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DESIGN AUDIOVISUAL: UMA PROPOSTA DE ANÁLISE DOS OBJETOS DE MÍDIA A

PARTIR DO ESTUDO DE CASO DE VIDEOAULAS

Caroline Daufemback Henrique1


Júlio Monteiro Teixeira2
André Luiz Sens3

1 Introdução

Não é novidade afirmar o quanto as Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs)


possibilitam novas formas de se comunicar, mas é necessário rever paradigmas e conceitos que
orientam a modelagem deste espaço midiático uma vez que as tecnologias são aperfeiçoadas em
curto espaço de tempo. Fredric M. Litto, presidente da ABED em 2017, no relatório Censo EAD
Brasil 2016, destaca que os dados estatísticos apurados sobre a educação a distância mostraram um
“aumento da complexidade positiva, da expansão e do amadurecimento da forma e operação de
aprendizagem através da mediação tecnológica no país”.
A produção de conteúdos audiovisuais vem sendo uma prática crescente nas redes sociais de
compartilhamento, consequência do acesso e da democratização de recursos tecnológicos.
Acompanhando a este fato, a linguagem do vídeo amplia-se em recursos, elementos estéticos e
relações com outros objetos presentes em uma mesma interface. A diversidade de formatos e
conteúdos observados nestes recursos sugere um estudo direcionado às características particulares
das mídias, em especial do audiovisual, com intuito de identificar aspectos que influenciam na
relação dos usuários com estes produtos.
Neste sentido, é oportuno contextualizar esta abordagem no âmbito da educação a distância
que está atrelada ao desenvolvimento social e a evolução dos meios de comunicação. O vídeo é uma
mídia presente em vários ambientes da educação a distância e desde o advento da digitalização
requer que seja melhor compreendida como fenômeno e aprofundamento de suas características,
comportamentos e oportunidades possíveis que possam ser utilizadas em favor do processo de
aprendizagem. Orientar ao planejamento adequado considerando elementos e aspectos da
composição (sua aparência, formato e fatores de interação, integração ao ambiente de suporte) é
necessário para buscar relações que conduzam a melhorias das configurações dos materiais
didáticos para a educação, neste artigo discutido com foco nas videoaulas.


1 Mestranda em Design. Universidade Federal de Santa Catarina. E-mail: carol.dauf@gmail.com
2 Doutor em Engenharia de Produção. Universidade Federal de Santa Catarina. E-mail: juliomontex@gmail.com
3 Doutor em Design. Universidade Federal de Santa Catarina. E-mail: andrelsens@gmail.com
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2 Fundamentação Teórica

Estudiosos defendem que o conceito de mídia seja discutido a partir de um contexto mais
amplo, ou seja, não somente em seu aspecto de mediação de uma mensagem, mas sim considerando
quem produz, quem consome e toda a atividade de engajamento e desengajamento
(SILVERSTONE, 2005). Não se limitando apenas em sua natureza tecnológica e informacional,
mas considerando, aspectos sociais, econômicos, semióticos e cognitivos (SANTAELLA, 2003). O
processo de mediação movimenta um conteúdo que cada vez mais sofre influência das
características de todo o conjunto que integra o processo comunicativo. Por isso mantêm-se tão
atual a afirmação de McLuham (1964) "O meio é a mensagem" onde destaca a impossibilidade de
manter uma mensagem tal como foi concebida isenta das influências de seu meio. A mídia torna-se
um conceito amplo que admite muitas configurações. E para discutir os aspectos que contribuem na
significação e que promovem o envolvimento e a experiência deve-se partir para segmentações de
contextos e avaliação de seus componentes, como por exemplo, discutir em torno da determinação
da linguagem em uma interface. Manovich (2005) coloca que a interface molda a maneira em que o
usuário percebe o próprio computador. E determina também o modo em que pensa qualquer objeto
midiático ao qual acessa através do computador. Ao separar dos diferentes meios suas diferenças
originais, a interface lhes impõe sua própria lógica.
No âmbito da EaD, Filatro e Cairo (2015) destacam o vídeo como mídia poderosa para o
contexto educacional por seu potencial de motivar a atenção dos aluno que se torna possível quando
desenvolvido sob uma matriz que considere as caraterísticas sonoras, visuais, verbais e até
interativas quando possíveis. As autoras identificam as tipologias de vídeos mais comuns para este
contexto:

Tabela 1
Tipologia de vídeos no contexto educacional

Videoaulas Recurso no qual o educador exerce um papel preponderante na


apresentação de conteúdos e na proposição de atividades de
aprendizagem.
Entrevistas e debates Consistem basicamente em um jogo de perguntas e respostas
conduzido por um entrevistador/moderador dirigido a alguém que
tenha algo a dizer sobre determinado assunto.
Noticiários Apoiam-se basicamente em histórias reais e abrange os eventos
relacionados ao contexto apresentado.
Documentários Semelhante aos noticiários, difere-se em relação a profundidade e
detalhamento sobre o assunto que consequentemente requer maior
tempo de duração do vídeo e um forte apelo sensorial
(multidimensional). A combinação de áudio, vídeo, texto entre
outros elementos midiáticos requer cuidados na composição deste
produto audiovisual para sustentar a atenção do público e a
aproximação com a realidade apresentada.

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Vídeos de modelagem de Apoiam o desenvolvimento de habilidades psicomotoras, como no
comportamento caso da educação esportiva, do treinamento militar e da educação
profissionalizante.
Fonte: Adaptado de Filatro e Cairo (2015, p. 269)

Das tipologias apresentados acima, a videoaula é tipologia que se destaca por estar
relacionada diretamente a finalidade educacional e a partir desta é possível especificar ainda o
modo como ocorre esta narrativa, que influenciarão na construção de um roteiro, produção e pós
produção, este último aspecto, quando a videoaulas é gravada e editada. Sendo gravada ou ao vivo,
a figura do apresentador de conteúdo é necessária para conduzir a narrativa e este não necessita
estar visível, ou seja, representado em forma real ou animada, mas pode vir demarcada através de
outros elementos simbólicos e midiáticos como através da narração ou legendas em texto. Ainda
quanto a dinâmica das narrativas no contexto educacional, o storytelling e screencast ganharam
popularidade nas redes sociais nas plataformas de vídeo e se relacionam bem a propósito de
conduzir o espectador numa lógica de aprendizagem. Filatro e Cairo (2015) discorrem sobre as
narrativas instrucionais que se caracterizam pela apresentação de uma série de “eventos, estados
mentais e acontecimentos que envolvem personagens cujo significado é dado pela configuração de
uma trama ou um enredo”. Este conceito é também aplicado ao storytelling sendo que neste fica
ainda mais explícito a figura do contador da história que coincide com a figura do apresentador de
conteúdo. E, por último, o screencast baseia-se no captura de eventos que ocorrem na tela do
computador que servem para que o público veja exatamente como é a interface do produto e onde
ele deve ir para realizar cada tarefa. Essa proposta se torna útil para aprendizagem de atividades
relacionadas a softwares.
Em relação ao estudo da linguagem, a análise sintática aplicada a vídeos, pode fundamentar-
se da mesma lógica aplicada a diferentes linguagens, ou seja, onde se estudam os elementos
necessários para que ocorram as relações no processo comunicacional. E a sequência ao estudo
deste processo complementa-se com a semântica que trata da etapa seguinte a expressão, por meio
do estudo do significado dos signos linguísticos e das suas combinações. Analisa o sentido,
conteúdo, e a relação do signo e seus referentes. Bonsiepe (2011) também parte da analogia dos
estudos de linguagem e coloca que para o entendimento das mídias, da mesma maneira que existe
uma estrutura para compreender os conteúdos literários baseados em textos, as novas mídias
requerem uma meta-diagramática específica. Com isso, ao apresentar sua proposta para estudo dos
produtos audiovisuais, chama a atenção às retóricas presentes nos meios digitais que se apresenta
como cenário fértil para o enriquecimento deste fenômeno. Desta forma propõe analisar seus
“microcomponentes” que podem ser entendidos como objetos midiáticos a partir das quais será
possível criar estratégias comunicacionais com base nas aparências com padrões explícitos,
contribuindo para eficiência comunicativa. As variáveis para análise propostas por Bonsiepe (2011)

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para análise da linguagem audiovisual são sete, sendo: (1) Imagem (2) Som, ruído (3) Música (4)
Texto visual (tipografia) (5) Texto auditivo (6) Movimento (7) Interação.
As abordagens apresentadas anteriormente fundamentarão a análise subsequente que
buscará descrever e discutir as características dos vídeos presentes em diferentes ambientes EAD.

