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Nome empresarial, título do

estabelecimento, marcas e patentes

Apresentação
Nesta Unidade de Aprendizagem, serão abordados o nome empresarial, o título do
estabelecimento, as marcas e as patentes. Quando se cria uma sociedade empresária e inicia-se o
exercício da atividade empresarial, o empresário deve ter a cautela de proteger o seu patrimônio, e
isso inclui o nome empresarial, o título do estabelecimento, as marcas e as patentes.

Bons estudos.

Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

• Identificar o que vem a ser nome empresarial, título do estabelecimento, marcas e patentes.
• Distinguir o nome empresarial do título do estabelecimento, e as marcas das patentes.
• Reconhecer as formas de proteção dos institutos apresentados.
Desafio
Neuza e Renata constituíram uma sociedade empresária denominada Entre Cortes Comércio de
Alimentos LTDA., que está sediada no centro da cidade de Curitiba, fornece refeições durante o dia
e funciona como Bar durante a noite. As sócias elaboraram uma placa criativa com a variável
francesa do nome “L'ENTRE-COTES”. Antes de abrir o estabelecimento, elas registraram no
Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), em nome da sociedade, uma marca que consiste
em uma faca estilizada nas cores vermelha, branca e azul. Ocorre que, depois de um ano de
trabalho, as sócias verificaram: 1. A existência de uma sociedade em São Paulo/SP que está
registrada na junta comercial paulista com o mesmo nome “Entre Cortes Comércio de Alimentos
LTDA.” Isso vem causando transtornos, pois já houve, inclusive, um protesto indevido em nome da
sociedade curitibana por dívidas da sociedade paulistana. 2. Há um restaurante em Salvador/BA de
nome Alho e Óleo que está utilizando a marca estilizada da “L'ENTRE-COTES”.

Diante deste relato, é possível à Entre Cortes Comércio de Alimentos LTDA. curitibana exigir que a
sua homônima de São Paulo troque de nome?

Há como impedir a utilização da marca estilizada mesmo que isso esteja acontecendo em outro
estado?
Infográfico
O nome empresarial, título do estabelecimento e marcas e patentes são elementos imateriais de
identificação de acervo patrimonial, os quais representam mecanismo determinante no sucesso
corporativo, pois estampam destaque na personalização de produtos e serviços em função da
aproximação com clientes e fornecedores do empresário.
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Conteúdo do livro
Leia mais no capítulo Nome Empresarial, Título do Estabelecimento, Marcas e Patentes que faz
parte do livro Legislação Empresarial Aplicada e é a base teórica desta Unidade de Aprendizagem.

Boa leitura.
LEGISLAÇÃO
EMPRESARIAL
APLICADA

Tiago Ferreira Santos


Nome empresarial, título
do estabelecimento,
marcas e patentes
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Identificar os conceitos de nome empresarial, título do estabeleci-


mento, marcas e patentes.
 Distinguir o nome empresarial do título do estabelecimento e as
marcas das patentes.
 Reconhecer as formas de proteção dos institutos apresentados.

Introdução
Neste capítulo, você vai ler sobre o nome empresarial, o título do estabe-
lecimento, as marcas e as patentes. O presente estudo possui importância
crucial. Afinal, quando se cria uma sociedade empresária e inicia-se o
exercício da atividade empresarial, o empresário deve ter a cautela de
proteger o seu patrimônio, e isso inclui o nome empresarial, o título do
estabelecimento, as marcas e as patentes.

Conceitos de nome empresarial, título do


estabelecimento, marcas e patentes
O que identifica o empresário é o nome empresarial, é como se fosse o
nome civil de uma pessoa física. Enquanto o Número de Identificação do
Registro de Empresas (NIRE) é similar ao RG do empresário ou da socie-
dade empresária, o nome empresarial é equivalente ao nome das pessoas
constantes nos seus documentos.
Em outros termos, o nome empresarial é “[...] a forma de identificação de
um empresário, empresa individual de responsabilidade limitada ou sociedade
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empresária, ou seja, do titular da atividade empresarial, perante o mercado


em geral, bem como perante a administração pública” (GOMES, 2018, p. 70).
A importância do nome é crucial, já que ele revela a espécie societária e a
responsabilidade dos sócios pelas obrigações sociais assumidas. Por exemplo, em
uma sociedade limitada, a responsabilidade dos sócios pelas obrigações sociais é,
em regra, limitada ao valor de suas quotas. Entretanto, caso não conste a expressão
limitada ou sua abreviação (Ltda.), haverá incidência de responsabilidade ilimitada.
Sua natureza jurídica é de direito de personalidade. Assim,

[...] deve-se reconhecer no nome empresarial um bem que compõe o patri-


mônio moral do empresário ou da sociedade empresária, não comportando
transmissão e, portanto, alienação, sucessão hereditária, penhor, penhora etc.
(MAMEDE, 2018, p. 127).

