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RESPOSTA TECIDUAL
O estudo das respostas dos tecidos biológicos, como em qualquer estudo do
corpo humano e sua resposta ao seu ambiente, deve evoluir do normal para o anormal.
Os tecidos normais do corpo humano são agrupados em 4 categorias de acordo com
similaridades de função e estrutura (conjuntivo, muscular, nervoso e epitelial). Na
fisioterapia nós estamos preocupados principalmente com três destes tecidos: Tecido
conectivo (osso, cartilagem tendão, ligamentos e fáscias); músculo e nervos. Em
termos de ortopedia e traumatologia é importante entender o comportamento
mecânico e função destes tecidos e, acima de tudo, conhecer a reação destes tecidos
ao trauma, imobilização, agentes fisioterápicos e ao exercício.
O TECIDO NORMAL
Músculo
O músculo é o tecido caracterizado pela contratibilidade celular. Este tecido é
uma estrutura composta consistindo de células musculares ou fibras, e uma rede de
tecido conectivo que transmite a força produzida pelas células musculares. O
sarcômero, a unidade contrátil básica da célula muscular, é composto de actina e
miosina. Estas proteínas contráteis são arranjadas em um padrão específico, o qual dá
ao tecido muscular a aparência estriada. Estes sarcômeros são ainda arranjados em
paralelo para formar as miofibrilas (fibra muscular ou célula), que por sua vez se
arranjam em grupos para formar os fascículos e, finalmente, o músculo.
Outras propriedades da estrutura muscular, particularmente relacionadas com
os conteúdos do sarcoplasma, permitem que as fibras musculares sejam classificadas
como vermelhas (I) brancas (IIa) ou intermediárias (IIb). Estas características afetam
não somente as propriedades contráteis da fibra muscular mas também sua resposta ao
exercício e à imobilização.
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O TECIDO CONECTIVO
O tecido conectivo é encontrado em quase todo o corpo. Ele funciona como
um envelope fibroso para tecidos mais moles, como uma barreira mecânica e química
e como um caminho para os vasos sanguíneos e nervos. O tecido conectivo é
geralmente classificado como frouxo, denso, regular ou irregular dependendo do
arranjamento e quantidade de fibras de colágeno dentro deste tecido. Tendões e
ligamentos são considerados como um tecido conetivo denso. Estruturalmente, o
tecido conectivo denso é 70% de água, 26% de colágeno, 1% de elastina e 3% de
células e glicosaminoglicanas (GAG). O colágeno representa 80 % do peso seco do
tecido conectivo e é a única proteína resistente à tensão nos ligamentos, tendões e
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cápsulas articulares. Os colágenos dos tipos I, II e III são os mais comuns. Tendões,
ligamentos e ossos possuem primariamente colágeno do tipo I, uma vez que este
possui a maior força tensil entre todos. O colágeno do tipo II está associado a
fibrocartilagem e cartilagem, enquanto o colágeno do tipo III está presente em tecidos
imaturos ou em processo de cicatrização, possuindo baixa força tensil.
A força tensil até o ponto de ruptura do colágeno foi estimada entre 45 e 125
N/mm2, sendo de 3 a 6 vezes maior que a tensão máxima isométrica gerada sobre o
tendão (Harkness, 1968). Alguns estudos sobre o colágeno humano relataram que a
força necessária para a ruptura da fáscia plantar foi de 91 kgf e de 40 kgf para o
ligamento cruzado anterior. Em termos clínicos, podemos falar que um tecido
conectivo denso e regular como o tendão é muito forte. Os tendões geralmente
rompem-se na sua inserção óssea e não na sua substância. A força destes tecidos é
altamente dependente da disposição e quantidade do colágeno contido neles. Os
outros componentes do tecido conectivo são água e GAG. Eles fornecem
propriedades biomecânicas importantes a estes tecidos. A água e GAG criam um
material gelatinoso que age como lubrificante e mantém o espaço entre as fibras do
colágeno, assim, eles permitem um deslizamento normal entre as fibras e
proporcionam um comportamento viscoelástico aos tecidos colaginosos.
Uma vez que os tecidos conectivos densos (tendões, ligamentos, cápsulas etc)
formam a maioria dos tecidos acometidos em traumatologia, o conhecimento da
estrutura dos tecidos colaginosos é essencial na identificação e tratamento de lesões.