3 Procedimentos Metodológicos

Este artigo apresenta incialmente uma descrição de cunho exploratório e descritivo dos
objetos midiáticos presentes na linguagem audiovisual em videoaulas. Os autores Filatro e Cairo
(2015), Filatro (2018) e Bonsiepe (2011) fundamentaram a descrição.
Os resultados das análises dos objetos midiáticos presentes são posteriormente
correlacionados, de modo a verificar a recorrência e frequência entre os conteúdos audiovisuais
apresentados.
Cabe observar que a análise concentrou-se na abordagem sintática dos elementos
compositivos. Ou seja, priorizou procedimentos analíticos e descritivos focados na materialidade
das mídias e não em seu conteúdo e relações semânticas. Justifica-se a partir da ordem lógica
proposta por Bonsiepe (2011) que trata primeiro de investigar a materialidade dos
microcomponentes audiovisualísticos para, posteriormente, proceder com a análise semântica.
Portanto, o escopo desta pesquisa será o aprofundamento dos aspectos da linguagem visual e seus
componentes sintáticos presentes em videoaulas. Não farão parte deste estudo avaliações dos
estudantes em relação à proposta, como por exemplo, a experiência do usuário. Isto porque o
propósito deste estudo é discutir as propriedades do vídeo e terminologias e como se relacionam às
videoaulas.
Desta forma, o objetivo foi identificar e descrever objetos midiáticos compositivos presentes
em videoaulas no contexto da EaD. Para atingir a este objetivo definiram-se as etapas:
1. apresentar a situação caso de cada um dos vídeos em relação aos seus suportes e
estruturas organizacionais de oferta EaD;
2. decupar cenas de cada vídeo para análise da presença dos objetos midiáticos e
descrição de suas características por meio de um quadro;
3. análise dos resultados, destacando a recorrência e frequência dos objetos midiáticos
identificados observados nos quadros comparativos;
4. considerações sobre a linguagem audiovisual a partir da presença dos objetos
midiáticos nas videoaulas analisadas

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4 Resultados

4.1 Plataformas EaD analisadas

Nas três plataformas o usuário realiza um cadastro para habilitar uma conta que armazenará
os cursos de interesse e dados quanto ao progresso. O conteúdo didático dos cursos são organizados
sob uma estrutura padrão de interface estabelecida pelo site. Para a análise com foco em videoaulas,
buscou-se restringir a escolha a uma temática de curso apresentada nas três plataformas. O curso
escolhido abordava Fundamentos da Linguagem HTML.

4.1.1 Khan Academy

Khan Academy é uma organização sem fins lucrativos que tem como missão disponibilizar
conteúdos gratuitos para educação, para qualquer pessoal, em qualquer lugar. Para isso oferecem
uma plataforma EaD mantida através de doações, trabalho voluntariado na área de tradução de
conteúdos, revisão, entre outras atividades administrativas, e uma equipe de especialistas em
conteúdo. Dentre os conteúdos didáticos de suporte estão artigos e vídeos para diferentes matérias
como matemática, biologia, química, física, história, economia, finanças, gramática, entre outros. O
material didático está disponível em diferentes idiomas para atender pessoas do mundo inteiro.
Estima-se que a instituição atenda em torno de 15 milhões de pessoas ao redor do globo
mensalmente. Contam com o suporte de site e também de canal no Youtube.

4.1.2 Udemy

É uma plataforma de EaD de origem turca que oferta vários cursos, alguns gratuitos e outros
pagos, e também dá a oportunidade para profissionais criarem e disponibilizar seus cursos. Os
conteúdos dos cursos são diversos, desde cuidador de animais domésticos à programação (da básica
à avançada), análise de dados, design, vendas entre outros com intuito profissionalizante. A
plataforma, no primeiro semestre de 2019, possuía mais de trinta milhões de alunos, cerca de cem
mil cursos publicados e quarenta e dois mil instrutores em mais de cinquenta idiomas. Os cursos
tem como recurso didático principal o vídeo mas também é possível complementar com outros
materiais como artigos e itens para download disponíveis exclusivamente pelo site onde está
hospedada a plataforma.

