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CAMPUS PROFESSOR FRANCISCO GONÇALVES QUILES

DIREITO
D. EMPRESARIAL I
DOUTORA ELIMEI PALEARI DO AMARAL CAMARGO
ACADÊMICA JANINE M. B. ALVES DA SILVA

A. Da responsabilidade dos sócios nas S.A. em comparação aos sócios nas


sociedades limitadas

Em relação à responsabilidade dos sócios, uma sociedade pode ser classificada


como limitada quando a responsabilidade dos seus sócios possuir limites patrimoniais
vinculados ao valor de suas respectivas quotas ou ações, de modo que as dívidas da
sociedade não alcançarão, em regra, seus respectivos patrimônios pessoais. A
sociedade anônima tem como características a divisão do seu capital em ações (e não
em quotas); e o fato de que cada sócio se responsabiliza apenas pelo preço de emissão
das ações que adquirir (LSA, art. 1º; e também CC, art. 1.088). Em se tratando da
responsabilidade dos sócios, o limite é o valor de emissão das respectivas ações, não
existindo a responsabilidade pela integralização do capital social subscrito, como
acontece na sociedade limitada (TEIXEIRA, 2019).
Ou seja, limita-se sua responsabilidade pelas obrigações sociais ao valor de suas
contribuições em ações, na sociedade anônima, ou ao valor não integralizado do capital
social, na hipótese de sociedade limitada. A sociedade limitada é caracterizada pela
responsabilidade dos sócios restrita ao valor de suas quotas desde que o capital social
esteja integralizado. O sócio responde apenas pelo valor de sua quota, embora todos
os sócios respondam solidariamente pela integralização do capital social
(SACRAMONE, 2022).

B. Do nome empresarial

O nome empresarial é o nome do empresário, seja pessoa física (empresário


individual), seja pessoa jurídica (sociedade empresária ou empresa individual de
responsabilidade limitada – SLU), usado por ele para apresentar-se perante terceiros
nas suas relações. Trata-se, portanto, do elemento de identificação do empresário e,
consequentemente, da própria empresa. Importante frisar que o nome empresarial não
se confunde com o título do estabelecimento, nem com a marca conferida a produtos
ou serviços produzidos ou fornecidos pela empresa.
O nome empresarial pode ser de duas espécies: firma, também chamada por alguns
de “razão social”, ou denominação (art. 1.155). Para cada um dos cinco tipos societários
existentes em nosso ordenamento (em nome coletivo, comandita simples, limitada,
comandita por ações e sociedade anônima) e também para os empresários individuais
e para as empresas individuais de responsabilidade limitada, a lei prevê regras
específicas para a adoção do nome empresarial (GONÇALVES, 2018).
Existem no Direito, conforme o disposto no artigo 1.155 do Código Civil duas
espécies de nome empresarial são elas: a firma e a denominação.
A firma pode ser diferenciada da denominação sob dois aspectos, quanto a estrutura
e quanto a função. Ela pode ainda ser dividida ainda em firma individual e firma social.
Seguindo o disposto no C. C.:

Art. 1.156 - O empresário opera sob firma constituída por seu nome,
completo ou abreviado, aditando-lhe, se quiser, designação mais
precisa da sua pessoa ou do gênero de atividade.

Desse modo no que se refere à estrutura, a firma individual somente poderá


operar tendo por base o nome civil do empresário individual, o artigo diz respeito
somente ao empresário e não a sociedade empresarial, ou seja, este artigo aplica-se
somente a firma individual, assim sendo o nome empresarial dessa espécie sempre será
composto pelo nome civil, poderá ainda o empresário utilizar esse nome de forma
completa ou mesmo abreviada.
Nas palavras de André Luiz Ramos:

A firma, que pode ser individual ou social, é espécie de nome


empresarial, formada por um nome civil – do próprio empresário, no
caso de firma individual, do titular, no caso de SLU, ou de um ou mais
sócios, no caso de firma social. O núcleo da firma é, pois, sempre um
nome civil (por exemplo, André Ramos ou A. Ramos). Destaque-se
ainda que, na firma, pode ser indicado o ramo de atividade... Trata-se,
portanto, de uma faculdade, nos termos do art. 1.156, parte final, do
Código Civil, que dispõe claramente que o titular da firma pode aditar,
se quiser, expressão que designe de forma mais precisa sua pessoa
ou o ramo de sua atividade.

