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MOVIMENTOS MANDIBULARES

Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2005

Para o entendimento da dinâmica criando reflexos condicionados. Pode ser


dos movimentos mandibulares, além dos modificado pelo Cirurgião Dentista,
quatro determinantes anatômicos do modificando-se o terceiro determinante.
aparelho estomatognático, deve-se também O quinto determinante esta direta-
considerar um quinto, o fator emocional do mente relacionado com o SNC é o estado
paciente ligado ao sistema nervoso central – emocional, estresse ou tensão do paciente,
SNC. que contribui para o apertamento dentário,
Os determinantes posteriores são as bruxismo, espasmo muscular, queixas
articulações temporomandibulares direita e sobre a ATM e outros.
esquerda, que estabelecem a relação Cinco são os fatores que incidem
temporomandibular e estão fora do controle sobre os movimentos mandibulares e os
do Cirurgião Dentista, exceto por via relacionam à morfologia oclusal:
cirúrgica (fig. 01A). 1- A posição fisiológica inicial que é a
O determinante anterior é a oclusão relação cêntrica - RC.
dentária, que estabelece a relação maxilo- 2- O tipo de movimento: rotação e
mandibular que pode ser modificada pelo translação.
Cirurgião Dentista, tendo a fonética e a 3- A direção do movimento e o plano em
estética como fatores limitantes (Fig 01B). que ocorre. Isto é necessário porque cada
cúspide e superfície oclusal tem
diferentes planos.
4- O grau do movimento e sua relação com
as superfícies oclusais.
5- Os significados clínicos do movimento,
que expressa diferenças entre os
pacientes.

1- Posição fisiológica inicial

Como posição fisiológica inicial dos


Fig. 01 – Determinantes anatômicos: A- ATM direita movimentos mandibulares, é considerada a
e esquerda e B - oclusão dentária RC, por ser a posição mais estável e mais
fácil de ser reproduzida (Fig. 02), podendo
Esses três determinantes têm como os pacientes se apresentar numa posição de
função delimitar mecanicamente o limite máxima intercuspidação habitual, que é uma
superior dos movimentos mandibulares e adaptação e não pode ser considerada como
programar o quarto determinante, referencial.
constituído pelo sistema neuromuscular A relação cêntrica deve ser a posição
proprioceptivo, presente também nas de eleição para o tratamento restaurador, em
ATMs, polpa e tecido periodontal, que pacientes que apresentam sinais e sintomas
enviam impulsos nervosos para o SNC, de oclusão traumática.
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Fig. 04 Plano sagital: A - movimento de translação


condilar, B – relacionamento dentário.

3- Direção dos movimentos (planos)

A direção dos movimentos se faz em


Fig 02 Posição condilar em relação cêntrica: A -
plano sagital, B - plano frontal e C - plano relação aos planos frontal, sagital e
horizontal. horizontal (fig. 05)

2 - Tipos de movimentos

A partir da posição inicial os movi-


mentos mandibulares de abertura, fecha-
mento, protrusão, retrusão e lateralidade são
executados pelos movimentos de rotação e
translação condilar, direcionados em planos
e graus distintos. Fig. 05 Planos: F – frontal, H – horizontal e S –
sagital.
Movimento de rotação é o movimento
de um corpo ao redor do seu centro (fig. 4- Grau de movimento
03).
O grau de movimento é um fator
importante, pois a maioria das funções
mandibulares ocorre ao menor grau de
abertura. A abertura máxima normal é de
aproximadamente 40 mm.