4.1.3 Portal de Cursos Rápidos

É um portal onde o usuário mediante a uma taxa única de inscrição tem acesso a mais de
2100 cursos em diversas áreas. Os materiais didáticos não são produzidos pelo curso mas sim
selecionados na internet por professores especialistas que coloca a disposição do aluno através do
portal. Sua metodologia de ensino consiste na auto-formação do aluno, na qual ele estuda, faz

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exercícios e produz uma redação sobre todo o conteúdo disponível na área do curso escolhido. Após
a conclusão do curso o aluno está apto a solicitar sua certificação profissional valida no mercado
brasileiro conforme orientações da legislação. A instituição responsável pela oferta faz parte da
Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED), principal sociedade científica no Brasil
responsável por promover, divulgar e buscar educação de qualidade, dentro da ética e tendo o
estudante como personagem principal.

4.2 O vídeo na interface da EaD

Iniciando a análise a partir da relação do vídeo na interface em cada uma das plataformas,
observou-se que esta difere-se nos três casos. No Khan Academy primeiro é representado na forma
de ícone destacado na figura 1 na área em que apresenta o índice cronológico dos recursos didáticos
a serem acessados para progresso do curso. Ao clicar no ícone, a estrutura da interface se mantem
mas é ajustada para abrigar a moldura do player de vídeo, mantendo a lateral esquerda para
navegação sequencial dos recursos didiáticos e logo abaixo abas para conteúdos extras e interações
por meio de postagem de textos. No Udemy, o recurso vídeo já é apresentado em sua moldura do
player, conforme apresentado na figura 3, ocupando a maior parte da área visível da página,
acompanhado também de menu de navegação pelos conteúdos do curso e abaixo ao vídeo abas para
informações gerais do curso, fórum de discussão, marcadores criados pelo usuário atreladas ao
vídeo e avisos relacionados ao curso. Já no Portal de Cursos Rápidos, os vídeos estão agrupados
dentro de uma lógica de pastas, que os separa dos demais materiais do curso e foram identificados
pelos nomes “Vídeos – Parte 1” e “Vídeos – Parte 2” também acompanhado por um ícone
simbólico que remete a recurso vídeo . Ao abrir qualquer uma das duas pastas, na mesma área
principal é substituída para apresentação dos vídeos em suas molduras importadas de outra
plataforma de vídeo (YouTube) e incorporadas a página do curso e dispostas de maneira sequencial
a rolagem da página, ou seja, uma abaixo da outra sem apoio de qualquer outro menu de navegação
pelo curso ou recursos adicionais sobre o conteúdo. Nota-se que o conteúdo do vídeo não é autoral
do portal, ou seja, conforme a própria apresentação do site descreve, ele não produz conteúdos mas
sim, utiliza-se de conteúdos produzidos por terceiros selecionados por especialistas de conteúdo.
Desta maneira leva a concluir que o portal não dispõem de serviço próprio de armazenamento e
gerenciamento dos conteúdos em vídeo.

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Figura 1
Página inicial do curso de programação no Khan Academy

Fonte: Khan Academy

Figura 2
Página exibindo a moldura do vídeo no Khan Academy

Fonte: Khan Academy

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Figura 3
Página inicial do curso de programação no Udemy

Fonte: Udemy

Figura 4
Página inicial do curso de programação no Portal de Cursos Rápidos

Fonte: Portal de Cursos Rápidos

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Figura 5
Página exibindo a moldura do vídeo no Portal de Cursos Rápidos

Fonte: Portal de Cursos Rápidos

Verificou-se de modo geral que as plataforma possuem dinâmicas distintas em relação a


presença do vídeo em suas interfaces. A estruturação das interfaces em relação ao vídeo nas
plataformas Khan Academy e Udemy estão mais próximas da mesma lógica possibilitando
resultados semelhantes na navegação pela interface do vídeo e funcionalidades de suporte atreladas
aos videoaulas. Ficou evidente na estruturação da navegação se estabelecem em 5 áreas
apresentadas que podem ser descritas como: (1) barra superior; (2) menu de navegação dos
conteúdos do curso; (3) índice cronológico dos recursos didáticos a serem acessados e (4) barra de
rodapé e (5) área do recurso didático. Esta lógica favoreceu a navegação pelos conteúdos do curso e
também a interações que estimulam o engajamento com os conteúdos e trocas com os demais
usuários nas EaDs. Quanto a plataforma presente no Portal de Cursos Rápidos, esta estruturação é
inferior, não deixando evidente a lógica de navegação pelo curso e seus conteúdos. Também não foi
disponibilizado abas de informações e interações através do registro de comentários ou trocas com
demais alunos do curso.