É possível ainda em casos específicos fazer uso de apelidos, quando o


empresário possuir um nome muito comum como João da Silva, poderá ele utilizar-se
de um apelido pelo qual já tem certo reconhecimento, por exemplo: “alemão” para que
possa haver uma distinção maior de seu nome empresarial como dispõe o parágrafo
único do artigo 1.163 C. C.:

Art. 1.163. O nome de empresário deve distinguir-se de qualquer outro


já inscrito no mesmo registro.

Parágrafo único. Se o empresário tiver nome idêntico ao de outros já


inscritos, deverá acrescentar designação que o distinga.

Outra questão importante a respeito da firma individual é que o empresário não


é obrigado a colocar no nome empresarial o ramo de atividade exercido por sua
empresa, sendo assim a designação do objeto facultativa.
A firma social ou como também é chamada a razão social, nomenclatura essa
utilizada somente para designar a sociedade, na composição da firma social somente
poderá figurar os nomes dos sócios que compõe a sociedade, somente estes nomes
poderão fazer parte da firma social, então temos:
Ex: Os sócios de uma empresa se chamam Michael Jackson e Elvis Presley, a
firma social poderia ser a junção desses dois nomes, ficando “Michael Jackson e Elvis
Presley Ltda” se a responsabilidade desses sócios for limitada o que é mais comum
atualmente ou ainda a firma social poderá ser formada pelas abreviaturas dos nomes
“Jackson & Presley Ltda.”
Existe ainda uma outra possibilidade que é a utilização do nome de apenas um
dos sócios ou mesmo dois, seguido da expressão “Companhia ou Cia”. O artigo 1.157
C. C. Dispõe a respeito da firma social de responsabilidade ilimitada e delimita que
nesse tipo de responsabilidade somente poderá operar a sociedade empresário sob
firma social:

Art. 1.157. A sociedade em que houver sócios de responsabilidade


ilimitada operará sob firma, na qual somente os nomes daqueles
poderão figurar, bastando para formá-la aditar ao nome de um deles
a expressão “e companhia” ou sua abreviatura.

Parágrafo único. Ficam solidária e ilimitadamente responsáveis pelas


obrigações contraídas sob a firma social aqueles que, por seus
nomes, figurarem na firma da sociedade de que trata este artigo.
Se a sociedade empresária possuir sócios com responsabilidade ilimitada pelas
obrigações sociais, adotará como nome empresarial a firma, na qual somente poderão
figurar os nomes dos referidos sócios, seja de um deles, de alguns ou de todos. Se a
firma não for composta pelo nome de todos esses sócios, deverá ser seguida da
expressão “e companhia”, ou sua abreviatura “& Cia.” (art. 1.157).
Se, porventura, o nome de sócio que, pelo contrato social, não responde
ilimitadamente passar a figurar na firma, ele automaticamente assumirá
responsabilidade solidária e ilimitada perante a empresa pelas obrigações contraídas
sob a firma comercial (art. 1.157, parágrafo único). Como a firma serve para a
identificação da empresa perante terceiros, essa regra possibilita que aqueles que
contratam com a sociedade conheçam, de imediato, os sócios que respondem
ilimitadamente com seus patrimônios pessoais pelas obrigações sociais.
Interessante acrescentar que as sociedades em conta de participação, por sua
vez, não podem adotar nome empresarial algum, uma vez que possuem natureza
secreta (art. 1.162). As cooperativas adotam denominação seguida da palavra
“cooperativa” (art. 1.159). Em se tratando de “microempresário” ou de “empresa de
pequeno porte”, deverá ser acrescido ao seu nome empresarial essas expressões ou
as abreviaturas “ME” ou “EPP”. Nos termos do art. 3º, I, da Lei Complementar n.
123/2006, com a redação que lhe foi dada pela Lei Complementar n. 139/2011,
consideram-se microempresa a sociedade empresária, a sociedade simples, a empresa
individual de responsabilidade limitada e o empresário a que se refere o art. 966 do
Código Civil, devidamente registrado no Registro de Empresas Mercantis ou no Registro
Civil de Pessoas Jurídicas, conforme o caso, desde que aufiram, em cada ano-
calendário, receita bruta igual ou inferior a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil
reais). Já o inciso II desse artigo dispõe que são consideradas empresas de pequeno
porte as mesmas mencionadas no inciso anterior que aufiram, em cada ano-calendário,
receita bruta superior a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais) e igual ou inferior
a R$ 3.600.000,00 (três milhões e seiscentos mil reais) (GONÇALVES, 2018).

