Você está na página 1de 5

Obrigações especiais dos comerciantes

O art.18º cod.comercial, define as chamadas obrigações especiais dos comerciantes, que


sem esgotarem os deveres profissionais dos comerciantes, todavia têm a importância de
definirem um estatuto jurídico-comercial da profissão mercantil.

A FIRMA

O comércio é exercido sob uma designação nominativa, que constitui a firma.


Há porém, no direito, duas concepções de firma:
- Para o conceito objectivo (predominantemente Inglês e Americano), a firma é
um sinal distintivo do estabelecimento comercial. Daí decorrem como corolários,
a possibilidade de tal designação ser composta livremente e ser transmitida com
o estabelecimento, independentemente de acordo expresso.
- Para o conceito subjectivo, a firma é um sinal distintivo do comerciante, o nome
que ele usa no exercício da sua empresa: é o nome comercial do comerciante.
Daí que, em relação ao comerciante individual, nesta concepção, a firma deva ser
formada a partir do seu nome civil e, em princípio, intransmissível. Todavia, na
generalidade dos sistemas jurídicos que adoptam este conceito, permite-se que
em certas condições a firma seja também transmitida ex: conservação da
clientela pelo adquirente do estabelecimento.
O sistema jurídico português assenta no conceito subjectivo regulado pelo Reg-
RNCP, aprovado pelo DL nº129/98, de 13 do 5. A firma será sempre o nome
comercial do comerciante e tanto assim que este poderá adoptar um nome ou
insígnia para o estabelecimento, como sinais distintivos específicos deste. A firma
é um sinal de uso obrigatório, tanto para os comerciantes em nome individual,
como as sociedades comerciais: art.18, nº1 do código comercial, art. 9º, c) do
CSC e art. 38 nº1 do REG-RNPC (registo nacional pessoas colectivas).
A par da firma, podem os comerciantes usar outros sinais distintivos: o nome e a
insígnia do estabelecimento ( sinais respectivamente nominativo e emblemático,
compostos, registados e protegidos nos termos dos arts.282º e sgts do Código da
Propriedade industrial (CPI).
Constituição da firma:
A firma, consoante os casos, pode ser formada com o nome de uma ou mais
pessoas (firma-nome), com uma expressão relativa ao ramo de actividade,
aditada ou não de elementos de fantasia (firma denominação), ou englobar uns e
outros desses elementos (firma-mista).
O art.10º nº5 do CSC e os arts. 32º e 33º do Reg-RNPC, estabelecem limitações
quanto aos dizeres, elementos e expressões que podem constar das firmas e
denominações. Das normas existentes na lei (arts.10º, 177º, 200º, 275º e 467º do
CSC, e arts. 3º e 32º a 44º do Reg-RNPC) podem extrair-se três princípios
fundamentais que conformam o regime da firma: verdade, novidade (ou
exclusivo) e unidade.
O principio da verdade significa para Ferrer Correia e Brito Correia que a firma
deve corresponder à situação real do comerciante a quem pertence, não podendo
conter elementos susceptíveis de a falsear ou provocar confusão, quer quanto à
identidade do comerciante em nome individual e ao objecto do seu comércio,
quer, no tocante às sociedades, quanto à identificação dos sócios, ao tipo e
natureza da sociedade, à actividade objecto do seu comercio e outros aspectos a
ele relativos (art.32º do Reg-RNPC e o art. 10º nº1 do CSC). É para salvaguardar
este principio que as alíneas a) e b) do nº4º deste art.32º e o nº4 entre outras
proíbem o uso de certos elementos e expressões nas firmas. Todavia, este
principio apresenta consagração diversa conforme se refere à firma originaria
ou à firma adquirida.

