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Teorizando Relacoes Etnico Raciais No BR
Teorizando Relacoes Etnico Raciais No BR
EQUIPE EDITORIAL
Os textos aqui presentes são de inteira responsabilidade, no que se refere a seu conteúdo
téorico-metodológico, de seus respectivos autores e autoras. Nem os organizadores, nem a
UFPR Litoral tem responsabilidade sobre eles.
193 p.
ISBN 978-85-63839-21-3
CDD 370
CATALOGAÇÃO NA FONTE
Organizadores
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
José Henrique Paim Fernandes
Vice-Reitor
Rogério Andrade Mulinari
Setor Litoral
Diretor
Valdo José Cavallet
Vice-Diretor
Renato Bochicchio
Vice-Coordenador
Jamil Cabral Sierra
Coordenador de Tutoria
Clóvis Wanzinack
Coordenador Pedagógico
Daniel Canavese de Oliveira
Apoio Administrativo
Paula L. Brum
3.3 ANALOGON
Luciana Ferreira......................................................................................................................... 193
APRESENTAÇÃO
1
Esse grupo de professores/as fazem parte do REGEDI – Grupo de Estudos e Pesquisas em
Gênero e Diversidade Sexual. O REGEDI, por sua vez, já produziu um curso de extensão
em 2007, para membros da comunidade escolar da Rede Municipal de Matinhos/PR. Tal
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e preconceitos” foi desenvolvido em parceria com o Grupo de Estudos de Gênero
e Tecnologia (GETEC) da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), com
objetivo de sensibilizar docentes, diretores/as, orientadores/as e zeladores/as das escolas
de Matinhos a respeito de questões de gênero, sexualidade e diversidade sexual.
9
etnia que massacram multidões de corpos que, de uma forma ou de
outra, não se ajustam ao processo normalizador que se impõe em
nossa contemporaneidade. É, portanto, inspirado nesse compromisso
– o de combate às formas de opressão e violência do outro - que esse
volume traz a público esse conjunto de textos, organizados em três
intersecções.
Logo após, temos Kiwcnfcfg" fg" i‒pgtq" g" eq/gfwec›«q<" tgÞgz gu"
necessárias para a construção da democracia, de Daniela Auad, texto
no qual a autora aborda, com base em sua pesquisa de doutoramento,
as relações de gênero nas práticas escolares. Seu estudo teve percepção
inovadora e baseou-se na distinção, inédita em nosso país, entre os
termos “escola mista” e “coeducação”. A referida distinção possibilitou
notar, como um dos resultados da pesquisa, que a maneira pela qual
a mistura entre meninos e meninas se impõe na realidade escolar, sem
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construção e no reforço de diferenças hierarquizadas entre o masculino
e o feminino.
10
Aproveitando o debate em torno da questão da violência, o capítulo
Bullying e Cyberbullying: faces silenciosas da violência" $_"$ " 〈 ワ "
de Clóvis Wanzinack a respeito de duas problemáticas cada vez mais
emergentes no cotidiano escolar e que sinalizam aspectos referentes à
multiplicação de preconceitos com tudo aquilo que “soa” diferente. Tais
situações podem engendrar atos de violências reais, que se materializam
de forma física ou psicológica e podem ter como arena tanto ambientes
escolares, quanto, com o advento das Tecnologias de Informação e
Comunicação, cada vez mais também os ambientes virtuais.
11
sujeitas às oposições binárias de gênero, que decorrem, segundo ele,
de três principais elementos: constituição das identidades de gênero,
nメイ xワ " ~ " nメ メ " Ó イ ÿ}n$~メ " " ÿo イnÿ$ィ イ メ" ~メ " ~ÿÌ イ "
nメイ〈ÿ メ "~ "Ó„イ メ】"
12
O último trabalho, um projeto de arte visual intitulado Analogon, de
Luciana Ferreira, procura compor, a partir da técnica de colagem sobre
pintura, um quadro imagético que tematiza os limites do corpo, suas
dobras e curvas, suas imposições e intersecções, bem como explora
a constituição da ideia de monstruosidade justamente para, de seu
interior, pensar formas de subversão das noções de norma/anormal.
Boa leitura!
Os organizadores.
13
ESTUDOS SOBRE
GÊNERO E
DIVERSIDADE
1ª Intersecção
ESCOLARIZAÇÃO DA SEXUALIDADE:
APONTAMENTOS PARA UMA REFLEXÃO¹
Maria Rita de Assis César
1 INTRODUÇÃO
1
Este texto possui algumas partes em versão atualizada, expandida e revisada do texto
anteriormente publicado nos Cadernos Temáticos – Sexualidade, da SEED – PR. (PARANÁ,
2009).
17
que consistiam em um debate importante para a ciência nesse período.
O eugenismo preocupava-se com as questões relativas à descendência,
à “raça” e à transmissão de características indesejáveis que, por sua
vez, produziria indivíduos “inferiores”, enfraquecendo toda uma
população. Nessa perspectiva, o eugenismo era o saber que dava
suporte ao “novo racismo” que supostamente tinha as suas bases na
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eugenismo e vislumbravam suas consequências nefastas, a maior parte
dos intelectuais que defendiam a educação sexual da juventude tinha
por pressuposto o higienismo e o eugenismo.
18
Como a ditadura, impôs um regime de controle e moralização dos
costumes, especialmente decorrente da aliança entre os militares e o
majoritário grupo conservador da Igreja Católica. Assim, a educação
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por parte do Estado, e toda e qualquer iniciativa escolar suprimida com
rigor. Todavia, as iniciativas que conseguiam resistir e burlar o controle
tornaram-se experiências de resistência e, nas décadas seguintes, a
educação sexual foi tomada como um dos marcos educacionais das
lutas pela democratização do país.
19
demonstra a difícil construção da institucionalização do ensino ao longo
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elementos que compõem o universo escolar (DUSSEL; CARUSO, 2003).
Se tomarmos essa história da educação que demonstra a organização
da instituição escolar fundamentada nos processos disciplinadores que,
por sua vez, produziram a modernidade urbana e industrial, a escola
ocupa o lugar privilegiado do processo de disciplinarização dos corpos
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ocasião de suas preocupações acerca da preparação de professores
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era fazer com que crianças se habituassem a permanecer sentadas e
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disciplina era muito pior que a falta de cultura (VEIGA-NETO, 2000).
Ao proferir estas, que seriam as primeiras aulas sobre a pedagogia na
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ensinar crianças a serem disciplinadas.
20
Percebia-se, principalmente, que o modelo escolar estava em
crise e esta crise não dizia respeito somente à escola, pois aquilo que
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educação tomava contornos ainda mais sérios, na medida em que
o processo de consolidação da modernidade educacional não se
constituíra plenamente, vide ainda no presente as remanescentes
taxas de analfabetismo e os nove milhões de jovens, em idade de
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taxas de escolarização superior.
3 O SEXO REI
21
dos tempos, na tentativa de entenderem o binômio entre a repressão
sexual e a liberação do sexo nos anos setenta, encontravam dentre
as teses do autor uma percepção da sexualidade como uma criação
discursivo-institucional, cuja função seria o controle dos indivíduos
e das populações. Assim, o autor separava o sexo da sexualidade, e
demonstrava que o sexo seria um ponto de injunção fundamental das
práticas de controle populacional do século XIX, e que o nome dado a
esse dispositivo de controle era sexualidade.
メ " ィ ÿメ" ~ " ィ$" ìÿ メ ÿメÓ $}$" ィ ÿ メ" }イ$~$『" " $ メ"
demonstrou a criação e o desenvolvimento de uma maquinaria de
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n̅}nメ 『" ~$ " Ì$o$ " " ~$ " ( ÿn$ " ~メ" メ】" Ëメ $ィ" ~ ィメイ $~$ " $ "
demarcações em torno das práticas sexuais que, mediante um controle
rígido, gerado pelos saberes institucionalizados como a medicina, a
psiquiatria, a pedagogia e psicologia, demarcaram os territórios e as
subjetividades, entre a legitimidade e a anormalidade.
22
Michel Foucault e outros autores que realizaram pesquisas posteriores.
Foucault, na mesma História da Sexualidade, dizia que talvez haveria
um tempo em que deixaríamos de lado o dispositivo da sexualidade e
passaríamos a nos indagar tendo em vista uma perspectiva de corpos
e prazeres, abandonando esse dispositivo de nomeação dos sujeitos
sexuais e de exclusão. No entanto, não se pode dizer que o dispositivo
da sexualidade tenha sido abandonado, pois três décadas após os seus
escritos, todavia, vemos alguns deslocamentos dessa ideia, isto é, talvez
não exista mais uma preocupação com a masturbação das crianças,
entretanto, percebemos uma verdadeira obsessão com seu corpo e sua
saúde.
23
Quase um século depois da primeira iniciativa de um programa de
educação sexual nas escolas brasileiras, o “sexo bem educado” não
mais pertencia ao universo do esclarecimento positivista, mas ocupava
outros lugares como a responsabilidade, a saúde e o bem viver.
24
sim por meio de mecanismos que produzem sujeitos e seus corpos
sexuados, ou exercem um controle sobre uma forma ideal de viver a
sexualidade. As análises realizadas sobre os PCNs demonstram que
estes possuem uma abordagem preventiva. Prevenir as práticas sexuais
de “risco” seria a tônica desta forma ideal de sexualidade.
4 OS LUGARES DA CRÍTICA
25
a presença da sexualidade na escola pode também ser uma estratégia
~ " $x.メ" メo̅ ÿn$" nメイ $" ィ ÿ $ " nメÿ $ " " }n$ $ィ" $d o nÿ~$ " oメ"
dispositivo da sexualidade. Além do encontro com as perspectivas pós-
estruturalistas dos estudos de gênero e da sexualidade, as teorizações
queer são muito profícuas para a denúncia das normatizações,
das violências contra os múltiplos sujeitos sexuais e a localização e
reconhecimento de modos de vida outros e outras sexualidades além
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e as sexualidades, desde uma perspectiva masculina e heterossexual,
ÿÓイÿ}n$" $ィd•ィ" nメイ ÿ "メ " ÿÓイÿ}n$~メ "~メ "nメ メ 『"~メ "~ Yメ " "
prazeres.
26
n ÿ $『" c ÿ _ィ$イ" $} ィ$" " $" $oÿ~$~ " ~ ÿ$" " メィ$~$"
como prática de liberdade na medida em que, realizada a crítica ao
modelo heteronormativo e gênero e sexualidade, os próprios limites do
pensamento são elididos.
$ $" }イ$oÿ_$ 『" ィ$" _" ィ$ÿ " メn$イ~メ" メ" イ $ィ イ メ" ~ " ァÿnì o"
Foucault sobre a crítica da sexualidade, tomando-a como dispositivo
de controle de corpos e populações, Foucault propõe que pensemos
em corpo e prazeres. Desse modo, após uma análise exaustiva do
dispositivo da sexualidade, Foucault pensou outras práticas sexuais e
sociais, assim como culturas erótico-afetivas que resistem aos códigos
morais e sexuais do dispositivo da sexualidade, no interior de um projeto
ético do cuidado si e da estética da existência. Nessa perspectiva, do
ponto de vista dos projetos de escolarização da sexualidade, faz-se
importante pensar sobre a possibilidade da presença de abordagens,
tanto crítica do dispositivo da sexualidade, como também estéticas,
demonstrando outros modos de vida e culturas sociais e sexuais. Cabe
ainda indagar sobre a possibilidade da instituição escolar suportar
práticas não normatizadas da sexualidade, dos desejos e dos afetos.
REFERÊNCIAS
BUTLER, Judith. Corpos que pesam. In: LOURO, G. L. (Org.). O corpo educado. Pedagogias
da Sexualidade. Belo Horizonte: Autêntica, 1999.
CESAR, Maria Rita de Assis. Gênero, sexualidade e educação. Notas para uma
‘epistemologia’. Educar em Revista, n. 35, p. 37-52, 2009.
CESAR, Maria Rita de Assis. As novas práticas de governo na escola: corpo e sexualidade
entre o centro e a margem. In: CASTELO BRANCO, Guilherme; VEIGA-NETO, Alfredo
27
(Orgs.). Ëメ n$ o "}oメ メ}$" " メo̅ ÿn$】 Belo Horizonte: Autêntica, 2011.
COSTA, Jurandir Freire. Ordem Médica e Norma Familiar. Rio de Janeiro: Graal, 1983.
DUSSEL, Inéz; CARUSO, Marcelo. A invenção da sala de aula. Uma genealogia das
formas de ensinar. São Paulo: Moderna, 2003.
LOURO, Guacira Lopes. Um corpo estranho. Ensaios sobre sexualidade e teoria queer.
Belo Horizonte: Autêntica, 2004.
28
SOBRE A AUTORA
29
IGUALDADE DE GÊNERO E CO-EDUCAÇÃO:
REFLEXÕES NECESSÁRIAS PARA A
CONSTRUÇÃO DA DEMOCRACIA¹
Daniela Auad
31
Na produção dos estudos educacionais, portanto, parece não se
nメイ ÿ~ $ "メ" メ"~メ " $ ÿnÿ $イ "~メ"nメ ÿ~ÿ$イメ" nメo$ " "メ " ÿÓイÿ}n$~メ "
de gênero que constituem tal cotidiano. Da mesma maneira, pode não
estar sendo percebido o modo como a escola é mais do que uma mera
℃ メ~ メ $¥『" ィ" nメイ〈ÿ メ " " メdo ィ$ 『" ~ " ィ$" ~ ィÿイ$~$" ÿ .メ"
do que seja tradicionalmente masculino e feminino.
Essa perspectiva elucida que os sujeitos não são assim tão ‘sujeitados”
『" ィ" イ$ " " nメ ÿ~ÿ$イ$ " n $ " " $} ィ$xワ 『" メ " ′イ.メ ″" .メ" "
mostrando contidos nos gestos e nas falas daqueles que resistem5. Por
um lado, a escola, na sociedade ocidental em que vivemos, legitima
e transmite modelos masculinos e femininos tradicionais. Há um
conjunto de atividades e acontecimentos escolares condizentes com
as relações de gênero predominantes, tradicionais e bipolares em
vigência na nossa sociedade. Por outro lado, essa mesma escola também
reformula os modelos masculinos e femininos tradicionais. Na escola,
há também um conjunto de atividades e acontecimentos motivadores
de novos e alternativos arranjos e exercícios acerca do masculino e do
feminino. Tais arranjos e exercícios são diferentes daqueles socialmente
esperados e em vigência.
4
Guacira Lopes LOURO, Gênero, Sexualidade e Educação: uma perspectiva pós-
estruturalista, p. 61.
5
Flávia SCHILLING, Estudos sobre Resistência, p.4/5.
32
Essas assertivas, reveladoras do lado “passivo” e do lado “reativo”
das relações de gênero na escola, são a base sobre a qual se assentaram
os pressupostos centrais da investigação narrada no presente texto,
assim como os seus objetivos, metodologia do trabalho e conclusões
do estudo.
6
Maria Victoria BENEVIDES, Educação para a Democracia, Lua Nova, p.228.
7
Claude ZAIDMAN, La mixité à l’école primaire. A autora da obra é Maître de Conférences,
na disciplina de Sociologia, na Universidade Paris VII.
33
Assim, escola mista e co-educação são termos que podem ser
diferenciados, apesar de serem utilizados como sinônimos. Proponho
tal distinção, inédita em nosso país, ao longo da escrita deste trabalho
nメィ"$"}イ$oÿ~$~ "~ " メ イnÿ$oÿ_$ "メ"~ d$ " メd " ~ n$x.メ" " o$xワ "
de gênero. A maneira pela qual a ‘mistura’ entre meninos e meninas
"ÿィ ワ "イ$" $oÿ~$~ " nメo$ 『" ィ"メdY ÿ メ "~ }イÿ~メ " " ィ" 〈 .メ"
~$ÓヨÓÿn$『" メ~ "ÿイ〈 イnÿ$ "イ$"nメイ x.メ" "イメ" Ìメ xメ"~ " o$xワ "~ "
gênero desiguais na realidade escolar e, também, a partir dela.
