Você está na página 1de 12

REVISÃO REVIEW 7

Compreendendo a Educação Popular em Saúde:


um estudo na literatura brasileira

Understanding Popular Health Education:


a review of the Brazilian literature

Luciano Bezerra Gomes 1,2

Emerson Elias Merhy 3

Abstract O campo da saúde no Brasil constituiu-se como


um terreno de intensos debates quando toma
1 Centro de Ciências Médicas, This article reviews the Brazilian literature on por foco a organização das políticas públicas
Universidade Federal da
Paraíba, João Pessoa, Brasil.
popular health education, a theoretical area that para esta área. São muitos os sujeitos políticos
2 Faculdade de Ciências includes a relevant group of the country’s public que, com distintas inserções institucionais, cons-
Médicas da Paraíba, João health researchers and political activists. This was troem formulações no intuito de disputar nessa
Pessoa, Brasil.
3 Faculdade de Medicina, a qualitative, exploratory, analytical study. Based arena. Entretanto, em relação à maneira como se
Universidade Federal do Rio on a search in the SciELO database and books posicionam e no modo como são construídas as
de Janeiro, Rio de Janeiro, formulações, muitas vezes essas disputas ficam
and book chapters, we systematized the academ-
Brasil.
ic output on popular health education in Bra- relativamente veladas. Por um lado, o fato de a
Correspondência zil. The article discusses the historical process in saúde coletiva brasileira ter se fortalecido como
L. B. Gomes
which popular health education was constructed área de produção acadêmica, com diversos gru-
Departamento de Promoção
da Saúde, Centro de Ciências by various social movements. We further analyze pos de pesquisa vinculados a conceituadas insti-
Médicas, Universidade Federal the general characteristics of popular health edu- tuições formadoras, leva a que os debates tomem
da Paraíba.
cation and its main agendas, the ways by which um caráter mais “científico”. Nesse sentido, a di-
Cidade Universitária, João
Pessoa, PB 58051-900, Brasil. authors with this perspective view the education- mensão política inerente às proposições que são
lucianobgomes@gmail.com al work of health services for the population, and realizadas se limita a uma “honestidade” teórica
their critiques and disputes with the hegemonic em que se reconhece a “parcialidade” do conhe-
approach to the organization of education and cimento produzido. De certo modo, assumidas
health care. Finally, we identify several additional como perspectivas teóricas, as distintas formula-
contributions to popular health education’s foun- ções políticas se isolam entre as escolas, fomen-
dations and principles. tando discussões que ficam no campo epistêmi-
co em torno de aspectos metodológicos.
Health Education; Consumer Participation; Na produção científica em geral, mas no cam-
Qualitative Research po da saúde em especial, as produções acadêmi-
cas não apenas estão se assentando em métodos
que têm relação com a concepção de mundo dos
seus pesquisadores; as escolhas dos autores, de
certa forma, delimitam o campo político no qual
eles pretendem debater. Não há delimitação de
objeto de pesquisa, há sempre definição políti-
ca em torno de saber em que disputas estamos

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 27(1):7-18, jan, 2011


8 Gomes LB, Merhy EE

entrando e com quem as estamos travando. Algumas opções metodológicas


Dessa forma, acreditamos que não debatemos
apenas teorias, de fato, estamos sempre dispu- Este estudo pode ser caracterizado como uma
tando a construção dos sujeitos, a produção da pesquisa de natureza qualitativa, de nível ex-
subjetividade dos atores presentes nas arenas. A ploratório e de caráter analítico. Segundo Gil 4
formulação acadêmica é, intensamente, produ- (p. 43), a pesquisa exploratória tem “como princi-
ção de disputas 1,2. pal finalidade desenvolver, esclarecer e modificar
É dentro dessas perspectivas que desenvol- conceitos e idéias, tendo em vista a formulação
vemos uma pesquisa, como parte do mestrado de problemas mais precisos ou hipóteses pesqui-
de um de seus autores junto ao Programa de Pós- sáveis para estudos posteriores”. Entre as diversas
graduação em Clínica Médica da Faculdade de técnicas de pesquisa qualitativa possíveis para
Medicina da Universidade Federal do Rio de Ja- obtenção dos dados, foram utilizados métodos
neiro. O presente artigo é parte dessa pesquisa, e de pesquisa bibliográfica. A pesquisa bibliográ-
teve o papel, nela, de delimitar melhor o campo fica é “um apanhado geral sobre os principais
de produção da matriz teórica da educação po- trabalhos já realizados, revestidos de importân-
pular em saúde, vista como fruto de refinamento cia por serem capazes de fornecer dados atuais e
de formulações teóricas da educação aplicadas à relevantes relacionados com o tema” 5 (p. 12).
saúde e, principalmente, como ferramenta para Para a realização desta pesquisa, inicialmen-
a luta social de diversos sujeitos articulados em te fizemos um levantamento bibliográfico pre-
vários movimentos sociais, disputando os ru- liminar, no qual tentamos identificar as carac-
mos das políticas sociais no Brasil e na América terísticas gerais da educação popular em saúde.
Latina. Para tanto, realizamos uma revisão de artigos
A intenção de pesquisar entre autores da publicados até o mês de junho de 2009 em re-
educação popular em saúde se dá em virtude vistas indexadas e disponíveis na página virtual
do reconhecimento da força que tem esta ma- da base de dados da Scientific Electronic Libra-
triz teórica no campo da saúde. Um indicador ry Online (SciELO). Para a identificação do ma-
disso poderia ser a reconhecida influência de terial, foram feitas buscas com a utilização das
suas formulações entre pesquisadores da saúde seguintes palavras-chave: educação popular em
presentes na academia brasileira. Suas constru- saúde; educação popular e saúde; educação em
ções teóricas têm apresentado a capacidade de saúde; educação em saúde bucal; educação em
produzir significado e constituir novos sujeitos saúde na escola; educação em saúde publica;
nesse campo. Um segundo aspecto que nos le- educação em serviços de saúde; educação para
va a estudar essa corrente de pensamento se saúde; educação sanitária; educação sanitária
dá pelo fato de que muitas das formulações de- odontológica.
senvolvidas nesse campo de produção têm si- Foram identificados, inicialmente, 375 arti-
do agregadas em diversas experiências onde se gos, os quais tiveram seus títulos, autores e resu-
tenta implementar o SUS. Outro motivo é que, mos lidos, resultando em uma segunda seleção
em parte das experiências de implementação de 90 artigos que poderiam apresentar relação
do SUS que se basearam em suas formulações, com o objetivo deste levantamento bibliográfico
diversos autores dessa matriz teórica se envolve- preliminar e que foram selecionados para leitura
ram diretamente. Certamente, isso tendo refleti- exploratória, na tentativa de identificar os que
do, em termos práxicos, em seus movimentos de tinham provável capacidade de contribuir com
(re)formulações teóricas. Por fim, concordando a caracterização da matriz teórica da educação
com Gilles Deleuze 3, para quem só escrevemos popular em saúde. Com base nisso, realizamos
algo porque nos é necessário, de certa forma, uma leitura seletiva e posterior leitura analítica
com este estudo, dialogamos com algumas das dos 27 artigos mais relevantes para os objetivos
vivências em que participamos. Nas várias in- deste estudo. Por meio desses artigos foram iden-
serções como profissionais e militantes da saú- tificados livros e capítulos de livros, além de mais
de, a educação popular em saúde sempre tem 10 artigos que não constavam na SciELO, que
se apresentado como uma das frentes que mais eram citados com mais relevância, e que levaram
tem agregado novos sujeitos políticos na saúde; a uma segunda seleção de materiais que totaliza-
as obras de seus autores são intensamente aces- ram 37 artigos, 15 livros e 25 capítulos de livros.
sadas por muitos companheiros e eles sempre se Todo esse material passou por etapas semelhan-
colocaram, direta ou indiretamente, como inter- tes de leituras exploratória, seletiva e analítica.
locutores necessários e privilegiados. As primeiras leituras foram necessárias para se-
lecionar, entre toda a produção, os materiais que
teriam potencial de contribuir com a caracteriza-
ção das questões centrais para essa corrente de

