Você está na página 1de 13

See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.

net/publication/26452385

Prevalence, etiological factors, and treatment of infant exogenous obesity

Article  in  Revista Brasileira de Cineantropometria e Desempenho Humano · June 2003


Source: DOAJ

CITATIONS READS

6 24,403

2 authors, including:

Edio Petroski
Federal University of Santa Catarina
55 PUBLICATIONS   894 CITATIONS   

SEE PROFILE

Some of the authors of this publication are also working on these related projects:

Master degree View project

School-based Multicomponent Intervention on Physical Fitness Related to Health and Body Image View project

All content following this page was uploaded by Edio Petroski on 26 May 2014.

The user has requested enhancement of the downloaded file.


Revista Brasileira de Cineantropometria & Desempenho Humano ISSN 1980-0037

Artigo original Ludmila Dalben Soares 1


Edio Luiz Petroski 2

PREVALÊNCIA, FATORES ETIOLÓGICOS E


TRATAMENTO DA OBESIDADE INFANTIL.
PREVALENCE, ETIOLOGICAL FACTORS, AND
TREATMENT OF INFANT EXOGENOUS OBESITY.

RESUMO

Nos últimos anos, o interesse sobre os efeitos do ganho de peso excessivo na infância tem
aumentado consideravelmente, devido ao fato que o desenvolvimento da celularidade adiposa neste período
ser determinante nos padrões de composição corporal de um indivíduo adulto. Este trabalho teve como objetivo
investigar a prevalência da obesidade infantil, identificar os possíveis fatores etiológicos além de verificar quais
as intervenções que se destacaram nesta última década como forma de diminuir e/ou prevenir a obesidade em
crianças. Os resultados encontrados foram que a obesidade é uma das enfermidades nutricionais que mais têm
apresentado aumento de sua prevalência, tanto nos países desenvolvidos quanto nos em desenvolvimento. Em
relação aos fatores etiológicos relacionados com o desenvolvimento da obesidade na infância são determinantes
o desmame precoce, introdução de alimentos inadequados e a inatividade física. Para o tratamento do obeso
infantil, é importante a atuação de equipe multiprofissional (médico, nutricionista, psicólogo, e o educador
físico). Existem, porém, algumas recomendações gerais a serem seguidas: dieta balanceada que determine
crescimento adequado e manutenção de peso; exercícios físicos controlados além do apoio emocional individual
e familiar. Para melhores resultados no tratamento é importante a cooperação dos pais. A escola tem papel
fundamental ao modelar as atitudes e comportamentos das crianças sobre a atividade física e nutrição.

Palavras-chave: obesidade infantil, tratamento da obesidade, sobrepeso.

ABSTRACT

In the last few years, there has been considerable interest in the effects of excessive weight gain
during childhood, due to the fact that the development of fat tissue in this period is a determinant of adult body
composition. The objective of this study was to investigate the prevalence of infant obesity, to identify possible
etiological factors, and to highlight treatments that have been used to reduce and/or prevent child obesity.
Results have shown that obesity has increased more than any other nutritional problem in both developed and
developing countries over the last decade. Etiological factors linked to childhood obesity were early weaning,
introduction of inadequate nutrition, and physical inactivity. The treatment of childhood obesity requires a
multidisciplinary team consisting of a doctor, nutritionist, psychologist, and physical educator. There are also
some general recommendations to be followed: a balanced diet for adequate growth and weight control, and
controlled physical exercise together with individual and family emotional support. Parental cooperation is
important for the best results. Schools also have a fundamental role in teaching children positive attitudes and
behavior towards physical activity and nutrition.

Key words: obesity, infant obesity, treatment of obesity, overweight.

1
Profª. de Educação Física, NuCIDH
2
Profo. Dr. DEF/CDS/UFSC; NuCIDH
64 Soares & Petroski

INTRODUÇÃO antropometria nacionais e internacionais). (Dâ-


maso et al., 1995).
As altas taxas da prevalência de obe- Existem outros métodos indiretos para
sidade na infância vêm preocupando profissio- o diagnóstico da obesidade, como a radiologia,
nais da área de saúde, por esse motivo estão a ultra-sonografia, a ressonância magnética ou
sendo feitas pesquisas a respeito da preven- a tomografia computadorizada, métodos labo-
ção, causas e tratamentos. Foi no início dos ratoriais como hidrometria, Impedância Bioelé-
anos noventa que a Organização Mundial da
trica (BIA), Infravermelho (NIRI) e a Densitome-
Saúde começou a soar o alarme, depois que
tria, mas todos esses métodos exigem equipa-
uma estimativa de que 18 milhões de crianças
mentos especializados e alto custo financeiro.
em todo o mundo, menores de 5 anos, foram
Todas essas técnicas têm por objetivo quantifi-
classificadas como tendo sobrepeso. A grande
car e classificar os diferentes níveis da obesi-
preocupação é o impacto econômico global, que
dade. Coutinho (1998), classifica a obesidade
esses futuros adultos obesos poderão causar
quanto:
(The Lancet, 2001).
- À idade de início: na infância – a par-
Conceitualmente, a obesidade pode ser
tir de um ano de idade “... já podem desenvol-
classificada como o acúmulo de tecido gordu-
ver-se casos de obesidade com tendência mai-
roso, localizado em todo o corpo, causado por
or à hiperplasia adipocitária e com maior
doenças genéticas, endócrino – metabólicas ou
propensão à resistência na vida adulta”.Durante
por alterações nutricionais (Fisberg, 1995). Se-
a idade adulta – em relação às mulheres o au-
gundo o Consenso Latino Americano em Obe-
mento de peso está relacionado, freqüentemen-
sidade (Coutinho, 1998) a obesidade é uma
te, com a gestação (principalmente aquelas que
enfermidade crônica que vem acompanhada de
múltiplas complicações, caracterizada pela acu- adquirem excesso de peso durante os três pri-
mulação excessiva de gordura. meiros meses da gravidez), os sujeitos do sexo
Katch e McArdle (1996) afirmam que masculino, freqüentemente aumentam o peso
pode haver três períodos críticos da vida, nos depois de mudanças de estilo de vida, como o
quais pode ocorrer o aumento do número de casamento.
células adiposas, ou seja, a hiperplasia (e tam- - Quanto à fisiopatologia: pode ser hi-
bém estão relacionados com os períodos críti- perfágica - comer excessivamente - podendo
cos de surgimento da obesidade), são eles: úl- ou não ser a causa da obesidade; e metabólica
timo trimestre da gravidez (os hábitos nuticionais - anormalidade hormonal que determina um bai-
da mãe durante a gravidez podem modificar a xo metabolismo;
composição corporal do feto em desenvolvi- - Quanto à etiologia pode ser:
mento), o primeiro ano de vida e o surto de cres- 1 - Neuroendócrina – problemas nas
cimento da adolescência. Este tipo de obesida- glândulas produtoras de hormônios de ordem
de (a hiperplásica) que já se manifesta na genética e/ou ambiental sendo a causa mais
infância, causada pelo aumento do número de freqüente o hipotireoidismo;
células adiposas no organismo, aumenta a difi- 2 - Iatrogênica – causada por drogas
culdade da perda de peso e gera uma tendên- como os psicotrópicos e corticosteróides ou
cia natural à obesidade futura. Quanto à obesi- lesões hipotalâmicas;
Volume 5 – Número 1 – p. 63-74 – 2003

