica, na atenção es-

V,
o pecializada, nas urgências e emergências do SUS. Contudo, é importante saber que essa estratégia é
V,
o muito mais do que uma mudança estética nos serviços de saúde, é algo pensado para mudar o mode-
"'O
~ lo assistencial e assim alcançar maior efetividade nos resultados das ações de saúde.
.,;
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93
~ Exercitando o conhecimento

1. Qual o principal objetivo da estratégia de saúde da família?


a) Aumentar o acesso da população aos serviços de atenção básica.
b) Oferecer atendimento médico no domicílio dos habitantes.
c) Mudar o modelo assistencial.
d) Aumentar as ofertas de ações de promoção à saúde.

Comentário: a ESF foi criada em 1994 para ser estratégia inicial de mudança do
modelo assistencial.

2. O que significa o princípio da longitudinalidade do cuidado?


a) Acompanhar os indivíduos e as famílias ao longo do tempo.
b) Ser porta de entrada do sistema.
c) Cuidados preventivos.
d) Cuidados no domicílio do paciente.

Comentário: o cuidado longitudinal é o oposto do cuidado pontual. O cuidado pontu-


al significa atender as pessoas, resolver seus problemas naquele momento e não se res-
ponsabilizar por elas, tampouco acompanhá-las. Esse tipo de cuidado é típico de serviços
como os de urgência e emergência. O cuidado longitudinal significa acompanhar e se res-
ponsabilizar pela saúde dos indivíduos e das famílias ao longo do tempo.

Agora, verifique se nesta lição você aprendeu: ~


""O

• A diferença entre ações da vigilância em saúde e modelo da vigilância a saúde.


"'~
Q)

~
• O que é promoção da saúde. V,

.8
-~
• As implicações da relação entre o homem, o meio ambiente e a saúde. 'õ
ô
• Os enfoques da educação em saúde. V,
o
""O
i2 ~
• O que é quais são os objetivos da estratégia de saúde da família. é
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a:

94
Exercícios Q
Parabéns,
Questão 1 -A ação de fiscalização da validade de medicamentos numa farmácia é da:
você finalizou
a) Vigilância epidemiológica. c) Vigilância ambiental. esta lição!
b) Vigilância sanitária. d) Vigilância em saúde do trabalhador. Agora

'
1
1
responda
às questões
ao lado.
i Questão 2 - É um exemplo de porta de entrada do sistema de saúde:

r a) Apoio diagnóstico. c) Emergência.


r b) Ambulatório especializado. d) Vigilância epidemiológica.

Questão 3 -Qual conferência internacional teve como tema a atenção primária à saúde?

a) Alma-Ata - 1978. c) Estocolmo - 1972.

b) Ottawa - 1986. d) Sudswall - 1991 .

Questão 4 - Um indivíduo contrai uma doença infecciosa por falta de vacinas em uma
unidade de saúde. De acordo com o conceito de campo da saúde de Marc Lalonde, este
problema tem como causa principal:
a) Biologia humana. c) Estilo de vida.
b) Meio ambiente. d) Organização da atenção à saúde.

Questão S -Qual das ações abaixo pode ser considerada de promoção da saúde?
a) Combate a vetores de doenças. c) Educação em saúde.

b) Campanhas de vacinação. d) Uso de preservativo.

.,;
o
"O
Questão 6 - A conferência internacional de Ottawa reuniu principalmente países:
"'>
~ a) Europeus. c) Subdesenvolvidos.
2!
~

-2~ b) Latino-americanos. d) Industrializados.



~
o
êS
"O
{3. Questão 7 - Leia as assertivas abaixo e marque a correta:
~
2 a) O efeito estufa é causado pela poluição dos mares.

UJ
1-
z b) O aquecimento global pode provocar terremotos.

