Nós, artistas, curadores, arte-educadores, produtores, professores e
estudantes de arte, museólogos e demais profissionais do setor cultural de Goiás, manifestamos nosso desagravo e repúdio à proposta da Secretaria de Estado da Educação, Cultura e Esporte de destinar a atual sede da Galeria Frei Nazareno Confaloni, e salas contíguas, à futura instalação da Quasar Cia de Dança, ação que descaracterizará a vocação histórica e pública do espaço e prejudicará o segmento das artes visuais, que tanto tem contribuído para o enriquecimento cultural do Estado.
A Galeria Frei Nazareno Confaloni é o mais antigo órgão criado pelo
Governo do Estado para abrigar as atividades de artes visuais. Foi fundada em 1979 em homenagem à memória de Frei Nazareno Confaloni, que havia falecido em 1977. Durante os trinta e oito anos de seu funcionamento a Galeria passou por diferentes sedes, até que em 2006 foi, por decreto de vossa excelência, transferida (acreditamos que em caráter definitivo) para a antiga sede do Museu de Arte Contemporânea de Goiás, no Edifício Parthenon Center. O MAC foi inaugurado em 1988 no Centro Cultural Octo Marques, equipamento que também recebeu o nome de um dos pioneiros das artes plásticas, falecido naquele mesmo ano, sendo este um dado que o vincula ainda mais à história das artes visuais. Durante os dezoito anos em que funcionou em sua sede original, o MAC criou grande parte de sua história e gerou uma memória cultural específica que a Galeria Frei Nazareno Confaloni logra como herança simbólica.
São quase três décadas de atividades desenvolvidas no espaço do
mezanino do Parthenon Center, que atualmente sedia a Escola de Artes Visuais (destinada à iniciação) e três salas de exposição: Galeria Frei Nazareno Confaloni, Galeria Sebastião dos Reis e Sala Samuel Costa. Logo, são quatro espaços de artes visuais suprimidos, atingindo drasticamente o segmento artístico.
É de conhecimento de todo o meio cultural goiano a importância que
o espaço tem para a história das artes visuais; são conhecidas suas qualidades de localização e de acesso ao público, sua potencialidade dada pela grande dimensão e pelo alto pé direito das salas de exposição, que recebem generosamente mostras de diferentes formatos. Enfim, é compartilhado entre os agentes do circuito o sentimento coletivo de pertencimento a este endereço.
Salientamos que o espaço físico há mais de década não recebe
reforma estrutural, da qual necessita urgentemente, e que apenas passou por reformas paliativas que não mais resistem. A Galeria Confaloni e espaços contíguos necessitam de investimentos para adequação das suas condições físicas, necessitam de profissionais capacitados e de programas efetivos de atuação para cumprirem suas diferentes funções no circuito de arte. Ao longo dos anos a ausência de investimentos acarretou o mau funcionamento, a inoperância, a fragilidade e o sucateamento, fatores que agora parecem ser usados como argumentos para seus desmontes.
Outro seríssimo agravante contido na proposta é o apagamento da
memória de frei Nazareno Confaloni. Neste ano de 2017, quando todo o meio cultural goiano comemora o centenário de seu nascimento e os quarenta anos de seu falecimento – honrando sua memória com a realização de exposições, seminários e missas, com publicações de livros sobre sua vida e sua obra –, a extinção do aparelho cultural histórico que leva seu nome implica no desprezo e no desrespeito por sua capital contribuição, além de constituir um constrangimento vexatório ao Governo do Estado e à SEDUCE. Não é demais destacar que Confaloni é um nome canônico de grande relevância para a origem e desenvolvimento das artes visuais em Goiás e que o apagamento de sua memória é motivo de repulsa.
O desmonte danoso dos equipamentos de artes visuais, por meio de
um processo sem publicidade à sociedade, visa favorecer a Quasar Cia de Dança, uma companhia privada que será transformada em Organização Social (OS). Não desejamos aqui colocar em questão o relevante trabalho desenvolvido pela Quasar, que tendo um lastro histórico de significativos espetáculos é uma referência para a dança contemporânea em Goiás, e por isto mesmo é merecedora de espaço a sua altura.
Nosso objetivo é chamar atenção para o pertencimento histórico e a
utilidade deste local às artes visuais, e para o grave crime contra a memória cultural goiana que se consuma com a retirada do nome de Nazareno Confaloni de um aparelho do Estado, e mais, desejamos manifestar nosso entendimento de que se trata de uma operação equivocada e, sobretudo injusta, de extrair o espaço das artes visuais para oferecê-lo à dança, valorizando uma área em detrimento de outra.
Diante do exposto, solicitamos a Vossa Excelência que pondere
sobre as implicações contidas na nossa argumentação e que não dê prosseguimento a operação de supressão dos espaços de artes visuais no Centro Cultural Octo Marques, que caso se conclua virá prejudicar vasto número de profissionais e gerar um dano irreparável ao futuro da arte produzida em Goiás.
Goiânia, 08 de fevereiro de 2017.
Divino Sobral
Artista visual, pesquisador e curador independente.