8
Beatriz Bastos TEIXEIRA, Por uma escola democrática, p.24.
34
relações de gênero na escola, de maneira a questionar e reconstruir as
ideias sobre o feminino e sobre o masculino.
9
Tal paradoxo é apontado por Maria Victoria BENEVIDES, Educação para a Democracia,
Lua Nova, p.235.
35
" メ ̅ o『" メ $イ メ『" $} ィ$ " " não há educação para a
democracia sem co-educação. Ainda que esta seja uma “ideia prático-
regulativa”, apenas a sua busca pode tornar a escola uma instituição
mais comprometida com o término das desigualdades.
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primeira vez proposta por mim em minha pesquisa e neste trabalho,
nメィ"$"}イ$oÿ~$~ "~ "Ìメ $o n "メ"~ d$ " メd " ~ n$x.メ" " o$xワ "
de gênero;
★" ア.メ" ì(" nメ△ ~ n$x.メ" ィ" nメo$" ィÿ $『" ィ$ " メ~ " ì$ " nメo$"
mista sem que haja co-educação;
★" #" nメ△ ~ n$x.メ" ヨ" ÿ ÿ (" $" $ ÿ " ~ " ィ" nメイY イ メ" ~ " $xワ "
adequadas e sistematicamente voltadas para a sua existência e
manutenção;
★"mメイì n "nメィメ" " $ィ"$ " o$xワ "~ "Ó„イ メ" ィ"$ ÿ ÿ~$~ "
rotineiras, e também incomuns, da escola;
★"mメイì n " $o" メ"•"Ì ÿ メ"~$ " o$xワ "~ "Ó„イ メ" $ $"メ Ó$イÿ_$ "メ"
trabalho na escola;
★" mメイì n " nメィメ" " $" =メ " イ.メ≠" $" ~ ÿÓ $o~$~ " ~ " Ó„イ メ"
na escola;
36
★" o nÿメイ$ " " ÿ ィ$ ÿ_$ " dÿdoÿメÓ $}$" n̅}n$『" イ$nÿメイ$o" " ~メ"
exterior, composta por estudos e pesquisas sobre relações de
gênero e educação escolar;
★" ‒o nÿ~$ 『" $" $ ÿ " ~メ" corpus" dÿdoÿメÓ (}nメ『" nメィメ" ÿ ィ" d$ "
teóricas e empíricas de saber acumulado que tornem o tema em
causa uma questão sociológica no campo da educação;
★"mメイì n "$ "~ÿÌ イ " "イ.メ"nメイ イ $ÿ " メ ÿxワ "~ " ÿ $~メ $ "
de vários países, sobre o debate, realizado mundialmente, acerca
das escolas mistas ou separadas por sexo. Vale notar que trata-se
de polêmica acerca da qual, até o momento, não se teve notícia de
maneira sistematizada no Brasil;
★" Ëメ イ n " nメイì nÿィ イ メ" $ $" ÿoÿ_$x.メ" ィ" n メ " ~ " Ëメ ィ$x.メ"
~ " メÌ メ $ 『"$"}ィ"~ " イ ÿdÿoÿ_$ "$ " ~ n$~メ $ " $ $"$ " o$xワ "
sociais de gênero em vigência na escola e em nossa sociedade;
★" ‒『" }イ$oィ イ 『" d ÿ~ÿ$ " メo̅ ÿn$ " doÿn$ " ~ n$nÿメイ$ÿ " "
promovam a igual valorização do feminino e do masculino, em
nossa sociedade.
2. O gkzq" dkdnkqit Ýeq『" nメ メイ~ イ " &" ÿ $" ~ " dÿdoÿメÓ $}$"
sobre os temas “Educação Escolar e Relações de Gênero”, “Co-
educação” e “Mixité”.
ム" ~メ" ~ " cÿdoÿメÓ $}$" メd " ‒~ n$x.メ" " o$xワ " ~ " Ò„イ メ『"
com obras latino-americanas (inclusas nesta categoria as produções
brasileiras), com obras francesas e anglo-saxãs, dentre outras
contribuições, cumpriu o papel de guiar o meu olhar na pesquisa de
campo. A partir de um conjunto de autores10『" ÿ~ イ ÿ} ÿ" nメィメ" メ "
10
X $"‒ ̄ ‒n‒ #" "‒】" ムm`‒ ‒nn】" ÿ $" $ ÿnÿ $イ 』"moÿÌÌメ ~"Ò‒‒  ̄『"#"þイ $x.メ"
~$ "m o $ 』" メd "cムÒ}#ア" " $ ÿ"cþ`n‒ア『"þイ ÿÓ$x.メ" $oÿ $ ÿ $" ィ" ~ n$x.メ【" ィ$"
introdução à teoria e aos métodos; Claudia FONSECA, Quando cada caso NAO é um caso:
ÿ $" イメÓ (}n$" " ~ n$x.メ『" ÿ $"c $ ÿo ÿ $"~ "‒~ n$x.メ】
37
métodos, que de antemão eu havia decidido adotar, faziam a pesquisa
inscrever-se no campo das investigações qualitativas e de inspiração
イメÓ (}n$】" ィ$イ nÿ"~ $イ "←"$イメ "nメィメ"メd $~メ $"~$ " ( ÿn$ "
nos pátios e nas salas de aula, em uma escola púbica de uma grande
cidade brasileira. Centrei minhas observações nas 2ª, 3a e 4a séries do
‒イ ÿイメ"Ë イ~$ィ イ $o】"#o•ィ"~ÿ メ『" ィ$"~$ " ÿィ ÿ $ "$ ÿ ÿ~$~ " "}_"
na Escola do Caminho11 foi participar das reuniões com as professoras,
com a coordenadora e com a diretora. O objetivo das reuniões era
explicar quais eram os meus objetivos, como seriam as observações e
qual era o tema de meu estudo12.
↑】" ÿ$"$ "イメ $ "~ "n$ィ メ『"ÿ~ イ ÿ}n$イ~メ" $~ ワ " ィ" "~$~メ 』"
↓】"Ëメ ィ o$ $"$} ィ$xワ "d$ $~$ "イメ " $~ ワ " イnメイ $~メ 』"
11
アメィ " }n ̅nÿメ" nメィ" メ" $o" ℃ d$ ÿ_ ÿ¥" $" イÿ~$~ " nメo$ " " ÿ "~ " ~ " $ $" $"
pesquisa de campo.
12
Dessas reuniões surgiu o pedido de um curso sobre Educação e Relações de Gênero.
A minha entrada nas classes e a realização de minhas observações despertou nas
professoras, coordenadora e diretora o interesse pelo tema. Para o curso, elaborei um
conjunto de conteúdos e dinâmicas. Tais conteúdos e dinâmicas transformaram-se, ao
longo de 2002, em um livro, publicado em 2003, sobre “Feminismo, Relações de Gênero
e Educação”. Tal produção trata-se de esforço pessoal em oferecer material atualizado e
acessível sobre o Movimento Feminista e a categoria gênero, o que penso ser uma lacuna
na área de formação de professoras.
38
Mais do que um apanhado de transcrições, o resultado dessa prática
foi conseguir uma "descrição densa"13, o que pode ser assemelhado
$" ィ$" ℃ィÿn メ$イ(oÿ " イメÓ (}n$¥14】" メn ÿ△ィ " ィ" ÿ~ イ ÿ}n$ " メ"
ÿÓイÿ}n$~メ"~$ " o$xワ " メnÿ$ÿ "~ "Ó„イ メ"イ$ " ( ÿn$ " nメo$ 】"‒『" "
por um lado, a escola era a cena imediata na qual essas relações se
ィ$イÿÌ $ $ィ" "Ó$イì$ $ィ" ÿÓイÿ}n$~メ『" メ "メ メ『" $ィd•ィ"Ìメÿ"~ $n$~$"
a relação entre a escola e o contexto social maior em que esta se insere.
13
Clifford GEERTZ, A Interpretação das Culturas.
m$ ィ イ" n nÿ$" ァ#
14
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Espaço.
39
3 RESULTADOS DO ESTUDO
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e meninos, como se fossem dados essenciais, para facilitar a
condução da disciplina na classe e no pátio. Tal prática se mostrava,
メ" ィ oメ『" イ$" ィメ ÿ $x.メ" ~メ " Ó メ " ~ " $}イÿ~$~ " イメ" ( ÿメ『"
tendo como critério a separação por sexo entre as crianças, e na
organização das salas de aula em colunas compostas por duplas de
meninas e de meninos;
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percepção de que meninos, sendo indisciplinados em grupo,
estavam exercendo seu “papel” e sua independência na escola,
embora fossem geralmente repreendidos. Nesse sentido, a despeito
da formação de grupos, as professoras eram mais atenciosas com
os meninos e mais severas quanto à disciplina das meninas. Tal
estratégia disciplinar redundava em interações pedagógicas menos
estimulantes para as meninas. Elas, por participarem de uma dinâmica
relacional dominada pelos meninos, poderiam aprender que suas
contribuições têm pouco valor e que a melhor solução consiste em
se retrair. As meninas pareciam pensar, portanto, que sua melhor
contribuição seria auxiliar a professora na manutenção da ordem da
classe, ao executarem todas as demandas da mestra. Os meninos, ao
contrário, seriam impelidos a “se exibirem” de diferentes maneiras,
o que pode se mostrar contraditório com a tradicional imagem
do quieto e tranqüilo bom aluno. Exatamente por essa razão, ao
menino não indisciplinado ou muito calado poderia ser atribuído
algum traço patológico;
★" # イ $x.メ" ィ o$ " ~ " n$~ イメ " " ~ " メ " $ " ~$ "
meninas, a partir de diferentes apreciações e demandas endereçadas
às meninas e aos meninos. O papel de “boa aluna que ajuda os
colegas” também era uma dessas demandas e correspondia à
Ó $ ÿ}n$x.メ" $ $"$ "ィ イÿイ$ 】"‒o$ "$イÓ$ ÿ$ $ィ"$oÓ ィ" メ~ "nメィ"ÿ メ"
40
ao se relacionarem com as professoras e com as demais crianças.
Esse fenômeno em sala de aula pode ser percebido como reforço
à tradicional socialização feminina e como um modo de perpetuar
uma determinada divisão sexual do trabalho;
★"ムn $x.メ"~メ" $xメ" メイメ メ" oメ "ィ イÿイメ "~ イ メ"~$" $o$"~ "$ o$"
e constante focalização de atenção, por parte da professora, em
relação a eles. Tal fator demonstrava, ao lado de outros aspectos,
diferenças de interação entre professora/aluno e professora/aluna.
Vale notar que interação não corresponde necessariamente à
aprovação da professora em relação à atitude dos meninos. Muitas
vezes, a interação professora/aluno era maior até pela grande
quantidade de vezes em que a professora tinha que “chamar a
$ イx.メ¥"~メ "ィ イÿイメ 『" ィ"〈$Ó $イ " ÿイ$o"~ " メ $x.メ『" メ " $ "
da educadora, quanto à atitude do aluno;
★" n x.メ" ~メ " ィ イÿイメ " nメィ" イ~„イnÿ$" ィ$ÿメ " $" ~メィÿイ$ " メ "
grandes espaços. Tal traço foi coletado no recreio a partir de dois
dados: (1) a existência de jogos mistos com reforço de polaridade
e hierarquia entre o masculino e o feminino, como “Beijo, abraço,
aperto de mão”, “Menino pega Menina” e “Menina pega Menino”;
e (2) a presença dos meninos em todas as atividades em que era
necessário e possível correr e expressar-se com o corpo de modo
amplo;
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meninas. Isso ocorria no recreio, quando os meninos ocupavam dois
pátios e uma quadra para jogarem futebol. Quanto às meninas, estas
ocupavam os cantos laterais do pátio, ao pularem elástico, corda e ao
conversarem. Existiam jogos mistos, mas vale notar que os meninos
sempre estavam em todos os jogos de movimento, ao passo que as
únicas atividades do recreio que não implicavam corrida e amplos
movimentos, como passear e conversar, eram desempenhadas
apenas por meninas. Não observei nenhuma atividade de pátio, na
hora do recreio ou na hora da entrada, na qual apenas as meninas
ocupassem espaços amplos das quadras, como é o caso do futebol
para os meninos. Assim, ocorria a separação em grupos de meninos
e meninas nos jogos na escola, como se os próprios jogos agissem
como práticas que ensinassem meninas e meninos que há jogos
barulhentos e agitados a serem realizados pelos meninos, e jogos
discretos e limitados no espaço a serem realizados pelas meninas.
Denomino esse tipo de prática como aprendizado da separação,
que pôde ser observado em vários exemplos na Escola do Caminho.
41
Todos esses indícios que partem das práticas escolares comprovam
a questão inicialmente formulada: embora as escolas brasileiras sejam
mistas e isso seja uma das premissas da existência da co-educação,
a mistura dos sexos não enseja “naturalmente” práticas e políticas
públicas co-educativas. A comprovação dessa ideia pode tanto ser
parte da análise das desigualdades de gênero nas práticas escolares
quanto pode motivar práticas, ações e diretrizes de políticas públicas
promotoras da transformação da realidade escolar. Nesse caso,
transformar a realidade escolar seria criar um contexto igualitário para
meninas e meninos.
16
Nadine PLATEAU, Un parcours inachevé: la mixité scolaire, Chronique
Féministe, p.12.
42
O tom ambicioso percebido por Plateau em relação à co-educação
não se encerra nas transformações que esse conjunto de estratégias
educativas prevê em relação às práticas escolares e aos saberes docentes.
O caráter ambicioso — ou o caráter de “ideal prático-regulativo”17 — do
projeto co-educativo proposto por Nadine Plateau também repousa
na esperança de integrar a crítica feminista à educação e às diferentes
disciplinas. Acredito que se trata de ideal aglutinador de professoras,
feministas, estudiosas de gênero e pesquisadoras na área de educação,
em prol de objetivo comum: a promoção de políticas públicas de
ÿÓ $o~$~ 『"イメ"*ィdÿ メ"~$ " $ÿ "}Ó "$"nメイ x.メ"~ " ィ$" nメo$" "
não seja tão marcada pelas desigualdades sociais.
17
Conceito advindo da obra de Agnes Heller e já citado ao longo do texto.
18
Nelly P. STROMQUIST, Políticas públicas de Estado e eqüidade de gênero: perspectivas
comparativas. Revista Brasileira de Educação , p.28.
19
Marina SUBIRATS MARTORI, Educación de la mujeres: de la marginalidad a la
coeducación: propuesta para una metodologia de cambio educativo, p.30.
43
transformações substanciais. Em contrapartida, apesar de as mulheres
em ONGs serem muito propensas às transformações, seu trabalho
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Stromquist salienta que as diferenças sociais entre os grupos de
mulheres — mulheres pobres, de classe média e "feministas de nível
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realidade e analisar programas já existentes. Acrescento aos grupos de
mulheres a tarefa de formular e implementar políticas públicas novas
e co-educativas. Essas políticas seriam elaboradas em parceria com
orgãos do Estado e com todas as pessoas ligadas à educação, como
alunas, professores, professoras e alunos, e com as demais esferas da
sociedade civil. Esse caráter aglutinador de vários setores evitaria que a
participação das mulheres ligadas ao Movimento se reduzisse apenas
à observação da realidade; afastaria a imagem do Estado como a única
ÿイ *イnÿ$"~ " メ~ " "ÿ ÿ$" イ $ " "~ }イÿ "$ " メo̅ ÿn$ 』" "& " メÌ メ $ "
não restaria apenas, junto com seus alunos e alunas, a execução dessas
políticas.