O nome empresarial obedece a dois princípios, a saber, o princípio da


veracidade e da novidade. Pelo princípio da veracidade, entende-se que o
nome empresarial indica o responsável pela atuação da empresa. Já o princípio
da novidade consiste na circunstância de ele necessariamente ser distinto de
outros já registrados no território da respectiva junta comercial.
Há duas hipóteses de nomes empresariais: firma e denominação. Você
sabe o que é cada uma delas? “A palavra firma está relacionada ao nome ou
à assinatura de pessoa” (TEIXEIRA, 2018, p. 89). Essa é a forma de nome
empresarial adotada por empresário individual, afinal, ele operará sob firma,
a qual se constituirá pelo seu nome, seja completo ou abreviado, aditando-lhe,
caso queira, designação mais precisa da sua pessoa ou do gênero de atividade.

Como exemplos de nomes empresariais constituídos sob a firma, você pode considerar
João Batista dos Santos Bomboniere EPP, no qual consta o nome completo do
empresário e o gênero da atividade; José A. Nascimento Depósito de Bebidas EPP,
que apresenta o nome abreviado e o gênero da atividade; e Maria Ferreira Palha
EPP, com apenas o nome completo.

Questão interessante é a situação de homônimos. Você deve se lembrar do


princípio da novidade. Afinal, não podem ser arquivados os atos de empre-
sários ou sociedades empresárias com nome idêntico ou semelhante a outro
Nome empresarial, título do estabelecimento, marcas e patentes 3

já existente, o que se coaduna com o art. 1.163 do Código Civil: “O nome de


empresário deve distinguir-se de qualquer outro já inscrito no mesmo registro”
(BRASIL, 2002).
Assim, não raro, acontece conflito de nome de empresários. Nessas hipóte-
ses, ele não poderá escolher aquele já registrado, sendo possível sempre eleger
outro, desde que respeitadas as balizas legais: nome completo ou abreviado
acrescido de respectivo gênero da atividade.
Caso ainda assim se mantenha a situação de incompatibilidade e haja
impossibilidade de solução, poderá ser acrescido um número ao final, em
ordem crescente (1, 2, 3). Entretanto, tal situação não está contemplada ex-
pressamente na lei, que se limita a afirmar que se “[...] o empresário tiver
nome idêntico ao de outros já inscritos, deverá acrescentar designação que o
distinga” (BRASIL, 2002, art. 1.163).
Essa é a chamada firma individual ou natural, que possui alguma relação
com a assinatura do empresário ou do titular da empresa individual de res-
ponsabilidade limitada. Portanto, somente pode ter por base o seu nome civil
seguido ou não do ramo de atividade.
Além disso, há também a firma coletiva, firma social ou razão social, a
qual é construída pelos nomes dos sócios que integram determinada sociedade,
sendo ainda possível que indique o ramo de atividade empreendida.

É possível que você se depare com a razão social sendo tratada como sinônimo de
nome da sociedade empresária. Entretanto, essa equiparação está inadequada. A
denominação igualmente é nome empresarial, mas não está compreendida naquele
conceito.

Entre as sociedades que adotam firma social, há duas situações. Primeiro,


sociedades cuja responsabilidade dos sócios é ilimitada. Nessa hipótese, a
sociedade irá operar sob firma, na qual somente os nomes dos sócios podem
integrá-la. Na situação de compô-lo apenas com a indicação de alguns deles,
bastará acrescentar a expressão “e companhia” ou sua abreviatura. Deverá,
assim, ser “[...] composta com o nome de um ou mais sócios, desde que pessoas
físicas, de modo indicativo da relação social” (BRASIL, 2002, Art. 1.158).
Segundo, sociedades limitadas, caso em que é possível a adoção de firma
ou denominação, desde que integrada ao final pela palavra “limitada” ou sua
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abreviatura. Há de se ter consciência de que é importante a sua utilização,