O colágeno e GAG são produzidos por fibroblastos, as células do tecido
conectivo. Uma molécula precursora do colágeno é elaborada dentro do fibroblasto e
então secretada como o tropocolágeno. O tropocolágeno é então montado em série
através de ligações intra e intermoleculares (cross-links) para formar as fibras de
colágeno. A força tensil até o ponto de ruptura do tropocolágeno é 10 vezes maior do
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que a força da fibra. Portanto, a ruptura do tecido conectivo ocorre nos cross-links
(Gustavson, 1956).
OSSO
O osso é essencialmente um tecido conectivo mineralizado altamente
vascularizado, que altera sua estrutura constantemente. Os ossos podem ser
considerados como um sistema passivo formado por colágeno, endurecido por um
recheio denso de fosfato de cálcio interespaçado por pequena quantidade de água,
proteínas amorfas e células. O osso pode ser considerado como um suporte rígido
para o corpo ou como um reservatório mineral. Estruturalmente, o osso é similar a
outras formas de tecidos conectivos no seu principal constituinte (colágeno) mas
difere na quantidade e tipo de componentes. Os ossos são substâncias mineralizadas
ao passo que o tecido conectivo contém água e GAG. Ossos recebem um suprimento
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nutricional, através de seus próprios vasos, maior do que qualquer outro tecido
conectivo, os quais são em sua maioria avasculares. Os Ossos possuem mais células
por área do que qualquer outro tecido. Devido a essa grande vascularidade e
celularidade, o osso é capaz de uma mudança rápida, incluindo cicatrização e
remodelação.
CARTILAGEM
As células encontradas no tecido articular são os condroblastos, condrócitos,
fibroblastos e fibrócitos. Os condrócitos são responsáveis pela produção de
proteoglicanas e fibras colágenas que são os principais constituintes da matrix
cartilaginosa. Portanto, a cartilagem é um tecido conectivo especializado. A
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O TECIDO SINOVIAL
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O TECIDO NERVOSO
O tronco nervoso é composto de fibras nervosas (sensorial, visceral e motora),
vasos sanguíneos e tecido conectivo. Em torno da membrana basal de cada fibra
mielinizada ou grupo de fibras não mielinizadas existe o tubo endoneural. Grupos de
tubos são cercados pelo perineuro para formar os fascículos. Estes fascículos são
suportados pelo epineuro interno e envoltos pelo epineuro externo. O tronco nervoso é
então cercado por uma membrana de tecido conectivo chamada de mesoneuro. O
epineuro, perineuro e endoneuro fornecem um forte suporte para as células nervosas.
Colágeno e algumas fibras de elastína entrelaçam em todas as direções para formar
um padrão reticular. O perineuro se organiza em camadas suportando os pequenos
vasos que passam através dele. O endoneuro ajuda a manter um ambiente neural
adequado.
Nervos não são estruturas homogêneas. Em torno de 50% de um nervo
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periférico é tecido conectivo, embora esta quantidade varie de 80% (nervo ciático) a
22% (nervo ulnar). Além disso, o arranjo fascicular difere entre nervos. O padrão
fascicular varia de um a vários fascículos de tamanhos variados. Quanto mais
fascículos maior a relação entre tecido conectivo e tecido nervoso. Assim nervos
respondem de maneira diferente às forças aplicadas.
O Tecido Ósseo
Como poderia se esperar, o osso é considerado mais rígido (resistente à
deformações) do que músculo, tecido conectivo ou nervos devido a sua matrix
inorgânica. Uma vez que o componente de colágeno do osso está embebido nesta dura
matrix mineralizada, ele não é capaz de mudanças rápidas em resposta às aplicações
externas de força. Como definido pela lei de Wolff, o osso responde às forças
aplicadas sobre ele, mas requer mais tempo, frequentemente semanas ou meses, para
manifestar esta mudança. A força do osso também varia de acordo com a direção do
stress. O osso não é uniforme, sendo mais forte onde ele é submetido às maiores
forças. O osso é mais forte em compressão e mais fraco em ações torsionais. Esta
fraqueza do osso a movimentos torsionais e sua lenta resposta fisiológica são
propriedades importantes ao se aplicar técnicas de mobilizações sobre um osso que
pode estar enfraquecido por uma osteoporose por imobilização.
