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CAPOEIRA, RELIGIÃO E RELIGIOSIDADE: LIMITES E POSSIBILIDADES DA


CAPOEIRA COMO TEMÁTICA DO CONTEÚDO LUTA NAS AULAS DE
EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR

Wanilson Navarro de Albuquerque1


Henrique Gerson Kohl2
Edilson Fernandes de Souza3
Denis Foster Gondin4

RESUMO

A Capoeira tem apresentado um crescimento considerável no que diz respeito ao


seu estudo e disseminação em toda sociedade. E o aumento desse movimento que busca a
valorização dessa manifestação da cultura raiz Afro-brasileira, em particular tende também
no âmbito da escola, como apontam estudos que confirmam essa expectativa. O presente
artigo tem como objetivo destacar os possíveis conflitos de ordem e caráter religiosa, que
surgem com o ingresso e prática da capoeira no conteúdo lutas das aulas de Educação
Física nas escolas públicas e privadas do nosso país, ressaltando também sobre sua
importância na historicidade e tradição, sobre sua importância no contexto social e cultural,
abordando também no que se trata dos aspectos legais sobre a laicidade da escola e da
liberdade de credo na constituição, mostrando e debatendo o que dizem as novas diretrizes
das bases de ensino, mostramos também na atualidade o que a Constituição Federal
determina para o ensino religioso dentro das escolas da rede pública e privada de ensino
fundamental, e vamos também discutir esta questão da obrigatoriedade nas escolas da rede
pública de ensino fundamental do país, que recentemente foi julgado pelo Supremo
Tribunal de Justiça (STF), mostraremos também se existe alguma diretriz curricular para
todo o país, que consiga estabelecer o conteúdo a ser ensinado. Falaremos o que a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), de 1996 definiu sobre o assunto, e quais
as suas consequências, mostrando assim, a importância do seu papel e de sua relevância
educacional, para que assim, se justifique a sua aplicação dentro das escolas de todo país.
A metodologia utilizada foi pesquisa de caráter bibliográfica e qualitativa. Os
resultados demonstram que a capoeira é de suma importância na representação cultural e
política, além de identificar que a laicidade escolar não engloba a religiosidade das
matrizes africanas, e, de certa forma, marginalizam essa luta secular.
Portanto, podemos concluir que ainda perdura-se o desafio em incluir capoeira no
contexto escolar, afim de ensinar mais que uma luta pela luta, mas, mostrar a história e a
tradição de um povo, a riqueza de conteúdos que a capoeira carrega consigo, mostrar não
só os benefícios socioculturais desta luta, mas também os benefícios para saúde e
qualidade de vida gerada por este esporte, que é brasileiro e nosso orgulho.

Palavras-chave: Capoeira; Religião; Educação Física.

1 wanilson_navarro@hotmail.com
2
profhenriquekohl@hotmail.com
3
professor.edilson@gmail.com
4
foster.denis@hotmail.com
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INTRODUÇÃO

Identificamos que ainda existem poucos estudos, que abordem esta temática da
capoeira dentro das escolas nas aulas de Educação Física Escolar e que nos mostrem seus
benefícios, quais fatores interferem ou podem interferir na sua entrada e permanência no
ambiente escolar e, em especial podemos abordar possíveis conflitos de ordem religiosa
mediante o trato da capoeira no conteúdo lutas nas aulas de educação física escolar.
Também podemos destacar, a Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural,
pela ONU no ano de 2001; A Convenção da UNESCO sobre a Proteção e Promoção da
Diversidade de Expressões Culturais de 2005. No Brasil podemos observar a presença do
debate da diversidade cultural nas determinações legais, a exemplo da Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional (LDB) de nº 9.394, que em seu Art. 26 determina que

Os currículos do ensino fundamental e médio


devem ter uma base nacional comum, a ser
complementada, em cada sistema de ensino e
estabelecimento escolar, por uma parte
diversificada, exigida pelas características
regionais e locais da sociedade, da cultura, da
economia e da clientela (BRASIL, 1996).
[Cite sua fonte aqui.]