dade hipertrófica, esta pode se manifestar ao 3 - Desequilíbrios nutricionais - dieta hi-


longo de qualquer fase da vida adulta, e é cau- perlipídica;
sada pelo aumento do volume das células adi- 4 - Inatividade física – baixo gasto ca-
posas. lórico desfavorecendo o equilíbrio metabólico
Para avaliar a obesidade na infância energético;
(até 10 anos), o método mais utilizado como 5 - Obesidade genética – doenças ge-
critério de diagnóstico é a relação peso/estatu- néticas raras com características disfórmicas.
ra (sendo considerados obesos aqueles indiví- O excesso de peso na infância, segun-
duos com a porcentagem do peso ideal acima do Salbe & Ravussin (2000), acontece geral-
de 120%, de acordo com dados referenciais de mente por uma combinação de fatores, incluin-
Prevalência, fatores etiológicos e tratamento da obesidade infantil. 65

do hábitos alimentares errôneos, propensão pode desencadear o início da obesidade já no


genética, estilo de vida familiar, condição sócio- primeiro ano de vida. Tendo em vista esses pro-
econômica, fatores psicológicos e etnia. Um fato blemas relacionados ao primeiro ano de vida é
bastante importante dentro das causas da obe- muito importante que se dê atenção aos hábi-
sidade, que merece atenção, é que mais de 95% tos de vida saudáveis para a prevenção do so-
das pessoas que desenvolvem obesidade por brepeso, pois a obesidade infantil vem crescendo
causa nutricional, também denominada simples consideravelmente nestas últimas duas déca-
ou exógena, os restantes 5%, segundo Fisberg das.
(1995), seriam os obesos denominados de obe- Diante desta verdadeira “epidemia” de
sos endógenos, ou seja, alterações hormonais, obesidade a que se assiste nos dias de hoje e
por exemplo: alteração do metabolismo tireodi- frente ao fato de que o quadro da obesidade é
ano, gonadal, hipotálamo-hipofisário e tumores extremamente complexo no que diz respeito às
como o crâniofaringeoma. suas repercussões nos diversos sistemas
Outro fator importante é o histórico fa- orgânicos, o tratamento deve ser instituído a par-
miliar. Uma criança que os dois pais são obe- tir do instante em que se diagnostica o proble-
sos possui 80% de chances de desenvolver a ma; não há lugar para adiamentos ou negligên-
obesidade, essa situação cai para 40% se ape- cia ou ter a perspectiva de que o problema
nas um dos pais for obeso, e se nenhum dos resolver-se-á por si só.
pais possuírem tal enfermidade essa criança As conseqüências das alterações me-
terá apenas 7% de chances de se tornar uma tabólicas que ocorrem na obesidade podem ser
pessoa obesa (Berheman & Kliegman, 1994). muito extensas e intensas, além de muito vari-
Em relação ao tempo que a obesidade adas, atingindo praticamente todos os sistemas
permanece instalada na infância Escrivão e orgânicos. Todavia, podem ser reversíveis des-
Lopes (1998) afirmam que o risco da criança de que se consiga a redução de peso e desde
obesa tornar-se adulto obeso aumenta acentu- que as estruturas orgânicas acometidas não
adamente com a idade, dentro da própria infân- tenham sofrido danos anatômicos irreparáveis.
cia. Assim, quanto mais idade tem a criança A morbidade associada à obesidade pode ser
obesa maior chances terá de se tornar um adul- identificada já no adolescente.
to obeso. Uma vez estabelecido o número de Os problemas causados pela obesida-
adipócitos, as perdas de peso só se fazem à de em longo prazo são, contudo, previsíveis:
custa de perda de conteúdo lipídico por célula, - Crescimento- idade óssea avançada,
mas não pela diminuição do número de célu- aumento da estatura, menarca precoce;
las. Esses mesmos autores ainda chamam a - Respiratórias – apnéia de sono, Sín-
atenção para o fato de que muitos pais negli- drome de Pickwick, infecções;
Revista Brasileira de Cineantropometria & Desempenho Humano
genciam o tratamento da obesidade infantil, na - Cardiovasculares-hipertensão arteri-
expectativa de uma resolução espontânea; en- al, hipertrofia cardíaca, morte súbita;
tretanto o risco de persistir é elevado. - Ortopédicas:- epifisiólise da cabeça
Fisberg (1995) e Sigulem et al. (2001) femural, genu valgo, coxa vara, osteoartrite;
afirmam que o aumento da obesidade em lac- - Dermatológicas- micoses, estrias,
tantes é resultado de um desmame precoce e lesões de pele como dermatites e piodermites
incorreto, de erros alimentares no primeiro ano particularmente em região de axilas e ingüinal;
de vida, presentes, principalmente, nas subpo- - Metabólicas- resistência à insulina,
pulações urbanas, as quais abandonam de for- diabetes mellitus tipo 2, hipertrigliceridemia, hi-
ma precoce o aleitamento materno, substituin- percolesterolemia, gota úrica, esteatose hepá-
do-o por alimentação com excesso de tica, doença dos ovários policísticos (síndromes
carboidratos, em quantidades superiores que as hiperandrogênicas), com oligomenorréia ou
necessárias para seu crescimento e desenvol- amenorréia.
vimento. Em relação ao desmame precoce, Es- A obesidade causa problemas psicos-
crivão e Lopes (1998) apontam que a introdu- sociais como discriminação e aceitação dimi-
ção inadequada de alimentos após o desmame nuída pelos pares; isolamento e afastamento das
66 Soares & Petroski