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 27(1):7-18, jan, 2011


COMPREENDENDO A EDUCAÇÃO POPULAR EM SAÚDE 9

pensamento. As leituras mais profundas foram posição em relação a ele. Isto é, qualquer intér-
realizadas já com a intenção de analisar e inter- prete deve assumir determinadas questões que o
pretar o material selecionado, com a finalidade texto lhe apresenta como problemas não resolvi-
de construir sínteses capazes de expor a cons- dos. E compenetrar-se do fato de que no labor da
trução teórica presente na educação popular em interpretação não existe última palavra. e) Toda
saúde. À medida que as leituras foram se suce- interpretação bem sucedida é acompanhada pela
dendo, realizamos apontamentos e fichamentos, expectativa de que o autor poderia compartilhar
os quais foram armazenados digitalmente, sendo da explicação elaborada se pudesse penetrar tam-
posteriormente organizados logicamente a fim bém no mundo do pesquisador. Tanto o sujeito
de permitir a redação do artigo 6. que comunica como aquele que o interpreta são
Para realização da leitura analítica e interpre- marcados pela história, pelo seu tempo, pelo seu
tativa utilizamos como referência alguns aspec- grupo. Portanto, o texto reflete esta relação de for-
tos teóricos da hermenêutica filosófica. Para essa ma original”.
perspectiva, a compreensão de algo é a própria Tentamos tomar esses passos como refe-
interpretação, vista como uma condição do ser rência no trabalho com o material bibliográfico
humano e não como resultado da aplicação cri- neste estudo. Também, consideramos algumas
teriosa e padronizada de determinado método a sugestões metodológicas propostas por Umber-
priori. Para tanto, essa corrente de pensamento to Eco 9, em especial em relação à maneira de
admite que, para se produzir uma compreensão, organizar a leitura de material bibliográfico e de
é necessário reconhecer o engajamento dos su- como organizar os fichamentos, otimizando a
jeitos, pois é a partir do diálogo de suas concep- etapa de redação da versão final do texto.
ções com aquilo que tenta entender que a com- Com base nessa pesquisa bibliográfica, ela-
preensão é negociada, testando-se aí inclusive boramos uma sistematização da produção da
nossas idéias e preconcepções. Não existe um educação popular em saúde, apresentando um
significado objetivo, o qual tentamos alcançar resgate do processo histórico de constituição
nos distanciando do que somos para assimilá- da educação popular em saúde como fruto da
lo imparcialmente. Sendo assim, não há uma atuação de diversos movimentos sociais, uma
interpretação correta das ações humanas e dos descrição das características gerais da educação
textos; não se desvenda algo; não se reproduz al- popular em saúde, suas grandes pautas, a manei-
go pela interpretação; sempre se constrói uma ra como os autores desta perspectiva compreen-
compreensão no diálogo com o que já se traz. dem a atuação educativa dos serviços de saúde
Nesse sentido, a compreensão torna-se, em si, junto à população, suas críticas e disputas com o
uma experiência prática, humana, deixando de modo hegemônico de se organizar a educação e
ser um movimento em etapas de algo que é assi- a atenção à saúde, bem como algumas contribui-
milado para depois ser aplicado 7. ções que agregam aos que se propõem a seguir
Em um texto em que analisa o debate que se suas bases e preceitos.
trava entre Habermas e Gadamer, Minayo 8 (p.
221-2, grifos da autora) retoma os pressupostos
metodológicos da hermenêutica para as ciências Compreendendo a Educação Popular
sociais, quais seriam: “a) o pesquisador tem que em Saúde
aclarar para si mesmo o contexto de seus entrevis-
tados ou dos documentos a serem analisados. Isso O percurso das ações de educação em saúde no
é importante porque o discurso expressa um saber Brasil tem suas raízes nas primeiras décadas do
compartilhado com outros, do ponto de vista mo- século XX. As campanhas sanitárias da Primeira
ral, cultural e cognitivo. b) O estudioso do texto (o República e a expansão da medicina preventiva
termo texto aqui é considerado no sentido am- para algumas regiões do país, a partir da década
plo: relato, entrevista, história de vida, biografia de 1940, no Serviço Especial de Saúde Pública
etc.) deve supor a respeito de todos os documentos, apresentavam estratégias de educação em saúde
por mais obscuros que possam parecer à primeira autoritárias, tecnicistas e biologicistas, em que
vista, um teor de racionalidade e de responsabi- as classes populares eram vistas e tratadas como
lidade que não lhe permite duvidar. O intérprete passivas e incapazes de iniciativas próprias 10.
toma a sério, como sujeito responsável o ator so- Até a primeira metade da década de 1970, a
cial que está diante dele. c) O pesquisador só pode prática de atenção à saúde se resumia quase que
compreender o conteúdo significativo de um texto exclusivamente à medicina privada, para os que
quando está em condições de tornar presentes as podiam pagar; e nos hospitais da previdência so-
razões que o autor teria para elaborá-lo. d) Por cial, para os trabalhadores que tinham carteira
outro lado, ao mesmo tempo em que o analista assinada, em ambas as situações desenvolven-
busca entender o texto, tem que julgá-lo e tomar do práticas de caráter basicamente curativas. As

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 27(1):7-18, jan, 2011


10 Gomes LB, Merhy EE

práticas preventivas e educativas em saúde se teórico do processo de reestruturação da saúde


