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29 December, 2022 | created using PDF Newspaper from FiveFilters.org

As pessoas consomem A produção e a venda de drogas continuam a ser realizadas sem


qualquer regulação, sendo o lucro frequentemente a única força

drogas. E agora? motriz dos dealers e a adulteração das drogas com outras
substâncias, algumas mais tóxicas que as próprias drogas, muito
frequente. Por exemplo, dados de análises a cocaína que circula na
Mar 30, 2017 09:25AM
Europa indicam que nos últimos anos a adulteração da cocaína
ronda os 40–60%, e que com grande frequência é detetada a
mistura de outras substâncias como levamisole (um desparasitante
que pode provocar doenças do sangue) ou a fenacetina (um
analgésico tóxico para os rins).

Regular a produção

Sabendo que 1) as pessoas vão inevitavelmente comprar e


consumir drogas, quer com um sistema legislativo mais repressivo
quer no mais liberal e que 2) a produção e distribuição de drogas
ficam a cargo de pessoas sem conhecimentos (e muitas vezes sem
escrúpulos); quais devem ser as medidas a adotar por um Governo
que quer proteger os seus cidadãos?

Para nós, sem muitas dúvidas, a regulação da produção e venda de


drogas seria o princípio. Não de uma forma despreocupada e
liberal, mas sim de forma cuidadosa, sofisticada e com restrições.
Esta é uma questão que certamente atormenta muitos decisores
Contudo, na impossibilidade imediata de vermos implementada
políticos e legisladores. Desde tempos antigos que o ser humano
esta regulamentação, faz sentido adotar outro tipo de medidas que
procura e consome substâncias para alterar o seu estado de
protejam as pessoas que consomem drogas.
consciência. Snifa, fuma, engole ou injeta drogas para amplificar,
entorpecer ou distorcer os sentidos e alterar disposição, mesmo A disponibilização de serviços de análises das drogas (drug
que isso envolva algum risco para a sua saúde. Diferentes checking) aos potenciais consumidores, é uma das respostas
governos tentaram abordagens distintas, umas mais liberais outras sensatas possíveis. Este tipo de serviços, para além de permitir a
mais punitivas, para restringir este tipo de comportamentos. No deteção de adulterantes tóxicos ou letais, possibilita informar os
entanto, há uma franja considerável da sociedade que consome, e potenciais consumidores sobre riscos, efeitos, doses e trabalhar
irá continuar a consumir, drogas. estratégias de gestão de prazeres e riscos associados ao consumo.

Há 16 anos Portugal deu um passo importante na politica de No essencial permite a quem vai consumir, e obrigatoriamente
drogas, descriminalizando o consumo e a posse de determinadas tem que recorrer ao mercado ilegal, tomar uma decisão o mais
quantidades para consumo pessoal. Uma medida que alcançou um informada possível sobre o seu consumo. Hoje, dia 31 de Março
enorme reconhecimento internacional e que nos permitiu resolver celebramos o Dia Internacional do Drug Checking, aproveitando
as elevadas taxas de consumos problemáticos dos anos 90. Hoje para lembrar que os serviços de análise de substâncias, apesar de
em dia as prevalências de consumo de drogas são baixas, quando considerados medidas preventivas essenciais no âmbito das
comparados com os números encontrados em países com políticas politicas de saúde pública, continuam sem financiamento em
repressivas quanto ao consumo, como, por exemplo, a Suécia. Portugal.

Ainda assim, as drogas continuam populares: num inquérito feito


em Portugal no dia da defesa nacional a 70 mil jovens de 18 anos,
31% dos inquiridos referiu já experimentou drogas pelo menos
uma vez, sendo que 10% referiram a cannabis, 7% as anfetaminas
e 5% a cocaína como substância consumida. Fica a dúvida, onde é
que aqueles 30% de jovens inquiridos foram comprar as suas
drogas?

A descriminalização das drogas foi uma tentativa, bem-sucedida,


de resolver muitos dos problemas relacionados com o mercado da
procura, como o acesso à informação e à saúde de quem consome
ou o afastamento dos consumidores do sistema judicial. No
entanto, os problemas associados ao mercado da oferta, ou seja, à
venda de drogas, continuam presentes como se de um régime
proibicionista se tratasse.

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