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AULA 3

GERENCIAMENTO DE
ATIVIDADES DE
ABASTECIMENTO E CROSS
DOCKING

Profª Carla Gomes Beuter Diógenes


INTRODUÇÃO

Esta aula aborda o cuidado que as organizações precisam ter quanto à


atualização e confiabilidade das informações que envolvem a gestão de estoques,
de compras e o uso de softwares como ERP, WMS e TMS. Também
explanaremos sobre tendências que envolvem os processos de abastecimento,
tais como logística para e-commerce e logística 4.0.

TEMA 1 – ACURACIDADE E GESTÃO DE ESTOQUES

Os dias atuais são marcados por alta competitividade e consumidores cada


vez mais exigentes. Por isso, as empresas precisam se adaptar rapidamente às
tendências de mercado, melhorar seu desempenho e agregar valores aos
serviços e produtos.
A gestão de estoque tem um papel muito relevante no alcance desses
objetivos, pois sua função é garantir que os produtos estejam disponíveis ao
consumidor final (Bertaglia, 2003). Há um dilema frequentemente enfrentado pela
gestão de estoques: é preciso sempre ter o produto necessário, mas ele nunca
deve ser estocado. Ou seja, o controle de estoques é parte essencial da logística
como um todo, pois eles podem compor uma porção considerável, de 25% a 40%,
do capital da empresa (Ballou, 2006).
Para que a gestão de estoques seja mais eficiente, é importante contar com
o apoio de indicadores. E um dos principais indicadores dessa área é o que mede
a acuracidade de estoques.

1.1 Acuracidade de estoques

O termo acurácia é originário da palavra inglesa accuracy, que, por sua vez,
significa “qualidade daquilo que é correto, previsto e exato” (Correa; Caon;
Gianesi, 2001). Ele se aplica à gestão do estoque na medida em que é preciso
que a contagem dos itens físicos do estoque, os cálculos e seus registros no
sistema sejam exatamente iguais ou, no mínimo, tão parecidos quanto possível.
A acuracidade pode ser calculada conforme a Equação 1:

𝑞𝑢𝑎𝑛𝑡𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑑𝑒 𝑟𝑒𝑔𝑖𝑠𝑡𝑟𝑜𝑠 𝑐𝑜𝑟𝑟𝑒𝑡𝑜𝑠


𝑎𝑐𝑢𝑟𝑎𝑐𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 = 𝑛ú𝑚𝑒𝑟𝑜 𝑑𝑒 𝑖𝑛𝑓𝑜𝑟𝑚𝑎çõ𝑒𝑠 𝑣𝑒𝑟𝑖𝑓𝑖𝑐𝑎𝑑𝑎𝑠 𝑥100 (1)

2
Exemplificando: em um determinado estoque, foram contadas 50 unidades
de um determinado produto, enquanto no estoque contábil constava que deveria
haver 52 unidades. A acuracidade desse estoque pode ser calculada como
exposto na Equação 2.

50
𝑎𝑐𝑢𝑟𝑎𝑐𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 = 52 𝑥100 = 96,15% (2)

Outro indicador importante é a divergência, que identifica erros nos cálculos


de estoque e pode ser definida pela Equação 3 (Correa; Caon; Gianesi, 2001):

|𝑞𝑢𝑎𝑛𝑡𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑑𝑒 𝑟𝑒𝑔𝑖𝑠𝑡𝑟𝑜𝑠 𝑐𝑜𝑟𝑟𝑒𝑡𝑜𝑠−𝑛.𝑑𝑒 𝑖𝑛𝑓𝑜𝑟𝑚𝑎çõ𝑒𝑠 𝑣𝑒𝑟𝑖𝑓𝑖𝑐𝑎𝑑𝑎𝑠|


𝑑𝑖𝑣𝑒𝑟𝑔ê𝑛𝑐𝑖𝑎 = 𝑛ú𝑚𝑒𝑟𝑜 𝑑𝑒 𝑖𝑛𝑓𝑜𝑟𝑚𝑎çõ𝑒𝑠 𝑣𝑒𝑟𝑖𝑓𝑖𝑐𝑎𝑑𝑎𝑠
𝑥100 (3)