davam de forma isolada. As condições de saúde pública da década de 1980. Com base nas pro-
das classes pobres eram péssimas e não refletiam postas surgidas lá, criou-se, em 1987, o Sistema
o crescimento econômico que o país apresentara Unificado e Descentralizado de Saúde (SUDS),
nos últimos anos. A crescente insatisfação polí- que garantiu o atendimento universal nos ser-
tica desencadeou um processo de instabilidade viços de atenção básica e rede de hospitais pú-
social que obrigou o Estado a voltar um pouco blicos e conveniados, iniciando um processo de
sua atenção aos problemas mais básicos da po- descentralização de poder e desconcentração de
pulação. É a partir daí que, na tentativa de ofere- recursos ao fortalecer as gestões estaduais 13,14.
cer uma medicina curativa para os mais carentes, A Constituição Federal de 1988 afirma, no seu
começa a ser implementada no Brasil uma pro- art. 196 15, que a saúde é um direito universal e
posta de medicina comunitária que empregava responsabiliza o Estado pela realização de políti-
técnicas simplificadas, de baixo custo, e valoriza- cas públicas intersetoriais que a garantam. Com
va os aspectos preventivos da saúde. Nessa polí- ela, foi criado o Sistema Único de Saúde, que foi
tica de saúde, são criados vários postos e centros regulamentado com a Lei nº. 8.080 16, de 19 de
de saúde em muitas regiões e cidades periféricas setembro de 1990, conhecida como Lei Orgânica
dos grandes e médios centros de desenvolvimen- da Saúde, que definia como alguns dos princí-
to. Nesses espaços os profissionais de saúde se pios e diretrizes do SUS: universalidade; integra-
viram diante da necessidade de atuar próximos lidade; eqüidade; participação da comunidade;
da realidade das pessoas que eles atendiam, e descentralização político-administrativa; regio-
passaram a se integrar na dinâmica da vida das nalização e hierarquização da rede de serviços de
classes populares 11. saúde. Alguns aspectos de sua regulamentação
O lento processo de abertura política do país passaram por vetos presidenciais, e foram revis-
se deu a partir da segunda metade da década de tos a partir da Lei nº. 8.142 17, ainda em 1990, em
1970. Sem partidos e sindicatos onde se aglutinar especial os que tratam da participação popular
para resistir e construir um novo modelo para a na gestão e controle do sistema.
sociedade, a população busca novas formas de se A década de 1990 foi de lutas pela efetiva im-
organizar. A Igreja Católica, em virtude das for- plementação e expansão do SUS e foi marcada
mulações dos teóricos da teologia da libertação por várias conferências de saúde municipais,
e por escapar em alguns aspectos da rede direta estaduais e nacionais, além da regulamentação
de repressão mobilizada pelo Estado, foi uma das mais detalhada da estrutura e funcionamento do
instituições que permitiu a reunião de pessoas SUS por meio de inúmeras portarias e leis, das
com objetivos transformadores e possibilitou normas operacionais básicas e de assistência à
trocas de experiências entre diversas áreas do saúde 14.
conhecimento e segmentos da sociedade. Nesse Em 1991, profissionais de saúde, lideranças
período, foram muitos os movimentos nos quais de movimentos sociais e pesquisadores envol-
os profissionais de saúde se engajaram, vários vidos em diversas experiências que se baseavam
deles baseados em uma relação menos vertical nos princípios da educação popular se organiza-
entre os profissionais e a sociedade, inspirados ram em torno da Articulação Nacional de Edu-
nos conceitos da educação popular, sistemati- cação Popular em Saúde, que foi constituída no
zados inicialmente por Paulo Freire e depois se I Encontro Nacional de Educação Popular em
abrindo toda uma área de produção de conheci- Saúde, ocorrido em São Paulo. Em 1998, a Arti-
mentos vinculados às suas práticas, denominada culação muda de nome para Rede de Educação
educação popular em saúde 12. Popular e Saúde, a qual passa a representar um
O processo de reforma sanitária se dá por espaço importante de articulação política, de
meio de várias lutas políticas e institucionais troca de experiências e de formulação de teorias
que se intensificaram durante toda a década de e de propostas alternativas para o funcionamen-
1980, contando com a participação de vários to dos serviços de saúde. Segundo Stotz et al. 18
profissionais que haviam desenvolvido experi- (p. 53): “a unidade de propósitos dos partici-
ências inovadoras na organização da atenção pantes do movimento consiste em trazer, para o
à saúde, muitos dos quais passaram a ocupar campo da saúde, a contribuição do pensamento
posições de gestão em algumas administrações freiriano, expressa numa pedagogia e concepção
públicas mais progressistas. Esse movimento de mundo centrada no diálogo, na problema-
também contou com a colaboração de algumas tização e na ação comum entre profissionais e
lideranças políticas e de organizações da socie- população. É importante ressaltar, na identidade
dade civil. do pensamento de Paulo Freire e a dos partici-
No ano de 1986, realizou-se a VIII Conferên- pantes do movimento de educação popular e saú-
cia Nacional de Saúde, grande marco político e de, a convergência de ideologias aparentemente

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 27(1):7-18, jan, 2011


COMPREENDENDO A EDUCAÇÃO POPULAR EM SAÚDE 11

díspares, quais sejam, o cristianismo, o humanis- superar, em diversas ocasiões, situações de mui-
mo e socialismo”. ta adversidade. A educação popular faz uma
No ano de 2003, com o auxílio do Ministé- aposta pedagógica na ampliação progressiva da
rio da Saúde no primeiro ano do governo Lula, análise crítica da realidade por parte dos cole-
realizou-se uma nova configuração entre os mo- tivos à proporção que eles sejam, por meio do
vimentos sociais que se articulavam em torno exercício da participação popular, produtores de
da luta pela saúde. Em uma parceria com a Re- sua própria história 21,22.
de de Educação Popular e Saúde, realizaram-se A educação popular, além de permitir a inclu-
encontros estaduais que culminaram em um são de novos atores no campo da saúde, fortale-
encontro nacional no qual se constituiu a Arti- cendo a organização popular, permite também
culação Nacional de Movimentos e Práticas de que as equipes de saúde ampliem suas práticas,
Educação Popular e Saúde, que ficou conhecida dialogando com o saber popular 20. A educação
por ANEPS 19. popular em saúde, assim, busca empreender
A Rede de Educação Popular e Saúde con- uma relação de troca de saberes entre o saber
tinuou a existir de forma autônoma e, a partir popular e o científico, em que ambos têm a en-
de articulações provenientes de seus membros, riquecer reciprocamente 11. Segundo diversos
também constitui-se a Rede de Estudos sobre autores, essa proposta torna-se cada vez mais
Espiritualidade no Trabalho em Saúde e na Edu- necessária, à medida que foi sendo produzido
cação Popular. Essa rede agrega sujeitos que, um distanciamento cultural entre as instituições
participando ou não das outras articulações, se de saúde e a população, fazendo com que uns
interessam em aprofundar-se na temática da es- não compreendam o modo como os outros ope-
piritualidade em saúde. ram. A educação popular em saúde tem como
Nos últimos anos, o Ministério da Saúde tem balizador ético-político os interesses das classes
apresentado setores específicos para construção populares, cada vez mais heterogêneas, conside-
de políticas e incentivo a atividades no campo rando os movimentos sociais locais como seus
da educação popular em saúde, e também foi interlocutores preferenciais 23.
criado um grupo de trabalho específico junto à A educação popular em saúde busca não ape-
Associação Brasileira de Pós-graduação em Saú- nas a construção de uma consciência sanitária
de Coletiva (ABRASCO), órgão que congrega as capaz de reverter o quadro de saúde da popula-
entidades acadêmicas brasileiras que produzem ção, mas a intensificação da participação popu-
no campo da saúde coletiva 20,21. lar radicalizando a perspectiva democratizante
Esse sucinto resgate histórico se fez no intui- das políticas públicas. Para alguns autores, ela
to de demonstrar que, mais do que sujeitos que representa um modo brasileiro de se fazer pro-
produzem uma reflexão acadêmica, no campo moção da saúde 21.
da educação popular em saúde, nos deparamos Atualmente, a convivência nos serviços de
com coletivos que vêm desenvolvendo intensa saúde e os meios de comunicação de larga es-
militância política e social. Para muito além dis- cala têm representado as grandes conexões que
so, são coletivos que apresentam grande dina- permitem o desenvolvimento de relações edu-
micidade e que têm a capacidade de constituir cativas entre os trabalhadores de saúde e a po-
redes de articulação poderosas em suas capilari- pulação 12.
dades. Nesses movimentos foram sendo formu-
ladas novas maneiras de se compreender e de Contribuições da educação popular para
realizar processos educativos no setor saúde. a educação em saúde
A educação em saúde é, muitas vezes, enten-
dida como um modo de fazer as pessoas do povo As análises realizadas com base na educação po-
mudarem seus hábitos para assimilarem práti- pular apontam para a leitura de que a medicina
cas higiênicas e recomendações médicas que não tem se dedicado a compreender os saberes,
evitariam o desenvolvimento de um conjunto de estratégias e significados que as classes popula-
doenças. Entretanto, para os autores que se ba- res desenvolvem diante dos processos de adoe-
seiam na educação popular, educar para a saúde cimento para, a partir daí, estruturar modos de
é justamente ajudar a população a compreender agir que integrem o saber popular e os conhe-
as causas dessas doenças e a se organizar para cimentos técnico-científicos. Via de regra, ou se
superá-las 11. confia no bom senso do profissional de saúde
A educação popular toma como ponto de ou se produzem trabalhadores específicos para
partida os saberes prévios dos educandos. Esses desenvolver medidas sanitárias desarticuladas
saberes vão sendo construídos pelas pessoas à dos atendimentos individuais, gerando pou-
medida que elas vão seguindo seus caminhos co impacto na situação de saúde dos coletivos.
de vida e são fundamentais para que consigam Contrapondo-se a isso, a educação em saúde tem