porque a sua omissão implica na responsabilização do sócio que assim fizer
de forma solidária e ilimitada.
Há, ainda, a possibilidade de a sociedade limitada adotar a denominação
consistente em um nome formado a partir da conveniência dos que figurarem
como sócios, afinal, a sua construção é mais livre, sendo necessário, de qual-
quer modo, respeitar o princípio da novidade. Em outros termos, essa forma
de nominar a sociedade empresária é capaz de condizer com uma palavra ou
expressão fantasiosa, “significando algo [...] ou nada (Pluft Plak – Indústria
e Comércio de Juntas S/A)” (MAMEDE, 2018, p. 122).
A denominação, nas sociedades limitadas, designa o objeto da sociedade,
mas é permitido nela figurar o nome de um ou mais sócios. Você deve notar a
distinção acerca da utilização de firma individual (nome do empresário com
acréscimo facultativo do gênero de atividade) e firma social das limitadas
(nome dos sócios sem gênero de atividade), com fins de melhor compreender
o que vem a ser denominação das sociedades limitadas (gênero de atividade
com acréscimo facultativo dos nomes dos sócios).
Nas sociedades anônimas, regra é a denominação designar o objeto social
e ser integrada pelas expressões “sociedade anônima” ou “companhia”, por
extenso ou na forma abreviada. A expressão “sociedade anônima” pode ser
abreviada por “SA” e vir ao final, ao passo que “companhia” pode ser subs-
tituída por “Cia.” e vir no início.
Entretanto, há uma importante exceção. É possível constituir a deno-
minação dessas sociedades com o nome do fundador, acionista, ou pessoa
que haja cooperado para o sucesso da constituição ou desenvolvimento
dessas companhias.
Diferentemente, o título do estabelecimento é a forma que se rotu-
lou a atividade negocial no mercado, sendo reconhecido pelo direito por
meio do uso notório e contínuo, inclusive, em letreiros e outdoors. Pode
ser extraído do nome empresarial ou ser uma outra palavra ou expressão
totalmente diversa. Nessas hipóteses de distinção completa, há o que se
chama de nome fantasia.
A marca, por seu turno, consiste em

[...] todo sinal ou expressão que se destina a identificar comercialmente de-


terminados produtos ou serviços perante o público, podendo também ser
utilizada para a identificação de métodos de certificação ou entidades coletivas
(GOMES, 2018, p. 493).
Nome empresarial, título do estabelecimento, marcas e patentes 5

Preste atenção que houve limitação aos visualmente perceptíveis nessa


definição.
Entretanto, em outros termos, são “[...] suscetíveis de registro como marca os
sinais distintivos visualmente perceptíveis, não compreendidos nas proibições
legais” (BRASIL, 1996, art. 122), no que se incluem os formados por letras
ou palavras. Ou seja, pela expressa literalidade da legislação, não se admite
inclusão de sinais não captados pela visão.
Assim, é interessante você observar que, do ponto de vista legal, a marca
está limitada aos sinais distintivos visualmente perceptíveis, ou seja, não há
proteção expressa a outras possibilidades, diferentemente do que pretende
a doutrina.
Quanto à sua forma, a marca pode ser: nominativa, porque formada so-
mente por palavra(s), letra(s) e/ou algarismo(s); figurativa, se apresentar
apenas “[...] um símbolo ou figura [...]” (GOMES, 2018, p. 494); mista, quando
combinar elementos da nominativa com a figurativa; tridimensional, nas hi-
póteses em que “[...] contempla um sinal composto da forma plástica distintiva
e necessariamente incomum do produto, sobretudo quanto à altura, largura e
profundidade de sua embalagem [...]” (TEIXEIRA, 2018, p. 493).
Quanto à natureza, as marcas podem ser de produto, de serviço, de cer-
tificação ou marcas coletivas (GOMES, 2018, p. 493-494). Por marca de
produto, entende-se aquela usada para distinguir um produto de outro idêntico,
semelhante ou afim, cuja origem seja diversa. Similarmente, marca de serviço
é aquela usada para distinguir dado serviço de outro igual, semelhante ou
afim, mas de diversa origem diversa.
Marca de certificação, por sua vez, consiste naquela

[...] usada para atestar a conformidade de um produto ou serviço com deter-


minadas normas ou especificações técnicas, notadamente quanto à qualidade,
natureza, material utilizado e metodologia empregada (BRASIL, 1996, art.
123, II).