-
@
..e
e,
-~
e) O efeito estufa é necessário para existir vida na Terra.

d) As mudanças climáticas não são consenso na comunidade científica.


o
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e.
o
'"'..,.
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"O
e
Q.
a,
a:

95
Questão 8 - Leia as assertivas abaixo e marque a correta:
a) O enfoque preventivo das práticas de educação em saúde está voltado para mudan-
ças na estrutura da sociedade.

b) Qualidade de vida é um conceito polissêmico que pode ter como significado ter
acesso a bens e comodidades.

c) A educação popular em saúde significa a valorização do saber popular em detrimen-


to do saber científico.

d) Qualidade de vida significa a prática regular de exercícios físicos.

Questão 9 - Uma equipe de saúde da família deve atender a uma média de:
a) 2500 habitantes. c) 4000 habitantes.

b) 3000 habitantes. d) 5000 habitantes.

Questão 1O - O nível de escolaridade da população é dado do tipo:


a) Epidemiológico. c) Social.
b) Cultural. d) Econômico.

1. Estudo de caso:

Leia a notícia abaixo:

Enviado por Demétrio Weber - 22.1 .2008 l 22h37m

Baixa escolaridade das mães aumenta mortalidade infantil


Acre e Alagoas, os dois estados com mais baixo fndice de Desenvolvimento Infantil (IDI),
têm a maior proporção de mães com escolaridade precária, isto é, menos de 4 anos de
estudo. No Brasil, 3,4 milhões de crianças até 6 anos estão nessa situação, o equivalente a .,;
o
16% do total. Em Alagoas, são 38%; no Acre, 37%. A coincidência não é surpresa. -u
~
O IDI mede as condições de vida da população de Oa 6 anos e foi divulgado nesta terça- ~
~
feira pelo Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), no "Caderno Brasil''. O indicador V>

B
é formado por quatro variáveis, uma delas a escolaridade dos pais. Há muito já se sabe que ·~

o grau de estudo da família pesa tanto ou mais do que a escola na formação dos estudantes. V>
o
V>
o
O levantamento do Unicef cruzou dados de escolaridade das mães com a taxa de mor- -u
~
talidade infantil. A relação é direta: entre as mães com menos de 4 anos de estudo, a taxa é ,,;
de 34,9 mortes no primeiro ano de vida, a cada mil bebês nascidos vivos. Nada menos do

~
que 131 o/o maior do que a taxa de mortalidade entre mães com oito anos ou mais anos de 1-
z
escola, que é de 15, 1. @
....,
.e
O'I
Claro que há outros fatores: nas famílias cujas mulheres estudaram mais, a renda tende a -~
ser maior. Consequentemente, as condições de vida são melhores: do saneamento básico ao o
u
,,;
atendimento médico das gestantes, passando por melhor alimentação, vacinação e acesso -u
15
a creches e pré-escolas. Não é à toa que as outras três variáveis do IDI são justamente a vaci- ·ea.
nação dos bebês menores de 1 ano, o atendimento pré-natal e as matrículas na pré-escola. o
'"':::,
V,

-u
ea.
QJ
a:

96
A escala do IDI vai de O a 1, sendo 1 a nota máxima, como ocorre com o Índice de De-
í
senvolvimento Humano. O IDI do Brasil ficou em 0,733. O do Acre, último colocado no
! ranking estadual, foi de 0,562; Alagoas, o penúltimo, 0,574. Os dados são de 2006, embora
1
o cruzamento da escolaridade das mães com a mortalidade infantil misture informações
r de 2004 e 2006.

De acordo com o Unicef, 74 mil brasileiros morreram antes de completar 5 anos, em


r 2006. A maioria por causas facilmente evitáveis. No mundo, foram 9,7 milhões.
1
Apesar dos avanços do Brasil em termos de matrículas na última década, 3,5 milhões
de crianças e jovens de 5 a 17 anos continuavam sem estudar em 2006, segundo o IBGE.
Quantas crianças terão mães com escolaridade precária nas próximas décadas?
1
r Fonte: http://oglobo.globo.com/blogs/educacao/posts/2008/01/22/baixa-escolaridade-das-maes-aumenta-mortalidade-
1 -infantil-87727.asp

Discuta as seguintes questões:

a) De que maneira o aumento da escolaridade pode diminuir a mortalidade infantil?

b) De que forma as ações de promoção a saúde podem melhorar este quadro? Qual
seria o melhor enfoque de educação em saúde pra ser utilizado nesse problema?