Para o exemplo anterior, a divergência seria calculada como ilustra a


Equação 4. Note que o numerador está em módulo.

|50−52| 2
𝑑𝑖𝑣𝑒𝑟𝑔ê𝑛𝑐𝑖𝑎 = 𝑥100 = 𝑥100 = 3,84% (4)
52 52

Esse é um exemplo muito simplificado; uma empresa real pode ter


situações mais elaboradas. O exemplo a seguir sugere uma pequena empresa de
fabricação e venda de produtos de limpeza, com uma listagem de produtos
preenchida após a conferência de estoque (Tabela 1):

Tabela 1 – Exemplo de listagem de itens de estoque

Item Quantidade
Soda cáustica 15 kg
Solvente 8L
Sabonetes 124 unidades
Xampu 32 unidades
Embalagem para xampu 87 unidades

No entanto, o lançamento contábil diferiu ligeiramente da contagem,


conforme a Tabela 2.

Tabela 2 – Exemplo de listagem contábil de itens de estoque

Item Quantidade
Soda cáustica 16 kg
Solvente 8L

3
Sabonetes 130 unidades
Xampu 35 unidades
Embalagem para xampu 118 unidades

É possível calcular a acuracidade de cada item, como pode ser observado


na Tabela 3, que compara as duas listagens e mostra a acuracidade já calculada.

Tabela 3 – Exemplo de listagem de itens de estoque

Item Quantidade do Quantidade Acuracidade


estoque contábil (%)
Soda cáustica 15 kg 16 kg 93,75
Solvente 8L 8L 100
Sabonetes 124 unidades 130 unidades 95,38
Xampu 32 unidades 35 unidades 91,42
Embalagem para xampu 87 unidades 118 unidades 73,72

Observa-se que a acuracidade do item “Embalagem para xampu” está


particularmente baixa, o que indicaria a necessidade de um maior controle
desse item. A acuracidade também pode ser usada como indicador qualitativo,
como expõe a Equação 5 (Correa; Caon; Gianesi, 2001):

𝑞𝑢𝑎𝑛𝑡𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑑𝑒 𝑖𝑡𝑒𝑛𝑠 𝑐𝑜𝑚 𝑎𝑐𝑢𝑟𝑎𝑐𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 100%


𝑎𝑐𝑢𝑟𝑎𝑐𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑞𝑢𝑎𝑙𝑖 = 𝑞𝑢𝑎𝑛𝑡𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑑𝑒 𝑖𝑡𝑒𝑛𝑠
𝑥100 (5)

Na Tabela 3, vemos cinco itens diferentes: soda cáustica, solvente,


sabonetes, xampu e embalagem para xampu. Destes, apenas um teve
acuracidade de 100%. A acuracidade qualitativa é calculada na Equação 6.

1
𝑎𝑐𝑢𝑟𝑎𝑐𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑞𝑢𝑎𝑙𝑖 = 5 𝑥100 = 20% (6)

Dessa forma, apenas 20% dos itens em estoque tiveram sua quantidade
perfeitamente igual na contagem física com o lançamento contábil.

1.2 Principais razões da falta de acuracidade

As principais causas para a falta de acuracidade são listadas por


Drohomeretski (2009):

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• Erro no cadastro de materiais;
• Registro incorreto de movimentações;
• Problemas no recebimento;
• Problemas no apontamento;
• Problemas na expedição.

Por fim, ressalta-se que cabe a cada empresa definir a acuracidade,


divergência e acuracidade qualitativa desejada, bem como tomar as ações para
atingir essas metas (Arnold, 1999).

TEMA 2 – SOFTWARES WMS, ERP E TMS

Num ambiente competitivo, softwares de gestão e planejamento têm sido


cada vez mais necessários. Tratando-se de logística para estoques e armazéns,
destacam-se três categorias de software: enterprise resource planning (ERP),
warehouse management system (WMS) e transportation management
system (TMS).