Resposta do Tecido Ósseo ao Stress
O Tecido Cartilaginoso
Forças (estresse) repetitivas sobre a cartilagem parece ser o principal
mecanismo que afeta as propriedades mecânicas da cartilagem. Tem sido teorizado
que cargas repetitivas levam a microfraturas do osso subcondral, causando uma
ativação de um centro secundário de ossificação que faz com que a região calcificada
se expanda e diminua a região não calcificada da cartilagem. Este processo leva a um
aumento das forças de cisalhamento das regiões profundas e diminuição da
capacidade do tecido em absorver (dissipar) o estresse.
A cartilagem reage de maneira importante a estímulos mecânicos. Na
diminuição de carga causada por desuso ou denervação foi observado uma diminuição
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O Tecido Nervoso
Nervos periféricos são estruturados para funcionar alongando e deslizando durante
uma variedade de movimentos corporais. Em algumas posições o tecido neural pode
ser colocado em extrema tensão. Nestas situações o tecido reage movendo-se e
absorvendo parte da força aplicada. Nervos podem sustentar cargas de 70 a 220N
antes de romper, embora danos possam ocorrer com forças bem menores. Alguns
nervos, como o nervo mediano, pode alongar de 20% a 30% do seu comprimento
normal. Durante o alongamento o perineuro tensiona a pressão intraneural aumenta e
os capilares intrafasciculares param de fluir. Forças que temporariamente
interrompem o fluxo são normais e não causam problemas. Quando as cargas
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O Tecido Muscular
O músculo responde ao stress mecânico ao se alongar passivamente e por uma
mudança da sua capacidade de gerar tensão. Esta mudança é bem representada pela
curva tensão X comprimento. A mudança na capacidade de gerar tensão pelo músculo
é possivelmente resultado da resposta elástica do tecido conectivo que envolve o
músculo, como também pela mudança da posição dos filamentos de miosina e actina
durante a contração muscular. Pesquisas com microscopia eletrônica mostram que a
capacidade de gerar tensão por estes filamentos possui uma pequena tolerância às
variações do comprimento. Uma vez que músculos diferentes possuem diferentes
alinhamentos de fibras musculares, cada músculo possui sua própria posição de
produção máxima de força.
TRAUMA E INFLAMAÇÃO
Resposta tecidual não específica (tecido conectivo)
Os tecidos biológicos sofrem traumas mecânicos na forma de tensão,
compressão, forças torsionais ou cortantes. O músculo, tecido conectivo ou osso
resiste a este trauma de diferentes formas dependendo do componente específico do
tecido, do estado fisiológico destes tecidos ou da magnitude, velocidade e direção da
força. Independentemente deste trauma, uma vez que o dano mecânico tenha
ocorrido, a resposta biológica inicial é um processo inflamatório generalizado não
específico.
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Lesão óssea também pode ser causada por estresse submáximo. Atividades
prolongadas, repetitivas onde uma carga é aplicada continuamente sobre o tecido
ósseo pode levar a uma fadiga estrutural do tecido. Esta fadiga pode manifestar
inicialmente como uma lesão do periósteo e evoluir para uma fratura de estresse. Esta
fratura é o resultado de uma taxa de destruição tecidual maior do que a capacidade de
remodelação óssea.
Músculo
Músculos são frequentemente lesados em compressão, resultando em uma
contusão que é evidenciada através de um sangramento intramuscular e ruptura de
fibras musculares. Espasmo muscular, proveniente da dor ou da conseqüente
proliferação celular e de fluidos da resposta inflamatória, pode ocorrer. Este espasmo
limitará a ADM das articulações próximas. O grau de limitação pode servir como uma
indicação da severidade da lesão. Uma lesão severa pode resultar uma miosite
ossificante: a formação de tecido ósseo dentro de um músculo. Cautela deve ser usada
ao se mobilizar ou exercitar um músculo severamente contundido, uma vez que
traumas repetidos parecem estimular o processo de ossificação.