2.lnvestigação e pesquisa
Leia o texto abaixo:

"O CEPEDOC Cidades Saudáveis (Centro de Estudos, Pesquisa e Documentação) foi criado
em 2000, a partir do ideário do Movimento por Cidades saudáveis. Trata-se de uma organi-
zação não governamental, sem fins lucrativos, sediada na Faculdade de Saúde Pública da
Universidade de São Paulo. Gerido por pesquisadores com renomada experiência na área da
promoção da saúde, O CEPEDOC apoia municípios e comunidades que queiram adotar os
princípios do Movimento por Cidades saudáveis na gestão de seus projetos sociais''.
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~ Fonte: http://www.cidadessaudaveis.org.br/conteudo.aspx?Tipo1D=1
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"C a) O que é o programa cidades saudáveis.
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b) Experiências bem-sucedidas de cidades saudáveis.
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GLOSSÁRIO

ADSCRIÇÃO - O ato de inscrever. No caso da Estratégia de saúde da família é o ato de cadastrar os


habitantes de um determinado território sob a responsabilidade da equipe.

ASCETA - Pessoa que possui um modo de vida austero e/ou dedica-se à perfeição espiritual. Fonte:
http://www.dicio.com.br/asceta/.

ACUPUNTURA - método de tratamento complementar de origem chinesa. Consiste na aplicação de


agulhas em pontos definidos do corpo.

AURICULOTERAPIA- É uma forma, de medicina alternativa ou complementar, baseada na ideia de que


a orelha é um microssistema, com o corpo inteiro, representado no pavilhão auricular, a parte externa
da orelha. Então, uma técnica de diagnóstico e tratamento baseada no pavilhão auricular. Aurícula
(orelha)+ terapia (tratamento), ou seja, um tratamento através da orelha. Fonte: http://pt.wikipedia.
org/wiki/Auriculoterapia.

AUTARQUIA - "Autarquia na administração pública (ou em direito administrativo) é uma entidade au-
tônoma, auxiliar e descentralizada da administração pública, porém fiscalizada e tutelada pelo Estado,
com patrimônio formado com recursos próprios, cuja finalidade é executar serviços que interessam a
coletividade ou de natureza estatal''. Fonte: http://www.significados.com.br/autarquia/.

BACTERIOLOGIA - É o estudo das bactérias, seus tipos, formas de reprodução, suas relações com o
homem, sua relação com a etiologia das doenças e os mecanismos de eliminação quando necessário.

BILE AMARELA- Hipócrates formulou a teoria humoral (fluidos) e acreditava que a bile amarela estava
associada com a raiva (humor colérico).

BILE NEGRA- Um dos quatro humores (fluidos) da teoria de Hipócrates. A Bile negra estaria associada
à tristeza. A palavra melancolia é derivada desta teoria. O melancólico (triste) seria uma pessoa com
excesso de bile negra.

BINÔMIO: expressão de origem matemática que indica a união entre dois termos.

BLITZEN - PLURAL DE BLITZ - Palavra de origem alemã que significa: "l. Batida policial de improviso e
que utiliza grande aparato. 2. Conjunto oficial organizado para combater qualquer tipo de infração''. ui
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Fonte: http://www.dicio.com.br/blitz/. ""O

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CASO-"Uma pessoa identificada como portadora de uma característica particular, como uma doença, ~

comportamento ou problema. A definição epidemiológica de um caso não é necessariamente a mes- 2"'


ma que a definição clínica. Os casos podem ser divididos entre possíveis, prováveis e confirmados, à :~
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medida que satisfazem determinados critérios específicos''. (WALDMAN, 1998, p. 233). "'o
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COLEGIADO - Tipo de organização em que a chefia é exercida por mais de uma pessoa, ou seja, a de- ~
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cisão é de fórum coletivo. §

