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MIGUEL DE CERVANTES – DOM QUIXOTE

Prof. José Monir Nasser


https://www.youtube.com/watch?v=eTX69jn21EA

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O espanhol Miguel de Cervantes (1547-1616) é o precursor da modalidade
artística chamada Romance; no séc. XVII ele publica sua obra “Dom Quixote” (feita em
duas partes: a primeira publicada em 1605, a outra, em 1615), a qual é a precursora do
Romance; tal modalidade é mais ou menos inventada por Cervantes. O Romance foi o
principal veículo ficcional do séc. XIX, que é o século do Romance – todos os grandes
romancistas são desse século, como Fiódor Dostoiévski. No séc. XX há uma diluição do
Romance.
Em 1508, aparece o romance tardio de cavalaria “Amadis de Gaula” (na Espanha),
que é um herói de cavalaria – o modelo existencial do Dom Quixote. Percebe-se que em
1508 os romances de cavalaria já eram uma antiguidade, já eram fora de época,
extemporâneos. Em 1545, começa o “Concílio de Trento” [que é a Contra-Reforma],
movimento político-cultural organizado pela Igreja Católica para lutar contra a Reforma
Protestante, e foi aí aparece os jesuítas como o braço armado da Igreja Católica. Em
1547, nasce Miguel de Cervantes, possivelmente em 29 de setembro. Em 1556, o grande
Filipe II, campeão de Contra-Reforma, sobe ao trono espanhol; por volta desse ano, Luís
de Camões completa sua obra “Os Lusíadas”. Em 1562 nasce o maior literato espanhol
chamado Félix Lope de Veja; em 1564 nasce William Shakespeare. Portanto, Cervantes é
contemporâneo de Camões, de Lope de Veja, de Shakespeare. [Cervantes foge para
Roma, por causa do “Santo Ofício” que é a Inquisição Espanhola, e não Inquisição
Romana].
Cervantes convive com o esplendor renascentista de Michelangelo, de Da Vinci,
Tintoretto, Tcheline [?], Tácio [?]. O momento de Felipe II é o momento maior de toda a
história da Espanha. O Fernand Braudel escreve “O Mediterrâneo e o Mundo
Mediterrâneo na época de Filipe II”, que faz uma narração do esplendor e da importância
política da Espanha no seu momento maior de todos.
Em 1576, o rei de Portugal, Dom Sebastião, por motivo exibicionista e não
militares, entra na batalha de Alcácer-Quibir e desaparece (não é que morre), deixando a
coroa sem sucessor, inaugurando o Sebastianismo; os portugueses o cultuam, uma
espécie de mito nacional acreditando que um dia ele irá voltar dirigindo suas tropas para
resgatar Portugal dos seus infortúnios (uma espécie de versão lusitana de que “Elvis não
morreu”). SEBASTIANISMO é a atitude de achar que o governo é quem irá resolver o
problema. O Sebastianismo influenciou o Brasil; as duas rebeliões de massa no Brasil –
Guerra do Contestado em Santa Catarina e Paraná e a Guerra de Canudos –, cujos
líderes eram religiosos, prometiam para os revoltosos que o Dom Sebastião voltaria para
salvá-los. Portanto, é o Sebastianismo que deu ao brasileiro essa atitude de achar que o
governo irá resolver o problema.
Miguel de Cervantes foi funcionário da unificação entre Portugal e Espanha. Dom
Quixote é preso por 5 meses, onde começa a escrever sua obra “Dom Quixote”.
Cervantes morre no mesmo dia de Shakespeare.
Eu, José Nasser, gosto muito da Camille Anna Paglia (ou simplesmente, Camille
Paglia), uma feminista sui generis (ela se declara lésbica, mas só transa com homens
porque acha as mulheres chatas).

33.00 min.