Observamos também que fatores que envolvam religião ou religiosidade, tem forte
implicação nestes dados. Se compararmos com outras linhas de pesquisa de diferentes
áreas de conhecimento que são trabalhadas em sala de aula, podemos constatar esta
carência. A falta de textos que mostrem a importância histórica, pedagógica e sociocultural
da capoeira na vida dos (as) educandos (as) dentro das escolas e nas aulas de Educação
Física escolar é um problema quando se buscam referências sobre o assunto.
Este trabalho tenta mostrar a interação que existe entre os (as) praticantes, entre os
(as) discentes e os (as) professores (as), os benefícios pedagógicos e os benefícios no
âmbito da qualidade de vida discente, ampliando os seus conhecimentos sobre o histórico e
a vivência do conteúdo, lhes dando a oportunidade de vivenciar a técnica do que lhes foi
apresentado em sala de aula, mostrando a diversidade cultural que a capoeira carrega
desde a sua criação, até os dias atuais, este estudo visa mostrar nas aulas seus benefícios
educacionais.
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Também falaremos neste trabalho sobre conflitos de ordem religiosa, de como


podemos abordar a capoeira dentro da Educação Física escolar no conteúdo lutas,
mostrando que é possível se trabalhar este conteúdo sem mexer com as crenças de
ninguém, independente da etnia, gênero e da religião que cada um (a) possua.
Para isto vamos fazer uma revisão literária, buscando textos de diferentes datas e
autores, que tenham como objeto de estudo a capoeira e a escola, falaremos também sobre
a legislação vigente no que se refere a laiquicidade da escola, sobre as leis que tratam da
liberdade religiosa dentro do ambiente escolar e o que a constituição fala sobre a liberdade
de credo.
A vontade de abordar o mencionado tema, veio pela proximidade que nós temos
sobre o referido assunto, uma vez que, temos grande interesse em ampliarmos os
conhecimentos sobre a temática abordada no que se refere a junção do tema com a prática
pedagógica no ambiente escolar, desde seu surgimento até os dias atuais, mostrando a
importância da capoeira como temática a ser abordada nas aulas de Educação Física,
dentro do conteúdo lutas, tentando mostrar que existe diferença entre religião e a
religiosidade existente não só na capoeira, mas nas diversas manifestações da cultura
corporal.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O estudo consiste em uma revisão bibliográfica teórica de estudos descritivos sobre


a capoeira, religião e religiosidade e os limites e possibilidades da capoeira como temática
do conteúdo lutas das aulas de Educação Física escolar.
Fundamental através de artigos inseridos nas bases de dados Pubmed, Lilacs,
SciELO e o período da pesquisa transcorreu entre janeiro/2016 a novembro/2016. Além de
buscar em fontes na Biblioteca Central da Universidade Federal de Pernambuco. Desses,
foram extraídas informações em relação aos objetivos principais desse estudo, onde foi
realizar uma síntese dos resultados. Estas informações foram organizadas e analisadas
categoricamente, fundamentando-se nos resultados mais relevantes e frequentes a fim de
melhor compreender capoeira no contexto escolar.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
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A capoeira caracteriza-se como uma expressão cultural afro-brasileira onde se tem