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1-
COMUNICANTE/CONTATO - "Pessoa ou animal que teve contato com pessoa ou animal infectado, ou z
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com ambiente contaminado, de forma a ter oportunidade de adquirir o agente etiológico''. (WALD- E
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MAN, 1998, p. 236). ·~
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CONTROLE - A redução do número de casos a níveis considerados aceitáveis para a saúde pública. ni
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DADOS - São fatos brutos ainda não analisados. Ex.: uma notificação. "õ
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DELIBERATIVO - "Promover, executar ou organizar discussões acerca de um determinado assunto e/ou "":::,u,
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circunstância com o propósito de decidir o que fazer; resolver mediante discussão ou exame''. Fonte:
http://www.dicio.com.br/deliberar/.

DEMOGRAFIA - "Estudo de populações, com referência a fatores como tamanho, estrutura de ida-
de, densidade, fecundidade, mortalidade, crescimento e variáveis sociais e econômicas''. (WALDMAN,
1998, p. 236).

DIRETRIZES - São linhas mestras, guias para uma ação.

DIVISAS - São moedas estrangeiras emitidas por economias fortes.

DO-IN - Técnica de automassagem de origem chinesa que utiliza os pontos dos meridianos energéti-
cos do corpo humano. É uma técnica curativa e preventiva e aplicável em casos de emergência. Fonte:
http://pt. wikiped ia.org/wiki/Do-i n.

EDUCAÇÃO PERMANENTE - Política nacional de capacitação permanente descentralizado de profis-


sionais de saúde para atender às necessidades do SUS.

ELIMINAÇÃO (ERRADICAÇÃO REGIONAL) - "A erradicação regional ou eliminação é a cessação da


transmissão de determinada infecção em ampla região geográfica ou jurisdição política''. (WALDMAN,
1998, p.238).

ERRADICAÇÃO - "Cessação de toda a transmissão da infecção pela extinção artificial da espécie do


agente em questão. A erradicação pressupõe a ausência completa de risco de reintrodução da doen-
ça, de forma a permitir a suspensão de toda e qualquer medida de prevenção ou controle''. (WALD-
MAN, 1998, p.238).

ETIOLOGIA - É o estudo das causas das doenças.

ESTADO DE SÍTIO - "É o instrumento através do qual o Chefe de Estado suspende temporariamente os
direitos e as garantias dos cidadãos e os poderes legislativo e judiciário são submetidos ao executivo,
tudo como medida de defesa da ordem pública''. Fonte: http://www.direitonet.com.br/dicionario/exi-
bir/153/Estado-de-sitio.

EXPECTATIVA DE VIDA - "Número médio de anos de vida esperados para um recém-nascido, mantido
o padrão de mortalidade existente na população residente, em determinado espaço geográfico, no
ano considerado''. (RIPSA, 2008, p.86.)
~ FECUNDIDADE - "Número médio de filhos nascidos vivos, tidos por uma mulher ao final do seu perí-
"O
"'> odo reprodutivo, na população residente em determinado espaço geográfico, no ano considerado''.
~
~ (RIPSA, 2008, p.75.).
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FLEUMA - Um dos quatro humores (fluidos) da teoria de Hipócrates. A Fleuma estaria associada
Vl
o à indiferença.
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~ FUNDO PERDIDO - "Refere-se a recursos disponibilizados por um emprestador sem perspectivas de
,.;
§ reembolso. Normalmente, os recursos são cedidos pelo Estado e o investimento é voltado para fun-