Tensão excessiva também pode causar uma lesão muscular; isto é chamado de
distensão. Esta distensão pode romper fibras do colágeno e fibras musculares se o
ponto de resistência máxima do tecido for atingido. A resposta inflamatória
generalizada de uma inflamação aguda, reparo e remodelação irão ocorrer. Uma vez
que o tecido muscular possui um potencial limitado para regeneração, qualquer
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IMOBILIZAÇÃO
Os efeitos da imobilização foram bem estudados nos ossos, tecido conectivo e
músculos. A conseqüência geral da imobilização é primariamente a perda dos
componentes básicos do tecido. No tecido conectivo, por exemplo, ocorre uma
deposição aleatória das fibras do colágeno. O resultado final desta mudança
fisiológica é sempre a perda da função básica do tecido. O tamanho da perda
funcional depende do grau de perda de componentes básicos. No osso, a capacidade
de suporte e reserva de mineral é diminuída; no músculo, a força é comprometida; no
tecido conectivo, extensibilidade e resistência à tensão são reduzidas.
TECIDO CONECTIVO
Akeson, Amiel e Woo estudaram exaustivamente os efeitos da imobilização
sobre o tecido conectivo. Eles encontraram mudanças nas fibras do colágeno, na
concentração GAG e no conteúdo de água do tecido conectivo em torno de
articulações imobilizadas. Na substância intercelular, o conteúdo de água diminuiu
em 3 a 4% e o tecido parecia áspero ao invés de liso. Uma diminuição ainda maior,
20%, foi observada nas GAG da substância intercelular. Entretanto, a concentração de
colágeno permaneceu inalterada. Foi concluído que a perda de água e GAG diminui o
espaço entre as fibras do colágeno e assim alterando o movimento entre as fibras. Esta
falta de movimentação livre tenderia a tornar o tecido menos elástico, menos plástico
e mais quebradiço.
Outra importante mudança provocada pelo processo de imobilização é o
aumento da taxa metabólica do colágeno, com aumento da degradação e síntese desta
estrutura. Com a ausência do stress normal durante o período de imobilização,
associado à degradação do colágeno existente e à produção de um colágeno imaturo,
as novas fibras de colágeno seriam depositadas em um padrão aleatório, e as ligações
intermoleculares poderiam se formar em locais indesejáveis, inibindo o deslizamento
normal entre as fibras. Este processo resultaria, portanto, em uma limitação articular
da região imobilizada.
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OSSO
O crescimento e absorção do osso são mantidos em equilíbrio pelo suporte de
peso e contração muscular. Entre 10 a 15 dias de imobilização, a taxa metabólica do
osso sofre uma mudança. Alguns autores relatam um aumento inicial na formação e
absorção do osso, com uma certa predominância da reabsorção. Como resultado o
conteúdo ósseo é diminuído e isto reflete em um aumento na concentração de cálcio
na urina. O aumento da eliminação de hidroxiproline (aminoácido envolvido nas
ligações químicas do colágeno) pela urina, indica uma destruição de componentes
orgânicos e inorgânicos do osso.
Uma perda localizada de osso é percebida numa radiografia quando a perda,
em um determinado seguimento, representa 2% de todo cálcio corporal. Esta perda
óssea é mais pronunciada no osso esponjoso das metáfises e epífises ósseas,
especialmente abaixo da cartilagem articular. Uma osteoporose verdadeira, uma
diminuição da massa total do esqueleto ósseo, não é detectável radiograficamente até
que 40 a 50% do conteúdo ósseo do corpo tenha sido perdido. As propriedades
mecânicas do osso também são alteradas com a perda dos componentes orgânicos e
inorgânicos do osso. A resistência (dureza) do osso diminui com o tempo de
imobilização. Em torno da 12ª semana esta dureza é 55 a 60% do normal. A
resistência elástica também diminui e o osso torna-se mais quebradiço e, portanto,
mais fácil de se fraturar. A maioria destas perdas são recuperadas em um tempo
comparável ao do período de imobilização se ele não exceder 4 semanas. Os
componentes perdidos durante o período de imobilização de 12 semanas são também
recuperáveis mas requerem um período maior para se recuperar
As causas de osteoporose têm sido associadas com uma mudança no fluxo
sangüíneo durante a imobilização e falta de uma estimulação mecânica normal. Dois
pesquisadores, Geiser e Trueta, mostraram em ratos imobilizados uma diminuição nos
vasos sanguíneos após o 4º ou 5º dia. Nas próximas 4 a 5 semanas o osso tornou-se
hipervascular e tanto a formação quanto a absorção óssea aumentaram. Este aumento
foi seguido por um período de hipovascularidade durante o qual toda atividade
diminuiu. O osso esponjoso, nestes ratos mostrou apenas uma fina rede trabecular. Foi
concluído que a falta de contração muscular reduziu o efeito de sucção sobre o
retorno venoso e deprivou as áreas distais de sangue arterial. Burr e Frederickson
observaram que estimulação muscular com eletrodos implantados durante a fase de
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MÚSCULO
Mudanças provocadas por imobilizações em músculos tem sido bem
investigadas. Cooper observou que mudanças ultraestruturais em músculos
imobilizados começam a aparecer dentro de duas semanas. Esta mudança se
manifesta como uma diminuição no tamanho das fibras devido a perda de miofibrilas.