luta, dança, música dentre outras possibilidades acumuladas historicamente. Essa luta em
sua essência, foi trazida pelos negros que eram traficados e escravizados das nações
africanas para o Brasil como mão de obra escrava para trabalharem nas fazendas e
engenhos de cana-de-açúcar.
Essa mistura da cultura africana com a cultura brasileira faz com que diante dos
acontecimentos apareça a necessidade de se criar uma manifestação de defesa e liberdade
dessas pessoas, essa necessidade faz com que neste período, a até então capoeiragem vá se
transformando no que chamamos hoje de capoeira.
Com a mistura das culturas africana e brasileira, onde nessa época o Brasil era
colônia de Portugal, sua exata origem é desconhecida por falta de documentos históricos
que atestem de fato este período inicial, mas o que se sabe é que sua aparição se deu pela
necessidade e o desejo de libertação das pessoas escravizadas, desejo de pôr um fim nos
maus tratos e torturas praticadas pelos senhores de engenho, feitores e capitães do mato
da época, desejo de acabar com as condições sub-humanas de existência como os locais
para dormir, as vestimentas e alimentação que lhes eram dadas, estes escravos viviam
sempre em locais inadequados, com péssimas condições de vida para que qualquer
indivíduo, para que qualquer ser humano pudesse sobreviver com o mínimo de dignidade
e respeito e que pudessem conquistar as mínimas condições de sobrevivência, dignidade e
respeito, e assim sair destes locais, prisões chamados de SENZALAS.
[...] a cultura (significação) está em toda parte. Todas as nossas ações, seja na esfera do
trabalho, das relações conjugais, da produção econômica ou artística, do sexo, da religião,
de formas de dominação e de solidariedade, tudo nas sociedades humanas é construído
segundo os códigos e as convenções simbólicas a que denominamos “cultura”
(ARANTES, 1981, p. 34).
Para Moreira e Candau (2003), o conceito de cultura deve ser entendido e usado
como uma das condições constitutivas de existência da prática social, o que faz com que
toda prática social tenha uma dimensão cultural. Nesse sentido, a cultura além de abarcar
questões de gênero, raça, religião, etnia, está relacionada à forma com que o sujeito age na
sociedade, às suas subjetividades e visão de mundo.
A possibilidade de expressões lúdicas que envolvia a prática da capoeira nos
primórdios camuflava outras características desta manifestação. Sodré (1991) afirma que:
Como "brincadeira" ou como luta, a capoeira não tinha convenções nem gentleman's
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agreement. Quem espera uma bolacha de um (a) capoeirista, certamente ganhará uma
rasteira, uma meia-lua-de-compasso ou uma banda trançada, dessas de fazer voar
inapelavelmente o (a) contendor (a). Na capoeira dos (as) mestres valia tudo - cabeça,
braços, pernas - até mesmo correr do adversário. Segundo relatos de pessoas que foram
desta época e que conviveram com Mestre Bimba, relatam que Mestre Bimba diria várias
vezes, num meio-sorriso, a seus alunos: "Quem aguenta tempestade é rochedo”.
Arte, jogo, luta, dança, como podemos definir a capoeira em sua magnitude em sua
essência para que ela possa ter o seu valor reconhecido e assim garantir o seu acesso as
escolas de forma plena, sem alterar suas peculiaridades, sem perder sua historicidade e ao
mesmo tempo se manter atual para permanecer dentro do ambiente escolar. "[...]A
educação física brasileira precisa, assim, resgatar a capoeira como manifestação cultural,
ou seja, trabalhar com sua historicidade, não a desencarnar do movimento cultural e
político que a gerou[...]"(SOARES et al., 1992, p. 76).
Considerando a educação física, a partir dos pressupostos da metodologia crítico-
superadora, como uma disciplina escolar que trata pedagogicamente do que denominamos
de manifestações da cultura corporal (SOARES et al., 1992) nos leva a pensar que o
processo de ensino/aprendizagem vai além de apenas executar e repetir movimentos e
gestos sem nenhum fundamento. Neste caso busca-se estudar as manifestações da cultura
corporal procurando compreender seus aspectos históricos, técnicos, sociológicos,
antropológicos, biológicos, enfim, situando-os no contexto social no qual encontram-se
inseridos e instigando os alunos a realizarem uma leitura de sua realidade. (SILVA et al.
2011, p.891).
[...]A educação física brasileira precisa, assim, resgatar a capoeira como
manifestação cultural, ou seja, trabalhar com sua historicidade, não desencaná-la do seu
movimento cultural e político que a gerou[...] (SOARES et al., 1992, p. 76).
O tema pluralidade cultural é citado nos PCNs que que os alunos devem conhecer,
valorizar, respeitar e desfrutar da pluralidade de manifestações de cultura corporal
brasileiras e do mundo. Na atualidade a capoeira é reconhecida pela UNESCO como
“Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade” em 26 de novembro de 2014, e em 2015 é
aprovado pela comissão de educação um projeto de lei (PLS 17/2014) que reconhece o
caráter educacional da capoeira e permite que a modalidade seja praticada nas escolas
como manifestação cultural. Depois de séculos a capoeira se mostra capaz de fazer parte de
um contexto educacional, ainda há muito o que fazer, muito o que difundir e melhorar, mas
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podemos observar que estamos no caminho certo e que a capoeira tem sua importância
pedagógica na formação das pessoas, podendo a mesma auxiliar de perto nessa formação,
se fazendo parte integrante dentro de nossas escolas.
Falando um pouco sobre TRADIÇÃO, tem sua origem no latim traditio, que
significa "entregar" ou "passar adiante", é a transmissão de diversos aspectos como
costumes, comportamentos, memórias, rumores, crenças e lendas, que vão passando ao
longo do tempo para pessoas ou grupos de uma comunidade por exemplo, onde estes
conhecimentos vão sendo transmitidos de geração a geração, e passam a fazer parte da
cultura daquela comunidade ou grupo, levando um certo tempo para que tal fato seja
considerado tradição.