atividades sociais; o que é visto pelos estudio- zar o conhecimento produzido, nesta última
sos como a pior conseqüência, pois irá seguir década, devido ao grande número de publica-
o sujeito pelo resto da vida (Sigulem et al., 2001; ções nesta área. Os resultados poderão servir
Fisberg, 1995). como alerta para todos os profissionais que
Os pilares fundamentais no tratamen- estão diariamente em contato com a parcela
to da obesidade infantil são as modificações no infantil de nossa sociedade, a fim de prevenir e
comportamento e nos hábitos de vida (tanto da auxiliar neste problema cada vez mais crescen-
criança como se possível, da família), que in- te.
cluem mudanças nos planos alimentar e ativi-
dade física. Para Gomes (2002) o objetivo bási- OBJETIVOS
co é manter o peso adequado para a estatura,
preservando o crescimento e desenvolvimento Investigar a prevalência da obesidade
normal. Em função do crescimento, não se fa- infantil, Identificar os possíveis fatores etiológi-
zem dietas restritivas para a criança, uma vez cos associados ao aumento dessa prevalência
que os níveis de vitaminas e micronutrientes e verificar quais são as intervenções, que se
ficam demasiadamente reduzidos, levando a destacam, nesta última década, como forma de
prejuízos no desenvolvimento físico e mental (Vi- diminuir e/ou prevenir a obesidade infantil.
tolo & Campos, 1998). Para combater a obesi-
dade infantil existe um consenso entre os es- METODOLOGIA
pecialistas da área que incluem a mudança de
Fazer um estudo bibliográfico retros-
comportamento, dieta equilibrada, sem grandes
pectivo nos anos de 1991 a 2001, através de
restrições alimentares, combinada com exercí-
artigos científicos sobre obesidade infantil, pu-
cios físicos diários (Pollock & Wilmore, 1993;
blicados nos bancos de dados da Internet:
Dietz, 1998; Dâmaso et al.,1995, Behrman &
Medline,(www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/), Asso-
Kliegman, 1994). Certamente pode ser consi-
ciação Brasileira de Obesidade (www.abeso.
derada a melhor maneira de conduzir o proble-
org.br) e Lilacs (www.ovid.com); através das
ma.
palavras chave obesidade infantil e/ou childhood
Considerando que “o conhecimento do
obesity. Além de verificar a literatura disponível
crescimento e desenvolvimento normais das
em livros e revistas especializadas.
crianças é essencial à prevenção e detecção
de doenças por reconhecer desvios evidentes
PREVALÊNCIA DA OBESIDADE NA
dos padrões normais” (Foye & Sulkes 1994, p.
INFÂNCIA
1), e que o professor de educação física é o
profissional que possui um contado direto com Considerada como um dos principais
o desenvolvimento das crianças, sendo assim problemas de Saúde Pública nos países desen-
capaz de observar mudanças antropométricas volvidos, a obesidade atinge uma em cada cin-
como nenhum outro profissional da área co crianças dos Estados Unidos (Dietz, 1998),
escolar e, também neste contexto, perceber sendo a principal doença relacionada à nutrição,
mudanças (como o excesso de peso) antes ig- entre jovens com menos de 20 anos (Argote et
noradas, é inadmissível que continuem negligen- al., 2001). No Japão, apesar da tradição em ali-
Volume 5 – Número 1 – p. 63-74 – 2003

ciando tal evidência. mentos saudáveis, a obesidade infantil está tor-


Associando a esses fatores, o reco- nando-se o principal problema de saúde públi-
nhecimento de que a prevalência de obesidade ca (Hiroki, 2000). A prevalência da obesidade
em crianças aumentou muito tanto em países em crianças vem aumentando de forma signifi-
desenvolvidos como naqueles em desenvolvi- cante também nos países em desenvolvimen-
mento, é necessário entender melhor esse fe- to, onde geralmente coexiste com a desnutri-
nômeno com o objetivo de estudar as possíveis ção (Inan, 1991).
causas e intervenções que diminuam a gravi- Segundo Yadav et al. (2000, p. 346) é
dade dessa situação. Faz-se necessário uma estimado que “mais de 250 milhões de pesso-
revisão de bibliografia, com o intuito de organi- as pelo mundo sejam obesas, e a prevalência
Prevalência, fatores etiológicos e tratamento da obesidade infantil. 67