2.1 Os sistemas ERP

Por definição, seriam sistemas capazes de gerenciar informações ligadas


aos processos administrativos, operacionais e gerenciais da organização. Foram
implementados a partir de 1990, inicialmente por grandes empresas que queriam
integrar suas diversas áreas operacionais e gerenciais.
Esses sistemas atuam como uma espinha dorsal que se estende aos
sistemas dos clientes, fornecedores e parceiros comerciais, formando uma cadeia
de valor integrada ao processo de negócio. Ou seja, os sistemas ERP comandam
e centralizam todo o fluxo de informações, concatenando em um só centro todos
os setores da empresa, facilitando e agilizando o acesso à informação sobre eles
(Lima, 2009).
Dessa forma, a principal característica de um sistema ERP é que as
informações dos diferentes setores da empresa estão disponíveis em um banco
de dados centralizado.

2.1.1 Aplicações de ERP na logística

Dentre as diversas aplicações dos sistemas ERP na logística, podemos


destacar duas (Lima, 2009):
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1. Melhoria no planejamento. O sistema ERP disponibiliza a informação de
forma unificada, colaborando para que as decisões sejam tomadas de
forma mais eficiente, em um menor espaço de tempo. Como consequência,
a produtividade da empresa aumenta, e os resultados positivos surgem
naturalmente. O ERP também melhora o monitoramento das solicitações
de clientes, contribuindo para criar estratégias, rotas e prazos de fretes
adequados às necessidades da empresa;
2. Melhoria do controle de estoque. O sistema ERP não apena monitora o
estoque, mas também otimiza seu controle. Em empresas de logística, um
sistema ERP administra todos os recursos em um diagrama personalizado
– o que permite ver compras, vendas, pedidos e entregas de uma única
localização central. Isso é fundamental para a tomada de decisões, já que
possibilita antecipar os pedidos antes mesmo de serem feitos.

2.2 Sistemas WMS

São sistemas de gestão de armazéns e/ou centros de distribuição que


otimizam as atividades operacionais (fluxo de materiais) e administrativas (fluxo
de informações) dentro do processo de armazenagem. Esse sistema inclui
atividades como: recebimento, inspeção, endereçamento, armazenagem,
separação, embalagem, carregamento, expedição, emissão de documentos e
controle de inventário (Martins et al., 2010).
Os sistemas de gerenciamento de armazém surgiram da evolução dos
antigos sistemas de controle de armazém, ou warehouse control systems (WCS).
Algumas funções adicionais foram sendo agregadas à medida que o WCS evoluía
de um sistema de controle simples para um mais complexo, capaz de emitir
sugestões e fazer cálculos.
O WMS otimiza todas as atividades operacionais e administrativas do
processo de armazenagem, tais como: recebimento, inspeção, endereçamento,
estocagem, separação, embalagem, carregamento, expedição, emissão de
documentos e inventário, entre outras funções. Redução de custo e melhoria do
serviço ao cliente são ganhos obtidos com esse sistema, pois a produtividade
operacional tende a aumentar.
Uma vez implantado um sistema WMS, todas as atividades passam a ser
gerenciadas por ele, e não pelo operador, eliminando o uso de papéis, reduzindo
erros, melhorando a velocidade operacional e aumentando a confiabilidade das

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informações. O sistema opera em tempo real entre múltiplos armazéns,
possibilitando visualizar o status das mercadorias tanto localmente quanto a
distância, via terminais remotos ou consultas via internet, gerando relatórios de
mobilidade, possibilitando uma visão macro e micro das mercadorias. O WMS
também possui rotinas de melhorias de armazenagem, que orientam o
remanejamento das mercadorias, procurando melhorar o processo de estocagem
e retirada, de acordo com o giro de cada mercadoria.