C. Das diferenças das companhias de capital aberto e fechado.

A Sociedade Anônima de Capital Aberto é aquela em que os valores mobiliários


(ações, debêntures, parte beneficiárias) são lançados (ou seja, abertos, no sentido de
serem disponibilizados) para negociações em bolsas de valores ou mercados similares.
Ou seja, as ações das Sociedades Anônimas de Capital Aberto podem ser livremente
negociadas em bolsas de valores ou mercado de balcão, ampliando, com isso, a
possibilidade de obtenção de investimentos.
Em virtude da forma de operação, a Sociedade Anônima de Capital Aberto
precisa, obrigatoriamente, ser registrada na Comissão de Valores Mobiliários (CVM),
sujeitando-se, com isso, às exigências, fiscalizações e possíveis penalidades da referida
entidade. Por ser um formato que permite amplas negociações, a Sociedade Anônima
de Capital Aberto é denominada como sendo pública. No entanto, o simples fato de
haver a constituição de uma Sociedade Anônima de Capital Aberto não a torna publica
por si só.
Tal característica decorre do cumprimento de algumas fases, de acordo com os
documentos registrados na CVM (a exemplo dos boletins de subscrição, oferta de
subscrição de ações ao público, convocação de subscritores e realização de assembleia
de constituição) e na Junta Comercial competente (a exemplo do estatuto e atas de
assembleia), tornando-se públicos os arquivamentos, mediante divulgação em jornal
oficial, inclusive quanto as informações relativas aos balanços contábeis para o fim de
honrar com a transparência de mercado.
Ao contrário da Sociedade Anônima de Capital Aberto, a Sociedade Anônima de
Capital Fechado não demanda o registro na CVM, uma vez que não há emissão de
valores mobiliários negociáveis em bolsas de valores. Pelo mesmo motivo, também não
é considerada como sendo pública.
Assim, pode-se dizer que a Sociedade Anônima de Capital Fechado trata do formato
empresarial particular, no qual as ações restringem-se aos acionistas especificados,
sem a inclusão de suas operações em bolsa de valores ou mercado de balcão vinculado
à CVM.
Por se tratar de um formato empresarial particular que não demanda registro na
CVM, a forma de constituição ocorre exclusivamente perante a Junta Comercial,
mediante elaboração de estatuto social, convocação e atas de assembleia, boletins de
subscrição pelos fundadores e oferta direta ao público e, assim como no caso da
Sociedade Anônima de Capital Aberto, também deverá haver publicação da certidão do
arquivamento em jornal oficial.
Por sua vez, as informações contábeis restringem-se aos membros da Sociedade
Anônima de Capital Fechado e não precisam ser publicados, diferentemente da
exigência que se faz para as Sociedades Anônimas de Capital Aberto).