da obesidade está aumentando na maior parte tinuam sendo questões prioritárias a serem con-
do mundo. Dados recentes sugerem que apro- templadas pelos programas de saúde.
ximadamente 22% das crianças americanas e No Brasil, os últimos dados nacionais
adolescentes provavelmente estejam com so- são da Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutri-
brepeso e que 11% são obesas”. Nos EUA, ção (INAN-PNSN) de 1989, na qual observou-
quando são comparados dados dos inquéritos se que a prevalência de obesidade em crian-
nacionais de 1965 e 1980, constata-se que a ças e adolescentes era de 7,8% e 7,6%,
obesidade nas crianças de 6 a 11 anos aumen- respectivamente.
tou em 67% entre os meninos e em 41% entre Em relação à classe sócio-econômi-
as meninas; e quanto aos inquéritos nacionais ca, em 1989, a prevalência da obesidade entre
de 1980 e 1990, constata-se que a obesidade crianças menores de dez anos era de 2,5% e
em crianças de 6 a 11 anos aumentou 12% nos 8% nas famílias de menor e maior renda, res-
meninos e em 44% nas meninas (Dietz,1998). pectivamente (INAN, 1991).
No Japão, em um estudo longitudinal Segundo Sigulem (2001), na região
com escolares realizado por Sugimori et al. Nordeste houve aumento da prevalência da obe-
(1999), com o objetivo de demonstrar o “curso sidade, principalmente entre os lactantes, de
temporal da obesidade” durante 12 anos encon- 3,9% para 7,3%. Esse fato, observado por
trou-se os seguintes resultados: 50% das cri- Escrivão et. al. (2000, p. S306), encontra-se vin-
anças que eram obesas no primário, continua- culado “...com o aumento do acesso a alimen-
vam obesas com 17 anos. Do mesmo modo tos industrializados que acompanha a urbani-
40% estavam obesos no ensino fundamental e zação e com a falta de informação adequada,
70% que estavam obesos no ensino médio, ocorrem erros alimentares no consumo de ali-
mantinham-se obesos aos 17 anos. Entre 44 mentos ricos em sal e gordura.” Em relação ao
crianças obesas aos 17 anos, 14 estavam com Sudeste, em 1989, havia um índice de crianças
sobrepeso já na pré-escola, 14 mostravam au- (0 a 6 anos) portando a obesidade de 2,59%,
mento do sobrepeso entre 7 a 11 anos, 10 apre- caindo para 1,16% em 1996. Esta queda na re-
sentavam sobrepeso no ensino fundamental, e gião sudeste é devido a um processo chamado
6 estavam com sobrepeso no ensino médio. transição nutricional, ou seja, mães com me-
Neste estudo as conclusões foram que, entre lhores níveis de instrução incorporam conheci-
aquelas crianças obesas aos 17 anos, a maio- mentos adequados sobre nutrição que são
ria já apresentava sobrepeso no primário. A maior transmitidos por seus médicos ou pela mídia,
evidência foi o elevado IMC encontrado aos 17 passando assim a alimentar melhor seus filhos,
anos. Esses achados evidenciam, além da pre- o que resulta em menor freqüência de obesida-
valência da obesidade no Japão, a importância de (Gomes, 2002).
Revista Brasileira de Cineantropometria & Desempenho Humano
em relação à educação e saúde desde cedo Do ponto de vista epidemiológico, para
nas escolas. explicar essas mudanças Escrivão et al. (2000,
No Brasil obesidade e desnutrição co- p. S306) afirmam que “tudo conduz às teorias
existem, e podem ser evidenciadas no trabalho ambientalistas, uma vez que, nas últimas dé-
realizado por Ribas et al. (2001), que descre- cadas, não ocorreram alterações substanciais
vem o estado nutricional infantil indígena. Nas nas características genéticas de tais popula-
100 crianças indígenas Teréna (Mato Grosso do ções, enquanto que as mudanças de hábitos
Sul), com idades variando entre 0 a 6 anos, o foram enormes”. Para Taddei (1998) e Tojo et
percentual de desnutrição encontrado foi de 8% al. (1999) os jogos eletrônicos, o hábito de as-
contra 5% para a obesidade. Segundo Ribas et sistir televisão muitas horas seguidas, o aban-
al. (2001) o estado nutricional mostrou-se influ- dono do aleitamento materno, a utilização de
enciado pela renda, sexo e faixa etária, apre- alimentos formulados na alimentação infantil e
sentando menor crescimento quando pertencia a substituição dos alimentos domésticos pelos
à família de renda per capta inferior. Pode-se industrializados (em geral, com maior densida-
perceber que os problemas nutricionais relaci- de energética, devido à gordura saturada, mais
onados à ingestão insuficiente de alimentos con- saborosos e sempre acompanhados de forte
68 Soares & Petroski

campanha de estímulo ao consumo), são fato- al. (1996) realizaram um estudo em que famíli-
res que devem ser considerados determinan- as que os pais são obesos, os filhos consomem
tes do aumento da prevalência da obesidade maior proporção de gordura (34,4% versus
infantil. Rosenbaum e Leibel (1998) acreditam 32,1%) e menor de carboidratos (51,7% versus
que esse aumento na prevalência representa a 55%) contribuindo, desta forma, para a agrega-
interação da genética com o meio ambiente, ção familiar da obesidade.
que cada vez mais, encoraja ao estilo de vida Para Gomes (2001) a dieta é o princi-
sedentário e ao consumo de calorias. pal fator no desequilíbrio entre a ingestão e a
perda de calorias, sendo importante o volume e
OS FATORES ETIOLÓGICOS DA a composição dos alimentos. Atualmente é cada
OBESIDADE INFANTIL NA DÉCADA DE 90 vez mais freqüente o uso de alimentos industri-
alizados, muitas vezes até substituindo o alei-
A obesidade é uma enfermidade multi- tamento materno.
causal (Yadav et al., 2000), que pode ser con- Em relação à amamentação, observa-
seqüência de diversos fatores genéticos, fisio- se um estudo realizado na Alemanha, por Kries
lógicos (endócrinos metabólicos), ambientais et al. (1999) com 9206 crianças obesas, entre
(prática alimentar e atividade física) e psicológi- 5 a 6 anos. Deste número, 4022 crianças nun-
cos, proporcionando o acúmulo excessivo de ca receberam o aleitamento materno, e 5184,
energia sob a forma de gordura no organismo. receberam. A prevalência de obesidade entre
Sabe-se que a vasta maioria das cri- aquelas que nunca receberam o aleitamento
anças desenvolve a obesidade do tipo exógena materno foi de 4,5% comparado com 2,8% en-
(Leung & Robson, 1990; Sigulem et Al., 2001; tre que receberam. Em relação ao tempo de
Gomes, 2000), que é resultado do excesso de aleitamento materno, foi encontrada prevalên-
calorias consumidas em relação ao dispêndio cia de obesidade de 3,8% para 2 meses, 1,7%
energético diário. Esse desequilíbrio energéti- para 6 a 12 meses e 0,8% para aquelas crian-
co, segundo Coutinho (1998), pode ser causa- ças amamentadas no peito mais de 12 meses.
do por dietas hiperlipídicas, principalmente gor- Segundo Dietz (1998) outros dois fa-
duras saturadas, e por inatividade física. Leung tores que devem ser observados são o espaço
e Robson (1990) acreditam que além do con- físico (estação, região e densidade demográfi-
sumo excessivo de gordura e o baixo gasto ca), e o comportamento familiar (quantidade de
energético a obesidade pode estar relacionada filhos e classe sócio-econômica). Quanto à es-
ao metabolismo eficiente (que não consome tação do ano a obesidade entre crianças pode
muitas calorias para a realização das tarefas ter maior incidência durante o inverno e prima-
diárias), ou até mesmo a combinação dos três vera, que nas outras estações do ano.
fatores. Eles citam ainda estudos que relacio- Em relação à densidade demográfica,
nam a obesidade infantil com o desmame pre- esta parece estar ligada à maior incidência de
coce associado à introdução da mamadeira e crianças obesas, porque geralmente estas re-
alimentos sólidos, os quais contêm alta concen- giões não dispõem de espaço aberto para que
tração de solutos que provocam sede na crian- as crianças possam ocupar seu tempo livre com
ça, que é recompensada com mais leite, tor- brincadeiras cinéticas, o que as tornam mais
Volume 5 – Número 1 – p. 63-74 – 2003

nando-se assim um ciclo vicioso de calorias suscetíveis a computadores e jogos eletrônicos


ingeridas. e reduz a oportunidade de realizar atividades fí-
O apetite do obeso responde mais aos sicas.
estímulos externos (tipo e qualidade do alimen- Dietz (1998) ainda relata que existe
to) do que aos internos (fome e saciedade). Para maior probabilidade de ocorrer obesidade em
Zwiauer (2000) é singular a condição para a cri- crianças que são filhos únicos, que naquelas
ança tornar-se obesa, quando ela nasce em que possuem irmãos. Quanto ao comportamen-
uma família obesa. Isto porque além da genéti- to familiar, estudos demonstram relação inver-
ca esta criança cresce em um ambiente propí- samente proporcional entre obesidade e clas-
cio para desenvolver a obesidade. Eck L. H. et se sócio-econômica.
Prevalência, fatores etiológicos e tratamento da obesidade infantil. 69