2.3 Sistemas TMS

São decisões no nível estratégico de um sistema para gerenciar a cadeia


de suprimento que abrangem todos os processos: suprimento, produção e
distribuição. Os módulos operacionais auxiliam a tomada de decisões baseadas
em informações transacionais, com alto grau de detalhe, dando suporte ao
controle gerencial das operações. O TMS pode ser considerado um módulo de
sistema de gerenciamento da cadeia de suprimento, servindo às decisões no nível
operacional, além de dar subsídio às decisões para negociação de contratos e
controle gerencial. Desse modo, o TMS apoia a gestão da cadeia de suprimento,
em seus níveis tático e operacional.
Seja em uma loja virtual ou física, sabe-se que após a expedição várias
etapas posteriores precisam ser cumpridas para que o consumidor fique satisfeito.
Com clientes cada vez mais exigentes, que desejam compras com frete baixo,
entregas rápidas e possibilidade de monitoramento constante dos pedidos, o
sistema TMS foi feito para otimizar e racionalizar essa etapa da cadeia logística
(Festa; Assumpção, 2010).

TEMA 3 – A ÁREA DE COMPRAS

Pode-se definir o termo compra como a aquisição de um bem ou direito


pelo qual se paga um preço estipulado. Por sua vez, o ato de comprar pode ser
entendido como um conjunto de ações que as organizações devem realizar para
adquirir todos os produtos e serviços necessários para sua produção e/ou
funcionamento (Rosa, 2014).
A gestão de compras é uma das atividades mais importantes da área de
abastecimento. Com uma boa gestão, é possível selecionar os melhores

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fornecedores para atender as necessidades da organização. Por outro lado,
gestão de compras vai além do ato de comprar e monitorar.

“É um processo estratégico, que envolve custo, qualidade e velocidade


de resposta. É uma tarefa crucial para a organização, seja de que tipo
for.” (Bertaglia, 2003, p. 27)

3.1 A área de compras

A área de compras de uma organização é normalmente conduzida pelo


departamento de compras, que “tem como objetivo adquirir bens e/ou serviços,
na qualidade desejada, no momento preciso, pelo menor custo possível e na
quantidade pedida” (Dias; Costa, 2006, p. 7).
Inicialmente, bastava à área de compras atender à necessidade do
requisitante, não havendo muita preocupação com preço. Com o passar dos anos,
a área de compras ganhou destaque para as organizações. Quanto melhor a
negociação que envolve a compra, melhor será o resultado, ou seja, quanto menor
for gasto na compra, maior será o lucro (Nack; Bonfadini, 2013).

3.2 Elementos que participam do processo de compra

A negociação de compra em uma organização envolve dois atores


principais, que se completam: o comprador e o fornecedor (ou vendedor). Essa
relação é fundamental na eficiência e objetividade do processo. Vamos conhecer
mais detalhes das funções de cada um.

3.3 Comprador

É o profissional que adquire os itens necessários à empresa. Para Dias e


Costa (2006), o mercado atual demanda um profissional com ampla gama de
conhecimentos, que vão da base técnica, passando pelas habilidades tanto
comerciais quanto de gerenciamento, e formem um comportamento
empreendedor. Esse profissional é o comprador, que atua em várias atividades,
como participar do desenvolvimento de novos produtos, analisar as fontes de
abastecimento, gerenciar o sistema de custeio e monitorar as parcerias de
longo prazo.

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3.4 Fornecedor

O fornecedor é outro elemento que atua diretamente na negociação de


compra. Não basta apenas fornecer um material ou prestar um serviço, mas sim
conquistar a confiança do comprador, buscando manter um relacionamento de
longo prazo entre o fornecedor e a organização compradora. Esses objetivos
ocorrem a partir do momento em que o fornecedor busca a qualidade no seu
atendimento e a atualização de sua tecnologia (Nack; Bonfadini, 2013).

um bom fornecedor é aquele que tem a tecnologia para fabricar o


produto na qualidade exigida, tem a capacidade de produzir as
quantidades necessárias e pode administrar seu negócio com eficiência
para ter lucros e ainda assim vender um produto a preços competitivos.
(Arnold, 1999, p. 218)

Assim, o fornecedor é quem produz e/ou vende o item que se deseja


adquirir.

