Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
em suas atividades tanto na escola quanto no objetivos de uma ação social politizada. É
trabalho. Basicamente, o que Willis argumen- através de um processo pedagógico que
ta é que o encaminhamento desses jovens permita às pessoas se tornarem conscientes
para ocupações de classe operária não é o do papel de controle e poder exercido pelas
simples resultado passivo de uma lei econô- instituições e pelas estruturas sociais que elas
mica ou social. Essa destinação é ativamente podem se tornar emancipadas ou libertadas
criada na própria cultura juvenil operária, de seu poder e controle.
através, sobretudo, da celebração, nessa Três conceitos são centrais a essa
cultura, de uma masculinidade fortemente concepção emancipadora ou libertadora
associada com a cultura operária do chão do currículo e da pedagogia: esfera pública,
de fábrica. Infelizmente, o resultado final é intelectual transformador, voz. Tomando
o mesmo, mas o que Willis vislumbra aí, de empréstimo a Habermas o conceito de
nessa cultura, é um momento e um espaço "esfera pública", Giroux argumenta que
de criação autônoma e ativa que poderia
a escola e o currículo devem funcionar
ser explorado para uma resistência mais , . ,,
como uma "esfera pública democrat1ca ·
politicamente informada.
A escola e o currículo devem ser locais
Éessa possibilidade da resistência que Gi- onde os estudantes tenham a oportunidade
roux vai desenvolver em seus primeiros tra- de exercer as habilidades democráticas da
balhos. Ele acredita que é possível canalizar discussão e da participação, de questiona-
o potencial de resistência demonstrado por mento dos pressupostos do senso comum
estudantes e professores para desenvolver da vida social. Por outro lado, os profes-
uma pedagogia e um currículo que tenham sores e as professoras não podem ser
um conteúdo claramente político e que seja vistos como técnicos ou burocratas, mas
crítico das crenças e dos arranjos sociais
como pessoas ativamente envolvidas nas
dominantes. Ao menos nessa fase, Giroux
atividades da crítica e do questionamento,
54
a serviço do processo de emancipação e li- de enfatizar também as estreitas conexões
bertação. Tomando como base a noção de entre a pedagogia e a política, entre a edu-
"intelectual orgânico" de Gramsci, Giroux cação e o poder. A crítica que Freire faz
vê os professores e as professoras como da "educação bancária" e sua concepção
"intelectuais transformadores". Finalmen- do conhecimento como um ato ativo e
te, o conceito de "voz", que Giroux desen- dialético também combinavam com os
volveria na fase intermediária de sua obra, esforços de Giroux em desenvolver uma
aponta para a necessidade de construção perspectiva de currículo que contestasse
de um espaço onde os anseios, os desejos os modelos técnicos então dominantes.
e os pensamentos dos estudantes e das Para sintetizar: numa tendência que
estudantes possam ser ouvidos e atenta- iria ganhar mais impulso posteriormente,
mente considerados.Através do conceito Giroux vê a pedagogia e o currículo através
de "voz", Giroux concede um papel ativo da noção de "política cultural". O currí-
à sua participação - um papel que contesta culo envolve a construção de significados
as relações de poder através das quais essa e valores culturais. O currículo não está
simplesmente envolvido com a transmissão
voz tem sido, em geral, suprimida.
de "fatos" e conhecimentos "objetivos". O
Há uma reconhecida influência de currículo é um local onde, ativamente, se
Paulo Freire na obra de Henry Giroux. produzem e se criam significados sociais.
Por um lado, a concepção libertadora de Esses significados, entretanto, não são
educação de Paulo Freire e sua noção de simplesmente significados que se situam
ação cultural forneciam-lhe as bases para no nível da consciência pessoal ou indi-
o desenvolvimento de um currículo e de vidual. Eles estão estreitamente ligados a
uma pedagogia que apontavam para possi- relações sociais de poder e desigualdade.
bilidades que estavam ausentes nas teorias Trata-se de significados em disputa, de
críticas da reprodução então predominan- significados que são impostos, mas também
tes. Por outro lado, embora Paulo Freire contestados. Na visão de Giroux, há pouca
salientasse a importância da participação diferença entre, de um lado, o campo da
pedagogia e do currículo e, de outro, o
das pessoas envolvidas no ato pedagógico
campo da cultura. O que está em jogo, em
na construção de seus próprios significa-
ambos, é uma política cultural.
dos, de sua própria cultura, ele não deixava
55
Leituras
GIROUX, Henry. Escola crítica e política cultural. São
Paulo: Cortez, 1987.
