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no OGE 2017
ORÇAMENTO GERAL DO ESTADO
Mensagens chave Resumo dos resultados da análise do
» A Protecção Social é a área do sector social que OGE para Protecção Social em 2016
recebe a maior dotação orçamental: 9,8% do Principais resultados da análise do Orçamento Geral do
OGE1. Mas isto representa uma diminuição enor- Estado (OGE) para a Protecção Social, analisados em
me desde 2011, quando Angola investia 21% nes- profundidade no Folheto de 2016:
ta área. A dotação orçamental para o sector da
1. Quase metade (44%) dos fundos classificados no
Protecção Social continua a descer em 2017. Di-
OGE como Protecção Social são direccionados à
minuiu 4% em termos nominais, de 2016 a 2017,
Segurança Social para os trabalhadores da função
e 17% em termos reais.2 Por outro lado, o valor or-
pública e ex-militares;
çamentado não beneficia os cidadãos mais vulnerá-
veis do país quando se compara entre a protecção 2. Mais de metade (51%) da atribuição ao sector é
social contributiva, aquela que é financiada directa- classificada no OGE como ‘Serviços de Protecção
mente pelos trabalhadores através dos impostos, e Social Não Especificados’;
não-contributiva (o beneficiário não contribui direc-
3. A porção do orçamento alocada para a Protecção So-
tamente e podem ser em forma de subsídio, pres-
cial que tem vindo a ser atribuída à protecção social
tação social, transferência directa de recursos, abo-
não contributiva é muito limitada, sendo estimada
nos, entre outros). Metade (49%) dos fundos para
em 5% da atribuição sectorial;
a Protecção Social são direccionados à segurança
social e pensões de funcionários públicos, pessoal 4. Além de ser insuficientemente financiada (5% da atri-
militar e paramilitar. buição por sector), a protecção social não-contributiva,
nos últimos dois anos, tem vindo a sofrer cortes sig-
» Apenas 5% da dotação, ou 0.5% do OGE total, nificativos: um dos programas mais importantes de
segundo uma estimativa conservadora, é des- transferências sociais para pessoas vulneráveis dimi-
tinada ao financiamento da assistência social nuiu as suas despesas em 80%, entre 2014 e 2016;
não-contributiva (ou seja, das pessoas que não
5. Angola é um dos pouquíssimos países em desen-
descontam para a segurança social porque são de-
volvimento que ainda não investe em programas de
sempregados ou trabalham informalmente).
transferência directa de recursos. O país continua
a apostar nos programas de transferência de bens,
» As dotações destinadas às rubricas Família e In-
com resultados limitados.
fância mais do que triplicaram entre 2016 e 2017.
Mas ainda não se comparam com outras cate- 6. Criar e ampliar progressivamente um programa de
gorias e representam apenas 2% do total para transferência monetária poderia acelerar o progres-
o sector. Em comparação, 46% dos fundos alo- so na redução da pobreza e da vulnerabilidade e
cados não estão classificados para intervenções amenizar os efeitos da crise económica na camada
específicas. A descrição mudou de ‘não especifica- mais pobre da população.
do’ para ‘outros serviços de Protecção Social’ mas o
problema continua a não resolver a impossibilidade A continuação da crise económica implica que sejam ne-
de monitorizar e avaliar a função e eficiência desta cessárias reformas profundas para financiar de maneira
despesa. adequada a Protecção Social não-contributiva e acelerar
o progresso na redução da pobreza e da vulnerabilidade
» Em tempos de crise e perante o crescimento em Angola. A área precisa, mais do que qualquer outro
da população, Angola precisa aumentar dras- sector, de reformas na sua estruturação e não apenas
ticamente o investimento em programas que de mais protecção dos recursos alocados. É importan-
permitam distribuir de forma mais equitativa te que se estabilize o quadro macro-fiscal (em particu-
os recursos do país, tais como programas de lar, a politica monetária), que se aumente a eficiência,
transferência directa de recursos monetários. a transparência, a prestação de contas e a responsabili-
A situação económica do país é mais um factor zação no sector. Em particular, é importante que o país
de pobreza e vulnerabilidade. O Plano Nacional de rapidamente comece a testar e a estender programas
Desenvolvimento 2018-2022 pode ser usado para de transferência directa de recursos, que são eficazes,
este efeito, através de uma ligação forte entre ob- transparentes e já são utilizados em vários países de
jectivos, indicadores, medidas de política e finan- África com bons resultados. Uma discussão abrangente
ciamento através do OGE e de outras fontes. sobre as prioridades políticas e orçamentais do país a
médio prazo deveria também incluir a área de Protecção
Social e a sua estruturação.