Com relação ao estilo de vida e fato- Quando crescerem, serão muito mais acome-
res que podem influenciar na obesidade, um tidos de diabetes tipo II, hipertensão e cardiopa-
estudo realizado no Japão com crianças de três tias, que as crianças que não passaram por
anos de idade mostrou que o consumo irregu- privações nessa fase inicial da vida;
lar de “salgadinhos”, inatividade física e reduzi- - Manejo deficiente da amamentação
das horas de sono, são significativos para o e do desmame - o leite da própria mãe é o ali-
aumento da obesidade em crianças (Kagami- mento ideal para o seu bebê. A Organização
mori et. al., 1999). Mundial da Saúde e a Sociedade Brasileira de
Viuniski (2000) destaca diversos fato- Pediatria recomendam que ele seja oferecido
res de risco para a obesidade infantil: de forma exclusiva até os 4 ou 6 meses.
- A inatividade e o sedentarismo - nada - Manejo deficiente das fases fisiológi-
imobiliza mais a criança saudável que a televi- cas de inapetência - nada preocupa mais um
são. Para agravar essa situação, as crianças pai ou uma mãe, do que seu filho recusar o ali-
são submetidas a um bombardeio de propagan- mento. O que eles não sabem é que em alguns
das, a maioria de guloseimas, que soma à ina- momentos da vida pode ser bastante normal ter
tividade, o mau hábito de comer diante da tela. menos fome. Dependendo da maneira com que
Como essa criança está profundamente envol- lidam com essas situações, podem estar facili-
vida com o mundo irreal que se passa do outro tando para desencadear um processo de gan-
lado do tubo de imagem, não se dá conta da ho exagerado de peso.
quantidade nem da qualidade do que está inge- Além dos fatores comportamentais e
rindo; ambientais associados à obesidade é importante
- O uso inadequado dos alimentos - é observar se a criança já possui pré-disposição
preocupante quando as crianças passam a in- genética. De fato estudos com gêmeos suge-
teressar-se mais pela aparência e sabor dos rem que, pelo menos, 50% da tendência de de-
alimentos do que pela fome propriamente dita. senvolver obesidade é herdado geneticamente
Pior é utilizar a comida como forma de recom- (KIESS et al.,2000).
pensa. Quando os doces e as sobremesas são
usados com esse fim, inconscientemente es-
O TRATAMENTO DA OBESIDADE
tar-se-á mostrando que a comida é uma forma
INFANTIL
de aumentar a auto-estima. Frases como -
“Coma toda a sopa para ganhar a sobremesa”- As bases fundamentais para o trata-
são um exemplo disso. O ser humano é o úni- mento da obesidade infantil são unânimes en-
co na natureza a utilizar o ato de se alimentar tre os especialistas. Incluem modificações no
para outros fins que não o de obter nutrientes plano alimentar, no comportamento e na ativi-
Revista Brasileira de Cineantropometria & Desempenho Humano
necessários para o seu desenvolvimento; dade física (Gomes, 2002; Sigulem et al., 2001;
- Comer noturno - falta de apetite du- Escrivão et al., 2001; Kiess, 2000; Dietz, 1998;
rante o dia, principalmente pela manhã, com Fisberg, 1995; Caldarone et al., 1995).
voracidade à noite pode ser encontrado em cri- Para iniciar o tratamento da obesidade
anças com um distúrbio alimentar conhecido infantil é muito importante dispor de equipe mul-
com o sugestivo nome de “Comedores Notur- tiprofissional (Dâmaso et al., 1995) formada de
nos”. Essa conduta alimentar ocorre basicamen- médico, nutricionista, educador físico e psicó-
te pela ansiedade de ficar sem ter o que fazer logo. O tratamento é longo, por isso é desejável
no período da noite; que o relacionamento da equipe com o pacien-
- Desnutrição na vida intra-uterina até te seja integrado. Segundo Escrivão et al. (2000)
o primeiro ano de vida - quando existe, por qual- as noções de tempo não são claramente en-
quer motivo, desnutrição do feto, ainda dentro tendidas pelas crianças e adolescentes, portan-
do útero, principalmente se isso ocorrer após a to, não se deve apontar os riscos futuros da
30 semana de gravidez e durar até o primeiro obesidade, e sim avaliar as implicações atuais,
aniversário, irá ocorrer um estímulo para a pro- ou seja, as conseqüências do excesso de peso
dução das células de gordura, os adipócitos. que estão incomodando no momento.
70 Soares & Petroski