UJ ções sociais, como obras de infraestrutura, saneamento básico e construção de moradias populares''.
1-
z Fonte: http://economiaclara.wordpress.com/2010/03/16/credito/.
(Q)
1:
.Q> GENERALISTA- Profissional de saúde capacitado para atender os problemas mais frequentes da popu-
>,
e.
o lação. O trabalho do generalista se contrapõe ao trabalho do especialista.
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15
GESTÃO PARTICIPATIVA - "Gestão participativa é uma estratégia transversal, presente nos processos

cotidianos da gestão do SUS, que possibilita a formulação e a deliberação pelo conjunto de atores no
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processo de controle social. Requer a adoção de práticas e mecanismos que efetivem a participação
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V-
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dos profissionais de saúde e da comunidade''. Fonte: (BRASIL, 2009).
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GRÃ-BRETANHA - "É o nome da grande ilha onde ficam três países: Inglaterra, País de Gales e Escócia.
Com quase 230 mil km2 de área, ela tem perto de 1000 km de comprimento de norte a sul e pouco
menos de 500 km de leste a oeste. O termo "Grã-Bretanha" muitas vezes é usado como sinônimo de
"Reino Unido" - o que não é inteiramente correto, pois um dos países que formam o Reino Unido não
fica nessa ilha''. Fonte: http://mundoestranho.abril.com.br/materia/qual-e-a-diferenca-entre-reino-u-
nido-e-grabretanha.

HEMODIÁLISE - Processo artificial de substituição das funções de excreção realizadas pelos rins. O
processo de eliminação de excretas como a ureia, o sódio e o potássio é realizado fora do corpo por
um dispositivo de fibras muito finas geralmente confeccionadas à base de celulose, os capilares.

ILUMINISMO - Este movimento surgiu na França do século XVII e defendia o domínio da razão sobre
a visão teocêntrica que dominava a Europa desde a Idade Média. Segundo os filósofos iluministas,
esta forma de pensamento tinha o propósito de iluminar as trevas em que se encontrava a sociedade.
Fonte: http://www.suapesquisa.com/historia/iluminismo/.

INCOMENSURÁVEL -Aquilo que é impossível de medir.

INDICADOR - São cálculos e medidas matemáticas utilizadas para avaliação nas mais diversas áreas
do conhecimento, os indicadores podem ser: epidemiológicos (incidência, prevalência), sociais (IDH,
escolaridade), econômicos (inflação, PIB), demográficos (mortalidade, expectativa de vida) .

INTERDISCIPLINARIDADE - Troca de conhecimento entre os saberes de áreas diferentes com um ob-


jetivo comum.

INTERSETORIAL - Ação em conjunto de setores diferentes da sociedade.

LONGITUDINALIDADE - Relação entre equipe de saúde e usuário dos serviços que estende para além
dos episódios de doença. É uma relação de vínculo, responsabilidade e continuidade.

MIASMAS -A teoria miasmática ou teoria miasmática das doenças foi uma teoria biológica formulada
por Thomas Sydenham e Giovanni María Lancisi durante o século XVII. Segundo a teoria, as doenças
teriam origem nos miasmas: o conjunto de odores fétidos provenientes de matéria orgânica em pu-
trefacção nos solos e lençóis freáticos contaminados. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_mias-
m%C3%A 1tica.

MORBIDADE- É quantidade de casos de doença numa dada população.


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MORBIMORTALIDADE - Indicadores que a frequência e as causas de morbidade (doenças) e mortali-
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dade (óbitos) numa determinada população. ~
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MORIBUNDOS -Agonizante, o que prestes a morrer. .8


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MORTALIDADE - É a quantidade de óbitos em relação a uma dada população. ô
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PARADIGMA- "No sentido lato corresponde a algo que vai servir de modelo ou exemplo a ser seguido tS!
.,;
em determinada situação. São as normas orientadoras de um grupo que estabelecem limites e que E
determinam como um indivíduo deve agir dentro desses limites''. Fonte: http://www.significados.com. 'õ
LJ.J
1-
br/paradigma/. z
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PLACAS TECTÔNICAS - "São os gigantescos blocos que compõem a camada sólida externa do nosso ,Q'
planeta, sustentando os continentes e os oceanos. Impulsionadas pelo movimento do magma incan- >-
a.
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descente no interior da Terra, as dez principais placas se empurram, afastam-se umas das outras e .,;
cl
afundam alguns milímetros por ano, alterando suas dimensões e modificando o contorno do relevo :.a