D. Da constituição de uma S.A.


Uma S.A. pode ser constituída em forma de S.A. aberta (subscrição pública) ou
fechada (subscrição privada). A constituição da S.A., seja ela aberta ou fechada, deve
ser precedida da subscrição de, pelo menos, duas pessoas, de todas as ações que
compõe o capital social da companhia, e do depósito em dinheiro, no Banco do Brasil
S/A, de, no mínimo, 10% (dez por cento) do valor de emissão das ações. Tal valor será
levantado pela companhia após sua constituição.
Estes requisitos são divididos na LSA em duas fases distintas: primeiramente,
devem ser observados os chamados requisitos preliminares; em sequência, devem ser
observadas algumas formalidades complementares.
De acordo com o art. 80 da LSA:

A constituição da companhia depende do cumprimento dos seguintes


requisitos preliminares:

I – subscrição, pelo menos por 2 (duas) pessoas, de todas as ações


sem que se divide o capital social fixado no estatuto;

II – realização, como entrada, de 10% (dez porcento), no mínimo, do


preço de emissão das ações subscritas em dinheiro;

III – depósito, no Banco do Brasil S/A., ou em outro estabelecimento


bancário autorizado pela Comissão de Valores Mobiliários, da parte
do capital realizado em dinheiro.
No que tange à determinação do inciso I, vemos que também se exige a
pluralidade de sócios para a constituição de uma sociedade anônima, não sendo
permitida a criação de sociedade anônima unipessoal, com única exceção da chamada
sociedade subsidiária integral (que tem apenas um sócio), disciplinada pelo art. 251 da
LSA. Importante mencionar, ainda, que, em se tratando de companhia aberta, o número
mínimo de acionistas é de três pessoas físicas
Por outro lado, no que se refere à exigência do inciso II, de realização mínima
de 10% do preço de emissão das ações subscritas em dinheiro, há casos especiais em
que se exige percentual maior, conforme previsão do parágrafo único do dispositivo,
segundo o qual “o disposto no número II não se aplica às companhias para as quais a
lei exige realização inicial de parte maior do capital social”.
Quanto ao disposto no inciso III, que alude ao depósito da parcela do capital
social integralizado em dinheiro, está expresso no art. 81 da LSA que o depósito referido
no inciso III do artigo 80 será realizado pelo fundador, no prazo de 5 (cinco) dias
contados do recebimento das quantias, em nome do subscritor e a favor da sociedade
em organização, que só poderá levantá-lo após haver adquirido personalidade jurídica.
No Brasil, como se sabe, a personalidade jurídica só se inicia com o registro da
sociedade na Junta Comercial. Portanto, somente depois de estar devidamente
registrada na Junta é que a companhia poderá levantar o valor depositado inicialmente
a título de integralização do capital social por parte dos seus primeiros acionistas.
Se o registro não se concretizar, estabelece o parágrafo único do art. 81 que:
Art. 81 - “...caso a companhia não se constitua dentro de 6 (seis) meses da data do
depósito, o banco restituirá as quantias depositadas diretamente aos subscritores”.
CONSTITUIÇÃO POR SUBSCRIÇÃO PÚBLICA

Existem aqui duas formas de constituição de uma sociedade anônima: por


subscrição pública ou particular.
As companhias abertas se constituem por meio de subscrição pública de ações,
ou seja, oferecimento destas ações a quaisquer investidores que as queiram subscrever
(“comprar”). Nessa modalidade de constituição, exigem-se algumas formalidades
específicas, tais como:
• o registro prévio na Comissão de Valores Mobiliários (CVM),
• a colocação das ações à disposição dos investidores interessados; e
• a realização de assembleia inicial de fundação.
De acordo com o art. 82 da LSA, “a constituição de companhia por subscrição
pública depende do prévio registro da emissão na Comissão de Valores Mobiliários, e a
subscrição somente poderá ser efetuada com a intermediação de instituição financeira”.
Então, com base nessa documentação apresentada – estudo, projeto e prospecto –
caberá à CVM avaliar o empreendimento. Assim, conforme disposto no § 2.º do mesmo
art. 82 da LSA:

Art. 82 - “a Comissão de Valores Mobiliários poderá condicionar o


registro a modificações no estatuto ou no prospecto e denegá-lo por
inviabilidade ou temeridade do empreendimento, ou inidoneidade dos
fundadores”.
Nesse passo, diante da aprovação da documentação pela CVM, esta também
deferirá o registro e terá início a segunda etapa desse procedimento constitutivo da
sociedade aberta, por meio da colocação das ações junto aos investidores interessados.
Resumidamente: caberá à instituição financeira denominada underwriter captar
capital no mercado, angariando investidores para o empreendimento a ser desenvolvido
pela sociedade. Sua tarefa é de extrema importância, porque nas companhias abertas
todo o capital social deve ser subscrito, sob pena de cancelamento do registro de
emissão anteriormente concedido pela CVM.
Os ivestidores que demonstrarem interesse e que a instituição underwriter reunir
para o projeto, começarão a subscrever as ações da sociedade, conforme determinado
pelo prospecto (art. 84, inciso I). O art. 85 regula o ato de subscrição:

Art. 85. No ato da subscrição das ações a serem realizadas em


dinheiro, o subscritor pagará a entrada e assinará a lista ou o boletim
individual autenticados pela instituição autorizada a receber as
entradas, qualificando-se pelo nome, nacionalidade, residência,
estado civil, profissão e documento de identidade, ou, se pessoa
jurídica, pela firma ou denominação, nacionalidade e sede, devendo
especificar o número das ações subscritas, a sua espécie e classe, se
houver mais de uma, e o total da entrada.

§ 1º A subscrição poderá ser feita, nas condições previstas no


prospecto, por carta à instituição, acompanhada das declarações a
que se refere este artigo e do pagamento da entrada.
§ 2º Será dispensada a assinatura de lista ou de boletim a que se
refere o caput deste artigo na hipótese de oferta pública cuja
liquidação ocorra por meio de sistema administrado por entidade
administradora de mercados organizados de valores mobiliários.
Após isso, passa-se à terceira etapa do procedimento, com a realização da
assembleia de fundação. Com efeito, dispõe o art. 86 da LSA:

“Art. 86 - Encerrada a subscrição e havendo sido subscrito todo o


capital social, os fundadores convocarão a assembleia geral que
deverá:

I – promover a avaliação dos bens, se for o caso (artigo 8.º);

II – deliberar sobre a constituição da companhia”.


O quórum dessa assembleia de fundação está previsto no art. 87 da LSA: “a
assembleia de constituição instalar-se-á, em primeira convocação, com a presença de
subscritores que representem, no mínimo, metade do capital social, e, em segunda
convocação, com qualquer número”.
Instalada a assembleia, iniciar-se-ão os trabalhos. Para que se aprove a constituição da
companhia aberta, basta que não haja oposição de mais da metade do capital social,
nos termos do § 3.º do art. 87 da LSA, que assim dispõe:

“Art. 87, §3º: verificando-se que foram observadas as formalidades


legais e não havendo oposição de subscritores que representem mais
da metade do capital social, o presidente declarará constituída a
companhia, procedendo-se, a seguir, à eleição dos administradores e
fiscais”.
Por fim, prevê o § 4.º que “a ata da reunião, lavrada em duplicata depois de lida
e aprovada pela assembleia, será assinada por todos os subscritores presentes, ou por
quantos bastem à validade das deliberações, ou seja, metade deles; um exemplar ficará
em poder da companhia e o outro será destinado ao registro do comércio”.

CONSTITUIÇÃO POR SUBSCRIÇÃO PARTICULAR

No tocante à constituição de sociedades fechadas, o trâmite é bem simples, já


que é realizado através de subscrição particular, sem a captação de capital junto a
quaisquer investidores no mercado de capitais.
Conforme o art. 88 da LSA, “a constituição da companhia por subscrição
particular do capital pode fazer-se por deliberação dos subscritores em assembleia geral
ou por escritura pública, considerando-se fundadores todos os subscritores”.
Conclui-se então que podem ser utilizadas duas modalidades de constituição:
a realização de assembleia dos subscritores; ou
a lavratura de escritura pública em cartório.
Caso a opção adotada seja a realização de assembleia de fundação, ela deverá
submeter-se ao mesmo procedimento da assembleia de fundação da companhia aberta,
analisado no tópico antecedente. É o que determina o § 1.º do art. 88:
“se a forma escolhida for a de assembleia geral, observar-se-á o
disposto nos artigos 86 e 87, devendo ser entregues à assembleia o
projeto do estatuto, assinado em duplicata por todos os subscritores
do capital, e as listas ou boletins de subscrição de todas as ações”.
Por outro lado, se a opção adotada for a lavratura de escritura pública em
cartório, devem ser observadas as formalidades constantes do § 2.º do art. 87:

“preferida a escritura pública, será ela assinada por todos os


subscritores, e conterá:

a) a qualificação dos subscritores, nos termos do artigo 85;

b) o estatuto da companhia;

c) a relação das ações tomadas pelos subscritores e a importância


das entradas pagas;

d) a transcrição do recibo do depósito referido no número III do artigo


80;

e) a transcrição do laudo de avaliação dos peritos, caso tenha havido


subscrição do capital social em bens (artigo 8°);

f) a nomeação dos primeiros administradores e, quando for o caso,


dos fiscais”.
Ultimadas as referidas providências, conforme o caso, passa-se à fase denominada
pela legislação acionária de formalidades complementares de constituição da
companhia.

E. Mercado de Valores Mobiliários (Bolsa de Valores e Mercado de Balcão)

O mercado de valores mobiliários é formado pelas Bolsas de Valores e pelo mercado


de balcão. Bolsa de Valores é entidade privada que reveste a forma de associação ou
de sociedade anônima. A Bolsa é composta por sociedades de corretores e tem a
função de ser um mercado secundário. Na Bolsa, os corretores intermediam a compra
e venda de valores mobiliários já titularizados por terceiros, que não a companhia. Não
há a negociação de valores mobiliários novos, mas apenas de valores mobiliários já de
titularidade de terceiros e que pretendem alienar para outros interessados. Por envolver
operações de compra e venda já por titulares, a bolsa de valores é chamada de mercado
secundário.
A colocação pela companhia dos títulos para sua subscrição pelos interessados é
realizada exclusivamente pelo mercado de balcão. A abertura de capital da companhia
é conhecida como IPO, Initial Public Offer, e consiste na oferta de valores mobiliários
diretamente aos particulares para permitir sua subscrição e, posterior, integralização,
com o objetivo de capitalizar a companhia.
O mercado de balcão é tanto mercado primário quanto mercado secundário.
Consideram-se mercado de balcão todas as operações com valores mobiliários
realizadas fora da Bolsa de Valores e por meio de intermediários do sistema de
distribuição, sejam sociedades corretoras ou instituições financeiras autorizadas, por
meio do mercado de balcão não organizado, seja por meio de um mercado de balcão
organizado, o qual é no Brasil integrado pela Sociedade Operadora do mercado de
Acesso (Soma). A Soma, no Brasil, é a companhia criada para manter um sistema que
permita as operações de compra e venda de valores mobiliários, conforme autorização
da CVM.
A Bolsa de Valores apenas intermedia a compra e venda de títulos já de propriedade
de acionistas. No mercado de balcão, a sociedade anônima emissora deverá contratar
instituições para a negociação de seus papéis. Poderá, entretanto, operar também como
mercado secundário, com a negociação dos títulos já de propriedade dos acionistas
(SACRAMONE, 2022).