Quanto ao plano Alimentar pode ignorar que a falta de segurança e a pou-


Quanto à reeducação alimentar, devem ca disponibilidade de tempo dos pais impedem
ser sugeridas dietas flexíveis e que atendam às o acesso das crianças às brincadeiras nas pra-
necessidades nutricionais da criança, pois die- ças, ruas e parques (Gidding et al, 1995). O la-
tas muito rígidas e restritas mostram-se inefici- zer restringe-se às atividades sedentárias como
entes, proporcionando prejuízo ao crescimento assistir à televisão, jogar vídeo-games e aces-
e desenvolvimento da criança, menor adesão sar a internet.
ao tratamento e maior angústia no caso de in- Na escola, a estimulação da atividade
sucesso (Vitolo & Campos, 1998), o que acar- física nas aulas de Educação Física poderia ser
reta ansiedade e depressão na maioria das cri- melhorada se houvesse preferência por ativida-
anças. A orientação dietética deve ser feita de des não competitivas, já que nestas as crian-
forma a proporcionar os seguintes elementos: ças obesas são excluídas, até mesmo pelos
perda de peso controlada; crescimento e de- colegas (Zwiauer, 2000). Programas especiais,
senvolvimento normais da criança e adolescen- respeitando os limites e reconhecendo habili-
tes; macro e micronutrientes em proporção ade- dades deste grupo de alunos, poderiam ser de-
quada; redução do apetite; manutenção do senvolvidos a fim de promover ou aumentar a
tecido muscular; ausência de conseqüências participação das crianças nesta disciplina.
psicológicas; manutenção dos hábitos alimen-
tares corretos e modificação dos inadequados Quanto à Atividade Física
(Escrivão et al., 2000).
Segundo Epstein et al., (1996), e Stein-
O perigo potencial da dieta, apontado
beck (2001) estudos indicam que a atividade fí-
por Zwiauer (2000), é em relação às crianças
sica em combinação à dieta é mais efetiva que
que ainda não iniciaram o estirão de crescimen-
a dieta sozinha para a redução e manutenção
to. O objetivo do tratamento deve ser a normali-
do peso. Exercícios auxiliam a preservação da
zação da relação peso/estatura, que pode ser
massa magra durante a dieta e podem minimi-
atingida apenas com o crescimento e a manu-
zar a redução da taxa metabólica associada à
tenção do peso corporal, e o cuidado tem que
redução do peso.
ser dobrado para que não prejudique o cresci-
O programa de atividades físicas para
mento do indivíduo.
a criança obesa, implica em atividades desen-
A orientação nutricional é essencial no
volvidas de acordo com a capacidade individu-
tratamento da criança e adolescente obeso por-
al, pois este é o fator determinante para que haja
que visa à reformulação permanente do hábito
adesão da criança ao programa, garantindo
alimentar a fim de evitar possíveis conseqüên-
assim o sucesso do tratamento. Os exercícios
cias que a obesidade na idade adulta possa
recomendáveis são:
acarretar.
- Caminhadas, natação, ciclismo (os
A dieta instituída deve ser adequada à
exercícios aeróbicos de modo geral); exercíci-
idade e fase de crescimento, considerando os
os respiratórios;
padrões sócio-econômicos e culturais da cri-
- Exercícios posturais (preventivo e de
ança e da família. Para tanto, é necessário que
manutenção) principalmente no estirão de cres-
se conheça o histórico alimentar da criança
Volume 5 – Número 1 – p. 63-74 – 2003

cimento,
obesa e de sua família.
- Exercícios de força e resistência;
- Exercícios de coordenação motora
Quanto ao Comportamento geral e específica;
Um dos fatores que mais têm contri- - Exercícios de equilíbrio.
buído para o aumento da incidência de obesi- As atividades não recomendadas são
dade é a falta de atividade física como também as de alto impacto (como saltos e mudanças
o aumento da inatividade, ou seja, as crianças bruscas de direção), que aumentam o risco de
estão passando mais tempo em atividades de lesões (devido à sobrecarga articular) e condi-
pouco gasto energético (Dietz, 1998). Não se ções que provoquem desconforto, como por
Prevalência, fatores etiológicos e tratamento da obesidade infantil. 71

exemplo: calor, pouca ventilação, roupa inade- antes mesmo de instalada a obesidade, quan-
quada para prática esportiva. do se observam mudanças na velocidade do
Quanto ao programa a ser desenvolvi- ganho de peso”. Esses mesmos autores rela-
do (Dâmaso, et al. 1995), sugere-se: tam que quanto maior a idade da criança e mai-
- Freqüência: 3 a 5 vezes por semana; or o excesso de peso, mais difícil torna-se a
- Intensidade: 50 a 60% do VO2 máx; reversão do quadro. Em estudo longitudinal re-
- Duração:50 a 60 minutos; alizado por Freedman et al. (2001), correlacio-
- Período mínimo 12 semanas. nou-se a obesidade infantil com os fatores de
O programa deve ser realista, com risco para desenvolver problemas coronarianos
metas atingíveis e flexíveis de acordo com a ne- na vida adulta. O resultado encontrado foi que
cessidade e capacidade de cada sujeito. LeMu- 70% das crianças obesas tornaram-se adultos
ra e Maziekas (2002), em um estudo sobre os obesos. A obesidade infantil foi relacionada com
fatores que alteram a composição corporal, diversos níveis de risco para os adultos, mas a
chegaram à conclusão que os exercícios efici- associação para o risco coronariano foi fraca.
entes para alterar a composição corporal de Para Freedman et al. (2001), é muito importan-
modo positivo (diminuir o percentual de gordura te que se inicie a prevenção desde a infância.
e aumentar a massa livre de gordura) em crian- Wright et al. (2001) verificaram as im-
ças obesas, são os exercícios de baixa intensi- plicações da obesidade infantil na saúde dos
dade e longa duração; exercícios aeróbicos adultos. Os resultados apresentados foram que
combinados com resistência (grande número apenas as crianças que permaneceram obe-
de repetições) e exercícios programados com- sas até os treze anos, mostram risco aumen-
binados com a mudança de comportamento. tado de obesidade para a vida adulta. A conclu-
Para que todo o programa relacionado são foi que ser uma criança com peso saudável
ao tratamento funcione Epstein et al. (1996) não oferece nenhuma propensão de se tornar
enfatiza que é necessário mudança do estilo de um adulto obeso.
vida sedentário para o ativo. Para que isto ocor- Segundo Kiess et al. (2001) a preven-
ra é preciso que toda a equipe motive tal mu- ção deve começar bem cedo, de preferência
dança de comportamento. O melhor método é na fase intra-uterina. A estratégia deve ser ela-
reduzir o acesso ao sedentarismo, ou seja, borada juntamente com a equipe multidiscipli-
motivar a criança a fazer outra atividade, que nar (médico, nutricionista e educador físico),
não seja estática. para que durante a gravidez a mulher realize
atividade física moderada e execute a alimenta-
Quanto ao Tratamento Farmacológico ção adequada tanto para o desenvolvimento do
bebê, para o seu bem-estar. Depois do nasci-
Revista Brasileira de Cineantropometria & Desempenho Humano
Em relação ao tratamento farmacoló- mento a amamentação deve ser fortemente re-
gico, Dietz (1998) relata que poucos estudos comendada, pelo menos até o sexto mês de
foram realizados. Para Fisberg (1995), o uso vida. Os pais devem ser encorajados a ter uma
não é recomendável, pois pode atrapalhar no alimentação saudável (o que inclui baixo nível
desenvolvimento. Escrivão et al. (2000, p. 309) de gordura saturada), com horários e lugares
afirmam que “a terapia medicamentosa não de- certos para se alimentarem. Atividades físicas,
ve ser utilizada no tratamento da obesidade in- que não incluam só exercícios, mas também
fantil devido aos efeitos colaterais das drogas e manter hábito de vida não sedentário, o que
risco de dependência química e/ou psicológica”. implica em não passar grande parte do dia na
frente da televisão ou no computador.
PREVENÇÃO DA OBESIDADE INFANTIL Para o Consenso Latino Americano de
Obesidade (Coutinho et al., 1998) a prevenção
A obesidade na infância está fortemente está em evitar o ganho de peso excessivo du-
relacionada com a obesidade na vida adulta. rante a gestação (o ideal é de 10 a 12 Kg); favo-
Segundo Vitolo e Campos (1998), “... a inter- recer a amamentação materna absoluta pelo
venção deve ocorrer precocemente na criança, menos até o quarto mês; retardar a introdução
72 Soares & Petroski