Por seu turno, as marcas coletivas são aquelas usadas com fins de iden-
tificar produtos ou serviços provenientes de membros de certa entidade
constituída legalmente.
Relevante distinção há de ser realizada agora entre marca de renome e
marca notoriamente conhecida. A marca de renome é muito conhecida pelas
pessoas, o que justifica a proteção em todos os ramos de atividade, mas para
tanto há necessidade de registro no Brasil. Assegura-se, portanto, especial
proteção, independentemente de sua área de atuação.
6 Nome empresarial, título do estabelecimento, marcas e patentes

Para se conceder a proteção especial da marca de alto renome, em todos os ramos


de atividade, é necessário procedimento administrativo junto ao Instituto Nacional
da Propriedade Industrial (INPI) (BRASIL, 1996).

A marca notoriamente conhecida, noutro giro, possui proteção especial em


seu determinado ramo de atividade, independentemente de estar previamente
depositada ou registrada no país, afinal, a legislação dispõe que a

[...] marca notoriamente conhecida em seu ramo de atividade nos termos do


art. 6º bis (I), da Convenção da União de Paris para Proteção da Propriedade
Industrial, goza de proteção especial, independentemente de estar previamente
depositada ou registrada no Brasil (BRASIL, 1996, art. 126).

Patente é um documento por meio do qual se prova a titularidade sobre


um direito de propriedade industrial. Ela pode ser uma patente de invenção
ou uma patente de modelo de utilidade, porque ao “[...] autor de invenção ou
modelo de utilidade será assegurado o direito de obter a patente que lhe garanta
a propriedade” (BRASIL, 1996, art. 6).
A patente de invenção deve atender aos “[...] requisitos de novidade, ati-
vidade inventiva e aplicação industrial” (BRASIL, 1996, art. 8). Em outros
termos, a invenção relaciona-se à criação de algo novo capaz de ser aplicado
industrialmente, cujos exemplos podem ser novos eletrodomésticos ainda
inexistentes no mercado.
Noutro sentido, é

[...] patenteável como modelo de utilidade o objeto de uso prático, ou parte


deste, suscetível de aplicação industrial, que apresente nova forma ou dis-
posição, envolvendo ato inventivo, que resulte em melhoria funcional no seu
uso ou em sua fabricação (BRASIL, 1996, art. 9).

Assim, enquanto a invenção se refere a uma nova função, o modelo de


utilidade se resume em um melhoramento do que já existe, desde que isso
também seja resultado de um ato inventivo.
Portanto, não é possível patentear aquilo que estiver no estado da técnica,
ou seja, o que for já estiver sido tornado acessível ao público antes da data de
Nome empresarial, título do estabelecimento, marcas e patentes 7

depósito do pedido de patente. Afinal, nessa situação, não haverá criação de


invenção (patente de invenção) nem inovação de modelo de utilidade (patente
de modelo de utilidade).

Nome empresarial x título de


estabelecimento e marca x patente
Você já analisou os conceitos de nome empresarial, título de estabelecimento,
marcas e patentes. Neste tópico, para tornar mais claras as distinções, aprenderá
a diferenciar nome empresarial de título de estabelecimento e marcas de patentes.
O nome empresarial, como você viu, corresponde àquele que é registrado
na junta comercial e é utilizado nas tratativas formais entre empresário ou
sociedade empresária e demais agentes. É o nome que consta nos seus docu-
mentos. Por exemplo, “Maria de Lourdes Santos Ferreira EPP”.
Você deve notar que o nome empresarial “[...] é um direito personalíssimo
que se adquire pelo registro, estando diretamente ligado à pessoa (empresário
ou sociedade) como um atributo moral da personalidade jurídica” (MAMEDE,
2018, p. 132), existindo vedação legal a sua transferência.
O título de estabelecimento, por seu turno, pode ser um nome totalmente
diferente do nome empresarial. Por vezes, é um nome fantasia destinado a
servir de atrativo para o mercado consumidor.
Marcas e patentes também são bem diversas. Por um lado, a patente con-
siste no “[...] documento pelo qual se prova a titularidade sobre um direito de
propriedade industrial, podendo ser uma patente de invenção ou uma patente
modelo de utilidade” (GOMES, 2018, p. 484).
De outro lado, as marcas não são documentos, nem são invenções ou mo-
delos de utilidade. Afinal, o ato administrativo que comprova a titularidade da
marca é o registro. Assim, elas consistem nos sinais que distinguem o produto,
o serviço, a certificação ou a vinculação a determinadas entidades coletivas.
Ademais, enquanto as invenções ou modelos de utilidade se referem sempre
à aplicação industrial, as marcas não possuem tal limitação. Afinal, é sabido
que o homem sempre identificou seus bens por meio de símbolos, inclusive,
letras e palavras.
A diferença entre marcas e patentes é visível ainda no prazo de proteção.
Enquanto o registro da marca vigora por dez anos e admite prorrogações iguais
e sucessivas, as patentes de invenção são protegidas por vinte anos, mas sem
prorrogação. Já as patentes de modelo de utilidade são resguardadas por 15
anos, período também improrrogável.
8 Nome empresarial, título do estabelecimento, marcas e patentes