20
O conceito de Cidadania Ativa é objeto do livro de Maria Victoria BENEVIDES, A
Cidadania Ativa: referendo, plebiscito e iniciativa popular.
44
Nessa direção, percebo certa conjuntura no sistema de ensino
brasileiro na qual alunas, alunos, professoras, agentes escolares,
diretoras, coordenadoras e pesquisadoras podem estar na fronteira
entre, de um lado, as práticas escolares nas quais as relações de gênero
ainda são hierárquicas e polarizadas e, de outro, a possibilidade de
construção de um projeto de co-educação. Travar o debate sobre essas
práticas pode ser um modo de cruzar tal fronteira e implementar a
co-educação no Brasil. Reitero que, ao utilizar o termo “co-educação”,
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como uma) política educacional — de gerenciar as relações de gênero
na escola, de maneira a questionar e reconstruir as ideias sobre o
feminino e sobre o masculino.
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Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2000.
46
SOBRE A AUTORA
47
VIOLÊNCIA DE GÊNERO: UM DESAFIO
PARA A EDUCAÇÃO
Marcos Claudio Signorelli
49
ADEODATO et al.,"←〒〒〓≠】"ア " メ" ("Ìメn$oÿ_$~$" nÿ}n$ィ イ "
uma modalidade de violência, que é a violência de gênero.
50
computados somente os casos em que existem homicídios. Para que um
caso de violência doméstica contra mulher culmine em seu assassinato,
diversos outros atos violentos menores (mas não menos lesivos) já
ocorreram, sendo o assassinato o ápice da brutalidade. Ademais, a
violência urbana que ocorre diariamente nas ruas e em espaços públicos
é muito mais visível (e visibilizada) do que a violência doméstica, que
ocorre no interior dos lares. As pessoas que são vítimas de violência
doméstica nem sempre denunciam o crime, e, mesmo quando o
denunciam, nem sempre o crime é visto como tal pelas autoridades.
Os casos de violência doméstica nem sempre são investigados, e na
maioria das vezes os agressores não são punidos (SIGNORELLI, 2011).
²Para mais detalhes, ver pesquisas recentes realizadas em parceria com a Organização
Mundial da Saúde por Garcia-Moreno et al. 2006 e Schraiber e D’Oliveira, 2002.
51
mulheres jovens (20 a 29 anos) com 541 casos (18,5%). Em seguida
estão as mulheres de 30 a 39 anos com 455 (15,6%), as adolescentes
de 15 a 19 anos com 453 (15,2%) e de 10 a 14 anos com 361 casos
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ocorreram em residências (65% do total) e em segundo lugar em via
pública, com 495 casos (18,2%). Na violência contra a mulher, 1110
casos (38 %) já ocorreram outras vezes. Esses dados indicam o quanto
a mulher tem sido vítima de agressores domésticos, na grande maioria
dos casos em seu próprio lar, numa violência reincidente. Em relação
ao tipo de violência, 34,1% dos casos registram violência física, 23,8%
violência psicológica ou moral, 20,5% violência sexual e 4,7% relatam
violência patrimonial. Os maridos ou companheiros são os principais
agressores que, somados com os ex-maridos ou ex-companheiros,
representam 63,4% do total de agressores.
52
No entanto, apesar de os estudos de gênero terem nascido no seio
do movimento feminista, é importante notar que violência de gênero
não é sinônimo de violência contra mulheres. A violência de gênero
inclui distintas modalidades de violência, que tem como pano de fundo
a categoria gênero. A violência contra mulheres vem ganhando bastante
visibilidade, especialmente no contexto brasileiro, após a aprovação
da Lei nº 11340/2006, conhecida como Lei Maria da Penha3, embora
ainda seja muitas vezes banalizada e até mesmo naturalizada, estando
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“violência contra a mulher” como:
53
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o espaço doméstico como um espaço feminino; b) a expressão
“a mulher”, utilizada em sua forma singular, parece não traduzir a
diversidade de “mulheres” que vivenciam essa situação. Mulheres
brancas, negras, índias, amarelas, pobres, ricas, bem-sucedidas, jovens,
ÿ~メ $ 『" ì メ $ÿ 『" ìメィメ $ÿ 『" dÿ $ÿ 『" $イ $ÿ 『" イ}ィ『"
distintas “mulheres” sofrem com a violência doméstica. Outros estudos
ainda vêm chamando atenção ao fato de que a violência seria não
apenas contra mulheres, mas contra o “feminino”, como no caso de
homens afeminados, que também são vitimas de violência de gênero,
por associação à feminilidade, sendo, portanto, arraigada em questões
de gênero, assinalando-se o termo “violência contra o feminino”.
4
Apesar de o Brasil ter alcançado o feito inédito de eleger uma mulher para ocupar a
presidência da República a partir de 2011, demonstrando um ganho real simbólico,
apenas 8,6 % da Câmara Federal é composta por mulheres. Este é o índice mais desigual
de todos os países da América do Sul e coloca o Brasil na 140ª colocação num ranking
de cerca de 200 países. Nas assembleias legislativas e no senado a situação é menos
crítica, mas ainda longe da ideal, apresentando índices de 13,1% e 15% de mulheres,
respectivamente (ALVES, 2010).
54
que sinalizam (embora não condicionem) que a exposição à violência
durante a infância tem sido associada à vitimização e perpetuação
da violência em relações futuras e que ambos os gêneros têm um
papel ativo nesse processo (GOVER et al., 2008). A reprodução de
comportamentos violentos ao longo de gerações tem sido debatida na
literatura (OLIVEIRA; SANI, 2009) e é apontada com maior probabilidade
de manifestação em sujeitos que foram vítimas ou testemunharam
comportamentos de violência na família de origem.
55
ampla variedade de abusos verbais e físicos,
tais como estupro, tortura, escravidão sexual
(particularmente por prostituição), abuso sexual
infantil incestuoso ou extra-familiar, lesões físicas
e emocionais, assédio sexual (por telefone, nas
ruas, no trabalho e na aula), mutilação genital
(clitoridectomias, excisões), cirurgias ginecológicas
desnecessárias (histerectomias gratuitas),
heterossexualidade forçada, esterilização forçada,
maternidade forçada (pela criminalização da
contracepção e do aborto), psicocirurgia, negação
de comida para mulheres em algumas culturas,
cirurgia plástica e outras mutilações em nome
do embelezamento. Sempre que estas formas de
terrorismo resultam em morte, elas se transformam
em feminicídios (CAPUTI; RUSSEL, 1992, p. 15).
56
física contra os homossexuais, tentando manter um estereótipo de
“macho” (VIEIRA, 1996). Atualmente, o movimento LGBT (lésbicas,
gays, bissexuais, transgêneros, travestis e transexuais) também criou as
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aos casos de violências contra lésbicas, violência contra pessoas
bissexuais e violência contra transgêneros5, respectivamente. Assim,
tornou-se comum tanto o uso isolado de cada categoria, bem como
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bifobia e a transfobia, ou ainda a alcunha “homo/lesbo/bi/transfobia”.
Neste texto é adotada a categoria homofobia, incluindo aí todos esses
desdobramentos.
5
O termo transgênero é utilizado aqui para reunir diferentes categorias que “transgridem”
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meio de roupas, maquiagem, cabelo, trejeitos, hormônios, buscando aparentar-se como
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de “transgenitalização”, mantendo seus órgãos sexuais originais. b) transexuais, que se
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tal qual travestis, transexuais são indivíduos que desejam fazer a cirurgia de mudança
de sexo (transgenitalização ou redesignação sexual). c) transformistas, que transitam ora
no masculino, ora no feminino, variando muito frequentemente em função do dia ou da
noite. Durante o dia, por exemplo, vestem-se como homens e à noite transformam-se em
mulheres, por meio de roupas, acessórios, perucas, etc, buscando ocultar inteiramente o
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drag queens (e também drag kings, no caso de mulheres que se “montam” de homem)
são um subtipo de transformistas, embora não tenham a pretensão de “passar-se por
mulher” (ou por homem, no caso de drag kings). Sua vestimenta e atitudes são caricatas,
com maquiagem carregada, roupas exageradas, cabelos coloridos, gestos exacerbados,
etc (JAYME, 2001).
57
FIGURA 1- CASOS DE ASSASSINATOS DE TRANSGÊNEROS NO PERÍODO
COMPREENDIDO ENTRE 01/01/2008 E 31/12/2010
FONTE: http://www.transrespect-transphobia.org/en_US/maps.htm, acesso em
05/12/2011
58
a respeito da homofobia nas escolas. As autoras apontam que em
algumas capitais do país quase metade dos pais de alunos do ensino
fundamental e médio não gostariam que houvesse homossexuais nas
no$ "~ " "}oìメ 『" 『"$ÿイ~$『" "$ メ "ìメィメÌヨdÿnメ 『"nメィメ"d$ " ィ"
homossexuais, são ações consideradas menos violentas do que andar
armado ou fazer uso de drogas.
59
Guedes (2003) assinala que o bullying manifesta-se de maneira
diferenciada em relação aos garotos e às garotas. Tal fato decorre de
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pode ocorrer em forma de intimidação, submissão, piadas grosseiras,
comentários acerca de sua aparência física ou do vestuário. Quanto
aos garotos, é comum o seu isolamento e comentários maldosos sobre
sua virilidade e questões ligadas à orientação sexual e homofobia,
emergindo aí o “bullying homofóbico”.
60
docentes, equipe pedagógica, equipe administrativa e famílias, seja
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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continuar, visando o (re)conhecimento das distintas violências de
gênero, para que consequentemente se pensem em estratégias para
sua minimização.
61
dominação associadas ao gênero e à sexualidade, que atravessam as
メnÿ ~$~ " "nメイ}Ó $ィ△ 『" メd ~メ『" ィ" ィ"~ $}メ"~$" ~ n$x.メ" "
para a educação.
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64
SOBRE O AUTOR
65
BULLYING E CYBERBULLYING:
FACES SILENCIOSAS DA VIOLÊNCIA
Clóvis Wanzinack
67
Tais atos podem ser expressos:
#" }Ó $" ~メ" $Ó メ " ィ " メn $" ィ$" ̅ ÿィ$" ィ$ÿ " Ì $n$" $イ メ"
} ÿn$ィ イ "nメィメ" ÿnメoメÓÿn$ィ イ 『"nメィ" メ n$"ÿイno .メ" メnÿ$o『"$" $o『"
em certa medida, lhe dá certa segurança de que suas agressões não
serão ouvidas pelos demais colegas.
68
educacional, limitando-se apenas ao ambiente escolar. Hoje, tal tema
•" ~ }イÿ~メ" nメィメ" ィ" メdo ィ$" ~ " $ ~ " doÿn$『" メ " ÿ メ" o " ~ "
イ $ " ィ" $ $" ィ" ~ÿ $ " ( $ " メ} ÿメイ$ÿ 『" nメィメ" ÿnメoメÓÿ$『"
medicina, assistência social e pedagogia, sendo discutido de forma
mais interdisciplinar possível. Em decorrência de desconhecimento ou
limitações de algumas áreas, que negligenciam o tema, tende a ocorrer
o aumento desordenado na gravidade bem como a multiplicação
de novos casos, causando problemas físicos e emocionais que
acompanharão as pessoas envolvidas por toda uma vida.
Protagonistas do bullying:
69
· Incentivadores/as: apesar de não participar ativamente do
processo de ataque à vítima, os/as estimuladores/as instigam,
fomentam, incentivam cada vez mais a conduta cometida pelo
agressor, potencializando suas atitudes agressivas, observando e se
divertindo com o sofrimento alheio.
70
1 CYBERBULLYING: DO VIRTUAL AO REAL
71
Sem saber quem é o/a agressor/a, torna-se difícil, em grande medida, a
defesa ou medidas preventivas para cessar as provocações.
72
por meio de celular ou da internet. Tal proporção se multiplica pelas
páginas de rede social como facebook, twitter, youtube, skype, salas de
bate-papo entre outros.
73
Além de imprimir e guardar tais provas, é importante que elas
estejam disponíveis on line, para que a polícia possa fazer um
rastreamento virtual que demonstrará o computador ou o local que
メ ÿÓÿイメ "メ "$ $ " ÿ $ÿ 】"ム"イ ィ メ"~ "ÿ~ イ ÿ}n$x.メ"~メ"nメィ $~メ "
possibilita descobrir o provedor de internet utilizado, e por ele a polícia
pode solicitar o cadastro do usuário, assim podendo ser localizado para
responder por seus atos (MALDONADO, 2011).
Bullying
74
à pergunta: “Nos últimos 30 dias, com que frequência algum dos seus
colegas de escola te esculacharam, zuaram, mangaram, intimidaram ou
n$xメ$ $ィ" $イ メ" " メn„" }nメ " ィ$Óメ$~メ∴ÿイnメィメ~$~メ∴$dメ nÿ~メ×¥"
As respostas que mais chamaram atenção foram 25,5% que relataram
raramente ou às vezes e 5,5% que referiram quase sempre ou sempre
(GUILLAIN, 2012).
Cyberbullying
75
no mínimo uma vez ao longo de suas vidas. Dentre as vítimas, 13%
foram insultados pelo celular e os 87% restantes por textos e imagens
enviados por e-mail ou via sites de relacionamento (CONTE; ROSSINI
2010). Outro estudo desenvolvido por Hunder (2012) analisou que pelo
menos 25% dos adolescentes são vítimas de cyberbullying.
76
obscenas ou difamatórias, postadas por seus estudantes. 41 % dos
docentes conhecem outros colegas que também passaram por situação
semelhante, destacando que as ferramentas mais comuns foram via
e-mail (45%), salas de bate-papo (44%), blogs ou sites pessoais (32%),
ィ イ $Ó イ " ~ " メ" =↑←♪≠『" Ìメ メÓ $}$ " メ " ̅~ メ" noÿ " =→⊇♪≠" " ÿ "
que envolvem votações pessoais (15%). A pesquisa também revelou
que 20% dos professores consideram o cyberbullying praticado por
estudantes como um fator que pode levar ao abandono da docência.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Mesmo o Brasil, ainda não tendo leis que condenem tais práticas
de bullying e cyberbullying, Conte e Rossini (2010) comentam que
tais situações são enquadradas a crimes já prescritos na legislação do
código penal, tais como: crimes contra a honra (arts. 138 – 140), crime
77
de constrangimento ilegal (art. 146), crime de ameaça (art. 147), crime
de participação em suicídio (art. 122). Diante de situações como essas,
o agressor poderá responder por tais delitos.
Também oferece um canal de diálogo tanto via email como via chat
no helpline, um canal gratuito que oferece orientação de forma pontual
78
e informativa para esclarecer dúvidas, ensinar formas seguras de uso da
Internet e também orientar crianças e adolescentes e/ou seus próximos
que vivenciaram situações de violência on-line como humilhações,
intimidações, chantagem, tentativa de violência sexual ou exposição
Ìメ x$~$" ィ" Ìメ メ " メ " }oィ " イ $ÿ 】" ム メ" n$イ$o" " メ" $Ì イ 】メ Ó"
メÌ n "•"~ "n ÿィ "nメィ ÿ~メ " o$"ÿイ イ 『"nメィメ" メ イメÓ $}$"ÿイÌ$イ ÿo『"
racismo, maus-tratos contras animais, xenofobia, homofobia entre
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SOBRE O AUTOR
81
TEORIZANDO AS RELAÇÕES ÉTNICO-
RACIAIS NO BRASIL
Aparecida de Jesus Ferreira
83
é baseado em uma apreensão subjetiva comum, quer sobre origens,
interesses […] (ou uma combinação destes)”.