terrestre''. Fonte: http://mundoestranho.abril.com.br/materia/o-que-sao-placas-tectonicas. a.
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POLISSÊMICO - Palavra ou conceito que têm muitos significados. cl
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100
PREVIDÊNCIA SOCIAL - "A Previdência Social é um seguro que garante a renda do contribuinte e de
sua família, em casos de doença, acidente, gravidez, prisão, morte e velhice[ ...]. Para ter essa proteção,
é necessário se inscrever e contribuir todos os meses''. Fonte: http://www.previdencia.gov.br/inicial-
-inscricao-o-que-e/.

PRINCÍPIOS - Regras, leis gerais que servem como base de uma arte, de uma ciência, de uma política.

PRODRÔMICO - Relativo à pródromo; o que antecede a (algo); precursor, prenúncio, antecedente.

PROTAGONISMO - "Protagonismo é o processo de protagonizar, de ser o protagonista, o figurante


principal de uma apresentação. O latim "pratos" - principal, primeiro, e de "agonistes" - lutador, com-
petidor''. Fonte: http://www.significados.com.br/protagonismo/.

QUIROPRAXIA - A Quiropraxia é uma profissão da saúde que lida com o diagnóstico, tratamento e a
prevenção das desordens do sistema neuro-músculo-esquelético e dos efeitos destas desordens na
saúde em geral. Há uma ênfase em técnicas manuais, incluindo o ajuste e/ou a manipulação articu-
lar, com um enfoque particular nas subluxações. Fonte: http://www.quiropraxia .org.br/portal/index.
php ?option=com_content&view=article&id=35&Item id=90.

REDESIGNAÇÃO - Nova designação, novo design, novo desenho. É sinônimo de mudança, no caso do
texto, de sexo.

REFLEXOTERAPIA - Reflexoterapia é a utilização terapêutica da reflexologia. É uma técnica de trata-


mento por meio de estímulos em uma área reflexa. Reflexologia é o estudo das delimitações destas
áreas, assim como as suas funções e ações diante das patologias humanas. Fonte: http://pt.wikipedia.
org/wi ki/Reflexotera pia.

RENASCIMENTO - O Renascimento foi um importante movimento de ordem artística, cultural e cien-


tífica que se deflagrou na passagem da Idade Média para a Moderna. Em um quadro de sensíveis
transformações que não mais correspondiam ao conjunto de valores apregoados pelo pensamento
medieval, o renascimento apresentou um novo conjunto de temas e interesses aos meios científicos e
culturais de sua época. Fonte: http://www.brasilescola.com/historiag/renascimento.htm.

REPÚBLICA VELHA - "República Velha compreende o período entre os anos de 1889 e 1930, quando a
elite cafeeira paulistana e mineira revezava o carg·o da presidência da República movida por seus inte-
resses políticos e econômicos''. Fonte: http://www.infoescola.com/historia-do-brasil/republica-velha/.
.,;
o SEGURO-SOCIAL - Ver Previdência social.
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~ SISTEMA DE REFERÊNCIA E CONTRARREFERÊNCIA - Sistema utilizado para organizar os serviços de
~
"' saúde hierarquizados (em níveis de complexidade crescentes). A referência é o encaminhamento de
B
·~ um nível inferior de complexidade para um nível mais complexo. A contrarreferência é o encaminha-
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"'o mento de volta ao nível que fez a referência.
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XAMÃ - Sacerdote tribal de certos povos da Ásia setentrional, América do Norte etc., que utiliza meios
é mágicos para curar males e doenças, encontrar objetos perdidos e controlar acontecimentos. Fonte:
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'6 http://www.dicio.com.br/xa ma_2/.
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CARVALHO, Antônio Ivo; GOULART, Flávio A. de Andrade. Gestão de Saúde: curso de aperfeiçoamento z
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para dirigentes municipais de saúde: programa e educação à distância. Rio de Janeiro: Fiocruz; Brasília: 1:
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