3.5 Tipos de compra

As operações de aquisição de produtos dependem da necessidade de


consumir ou investir. Dessa forma, todos os modelos de compra estão
relacionados à aquisição para consumo próprio ou para aplicação dos recursos
adquiridos em um novo equipamento, ampliação da infraestrutura etc.
(Bertaglia, 2003).
Partindo desse princípio, pode-se definir dois tipos de aquisição: compras
para investimento e compras para consumo.

3.5.1 Compras para investimento

São voltadas para bens e equipamentos que irão compor o ativo da


organização, ou seja, bens e direitos que podem ser convertidos em recursos
financeiros (Bertaglia, 2003). Um exemplo de compra para investimento é a
aquisição de um equipamento mais moderno, que possa aumentar a capacidade
de produção.

3.5.2 Compras para consumo

São voltadas para a compra de materiais e matérias-primas utilizadas


durante o processo de produção, e não necessariamente trazem lucro à empresa

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(Bertaglia, 2003). No setor público, um nome comum para essas compras é
custeio, nomenclatura compartilhada por algumas organizações (Rosa, 2014).
Essa categoria possui duas subdivisões (Bertaglia, 2003):

1. Compras de materiais produtivos. Compostas por itens relacionados


direta ou indiretamente ao processo de produção. Eles integram o produto
final;
2. Compras de materiais improdutivos. Compostas por itens não adotados
no processo de produção. São itens de custeio ou de consumo forçado.

Por exemplo, uma empresa que vende paletes pode comprar pregos e
madeiras para efetuar sua produção. Essas compras seriam compras produtivas.
Por outro lado, a mesma empresa pode comprar papel para emitir notas fiscais.
Essa compra é uma compra improdutiva.

TEMA 4 – LOGÍSTICA PARA E-COMMERCE

A logística é considerada uma das questões-chave para o sucesso do


comércio eletrônico (e-commerce), cuja expansão se deu com a comercialização
da internet e da web no início dos anos 1990 (Burnson, 2002). A logística pode
ser definida como o processo de planejar, implementar e controlar, ao custo
correto, o fluxo de armazenagem de matérias-primas, estoques e de produtos
acabados, bem como informações relativas a essas atividades, desde o ponto de
origem até o ponto de consumo, com o propósito de atender às exigências do
cliente (Ballou, 2006).
Da mesma forma, Bowersox et al. (2014) enfatizam que a logística diz
respeito à obtenção de produtos e serviços no lugar e tempo desejado, o que inclui
na sua concepção a ideia de integrar as atividades da empresa.
Quando se trata da elaboração de um planejamento adequado da operação
logística do comércio eletrônico, é necessário levar em conta alguns aspectos,
como gerenciamento de:

• Estoques: é importante que a informação de estoque disponível no site


esteja alinhada com sua disponibilidade física. Assim, é necessário integrar
o sistema de controle de estoque com a solução do comércio eletrônico;
• Entregas: normalmente o serviço de transporte e entrega dos produtos é
feito por empresas terceirizadas, como os Correios (e-Sedex). Qualquer

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que seja o operador logístico, é necessário um sistema que permita ao
cliente rastrear o produto;
• Ciclo de suprimento: para haver harmonia com os fornecedores nos ciclos
de processos de suprimentos, é necessário informatizá-los de modo que o
pedido seja disparado automaticamente para o fornecedor sempre que o
nível de estoque atingir uma quantidade mínima.

Em resumo, logística envolve os processos de armazenagem e transporte.


Em comércio eletrônico, não basta ter um excelente site, um produto atraente e
um preço competitivo. É essencial uma logística eficiente para entregar esse
produto no tempo desejado pelo consumidor.