84
no interior, ou morreram de doenças, ou escaparam” (BERGHE,
1984, p. 47). Por conseguinte, os portugueses começaram a trazer
africanos para o Brasil como escravos na década de 1520. Eles foram
trazidos principalmente para o Nordeste do Brasil, onde é encontrada
atualmente a maior concentração de negros no Brasil (HERINGER, 2000,
p. 4). O Brasil tem, presentemente, a segunda maior população negra
do mundo, após a Nigéria (HERINGER, 2000, p. 4).
85
na forma como o Brasil é visto no exterior. Nesse livro, Freyre utilizava
muitas formas para descrever a relação entre negros e brancos. De
acordo com Schaeber (1999, p. 52), o que é descrito no livro por Freyre
dá a impressão de que os europeus, os negros e os indígenas viviam em
relativa harmonia no Brasil. A isso se contrapõe, no entanto, para dar
um exemplo, o papel das mulheres indígenas e das mulheres negras
no mesmo livro, uma vez que são reduzidas à reprodução sexual, e a
sexualidade das mulheres é retratada por Freyre como uma característica
exótica (GOMES, 1995, p. 100).
1
ム" ィメ"♀ィメ イメ♀"イ.メ"•" ィ$"no$ ÿ}n$x.メ"メ}nÿ$o『"ィ$ "$oÓ ィ$ " メ$ " "$ メÿイ~ イ ÿ}n$ィ"
usando essa nomenclatura.
86
Essa pesquisa da UNESCO “[...] documentou como nunca antes a
prevalência da discriminação racial, bem como a persistência da ideologia
do 'embranquecimento'” (WINANT, 1991, p. 175). A pesquisa também
questionou a teoria de Freyre e constituíram um novo “revisionismo”
racial (WINANT, 1991, p. 175, ver também WINANT, 1999).
87
e implementados a partir de 1998. Além disso, as recentes ações
$} ィ$ ÿ $ "イ$ " イÿ ÿ~$~ 『"メ " Y$『"$ " メo̅ ÿn$ "~ "nメ $ 『"d ィ"nメィメ"
a Lei Federal nº 10.639/2003 (BRASIL, 2003), lei que tornou obrigatória
para todos os currículos escolares a inclusão do ensino de História e
Cultura Afro-Brasileira, têm provocado um debate mais aprofundado
sobre essa questão. Mais recentemente, a Lei Federal nº 11.645/2008
inclui o ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena em toda
Educação Básica, pública e privada.
88
A Tabela 1.2 claramente mostra a disparidade que ainda existe
$イ メ" &" nメ " イ$" メnÿ ~$~ " d $ ÿo ÿ $】" #" $d o$" →】←" ~ $}$" メ" ′ィÿ メ" ~$"
democracia racial’ e expõe a desigualdade da população brasileira por
etnia/cor/raça
Número de anos escolares por cor, pessoas de 15 anos de idade ou mais, Brasil,
1996
Porcentagem (%)
Número de Brancos Pretos Pardos Total
anos escolares
Menos de 1 11,8 26,2 23,4 16,7
ano/nunca foi
para escola
1 - 3 anos 13,3 18,5 19,5 15,9
4 - 8 anos 43,8 41,3 40,7 42,4
9 - 11 anos 20,3 11,2 13,3 17,2
12 anos ou 10,9 2,4 2,8 7,5
mais
Sem 0,3 0,3 0,3 0,3
informação
89
TABELA 1.3 - PERFIL SOCIOECONÔMICO E CULTURAL DOS ESTUDANTES DE
GRADUAÇÃO DAS UNIVERSIDADES FEDERAIS. DISTRIBUIÇÃO PERCENTUAL DOS
ESTUDANTES DAS UNIVERSIDADES FEDERAIS POR CLASSES ECONÔMICAS E RAÇA/
ETNIA
90
nas Tabelas 1.3 e 1.4 é porque nas universidades estaduais e federais
trabalham os pesquisadores e os professores mais prestigiados. Dessa
forma, quero demonstrar que a desigualdade de oportunidades
também se estende para o nível universitário em relação à falta de
pesquisadores e de professores afro-brasileiros.
91
existe no Brasil contemporâneo.
Costa (1985), Gomes (1995), Pinto (1996) e Telles (2002) têm discutido
$" ~ ÿÓイ$x.メ" ~ " nメ " ~$" メ o$x.メ" d $ ÿo ÿ $】" #" no$ ÿ}n$x.メ" メ}nÿ$o"
de cores é importante porque demonstra a forma como o governo
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pela população brasileira, como descrito a seguir, podem expressar
a forma como o IBGE2""=þイ ÿ メ"c $ ÿo ÿ メ"~ "Ò メÓ $}$" "‒ $ ̅ ÿn$≠"
compreende a composição dos grupos étnicos no Brasil. Eu diria que
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イ ÿイ$~メ "$" "$ メÿ~ イ ÿ}n$ " o$"nメ " "イ.メ" o$" $"$ n イ~„イnÿ$】
2
ム"þcÒ‒"メ Ó$イÿ_$"メ" ~メ"~メ"n イ メ"~メ" }o"~$" メ o$x.メ"d $ ÿo ÿ $】
3
As cores encontradas pelo IBGE no censo em 1976 foram 136, quando os brasileiros
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alvarenta, alva-rosada, alvinha, amarelada, amarela-queimada, amare¬losa, amorenada,
avermelhada, azul, azul-marinho, baiano, bem branca, bem clara, bem morena, branca,
branca avermelhada, branca melada, branca morena, branca pálida, branca sardenta,
branca suja, branquiça, branquinha, bronze, bronzeada, bugrezinha escura, burro-
quando-foge, cabocla, cabo verde, café, café-com-leite, canela, canelada, cardão,
castanha, castanha clara, cobre corada, cor de café, cor de canela, cor de cuia, cor de
o ÿ 『" nメ " ~ " メ メ『" nメ " ~ " メ $『" nメ " } ィ 『" n ÿメ o$『" イn $~$『" イ メÌ $~$『" d $イ ÿn イ メ『"
escurinha, fogoió, galega, galegada, jambo, laranja, lilás, loira, loira clara, loura, lourinha,
malaia, marinheira, marrom, meio amarela, meio branca, meio morena, meio preta,
melada, mestiça, miscigenação, mista, morena bem chegada, morena bronzeada, morena
canelada, morena castanha, morena clara, morena cor de canela, morenada, morena
escura, morena fechada, morenão, morena prata, morena roxa, morena ruiva, morena
trigueira, moreninha, mulata, mulatinha, negra, negrota, pálida, paraíba, parada, parda
clara, polaca, pouco clara, pouco morena, preta, pretinha, puxa para branca, quase negra,
queimada de praia, queimada de sol, regular, retinha, rosa, rosada, rosa queimada, roxa,
ruiva, russo, sapeca, sarará, saraúba, tostada, trigo, triqueira, turva, verde, vermelha.
Também outros “que não declararam sua cor de pele” (LEMOS, 1999, p. 7, ver também
LEVINE; CROCITTI, 1999, p. 386-390; SCHWARCZ, 1998, p. 227).
92
メn メ"~ "℃ ィd $イ nÿィ イ メ¥『" 『"イメ"nメイ メ"d $ ÿo ÿ メ『" ÿÓイÿ}n$"
tornar a cor da pele mais clara por meio de casamentos inter-raciais4.
Isso perpetua o processo de “embranquecimento”, vigente há vários
séculos e que foi incentivado por políticas governamentais, como
mencionado anteriormente.
Devido a essa herança, nos últimos anos líderes negros têm criado
n$ィ $イì$ "~ "$x.メ"$} ィ$ ÿ $" $ $" "メ "$Ì メ~ n イ~ イ " メ $ィ"
se sentir orgulhosos de sua cor e de sua ascendência. Essa é uma
estratégia destinada a permitir que os afro-brasileiros se reconheçam
como o povo que fez sua própria história e para mostrar que eles
podem fazer seu próprio futuro. Os afro-brasileiros são incentivados a
valorizar a sua identidade e a sua contribuição como uma comunidade
$Ì メ△d $ ÿo ÿ $" " ィ" ィ$" メ ÿÓ ィ" Ó メÓ (}n$" n̅}n$『" oÿÓÿ.メ"
e costumes. Essa é uma tentativa de mostrar o lado positivo da sua
história e, em particular, a sua luta para ter a liberdade e a igualdade
イ " メ " nÿ~$~.メ " =~♀#}‒ ` 『" ←〒〒→『" 】" →〓∋』" þア ム『" →⊇⊇∈『" 】" →⊇∈≠】" ィ"
exemplo de que esse incentivo tem funcionado é o resultado no último
n イ メ『" ィ" "〓〒『∋♪"~$" メ o$x.メ"d $ ÿo ÿ $" "no$ ÿ}nメ "nメィメ" $"
ou parda.
d'Adesky (2000, p. 146) realizou uma pesquisa para compreender
4
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como as pessoas pensam. Além disto, é raro ver casamentos inter-raciais mostrados na
televisão e jornais.
93
as categorias de ‘raça’ no Brasil, e, nas suas conclusões, observou que
" イ Ó メ" イメ" c $ ÿo" ÿÓイÿ}n$" " n$ $n ̅ ÿn$ " Ì̅ ÿn$ " ~ÿÌ イ " ~$ "
pessoas brancas, devendo ser de cor escura preta e ter antepassados
africanos. Embora haja enormes discussões na sociedade brasileira
メd "ÿ~ イ ÿ}n$ △ " メ "nメ 『"$ÿイ~$"$"ィ$ÿメ ÿ$"~メ "d $ ÿo ÿ メ "$n ~ÿ $"
que o Brasil é um país que “não vê cor”, um “paraíso racial” ou uma
℃~ ィメn $nÿ$" $nÿ$o¥" =~♀#}‒ ` 『" ←〒〒→』" Òムァ‒ 『" →⊇⊇〓』" þア ム『" →⊇⊇∈』"
‒nn‒ 『" ←〒〒←≠】" #" o *イnÿ$" ~$" メ o$x.メ" イ Ó $" $ $" " ~ }イÿ " nメィメ"
$o『"nメィメ"~ ィメイ $~メ"$nÿィ$『" Ó ÿ ÿ$" " ÿ "~ÿ}n o~$~ " $ $" "
o "$} ィ ィ"$" $"ÿ~ イ ÿ~$~ " $イ メ"&" $"$ n イ~„イnÿ$】
94
se usando tonalidades de cores mais leves.
5
The ‘myth of racial democracy’ in Brazil implies that all Brazilian citizens are equal and
that everybody has the same chances to achieve what they want. The 'media', through
television, newspapers and magazines, have used the images of some famous black
people (such as the former footballer Pelé) to emphasise ‘equality’ as stated by Gomes
=→⊇⊇〓≠"$イ~"}$ ÿ "=←〒〒〒≠】" ì "ÿイ〈 イn "メÌ" ì "nメイ ÿd ÿメイ"メÌ"#Ì ÿn$イ" メ o " メ"c $_ÿoÿ$イ"
society can easily be seen in food, religion, dance etc. (Akkari, 2001; d’Adesky, 2001).
However, in terms of equality this social integration has failed to occur.
6
Em janeiro de 2003, pela Lei Federal nº 10.639/2003, foi obrigatório o ensino de História
e Cultura Afro-Brasileira em toda Educação Básica, e em março de 2008, pela Lei Federal
nº 11.645/2008, passou a ser obrigatório o Ensino da História e Cultura Afro-Brasileira e
Indígena.
95
nos livros didáticos, com relação à inclusão dessas questões.
6 RAÇA/ETNIA EM CONTEXTO
96
nメイ x.メ" メnÿ$o" ~メ " ィメ " =m# #nn‒þ ム『" ←〒〒→』" ~♀#}‒ ` 『" ←〒〒→』"
FERREIRA; FERREIRA, 2010; FERREIRA; FERREIRA, 2011; GILLBORN, 1995;
Òムァ‒ 『" →⊇⊇〓』" `þアmë‒nム‒』" " ‒þアc‒ Ò『" →⊇⊇∋』" ァmn# ‒ア』" " ム ‒ 『"
→⊇⊇⊇』" # ‒`ë『"←〒〒〒』" þア ム『"→⊇⊇↑『"→⊇⊇∈『"→⊇⊇⊇』"#】" þn #"m『"→⊇⊇〓『"←〒〒→『"
2002). Isso quer dizer que não estou levando em consideração o
conceito ou ideia de 'raça' como sinônimo de algumas características
biológicas, ou marcadores, tais como cor da pele e textura de cabelos,
n$ $n ̅ ÿn$ "Ì$nÿ$ÿ " "~ " $ $『" " メ~ ÿ$ィ"~ }イÿ "$ "~ÿÌ イx$ "
de pessoas relacionadas com a sua inteligência, por exemplo. Assim,
'raça' não é um “dado biológico”, e concordo com Telles (2002, p. 421)
$イ~メ" o "$} ィ$" "$"ÿ~ ÿ$"~ "ÿ~ メoメÓÿ$ " $nÿ$ÿ " ("ÿイ ̅イ n$" ィ"
teorias que consideram as pessoas brancas superiores aos outros,
nメィメ"$nメイ n "イメ"ィ イ~メ"メnÿ~ イ $o" "•" ィ"Ì$ メ " ÿÓイÿ}n$ ÿ メ"イメ"c $ ÿo】"
Não é um “fato”, mas, sim, um fenômeno socialmente construído
=# n‒『" →⊇⊇⊇』" m#ア‒ア『" ←〒〒↑』" Ë‒ ‒þ #『" ←〒〒⊆』" ` ‒  ̄『" →⊇⊇⊇』" þア ム『"
1999), e aqueles que estão no poder constroem a identidade nacional
de acordo com os seus próprios interesses (MOITA LOPES, 2003b, p.
→⊇≠】" þ メ" イ.メ" ÿÓイÿ}n$『" メ •ィ『" " $" ÿ~ イ ÿ~$~ " イ$nÿメイ$o" ~ " ィ" $̅ "
não poderia ser alterada, repensada, reconceitualizada, “[...] como um
ィ$" ~ " ~ }イÿx.メ『" ÿ „イnÿ$『" " ~ " ィ ~$イx$¥" =# n‒『" →⊇⊇⊇『" 】" →↓"
citando SCOTT, 1995, p. 11). Assim, para discutir identidade em relação
à raça/etnia, é necessário considerar a complexidade de identidade e de
pertencimento associada com o racismo no Brasil.
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101
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102
SOBRE A AUTORA
103
104
ESTUDOS
SOBRE CORPO
E DIVERSIDADE
SEXUAL
2ª Intersecção
DO GUETO À AVENIDA: 30 ANOS DE LUTA
DO MOVIMENTO LGBT E A CONQUISTA
PROGRAMA BRASIL SEM HOMOFOBIA1
Alexandre José Rossi
1
Parte deste artigo foi apresentado e publicado nos anais do 4º Seminário Nacional Estado
e Políticas Sociais – Políticas Sociais na América Latina, no ano de 2009 em Cascavel – PR,
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de Formação de Professores para o MERCOSUL/CONE SUL, 2010, Florianópolis. Também
ressalto que ele é parte constituinte da dissertação de mestrado intitulada Avanços e limites
da Política de Combate à Homofobia: uma análise do processo de implementação das
ações para a educação do Programa Brasil Sem Homofobia, defendida junto ao Programa
de Pós-Graduação em Educação da UFRGS no ano de 2010, disponível em: <http://www.
lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/24151/000744758.pdf?sequence=1>.
107
ambiente, para depois aplicá-los espontaneamente a casos concretos
através de mediação” (ibidem, p. 49).