de alimentos farináceos pelo menos até o quar- negativas, em sua personalidade, levando à
to mês; evitar alimentos muito doces; fortalecer baixa auto-estima e depressão.
a atividade física; controlar e vigiar constante- Para o tratamento da obesidade infan-
mente o peso corporal; promover educação til, faz-se necessário a presença de equipe
nutricional e hábitos de vida saudáveis; e enfati- multiprofissional, que consiste de médico, nu-
zar que a obesidade é uma enfermidade de difí- tricionista, psicólogo, e o educador físico. Exis-
cil cura e que todos devem lutar por sua pre- tem algumas recomendações gerais a serem
venção. seguidas: a reeducação alimentar, que deter-
mine crescimento adequado e manutenção de
peso; exercícios físicos controlados (com du-
CONCLUSÃO
ração de 50 a 60 minutos, com intensidade de
Através deste trabalho pôde-se perce- 50 % do VO2 máx. e com freqüência de três
ber que a obesidade infantil é uma enfermidade vezes por semana, no mínimo) e diminuição do
multicausal, e está fortemente relacionada com tempo de inatividade. Além disso, a reeduca-
a obesidade na vida adulta (onde as repercus- ção alimentar e o aumento da atividade são es-
sões serão mais agravadas). Além de ser uma senciais, pois visam à modificação e melhorias
das patologias nutricionais que mais tem apre- dos hábitos diários a longo prazo, e tornam-se
sentado aumento de prevalência. elementos de conscientização e reformulação
Em relação à prevalência pode-se per- auxiliando a refletir sobre a saúde e qualidade
ceber que está aumentando tanto nos países de vida. Para melhores resultados nos tratamen-
desenvolvidos como Estados Unidos e Japão, tos é importante a cooperação dos pais, que
quanto naqueles em desenvolvimento como devem estar conscientes de que a obesidade é
Brasil e Chile, onde a obesidade coexiste com um risco e que gera graves problemas na vida
a desnutrição infantil. Porém, existem evidênci- adulta.
as que a prevalência da obesidade infantil dimi- Contudo, a prevenção é o melhor ca-
nuiu na região Sudeste do Brasil, devido ao pro- minho. Começando pela amamentação mater-
cesso de transição nutricional, onde mães com na, que deve durar no mínimo seis meses. A
melhores níveis de instrução passam a alimen- introdução de alimentos saudáveis e em quan-
tar seus filhos de maneira adequada. tidades não exageradas após o desmame, além
Na infância, os fatores etiológicos de- do hábito de praticar atividades físicas desde
terminantes para o estabelecimento da obesi- criança. A escola tem papel fundamental ao
dade são: o desmame precoce e a introdução modelar as atitudes e comportamentos das cri-
de alimentos inadequados, emprego de fórmu- anças sobre atividade física e nutrição. Deve-
las lácteas inadequadamente preparadas e a se dar atenção à prevenção com desenvolvi-
inatividade física. Outros fatores estariam rela- mento de estratégias preventivas para todas as
cionados ao ambiente familiar. Filhos de pais idades. De qualquer forma a prevenção deveria
obesos têm 80% de chances de se tornarem começar na infância.
crianças obesas, estas chances caem pela
metade se apenas um dos pais for obeso, e é REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
apenas de 7% se nenhum dos pais for obeso.
Volume 5 – Número 1 – p. 63-74 – 2003

Argote, et al. (2001). Caracteristicas biológicas, fami-


Outro fator relacionado ao ambiente familiar que
liares y metabólicas de la obesidad infantil y juve-
aumenta a probabilidade da obesidade infantil, nil. Revista Médica do Chile, 129(10), 1155-
é o fato de ser filho único. 1162.
Os principais riscos para a criança Behrman, R. I; Kliegman, R. (1994). Nelson Princí-
obesa são: a elevação dos triglicérides e do pios de Pediatria. 2ª ed. Rio de Janeiro:
colesterol, hipertensão, alterações ortopédicas, Ganabara Koogan S.A.
Brasil – Ministério da Saúde, Instituto Nacional de
dermatológicas e respiratórias. O fator psicoló-
Alimentação e Nutrição. Pesquisa Nacional So-
gico também destaca-se, a partir do momento bre Saúde e Nutrição (1991). Condições nutricio-
que a criança obesa é discriminada por seus nais da população brasileira: adultos e idosos.
pares não obesos, podendo sofrer alterações Brasília: INAN.
Prevalência, fatores etiológicos e tratamento da obesidade infantil. 73