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 27(1):7-18, jan, 2011


12 Gomes LB, Merhy EE

sido o setor que tem feito buscas no sentido de para evitar danos à população corrigindo even-
superar tais práticas, desenvolvendo diversas es- tual má técnica 11.
tratégias de diálogo entre os pensares e fazeres da Práticas como o uso de chás têm sido bas-
população e dos profissionais de saúde 12. tante comuns em áreas de serviços de atenção
Entretanto, hegemonicamente, as ações de básica, sendo compreendidas como medidas de
educação em saúde têm se apresentado como autocuidado, com grande autonomia da popula-
importantes instrumentos de dominação e de ção para isto 26. Além de seu caráter terapêutico,
responsabilização dos indivíduos pelas suas con- segundo Celerino Carriconde 27, o uso de plantas
dições de vida 20. Para superar tal situação, pro- medicinais apresenta relevância: (a) antropoló-
põe-se reorientar as práticas de saúde, de modo gica, por resgatar os saberes populares e, assim,
que a educação em saúde deixe de ser apenas elevar a auto-estima de populações, muitas vezes
mais uma oferta pontual dos serviços para ser marginalizadas; (b) pedagógica, por permitir a
algo inerente às suas práticas, construindo assim instituição de uma relação dialógica entre traba-
a participação popular no seu cotidiano 12,21. lhadores de saúde e usuários que dominam os
Para Valla et al. 24, a rede pública de serviços usos destas plantas medicinais; (c) econômica,
de saúde existente é muito importante para a permitindo o acesso ao medicamento fitoterá-
manutenção da saúde das classes populares, e pico; (d) ecológica, garantindo a manutenção
isto é reconhecido por elas; entretanto, segundo de plantas que em muitas situações vêm sendo
estes autores, há também a concepção de que eliminadas pelas plantações com interesse me-
muitas questões essenciais à sua saúde não po- ramente lucrativo. A esse conjunto de valores,
dem ser solucionadas nestes serviços quando acrescentamos aqui a sua relevância social e po-
funcionam do modo como tradicionalmente lítica, pois, para conseguir as plantas, geralmente
eles têm se estruturado. as pessoas as procuram junto aos seus vizinhos,
Nesse contexto, afirmam que a população fortalecendo a rede de apoio social e permitindo
vem apontando outras formas de se organizar a discussão sobre o adoecimento e estratégias de
para solucionar seus problemas de saúde, aliviar sua superação na e pela comunidade.
o sofrimento e construir formas terapêuticas A relação de diálogo diante de práticas co-
de cuidado integrais. Os usuários têm, cada vez mo a fitoterapia é relevante, pois identificando
mais, buscado práticas tidas como “alternativas” os usos das plantas por parte da população, os
que permitam compreendê-los e impactar em profissionais podem enriquecer seus arsenais
melhorias de saúde de forma integral. E embora terapêuticos; ao mesmo tempo, podem orientar
existam diversas práticas que se colocam com tal algumas incorreções no manejo de plantas me-
perspectiva, muitas delas não estão disponíveis dicinais que já foram cientificamente comprova-
nos serviços de saúde ou estão apenas à dispo- das, como efeitos adversos e contra-indicações
sição de parcelas mais abastadas da população. de determinadas substâncias. Essa relação per-
Por isso, torna-se importante compreender e mitiria o surgimento de um terceiro saber, fruto
valorizar o modo como essas classes vêm cons- da interação entre os conhecimentos dos profis-
truindo suas alternativas de enfrentamento dos sionais de saúde e da população 28.
problemas de saúde por meio de diversas estra- Outra ação educativa muito comum são as
tégias 24,25. palestras, modo mais freqüente de realização
Nessa perspectiva, a postura do profissional de práticas coletivas em serviços de saúde. Elas
de saúde para com a medicina popular deveria ser precisariam ser reorientadas para que, ao invés
de respeito e diálogo, identificando e apontando do repasse de normas e orientações de higiene e
situações de que se tem conhecimento de malefí- boas condutas, tais iniciativas se apresentassem
cios causados à população por algumas técnicas como oportunidades de diálogo entre trabalha-
e medicamentos populares, mas valorizando as dores e usuários, em que os aspectos coletivos
práticas que representam uma sistematização de da dinâmica comunitária pudessem ser enfati-
conhecimentos que vão se acumulando ao lon- zados 11.
go de várias gerações. Seria relevante salientar o A formação de grupos de pessoas com deter-
papel de diversos agentes informais de saúde, os minadas características que as aproximam, seja
quais apresentam grande respaldo popular e que uma condição de vida, como pertencer a certa
portam saberes baseados em uma forte cultura, a faixa etária, ou ser portador de determinada do-
qual se aprende na dinâmica social. Esses atores ença, é estratégia também comumente utiliza-
podem apresentar alto poder educativo, como os da para desenvolver processos de educação nas
erveiros, as parteiras e as rezadeiras; entretanto, unidades de saúde. Um exemplo é a realização
há pessoas que buscam ganhos financeiros, co- de cursos de gestantes que terão seus primeiros
mo renomados balconistas de farmácias e prá- filhos, para trocar informações com mulheres ex-
ticos odontológicos, que podem ser orientados perientes e, a partir daí, desenvolver um processo