2
Prioridades e realidades do sector da Protecção Social em 2017
A Constituição da República de Angola (CRA) consagra Os principais programas de Protecção e Assistência
os Direitos da Criança como um Direito Fundamental. Social através de transferências não-monetárias são
Para a garantia deste direito, o Estado, a família e a so- o Programa de Apoio às Famílias Vulneráveis (Cartão
ciedade estão constitucionalmente obrigados a criar as Social Kikuia), o Programa de Apoio Social do antigo
condições para a protecção das crianças e o seu pleno Ministério da Assistência e da Reinserção Social (MI-
desenvolvimento. NARS) e o programa da Merenda Escolar que, juntos,
representam uma alocação de apenas 0.18% do OGE.
Em 2012, foi aprovada pela Assembleia Nacional a Lei Ambos são programas de transferência de bens com
25/12 de 22 de Agosto (Lei sobre a Protecção e Desen- cobertura em todas as províncias do país. As dotações
volvimento Integral da Criança) que, em conjunto com os orçamentais são analisadas abaixo. Nenhum dos pro-
11 Compromissos com a Criança, prevê a sua protecção. gramas é mencionado no Plano Nacional de Desenvol-
vimento (PND) nem no Relatório de Fundamentação do
O Direito à Segurança e Protecção Social inclui o direito OGE de 2017. Isto é sinal de uma desarticulação entre
à não denegação da cobertura da segurança social de o financiamento disponível e os objectivos, indicado-
forma arbitrária ou não razoável e o direito à igualdade res, prioridades, programas e medidas políticas para os
no desfrute da adequada protecção no caso de desem- sectores sociais.
prego, doença, velhice ou falta de meios de subsistên-
cia. Está reconhecido no artigo 77º da CRA e no Artigo O discurso do Governo, tanto no PND como no Relató-
9º do Pacto Internacional dos Direitos Económicos, So- rio de Fundamentação, estabelece uma forte ligação en-
ciais e Culturais, ratificado por Angola. tre a redistribuição da riqueza e a Protecção Social. Os
objectivos articulados são genéricos e as medidas prin-
Igualmente, os Objectivos de Desenvolvimento Sus- cipais articuladas são o acesso aos meios de produção e
tentável (ODS) promovem explicitamente a implemen- instrumentos de trabalho, salário mínimo, instrumentos
tação de medidas e sistemas de Protecção Social ade- de política de redistribuição do rendimento e programas
quados para todos (incluindo as crianças), para atingir de rendimento mínimo (incluindo a política tributária).
uma cobertura substancial dos mais pobres e vulnerá- Como documentado no Folheto de Análise Geral do
veis, até 20303, enfatizando que ninguém deve ser dei- OGE de 2017, o sistema tributário não está estruturado
xado para trás. de forma a priorizar esta medida para a redistribuição da
riqueza. Num contexto de escassez de recursos fiscais,
faz ainda mais sentido ajustar o sistema tributário para
©UNICEF Angola/2016/Schermbrucker
KZ MIL MILHÕES
ro chega apenas para comprar um litro. Esta análise é 600
500
muito relevante para a análise do Cartão Social Kikuia, 400
que constitui a maior componente de um dos principais 300
programas de Protecção e Assistência Social. 200
100
0
Em termos das dotações orçamentais para o sector da 2014 2015 2016 2017
Protecção Social entre 2010 e 2017, como percenta-
Despesa protecção social nominal
gem da despesa total, nota-se que em termos gerais os
Despesa protecção social real (preços 2014)
valores atribuídos estão a diminuir depois de terem che-
gado ao elevado nível de 21% das despesas totais em Fonte: OGE 2014-2017
2011 . Em segundo lugar, nota-se que nos anos de 2010
a 2014 as despesas executadas ultrapassaram os valo-
res orçamentados, revelando que não há sub-execução
dos valores orçamentados para a Protecção Social e de-
monstrando o peso muito significativo desta área.