Caldarone, G; Spada, R.; Berlutti, G. Callari, L.; Fio- Gidding, S. et al (1995). Effects of secular trends in
re, A.; Giampietro, M.(1995). Nutrition and exer- obesity on coronary risk in children: The Bogalu-
cise in children. Ann. Institute Super Sanita, sa Heart Study. The Journal of Pediatrics,
31, 445-453. 127(6), 868-874.
Coutinho, W, et al. (1998). Consenso Latino America- Gomes, M. C. O. (2002). Obesidade na Infância e
no sobre Obesidade,http://www.abeso.org.br/pdf/ Adolescência. http://www.biosaude.com.br/
consenso.pdf artigos/index.php?id=155&idme=13&ind_id=34.
Coutinho, W. (1998). Obesidade: conceitos e classifi- Hiroki, M. D. S. (2000). Temporal course of the deve-
cações. In: Nunes, M. A. A.; Apolinário, J. C.; lopment of obesity in japanese school children: A
Abuchaim, A.; L. G.; Coutinho, W. (Orgs.) Trans- cohort study based on the Keio Study. The Jour-
tornos Alimentares e Obesidade (pp.197-202). nal of Pediatrics, 134(6), 711-713.
Porto Alegre: Ed. Artes Médicas do Sul, RGS. Kagamimori, S.; et al.(1999). The relationship betwe-
Dâmaso, A., Teixeira, L. & Curi, C. M. (1995). Ativida- en lifestile, social characteristics and obesity in
des Motoras na Obesidade. In: Fisberg, M. Obe- 3-years –old japanese children. Child: Care,
sidade na infância e adolescência (pp. 91-99). Helath & Development, 25(3), 235-247.
São Paulo: Fundação BYK, SP. Katch, F. I.; Mcardle, W. D. (1996). Nutrição, Exer-
Dâmaso, A., Nascimento R., Cláudia M. (1998). O cício e Saúde. 4ª ed. Rio de Janeiro: MEDSI.
Efeito do exercício realizado durante o ciclo re- Kiess, W. et al. (2001). Clinical aspects of obesity in
produtivo sobre o metabolismo lipídico: análise de childhood and adolescence. The Internacional
estudos utilizando animais experimentais. Revis- Association for the Study of Obesity, 2, 29-36.
ta Paulista de Educação Física, 12(91), 54-70. Kries, R., et al. (1999). Breast feeding and obesity:
Dietz, W. H. (1998). Childhood Obesity. In: Shils, M. cross sectional study. BMJ, 319, 147-150.
E.; Ulson, J. A.; Shike, M.; Ross, A.C. Modern Lemura, L. M.; MAZIEKAS, M. T. (2002). Factors that
Nutrition in Health and Disease (pp. 1071-1080). alter body fat, body mass, and fat-free mass in
9ª ed. Baltimore: Lippincott: Willians & Wilkins. pediatrics obesity. Medicine & Science in Sports
Dietz, W. H. (1998). Health consequences of obesity
& Exercise, 34(3), 487-496.
in youth: childhood predictors of adult disease.
Leung, A. K. C.; Robson, W. L. M. (1990). Childhood
Pediatrics, 101(3), 518-525.
Obesity. Postgraduate Medicine, 87(4), 123-130.
Eck L. H. et al. (1996). Children at familial risk for
Polock, M. L., Wilmore, J. H. (1993). Exercícios na
obesity: an examination of dietary intake, physi-
saúde e na doença: avaliação e prescrição
cal activy, and weight status. Internacional Jour-
para prevenção e reabilitação. 2ª ed. Filadél-
nal of Obesity, 20, 472-480.
fia: Editora MEDSI.
Editorial (2001). Childhood obesity: an emerging pu-
Ribas, D. L. B. et al. (2001). Nutrição e saúde infantil
blic-health problem. The Lancet, 357(927), 23.
em uma comunidade indígena Teréna, Mato Gros-
Epstein, L. H. Cleman, K. J. Myers, M. D. (1996).
so do Sul, Brasil. Caderno Saúde Pública,
Exercise in treating obesity children and adoles-
17(2), 323-331.
cents. Medicine & Science in Sports & Exer-
cise, 28(4), 428-435. Rosenbaum, M.; Leibel, R.L. (1998). The fisiology of
body weight regulation: relevance to the etiology

Revista Brasileira de Cineantropometria & Desempenho Humano


Escrivão, M. A. M. S.; Oliveira, F. L. C.; Taddei, J. A.
A. C.; Lopez, F. A.(2000). Obesidade exógena na of obesity in children. Pedriatrics, 101(3), 525-
infância e adolescência. Jornal de Pediatria, 539.
76(3),305-310. Sichieri, R. (1998). Epidemiologia da obesidade.
1Escrivão, M. A. M. S. & Lopes, F. A. (1998). Obesi- Rio de Janeiro: Ed. UERJ.
dade: Conceito Etiologia e Fisiopatoloigia. In: Sigulem, M. et al. (2001). Obesidade na Infância e na
Nóbrega, F. J. Distúrbios da Nutrição (pp. 381- Adolescência. Compacta Nutrição. 2(1), 7-18.
383). Rio de Janeiro: Revinter, RJ. http://www.pnut.epm.br/compacta.htm.
Fisberg, M. (1995). Obesidade na Infância e Ado- Sugimori, M. et al.(1999). Temporal course of the de-
lescência. São Paulo: Fundação BYK velopment of obesity in Japanese school children:
Foye. H. R. & Sulkes. S. B. (1994). Pediatria do de- a cohort study based on the Keio Study. The
senvolvimento e comportamento. In: Beheman, R. Journal Pediatrics, 134(6), 749-759.
E.; Kliegman, R. M. Nelson Princípios de Pedi- Taddei, J. A. A C. (1998). Epidemiologia.In: In: Nóbre-
atria (pp. 1-12). 2ª ed. Rio de Janeiro: Ganabara ga, F. J. Distúrbios da Nutrição (pp. 384-386).
Koogan S.A, RJ. Rio de Janeiro: Revinter, RJ.
Freedaman, D.S., et al (2001). Relationship of Chil- Vitolo, M. R. & Campos, A. L. R. de. (1998). Aspetos
dhood Obesity to Coronary Heart Disease Risk gerais do tratamento. In: Nóbrega, F. J. Distúrbi-
Factors in Adulhood: The Bogalusa Heart Study. os da Nutrição (pp. 396-397). Rio de Janeiro:
Pediatrics, 108(3), 712-718. Revinter, RJ.
74 Soares & Petroski

Viuniski, N. (2000).Prevenindo a obesidade – traba- sity for adult health: findings from thousand fami-
lhando com os fatores de risco. Obesidade In- lies cohort study. BMJ, 323(7324), 1280-1284.
fantil, Um Guia Prático. Porto Alegre: Editora Zwiauer, K. F. M (2000). Prevention and treatment of
EPUB. overweight and obesity in children and adloes-
Viuniski, N. (2002). Novos Gráficos Pediátricos – Uma cents. Eur. J. Pediatric, 159(1), S56-S68.
ferramenta para prevenir obesidade no futuro. http:/ Yadav, M.; Akobeng, A. K.; Thomas, A. G. (2000).
/www.nutricaoempauta.com.br/novo/48/ Breast feeding and obesity children. Journal of
entrevista4.html Pediatric Gastroenterology and Nutri, 30(3),
Wright, C., et al (2001). Implications of childhood obe- 345-351.

Endereço do autor:

Ludmila Dalben Soares Recebido em 24/02/2003


Rua do Arvoredo, 339 - Rio Vermelho Revisado em 14/03/2003
CEP: 88060-258 Aceito em 28/03/2003
Florianópolis - SC
E-mail: ludmilasoares@hotmail.com
Volume 5 – Número 1 – p. 63-74 – 2003

View publication stats

Você também pode gostar