108
movimento no Brasil – até a metade da década de 1990 – momento
em que se consolida no cenário político nacional como um movimento
organizado na luta por direitos de LGBT. O segundo período será
demarcado a partir de 1995, quando foi fundada a Associação Brasileira
de Gays Lésbicas Bissexuais e Transgêneros e quando o Governo Federal
implementou o Programa AIDS I, no qual se deu uma aproximação maior
entre movimento e Estado, por conta das parcerias estabelecidas entre
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Sem Homofobia como uma das respostas do Estado às reivindicações
do movimento, focando em especial o capítulo que trata da educação.
109
político, enquanto no âmbito acadêmico tornou-se objeto de estudos
de pesquisadores das áreas sociais e humanas.
2
Na maioria das obras que tratam do histórico do Movimento Homossexual Brasileiro,
a data de início é de 1978, ano associado à criação do primeiro grupo homossexual
no Brasil, o Grupo Somos, em São Paulo. Para um maior detalhamento da história do
surgimento do movimento LGBT no Brasil, ver Facchini (2005), Fry (1982, 1990), Grenn
(2003, 2000), Trevisan (2000) – autores que se debruçam sobre a história do Movimento
Homossexual.
110
Em junho de 2008, o Movimento Homossexual Brasileiro passou
a autodenominar-se Movimento LGBT3 – Lésbicas, Gays, Bissexuais,
Travestis e Transexuais. Segundo Facchini (ibidem), essa transformação
das siglas ao longo da história mostra um pouco da evolução do
próprio movimento que foi incorporando a luta de lésbicas, travestis e,
recentemente, de transexuais.
3
Por Movimento LGBT Brasileiro entendo um grupo de pessoas que podem estar
organizadas em torno de grupos, associações, entidades, podendo ter o caráter jurídico
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como organização da sociedade civil de interesse público, bem como sujeitos que não
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grupos, em universidades, partidos políticos, grupos de estudos etc. Tais sujeitos/grupos
lutam em torno da garantia de direitos relacionados à livre expressão sexual, no combate
ao preconceito e à discriminação por orientação sexual, independentemente de qual seja
a sua orientação.
111
além da formação do Partido dos Trabalhadores.
(MORAES, 2003, p. 2).
4
a) Pelo registro jurídico dos grupos homossexuais; b) Contra o parágrafo 302.0 da
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rotulava o homossexualismo como “desvio e transtorno sexual”; c) Pela proibição
de discriminação por “orientação sexual” no Código de Ética dos Jornalistas; d) Pela
proibição de discriminação por “orientação sexual” na Constituição de 1988 e na revisão
constitucional de 1994 (HOWES, 2003, p. 299).
112
Desde o início da epidemia, as ações do movimento homossexual
voltadas à assistência e à prevenção do HIV/AIDS caracterizaram-se
pela rápida e ampla mobilização e pelo envolvimento de seus ativistas.
Os programas de prevenção, governamentais ou não, direcionados
aos homossexuais foram os precursores de uma série de ações que
impediram a proliferação da epidemia no Brasil. Dessa forma, irônica e
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pelos direitos dos homossexuais no país.
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nacionais, o presidente da República, Fernando Henrique Cardoso,
d$ $~メ" イメ" " }nメ " nメイì nÿ~メ" nメィメ" Consenso de Washington,
fundamentado pelas teorias da Terceira Via e do Neoliberalismo, e
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decorrência do modelo de desenvolvimento adotado pelos governos
anteriores, deu início, em 1995, ao processo de reestruturação do
Estado nacional, com a implementação do Plano Diretor de Reforma do
Aparelho do Estado.
113
a existência de primeiro e de um segundo setor na esfera social. Esses
teóricos referem-se a ao termo como:
114
Esse estreitamento das relações entre Movimento e Estado carrega em
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fornecidos pelo Ministério da Saúde a grupos homossexuais para a
prevenção das DST/AIDS na comunidade homossexual possibilitaram
a reestruturação do movimento em todo o país, propiciando o
amadurecimento do Movimento Homossexual Brasileiro. Por outro,
acabou por amenizar as tensões entre essas duas instituições. Do claro
papel de oponente ao Estado, o movimento passou a ser parceiro dele,
principalmente na luta pelo combate à AIDS, e – na carona da AIDS – na
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lésbicas, bissexuais, travestis e transgêneros. Essas condições materiais
possibilitaram ao movimento uma forma de se sustentar e formar novas
bases, novas lideranças, expandindo-se quali-quantitativamente.
115
A inexistência de uma política pública do Estado, objetivando o
combate do HIV entre a população homossexual, contribuiu para a
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os seus estatutos e colocaram como objetivos a promoção da saúde
e prevenção das DSTs e do HIV/AIDS, podendo, com isso, participar
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que liberassem recursos para trabalhar com prevenção. Os grupos
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encontro dos seus interesses de fortalecimento do movimento. Nesse
sentido, a partir de 1995 aconteceu o que muitos autores chamam de
boom do Movimento Homossexual no Brasil.
116
estrangeiros e emigrantes, refugiados, portadores
de HIV positivo, crianças e adolescentes, policiais,
presos, despossuídos e os que têm acesso a
riqueza. Todos, enquanto pessoas, devem ser
respeitados e sua integridade física protegida e
assegurada. (BRASIL, 1996, p. 3).
117
Durante o primeiro mandato do Governo Lula (2003-2006), a
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As parcerias permaneceram, principalmente as estabelecidas com
Ministério da Saúde. No entanto, o movimento homossexual, assim
como outros movimentos sociais, passou a ter um diálogo mais direto
e aberto com o governo, especialmente após a criação da Secretaria
Especial de Diretos Humanos (SEDH), criada com o objetivo de
dialogar com os vários movimentos sociais que até então não tinham
um canal direto com o Governo Federal para tratar da articulação e
da implementação de políticas públicas voltadas para a proteção e a
promoção dos direitos humanos.
5
Desenvolver e aprofundar as ações de combate à discriminação e de promoção da
cidadania GLBT (gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais), nos marcos do programa
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de promoção de uma cultura de respeito à diversidade sexual, favorecendo a visibilidade
e o reconhecimento social; incentivar a participação, realizando a I Conferência Nacional
de Políticas para os GLBT (PARTIDO DOS TRABALHADORES, 2006, p. 30).
118
nos bastidores. Pela primeira vez, no Brasil, um governo assumiu
publicamente, em um plano de governo, compromissos com o
Movimento Homossexual.
119
O Brasil Sem Homofobia tem a particularidade de ser o primeiro
programa de governo6 com vistas à promoção dos direitos humanos
e ao combate à homofobia e à discriminação por orientação sexual.
Com base nas principais demandas dessa população, o documento é
composto de 53 ações, que vão desde a articulação de políticas de
promoção da cidadania homossexual, passando por políticas de saúde,
educação, cultura, trabalho, justiça e segurança, incluindo também
políticas para a juventude, mulheres e negros.
6
Entendo o Programa Brasil Sem Homofobia como um programa de governo e não um
programa de Estado, por se tratar de um programa pontual do Governo Lula. Ele nasceu
no primeiro mandato do governo Lula e teve continuidade no segundo mandato. Em
junho de 2008 foi realizada a primeira conferência nacional LGBT, que tinha como objetivo
avaliar o Programa Brasil Sem Homofobia e elaborar o Plano Nacional de Promoção da
Cidadania e dos Direitos Humanos de LGBT que pretende se tornar um plano de Estado.
Tal plano foi lançado em maio de 2009, em Brasília, com intenção de substituir o programa
BSH.
120
a ampliação do exercício da cidadania deste
expressivo segmento da sociedade brasileira.
(BRASIL, 2004. p. 7).
121
Essas ações do Programa se desdobram em várias outras dentro de
ィ$ " n̅}nメ 7. Cada um destes estava sob a responsabilidade de
órgãos do Governo Federal e, dependendo da ação a ser desenvolvida,
um ou mais ministérios seriam responsáveis pela sua execução. A
coordenação geral e a articulação do BSH, bem como o monitoramento
e o acompanhamento do processo de implementação, estão sob a
responsabilidade da Secretaria Especial de Direitos Humanos.
Para cada um dos eixos propostos existe uma série de ações a serem
implementadas, sem indicar necessariamente o órgão ou o ministério
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de cada capítulo do Programa qual ministério será responsável; por
exemplo, o Direito à Educação será de responsabilidade do MEC.
7
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e à discriminação contra a população GLTB e de promoção da cidadania homossexual.
122
valoriza o diálogo com o “outro” e o convívio
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modo a fazer com que elas não sejam motivo de
inferiorização, silenciamentos, constrangimentos,
insultos e agressões. (ibidem, p. 18).
123
_ "イ.メ" .メ"$dメ ~$~メ "イメ "n メ "~ "Ìメ ィ$x.メ"ÿイÿnÿ$o"~ " メ} ÿメイ$ÿ "
da educação (BRASIL, 2007).
Uma das principais ações da Secad nessa área foi o curso Gênero
e Diversidade na Escola (GDE), o qual tem por objetivo, por meio da
formação continuada, fornecer elementos para transformar as práticas
de ensino e desconstruir o ciclo da reprodução de concepções e
práticas preconceituosas, no que diz respeito às relações de gênero,
étnico-raciais e sexualidades não heteronormativas (ibidem).
É bem provável que você seja um cursista do GDE, pois este livro é
parte do material produzido para o curso. Como pode perceber, você foi,
é ou está sendo a materialização da política de combate à homofobia,
na medida em que está participando do curso. Como pôde perceber ao
longo do texto, existiu uma longa trajetória de pequenas conquistas,
que, proporcionada pelo contexto histórico da época, possibilitou a
materialização do Programa BSH e, consequentemente, as ações que
dão sustentação à sua implementação, como é o caso do GDE.
5 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
124
#" ÿ „イnÿ$" ~メ" メÓ $ィ$" 〈 " メ" nメイì nÿィ イ メ『" メ " $ " ~メ"
Estado, de que existe discriminação por orientação sexual no Brasil
" " o$" " 〈 " イメ" nメィ メ $ィ イ メ" ìメィメÌヨdÿnメ】" $o " o ィd $ "
mais uma vez que o Programa Brasil Sem Homofobia só se tornou
realidade e parte da agenda do governo Lula por ser o resultado da
luta e da mobilização do Movimento LGBT. Nesse sentido, a criação do
Programa é um marco não só na história do movimento, como uma
das suas principais conquistas no campo do direito, mas também para
a sociedade como um todo.
REFERÊNCIAS
125
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126
SOBRE O AUTOR
127
RELAÇÕES DE GÊNERO NA EDUCAÇÃO FÍSICA
ESCOLAR: AS “MISTURAS” E AS SEPARAÇÕES
COMO FORMA DE APRENDIZAGEM
Luciano Nascimento Corsino
1 INTRODUÇÃO
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$" $ ÿ " ~$" ~•n$~$" ~ " →⊇⊆〒" =#n ‒ " X アþム 『" ←〒〒→』" Òム‒nnア‒ 『" ←〒〒→≠『"
principalmente com base no surgimento de pesquisas que buscavam
soluções teórico-metodológicas capazes de romper com um modelo
militarista, esportivista e tecnicista, que até então vigorava na prática
pedagógica da Educação Física. Esse momento, considerado como
um período de intensa produção acadêmica da área, resultou em
considerável número de pesquisas de mestrado e doutorado no
país e no exterior, apoiados em diferentes abordagens das Ciências
Humanas, Sociais e Biológicas. Tais estudos (TANI et al., 1988; MARIZ
DE OLIVEIRA; BETTI; MARIZ DE OLIVEIRA, 1988; FREIRE, 1989; BETTI,
1991; MEDINA, 1996; MOREIRA, 1992; SOARES et al., 1992; DAOLIO,
→⊇⊇〓』"ァ# ム 』"ア‒þ #『"→⊇⊇⊆』"` ア ̄『"→⊇⊇⊆『"←〒〒↓』"Òëþ #n}‒nnþ"X アþム 『"
2001) foram desenvolvidos por pesquisadores/as que objetivavam uma
renovação da Educação Física Escolar, que abrangesse e proporcionasse
uma educação integral, mas que até aquele momento não poderia
" ÿ~ イ ÿ}n$~$" nメィメ" ィ" nメィ メイ イ " n ÿn o$ " n$ $_" ~ " $ ÿイÓÿ " メ "
objetivos almejados no bojo de educação de qualidade.
129
Física, ressaltando a polissemia do corpo, que até então era percebido
como uma máquina possível de ser treinada na escola, e abrindo
caminho para as reivindicações de uma Educação Física mais igualitária
do ponto de vista de gênero.
1
$ÿ " nメイÌ ワ " .メ" ÿ~ イ ÿ}n$~$ " メ " Òメ ooイ " =←〒〒→≠" nメィメ【" Ò„イ メ" ÿ~ イ ÿ}n$~メ" nメィメ"
sinônimo de sexo; confusão conceitual entre identidade de gênero e identidade sexual;
o estudo de estereótipos e papéis sexuais como uma possibilidade reduzida de abordar
o$xワ "~ "Ó„イ メ" "$"ÿ~ イ ÿ}n$x.メ" イ " ~メ" メd "ィ oì " " ~メ "~ "Ó„イ メ】"
No entanto, a autora reconhece a importância e a necessidade de novas possibilidades
de aprofundamento deste tema.
2
Trata-se da expressão francesa “mixité”, apropriada pela pesquisadora Daniela Auad em
sua tese de doutorado, a partir dos estudos de Claude Zaidman. Segundo a autora “a
pesquisadora francesa ainda conceitua mixité como a coexistência de indivíduos, membros
de grupos sociais diferentes, no seio de um mesmo espaço social ou institucional” (2004,
p. 150).
130
de extrema relevância. Tais estudos desencadearam considerável
contribuição a determinados setores das Ciências Humanas,
possibilitando a percepção das relações sociais estabelecidas pelas
diferenças percebidas entre o feminino e o masculino. Sendo assim,
“a apropriação dos escritos de Scott e de Delphy permite notar que
as relações de gênero, do modo como estão organizadas em nossa
sociedade, produzem desigualdades” (AUAD, 2010, p. 4).
131
e de relações de poder, as quais nem sempre são explícitas e operam
também por meio do silêncio. Ao mesmo tempo em que ditam o
que é ser uma mulher e um homem, são e podem ser radicalmente
questionadas pelas práticas cotidianas, expressas nas diferentes
linguagens.
3
Expressão utilizada pela autora em sua pesquisa para mostrar como as discriminações de
raça são silenciadas no dia a dia de uma escola de educação infantil, principalmente para
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4
} メ△ィ "&"$ o$" ヨ ÿn$『" メ~$ "$ "$ o$ " " $ィ" $oÿ_$~$ "~ イ メ"~$" $o$"~ "$ o$" "&"
aula prática, todas as aulas que eram realizadas na quadra, com o intuito de manter a
forma como os professores se referiam a este tipo de organização.
132
houve preocupação em entender como alunas e alunos se organizavam
no espaço da sala de aula e da quadra, e como, do ponto de vista
de gênero, os professores interviam ou se omitiam nas formas de
organização e, consequentemente, poderiam ser constituídas múltiplas
identidades dos sujeitos submetidos aos processos de aprendizagem,
nメイ ÿイ~メ"nメ メ "Ó イ ÿ}n$~メ 】""
Em relação à sala de aula, foi possível perceber que não há, por
parte dos professores, consideráveis exigências em relação à forma
de organização no que diz respeito à ordem em que alunas e alunos
deveriam se sentar. Ao chegar à sala de aula, eles/as já possuíam seus
oメn$ÿ " n̅}nメ " メイ~ " $ $ィ" $nメ ィ$~メ ∴$ " $" " $nメィメ~$ 】" #"
nメoì$" oメ "oメn$ÿ "~ "$nメィメ~$x.メ"}n$ $"$"n ÿ • ÿメ"~メ ∴$ " ヨ ÿメ ∴$ "
discentes, fato esse que se apresentou em todas as turmas observadas,
e que proporcionava aos/às alunos/as a possibilidade de se sentarem
de modo que favorecesse as “misturas” (AUAD, 2004).