Os elementos do sarcômero perdem sua configuração normal e alinhamento. As
mitocôndrias diminuem em tamanho e número. À medida que a degeneração
prossegue, em algumas fibras todas as miofibrilas degeneram e as fibras encolhem.
Próximo às células degeneradas, o número de macrófagos aumentam. Um infiltrado
gorduroso e tecido conectivo acumulam no músculo em estado de degeneração. O
peso líquido do músculo diminui em 25%. À medida que o músculo perde peso, sua
habilidade de gerar tensão também diminui em uma proporção ainda maior.
Os elementos neurais do músculo (fusos, pontos nervosos etc) parecem não
ser afetados pelo período de imobilização. Tabary achou que músculos imobilizados
em uma posição encurtada por 4 semanas perdem 40% dos seus sarcômeros originais
e requerem um tempo semelhante para a sua recuperação. Neste mesmo estudo,
músculos imobilizados em uma posição alongada ganharam 20% de sarcômeros e não
houve nenhuma mudança na curva comprimento X tensão normal do músculo. Não
houve também nenhuma mudança na resposta (resistência) à movimentação passiva.
Os músculos imobilizados em uma posição encurtada mostraram uma reação oposta e
as fibras do tipo I foram afetadas primeiro, sendo este fato justificado pela diminuiçao
do tamanho e número de mitocôndrias no músculo.
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Relevância Clínica
As aplicações clínicas do conhecimento de um tecido imobilizado são várias.
O osso que sofre uma osteoporose local após a fratura ou imobilização é menos capaz
de suportar peso ou forças normais de compressão, tensão ou torção. Cuidados devem
ser aplicados ao se usar técnicas manuais (mobilização) em uma articulação que tenha
sido sujeita à imobilização ou próxima a um local de fratura. Frequentemente
pacientes com capsulites adesivas (ombro congelado) são velhos e podem ter uma
osteoporose associada à idade e imobilização. Cuidados devem ser tomados para
graduar as forças dentro da tolerância de dor do paciente e capacidade de absorção de
força pelo tecido ósseo.
Músculos que foram imobilizados serão fracos devido a perda de constituintes
intercelulares que são necessários para a contração muscular e também pela
diminuição do armazenamento de substratos produtores de energia para o músculo.
Os músculos podem também estar encurtados se forem imobilizados em uma posição
encurtada, pois o número de sarcômeros será reduzido e, principalmente, pelo fato do
tecido conectivo intramuscular poder formar ligações intermoleculares anormais.
Uma vez que a fibras lentas (tipo I) parecem ser afetadas primeiro, fadiga e baixa
resistência serão evidentes em atividades posturais e em atividades que necessitem
uma contração sustentada. Quando o músculo entra em fadiga, sua habilidade para
absorver shock e proteger as articulações próximas estará comprometida. Em suma,
músculos que foram imobilizados ou lesados não possuem a mesma capacidade
contrátil do músculo normal. Desta forma os regimes terapêuticos devem ser alterados
e/ou progredir de acordo com o entendimento destas mudanças.
O tecido conectivo é comprometido em sua força, resistência e extensibilidade
após a imobilização. Isto pode ser usado para uma vantagem terapêutica ao se alongar
um tecido conectivo anormal logo após a imobilização. Isto também pode ser um
fator para se limitar a quantidade de stress que pode ser aplicada sobre ligamentos e
tendões. O conhecimento do processo de cicatrização do tecido conectivo, a curva
tensão - deformação, o comportamento viscoelástico do tecido e os efeitos da
imobilização são essenciais para se exercer um bom julgamento terapêutico durante a
remobilização deste tecido.