A ORGANIZAÇÃO DO SISTEMA DE
PROTECÇÃO SOCIAL EM ANGOLA
O artigo 77.º da Constituição da República de Angola sobre
Saúde e Protecção Social garante as “medidas necessá-
rias para assegurar a todos o direito à assistência médica
e sanitária, bem como o direito à assistência na infância,
na maternidade, na invalidez, na deficiência, na velhice e
em qualquer situação de incapacidade para o trabalho.” O
formato da Protecção Social não é detalhado mas a Lei de
Bases da Protecção Social de 2004 estrutura o sistema em
três componentes: básica, obrigatória e complementar.
©UNICEF Angola/2015/Carvalho
A Protecção Social complementar e a obrigatória asseme-
lham-se a um sistema de seguro social. Parte das receitas
recolhidas para financiar a protecção social complementar
e obrigatória são arrecadadas através de contribuições dos
trabalhadores e entidades empregadoras. É classificada
individualmente no OGE como contribuindo com 2% a
5% da receita fiscal nos anos mais recentes. O principal
ministério para a protecção social contributiva é o Minis-
tério da Administração Pública, Trabalho e Segurança So- A assistência social e a protecção social básica estão or-
cial (MAPTSS) mas vários outros actores governamentais ganizadas de maneira fragmentada. O país não conta com
contam com verbas classificadas como Protecção Social: uma política ou estratégia nacional consolidada para a área
o Ministério da Defesa, o Ministério do Interior, Ministério e ainda não foi introduzido um sistema de transferência
dos Antigos Combatentes e o Serviço de Inteligência Ex- directa de recursos para famílias pobres e vulneráveis. A
terna, entre outros. instituição governamental com a principal responsabilidade
pelo sector é o antigo Ministério da Assistência e Reinser-
A protecção social básica não é uma despesa contributiva. ção Social (MINARS) mas estão também envolvidos vários
É uma despesa financiada como qualquer outra despesa outros Ministérios, inclusive o antigo Ministério da Família
no OGE e orienta-se mais directamente para indivíduos e e Promoção da Mulher (MINFAMU) . Os Governos Provin-
famílias pobres. Esta última forma de protecção social é ciais também são actores importantes na implementação
considerada importante para reduzir o impacto dos riscos dos programas que existem. Estes programas, geralmen-
sociais e económicos, assim como contribuir para a redis- te, aplicam o método de transferência de bens apesar das
tribuição da riqueza de um país. Em Angola, este tipo de transferências monetárias serem mundialmente conside-
protecção social, em alguns casos, é também chamada de radas mais eficientes em termos da melhoria da saúde e
assistência social. da educação dos beneficiários.
4
Apesar da dotação orçamental para a área da Protecção GRÁFICO 2 Percentagem autorizada vs realizada no sector
Social estar em declínio nos últimos anos, ainda assim da Protecção Social
recebe mais verbas do que qualquer outro sector social.
20,7%
25%
21%
18,8%
Atribuição por subfunção no 20%
15,6%
15,2%
15,4%
12,8%
13,7%
12,5%
sector da Protecção Social
13%
12%
15%
10,9%
9,8%
O sector da Protecção Social tem um histórico que o 10%
coloca como o subsector social melhor financiado mas
5%
com a pior classificação/descrição de verbas. Em pri-
meiro lugar, é quase impossível distinguir os valores 0%
2014 2015 2016 2017
que vão para protecção social contributiva e os que vão
para a assistência social de base (protecção social não- Dotação orçamental a proteção social (% do orçamento total)
-contributiva). Em segundo lugar, a subclassificação de Despesa realizada na protecção social (% da despesa total realizada)
“serviços de protecção social não especificados” tem Linear (Dotação orçamental a protecção social (% do orçamento total)
absorvido a vasta maioria dos fundos alocados, impos- Fonte: OGE 2010-2017; Relatórios da Conta Geral do Estado 2010-2014
KZ MIL MILHÕES
classificação dos recursos orçamentados para a Pro- 200 70%
tecção Social. Os grandes recipientes são o MAPTESS 150
60%
127,8 50%
e o Ministério da Defesa, que aplicam os fundos para 100 40%
protecção social contributiva, ou seja, segurança social 79,7 30%
50
do seu pessoal. Em segundo lugar, o gráfico mostra 20%
29,9
0 14 2,1 10%
que os Encargos Gerais do Estado e as Reservas Orça- 1,5 0,6 0,4 0
0%
Encargos Gerais
MAPTESS
MIN da Defesa
Reservas Orçamentais
Províncias
MINARS
MINFAMU
Serviço de Inteligência
MAT
MIN Interior
mentais também ocupam parte substancial da dotação
com destino desconhecido, mas que provavelmente
vão para subsídios de combustível, energia e água. O
antigo MINARS, antigo MINFAMU e, até certo ponto,
os governos provinciais, recebem dotações muito limi-
Fonte: OGE 2017
tadas, o que sublinha a falta de priorização dos órgãos
responsáveis pela assistência social de base. A linha no GRÁFICO 5 Distribuição por subfunções do orçamento
gráfico mostra a percentagem das alocações acumu- do antigo MINARS
ladas e nota-se que os primeiros quatro destinos dos 35
30
recursos acumulam mais de 90% das atribuições.