56
Pedagogia do oprimido
versus pedagogia dos conteúdos
Parece evidente que Paulo Freire não Pedagogia do oprimido que melhor repre-
desenvolveu uma teorização especifica senta o pensamento pelo qual ele iria se
sobre currículo. Em sua obra, entre- tornar internacionalmente conhecido
tanto, como ocorre com outras teorias e reconhecido. Educação como prática da
pedagógicas, ele discute questões que liberdade está ainda muito ligado ao pensa-
estão relacionadas com aquelas que co- mento da chamada "ideologia do desenvol-
mumente estão associadas com teorias vimento" que caracterizava o pensamento
mais propriamente curriculares. Pode-se de esquerda da época. Em seu primeiro
dizer que seu esforço de teorização con- livro, a palavra-chave é, precisamente,
siste, ao menos em parte, em responder "desenvolvimento". No segundo, a centra-
à questão curricular fundamental: "o que lidade do conceito de "desenvolvimento" é
ensinar?". Em sua preocupação com a deslocada pelo de "revolução". Além disso,
questão epistemológica fundamental ("o os elementos propriamente pedagógicos
que significa conhecer?"), Paulo Freire do pensamento de Freire estão aí pouco
desenvolveu uma obra que tem implica- desenvolvidos: metade do livro é dedicada
ções importantes para a teorização sobre a uma análise da formação social brasileira.
o currículo. Além disso, é conhecida sua Pedagogia do oprimido, por outro lado,
influência sobre as teorizações de autores difere, em aspectos fundamentais, das
e autoras mais diretamente ligados ao outras teorizações que iriam constituir
desenvolvimento de perspectivas mais as bases de uma teoria educacional crítica
propriamente curriculares. (Althusser, Bourdieu e Passeron, Bowles e
Aqui, como fizemos com outros auto- Gintis). Em primeiro lugar, diferentemen-
res, vamos nos restringir aos seus livros te daquelas teorizações, sua análise deve
iniciais, particularmente Educação como muito mais à filosofia do que à sociologia
Prática da liberdade ( 1967) e Pedagogia e à economia política. É verdade que a
do oprimido ( 1970). Na verdade, é o livro análise que Freire faz da formação social
57
brasileira na primeira parte de Educação turalistas da educação. Não se pode ima-
como prática da liberdade é profundamen- ginar Althusser ou Bourdieu e Passeron
te histórica e sociológica. Já a análise que falando, como faz Freire em Pedagogia
Freire faz do processo de dominação em do oprimido e em livros posteriores, de
Pedagogia do oprimido está baseada numa "amor", "fé nos homens", "esperança" ou
dialética hegeliana das relações entre senhor "humildade".
e servo, ampliada e modificada pela leitura do Finalmente, a teorização de Freire é
"primeiro Marx", do marxismo humanista claramente pedagógica, na medida em
de Erich Fromm, da fenomenologia exis- que ele não se limita a analisar como são
tencialista e cristã e de críticos do processo a educação e a pedagogia existentes, mas
de dominação colonial (Memmi, Fanon). O apresenta uma teoria bastante elaborada
foco está, aqui, muito menos na dominação de como elas devem ser. Essas diferen-
como um reflexo das relações econômicas e ças refletem-se inclusive nos títulos dos
muito mais na dinâmica própria do processo respectivos livros: enquanto o de Freire
de dominação. ressalta o termo "pedagogia", o livro de
Em segundo lugar, as críticas socioló- Bowles e Gintis, por exemplo, sugere uma
gicas da educação tomam como base a análise da escola na sociedade capitalista
estrutura e o funcionamento da educação estadunidense, e o de Baudelot e Establet
institucionalizada nos países desenvolvidos. propõe-se, claramente, a analisar a "es-
Está implícita na análise de Freire, por cola capitalista na França".