Formas de proteção dos institutos


Neste tópico, você vai ver as formas de proteção dos institutos estudados
e diferenciados ao longo do capítulo. O título de estabelecimento é pro-
tegido em nome do princípio da concorrência leal. Assim ensina Gladston
Mamede (2018, p. 132): “A proteção ao título de estabelecimento resulta
do princípio da concorrência leal, a pressupor respeito à identidade de
cada negócio e de cada ator mercantil, impedindo que seus concorrentes
confundam o público”.
O nome empresarial possui sua proteção decorrente do registro nas juntas
comerciais. Afinal, a lei expressamente dispõe que a “[...] proteção ao nome
empresarial decorre automaticamente do arquivamento dos atos constitutivos
de firma individual e de sociedades, ou de suas alterações” (BRASIL, 1994,
art. 33). Entretanto, tais efeitos são limitados ao território de cada uma delas,
afinal, haverá “[...] uma junta comercial em cada unidade federativa, com sede
na capital e jurisdição na área da circunscrição territorial respectiva” (BRA-
SIL, 1994, art. 5). Assim, para obter proteção em todo o território nacional,
basta a empresa registrar filiais em todas as juntas comerciais de cada uma
das unidades da federação.
Já a proteção às marcas de alto renome demanda registro no INPI. O
Instituto as reconhecerá como aptas a usufruir de proteção em todos os ramos
de atividade, em extensão nacional. Afinal, o Superior Tribunal de Justiça
(STJ) consolidou jurisprudência no sentido de que cabe ao INPI e não ao
Poder Judiciário analisar os requisitos necessários à qualificação da marca
como de alto renome.
Por sua vez, a tutela internacional às marcas notoriamente conhecidas
limita-se às suas respectivas áreas de atuação, independentemente do país.
Nesse sentido, o Judiciário negou requerimento da Moet Chândon francesa, que
produz o champanhe, e autorizou a instalação de uma boate com o mesmo nome
empresarial. A justificativa foi de que não haveria confusão do consumidor
em virtude da distinção de atividades. Veja a ementa do Superior Tribunal de
Justiça (BRASIL, 2018) a respeito do assunto:

RECURSO ESPECIAL. DIREITO MARCÁRIO. PRETENSÃO DA AUTORA


DE EXCLUSIVIDADE DE USO DO NOME “CHANDON” EM QUAL-
QUER ATIVIDADE. AUSÊNCIA DE REGISTRO COMO MARCA DE
ALTO RENOME. MARCA NOTORIAMENTE CONHECIDA. PROTEÇÃO
RESTRITA AO RESPECTIVO RAMO DE ATIVIDADE. MANUTENÇÃO
DO REGISTRO DE MARCA DA RECORRIDA. EXERCÍCIO DE RAMOS
Nome empresarial, título do estabelecimento, marcas e patentes 9