Firma originária
Comerciante em nome individual
Em face do art.38º do Reg-RNPC, a firma do comerciante individual tem de
basear-se no seu nome civil, completo ou abreviado, não podendo reduzir-se a
um só vocábulo ( a menos que a adição de uma referência ao titulo académico,
profissional ou nobiliárquico a que tenha direito o torne completamente
individualizador). E os elementos que lhe aditar não podem consistir em simples
indicações de fantasia: só pode ser aditada uma alcunha por que o comerciante
seja conhecido ou uma expressão que designe ou sugira a espécie de comercio
exercida.
A firma do comerciante titular de um estabelecimento individual de
responsabilidade limitada é composta pelo nome do seu titular, acrescido ou não
de referência ao objecto de comercio nele exercido, e pelo aditamento
estabelecimento individual de responsabilidade limitada ou EIRL. Art. 40º nº1,
do Reg-RNPC.

Sociedades
O principio da verdade manifesta-se, quanto às sociedades, em que os elementos
constantes das respectivas firmas tem de corresponder à realidade, quanto aos
seguintes aspectos: identidade dos sócios; objecto da actividade social; tipo legal
de sociedade.
Assim: as firmas de sociedades, quando sejam firmas-nome, serão constituídas
por nomes ou firmas de todos, algum ou alguns dos sócios art10º nº2 CSC;
quando sejam firmas-denominação, podem ser nelas utilizadas siglas,
composições ou expressões de fantasia, mas sempre acompanhadas de
referencias ao objecto da sociedade art.10º nº3 CSC. Quando se trata de firmas-
mistas, será porque associam nomes de sócios com a indicação da actividade
social e, eventualmente, com uma expressão de fantasia.
E sempre que se trate de firmas-nome, firmas-denominação ou firmas mistas,
terão de incluir uma referencia ao tipo legal da sociedade:
- Sociedades em nome colectivo: devem ter uma firma-nome, que quando não
individualize todos os sócios, deverá conter o nome ou firma de um deles, com o
aditamento “e Companhia”, ou outro que indique a existência de outros sócios
art.177ºCSC. Por analogia com o art.38ºnº1 do RNPC, deve admitir-se que estas
sociedades adoptem firma-mista, ou seja, que a sua firma inclua uma alusão ao
objecto social, a apr dos elementos referidos no art.177 CSC.

Sociedade em comandita: Em regra, terão uma firma-nome, formada com o

nome ou firma de pelo menos um sócio comanditado e o aditamento “em

Comandita” ou “& Comandita” – nas sociedades em comandita simples, ou “em

comandita por acções” ou “& comandita por acções”- nas sociedades em

comandita por acções art.467ºCSC. Podem também por adoptar firma mista, se a
firma, constituída nos termos acabados de referir, incluir uma alusão à espécie

de comércio.

Sociedades anónimas: a firma destas sociedades incluirá sempre a expressão

“sociedade anónima ou a sigla S.A.”. E poderá ser uma firma nome se incluir o

nome ou firma de um ou mais sócios. Ou uma firma denominação se a par da

menção do objecto social, incluir uma expressão de fantasia, ou uma firma mista

se incluir o nome ou firma de um ou mais sócios e uma indicação do objecto

social art.275º CSC.

Sociedades por quotas: também estas sociedades podem adoptar uma firma

nome, ou uma firma denominação, ou uma firma mista, nos mesmos termos de

sociedades anônimas, devendo sempre incluir a palavra “Limitada” ou a

abreviatura “LDA.” Art.200º CSC. Quando se trate de sociedades unipessoais

por quotas, a firma deve incluir a expressão “sociedade unipessoal ou a palavra

unipessoal”, antes da palavra “LDA.” Art.270º - B CSC. A firma das sociedades

por quotas pode ser uma denominação contendo o nome de pessoas ex.

Sociedade de tecelagem João Silva, Lda. ; ou pode ser uma firma nome ou mista,

esta se for aditada de uma referência à espécie de comércio exercida pela

sociedade ex. João Silva – Tecelagem, Lda. . Em qualquer dos casos, a firma

pode conter uma sigla ou expressão de fantasia, mas não pode contê-la sem

junção de uma alusão à espécie de comércio que é objecto social.


Mútuas de seguros: deverão adoptar uma firma-denominação, que deverá

sempre incluir a palavra “cooperativa” e a referência à actividade seguradora

arts. 11º 22º 23º DL nº102/94 de 20.4, e art.14º nº1, do código cooperativo.

Você também pode gostar