4.1 Diferença entre logística tradicional e logística e-commerce

Sistemas logísticos da economia convencional foram desenvolvidos para


atender ao comércio entre empresas com pedidos de grande volume, em que a
maioria das entregas são feitas em lojas ou centros de distribuição. Por outro lado,
a logística do comércio virtual se caracteriza por um grande número de pequenos
pedidos, geograficamente dispersos e entregues de forma fracionada, resultando
em baixa densidade geográfica e elevados custos de entrega (Merlo, 2002).
Silva (2000) estima que as entregas porta a porta realizadas pelas
empresas de comércio virtual custem de duas a três vezes mais do que as
entregas do comércio tradicional, entre empresas. E da mesma forma que o
acesso a informações sobre o produto é facilitado pela internet, o produto físico
não pode ser enviado pela rede. Dessa forma, o sistema de distribuição é
determinante para o sucesso ou fracasso das empresas que trabalham com e-
commerce. Esse cenário de mudanças cria desafios e oportunidades para o
desenvolvimento da logística em todos os locais onde o e-commerce esteja em
evolução.
Tratando da economia convencional, quando uma empresa deseja atuar
de forma abrangente, oferecendo uma vasta gama de produtos a um grande
número de clientes, essa empresa naturalmente caminha, por questões
econômicas, a limitar a quantidade de informação e comunicação com seus
clientes potenciais. Por outro lado, no caso de querermos utilizar uma estratégia
de marketing personalizado, plena em informação, ela deve restringir o número
de clientes abordados e produtos ofertados (Burnson, 2002).

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Com a internet, o aparente “perde-ganha” tende a desaparecer, permitindo
às empresas ter acesso a uma combinação de abrangência e riqueza na
comunicação com os clientes.
Fleury e Monteiro (2000) apresentam um quadro com as principais
diferenças entre a logística tradicional e a logística em rede no comércio
eletrônico B2C, ou seja, o comércio virtual em que os vendedores são
organizações, e os compradores, pessoas físicas:

Tabela 4 – Diferenças entre logística tradicional e logística do e-commerce

Logística tradicional Logística do e-


commerce
Tipo de carregamento Paletizado Pequenos pacotes
Clientes Conhecidos Desconhecidos
Estilo da demanda Empurrada Puxada
Fluxo do estoque/pedido Unidirecional Bidirecional
Tamanho médio do pedido Mais de R$ 1.000 Menos de R$ 100
Destinos dos pedidos Concentrados Altamente dispersos
Responsabilidade Elo único Toda cadeia de
suprimentos
Demanda Estável e consistente Incerta e fragmentada

A Tabela 4 ilustra a necessidade de desenvolver sistemas logísticos


específicos para atender às demandas do e-commerce. Os sistemas existentes
não necessariamente se adéquam às características desse novo conceito.
Assim, observa-se uma tendência em buscar novos arranjos para enfrentar
esse desafio. Muitos arranjos envolvem três atores: a empresa de e-commerce,
responsável pela seleção, compra e venda das mercadorias; um operador
logístico especializado, responsável pelo atendimento do pedido (fulfillment); e
uma empresa de entrega expressa, responsável pela atividade de entrega física
ao consumidor final.
Tem sido observado que a maior dificuldade logística do e-commerce não
se encontra na atividade de entrega física porta a porta, mas sim na atividade de
fulfillment (atendimento do pedido), que compreende o processamento do pedido,
a gestão do estoque, a coordenação dos fornecedores e a separação e
embalagem das mercadorias (Fleury; Monteiro, 2000).

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TEMA 5 – LOGÍSTICA 4.0

Com o avanço tecnológico nos últimos anos, as indústrias têm buscado


novas tecnologias para automatizar e otimizar processos. Para isso, as indústrias
têm investido em sistemas de inteligência artificial, internet das coisas,
computação em nuvem, entre outros. Essa tendência é conhecida como Indústria
4.0 (ou Quarta Revolução Industrial), e tem reestruturado as organizações para
que sejam mais enxutas, eficientes e personalizadas.
A Logística 4.0 deriva da Indústria 4.0. A logística tradicional passa por uma
evolução e busca acompanhar o progresso da nova indústria. A Logística 4.0
também se baseia em novas tecnologias, que modernizam e otimizam o
armazenamento e a distribuição das mercadorias.
Assim, o conceito de Logística 4.0 pode ser resumido pelo aperfeiçoamento
de uma logística anterior, cuja proposta básica era mais investimentos
tecnológicos (Barreto; Amaral; Pereira, 2017). A Logística 4.0 usa soluções como
big data, inteligência artificial (IA), cloud computing, internet das coisas (IoT), entre
outras. Vamos conhecer um pouco mais de cada uma delas.