Boécio – A Consolação da Filosofia


https://www.youtube.com/watch?v=gdhIleGhoPQ
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O nosso programa é um programa de cultura, e não um programa literal; com isso
quero dizer que não temos interesse em questões de natureza literária (estilo, estrutura
literária). A obra “A Consolação da Filosofia”, em parte é um livro de Filosofia e em
parte um livro literário – tem os dois componentes simultaneamente. Evito livros
ensaísticos (de ensaios) porque a metodologia já comprovou ser mais adequado livros
que se possam contar uma história (obras ficcionais) do que livros ensaísticos.
A obra de Boécio chamada “A Consolação da Filosofia” é a indicada como primeira
leitura para quem quer entrar no mundo da Filosofia; portanto, não comece lendo a obra
de Jostein Gaarder, “O mundo de Sofia” [não a leia de jeito nenhum], nem qualquer obra
de “Introdução à Filosofia”, que em geral é muito descritiva (e que muitas vezes são
apenas livros de cultura filosófica). A obra “A Consolação da Filosofia” lhe dará a ideia
do que é o pensamento filosófico; é um livro de Filosofia, mas com linguagem
poética (não há nada que proíba fazer Filosofia com poesia). há quem ache que a
Filosofia só existe no momento em que ela é filosofada, no resto são preservações de
momentos de Filosofia (cristalização; uma espécie de Filosofia que ficou cristalizada).
Boécio não é muito conhecido, mas é um sujeito interessantíssimo; viveu no ano
500 d.C., ele é uma espécie de transição entre o mundo antigo (mundo romano em
decadência) e o mundo novo (mundo medieval) que iria se consolidar muito tempo depois
dele. A IDADE MÉDIA, rigorosamente, só começa com o império carolíngio (de
Carlos Magno), fundado em 25 de dezembro do ano 800. Boécio é uma pessoa de
dois mundos. A obra “al-Muqqadimah” (conhecida no Ocidente como Os Prolegômenos
ou Filosofia Social), de Ibn Khaldun (séc. XIV), conta sobre o mundo de sua época; é uma
introdução metodológica à história do mundo – com essa obra ele desenhou todas as
ciências ditas humanas modernas. O historiador britânico Arnold J. Toynbee disse ser a
maior obra de história de todos os tempos.
Roma é assaltada pelos bárbaros (povos germânicos), os quais a governaram. O
governo bárbaro tem entre os seus auxiliares as diversas famílias patrícias de Roma (de
linhagem nobre romana), entre elas a família de Boécio (o qual acaba trabalhando para
um governante bárbaro). Boécio leva uma vida bem sucedida até ser vítima de
conspiração de uma intriga e por causa disso é condenado à morte, e executado. Ao estar
no corredor da morte, Boécio recebe a visita de uma mulher (a Filosofia) que o faz
compreender aquilo que está acontecendo com ele; quando a mulher/Filosofia chega em
Boécio, acaba encontrando as musas poéticas (que estão inspirando fazer lamentações,
choramingas), e fica furiosa expulsando-as porque agora quem fará a terapia em Boécio é
a Filosofia.

DADOS HISTÓRICOS EM TORNO DA ÉPOCA DE BOÉCIO (ca. 480-525)