A capoeira é uma manifestação cultural da tradição afro-brasileira, sendo criada


pelos negros que foram traficados e escravizados aqui no Brasil, surgindo assim como
forma de luta para combater opressão vivida naquela época, desde então a capoeira vem
mantendo suas raízes, suas tradições até os dias atuais. Na capoeira desde seu início até
os dias de hoje encontramos aspectos que permanecem até hoje como: musicalidade, a
religiosidade, movimentos acrobáticos, dentre outros, que a torna especifica e
tradicional, que devido suas características originais permanecerem até hoje, porém sem
a mesma finalidade de luta de libertação pela qual foi criada. Hoje esta tradição é
debatida em diferentes contextos sociais e tratada como conteúdo dentro das escolas nas
aulas de educação física escolar.

Segundo Falcão 2004, essa gama de saberes e fundamentos conseguiu chegar até
os dias atuais por causa da tradição oral, ou seja, do boca-a-boca, tradição esta ainda
mantida por grandes mestres que fazem questão da manutenção deste legado que hoje é
símbolo da cultura brasileira.

Cultura esta que veio de uma tradição que vem sendo repassada por seus
praticantes ao longo do tempo, em diferentes locais, que mesmo com tanto tempo
passado, suas raízes estão mantidas, sua tradição está mantida, e além de tudo isto,
ganhando novos praticantes, de diferentes locais do planeta, é a nossa cultura, é a nossa
tradição ganhando o mundo. Hoje a capoeira é o maior divulgador da língua portuguesa
no mundo, nossa cultura está sendo difundida e valorizada mundo a fora, sendo
praticada e aprendida por milhares de pessoas em mais de 160 países em todos os
continentes, logo podemos perceber a riqueza desta luta, desta dança, deste jogo.
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Então por que que nós aqui, diante de tantos fatos como este, diante desta
divulgação mundial não olhamos para a capoeira com outros olhos, esta cultura é nossa e
temos a obrigação de valorizá-la, e não deixar que a religiosidade presente nela seja um
fator limitante para que as pessoas sejam apresentadas e conheçam um pouco de nossa
história, um pouco de nossa cultura, um pouco de nossa arte, onde a - 9ª Sessão do
Comitê Intergovernamental para a Salvaguarda aprovou, em novembro de 2014, em
Paris, a Roda de Capoeira, como um dos símbolos do Brasil mais reconhecidos
internacionalmente, como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade.