5
Todas as falas anotadas nos momentos de observação foram transcritas da mesma forma
que foram faladas, com o intuito de manter a originalidade das expressões.
133
criticamente em relação à brincadeira do menino, mas, ao contrário, ao
メ ÿ " "イ.メ" " メ ÿnÿメイ$ 『"メ" メÌ メ " Ìメ xメ "メ" ÿÓイÿ}n$~メ"ÿィ o̅nÿ メ"
na frase dita pelo menino, que de forma debochada demonstrou ser
óbvio que ele gosta de futebol porque é homem, e se não gostasse
estaria brincando de boneca, pois é coisa de menina.
6
Termo utilizado para designar quando alguém está zombando de outrem.
134
diferenciação, utilizando-se de palavras como “alunos” ou “classe”. Para
a autora, “tal neutralidade remete a um discurso no qual se observa
a adoção do masculino genérico” (p. 96), desconsiderando seu sexo,
assim como o masculino e o feminino dos sujeitos. Contudo, Auad
ressalta que as professoras não estavam conscientes de que tal postura
poderia potencializar as diferenças hierarquizadas entre o feminino
e o masculino, pelo contrário, elas acreditavam que tal neutralidade
poderia contribuir para a promoção da igualdade.
135
de atividades em sala de aula) são transformadas
em uma turma inteira de meninos e uma turma
ÿイ ÿ $"~ "ィ イÿイ$ 『" nÿ}n$ィ イ 『"イ$ "$ o$ "~ "
educação física. (DORNELLES; FRAGA, 2009, p.
151-153).
7
Os quais para uma padronização e maior facilidade de compreensão neste ensaio,
~ イメィÿイメ"~ "℃nメイ〈ÿ メ "~ "Ó„イ メ¥】
136
atividade. Para o professor essa atitude é favorável e contribui para a
promoção da igualdade pelo fato de o tempo ser dividido igualmente,
nem meninos e nem meninas teriam maior tempo de vivência. No
entanto, o professor estaria alimentando uma falsa ideia de igualdade,
pois, apesar de oferecer condições iguais de acesso e permanência
na atividade, o professor não considera a convivência igualitária entre
meninas e meninos, separando-os e impossibilitando a promoção da
coeducação.
137
relação ao sexo, fato que também foi observado nesta pesquisa durante
algumas aulas, mas isso acontecia quando os professores aplicavam
uma aula que chamavam de “aula livre” 8. Nessas aulas as/os alunas/
メ " }n$ $ィ" ℃oÿ ¥" $ $" nメoì " $" $ ÿ ÿ~$~ 『" イ~メ" 『" Ó $oィ イ 『"
as meninas escolhiam “jogar” voleibol e pular corda, e a maioria
dos meninos escolhia “jogar” futebol e alguns meninos escolhiam o
basquetebol.
★" ÿoÿ_$x.メ" ~$ " ~ÿÌ イx$ " ~ " nメィ メ $ィ イ メ" イ " ィ イÿイ$ " "
meninos, como se fossem dados essenciais para facilitar a condução
da disciplina na classe e no pátio. Tal prática se mostrava, por exemplo,
イ$"ィメ ÿ $x.メ"~メ "Ó メ "~ "$}イÿ~$~ "イメ" ( ÿメ『" イ~メ"nメィメ"n ÿ • ÿメ"
a separação por sexo entre as crianças, e na organização das salas
de aula em colunas compostas por duplas de meninas e de meninos.
★" n x.メ"~メ "ィ イÿイメ " ィ" イ~„イnÿ$"ィ$ÿメ "$"~メィÿイ$ "メ "Ó $イ~ "
8
“Aula livre” é o nome que os professores atribuíam às aulas em que alunas e alunos não
eram “obrigadas/as” a realizar nenhum tipo de atividade. Na maioria das “aulas livres”
observadas, alunas e alunos se organizavam nos espaços para escolher as atividades
de sua preferência. Porém, não se entende que os/as alunos/as estavam livres para as
escolhas, considerando-se que os aspectos de socialização relacionados à família, mídia
" nメo$"ÿイ〈 イnÿ$ィ"イ $ " nメoì$ 】
138
espaços. Tal traço foi coletado no recreio mediante dois dados: (1)
a existência de jogos mistos com reforço de polaridade e hierarquia
entre o masculino e feminino, como ‘beijo, abraço, aperto de mão’,
‘Menino pega Menina’ e ‘Menina pega Menino’, e (2) a presença dos
meninos em todas as atividades em que era necessário e possível
correr e expressar-se com o corpo de modo amplo.
★" ムn $x.メ" ~ÿÌ イnÿ$~$" ~ " ( ÿメ " " $~ $" oメ " ィ イÿイメ " "
meninas. Isso ocorria no recreio, quando os meninos ocupavam
dois pátios e uma quadra para jogarem futebol. Quanto às meninas,
ocupavam os cantos laterais do pátio, ao pularem elástico, corda e ao
conversarem. Existiam jogos mistos, mas vale notar que os meninos
sempre estavam em todos os jogos de movimento, ao passo que as
únicas atividades do recreio que não implicavam corrida e amplos
movimentos, como passear e conversar, eram desempenhadas
apenas por meninas. Não observei nenhuma atividade de pátio, na
hora do recreio ou na hora da entrada, na qual apenas as meninas
ocupassem espaços amplos da quadra, como é o caso do futebol
para os meninos. Assim, ocorria a separação em grupos de meninos
e meninas nos jogos na escola, como se os próprios jogos agissem
como práticas que ensinassem meninas e meninos que há jogos
barulhentos e agitados a serem realizados pelos meninos, e jogos
discretos e limitados no espaço a serem realizados pelas meninas.
Denomino esse tipo de prática ‘aprendizado da separação’ que
pôde ser observado em vários exemplos na escola.
139
Por outro lado, nas observações das aulas de professores que
$ イ $ $ィ" ィ$" メ $"ィ$ÿ "℃} ィ ¥" $イ メ"&"メ Ó$イÿ_$x.メ"~ " $ "
aulas, foi percebido que nos momentos em que havia maior cobrança
para participação efetiva de alunas e alunos, as meninas participavam
em número muito maior do que nos momentos em que não havia tal
intervenção, independentemente de as turmas serem “misturadas” ou
separadas. Isso reforça a premissa de que as diferenças hierarquizadas
メ~ ィ" ~ÿィÿイ ÿ " ÿÓイÿ}n$ィ イ " $イ~メ" ì(" ィ$ÿメ " メn $x.メ"
e intervenção dos/as professores/as na organização das aulas,
considerando-se, sobretudo, o gênero como uma categoria social, que
permeia as aulas de Educação Física.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
140
★"Eqpuvtw› gu"fg"eqtrqu"igpgtkÝecfqu: os corpos são construídos
nas/pelas práticas discursivas. Nessa perspectiva, o corpo se insere nas
misturas e separações das aulas de Educação Física como um forte
marcador da diferença, produzindo, portanto, desigualdades.
★" Ukngpekcogpvq" fqu" fkhgtgpvgu" eqpÞkvqu" fg" i‒pgtq【" メ " nメイ〈ÿ メ "
de gênero ocorrem nos dois momentos (misturas e separações) de
organização das aulas, no entanto, nas separações eles são menos
evidentes, operam de forma silenciosa. Nas misturas, pelo contrário,
eles ocorrem explicitamente, é fácil percebê-los. A desconsideração
~ " nメイ〈ÿ メ 『" メ " $ •" ィ ィメ" $" イ $ ÿ $" ~ " ÿ (△oメ 『" イ$ " ( ÿn$ "
polarizadas ou não, impossibilita a problematização sobre os processos
históricos que desencadeiam as falsas representações do que é ser
homem e mulher em nossa sociedade, sobretudo, no que diz respeito
às manifestações da Cultura Corporal.
REFERÊNCIAS
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mistas e separadas por sexo nas aulas de Educação Física escolar. In: ROMERO, Elaine
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SOBRE O AUTOR
144
A EXPERIÊNCIA TRANSEXUAL E A ESCOLA1
Dayana Brunetto Carlin dos Santos
1
Este texto é parte da dissertação de mestrado intitulada EctvqitcÝcu"fc"Vtcpugzwcnkfcfg<"
a experiência escolar e outras tramas, defendida em 2010, sob orientação da professora
Dra. Maria Rita de Assis César, pelo Programa de Pós-graduação em Educação da
Universidade Federal do Paraná. Uma versão deste texto encontra-se na revista Bagoas,
v.6, n.7, jan./jun. 2012.
145
mecanismos de controle e agenciamentos biopolíticos engendrados em
conjunto com essa presença na construção da biopolítica educacional.
146
sem que se anulasse a ação sobre cada corpo. Dessa forma, a arquitetura
e a organização espacial dos corpos tornaram-se fundamentais. Para
Alfredo Veiga-Neto:
147
De conhecimentos verdadeiros, tal como eram
entendidos no século XVII, os conhecimentos
passaram a ser separados entre morais e amorais,
ィ" ィ$"メ $x.メ" "no$ ÿ}nメ 『"ìÿ $ ÿ_メ " "
excluiu conhecimentos em nome da produção de
uma subjetividade normalizada.
148
Assim, estabelece-se uma diferenciação entre os sujeitos e,
concomitantemente, sua segregação, entre duas dimensões bem
distintas e caracterizadas, isto é, o normal e o anormal. A diferença passa
$" " ÿイ イ "nメィメ" d ̅~ÿメ" $ $"$"~ÿÌ イnÿ$x.メ" "$"no$ ÿ}n$x.メ】"
Produz-se, dessa forma, uma hierarquia entre os sujeitos fundamentada
em uma aproximação ou distanciamento da norma (FOUCAULT, 2007).
Instaura-se, com isso, a dicotomia entre normalidade e patologia, que
sustenta o funcionamento das instituições disciplinares, propiciando
o cumprimento da sua função de disciplinar e normalizar os sujeitos
(CÉSAR, 2004).
149
saberes criados a serviço do poder tiveram como objetivo principal o
controle do corpo como espécie. Assim, a população constitui-se
de um corpo com múltiplas cabeças que, para ser compreendido, é
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em relação àquilo que se instituiu como norma. Disso, resultam dois
efeitos: o controle das populações e a previsão dos seus riscos (VEIGA-
NETO, 2007a; DUSSEL; CARUSO, 2003).
150
literatura sobre governamentalidade, tais práticas
organizadas, através das quais as pessoas são
governadas e através das quais elas governam
メ $ 『" .メ"~ }イÿ~$ "nメィメ regimes de práticas ou
regimes de governamento, que envolvem práticas
de produção de conhecimento e de verdade
através de várias formas de racionalidade prática e
de cálculo (FIMYAR, 2009, p. 41, grifos da autora).
151
e controle dos corpos escolares pelo empreendimento biopolítico da
escola. A partir de uma ruptura na conformação da sociedade moderna,
por meio de transformações históricas e políticas e também no
funcionamento do poder, a escola disciplinar adquire outros contornos
(CÉSAR, 2004).
152
Dessa forma, para Deleuze, Foucault demonstrou a brevidade das
sociedades disciplinares e a crise que engendrou as relações sociais
a partir da Segunda Guerra Mundial, considerando as atrocidades
empreendidas nos campos de extermínio, como os assassinatos em
massa de judias/eus, ciganas/os e homossexuais, entre outros (CÉSAR,
2004; DUSSEL; CARUSO, 2003). Nesse importante ensaio, Gilles Deleuze
desenvolveu o conceito de “sociedade de controle”, que consiste em
uma ferramenta fundamental para a elaboração das problematizações
sobre essa nova ordenação social, além de ser essencial na discussão
aqui proposta, que toma a escola contemporânea como o lugar sobre
o qual as subjetividades trans se inscrevem.
153
faz dos princípios econômicos (de mercado) os
princípios normativos de toda a sociedade, por
sua vez, transformam o que seria uma sociedade
de consumo numa sociedade de empresa
(sociedade empresarial, ou de serviços), induzindo
メ "ÿイ~ÿ ̅~ メ "$"ィメ~ÿ}n$ ィ"$" n x.メ" " „ィ"
de suas escolhas e atitudes referentes às suas
próprias vidas e às de seus pares, de modo a que
estabeleçam cada vez mais entre si relações de
concorrência (GADELHA COSTA, 2009, p. 177-178,
grifos do autor).
154
No regime das escolas: as formas de controle
contínuo, avaliação contínua, e a ação da
formação permanente sobre a escola, o abandono
correspondente de qualquer pesquisa na
Universidade, a introdução da “empresa” em
todos os níveis de escolaridade (grifos do autor).
155
isso implica a transformação radical do conceito
de conhecimento, que agora dá lugar à noção
de informação como o verdadeiro “objeto"
a ser transmitido segundo algumas regras
ィ メ~メoヨÓÿn$ " n̅}n$ 『"$" ~ n$x.メ"strito sensu
}n$" ~ _ÿ~$"$" ィ$"ィ $" o$dメ $x.メ"ィメ $o】"<】】】>"
Na “pedagogia do controle” não só as normas e
valores morais são pedagogizadas e escolarizadas,
mas também todo e qualquer aspecto da vida
(CÉSAR, 2004, p. 150; 153, grifos da autora).
mメィ" ÿ メ『" $" Ìメ ィ$x.メ" ~ n$nÿメイ$o" " メ} ÿメイ$o" ~メ " ÿイ~ÿ ̅~ メ "
funcionaria como uma estratégia para garantir o aumento da
produtividade tanto no que se refere às empresas quanto aos próprios
indivíduos (GADELHA COSTA, 2009a).
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produzidos pela sociedade de controle constitui-se no ideal regulatório
da própria produção das subjetividades pela escola contemporânea.
Enquanto a escola disciplinar visava à produção de corpos dóceis, úteis e
produtivos, a escola do controle objetiva a produção de trabalhadoras/
157
es conectadas/os, competitivos/as e motivados/as. Essa subjetividade,
para Gilles Deleuze alterna-se continuamente, na forma daquilo que o
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" n$ィdÿ$イ 『"メ" " メ ÿdÿoÿ $" $" ÿイ イ ÿ}n$x.メ"~メ" nメイ メo "=}‒n‒  ̄‒『"
1992). Nesse sentido, para Maria Rita de Assis César e André Duarte
(2009, p. 127):
158
orgânico, mas cibernético, pós-orgânico, pós-
humano; por outro lado, um indivíduo cuja
identidade, cujo Eu, cujas maneiras de pensar, de
agir e de sentir, já não são, apenas e tão somente,
constituídos por uma normatividade médico-
psi, mas cada vez mais produzidos por uma
normatividade econômico-empresarial (GADELHA
COSTA, 2009, p. 180, grifos do autor).
159
Na pedagogia do controle, as fronteiras entre a/o má/mau e
$∴メ" dメ$∴dメィ" $o イ$∴メ" .メ" ~ }イÿ~$ " メ " ィ" $Ì$ $ィ イ メ" ~メ" nメ メ"
indesejável e delimitadas principalmente pelo estreitamento da relação
イ "$" ~$ÓメÓÿ$" "$" ÿnメoメÓÿ$】"#" nメo$"nメイ ィ メ *イ $"ÿイ イ ÿ}nメ "
suas interações com a psicologia, procurando preencher a lacuna que
se formou com a crise de sentidos na qual está inserida.