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 27(1):7-18, jan, 2011


COMPREENDENDO A EDUCAÇÃO POPULAR EM SAÚDE 13

de discussão das condições comuns entre estas são formados pela população se apresenta com
mulheres. Nem todos os grupos, entretanto, en- características de prestadores de serviços, de
cerrariam a mesma capacidade educativa. Seria ações reivindicatórias ou de realização de mu-
preciso, para criar um grupo, primeiro identificar tirões 11. Uma possibilidade desafiadora seria
os interesses que mobilizam e os problemas mais atuar na perspectiva do duplo caminho onde, ao
relevantes de uma população. Em algumas situ- mesmo tempo em que se reivindica e se respon-
ações, seria interessante, por exemplo, estrutu- sabiliza os governantes, tenta-se solucionar os
rar um curso sobre determinada temática como problemas com os recursos que consegue mobi-
mote para se iniciar um grupo com as pessoas lizar autonomamente 29.
envolvidas nestas atividades 11. Nos grupos or- Progressivamente, entretanto, a criação de
ganizados a partir de patologias específicas, sua grupos e movimentos específicos de saúde foi
força estaria não no foco na doença, e sim na cir- deixando de ser a estratégia prioritária desenvol-
culação de emoções, nas trocas que se efetuam vida pelas classes populares, passando a ser mais
no compartilhamento de medos, tristezas, dores comum a estruturação de grupos que discutem
e afetações de diferentes modos que se desenvol- o tema da saúde diversificando a atuação dentro
vem no processo de adoecimento e cura. A circu- de organizações mais amplas das classes traba-
lação desses afetos favoreceria o fortalecimento lhadoras 11.
dos laços e vínculos sociais 25. Um desafio que se reconhece é que, além da
Uma estratégia muitas vezes vista como in- atuação junto aos grupos da população, muitas
teressante é a exposição na unidade de saúde de vezes se faz necessário que as equipes de saúde
fotos em que se identificam problemas ou on- desenvolvam ações políticas junto a instituições
de se registram atuações coletivas da população locais e lideranças políticas; sejam as que po-
para resolver determinadas questões, como um dem estar relacionadas com o desenvolvimento
mutirão. Em outros casos, expor frases de pesso- da comunidade, ou então as que têm o papel de
as da comunidade que tenham a ver com alguma manter o serviço para o seu adequado funciona-
característica da dinâmica social local. Tais me- mento. A relação com essas lideranças deveria
didas visam a estimular as pessoas a pensarem ser respeitosa, ao mesmo tempo em que se de-
e dialogarem quando vêm à unidade de saúde, veria ter clareza dos processos em negociação, a
quaisquer que tenham sido os motivos que as fim de evitar a manipulação das atividades dos
trouxeram 11. serviços públicos de saúde por parte de grupos
Estratégias de realização de diagnóstico e pla- políticos com interesses privatistas 11.
nejamento participativos das ações de saúde po- Um importante meio de comunicação que é
dem ser vistas como relevantes para mobilização proposto para ampliar a interlocução com a po-
e conscientização da população, mas também pulação é o rádio. Além de apresentar elevado al-
como necessários para que a perspectiva dos cance, permitindo atingir um grande público de
moradores possa corrigir distorções criadas pela uma só vez, principalmente nas populações mais
perspectiva tecnicista, que muitas vezes leva a pobres, geralmente as emissoras de rádio estão
equívocos relevantes por parte dos profissionais acessíveis aos profissionais de saúde e permitem
de saúde. Nesse sentido, o diagnóstico e planeja- o diálogo com o ouvinte, dinamizando, articu-
mento participativos representariam uma possi- lando e aproximando o processo educativo da
bilidade de ampliação do diálogo entre o saber realidade das populações 11. Essa estratégia ten-
popular e o saber técnico-científico 20. de a se tornar mais potente em virtude da grande
Em relação às ações coletivas realizadas fora expansão das rádios comunitárias ocorrida nos
do serviço de saúde, afirma-se que elas variam últimos anos em todo o país.
desde as mais “técnicas” até as mais “políticas”. Uma das ações vistas como relevante para
Nelas, as equipes de saúde podem ter caráter permitir o diálogo e troca de saberes é a realiza-
mais diretivo ou serem praticamente convo- ção ou participação em mobilizações que estão
cadas pela população para participar. Quanto ligadas diretamente ao lazer e à interação social,
mais autônomas e mais voltadas para processos como a organização de festas e eventos come-
coletivos da dinâmica de vida, geralmente mais morativos, bingos etc. Tais ações fortaleceriam a
politizada estaria a população. Entretanto, co- felicidade como projeto de vida para populações
mo as ações coletivas, independentemente de que, geralmente, têm muito pouca oferta deste
quem as coordena ou do que as motiva, podem tipo nas áreas onde moram, e demonstrariam
tanto promover desenvolvimento social como uma abertura da equipe para ampliar a concep-
dificultá-lo, seria importante que fossem bem ção de saúde com que atua 26. Brinquedotecas,
preparadas e que se tomassem os encaminha- clubes da terceira idade, rádios comunitárias, ofi-
mentos adequados para que se desenvolva seu cinas de arte, música e dança, exibição de vídeos,
potencial educativo. Geralmente, os grupos que teatros de mamulengo e de rua são algumas das