Em 313 d.C., com Edito de Milão, o imperador Constantino I torna o Cristianismo
não na religião oficial do Império, mas o torna livre – a primeira vez em que o Cristianismo
pôde ser praticado livremente. Em 325, o Concílio de Niceia resolve teologicamente o
problema da heresia do Arianismo, segundo a qual não existe a consubstancialidade
entre Jesus e Deus. Em 354, no norte da África, nasce Santo Agostinho (morre em 430).
Em 395, a mando de Teodósio, o império romano se divide em Império do Ocidente e
Império do Oriente: a capital do Ocidente fica em Ravena [Igreja Católica Apostólica
Romana], e do Oriente, em Constantinopla [Igreja Católica Ortodoxa]. Obs.:
Constantinopla, que antes era Bizâncio, nome pagão; depois, Constantinopla, nome
cristão; atualmente, Istambul, nome islâmico. Essa divisão de Cristianismo é definitiva; a
religião cristã do Oriente é diferente da do Ocidente, pois é muito mais tradicionalista,
ritualística; porém, há uma igreja no Oriente que é associada à do Ocidente, chamada
Maronita do Líbano; esses cristãos libaneses são subordinados eclesiasticamente a
Roma (ao papa, portanto, são cristãos romanos), e não à Igreja Ortodoxa, embora os ritos
são ortodoxos (não latinos). Em 476, o germânico Odoacro depõe Rômulo Augusto,
domina a Itália, marcando o fim do Império Romano do Ocidente. Muitos acham que
por causa disso (e nessa data), começa a Idade Média como proposta existencial (de uma
nova maneira de ser), mas na verdade precisará chegar ao ano 800; esse período entre
476 e 800 é um período de transição para a Idade Média.
DADOS DE BOÉCIO
Cerca de 480, Boécio nasce em Roma, numa família patrícia (aristocracia romana);
órfão aos 7 anos, adotado pelo aristocrata Quinto Aurélio M. Símaco, com cuja filha –
Rusticiana – ele iria se casar. Em 494, o ostrogodo Teodorico, o Grande (474–526),
depois de tomar a Itália, se declara rei em Ravena, rei do Império Romano. Teodorico é
ariano, como a maioria dos bárbaros, menos os francos [Obs.: os francos são bárbaros;
os franceses se originam dos francos, embora tenham língua latina, mas são germanos;
então, os franceses não são latinos].
Em 507, Teodorico comissiona Boécio, o qual tem cultura excepcional,
possivelmente adquirido na Grécia. Boécio é tradutor das “Categorias” de Aristóteles e
dos comentários sobre o Isagoge de Porfírio; Boécio também escreveu Tratados sobre
todas as Artes do Quadrivium. QUADRIVIUM é um conjunto das artes liberais na Idade
Média. A EDUCAÇÃO NA IDADE MÉDIA era completamente diferente do que é hoje, e
funcionava assim: não havia escola obrigatória, portanto a decisão de enviar os filhos à
escola, a partir dos 14 anos de idade, cabia aos pais, caso quisesse que o filho estudasse
as únicas 7 coisas na escola – que são as 7 ARTES LIBERAIS, composta de Trivium
(Retórica [como falar], Gramática [com precisão], Lógica [com conteúdo] – são as artes da
mente humana), e de Quadrivium (Aritmética, Música, Geometria, Astronomia – são as
artes das coisas). Quando se formasse nessas 7 artes liberais (por volta dos 18 anos de
idade), você era considerado (recebia o título de) Mestre nessas 7 artes. Uma
reminiscência disso se encontra nos EUA no título acadêmico “Master of Arts” (“Mestre de
Artes”); não é arte no sentido de escultura, pintura etc., mas no sentido das 7 artes no
mundo medieval. Caso o sujeito quisesse e pudesse pagar, ele continuaria seus estudos
em um dos 4 CURSOS SUPERIORES existentes: Teologia, Direito Canônico (teve um
tempo que teve Direito Civil, mas depois foi cassado), Medicina e Filosofia – os que são
formados em qualquer uma dessas áreas recebia o título de Doutor; daí hoje chamarmos
o médico e advogado de doutor, e não o engenheiro porque não era uma das artes
superiores liberais (os engenheiros, na época chamado construtores, não eram livres,
mas prisioneiros dos seus ofícios, corporações; prisioneiro de um determinado código
comercial controlado pela Guilda, mas o médico tinha o direito de dizer “eu não vou cobrar
nada” – esse é o sentido da ideia de LIVRE das artes superiores da Idade Média; é que
aqueles que eram formados em uma das 4 artes superiores não precisavam se submeter
a nenhuma regra que não fosse a sua consciência; então o profissional liberal é aquele
que pode fazer o que bem entender, como cobrar de um, não cobrar de outro, cobrar
metade). Além desses 4, não havia nenhum outro curso superior liberal. Uma das
pessoas que estabeleceu esse sistema (cobrar, não cobrar) foi Boécio, embora considera-
se, de modo geral, que o maior compilador das 7 artes liberais foi o padre inglês Alcuíno
(morou no corte de Carlos Magno no ano 800, e montou uma escola na corte e é a
primeira escola associada ao Estado no mundo Ocidental Europeu, ano 800 d.C.).
Nos sécs. XI, XII e XII, temos a maturação Escolástica, que é filha desse conjunto de
atividades.
Em 510, Boécio tornou-se cônsul romano (quase um cargo de primeiro ministro),
mas sob um governante estrangeiro bárbaro (Teodorico). Os bárbaros tinham a modéstia
em saber que não sabiam, que eram inferiores aos romanos; por isso eles deixavam os
romanos dirigirem o Estado, enquanto se ocupavam com a guerra. Em 519, do outro lado
do mundo, inicia-se em Constantinopla, o reinado do católico

27:34min.

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