sua vez, uma crítica à escola tradicional, A crítica de Freire ao currículo exis-
mas sua preocupação está voltada para o tente está sintetizada no conceito de
desenvolvimento da educação de adultos "educação bancária".A educação bancária
em países subordinados na ordem mundial. expressa uma visão epistemológica que
Na verdade, em Pedagogia do oprimido, concebe o conhecimento como sendo
Freire adia a transformação da educação constituído de informações e de fatos a
formal para depois da revolução. Pode-se serem simplesmente transferidos do pro-
dizer ainda que os conceitos humanistas fessor para o aluno. O conhecimento se
utilizados por Freire em sua análise estão confunde com um ato de depósito - ban-
claramente ausentes de análises mais estru- cário. Nessa concepção, o conhecimento é
sa
algo que existe fora e independentemente conceito fenomenológico de "intenção",
das pessoas envolvidas no ato pedagógico. o conhecimento, para Freire, é sempre
Refletindo aqui a crítica mais cientificista "intencionado", isto é, está sempre dirigido
ligada à "ideologia do desenvolvimento", para alguma coisa.
bem como as críticas à escola tradicional O mundo, pois, não existe a não ser
feitas pelos ideólogos da "Escola Nova", como "mundo para nós", como mundo
Freire ataca o caráter verbalista, narrati- para a nossa consciência. Freire está aqui
vo, dissertativo do currículo tradicional. longe das concepções pós-estruturalistas
Na sua ênfase excessiva num verbalismo recentes que concebem o conhecimento
vazio, oco, o conhecimento expresso no como estreitamente relacionado com
currículo tradicional está profundamen- suas formas de representação no texto
te desligado da situação existencial das e no discurso. A representação implicada
pessoas envolvidas no ato de conhecer. na perspectiva de Freire é a do mundo na
Na concepção bancária da educação, o consciência. O ato de conhecer envolve
educador exerce sempre um papel ativo, fundamentalmente o tornar "presente" o
enquanto o educando está limitado a uma mundo para a consciência.
recepção passiva. O ato de conhecer não é, entretanto,
Através do conceito de "educação pro- para Freire, um ato isolado, individual.
blematizadora", Freire busca desenvolver Conhecer envolve intercomunicação, in-
uma concepção que possa se constituir tersubjetividade. Essa intercomunicação é
numa alternativa à concepção bancária mediada pelos objetos a serem conhecidos.
que ele critica. Na base dessa "educação Na concepção de Freire, é através dessa in-
problematizadora" está uma compreensão tercomunicação que os homens mutuamente
radicalmente diferente do que significa se educam, intermediados pelo mundo
"conhecer". Aqui, a perspectiva de Freire cognoscível. É essa intersubjetividade do co-
é claramente fenomenológica. Para ele, nhecimento que permite a Freire conceber
conhecimento é sempre conhecimento de o ato pedagógico como um ato dialógico.A
alguma coisa. Isso significa que não existe educação bancária torna desnecessário o di-
uma separação entre o ato de conhecer álogo, na medida em que apenas o educador
e aquilo que se conhece. Utilizando o exerce algum papel ativo relativamente ao
59
conhecimento. Se conhecer é uma questão sidade do desenvolvimento de um currículo
de depósito e acumulação de informações e que esteja de acordo com sua concepção
fatos, o educando é concebido em termos de educação e pedagogia. A diferença re-
de falta, de carência, de ignorância, relativa- lativamente às perspectivas tradicionais de
mente àqueles fatos e àquelas informações. currículo está na forma como se constroem
O currículo e a pedagogia se resumem ao esses "conteúdos programáticos".