5- Significado clínico dos movimentos:

Expressa as diferenças entre os


pacientes, demonstrando que cada um
apresenta suas próprias relações maxilo-
Fig. 03 Movimento de rotação condilar: A - plano mandibular e temporomandibular.
sagital, B – plano frontal, C – relacionamento
dentário no plano frontal. Movimentos mandibulares
Movimento de translação é o movi- Movimento de protrusão é o movi-
mento de um corpo quando todos os seus mento mandibular na direção póstero-
pontos se movem em uma mesma direção anterior, de aproximadamente 10 mm.
ao mesmo tempo (fig. 04). No movimento protrusivo, os côndilos
deslizam sobre a eminência articular (guia
posterior), e simultaneamente os dentes
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incisivos inferiores deslizam sobre a fossa Movimento de trabalho é o movi-


lingual dos incisivos superiores (guia mento em direção ao lado para o qual a
anterior) (fig 06). mandíbula se desloca durante a função
mastigatória, com o côndilo rotacionando e
transladando sobre as paredes posterior e
superior da fossa mandibular do osso
temporal (fig. 09A e 09B). As cúspides
devem ser capazes de passar pelos planos
inclinados antagonistas sem contato (fig.
09C), quando houver uma guia canina de
proteção lateral (fig.10) ou, apresentarem
contatos contínuos de deslocamento quando
Fig. 06 – Movimento de protrusão mandibular, plano houver uma guia lateral de proteção por
sagital: A – deslize do côndilo sobre a eminência função em grupo (fig. 11). Esse movimento
articular, B – guia anterior. é de aproximadamente 10 mm.
A relação dos planos inclinados dis-
tais das cúspides dos dentes superiores e os
planos inclinados mesiais das cúspides dos
dentes inferiores, permitem a desoclusão de
todos os dentes posteriores, (fig. 07).

Fig. 09 Movimento para o lado de trabalho:


• relacionamento do côndilo com a parede superior e
Fig. 07: Movimento de protrusão mandibular, posterior da fossa mandibular do osso temporal, A
desoclusão dos dentes posteriores: A - plano sagital, – plano sagital, B – plano frontal
B.- plano horizontal. • relacionamento dos dentes posteriores, C - plano
frontal e D – plano horizontal.
Significado clínico das diferentes
relações côndilo-eminência e cúspide-fossa
(fig. 08).

Fig. 10 Guia canina de proteção lateral: A - trajeto da


Fig. 08: Significado clínico das diferentes relações guia pelo canino, plano sagital e plano frontal, B –
côndilo-eminência e cúspide-fossa, plano sagital: A- relacionamento côndilo-fossa e dentes antagonistas
rasa, B – média, C - profunda. no lado de trabalho, C - relacionamento côndilo-
fossa e dentes antagonistas no lado de balanceio.
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Movimento de balanceio ou não


trabalho é o movimento em direção ao lado
oposto de trabalho. No plano frontal, o
côndilo movimenta-se para anterior e para
baixo ao longo da parede mediana da fossa
mandibular, enquanto as cúspides funcio-
nais inferiores se movem para baixo,
anterior e medialmente, sem contatar os
planos inclinados antagonistas, (fig. 14, 15 e
16). Esse movimento é de aproximada-
mente 10 mm.
Fig. 11 Guia lateral de proteção em função em
grupo, plano frontal: A – trajeto da guia, B –
relacionamento côndilo-eminência e dentes
antagonistas no lado de trabalho, C - relacionamento
côndilo-eminência e dentes antagonistas no lado de
balanceio.

Significado clínico das diferentes


relações côndilo-eminência e cúspide-fossa
(figs. 12 e 13).

Fig. 14 - Movimento para o lado de balanceio:


relacionamento do côndilo com a parede mediana da
fossa mandibular do osso temporal, A – plano
sagital, B – plano frontal, C – plano horizontal

Fig. 12 Significado clínico das diferentes relações


côndilo-eminência e cúspide-fossa, plano frontal: A-
rasa, B – média, C - profunda.

Fig. 15 - Significado clínico das diferentes relações


côndilo-parede mediana e cúspide-fossa, plano
frontal: A - rasa, B - média, C - profunda.

Fig. 13 Significado clínico das diferentes relações


côndilo-eminência e cúspide-fossa, plano frontal: A-
rasa, B – média, C - profunda.
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trajetória de trabalho, P – trajetória de protrusão, B –


trajetória de balanceio.