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 27(1):7-18, jan, 2011


14 Gomes LB, Merhy EE

ações no setor da cultura popular vistas como evitando julgamentos morais por parte dos pro-
iniciativas que poderiam potencializar ativida- fissionais de saúde. Nos últimos anos, por exem-
des na perspectiva da educação popular em saú- plo, as igrejas evangélicas têm representado uma
de, e que vão para muito além dos muros dos das buscas mais comuns realizadas pelas classes
serviços de saúde 20. populares. Ao mesmo tempo em que as igrejas
podem estar relacionadas a práticas indesejáveis
A educação popular em saúde ajudando a de disciplinarização 32 e controle 33, em algumas
compreender e lidar com as iniciativas situações, para alguns autores, elas também se
autônomas da população: as redes apresentariam como lugares: onde as pessoas
de apoio social no território podem ser acolhidas e cuidadas; que trabalham
com as emoções e afetos, gerando sensação de
Para diversos autores, problemas como o desem- pertencimento a coletivos; em que se constroem
prego, a precarização das relações de trabalho, a redes de solidariedade capazes de resolver pro-
iniqüidade na distribuição de renda, a violência blemas de âmbito financeiro e afetivo; onde se
e a retração de redes sociais contribuem para a afirmam relações que se baseiam em valores às
intensificação de um ciclo que gira em torno da vezes contrários aos interesses gerais da socie-
pobreza, isolamento e adoecimento, e têm leva- dade capitalista que os oprime e com os quais
do ao desenvolvimento de um certo sofrimen- os sujeitos não querem se identificar; também,
to difuso na população. Esse sofrimento difuso onde se consegue encontrar explicações para as
pode elevar a demanda de atenção à saúde e coisas desordenadas e que passam a dar sentido
demonstrar os limites do atual modo de se estru- às suas vidas 24,31,34,35,36. Lacerda et al. 34 chegam
turar a atenção à saúde no Brasil 24,30. A atuação a identificar várias semelhanças entre os traba-
dos profissionais de saúde que se baseia na rea- lhos desenvolvidos nas classes populares pelos
lização de procedimentos vem produzindo uma pastores evangélicos e os papéis que vêm desem-
limitada oferta de ações para lidar com os proble- penhando os agentes comunitários de saúde das
mas complexos que se apresentam 25. equipes de saúde da família. Sendo assim, seria
O sofrimento difuso se caracterizaria por importante construir um diálogo com os agentes
“uma sensação de mal-estar generalizado com religiosos presentes nos grupos sociais, indepen-
uma diversidade de sintomas, tais como irritabi- dentemente da opção religiosa do profissional de
lidade, insônia, nervosismo, ansiedade, angústia, saúde. É relevante identificar o modo como essas
dores no corpo, acrescido da falta de perspectiva instituições religiosas podem ou não representar
de vida” 31 (p. 250). Uma das condutas mais co- e fortalecer buscas de melhorias para a vida das
mumente utilizadas diante dessas situações é a pessoas, e produzir as parcerias necessárias pa-
medicalização, tratando com benzodiazepínicos, ra minimizar possíveis propostas que tendam a
por exemplo, o que não resolve o problema; leva dificultar a construção de alternativas coletivas
à cronificação do quadro clínico, apresenta uma para os problemas de saúde da população 11,34.
série de efeitos adversos e não permite a explici- Lacerda & Valla 30 consideram o apoio social
tação dos problemas de base, dificultando ainda como um trabalho que busca o autocuidado ou o
mais o desenvolvimento de estratégias coletivas desenvolvimento de ambientes saudáveis como
de superação dos problemas. uma das dimensões de práticas ou de sistemas de
De acordo com Victor Valla (1996, apud Lacer- saúde que se orientam por meio da perspectiva da
da & Valla 25), os profissionais de saúde precisam promoção da saúde. No conceito de apoio social,
reconhecer que, diante da dificuldade de se lidar agrega-se um conjunto de atividades que podem
com situações de sofrimento difuso, “a crise de ter resultados favoráveis no enfrentamento dos
interpretação é nossa”. Para esse autor, por partir- problemas de saúde-doença, e que se estruturam
mos de idéias preconcebidas que consideramos mediante diversas relações solidárias que se esta-
portadoras de verdade, não escutamos adequa- belecem entre os sujeitos. Essas relações podem
damente as falas da população, não nos atemos se desenvolver ao se mobilizarem sistematica-
aos seus discursos, e não nos abrimos a compre- mente o conjunto de recursos emocionais, mate-
ender o modo como operam seus saberes. Colo- riais e de informação a partir de relações íntimas
cando nossos conhecimentos científicos como e familiares ou até em grupos sociais maiores.
centro do processo de trabalho, e não a vida dos As várias estratégias que desenvolvem o apoio
sujeitos, estaríamos construindo modos de ope- social buscam ajudar na constituição de sujeitos
rar o trabalho em saúde que se desconectam da que tenham capacidade de definir os rumos de
realidade vivida pelas classes populares 12,24,25. suas próprias vidas, de ampliar sua autonomia.
Torna-se essencial compreender a dinâmica Essa situação leva os sujeitos a terem maior pos-
que a própria população tem estruturado em su- sibilidade de responder aos fatores estressantes
as estratégias autônomas de produção de vida, e passam a lidar melhor com as adversidades da

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 27(1):7-18, jan, 2011


COMPREENDENDO A EDUCAÇÃO POPULAR EM SAÚDE 15

vida, levando a melhorias na saúde física e men- atitudes do profissional diante do usuário. Na
tal 24,25. Ao trabalhar com a concepção de que a verdade, ambas as dimensões do apoio estão
origem das doenças, bem como a sua superação, intrinsecamente articuladas, pertencendo a um
necessariamente está relacionada com as emo- mesmo processo, e elas poderiam ser potencia-
ções que são mobilizadas pelos sujeitos, o apoio lizadas quando o profissional centra suas ações
social se suporta em abordagens que privilegiam não nos conhecimentos que domina, e sim nas
a totalidade corpo-mente, não considerando tecnologias leves do trabalho vivo operando
estas como dimensões distintas dos sujeitos. O em ato 38. Trataria-se de permitir que os afetos
apoio social apresenta caráter de reciprocidade, e afetações desencadeados na relação fizessem
trazendo efeitos favoráveis para todos os envol- parte e orientassem as condutas do profissional
vidos, estejam aparentemente oferecendo ou re- de saúde 25.
cebendo o apoio, fortalecendo a compreensão de A Terapia Comunitária é uma técnica de tra-
que as pessoas necessitam umas das outras para balho com grupos que se baseia no relato da his-
construírem relações de cuidado integrais 24,29. tória de vida dos participantes e do modo como
Nessa perspectiva, o apoio social se desenvol- cada um lida com suas dificuldades do cotidia-
veria e se potencializaria por meio da articulação no. Para alguns autores, o relato e a escuta atenta
em uma rede social, que se configura como uma permitiria que as emoções circulassem e fossem
teia que agrega e conecta os indivíduos; uma teia ressignificadas pelos sujeitos, fortalecendo-os
de vínculos sociais que permite uma circulação e aos processos coletivos em que se inserem. A
dos recursos tangíveis e intangíveis mobilizados Terapia Comunitária integraria, assim, as ações
pelo apoio social. Esse apoio desenvolvido em de prevenção e promoção à saúde que tomam
redes de solidariedade possibilitaria o fortale- como foco o sujeito e não as doenças 31. Entre-
cimento da singularidade dos sujeitos e os ten- tanto, é importante salientar que práticas de Te-
sionaria a serem portadores de projetos para a rapia Comunitária não podem ser desenvolvidas
própria vida, além de que reforçaria laços que de forma desarticulada de outros modos de luta
criam uma sensação de pertencimento coletivo, social, para evitar que seu resultado seja mera
melhorando sua saúde de modo integral em âm- resignação ou culpabilização dos sujeitos.
bito individual e coletivo 25,37. Na análise de Lacerda & Valla 30, o apoio so-
Reconhece-se que as redes de apoio social cial se aproxima do paradigma “sistema da dádi-
geralmente se desenvolvem com base em arti- va”, que se estrutura na obrigatoriedade da tríade
culações autônomas dos usuários; mesmo as- dar-receber-retribuir, fazendo com que os bens
sim, os profissionais de saúde poderiam poten- materiais e simbólicos possam fluir em trocas
cializar o apoio social: ajudando a desarticular sistemáticas entre os diferentes laços e vínculos
redes sociais prejudiciais; identificando as re- das redes sociais que se constituem.
des sociais que circundam os usuários e estão
envolvidas no seu adoecimento ou podem ser Para fazer avançar a educação popular
utilizadas para facilitar o enfretamento de seus nos serviços de saúde
problemas; fortalecendo redes sociais positi-
vas existentes; estimulando a configuração de Os próprios autores que produzem na perspec-
novos arranjos coletivos entre a população e os tiva da educação popular em saúde reconhe-
recursos disponíveis. Tais atitudes ajudariam no cem que há muitos avanços na expectativa de-
processo terapêutico ao tornar conscientes, para la se desenvolver junto aos serviços de saúde,
os usuários, processos muitas vezes não identi- entretanto, tais avanços não teriam ainda sido
ficados pelos mesmos, e permitir aos profissio- suficientes para mudar o modo como o mode-
nais atuar em campos ainda não explorados em lo hegemônico vem sendo implantado, pois se-
sua intervenção. Dependendo da complexidade ria necessário que mais do que apenas alguns
do problema, os próprios profissionais de saúde trabalhadores desempenhando este papel 21.
também precisariam estar articulados em redes Haveria, entre os profissionais de saúde, a com-
que ampliassem o cuidado aos usuários e seus preensão de que não é preciso aprender a fazer
familiares 24,25,29. educação em saúde, bastando para tanto o seu
Sendo assim, a relação profissional de saú- conhecimento clínico; somaria-se a isto a pouca
de/usuário poderia ser compreendida como oferta de formação e de processos de educação
produtora de apoio social, seja como apoio in- permanente no conjunto dos municípios, fruto
formativo ou emocional 25. O apoio informativo da inexistência de política com tal finalidade 20.
se estrutura na relação dialógica que se estabe- Tal situação estaria limitando o avanço das ações
lece no trabalho em saúde, enquanto o apoio de educação popular em saúde. Seria necessá-
emocional se desenvolve a partir do modo co- rio o desenvolvimento de políticas mais inten-
mo se configuram as relações baseando-se nas sivas de formação de profissionais de saúde que