DE ATIVIDADES DIVERSOS. RECURSO IMPROVIDO. 1. As marcas de


alto renome, registradas previamente no INPI como tal, gozam, nos termos
do art. 125 da Lei 9.279/96, de proteção em todos os ramos de atividade, en-
quanto as marcas notoriamente conhecidas gozam de proteção internacional,
independentemente de formalização de registro no Brasil, apenas em seu
ramo de atividade, consoante dispõem os arts. 126 da referida lei e 6º bis, 1,
da Convenção da União de Paris, ratificada pelo Decreto 75.572/75. Neste
último, é plenamente aplicável o princípio da especialidade, o qual autoriza a
coexistência de marcas idênticas, desde que os respectivos produtos ou serviços
pertençam a ramos de atividades diversos. 2. O aludido princípio visa a evitar
a confusão no mercado de consumo do produto ou serviço prestado por duas
ou mais marcas, de modo que, para tanto, deve ser levado em consideração
o consumidor sob a perspectiva do homem médio. 3. No caso dos autos, o
uso das duas marcas não é capaz de gerar confusão aos consumidores, assim
considerando o homem médio, mormente em razão da clara distinção entre
as atividades realizadas por cada uma delas. Não há risco, de fato, de que o
consumidor possa ser levado a pensar que a danceteria seria de propriedade
(ou franqueada) da MOET CHÂNDON francesa, proprietária do famoso
champanhe. 4. Não se tratando a recorrente de marca de alto renome, mas de
marca notoriamente conhecida e, portanto, protegida apenas no seu mesmo
ramo de atividade, não há como alterar as conclusões constantes do acórdão
recorrido. 5. Recurso especial improvido.

O STJ, desse modo, aplicou sua jurisprudência, a qual consiste em consi-


derar que a proteção, independentemente do ramo da atividade, é direcionada
apenas à marca de alto renome.
Em outros termos, a

[...] marca de alto renome [...] é exceção ao princípio da especificidade e tem


proteção especial em todos os ramos de atividade, desde que previamente
registrada no Brasil e assim declarada pelo INPI — Instituto Nacional de
Propriedade Industrial (BRASIL, 2014).

Em sentido contrário, a “[...] marca notoriamente conhecida [...] é exceção


ao princípio da territorialidade e goza de proteção especial em seu ramo de
atividade independentemente de registro no Brasil” (BRASIL, 2014).
De qualquer forma, embora analisada no referido caso a possibilidade
de causar engano ao homem médio, você deve notar que está consolidada a
desnecessidade de prova da confusão nos termos da jurisprudência do STJ, o
qual acentua que, para a tutela da marca, basta a possibilidade de confusão,
não se exigindo prova de efetivo engano por parte de clientes ou consumidores
específicos.
10 Nome empresarial, título do estabelecimento, marcas e patentes

As patentes, por sua vez, igualmente gozam da devida proteção. Não


poderia ser diferente, afinal, de acordo com o art. 5º, XXIX, da Constituição
Federal (BRASIL, 1988),

[...] a lei assegurará aos autores de inventos industriais privilégio temporário


para sua utilização, bem como proteção às criações industriais, à propriedade
das marcas, aos nomes de empresas e a outros signos distintivos, tendo em
vista o interesse social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do País.

Assim, já foi visto que, no caso de patente de invenção ou de modelo de


utilidade, apenas após superado o período previsto em lei ela estará no domínio
público, sendo propriedade do titular até então.
Se o objeto da ação for declarar a nulidade de patente, por exemplo, a
legislação prevê que o processo será ajuizado “[...] no foro da Justiça Federal e
o INPI, quando não for autor, intervirá no feito” (BRASIL, 1996), consistindo
tais disposições igualmente em proteção às patentes.
A jurisprudência considerou, entretanto, que, quando a situação se situa como
questão prejudicial, haverá tramitação na Justiça Estadual. Veja (BRASIL, 2011):

CONFLITO DE COMPETÊNCIA. AÇÃO CIVIL PÚBLICA VISANDO


À SUSPENSÃO DA COBRANÇA DE ROYALTIES. DECLARAÇÃO DA
NULIDADE DA PATENTE APENAS COMO QUESTÃO PREJUDICIAL.
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. 1. A nulidade da patente, com
efeito erga omnes, só pode ser declarada em ação própria, proposta pelo INPI,
ou com sua intervenção — quando não for ele o autor —, perante a Justiça
Federal (Lei 9.279/96, art. 57). Porém, o reconhecimento da nulidade como
questão prejudicial, com a suspensão dos efeitos da patente, pode ocorrer na
Justiça Estadual. Precedentes. Agravo Regimental improvido.

Assim, deve ser reconhecido o privilégio temporário de 20 anos para as


invenções patenteadas, assim como de 15 anos para os modelos de utilidade
patenteados, nos termos da Lei nº 9.279/1996 (BRASIL, 1996) e perante o
Instituto Nacional da Propriedade Industrial.
Nome empresarial, título do estabelecimento, marcas e patentes 13

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.