4.3 Objetos midiáticos em videoaulas

Para análise da linguagem presente nas videoaulas foi escolhido um vídeo de cada
plataforma. Considerando que o conteúdo dos vídeos é o mesmo, ou seja, abordando os

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fundamentos da programação em HTML, observou-se na estrutura das videoaulas os elementos
compositivos presentes nas cenas e objetos midiáticos utilizados que estão descritos no abaixo.
Na Khan Academy, a videoaula analisada teve duração de 4’44”, apresentados num formato
widescreen. A videoaula do começo ao fim mostrou basicamente uma única cena no estilo
screencast conforme apresentado na figura X. Através da representação de uma interface típica de
software para programação constituída de elementos textuais alfanuméricos e alguns caracteres
especiais como símbolos e pontuações, os movimentos representados no vídeo foram de interações
da edição de textos como a digitação, seleção e supressão. O vídeo também contou com a narração
presente do começo ao fim apresentando o conteúdo e descrevendo os movimentos que ocorriam na
cena. Porém observou-se que os elementos presentes no vídeo são interativos, ou seja, o aluno pode
intervir, interagindo da mesma forma apresentado pelo narrador, porém essas intervenções só
podem ocorrer quando o vídeo tiver terminado sua exibição. No inferior da moldura do vídeo,
apresenta-se uma barra referente a navegação do vídeo com o botão que alterna entre reproduzir e
pausar o vídeo, um link para reprodução do vídeo externo a plataforma e um botão para derivação
que permite justamente salvar as alterações feitas pelo aluno na interação com os elementos
representados no vídeo.

Figura 6
Cenas da videoaula sobre Fundamentos do HTML no Khan Academy

Fonte: Khan Academy

A videoaula disponível na plataforma Udemy teve duração de 2’17” e foi apresentado em na


moldura do player de vídeo em widescreen porém ocupando uma região menor a proporção
disponível e desta forma preenchido com áreas em preto nas laterais do vídeo conforme apresentado
na figura X. A cena manteve-se fixa em plano médio do começo ao fim considerando o
enquadramento em primeiro plano do apresentador e uma tela de computador mostrava a identidade
visual do curso. O apresentador fez-se visível durante toda a videoaula, expondo verbalmente o
conteúdo acompanhado de suas expressões corporais e sem a utilização de qualquer outro recurso
de linguagem para apresentação. No inferior da moldura do vídeo, é possível identificar da
navegação do vídeo com botões de controle de reprodução e pausa, retrocesso e avanço, velocidade

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de reprodução, controle de volume e configurações do modo e qualidade de visualização do vídeo.
A interação do aluno com os elementos representados no vídeo não esteve contemplado neste caso,
porém a adição de marcadores; botão presente junto aos demais de controle do vídeo; permite que
seja inserido um comentário em um dado momento do vídeo que o aluno tenha interesse.

Figura 7
Cenas da videoaula sobre Fundamentos do HTML no Udemy

Fonte: Udemy

A videoaula disponível na plataforma Portal de Cursos Rápidos teve duração de 7’40” e foi
apresentado em na moldura do player de vídeo importada do Youtube e a área do vídeo ocupava
toda a moldura chegando a uma proporção aproximada do padrão 3:4. O vídeo basicamente foi
composto em duas cenas conforme representados na figura X. A primeira cena fixa que apresentava
uma imagem estática com sobreposição de textos de identificação do curso e autor. Esta cena
permanece aproximadamente durante 2” da videoaula onde houve a narração do apresentador sobre
os conteúdos do curso. E a segunda cena inicia na mudança da imagem estática para a interface do
software e as interações do usuário configurando-se assim o estilo screencast de apresentação
acompanhado da narração do tutor do curso. Durante toda a visualização da videoaula não há
elementos de interação do aluno com o conteúdo. No inferior da moldura do vídeo são provenientes
da plataforma Youtube, conforme observado anteriormente, onde estão disponíveis os botões de
controle de reprodução e pausa, volume, configurações do modo e qualidade de visualização do
vídeo e redirecionamento para a plataforma nativa do vídeo. Na área superior estão presentes botões

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de compartilhamento e opção de assistir mais tarde que fica armazenado somente na plataforma
nativa do vídeo.