KZ MIL MILHÕES
25
20
Olhando mais detalhadamente para os dois ministérios 15
que jogam o papel mais importante no fornecimento da 10
assistência social de base, surgem mais factos interes- 5
santes sobre a Protecção Social no OGE 2017. 0
Desemprego Doença e Incapacidade
A distribuição interna do antigo MINARS mostra uma Serviços de Protecção Social não especificados
Repartição do orçamento por programa Prog. de Melh. das Cond. de Vida dos Ex-Militares e S/ Famílias
6
Como já foi mencionado neste folheto, o Governo de Cartão Social Kikuia
Angola necessita urgentemente de reestruturar os O Cartão Social Kikuia é um programa de transferências
seus programas sociais, introduzindo novas estratégias sociais não-monetárias, iniciado em 2013. Os objectivos
e políticas de coordenação. Também precisa de melho- do programa são: reduzir a pobreza, aumentar a nutrição
entre os mais pobres e também aumentar a produção
rar, com base em evidências, os programas existentes. agrícola entre os beneficiários. O programa dá prioridade a
viúvas com órfãos ou familiares com deficiência, pessoas
É difícil interpretar a evolução das alocações financeiras com doenças crónicas e antigos combatentes.
do Cartão Social Kikuia nos últimos anos. Em primeiro
Os beneficiários do programa recebem um cartão com
lugar, é importante observar que o valor que foi atribuí-
crédito financeiro – inicialmente Kz 10.000 por mês, de-
do à operacionalização do programa tem sido estável, pois reduzido para Kz 5.000 por mês em função da crise
pelo menos em termos nominais, nos últimos quatro - para compras de produtos alimentares, material escolar,
anos. Isto significa que não sofreu uma redução subs- insumos e ferramentas agrícolas, assim como outros bens
tancial quando os valores do OGE de 2015 foram redu- básicos. As compras podem ser feitas somente em ‘Lojas
Kikuia’ e outros estabelecimentos comerciais comunitá-
zidos. O que não se explica é o pico em 2016, devido a rios na área em questão.
um aumento enorme na alocação para o programa ao
nível ministerial. Não foi possível encontrar uma expli- A crise resultou em problemas financeiros para o programa
cação para esta discrepância. e muitos dos beneficiários seleccionados não receberam
os incentivos. Por outro lado, a própria estrutura do progra-
ma, com as lojas muito distantes de algumas aldeias, sig-
Quando se implementam programas de transferências nifica que muitos dos cidadãos mais vulneráveis não têm
sociais, convém considerar o montante do benefício acesso aos bens por falta de meios de transporte ou limi-
em função da regularidade e os benefícios por pessoa. tações de mobilidade. Além disso, o programa tem uma
A linha de pobreza monetária é considerada, pelo Banco infra-estrutura de logística bastante pesada e custosa, o
que significa que uma parte das verbas do programa estão
Mundial, de USD 1.90, ou mais de Kz 310, por pessoa a suportar a estrutura em vez de ir para os beneficiários.
por dia. O programa, segundo o Banco Mundial, tinha
101 mil beneficiários registados em Janeiro de 2016.
GRÁFICO 7 Atribuição ao Cartão Social Kikuia
Dividindo o montante alocado para o Cartão Kikuia, em
2016, pelo número de famílias beneficiárias, chegamos 9
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© UNICEF Angola/2016/Schermbrucker