160
Em relação às/aos travestis e transexuais, a experiência de
visibilidade que se instaura a partir da pedagogia do controle é a
do excesso, pois são corpos e identidades para os quais não existe
nem mesmo a possibilidade da existência do armário. Embora sejam
múltiplas e apresentem várias nuances, as experiências travestis e
transexuais são engendradas para fora dos limites do armário, porque
travestis e transexuais fabricam seus corpos e identidades fora do
armário, isto é, nas ruas, nas pistas, nas calçadas. O olhar inquisidor
e escrutinador sobre os corpos e identidades trav e trans constrói um
aparato acusatório para essas personagens. Entretanto, nem mesmo
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olhares sobre esses corpos parece se assemelhar mais a um olhar de
amplo alcance, que penetra a vestimenta, desnudando esses corpos
e chegando até a sua genitália. O olhar lançado a esses sujeitos é um
olhar genitalizado que irá inquirir sobre a desconformidade entre corpo
e genitália.
161
preocupação com esse comportamento desviante consiste no medo
de que a criança “seja”, ou “se torne” lésbica ou gay (BENTO, 2008,
p. 129). Em geral, a intervenção se dá por meio de um movimento
de recondução à heterossexualidade. Com isso, a correção do desvio
transforma-se em uma espécie de meta a ser cumprida a qualquer
custo (BRITZMAN, 1996).
162
pela própria produção regulatória, desestabilizam a escola e perturbam
a nova ordem das coisas. Esses efeitos determinam, muitas vezes, a
rejeição e a exclusão desses sujeitos, justamente porque se produzem
fora da norma e fogem ao controle (CÉSAR, 2009a).
ィ"~ $}メ" $ $"$" ~ n$x.メ" " $ $"$" nメo$"nメイ ÿ ÿ ÿ$" ィ" メn $ "
alternativas para se pensar a diferença e a multiplicidade, como uma
expressão da alteridade (ARENDT, 1987; VEIGA-NETO, 2007a). Talvez
assim se possa traçar meios para resistir e escapar aos tentáculos do
“monstro do controle”. Com isso, talvez, a educação se constitua em
uma possibilidade, como um ato político de resistência e liberdade,
ィ" ィ ÿメ" & " ÿイn _$ " " &" 〈 ÿ~ _『" メ~ _ÿイ~メ" ィ" イÌ イ $ィ イ メ" &"
pedagogia da tolerância.
163
a escola as acolha, com seus nomes sociais, por exemplo. A demanda
dos movimentos sociais de travestis e transexuais para terem seus
nomes sociais nas escolas pode ser interpretada como um desejo de
enquadramento na norma heterossexual e nas normas de gênero. Por
outro lado, a presença trans nas escolas, tendo em vista a normatização
do utilização do nome social nos registros escolares aumentou
consideravelmente essa presença trans nos espaços escolares.
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uma “terrorista do gênero”. Assim, os/as nossas
quatro “personagens-intervenções o/a são”, pois
subvertem [sic] a ordem normalizada do gênero,
do desejo, da família nuclear, das formas de
maternidade e paternidade, cada um ou uma
ao seu modo, todavia todos/as subvertendo os
pressupostos da heterossexualidade compulsória,
sendo terroristas da norma heterossexual. Nesse
sentido, terrorista tem um sentido libertador e
libertário, como [sic] é a personagem Agrado,
que nos retira de um centro, ou de uma norma
internalizada e naturalizada que é uma ordenação
heterossexual do mundo e de uma lógica que
164
contém simplesmente dois gêneros/sexos, o
feminino e o masculino (CÉSAR, 2008, p. 6, grifo
da autora).
# ÿィ" nメィメ" #Ó $~メ『" } ~ÿ$イ " メ _$『" " " ~ }イ " nメィメ" $ ÿ『"
negra, nordestina e da periferia, adotou um nome que termina com a
letra “e”, que, segundo ela, traduz a sua ambiguidade, pois não termina
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que veio ao mundo para “causar” e que não tem o menor desejo de
alterar seu nome nos documentos e que, mesmo que faça a cirurgia
de transgenitalização, construindo uma neovagina, jamais deixará de
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tensões diante da presença trans e trav na escola sejam produtivos e
necessários para que se faça uma educação como prática de liberdade.
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∴"←〒 ì"m イ "Ëメ "Ëÿoィ"}ÿ ÿd ÿイÓ『"→⊇⊇⊇】"→"}oィ "=→〒→"ィÿイ≠『" メイメ メ『"o Ó イ~$『"nメoメ 】
SOBRE A AUTORA
167
ESTUDOS
SOBRE CORPO E
DIFERENÇA
3ª Intersecção
A NORMALIDADE EM SUSPEITA – OU
QUANDO A DIFERENÇA JOGA NO LABIRINTO1
1
Este artigo foi apresentado no 4.o Seminário Brasileiro de Estudos Culturais em Educação
e 1.O Seminário Internacional de Estudos Culturais e Educação, realizado na Universidade
Luterana do Brasil - ULBRA, campus Canoas, em maio de 2011, bem como foi publicado
nos Anais do referido evento sob o ISSN 22363491 (NOGUEIRA, 2011). Originalmente, o
メ"Ì$_" $ "~ "ィÿイì$"~ÿ $x.メ"~ "ィ $~メ"= þ#m‒`『"←〒〒↓≠】"
171
Projeta-se para os que nascem2, nestes nascimentos que se querem
cabíveis no padrão (estético, de peso, de altura, de perímetro cefálico,
~ " イメ $ " メd " 〈 メ" n" ▲" イ$ n ィメ " イ~メ" ィ ~ÿ~メ −≠『" $" oヨÓÿn$" ~メ"
mundo normal, por toda a vida. Amorosamente3, são oferecidos, aos
que nascem - porque parecem tão frágeis -, os saudáveis cuidados, a
canônica pedagogia, a familiaridade do espaço-tempo geometrizado.
E assim, os que nascem vão se tornando inteligíveis, interpretados,
categorizados, explicados pelo olhar-Mesmo que, desde muito, tem
apagado que
2
Aliás, mesmo antes do nascimento, um conjunto de práticas de saber/poder intercepta
o corpo no momento, por exemplo, em que se produz a dicotomização (ainda no
ventre materno, ou antes até) masculino X feminino (impondo modos de existência se
se é menino ou se se é menina), bem como quando dispositivos tecnológicos medem,
no$ ÿ}n$ィ"メ"Ì メ『"Ì$d ÿn$イ~メ『" メ $イ メ『"メ"nメ メ"ィ•~ÿメ"△"メ "Ìメ $"~$"ィ•~ÿ$】
3
A herança moderna do ideário da família burguesa - alicerçada no modelo heterossexual,
monogâmico, unicelular e centrada no individualismo, na privacidade e na promoção
do afeto – vai dar a tônica para a discursivização da infância. A construção cultural
do corpo pueril (como invenção legitimada fortemente no contexto europeu e, por
conseguinte, ocidental, do século XVIII) vai possibilitar a arquitetura de estratégias de
$d " " メ~ " n̅}n$ " ィ" メ イメ" ~ " イメ メ" メdY メ" ~ÿ n ÿ メ" ÿイÌ$イ ÿo『" ヨ ÿn$ " "
práticas estas que foram acolhidas como verdade e conquista indiscutíveis e que têm
Y ÿ}n$~メ" $" イ n ÿ~$~ " ~メ " n$oメ メ メ " n ÿ~$~メ " " ~$ .メ" $" イ n ( ÿ$" ~ n$x.メ『" $"
necessária vigilância, a necessária higiene, a necessária moralização às crianças. Desde
este dispositivo de infantilização, as crianças são tidas “como um grupo de status
especial, distinto dos adultos, com suas instituições especiais próprias, como as escolas,
e seus próprios circuitos de informação, dos quais os adultos tentaram excluir, de modo
crescente, o conhecimento sobre o sexo e a morte. [...] Não há dúvidas de que, entre
→∈∈〒" " →⊆〒〒『" $nメイ n $ィ" ィ ~$イx$ " ÿÓイÿ}n$ ÿ $ " イ$" ( ÿn$" ~ " n ÿ$x.メ" ~$ " n ÿ$イx$ 『"
$ ÿn o$ ィ イ " イ " $" $o $" d Ó ÿ$" " メ " メ} ÿメイ$ÿ " oÿd $ÿ 】" ム " n ÿ メ " $ $~メ "
deram lugar a roupas soltas, amas-de-leite pagas à amamentação materna, a dominação
da vontade pela força à permissividade, a distância formal à empatia” (STONE, 1979
apud ZILBERMAM, 1982, p. 7-8). Em nome de um amoroso amparo, se engenhou
uma “ortopedia da infantilidade” e, para a benesse das crianças, se formou uma
“aliança entre todas/os as/os governantes d’alma – mães, pais, padrinhos, madrinhas,
sacerdotes, médicos/as, pedagogas/os, psicanalistas- que controlarão [as crianças] em
sua idoneidade; fracionarão suas condutas e seu tempo; castigarão e recompensarão seu
corpo; produzirão sua verdade” (CORAZZA, 1998, p.130).
172
cumprimento de um desejo, do complemento
de uma carência ou do reaparecimento de uma
perda. É um outro enquanto outro, não a partir
daquilo que nós colocamos nela. É um outro
porque sempre é outra coisa diferente do que
podemos antecipar, porque sempre está além do
que sabemos, ou do que queremos, ou do que
esperamos. Desse ponto de vista, uma criança é
algo absolutamente novo que dissolve a solidez
do nosso mundo e que suspende a certeza que
nós temos de nós próprios. Não é o começo de
um processo mais ou menos antecipável [...]. Não
é o momento em que colocamos a criança numa
relação de continuidade conosco e com nosso
mundo (para que se converta em um de nós e
se introduza em nosso mundo), mas o instante
da absoluta descontinuidade, da possibilidade
enigmática de que algo que não sabemos e que
não nos pertence inaugure um novo início. Por
isso, o nascimento não é um momento que se
possa situar numa cronologia, mas aquilo que
interrompe toda cronologia (LARROSA, 2001,
p.187).
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que nascem, a tal ponto que captura as singularidades incômodas,
permite apenas aquelas que oscilem na média: as singularidades
medianas, medíocres. E os que nascem vão sendo pasteurizados em
uma identidade humana, em uma natureza humana - o universal
humano – a partir da tão íntima mesmidade. Mas no limiar dessa
(congelada) subjetividade, dessa reconhecível-humana-identidade,
sempre escapam resíduos inexplicáveis – diferenças – que aqueles
nascimentos-irreconhecivelmente-humanos insistem em evidenciar. Aí,
para mais uma vez apagar a instabilidade, as fraturas da identidade,
o olhar-Mesmo inventa sua normalidade traduzindo esses meio-
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digeríveis à fome da norma, mais próximos da ordem.
173
não romperam com a episteme4 do legitimado centro que sempre diz
sobre a periferia, que discursa, inventa um periférico proveniente de
sua centralidade, ignorando que há o(s) ex-cêntrico(s)5, que há o fora
do seu centro, sem relação com o seu centro (relação que acontece
quando se fala de periferia); não romperam com a episteme da “maioria”
4
Este conceito, teorizado por Michel Foucault em As Palavras e as Coisas, refere-se
ao solo geral de princípios e regras a partir do qual cada época pôde produzir certos
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pensar e praticar o mundo. Num movimento arqueológico, pois, Foucault argumenta sob
quais jogos de verdade (epistemes) o pensamento ocidental - da era da semelhança que
perdurou até o século XVI, passando pelo fundamento da representação do pensamento
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certos saberes. A partir desta escavação foucaultiana, é possível “ler” as condições em
que se formam os domínios do saber que fundamentam o “óculos” com o qual olhamos/
somos olhados, inserimo-nos/somos inseridos a/na existência; arqueologia esta que
nos afasta da cilada de querer encontrar uma verdade demonstrável objetivamente
por meio do descobrimento/desnudamento de um dado real pronto, que estava “ali”
cristalizado. Assim, quando falo de episteme, estou me reportando ao que Foucault
denominou de “epistémê moderna”, a nossa episteme, que, nos interstícios do projeto
da máthêsis e da taxionomia da episteme clássica, projetou saberes que até então nunca
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existir como objeto cognoscível e representável. Assim diz Foucault: “As conseqüências
[...] do acontecimento fundamental que sobreveio à epistémê"メnÿ~ イ $o" メ " メo $"~メ"}ィ"
do século XVIII, podem assim se resumir: negativamente, o domínio das formas puras
de conhecimento se isola, assumindo ao mesmo tempo autonomia e soberania em
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formalizar o concreto e de construir, a despeito de tudo, ciências puras; positivamente,
os domínios empíricos "oÿÓ$ィ"$" 〈 ワ " メd "$" dY ÿ ÿ~$~ 『"メ" "ì ィ$イメ" "$"
}イÿ ~ ” (FOUCAULT, 2000, p. 342, grifo meu). “A unidade da máthêsis é rompida” (Ibid.,
p.340) e o grande traço dessa ruptura, portanto, é que o pensamento do século XVII
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os conhecimentos, unindo-os pela representação, serve agora, nas aspirações modernas,
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origem tanto do objeto do conhecimento quanto do sujeito que o conhece: o homem
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5
þィ メ $イ " $o $ " " $" }Ó $" Ó メィ• ÿn$" excêntrica (HOUAISS; VILLAR, 2001) diz
respeito àquelas esferas cujos centros não coincidem, o que faz com que uma não dependa
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se interceptam, quer dizer, um está contido no outro. Nesta aproximação, quero dizer
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trabalho funda-se na compreensão de que esta outridade, sua diferença/excentricidade
não é um desvio do centro-fundante-originário da mesmidade. Por outro lado, pela
idéia do excêntrico, também quero reconhecer que as subjetividades se interceptam e é
exatamente por essas intersecções que se constituem. Reconhecer essa relação imanente
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mera oposição entre Mesmo e Outro, entre Normal e Anormal, à questão da diferença
interessa, sim, problematizar como se tece, em diferentes aparatos de saber-poder, a
relação entre o normal/centro e o anormal/excêntrico.
174
que sempre explica a “minoria”, ou seja, não romperam com a “prática
milenar do Mesmo e do Outro”, nessas “familiaridades do pensamento –
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2000, p. IX).
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Jorge Luis Borges e ao diálogo, então, com um conto que conduz ao
ponto de vista daquele que nasceu insólito. Não é, portanto, tal como
já nos familiarizamos, o ponto de vista do que nasceu espelhando o
habitual falando sobre aquele nascido inopinado/ inoportuno. Este
texto, chamado A casa de Astérion, traz a voz de um ser estranho-
indistinguível-singular-solitário – Astérion – narrando sua estranha-
indistinguível existência numa casa estranhamente-indistinguivelmente
descrita. Somente nas últimas linhas do conto, quando o foco narrativo
muda, concedendo voz ao reconhecível Teseu, é que nós leitores,
pelo já assimilado/normalizado ponto de vista deste herói mitológico,
recuperamos que Astérion é o Minotauro e que sua casa é o labirinto.
Borges prefere o desconhecido Astérion ao invés do conhecido/
rotulado Minotauro, porque daquele quase não se tem referência
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pelo pensamento da mitologia ocidental. Por isso, Astérion é mais
potencialmente outro. Nele não há sentidos fechados de captura de
sua diferença-monstruosa e, por essa razão, nós, leitores, acostumados
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vez que Astérion não nos foi seguramente nomeado, não podemos,
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no último fragmento, quando somos informados de quem se trata a
história, o desconcerto não alivia, visto que não conseguimos mais
distinguir aquela conhecida, redutível e explicável monstruosidade. E,
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dado. Astérion está sendo, no conto, algo que não conseguimos bem
precisar. Por estar sendo o inominável que Borges o escolheu, porque
175
Em A casa de Astérion, não encontramos aquela criatura que
precisa ter sua aberração aniquilada para que possamos ver ressaltada
$" }Ó $" ~メ" dメィ『" nメ $Yメ メ" " ì ィ$イメ" 】" ァ oìメ 【" ィ" A casa de
Astérion"イ.メ"ì("$d $x.メ" "Y ÿ} 『" "nメイÌメ 『" " oÿ "メ"
aniquilamento, pois ao voltar da missão do assassinato, “quando o sol
da manhã reverberou na espada de bronze” e quando “já não restava
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minotauro mal se defendeu”.