Figura 8
Cenas da videoaula sobre Fundamentos do HTML no Portal de Cursos Rápidos

Fonte: Portal de Cursos Rápidos

Foi observado que em nos vídeos analisados que correspondem a tipologia da videoaula
descrita por Filatro e Cairo (2015) onde o educador exerceu um papel preponderante na
apresentação de conteúdos e na proposição de atividades de aprendizagem. Considerando as
variáveis presentes em produtos audiovisuais apresentados por Bonsiepe (2011), o educador esteve
representado nas três videoaulas, sendo que em dois casos exclusivamente na variável “texto
auditivo” por meio da narração. No decorrer das videoaulas não foram explorados outros objetos
midiáticos como imagens, sons ou ruídos, música e textos visuais. A interação dentro dos vídeos foi
observada em dois dos casos apresentados com dinâmicas e funções distintas: em uma a
possibilidade do aluno intervir com os elementos compositivos do vídeo e em outra apenas na
marcação de um tempo específico e inclusão de notas textuais salvas a parte do vídeo. De modo
geral a disposição dos elementos visuais apresentadas nas videoaulas mantiveram um ritmo
previsível sem movimentações bruscas, ou seja, mantendo uma monotonia na apresentação dos
conteúdos.

5 CONSIDERAÇÕES

A análise das videoaulas presentes em 3 plataformas distintas de ensino a distância


desdobrou-se em duas vertentes relacionadas ao vídeo. A primeira buscou demonstrar a presença do
vídeo na interface da plataforma e relações com os demais objetos midiáticos presentes, e a segunda
análise descreveu a os elementos de linguagem, objetos e dinâmicas dentro da moldura estabelecida
para o vídeo.

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As plataformas EaD são interfaces de suporte para diferentes objetos midiáticos com a
finalidade de promover fenômenos comunicacionais objetivando o ensino-aprendizado. É na
interface principal onde se apresentam os principais recursos e fazem a mediação da interação entre
o usuário e o objeto, neste caso, os conteúdos educacionais. Conforme observado por Bonsiepe
(2011) e Manovich (2005), a interface deve conversar com o usuário mostrando a ele como
interagir com o objeto e que interfaces consistentes são mais fáceis de aprender e usar. Por isso,
entende-la mais do que um suporte ganha sentido para além de propor uma organização dos
recursos midiáticos somente, incluindo também o estudo das dinâmicas acerca das interações
compreendidas neste espaço.
Pode-se identificar nas situações apresentadas a tipologia da videoaula. A marcação do
educador foi necessária para conduzir a apresentação dos conteúdos didáticos reforçando a tipologia
de videoaula apresentada por Filatro e Cairo (2015). Na apresentação dos conteúdos didáticos por
meio das videoaulas, a característica mais recorrente foi o texto verbal expresso através da narração.
Desta forma careceram de uma linguagem que explorasse outras dimensões audiovisualísticas que
poderiam contribuir para uma experiência mais rica e agradável aos sentidos.
O vídeo dentro das plataformas de ensino a distância é um importante aliado no processo de
educativo e não só deve estar presente em sua interface como também estabelecer relações com
outros objeto midiáticos como menus de navegação, atividades de interação e outros recursos
midiáticos presentes na interface de modo a estabelecer uma ecologia midiática equilibrada. O
papel do designer para este contexto é intervir nas características visuais dos objetos considerando
os diferentes elementos compositivos associados a determinada cultura e assim auxiliar na
identificação de estratégias comunicacionais a partir das aparências com padrões explícitos,
contribuindo para eficiência comunicativa.

Referências

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Summus.

Gui Bonsiepe. (2011). Design, cultura e sociedade. São Paulo: Blucher.

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2016. Curitiba.

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Khan Academy (2019, agosto 12). Fundamentos de HTML [Curso EAD]. Recuperado de
https://pt.khanacademy.org/computing/computer-programming/html-css/intro-to-html/pt/html-
basics

Manovich, L. (2005). El linguaje de los nuevos medios de comunicación: la imagem en la era


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Santaella, L. (2003). Da cultura das mídias à cibercultura: o advento do pós- humano. Famecos,
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https://www.udemy.com/course/introducao-a-linguagem-html/learn/lecture/9891832

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