Oclusão mutuamente protegida é um


esquema oclusal no qual os dentes
posteriores previnem o excessivo contato
dos dentes anteriores numa máxima
intercuspidação, (fig. 19) e os dentes
anteriores desocluem os dentes posteriores
em todos os movimentos excursivos da
Fig. 16 - Significado clínico das diferentes relações mandíbula.
côndilo-parede mediana (deslocamento imediato
lateral) e cúspide-fossa, plano frontal: A - profunda,
B –rasa.

Movimentos compostos, nestes


movimentos os contornos das paredes da
fossa mandibular e a trajetória condilar
mantêm uma relação de paralelismo com os
planos inclinados das fossas e das cúspides,
o que resultará, além do contorno das
mesmas, uma posição correta dos sulcos
através dos quais as pontas das cúspides
Fig. 19 - Oclusão mutuamente protegida: dentes
antagônicas podem mover-se sem contatos posteriores ocluídos e ATMs, protegendo os dentes
em suas trajetórias de protrusão, trabalho e anteriores, plano sagital.
balanceio, (figs. 17 e 18).
Oclusão anteriormente protegida é um
componente da oclusão mutuamente
protegida em que, o trespasse vertical e
horizontal dos dentes anteriores desocluem
os dentes posteriores em todos os
movimentos excursivos mandibulares, (fig.
20).

Fig. 17 - Movimentos compostos, relacionamento


côndilo-fossa e dentes antagonistas, plano frontal: A
– lado de trabalho B - lado de não trabalho.

Fig. 20 Oclusão mutuamente protegida: dentes


anteriores e ATMs, protegendo os dentes posteriores,
plano sagital.

Trespasse vertical (overbite, sobre-


mordida) é a distância em que os dentes
superiores se projetam verticalmente sobre
os dentes inferiores, na posição de máxima
Fig. 18 - Movimentos compostos, trajetórias das intercuspidação, (fig. 21V).
cúspides funcionais em suas respectivas fossas, Trespasse horizontal (overjet,
plano horizontal: A ponta de cúspide funcional, T –
sobressaliência) é a distância em que os
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dentes superiores se projetam horizontal- cúspides baixas, B: trespasse horizontal grande –


mente sobre os dentes inferiores, na posição cúspides altas
de máxima intercuspidação (fig.21H).

Fig. 21 – V:
trespasse vertical,
V H: trespasse
horizontal.

Todavia, os trespasses vertical e Fig. 24 - relação entre dentes anteriores (guia


anterior) e a altura das cúspides posteriores, nos
horizontal podem também indicar as
trespasses, A: horizontal e B: vertical.
relações verticais das cúspides antagonistas
(figs.22 23e 24). Movimento de Bennett é o movimento
de deslocamento lateral realizado pelo
corpo da mandíbula durante o movimento
de lateralidade, que é observado pelo
movimento do côndilo de trabalho (fig. 25).

Fig. 22 – Relação vertical das cúspides antagonistas


e trespasse vertical dos dentes anteriores, A:
trespasse vertical pequeno – cúspides baixas, B:
trespasse vertical grande – cúspides altas.
Fig. 25 - Movimento de Bennett: LT: lado de
trabalho, LB: lado de balanceio, plano horizontal.

Movimentos bordejantes são os movi-


mentos mandibulares extremos, limitados
pelas estruturas anatômicas (fig. 26A).
Envelope de movimentos de Posselt é
o espaço tridimensional delimitado pela
trajetória de um ponto na incisal de um
incisivo, durante os movimentos
mandibulares bordejantes (fig. 26B).