papel de preenchimento daquela carência. Pode-se comparar, nesse aspecto, o
Em vez do diálogo, há aqui uma comunica- método sugerido por Paulo Freire, com
ção unilateral. Na perspectiva da educação os métodos seguidos por modelos mais
problematizadora, ao invés disso, todos os tradicionais, como o de Tyler, por exem-
sujeitos estão ativamente envolvidos no ato plo. Tyler sugeria estudos sobre os apren-
de conhecimento. O mundo - o objeto a dizes e sobre a vida ocupacional adulta
ser conhecido - não é simplesmente "co- bem como a opinião dos especialistas das
municado"; o ato pedagógico não consiste diferentes disciplinas como fontes para o
em simplesmente "comunicar o mundo". Em desenvolvimento de objetivos educacio-
vez disso, educador e educandos criam, dia- nais, tudo isso filtrado pela filosofia e pela
logicamente, um conhecimento do mundo. psicologia educacionais. Na perspectiva
Ésobre essas bases que Freire vai desen- de Freire, é a própria experiência dos
volver seu famoso "método". Ele não se limi- educandos que se torna a fonte primária
ta a criticar o currículo implícito no conceito de busca dos "temas significativos" ou
de "educação bancária". Freire fornece, já "temas geradores" que vão constituir o
em Pedagogia do oprimido, instruções deta- "conteúdo programático" do currículo dos
lhadas de como desenvolver um currículo programas de educação de adultos. Freire
que seja a expressão de sua concepção de não nega o papel dos especialistas que,
"educação problematizadora". É curioso interdisciplinarmente, devem organizar
observar que Freire utiliza nesse livro ex- esses temas em unidades programáticas,
pressões e conceitos bastante tradicionais, mas o "conteúdo" é sempre resultado de
tais como "conteúdos" e "conteúdos pro- uma pesquisa no universo experiencial dos
gramáticos", para falar sobre currículo. Ele próprios educandos, os quais são também
está bem consciente, entretanto, da neces- ativamente envolvidos nessa pesquisa.
60
Contrariamente à representação que do ato de conhecer como "consciência
comumente se faz, Paulo Freire concede de alguma coisa". É essa consciência,
uma importância central, em seu "méto- que inclui a consciência não apenas das
do", ao papel tanto dos especialistas nas coisas e das próprias atividades, mas
diversas disciplinas, aos quais cabe, ao também a consciência de si mesmo, que
final, elaborar os "temas significativos" e distingue o ser humano dos animais. É
fazer o que ele chama de "codificação", igualmente central à sua epistemologia,
quanto aos educadores diretamente entretanto, aquilo que ele chama de
envolvidos nas atividades pedagógicas. "conceito antropológico de cultura". Isso
Ao menos em Pedagogia do oprimido, significa entender a cultura, em oposição
Paulo Freire acredita que o "conteúdo à natureza, como criação e produção
programático da educação não é uma humana. Nessa concepção de cultura, não
doação ou imposição, mas a devolução se faz uma distinção entre cultura erudita
organizada, sistematizada e acrescentada e cultura popular, entre "alta" e "baixa"
ao povo daqueles elementos que este lhe cultura. A cultura não é definida por
entregou em forma desestruturada". O qualquer critério estético ou filosófico.
que ele destaca é a participação dos edu- A cultura é simplesmente o resultado de
candos nas várias etapas da construção qualquer trabalho humano. Nesse sentido,
desse "currículo programático". Numa faz mais sentido falar não em "cultura",
operação visivelmente curricular, ele fala mas em "culturas".
em escolha do "conteúdo programático", O desenvolvimento dessa noção de
que deve ser feita em conjunto pelo edu- cultura tem importantes implicações cur-
cador e pelos educandos. Esse conteúdo riculares. Embora Freire não desenvolva
programático deve ser buscado, conjunta- esse tema, o currículo tradicional - huma-
mente, naquela realidade, naquele mundo nista, clássico - que dominou a educação
que, segundo Freire, constitui o objeto do dos grupos dominantes por um longo
conhecimento intersubjetivo. tempo, está baseado precisamente numa
Vimos que a epistemologia que funda- definição da cultura como o conjunto das
menta a perspectiva curricular de Freire obras de "excelência" produzidas no campo
está centrada numa visão fenomenológica das artes visuais, da literatura, da música,
61
do teatro. Mesmo que implicitamente, essa concentrar na perspectiva de grupos
crítica do conceito de cultura permite a dominados em países da América Latina
Paulo Freire desenvolver uma perspectiva e, mais tarde, nos países que se tornavam
curricular que, antecipando-se à influência independentes do domínio português,
posterior dos Estudos Culturais, apaga as Paulo Freire antecipa, na pedagogia e no
fronteiras entre cultura erudita e cultura currículo, alguns dos temas que iriam,
popular. Essa ampliação do que constitui depois, se tornar centrais à teoria pós-
cultura permite que se veja a chamada colonial ista. A perspectiva de Freire era.