O reconhecimento da Roda de Capoeira, pela Unesco, é uma conquista muito


importante para a cultura brasileira e expressa a história de resistência negra no Brasil,
durante e após a escravidão. Cultura esta que não deve passar desapercebida por nossos
estudantes, temática esta, riquíssima em conteúdos que podem e devem ser repassados aos
nossos estudantes nas aulas de educação física.
Sobre a laicidade, nos encontramos diante de conceitos que configuram essa
compreensão. Qual o significado de LAICO? Laico significa o que ou quem não pertence
ou não está sujeito a uma religião ou não é influenciado por ela. Sua origem etimológica se
dá no Grego laikós que significa “do povo”.
Quando falamos em “Estado Laico”, existe a ideia de neutralidade sobre questões
religiosas. Deve haver liberdade para os cidadãos manifestarem a sua fé religiosa, qualquer
que ela seja, sem haver controle ou imposição de uma religião específica.
Logo podemos entender que a liberdade de escolha quanto a religiosidade deve
existir ou pelo menos deveria, mas não é isto que podemos observar ainda nos dias de hoje,
vemos ainda uma certa intolerância no que se refere a religião ou religiosidade dentro do
ambiente escolar, um preconceito por parte tanto dos(as) discentes que normalmente vem
com este pensamento prévio de suas famílias, onde muitas vezes já tem uma crença ou uma
religião específica não se permitindo conhecer outras formas de manifestações religiosas
por ser contra suas crenças, quanto dos próprios docentes, que também seguem esta
mesma linha de pensamento anteriormente citada, porém nossa legislação prevê o ensino
religioso na escola, mas ainda não foi estabelecido nem se chegou a um consenso de como
este processo será introduzido dentro da escola.
Fruto de pressão de organizações religiosas no processo Constituinte, o ensino
religioso esta previsto no parágrafo 1º do artigo 210 da Constituição brasileira. Na época, a
posição religiosa teve como adversário o Fórum em Defesa da Escola Pública, articulação
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de entidades de educação que defendia uma educação pública integralmente laica, em


sintonia com o princípio constitucional da laicidade.
Ao contrário das demais disciplinas que são previstas em lei específica (Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei Nº 9394/96), o Ensino Religioso é matéria
constitucional (art. 210 § 1º da Constituição Federal). A laicidade garante aos gêneros
que nenhuma religião poderá cercear os direitos do Estado ou apropriar-se dele para seus
interesses, logo a laicidade não exclui nenhuma religião e suas manifestações públicas,
nem o ensino religioso, muito menos interfere nas convicções pessoais daqueles que optam
por não ter nenhuma religião. A laicidade garante o caráter não obrigatório da religião,
mantendo a neutralidade confessional do Estado e das instituições, fazendo com que as
diferenças não sejam negadas e sim respeitadas.
Porém no dia 27 de setembro de 2017, o STF julgou improcedente a Ação Direta de
Inconstitucionalidade na qual a Procuradoria-Geral da República pedia para estabelecer
que o ensino religioso nas escolas públicas não fosse vinculado a uma religião específica e
que fosse proibida a admissão de professores na qualidade de representantes das confissões
religiosas. Por maioria dos votos (6 x 5), os ministros entenderam que o ensino religioso
nas escolas públicas brasileiras pode ter natureza confessional, ou seja, vinculado às
diversas religiões. Segundo a decisão, o ensino religioso nas escolas públicas deve ser
estritamente facultativo, sendo ofertado dentro do horário normal de aula. Fica autorizada
também a contratação de representantes de religiões para ministrar as aulas. O julgamento
não tratou do ensino religioso em escolas particulares, que fica a critério de cada
instituição.
As novas diretrizes: A Constituição Federal determina que a oferta do ensino
religioso deve ser obrigatória nas escolas da rede pública de ensino fundamental, com
matrícula facultativa – ou seja, cabe aos pais decidir se os filhos vão frequentar as aulas.
Apesar da obrigatoriedade, ainda não há uma diretriz curricular para todo o país que
estabeleça o conteúdo a ser ensinado. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(LDB), de 1996, definiu que cada estado deve criar normas para a oferta da disciplina, o
que abriu espaço para uma variedade de modelos adotados em cada rede de ensino.
Segundo a decisão, o ensino religioso nas escolas públicas deve ser estritamente
facultativo, sendo ofertado dentro do horário normal de aula. Fica autorizada também a
contratação de representantes de religiões para ministrar as aulas. O julgamento não tratou
do ensino religioso em escolas particulares, que fica a critério de cada instituição.
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No entanto, apesar de a sociedade viver em meio à diversidade cultural, a escola se mostra