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REMOBILIZAÇÃO
Mobilização de lesões músculo-esqueléticas tem mudado grandemente em
algumas práticas clínicas nos últimos anos. A criação do conceito e tecnologia da
movimentação passiva contínua (CPM) trouxe uma nova dimensão na prevenção de
deformidades e limitações de ADM após uma lesão, e para promover a cicatrização
da cartilagem articular e do tecido conectivo. Cirurgias modernas, antibióticos, o uso
imobilizadores externos e estimulação elétrica intra-gesso diminuíram o período de
imobilização necessário para uma cicatrização adequada. Médicos e fisioterapeutas
estão praticando, cada vez mais, mobilização precoce de lesões dentro de parâmetros
aceitáveis e com bons resultados em termos de cicatrização e estabilidade.
Recuperação do músculo acontece a uma taxa mais rápida e mais cedo após
um trauma ou imobilização do que no osso ou tecido conectivo, provavelmente
devido ao suprimento sangüíneo superior do tecido muscular. Um músculo
imobilizado por 4 semanas necessita de um tempo igual para a sua recuperação, do
mesmo modo que acontece com o osso imobilizado por este mesmo período. O osso
imobilizado por períodos maiores, entretanto, necessita proporcionalmente de maior
tempo para a sua recuperação. O tecido conectivo é o tecido mais lento em termos de
retorno ao normal após imobilização ou lesão. Isto deve ser devido a sua baixa taxa
metabólica e vascularidade pobre. Ligamentos que foram lesados começam a reobter
força tensil por volta da 5º semana após a lesão, dependendo de sua severidade. Um
ligamento em fase de cicatrização pode ter em torno de 50% de sua força normal por
volta de 6 meses após a lesão, 80% após 1 ano e 100% somente após 1ano e 3 meses,
dependendo do tipo de stress aplicado sobre o tecido e na prevenção de uma lesão
repetida. Assim, estressar um tecido conectivo é importante para uma recuperação
total, entretanto, este estresse deve ser adequadamente graduado para evitar uma nova
lesão. Pacientes com lesões ligamentares ou reconstruções necessitam ser avisados
sobre um retorno gradual para o seus níveis de atividade anterior à lesão. Uma vez
que existem poucos estudos sobre o exato estresse que as atividades funcionais e
esportivas provocam sobre as estruturas articulares, mobilização é apenas uma
questão de julgamento clínico. Devido ao fato que os ligamentos possuem um
suprimento sangüíneo pobre, dor não pode ser o único fator para guiar a execução de
qualquer atividade. As superfícies articulares também são vulneráveis às lesões
através de um aumento repentino da carga funcional. Desde que os efeitos de
pequenas imobilizações periódicas parecem ser cumulativos, é importante evitar o
estresse de um membro recentemente imobilizado para prevenir novas lesões e, por
conseguinte, um novo período de imobilização.
Estudos sobre a resposta da cartilagem articular, artroplastias totais, lacerações
tendinosas, transplantes tendinosos, e lesões de partes moles à movimentação passiva
ou intermitente revelaram um aumento na velocidade de cicatrização, uma
recuperação precoce da ADM total, e uma força aumentada em relação a grupos de
controle que sofreram imobilizações. Vários pesquisadores encontraram que
exercícios regulares e stress tiveram um efeito benéfico no aumento da massa de
ligamentos e tendões e tornaram estes elementos mais resistentes e capazes de tolerar
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Texto montado por Sérgio Teixeira da Fonseca à partir das seguintes Referências:
Gould III JA, Davies GJ: Orthopaedic and Sports Physical Therapy. C.V. Mosby
Company, St. Louis, 1985.
Zachazewski JE, Magee DJ, Quillen WS: Athletic Injuries and Rehabilitation.
Saunders, Philadelfphia, 1996.
Akeson WH, Woo SLY, Amiel D, Frank, CB: The chemical Basis of Tissue Repair.
In: Hunter, LY and Funk FJ Jr: Rehabilitation of the Injured Knee. . Mosby Company,
St. Louis, 1984.