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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL

FACULDADE DE CIÊNCIA HUMANAS (FACH) – HISTÓRIA

JÉSSICA VITÓRIA GASPAR FREITAS


MARIANA LOPES ALVES

FICHA DE ANÁLISE DE LIVRO DIDÁTICO


História Antiga I

CAMPO GRANDE
2020
JÉSSICA VITÓRIA GASPAR FREITAS
MARIANA LOPES ALVES

FICHA DE ANÁLISE DE LIVRO DIDÁTICO

Trabalho apresentado para fins de


avaliação parcial da disciplina História
Antiga I, sob a orientação do Prof° Carlos
Eduardo da Costa Campos, no curso de
História da UFMS.

Campo Grande

2020
FICHA DE ANÁLISE DE LIVRO DIDÁTICO1

Nível de ensino: ( ) Fundamental ( x ) Médio Ano de escolaridade: 1º ano do


Ensino Médio

I. DADOS CATALOGRÁFICOS

Título do livro: História sociedade & cidadania.

Autor (es): Boulos Júnior, Alfredo.

Editora/ Edição: Editora FTD.

Local: 2016

Número de páginas: 384 páginas.

Data: 2016

II. ORGANIZAÇÃO DA OBRA

Impressões sobre a capa:

Divisão interna: ( x ) Unidades ( ) Capítulos apenas ( ) Outros:

Se por unidades, especifique: ( x ) temáticas


( )aleatórias
Explicitar a divisão interna dos capítulos:
R: A obra é dividida em 4 unidades: Unidade 1 - Técnicas, Tecnologias e vida social;
Unidade 2 - Cidades: Passado e Presente; Unidade 3 - Democracia: Passado e Presente;
Unidade 4 - Diversidade Religiosa: O respeito à diferença.
Há sugestões de consulta nos capítulos? ( x ) Sim (
1
A ficha proposta segue o modelo de análise para livros didáticos utilizado pelo grupo de pesquisa ATRIVM /
UFMS.
explicitar (sites, vídeos, filmes etc.):
R: Há a presença de imagens, glossários e referências a documentários na maioria das
páginas do capítulo, curiosidades nas páginas 63 e 70, gráfico e mapa na página 64 e linha
do tempo na página 65.

Impressão visual da diagramação interna:


R: De maneira geral, a resolução da explicação apresenta-se de maneira organizada e
coerente ao decorrer das páginas, utilizando-se de caixas de textos, colorações com o intuito
de chamar a atenção do discente e ocupação proporcional de imagens, gráfico, mapa e linha
do tempo em comparação com os textos. Portanto, fica claro que o capítulo é repleto de
ilustrações e informações adicionais que acompanham e dialogam, simultaneamente, com a
didática do livro.

III. EXERCÍCIOS

Quais tipos de exercícios relacionados presentes na obra? Explique.


R: Em características gerais, os exercícios são mistos em 3 questões objetivas e 1 discursiva -
e uma complementar contida na página 77, com base em um texto de estudo - todos em níveis
de ENEM e Vestibulares nacionais, porém a quantidade é pouca para um assunto que deve ser
tratado de forma mais abordada. Logo, a sugestão seria abranger um pouco mais os exercícios
sobre a matéria e o período histórico em menção no capítulo - tratando não só o Egito Antigo
mas também o Reino Kush de forma mais abrasiva.

Os exercícios apresentam relações com os textos das unidades? De que forma?


R: Primeiramente, é notado a incoerência da atividade 4, da página 79, relacionada ao Reino
de Kush. A história do Reino de Kush, embora seja pouco descrita ao decorrer do capítulo,
poderia ter sido desenvolvida de melhor maneira. Em outra perspectiva, as questões de 1, 2 e
3, relacionadas ao Egito Antigo apresentam melhor seguimento, com respostas presentes nas
páginas 67, 69 e 70.

Como são os exercícios referentes à produção textual? Exemplifique.


R: A questão 1, como já mencionada, é a única discursiva dentro da aba de atividades -
requerendo do aluno conhecimentos sobre os elementos de representação de poder no Egito
Antigo, na página 67 existe a dica de um documentário para melhor ilustrar uma possível
resposta. Na mesma aba, existe a proposta de trabalho em grupo, inserindo os alunos em um
cenário hipotético de uma agência de turismo - talvez fosse mais interessante se em um
ambiente diferenciado, como um museu - de forma que abordassem de forma mais proveitosa
as questões históricas e aspectos políticos mencionados no capítulo. Além dessas 2 situações,
a atividade contida na aba “Para refletir”, mencionado anteriormente na página 77, é uma
forma interessante de exercício pois mescla os conhecimentos adquiridos em sala e
interpretação da obra em questão, com presença de glossário para melhor compreensão e
elementos para aprofundar a discussão.