5.1 Internet das coisas – IoT

A IoT (ou no original, “internet of things”) relaciona-se a objetos físicos e


virtuais ligados à internet. Em Logística 4.0, os itens de interesse podem ser
constantemente monitorados com sensores e acesso à internet.
Um exemplo de aplicação: equipamentos podem ter sensores que se
comuniquem pela internet. Uma esteira do armazém, por exemplo, pode monitorar
e armazenar automaticamente a massa dos itens que passam por ela para
controle estatístico. Isso pode auxiliar no planejamento da manutenção dessa
esteira.

5.2 Cloud computing

De acordo com Marchisotti, Joia e Carvalho (2019), o cloud computing (ou


“computação em nuvem”) refere-se à ideia de operar, em todos os lugares e
plataformas, as múltiplas aplicações por meio da internet.
Essa ferramenta recebe os dados oriundos dos sensores da IoT e os
disponibiliza para posterior análise. Os dados da massa dos itens do exemplo
anterior podem ser armazenados na nuvem, em vez de ficar em servidores locais,
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aumentando a confiabilidade e reduzindo a necessidade de salas de
computadores.

5.3 Big data

Dados podem ser palavras, números, códigos ou outros sinais que


representam fatos sobre determinada realidade. Segundo Machado (2018), o
termo “big data” refere-se a grandes quantidades de dados armazenados a cada
instante, resultantes da operação de milhões de sistemas conectados a uma rede,
que produzem dados sobre quase tudo em tempo real, disponibilizados a quem
tiver interesse.
Assim sendo, enquanto a IoT fornece os dados, os sistemas de cloud
computing os armazena, e as ferramentas de big data são a forma de mantê-los
disponíveis. Continuando no exemplo da esteira, ao longo dos anos, muitos dados
de produção foram armazenados. Caso fosse necessário saber a massa de um
item específico que passou pela esteira em um dia desejado, a ferramenta de big
data agiliza o processo.

5.4 Inteligência artificial (IA)

Segundo Chrisley e Begeer (2000), a IA (ou no original, “artificial


intelligence – AI) representa a inteligência equivalente à humana, exibida por
mecanismos ou softwares. Essa ferramenta auxilia na análise do grande volume
de dados disponibilizados pelos sistemas já citados.
Por último, supondo que a esteira apresente defeito de tempos em tempos,
os operadores podem não detectar nada de anormal, mas um sistema de IA
poderia, analisando os dados de massa, notar que determinada combinação de
pacotes causa desbalanceamento e posterior defeito na esteira. Essa análise é
custosa e difícil para analistas, mas pode ser feita continuamente por
ferramentas de IA.

5.5 Benefícios da Logística 4.0

A adaptação das operações da Indústria 4.0 para modelos de logística 4.0


otimiza a análise de dados, trazendo benefícios como maior foco na estratégia de
negócios, redução de custos e aumento da satisfação dos clientes (Taliaferro
et al., 2010).

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5.5.1 Maior foco na estratégia de negócios

O foco da Logística 4.0 é voltado para a estratégia organizacional, ou seja,


há uma grande conectividade entre os processos. Para isso, utiliza-se softwares
que auxiliam o monitoramento dos fluxos de trabalho, mantendo as informações
atualizadas e acessíveis (Taliaferro et al., 2010). Essas informações permitem que
o foco seja na estratégia dos negócios, e não na obtenção de informações.

5.5.2 Redução de custos

Garrison, Noreen e Brewer (2012) afirmam que o “comportamento de um


custo” significa a forma como ele irá reagir ou variar à medida que ocorrerem
alterações no nível da atividade. Empresas que compreendem como os custos se
comportam têm melhores condições de prever qual será a trajetória dos custos
em diversas situações operacionais. Essa trajetória pode ser investigada com a
Logística 4.0, podendo planejar melhores atividades e, consequentemente,
aumentar os lucros.

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REFERÊNCIAS

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