Brasília, DF, 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/
constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 14 dez. 2016.
BRASIL. Lei nº 8.934, de 18 de novembro de 1994. Dispõe sobre o Registro Público de
Empresas Mercantis e Atividades Afins e dá outras providências. Brasília, DF, 1994.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8934.htm>. Acesso em:
18 mar. 2018.
BRASIL. Lei nº 9.279, de 14 de maio de 1996. Regula direitos e obrigações relativos à
propriedade industrial. Brasília, DF, 1996. Disponível em: <http://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/Leis/L9279.htm>. Acesso em: 18 mar. 2018.
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Brasília, DF, 2002.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/CCivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso
em: 10 mar. 2018.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. AgRg no Conflito de Competência nº 115.032 - MT
(2010/0214018-7). Relator: Ministro Sidnei Beneti. 09 nov. 2011. Disponível em: <ht-
tps://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/21030277/agravo-regimental-no-conflito-de-
-competencia-agrg-no-cc-115032-mt-2010-0214018-7-stj/relatorio-e-voto-21030279>.
Acesso em: 24 mar. 2018.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Propriedade industrial. Jurisprudência em teses,
Brasília, DF, n. 24, 12 nov. 2014. Disponível em: <http://www.stj.jus.br/internet_docs/
jurisprudencia/jurisprudenciaemteses/Jurisprud%C3%AAncia%20em%20Teses%20
LPI1.pdf>. Acesso em: 18 mar. 2018.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso especial nº1.209.919-SC (2010/0168461-7).
Relator: Ministro Lázaro Guimarães. 13 mar. 2018. Disponível em: <https://stj.jusbrasil.
com.br/jurisprudencia/557633920/recurso-especial-resp-1209919-sc-2010-0168461-7/
inteiro-teor-557633939>. Acesso em: 24 mar. 2018.
GOMES, F. B. Manual de direito empresarial. 7. ed. Salvador: Juspodivm, 2018.
MAMEDE, G. Direito empresarial brasileiro: empresa e atuação empresarial. 10. ed. São
Paulo: Atlas, 2018.
TEIXEIRA, T. Direito empresarial sistematizado: doutrina, jurisprudência e prática. 7. ed.
São Paulo: Saraiva, 2018.
14 Nome empresarial, título do estabelecimento, marcas e patentes

Leituras recomendadas
BRASIL. Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as Sociedades por Ações.
Brasília, DF, 1976. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/Ccivil_03/leis/L6404con-
sol.htm>. Acesso em: 10 mar. 2018.
INSTITUTO NACIONAL DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL. A criação de uma marca: uma
introdução às marcas de produtos e serviços para as pequenas e médias empresas.
Rio de Janeiro: INPI, 2013. Disponível em: <www.inpi.gov.br/sobre/arquivos/01_car-
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INSTITUTO NACIONAL DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL. Inventando o futuro: uma in-
trodução às patentes para as pequenas e médias empresas. Rio de Janeiro: INPI,
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Rio de Janeiro: INPI, c2017. Disponível em: <http://www.inpi.gov.br/sobre/arquivos/
patente_historia_e_futuro.pdf>. Acesso em: 18 mar. 2018.
Dica do professor

No vídeo a seguir, será ilustrado como funcionam as forma de proteção e seus direitos.

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Exercícios

1) Sabe-se que o nome empresarial está designado no contrato ou no estatuto da sociedade,


ou mesmo no documento de inscrição do empresário individual. Tais documentos devem ser
arquivados na junta comercial da respectiva unidade da federação na qual possuem
jurisdição estadual. Assim, um empresário que possua inscrição perante a junta comercial de
São Paulo conferirá:

A) Proteção em todo o Sudeste do país.

B) Em todo o país.

C) Na capital paulista.

D) No estado de São Paulo.

E) Nenhuma das hipóteses.

2) João pretende proteger o nome empresarial da sociedade que ele vai constituir com
Joaquim para a exploração do ramo de usina de ferro-gusa no estado de São Paulo. Como
João deverá proceder para garantir que ninguém no Brasil possa utilizar o mesmo nome
empresarial?

A) João deverá registrar o contrato social na junta comercial de São Paulo, além de fazer o
registro complementar em cada estado do Brasil.

B) João poderá buscar o registro do nome perante o Instituto Nacional de Propriedade Industrial
(INPI).

C) João deverá registrar o contrato social na junta comercial de São Paulo.

D) João deverá registrar a marca que eventualmente criar no INPI.

E) Nenhuma das hipóteses anteriores.