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 27(1):7-18, jan, 2011


16 Gomes LB, Merhy EE

considerassem a educação popular como méto- A tentativa de incorporar a educação popular


do nas suas formações 21. à atenção à saúde nos grandes centros urbanos
É feita a crítica de que, muitas vezes, as ex- tem enfrentado tanto o poder político como o
periências de educação popular em saúde são econômico dominante, hegemônicos na lógica
desenvolvidas apenas por iniciativa dos profis- de funcionamento dos serviços de saúde, como
sionais, sem que houvesse uma política espe- a injusta distribuição de recursos por parte do
cífica de indução por parte dos gestores muni- Estado, que na maioria das vezes não privilegia
cipais, chegando mesmo a ocorrer resistências os setores sociais 12. A expansão da educação po-
por parte destes 20. Diante dessas situações, seria pular em saúde exigiria que, aos movimentos de-
importante construir estratégias de disputa dos sencadeados pelos trabalhadores nos serviços de
distintos projetos políticos junto à sociedade. saúde, se somassem iniciativas de gestores nas
Tal caminho se tornaria mais difícil, entretan- três esferas de governo 21.
to, quando encontramos os trabalhadores com
vínculos empregatícios precários, situação ainda
extremamente comum em diversas localidades,
por fragilizar estes atores diante dos que ocupam
posição de governo.

Resumo Colaboradores

O artigo revisa a produção acadêmica brasileira so- L. B. Gomes participou da concepção do projeto, reali-
bre a educação popular em saúde, matriz teórica que zou a pesquisa em bases de dados e sua análise, e ela-
agrega um conjunto relevante de pesquisadores e mi- borou a redação final do artigo. E. E. Merhy participou
litantes políticos na saúde coletiva brasileira. Carac- da concepção do projeto, orientou a pesquisa em bases
teriza-se como uma pesquisa de natureza qualitativa, de dados e sua análise, revisou e orientou a redação
de nível exploratório e de caráter analítico. Com base final do artigo.
em pesquisa bibliográfica no SciELO e em livros e ca-
pítulos de livros, elaboramos uma sistematização da
produção da educação popular em saúde, apresentan- Agradecimentos
do um resgate do processo histórico de constituição da
educação popular em saúde como fruto da atuação de Os autores gostariam de agradecer a todos os integran-
diversos movimentos sociais, uma descrição das carac- tes da linha de pesquisa Micropolítica do Cuidado e o
terísticas gerais da educação popular em saúde, suas Trabalho em Saúde, da Pós-graduação em Clínica Mé-
grandes pautas, a maneira como os autores desta pers- dica, da Faculdade de Medicina da Universidade Fede-
pectiva compreendem a atuação educativa dos servi- ral do Rio de Janeiro, pelas contribuições inestimáveis
ços de saúde junto à população, suas críticas e disputas nos debates realizados ao longo da elaboração desta
com o modo hegemônico de se organizar a educação e pesquisa.
a atenção à saúde, bem como algumas contribuições
que agregam aos que se propõem a seguir suas bases
e preceitos.