F. O papel da Comissão de Valores Mobiliários.

A Comissão de Valores Mobiliários é disciplinada pela Lei n. 6.385/76 e é


responsável pela supervisão das negociações e dos agentes do mercado de valores
mobiliários. A CVM é uma autarquia federal, vinculada ao Ministério da Fazenda. Pela
redação do art. 5º da Lei n. 6.385/76, “é instituída a Comissão de Valores Mobiliários,
entidade autárquica em regime especial, vinculada ao Ministério da Fazenda, com
personalidade jurídica e patrimônio próprios, dotada de autoridade administrativa
independente, ausência de subordinação hierárquica, mandato fixo e estabilidade de
seus dirigentes, e autonomia financeira e orçamentária”.
À CVM são atribuídos poderes fiscalizatórios, os quais são exercidos para prevenir
abuso por parte das companhias ou de investidores, que podem se utilizar de
informações privilegiadas ou praticar atos de modo a comprometer a higidez do mercado
e prejudicar a poupança popular. Nesse aspecto, cabe à autarquia a fiscalização das
atividades de emissão e distribuição de valores no mercado; a negociação e
intermediação no mercado de valores mobiliários; a negociação e intermediação no
mercado de derivativos; a organização, o funcionamento e as operações das Bolsas de
valores; a organização, o funcionamento e as operações das Bolsas de Mercadorias e
Futuros; a administração de carteiras e a custódia de valores mobiliários; a auditoria das
companhias abertas e os serviços de consultor e analista de valores mobiliários (art. 1º
da Lei n. 6.385/76). Além do poder fiscalizatório, a Comissão de Valores Mobiliários
possui poder regulamentar e poder autorizante.
Cabe à CVM, por meio de instruções normativas, regulamentar os dispositivos legais
de funcionamento regular do mercado de valores mobiliários. Por seu turno, à CVM
compete o poder de autorizar a constituição de companhias abertas e a possibilidade
de emissão de valores mobiliários (SACRAMONE, 2022).
Dentre as espécies de valores mobiliários estão as ações, debêntures, bônus de
subscrição, partes beneficiárias e comercial papers.
Ações são valores mobiliários que correspondem a parcelas do capital social da
sociedade anônima, conferindo ao seu titular a categoria de acionista (LSA, art. 11). Na
condição de acionista, o titular da ação participa dos resultados da companhia, lucro ou
prejuízo, bônus ou ônus. As ações são os principais valores mobiliários.
Debêntures são valores mobiliários cuja emissão é uma operação de empréstimo,
em que a sociedade anônima é mutuária e os debenturistas mutuantes, sendo que
esses valores conferem aos debenturistas um direito de crédito (LSA, art. 52). Ressalta-
se também que o debenturista não é sócio da sociedade anônima, mas, sim, um credor
de um título (debênture) de longo prazo.
Os bônus de subscrição são valores mobiliários que atribuem ao seu titular o direito
de preferência para subscrever novas ações da companhia emissora, em um futuro
aumento de capital (LSA, art. 75). Assim, um bônus de subscrição pode ser usado
quando a sociedade já estiver planejando o aumento de capital, sendo uma forma bem
atraente para a captação prévia de recurso
As partes beneficiárias são valores mobiliários que asseguram ao seu titular direito
de crédito contra a sociedade anônima, consistente na participação nos lucros anuais
(LSA, art. 46, § 1º). São títulos que conferem participação dos lucros; muito embora
sejam títulos negociáveis, não possuem valor nominal e são estranhos ao capital social.
Podem ser emitidos pela companhia a qualquer tempo. Um ponto que aqui merece
destaque é o fato de ser proibido conferir aos titulares de partes beneficiárias qualquer
direito privativo de acionista, a não ser fiscalizar os atos dos administradores (LSA, art.
46, § 3º).
Commercial papers são valores mobiliários que consistem em promessa de
pagamento (uma espécie de nota promissória) emitida pela sociedade anônima, que
pode ser ofertada publicamente destinando-se à captação de recursos a curto prazo.
Os commercial papers diferenciam-se das debêntures, pois estas são utilizadas pela
companhia para obtenção de recursos a longo prazo. A emissão de commercial papers
objetiva conseguir recursos a curto prazo, entre 30 e 180 dias (TEIXEIRA, 2019)

BIBLIOGRAFIA

GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito empresarial: direito de empresa e


sociedades empresárias – 10. ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2018.
RAMOS, André Luiz Cruz. Direito Empresarial Esquematizado, 6ª edição. Método,
2016.
SACRAMONE, Marcelo Barbosa. Manual de Direito Empresarial. – 3. ed. – São Paulo:
SaraivaJur, 2022.
TEIXEIRA, Tarcisio. Direito empresarial sistematizado: doutrina, jurisprudência e
prática. – 8. ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2019.

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