6
Defendo que, embora os olhares sobre o monstro não pareçam os mesmos, eles
carregam, ainda que por diferentes discursos e práticas ao longo das épocas, a ambição
unicista, sim, de supressão da monstruosidade, seja na eliminação explícita referendada
nos modelos de exclusão, seja nas estratégias de colonização/normalização referendadas
nos modelos inclusivos.
176
adquirido: é imprescindível não questionar a nossa
identidade de homens reais. A nossa facticidade
é de direito. O “monstro” constitui assim uma
espécie de operador quase-conceptual que,
embora inquietando a razão, permite convencer
que a existência do homem é produto de uma
necessidade: em resumo, que o real humano é
racional. (GIL, 2000, p.174-175)
7
“A multiplicidade não tem nada a ver com a variedade ou a diversidade. A multiplicidade
é a capacidade que a diferença tem de se multiplicar”. (SILVA, 2002, p. 66)
177
A Casa de Astérion não enfatiza o monstro-híbrido na oposição com
o humano-puro, mas promove o encontro com um devir-Minotauro. A
diferença monstruosa, em Borges, apresenta-se para além do desvio da
norma. Sua diferença é errante e descreve, no labirinto, um tempo sem
lei, um tempo incompreensível. Sua diferença-monstruosa é brincante,
inventiva, imprevisivelmente replicante. É diferença que se reduplica
e torna-se múltipla, num espaço que vertiginosamente prolifera, num
espaço indecifrável.
178
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com a mesma ambição que este nosso tempo tem erguido reclames de
atenção às alteridades postas como anormais: para mim, esses discursos
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da normal-mesmidade retornar ainda mais satisfeita consigo sobre sua
humana capacidade de acolher, tolerar e hospedar os estranhos; uma
possibilidade de massagear o seu ego que pretende ser tão fraternal.
179
qual não é possível situar um fora e um dentro, “e não tem anverso
nem reverso, nem extremo muro nem secreto centro” (BORGES, 1984)
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labirinto diz de um espaço (do) outro que jamais pode ser ajustado,
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de ordem, de claridade, de unidade, de previsibilidade que pertence
ao pensamento racional. Por isso, essa outra espacialidade diz que
seu habitante – a diferença monstruosa - ocupa sempre a fronteira, a
dobra, a fenda que nunca poderá ser demarcada com base na oposição
binária da espacialidade da mesmidade. Posto assim, a espacialidade
do outro - simbolizada no labirinto, na casa de Astérion – recusa
os enclausuramentos centro/margem, familiar/estranho, normal/
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イ $" } $ " メ" メ メ】" #" ィメイ メ ÿ~$~ " ~メ" ァÿイメ $ メ" ì$dÿ $『" メÿ 『" メ"
espaço móvel da différance ~ "} ÿ~$【" $"~ÿÌ イx$"•"ÿイno$ ÿ}n( o『"
qualquer tentativa de situá-la numa rígida distinção frustra a coerência
do raciocínio normal, pois é constituída de uma imanente potência
diferenciadora. É diferença em permanente diferenciação.
Por ser esse sempre por-vir, porque será todas as vezes o que não
se conseguirá prever, é que precisei perambular num texto que (nos)
expusesse (a)o olhar da alteridade. Precisei disso para suspeitarmos
acerca do olhar sobre a alteridade. Na literatura de Jorge Luis Borges é
o monstro, o anormal, o outro quem (nos) olha. É o monstro, o anormal,
o outro quem (nos) expressa.
180
ィ ィÿ}n$~メ"イメ"nメ メ"~ヨnÿo『"ÿイメn イ 『" メ『" $ ÿ メ" "= ィ" メ nメ≠" ÿo"
pelos discursos contemporâneos de inclusão - forma uma mitologia
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espaço convergentes para o tempo e o espaço da normalidade. Precisei
ィ " イ $ÿ$ "~ $"ィ$イ ÿ $『" イ}ィ『" $ $"$ ÿ n$ "~ÿ_ " "イメ $"• メn$『"
talvez, esteja brilhando, no sol dessa manhã das (politicamente corretas
e aplaudidas) retóricas inclusivas, sua “espada de bronze”, sem deixar
qualquer vestígio do sangue que tem vazado do outro.
# ÿィ『"$ÿイ~$" "~ÿ$イ "~ $"} $x.メ" " メÌ ィメ " o$"$o ÿ~$~ "
- talvez porque precisamos referendar a nós mesmos - que a
experimentação deste texto nos leve a
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estério(tipos). De tipos estéreis, cópias do Idêntico. Que tanto quanto
possível resistamos ao desejo colonizador de inventar o outro como
o personagem principal da cena que conforta a normalidade. Que
o deixemos fora-do-ar. Na sua errância. Na sua vagabundagem. No
seu devir-louco. No seu devir-débil. No seu devir-monstro. No seu
incontrolável devir-outro.
REFERÊNCIAS
BORGES, Jorge Luis. A Casa de Astérion. In: ______. O Aleph. São Paulo: Globo, 2001.
CORAZZA, Sandra Mara. A Roda do Infantil. Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 23,
n.1, p.87-141, 1998.
181
FOUCAULT, Michel. As Palavras e as Coisas. 8 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
þ#m‒`『" X o$ÿイ " ~ " Ë( ÿィ$" アメÓ ÿ $】" Fora do ar, o devir-outro. E, na mídia, a (d)
}nÿ„イnÿ$" ィ"n イ$" ィ"ィ$ÿ " ィ" メÓ $ィ$" $ $"イメ ィ$oÿ_$ "$"~ÿÌ イx$. Dissertação
(Mestrado em Letras) - Universidade Estadual de Maringá, Maringá, 2004.
SOBRE A AUTORA
182
SOBRE VAMPIROS E OUTROS
MONSTROS SEXUAIS1
Jamil Cabral Sierra
1
Este texto é resultado de alguns excertos de minha dissertação de mestrado, intitulada
“Homossexuais, Insubmissos e alteridades em transe: representações da homocultura na
mídia e a diferença no jogo dos dispositivos contemporâneos de normalização”, defendida
em agosto de 2004, no Programa de Pós-graduação em Letras, da Universidade Estadual
de Maringá – UEM.
183
O corpo de Jonathan é mais tarde encontrado
pelo seu grande amigo, o famoso médico Van
Helsing, que encontra também o diário em que
o rapaz escreve suas suspeitas sobre Drácula.
Van Helsing leva a notícia da morte de Jonathan
à Lucy, noiva do assassinado. Ela está doente, de
cama, e Van Helsing logo descobre qual é seu mal.
Claramente visíveis no pescoço da moça aparecem
as reveladoras marcas de presas de vampiro.
Drácula vingou-se atrozmente da morte de sua
escrava.
Artur Holmwood, irmão de Lucy, ordena a Van
Helsing que se retire da casa. Acredita que o
médico é, de alguma maneira, responsável pela
morte misteriosa de Jonathan. Pouco depois,
Lucy falece, após Van Helsing ter ido novamente
à residência dos Holmwood e ordenado à mulher
de Artur, Mina, que se trancasse todas as janelas
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em todos os cantos da casa, para afugentar os
vampiros. Artur torna a acusar o cientista.
É somente quando Artur vê sua irmã ressuscitar,
que Van Helsing consegue convencê-lo do que
aconteceu. Artur encontra Lucy perto da sua
sepultura, e ela tenta beber-lhe o sangue. Van
Helsing chega justo a tempo de impedi-la, e,
juntos, os dois homens perseguem-na até o seu
túmulo. Para salvar-lhe a alma, ambos sabem a
coisa horrível a fazer. Apelando para toda a sua
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no coração da moça, rompendo assim o domínio
ィ$o•}nメ"~ "} (n o$】
Artur Holmwood está decidido a ajudar Van
Helsing na missão de destruir Drácula. O médico
lembra que um esquife foi levado da casa de
Drácula, momentos antes de ele descobrir o corpo
de Jonathan no mausoléu de Drácula. Obviamente,
o esquife terá de cruzar a fronteira, onde terá
também que ser declarado o seu destino. Os dois
homens correm para a fronteira, descobrem o
endereço do agente funerário que se encarregou
do esquife e seguem para lá. Mas o caixão está
vazio. Drácula fugiu.
Van Helsing e Holmwood voltam e descobrem
que, nesse meio tempo, o Conde, aproveitando-
se da ausência deles, esteve na casa de Artur.
Mina, sozinha e dormindo no seu quarto, é a
184
última vítima do monstro. Mas, enquanto Mina
estiver viva, ainda poderá ser salva. Van Helsing
e Holmwood montam guarda, esperando pela
volta de Drácula. Mais uma vez, porém, o vampiro
consegue ludibriá-los e penetra na casa escondido
dentro de um caixote. Só muito mais tarde é que
Van Helsing e Holmwood descobrem que ele fugiu
carregando Mina consigo.
Os dois perseguem-no e atravessam a fronteira
para ir ao seu castelo solitário. Se Drácula conseguir
ganhar um pouco de tempo, ele e a moça podem
permanecer enterrados vivos durante séculos,
para depois atacar futuras gerações. Van Helsing
e Artur alcançam-no quando ele está preparando
uma sepultura para Mina.
Ao ver Van Helsing correr para ele, Drácula foge
pelo castelo, abrigando-se nas suas catacumbas.
Van Helsing persegue-o de perto e o alcança no
momento em que ele está abrindo um alçapão
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ajudá-lo, Van Helsing força Drácula a expor-se a luz
do sol que desponta, depois de haver arrancado
as pesadas cortinas do recinto. O vampiro se
contorce e grita de agonia e, em seguida, exposto
à luz, cai por terra e desintegra-se. Um pequeno
monte de poeira cinzenta é tudo o que resta do
vampiro que, por 600 anos, vinha alimentando-se
do sangue de inocentes. E, com a sua morte, Mina
volta ao mundo dos seres mortais, libertada para
sempre do poder satânico do terrível Drácula.2
2
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baseado no romance “Drácula” (1897), de Bram Stoker, livro que deu origem ao roteiro
não só desta, mas de uma série de películas sobre o conde Vlad, cuja a mais famosa é a
do diretor Francis Ford Coppola (Dtco"UvqmgtÓu"Ftcewnc. 1992). Esse resumo foi extraído
do livro Drácula (2003, p.25-27), editado pela Martin Claret.
185
do centro, estranha, não-familiar, tão assustadoramente repulsiva
como sedutoramente atraente... Depois, porque há, na construção da
personagem de Drácula, uma dimensão homoerótica3 bastante forte,
que parece acentuar ainda mais a sedução que o monstro de Bram
Stoker exerce sobre as/os (tele)leitoras/leitores.
3
Digo que há uma atmosfera homoerótica nas narrativas sobre o conde Drácula, uma vez
que o subtexto homossexual vaza em momentos de aparição de personagens lésbicas,
nメィメ" イメ" " }oィ " ~ " mメ メo$『" メ " ~ " o$xワ " $Ì ÿ $ " d$ $イ " Ó ÿ $ " イ " ~メÿ "
vampiros, como é o caso de Lestat e Louis『"ÿイ $~メ "イメ"}oィ "~ "ア ÿo"Xメ ~$イ" メ "
メィ"m ÿ " "c $~" ÿ 『" o$x.メ" $" "イ$"} $"$ $ n " ィ" メ nメ"$ イ $~$『"ィ$ " "イメ"
livro de Anne Rice, Entrevista com o vampiro (1976), é explorada com muito vigor. Aliás,
segundo Cohen (2000, p. 28), “Anne Rice deu ao mito [de Drácula] uma reescrita moderna,
na qual a homossexualidade e o vampirismo foram reunidos de forma apoteótica [...]”.
186
suas presas no pescoço de um homem para mostrar, eroticamente, os
excitantes jogos de prazer nos quais ele se deixa envolver para seduzir
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correto, do aceitável, do normal, do humano. E a vítima parece abrir-se
para esta existência excêntrica, parece querer este prazer estranho que,
sensualmente, se insinua como convite a ela.
187
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criaturas anormais que precisam ser corrigidas, exterminadas, mesmo
que, teimosamente, a cada tentativa de eliminação, os monstros
escapem, para voltar depois a atormentar a seguridade do que se pensa
que se é. É esse jogo que seduz. É saber que por mais que se esbraveje
contra o monstro, ele vai estar sempre ali, na espreita, piscando para
nós, irresistivelmente, atraente.
188
ao invés de assumir que diferimos intra (já que o interior de cada
identidade também é repleto de fendas) e interculturalmente e sempre
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como parte doente do mesmo, do igual, por isso passível de cura,
de conserto, de re-ajustamento ao conjunto normativo estabelecido
o$" $nÿメイ$oÿ~$~ "ィメ~ イ$】" Y$ィ" "イ.メ"•『"~ }イÿ ÿ $ィ イ 『"~ $"
diferença que falo. Penso, isso sim, na diferença entendida como
ponto anômalo ao sistema construído como verdadeiro, um não lugar,
portanto, destituído da norma, impossível de ser corrigido e de ter seu
〈 メ" $イn$イ~メ『" メÿ " $ "~ " ィ$"メ $"oヨÓÿn$『"$メ"nメイ ( ÿメ"~メ" "
supõe a relação diferença = anormal, pois por anormalidade concebe-
se aquilo que é irregular, desviante, desabitual, marginal, de um MESMO
sistema. Por isso estou de acordo com SILVA (2002, p. 65) quando ele
diz que a “diferença é mais da anomalia que da anormalidade: mais
que um desvio da norma, a diferença é um movimento sem lei”, porque
a diferença não é, ela está (sempre e misteriosamente) sendo. Assim,
insisto no sentido pós-estruturalista de diferença, que a concebe como
produto linguístico e totalmente externa ao conjunto, fora, portanto, da
ordem e do pensamento que se engravidou da norma.
189
Por isso, concordo com Derrida quando ele diz que:
4
É importante frisar aqui que não estou entendendo “diferença” simplesmente como
$" イ Ó$x.メ" ~ " ィ" ℃‒ ¥" ィ" o$x.メ" $" ィ" ℃ム メ¥『" Y(" " $ィdメ " イ.メ" .メ" ÿÓイÿ}n$xワ "
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contínuos e ininterruptos de diferenciação, inclusive não só entre um “Eu” com um
“Outro”, mas entre um “si mesmo”. A diferença seria, então, este ser que (por estar
sempre em devir) nunca é.
190
o doutor ainda se alia aos poderes religiosos (cruz, água benta, fé, numa
referência à memória discursiva judaico-cristã) na luta para acabar com
} (n o$】"ム"nÿ イ ÿ $" イ $『"$ ÿィ『" メ~メ"メ"$ $ $ メ"ィ•~ÿnメ△nÿ イ ̅}nメ"
de tentativa de normalização da diferença, todo o mecanismo que faz
existir e, ao mesmo tempo, tenta extinguir o diferente.
REFERÊNCIAS
COHEN, Jeffrey Jerome. A cultura dos monstros: sete teses. In: SILVA, Tomaz
Tadeu. Pedagogia dos Monstros. Os prazeres e os perigos da confusão de
fronteiras. Belo Horizonte: Autêntica, 2000. p. 24-60.
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Habitantes de Babel. Belo Horizonte: Autêntica, 2001. p. 105-118.
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SOBRE O AUTOR
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ANALOGON
Luciana Ferreira
193
SOBRE A AUTORA
194