Educação em Saúde; Participação Comunitária; Pes-


quisa Qualitativa

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 27(1):7-18, jan, 2011


COMPREENDENDO A EDUCAÇÃO POPULAR EM SAÚDE 17

Referências

1. Merhy EE. A saúde pública como política – São 17. Brasil. Lei nº 8.142, de 28 de dezembro de 1990.
Paulo, 1920-1948: os movimentos sanitários, os Dispõe sobre a participação da comunidade na
modelos tecno-assistenciais e a formação das po- gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) e sobre
líticas governamentais. São Paulo: Editora Hucitec; as transferências intergovernamentais de recursos
1992. (Saúde em Debate, 50). financeiros na área da saúde e dá outras providên-
2. Deleuze G, Guattari F. Mil platôs: capitalismos e cias. Diário Oficial da União 1990; 28 dez.
esquiozofrenia. v. 2. Rio de Janeiro: Editora 34; 18. Stotz EM, David HSL, Wong-Un JA. Educação po-
1997. pular e saúde: trajetória, expressões e desafios de
3. Deleuze G. O abecedário de Gilles Deleuze [vídeo]. um movimento social. Rev APS 2005; 8:49-60.
Produção de Éditions Montparnasse, realiza- 19. Pedrosa JIS. Educação popular no Ministério da
ção de Pierre-André Boutang. Brasília: TV Escola; Saúde: identificando espaços e referências. In: Mi-
1988/1989. nistério da Saúde, organizador. Caderno de educa-
4. Gil AC. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5a ção popular e saúde. Brasília: Ministério da Saúde;
Ed. São Paulo: Atlas; 1999. 2007. p. 13-7.
5. Marconi MA, Lakatos EM. Técnicas de pesquisa: 20. Albuquerque PC, Stotz EN. A educação popular na
planejamento e execução de pesquisas, amostra- atenção básica à saúde no município: em busca da
gens e técnicas de pesquisa, elaboração, análise integralidade. Interface Comun Saúde Educ 2004;
e interpretação de dados. 7a Ed. São Paulo: Atlas; 8:259-74.
2008. 21. Vasconcelos EM. Educação popular: de uma prá-
6. Gil AC. Como elaborar projetos de pesquisa. 4a Ed. tica alternativa a uma estratégia de gestão partici-
São Paulo: Atlas; 2002. pativa das Políticas de Saúde. Physis (Rio J.) 2004;
7. Schwandt TA. Três posturas epistemológicas para 14:67-83.
a investigação qualitativa. In: Denzin N, Lincoln Y, 22. Freire P. Pedagogia da autonomia: saberes neces-
organizadores. O planejamento da pesquisa qua- sários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra;
litativa – teorias e abordagens. 2a Ed. Porto Alegre: 1996. (Coleção Leitura).
Artmed Bookman; 2006. p. 193-218. 23. Vasconcelos EM. Educação popular como instru-
8. Minayo MCS. O desafio do conhecimento: pesqui- mento de reorientação das estratégias de controle
sa qualitativa em saúde. 4a Ed. São Paulo: Editora das doenças infecciosas e parasitárias. Cad Saúde
Hucitec/Rio de Janeiro: ABRASCO; 1996. Pública 1998; 14 Suppl 2:39-57.
9. Eco U. Como se faz uma tese. 17a Ed. São Paulo: 24. Valla VV, Guimarães MB, Lacerda A. Religiosidade,
Perspectiva; 2001. apoio social e cuidado integral à saúde: uma pro-
10. Vasconcelos EM. Participação popular e educação posta de investigação voltada para as classes po-
nos primórdios da saúde pública brasileira. In: pulares. In: Pinheiro R, Mattos RA, organizadores.
Vasconcelos EM, organizador. A saúde nas pala- Cuidado: as fronteiras da integralidade. 3a Ed. Rio
vras e nos gestos: reflexões da Rede de Educação de Janeiro: Centro de Estudos e Pesquisa em Saúde
Popular nos Serviços de Saúde. São Paulo: Editora Coletiva, Instituto de Medicina Social, Universida-
Hucitec; 2001. p. 73-100. de do Estado do Rio de Janeiro/ABRASCO; 2006. p.
11. Vasconcelos EM. Educação popular nos serviços 103-17.
de saúde. 3a Ed. São Paulo: Editora Hucitec; 1997. 25. Lacerda A, Valla VV. Um olhar sobre a construção
12. Vasconcelos EM. Educação popular e a atenção à social da demanda a partir da dádiva e das práti-
saúde da família. 4a Ed. São Paulo: Editora Huci- cas de saúde. In: Pinheiro R. Mattos RA, organi-
tec; 2008. zadores. Construção social da demanda: direito à
13. Merhy EE. A rede básica como uma construção da saúde, trabalho em equipe, participação e espa-
saúde pública e seus dilemas. In: Merhy EE, Ono- ços públicos. Rio de Janeiro: Centro de Estudos e
cko R, organizadores. Agir em saúde: um desafio Pesquisa em Saúde Coletiva, Instituto de Medicina
para o público. 2a Ed. São Paulo: Editora Hucitec; Social, Universidade do Estado do Rio de Janeiro/
2002. p. 197-228. (Saúde em Debate, 108/Série Di- ABRASCO; 2005. p. 279-92.
dática, 6). 26. Machado FRS, Pinheiro R, Guizardi FL. As novas
14. Elias PEM. Estrutura e organização da atenção à formas de cuidado integral nos espaços públicos
saúde no Brasil. In: Cohn A, Elias PEM, organiza- de saúde. In: Pinheiro R, Mattos RA, organizado-
dores. Saúde no Brasil: políticas e organização de res. Cuidado: as fronteiras da integralidade. 3a Ed.
serviços. 3a Ed. São Paulo: Editora Cortez/Centro Rio de Janeiro: Centro de Estudos e Pesquisa em
de Estudos de Cultura Contemporânea; 1999. p. Saúde Coletiva, Instituto de Medicina Social, Uni-
59-119. versidade do Estado do Rio de Janeiro/ABRASCO;
15. Brasil. Constituição 1998: texto constitucional de 2006. p. 75-90.
5 de outubro de 1998, com as alterações adotadas 27. Carriconde C. Introdução ao uso de fitoterápicos
pelas Emendas Constitucionais de revisão nº. 1 a nas patologias de APS. Olinda: Centro Nordestino
6/94. Brasília: Senado Federal; 2000. de Medicina Popular; 2002.
16. Brasil. Lei nº. 8.080, de 19 de setembro de 1990. 28. Medeiros LCM, Cabral IE. O cuidar com plantas
Dispõe sobre as condições para a promoção, pro- medicinais: uma modalidade de atenção à criança
teção e recuperação da saúde, a organização e o pelas mães e enfermeira-educadora. Rev Latinoam
funcionamento dos serviços correspondentes e dá Enferm 2001; 9:18-26.
outras providências. Diário Oficial da União 1990;
19 set.

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 27(1):7-18, jan, 2011


18 Gomes LB, Merhy EE

29. Valla VV. Educação popular, saúde comunitária 35. Lacerda A, Guimarães MB, Valla VV, Lima CM. As
e apoio social numa conjuntura de globalização. redes participativas da sociedade civil no enfren-
Cad Saúde Pública 1999; 15 Suppl 2:7-14. tamento dos problemas de saúde. In: Pinheiro R,
30. Lacerda A, Valla VV. Homeopatia e apoio social: Mattos RA, organizadores. Gestão em redes: práti-
repensando as práticas de integralidade na aten- cas de avaliação, formação e participação na saú-
ção e no cuidado à saúde. In: Pinheiro R, Mattos de. Rio de Janeiro: Centro de Estudos e Pesquisa
RA, organizadores. Construção da integralidade: em Saúde Coletiva, Instituto de Medicina Social,
cotidiano, saberes e práticas em saúde. 3a Ed. Rio Universidade do Estado do Rio de Janeiro; 2006. p.
de Janeiro: Centro de Estudos e Pesquisa em Saúde 445-58.
Coletiva, Instituto de Medicina Social, Universi- 36. Vasconcelos EM. A espiritualidade no cuidado e na
dade do Estado do Rio de Janeiro/ABRASCO; 2005. educação em saúde. In: Vasconcelos EM, organiza-
p. 169-96. dor. A espiritualidade no trabalho em saúde. São
31. Lacerda A, Guimarães MB, Lima CM, Valla VV. Paulo: Editora Hucitec; 2006. p. 13-157.
Cuidado integral e emoções: bens simbólicos que 37. Lacerda A, Valla VV. As práticas terapêuticas de cui-
circulam nas redes de apoio social. In: Pinheiro R, dado integral à saúde como proposta para aliviar o
Mattos RA, organizadores. Razões públicas para sofrimento. In: Pinheiro R, Mattos RA, organizado-
a integralidade: o cuidado como valor. Rio de Ja- res. Cuidado: as fronteiras da integralidade. 3a Ed.
neiro: Centro de Estudos e Pesquisa em Saúde Co- Rio de Janeiro: Centro de Estudos e Pesquisa em
letiva, Instituto de Medicina Social, Universidade Saúde Coletiva, Instituto de Medicina Social, Uni-
do Estado do Rio de Janeiro/ABRASCO; 2007. p. versidade do Estado do Rio de Janeiro/ABRASCO;
249-62. 2006. p. 91-102.
32. Foucault M. Microfísica do poder. 20a Ed. Rio de 38. Merhy EE. Em busca do tempo perdido: a micro-
Janeiro: Edições Graal; 2004. política do trabalho vivo em saúde. In: Merhy EE,
33. Deleuze G. Conversações, 1972-1990. São Paulo: Onocko R, organizadores. Agir em saúde: um de-
Editora 34; 1992. safio para o público. 2a Ed. São Paulo: Editora Hu-
34. Lacerda A, Valla VV, Guimarães MB. A qualidade do citec; 2002. p. 71-112. (Saúde em Debate, 108/Série
cuidado na convivência com os pobres: o trabalho Didática, 6).
dos pastores e dos agentes comunitários de saúde.
In: Pinheiro R, Mattos RA, organizadores. Con- Recebido em 24/Abr/2010
strução social da demanda: direito à saúde, tra- Versão final reapresentada em 04/Out/2010
balho em equipe, participação e espaços públicos. Aprovado em 08/Out/2010
Rio de Janeiro: Instituto de Medicina Social, Uni-
versidade do Estado do Rio de Janeiro/ABRASCO;
2005. p. 267-78.

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 27(1):7-18, jan, 2011

Você também pode gostar