Fig. 23 – Relação horizontal das cúspides


antagonistas e trespasse horizontal dos dentes
anteriores, A: trespasse horizontal pequeno –
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Curva de Spee é a curvatura


anatômica no plano sagital, de sentido
ântero-posterior do alinhamento oclusal dos
dentes, partindo do ângulo incisal do canino
(ponta da cúspide), passando pelas cúspides
vestibulares dos pré-molares e molares,
continuando em direção à borda anterior do
ramo da mandíbula (fig. 29).

Fig: 26 - Movimento bordejante, plano sagital: A -


anterior e superior, B - envelope de movimentos.

Plano oclusal refere-se a uma


superfície imaginária que está relacionada
anatomicamente com o crânio, e que
teoricamente, é delimitado pelas bordas
incisais dos incisivos e as pontas das
Fig. - 29 Curva de SPEE
cúspides dos dentes posteriores.(fig. 27).
Curva de Wilson é a curvatura
anatômica no plano frontal, de sentido
vestíbulo-lingual, passando pelas cúspides
vestibulares e linguais dos dentes
posteriores de ambos os lados. A curva é
côncava no arco inferior e convexa no arco
superior, resultando principalmente das
diferentes inclinações axiais dos dentes
posteriores de ambos os arcos (fig.30).
Fig.- 27– Delimitação do plano oclusal, vista pelo
plano sagital.

Componente anterior de força, em


razão da inclinação que os dentes naturais
apresentam para a mesial, as resultantes das
forças oclusais se dissipam em direção ao
longo eixo e nos contatos proximais dos
dentes posteriores, e se anulam na linha Fig – 30: Curva de Wilson, em função no ciclo
mediana entre os incisivos centrais (fig. 28). mastigatório.

Curva de Manson é a curva de oclusão


na qual as cúspides e bordas incisais dos
dentes inferiores tocam ou se conformam a
um Segmento de uma esfera, com 8
polegadas de diâmetro, cujo centro se
localiza na glabela (fig. 31A).
Triângulo de Bonwill é o triângulo
equilátero, com lados de 10 cm, que une
ambos os côndilos aos ângulos mésio-
incisais dos incisivos centrais inferiores
Fig. – 28 - Componente anterior de forças. (1885). Este conceito já foi muito
contestado e desmistificado (fig. 31B).
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Fig. 33 - a: Ângulo de Fischer – plano sagital, RC:


relação cêntrica, T: trajetória do côndilo de trabalho,
B: trajeto do côndilo de balanceio, P: trajetória do
côndilo em protrusão.
Fig. – 31 A: Curva de
Monsan e B: triângulo de Quanto maior a distância intercon-
Bonwill dilar, menor será o ângulo formado pelos
trajetos lateralidade da mandíbula, fig. 34.

Ângulo de Bennett é o ângulo


formado pela trajetória de avanço do
côndilo do lado de balanceio com o plano
sagital, durante o movimento excursivo
lateral mandibular, visto no plano
horizontal, fig. 32. Tem em média 15 graus.
Durante esse desloca-mento, o côndilo se
movimenta para frente, para baixo e para
dentro. Fig. 34 - Relação entre as distancias intercondilares,
A – A1: grande e B – B1: pequena e as respectivas
trajetórias laterais da mandíbula observadas pelo
plano horizontal, na face oclusal dos dentes.

Bibliografia Consultada

GUICHET, N. F. Occlusion. Anaheim,


Califonia: Denar Corp., 1977. 117 p.
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Washington: Georgetown Uni-versity -
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Fig. 32 - Representação esquemática de A: ângulo de Washington, D.C. 1993. 60 p.
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sagital e a trajetória do movimento de protrusão, T: Pontificia Universidad Javeriana, 1975. 66
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Ângulo de Fischer é o ângulo formado PAIVA, H. J. et. al. Oclusão Noções e
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de protrusão e balanceio visto no plano Editora. 1997. 336 p.
sagital, fig. 33. POKORNY, D. K., BLAKE, F.P. Principles
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THE ACADEMY OF PROSTHO-
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Dentistry St. Louis, 1994. 112 p.

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