IV. ANÁLISE DA UNIDADE


Unidade selecionada: Unidade 2; Cidades: Passado e presente.
Conteúdo: África Antiga
Estrutura: O Império Antigo: O Antigo Império; O Médio Império; O Novo Império; A
vida social no Antigo Egito; Religião; As artes e As ciências; A Civilização Núbia: O
Reino de Kush; A formação do reino; A escolha do rei; A candace: o papel da rainha-mãe;
A vida econômica e social; O declínio de Kush e a ascensão de Axum.
Recursos utilizados: O autor utiliza-se de imagens, referências a documentários,
glossários, curiosidades históricas, gráfico, linha do tempo e mapa com o intuito de
enriquecer e ilustrar as explicações descritas nos textos.
Temas abordados: Os temas abordados nos capítulos fazem uma divisão interessante de
geral para o particular, então começa da organização geográfica do Império Egípcio, com
suas periodizações até um microverso da organização política e social. Além disso, aborda
os tópicos de Arte e Ciências praticadas pelos egípcios - detém mérito por suas descobertas
e experiências até hoje - em campos da Medicina, Astronomia, Matemática. Na separação
do Reino Kush, também parte da abrangência macro para micro - ao analisar o histórico e
geográfico e ao decorrer do capítulo, discorre sobre a organização política, aspectos
religiosos e econômicos até o seu, por fim, declínio.
Fontes históricas: O capítulo utiliza-se de inúmeros recursos visuais como fotos de
estátuas, máscaras, sarcófagos (exemplo nas páginas 65, 70, 72, 75 ) representações -
como na página 69, com uma cena retirada do papiro do Livro dos Mortos ou a pintura
egípcia da página 71 do Templo de Abu-Simel. Além de obras e artigos de estudo sobre os
períodos tratados - como na página de introdução do capítulo [63] com um fragmento do
texto de Christian Jacq e na página 77, recortes do texto de Alberto da Costa Silva.

Até o decreto da Lei 10.639 de 2003 – que torna o ensino sobre a história e cultura
africana e afro-brasileira nas escolas – não havia uma preocupação de tratar e defender o
tema como componente da grade curricular. A decisão deste projeto legal foi deu-se por
conta do viés europeizante fundamentado antes – e até hoje – dentro da História na
Educação Básica e no Ensino Superior, que não dava espaço à uma matriz inegável no que
diz respeito à construção do Brasil – de forma demográfica, social e cultural.

No que concerne a abordagem da História da África antiga, o material didático inova


ao não dar exclusivismo apenas à civilização egípcia como residente do continente
africano, mas ainda se prende a um reduzionismo da enormidade do continente e suas
pluralidades à apenas 2 civilizações. Apesar de, infelizmente, não se aprofundar tanto no
que condiz aos exercícios – existe um debate interessante acerca da forma de vida e
organização da civilização núbia ademais sobre as contribuições dos egípcios e núbios às
artes e ciências.

O tratamento dado à forma em que se eram construídas as figuras divinas e políticas


no Antigo Egito e no Reino Kush – neste último abordando a temática das mulheres
dentro destes espaços importantes – dá margem para que se compreenda de que forma se
desenvolviam estes povos e quais suas prioridades para com a prosperidade de seus reinos.
Algo que merece ressalva é como ambos não são tratados como povos que tinham
intercâmbio – além do comercial – com outros, seja dentro do continente ou fora. Logo,
isso talvez prejudique a ideia da África como um continente ativo e fortaleça a teoria de
um lugar à deriva, “à espera de uma luz” – que mais tarde seria muito bem aproveitada
pelos europeus.

Em um texto, no próprio material, o africanista Alberto da Costa e Silva respalda


sobre a importância da história da África e seu estudo, uma vez que toda a noção e estudos
sobre ela foi baseada sob o julgamento europeu, como dito por Muryatan Barbosa: “(...)
seus povos eram coisificados como bárbaros ou vítimas. Contudo, essa linha de
investigação não tenta construir a História da África em sua especificidade, mas, ao invés
disso, identifica-se como uma história vista pelo olhar europeu, estereotipado e, por isso,
excludente (BARBOSA, 2008, pp. 45-47; LIMA, 2004, p. 3).

O conteúdo não passiviza a África de sua própria narrativa, entretanto, também não
lhe dá o protagonismo merecido, não trata da visão que permeeou durante séculos, tal qual
sobre o Egito. O embranquecimento e ocidentalização da história egípcia, principalmente
durante o período de Imperialismo, que foram utilizados para basear as várias filosofias de
dominação européia na África. Este tipo de discurso acabou por afetar – não só a
construção de identidades – como o reconhecimento, pela maioria, do Egito como
integrante do continente africano. Seria interessante que o autor do livro – de alguma
forma – abordasse a temática de uma nova visão daqueles que tiveram sua história roubada
para glória de outra.

O material é rico em detalhes e satisfatório no que diz respeito aos aspectos culturais,
sociais, políticos e geográficos da “África Antiga” que seriam aqueles cobrados para a
obedecer ao currículo comum – porém deixa a desejar na fomentação de uma criticidade a
cerca sobre quem faz parte e quem narra a África. Poderia, portanto, haver a abordagem do
povo egípcio de forma afrocentrada, retratar os núbios tão relevantes quanto demais
civilizações tidas como evoluídas e desenvolvidas e se possível, a menção à outros reinos e
impérios africanos – como o Império Etíope, Reino de Axum.

É importante, que a história de um continente tão vasto e com ligações tão fortes para
com o Brasil, mesmo que estas tenham se dado por circunstâncias dolorosas, traga
reparação e justiça aos seus devidos protagonistas e narradores.

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