3) Marina e Ana pretendem criar uma sociedade, mas não sabem identificar quais são as
hipóteses permitidas pela lei. Assim, contratam um advogado que apresenta as opções.
Considerando as opções permitidas pela lei, indique a alternativa que NÃO está de acordo
com a legislação.
A) A firma, ou razão individual, pode ser constituída pelo nome do empresário, desde que de
forma completa, essa última formatação societária, deve constar somente o nome civil dos
sócios comanditados.

B) A firma, ou razão social, por compreender mais de um sócio, é composta pelo nome de todos
os sócios, por extenso ou abreviadamente, ou somente com o sobrenome dos sócios.

C) A firma/razão social ou individual pode ser utilizada pelo empresário individual, pela
sociedade em nome coletivo e pela sociedade em comandita simples. No caso dessa última
formatação societária, deve constar somente o nome civil dos sócios comanditados.

D) A denominação, por sua vez, deve designar o objeto da sociedade, sendo permitido nela
figurar o nome de um ou mais sócios, de forma excepcional.

E) A firma, ou razão individual, pode ser constituída pelo nome do empresário, desde que de
forma completa, sendo aditada, facultativamente, a designação mais precisa da sua pessoa ou
do gênero de atividade.

4) Paulo é administrador da sociedade empresária “Chove lá fora e aqui dentro só pinga


COMÉRCIO DE BEBIDAS LTDA.” O estabelecimento em que a atividade é desenvolvida
possui o mesmo título. Paulo descobre que existe outro estabelecimento pertencente a
outro empresário com o mesmo título. Sabendo que isso pode ocasionar problemas futuros,
Paulo procura um advogado para esclarecer algumas questões sobre título de
estabelecimento. Sabe-se que o título do estabelecimento identifica o ponto comercial onde
o empresário exerce sua atividade. Então Paulo ouve do advogado diversas afirmativas,
dentre as quais, assinale a INCORRETA.

A) O título do estabelecimento não pode ser coincidente com o nome empresarial ou com uma
marca de titularidade do empresário.

B) Trata-se, o título do estabelecimento, de um elemento que identifica o ponto comercial do


empresário perante o público em geral, mas em especial perante a clientela e os
fornecedores.

C) Por não ser registrado em órgão algum, o título do estabelecimento não possui uma tutela
específica positivada em lei.

D) A tutela é conferida ao título do estabelecimento e se dá pelo princípio da vedação à


concorrência desleal.

E) É comum, entretanto, que alguns empresários adotem a mesma expressão que conste do
contrato social como denominação para identificar o ponto comercial e, assim, obtendo uma
tutela por parte da proteção ao nome e, ao mesmo tempo, ao título do estabelecimento.

5) A marca é um sinal gráfico designativo que identifica empresários, produtos ou serviços e


tem por finalidade demonstrar que o produto que está diante do consumidor possui um
lastro, uma alma. Sendo assim, a marca guia o consumidor até o bem que ele almeja. O
registro da marca é realizado perante o Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI),
que lhe confere proteção nacional, assim como o faz com as patentes. Sobre marcas e
patentes, assinale a alternativa INCORRETA.

A) As marcas nominativas são identificadas e conceituadas por expressarem um nome, letra ou


letras que façam a identificação empresarial. Nesse sentido, o nome de um estilista pode
identificar os produtos de uma grife.

B) As marcas gráficas são assim caracterizadas por consistirem em sinais meramente gráficos,
sem a adição de qualquer letra ou palavra.

C) Se o sinal gráfico é composto por letra, letras ou um nome, e a ele se adiciona uma forma
gráfica, mesmo estilizada, tem-se uma marca classificada como mista.

D) As marcas tridimensionais são aquelas que possuem formato tridimensional, por exemplo, a
marca da Copa do Mundo de 2014.

E) A patente corresponde a um título de propriedade eterna sobre uma invenção ou modelo de


utilidade.
Na prática

O Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) é o órgão responsável pelo registro de alguns
dos direitos mais valiosos dos empresários.

É possível consultar diversas informações e dar início ao processo de registro pelo endereço
. Clique aqui
Saiba +
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor:

Sinais Distintivos - Nome Empresarial, Marca e Título de


Estabelecimento

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Junta Comercial do Estado de São Paulo

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Junta Comercial do Estado do Rio Grande do Sul

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Junta Comercial do Estado do Amazonas


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Junta Comercial do Estado do Ceará

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Junta Comercial do Estado do Rio de Janeiro

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Junta Comercial do Estado de Minas Gerais

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