"cultura popular" como um conhecimen- já em Pedagogia do oprimido, claramente
to que legitimamente deve fazer parte pós-colonialista, sobretudo em sua
do currículo. insistência no posicionamento episte-
Se Paulo Freire se antecipou, de certa mologicamente privilegiado dos grupos
forma, à definição cultural do currículo dominados: por estarem em posição
que iria caracterizar depois a influência dominada na estrutura que divide a so-
dos Estudos Culturais sobre os estudos ciedade entre dominantes e dominados,
curriculares, pode-se dizer também que esses grupos tinham um conhecimento
ele inicia o que se poderia chamar, no da dominação que os grupos dominantes
presente contexto, de uma pedagogia não podiam ter. Numa era em que o
pós-colonialista ou, quem sabe, de uma tema do "multiculturalismo" ganha tanta
perspectiva pós-colonialista sobre currí- centralidade, essa dimensão da obra de
culo. Como se sabe, a perspectiva pós- Paulo Freire pode talvez servir de ins-
colonialista, desenvolvida sobretudo nos piração para o desenvolvimento de um
estudos literários, busca problematizar currículo pós-colonialista que responda
as relações de poder entre os países '
as novas condições de dominação que
que, na situação anterior, eram coloniza- caracterizam a "nova ordem mundial".
dores e aqueles que eram colonizados.
O predomínio de Paulo Freire no
Essa perspectiva procura privilegiar a
campo educacional brasileiro seria
perspectiva epistemológica dos povos
contestado, no início dos anos 80, pela
dominados, sobretudo da forma como
chamada "pedagogia histórico-crítica" ou
se manifesta em sua literatura. Ao se
"pedagogia crítico-social dos conteúdos",
62
desenvolvida por Dermeval Saviani. Tal aquisição e fortalecimento do poder das
como Freire, Saviani não pretendia estar classes subordinadas. Neste sentido, a
elaborando propriamente uma teoria do pedagogia de Saviani aparece como a
currículo, mas sua teorização focaliza única, dentre as pedagogias críticas, a
questões que pertencem legitimamente deixar de ver qualquer conexão intrín-
ao campo dos estudos curriculares. Em seca entre conhecimento e poder. Para
oposição a Paulo Freire, Saviani faz uma Saviani, o conhecimento é o outro do
nítida separação entre educação e po- poder. A análise de Saviani não se alinha
lítica. Para ele, uma prática educacional nem mesmo com as análises marxistas,
que não consiga se distinguir da política dominantes na época, que enfatizavam
perde sua especificidade .A educação tor- o caráter necessariamente distorcido
na-se política apenas na medida em que - ideológico - do conhecimento, de
ela permite que as classes subordinadas modo geral, e do conhecimento escolar,
se apropriem do conhecimento que ela de modo particular. No contexto das
transmite como um instrumento cultural teorias pós-estruturalistas mais recentes,
que será utilizado na luta política mais que assinalam, seguindo Foucault, um
ampla.Assim, para Saviani, a tarefa de uma nexo necessário entre saber e poder, a
pedagogia crítica consiste em transmitir teorização curricular de Saviani parece
aqueles conhecimentos universais que visivelmente deslocada. No limite, exce-
são considerados como patrimônio da tuando-se uma evidente intenção crítica,
humanidade e não dos grupos sociais que é difícil ver como a teoria curricular da
deles se apropriaram. Saviani critica tanto chamada "pedagogia dos conteúdos"
as pedagogias ativas mais liberais quanto a possa se distinguir de teorias mais tradi-
pedagogia libertadora freireana por enfa- cionais do currículo. Na sua oposição à
tizarem não a aquisição do conhecimento pedagogia libertadora freireana, ela cum-
mas os métodos de sua aquisição. priu, entretanto, um importante papel
Há, na teorização de Saviani, uma nos debates no interior do campo crítico
evidente ligação entre conhecimento e do currículo. Embora sua influência tenha,
poder. Essa ligação limita-se, entretanto, ultimamente, diminuído, ela continua,
a enfatizar o papel do conhecimento na inegavelmente, importante.
63
Leituras
FREIRE, Paulo. Ação cultural para a liberdade. Rio:
Paz e Terra, 1976.
64