com dificuldades em lidar com o trato das diferenças, devido à inadequação dos currículos
que são centrados no conhecimento da cultura hegemônica e promovendo o silenciamento
das vozes e histórias dos grupos minoritários, marginalizados (OLIVEIRA, 2007).
Isto influencia diretamente quando abordamos a temática da capoeira nas aulas de
Educação Física, devido a toda sua historicidade, a forma com que foi criada pelos negros
escravizados, os ritos e crenças por eles colocadas na capoeira, como a musicalidade, a
adoração aos seus deuses, instrumentos como atabaque, tudo isso hoje em dia influência de
forma negativa a abordagem desta temática nas aulas de educação física, e é isto que
queremos mostrar neste texto, queremos tentar contribuir para uma possível mudança de
paradigma e mostrar que a cultura existente na capoeira não irá determinar em suas crenças
e religiosidades, que é possível qualquer pessoa praticar e aprender a capoeira, sem ter que
mudar suas crenças religiosas, cada um (a) é livre para escolher seguir ou não qualquer
tipo de religião, que isto não irá mudar em nada a maneira de se passar ou aprender a
capoeira, não mudará em nada a crença religiosa dos discentes nas aulas de Educação
Física escolar, o (a) discente não deixará de ser católico (a), evangélico (a) ou ateu por
estar aprendendo por exemplo como a capoeira surgiu, ou por saber que os (as) negros (as)
tinham outra perspectiva religiosa.
Hoje podemos observar a grande diversidade de pessoas que praticam a capoeira,
de diferentes etnias, cor e religião, mostrando que o preconceito está na cabeça das
pessoas, e é dentro das escolas que também queremos mostrar isto, passar aos estudantes o
conhecimento, passar a historicidade da capoeira, apresentar-lhes a capoeira como um de
muitos conteúdos que a Educação Física tem para trabalhar numa perspectiva de formação
para a cidadania, mostrar que a capoeira faz parte de nossa cultura e que devemos sim
conhecer e valorizar o que é nosso, respeitando sempre as diferenças.

CONCLUSÕES

Pela observação dos aspectos analisados, percebemos que a capoeira possui


diversas manifestações corporais como luta, jogo, brincadeira, ginástica, dança, música,
etc. Como luta, pode extravasar e controlar a agressividade dos discentes, como dança
pode socializar, ampliar a linguagem corporal e coordenação motora dos discentes, na
musicalidade, pode aumentar a sensibilidade e a capacidade de memorização dos
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discentes, na parte da ginástica podemos destacar a possibilidade de aumento da


autoestima, fortalecimento dos músculos, tendões e ligamentos, a prática de uma atividade
física, e na parte do jogo pode despertar o interesse pelo inesperado, tudo isso podendo ser
trabalhado dentro das aulas de Educação Física, sem que tenhamos a influência de
qualquer tipo de religião, sem contar a parte cultural e histórica que a capoeira carrega em
sua essência.
No entanto, a capoeira é uma forma real de interagir o meio acadêmico, com as
pessoas em diversos aspectos, independente de qual seja seu status social ou qualquer outro
tipo de padronização classificatória que venha a existir, procurando sempre o equilíbrio
entre todos os membros da sociedade, de uma forma democrática, ética e principalmente
inclusiva.
O presente trabalho nos mostra que é possível sim, trabalhar a temática da capoeira
dentro do conteúdo lutas nas aulas de educação física, e dentro da legalidade de se ter uma
escola laica em nosso país, sem que a mesma seja discriminada por qualquer tipo de
religião, tanto que a capoeira não limita a participação de ninguém, independente do seu
tipo de religião ou crença religiosa. Os benefícios das aulas de capoeira estão sendo
gradativamente reafirmados nos estudos acadêmicos, cabe agora as nossas autoridades
reconhecerem toda riqueza que a capoeira tem e oferecê-la com mais qualidade e empenho
as nossas crianças e jovens.

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