Você está na página 1de 5

Disciplina: Direito Constitucional

Professora: Ana Karoliny

Hermenêutica e Princípios de Interpretação Constitucional

1. Interpretação da norma constitucional

1.1. Interpretação e hermenêutica

As Constituições devem ser interpretadas, função essa atribuída ao


analista que buscará o real significado dos termos constitucionais.
Tal função é extremamente importante, na medida em que a
Constituição dará validade para as demais normas do ordenamento jurídico.
Assim, devemos decifrar o seu verdadeiro alcance, a fim de sabermos, por
consequência, a abrangência de uma norma infraconstitucional.
O hermenêutica, dessa forma, leva em consideração a história,
ideologia e realidade social, economia e política do Estado, definindo o
verdadeiro significado do texto constitucional.

2. Princípios condicionantes da interpretação constitucional

2.1 Princípios de Interpretação Constitucional

Sendo a hermenêutica constitucional uma hermenêutica de


princípios, é inegável que o ponto de partida do interprete há de ser os
princípios constitucionais, que são “o conjunto de normas que espelham a
ideologia da Constituição, seus postulados básicos e seus fins”, assim, os
princípios constitucionais são as normas eleitas pelo constituinte como
fundamentos ou qualificações essenciais da ordem jurídica que institui.
Assim, adentraremos no estudo dos princípios de interpretação das
normas apontados pelos teóricos dos Direito Constitucional.

1) Princípio da unidade – ao interpretar a Constituição devemos


levar em conta que ela é um todo coerente e coeso, devendo o intérprete
procurar harmonizar todas as suas normas de forma a não estabelecer
contradições;

2) Princípio da supremacia constitucional - o intérprete deve


levar em conta que a Constituição está no topo do ordenamento jurídico e é o
fundamento de validade de todas as outras normas, sendo assim nenhuma lei
pode contrariá-la, formal ou materialmente, sob pena de ser considerada
inconstitucional;

3) Princípio da máxima efetividade – a Constituição não


estabelece normas supérfluas, todo intérprete deve buscar o máximo dos
efeitos da Constituição;

4) Princípio da harmonização – uma vez que todas as normas


constitucionais estão no mesmo patamar hierárquico e devem ter máxima
efetividade, ao interpretar a Constituição devemos buscar harmonizar
antinomias aparentes de forma proporcional;

5) Princípio do efeito integrador – a Constituição deve ser


interpretada de forma a estabelecer critérios e soluções que reforcem o seu
papel de principal norma nas relações sociais;

6) Princípio da força normativa da Constituição – a


Constituição deve ser interpretada da maneira mais efetiva e atual possível
quando diante de um caso concreto, ou seja, a norma quando aplicada deve
solucionar o problema real;

7) Princípio de Interpretação Conforme a Constituição – se


constitui fundamentalmente num mecanismo de controle, eis que sua principal
função é assegurar um razoável grau de constitucionalidade das normas no
exercício de interpretação das leis.

8) Princípio da conformidade funcional – o intérprete não pode


contrariar a distribuição explícita da repartição de funções estatais
estabelecidas pelo Constituinte;

9) Princípio da Razoabilidade e Proporcionalidade – em


essência, consubstancia uma pauta de natureza axiológica que emana
diretamente das ideias de justiça, equidade, bom-senso, prudência,
moderação, justa medida, proibição de excesso, direito justo e valores afins;
procede e condiciona a positivação jurídica.
ESTUDO DE CASO

O Estado do Tocantins publicou edital no Diário Oficial do Estado de


concurso público para o preenchimento de vagas para o cargo de policial. Uma
das provas é a realização de testes físicos e um dos testes exige que os
candidatos façam a seguinte atividade: “Flexões abdominais: consiste em o
candidato executar exercícios abdominais, por flexão de braços, deitado em
decúbito ventral, em um maior número de repetições dentro de suas
possibilidade, no período de um minuto, obedecendo à tabela de pontuação
abaixo: ...”
Em função da redação incoerente do texto desse teste, o Estado
publicou uma errata do edital no mesmo órgão oficial de imprensa, duas
semanas antes de iniciarem as provas, com a seguinte redação: “Flexões
abdominais: consiste em o candidato executar exercícios abdominais, por
flexão de tronco, em decúbito dorsal em um maior número de repetições
tocando os cotovelos nos joelhos ou coxas, no período de um minuto.”
Como os candidatos já haviam se inscrito na prova no momento da
percepção do equívoco da referida redação, muitos deles se consideraram
surpreendidos, no dia da realização desse teste físico, pois não tomaram
conhecimento da errata do edital.
Alguns desses, que não conseguiram passar na prova de esforço
físico, ingressaram com mandado de segurança com a alegação de que esse
teste deve ser desconsiderado como critério de aprovação, pois foi incluído
após as inscrições, apenas duas semanas antes do começo das provas e
porque não foi publicado num jornal de grande circulação para que todos
tivessem a chance de tomar conhecimento da modificação. Assim, alegam que
houve ofensa ao princípio da razoabilidade.
A quem assiste razão no caso? Dê os fundamentos jurídicos
cabíveis (fundamentos normativos, jurisprudenciais e doutrinários).

– Evolução dos Direitos Fundamentais – Gerações ou


Dimensões de Direito:

A doutrina, dentre vários critérios, costuma classificar os direitos


fundamentais em gerações de direitos, lembrando que a preferência da
doutrina mais atual sobre a expressão “dimensões” dos direitos fundamentais.
Em um primeiro momento, partindo dos lemas da Revolução
Francesa – liberdade, igualdade e fraternidade, anunciavam-se os direitos de
1ª, 2ª e 3ª dimensão e que iriam evoluir segundo a doutrina para uma 4ª e 5ª
dimensão.

- Direitos Fundamentais de 1ª Dimensão:

Marcam a passagem de um Estado autoritário para um Estado de


Direito e, nesse contexto, o respeito às liberdades individuais.

Dizem respeito às liberdades públicas e aos direitos políticos, ou


seja, direitos civis e políticos a traduzir o valor liberdade.

Os direitos de 1ª geração ou direitos de liberdades têm por titular o


indivíduo, são oponíveis ao Estado, traduzem-se como faculdades ou atributos
da pessoa e ostentam uma subjetividade que é seu traço mais característico;
enfim, são direitos de resistência ou de oposição perante o Estado.

- Direitos Fundamentais de 2ª Dimensão:

Os direitos de 2ª dimensão são marcados no início do século XX –


1ª Guerra Mundial e pela fixação dos direitos sociais.

São considerados direitos de 2ª dimensão:

- direitos sociais;
- direitos culturais;
- direitos econômicos;
- direitos coletivos – correspondendo aos direitos de igualdade.

- Direitos Fundamentais de 3ª Dimensão:

São marcados pela alteração da sociedade por profundas mudanças


na comunidade internacional – ou seja, pelo crescente desenvolvimento
tecnológico e científico. Surgem novos problemas e preocupações mundiais,
tais como a de preservação do meio ambiente e as dificuldades de proteção
dos consumidores.

O ser humano é inserido em coletividade e passa a ter direitos de


solidariedade e fraternidade. Assim, são direitos que transcendem os
interesses do indivíduo e passam a se preocupar com a proteção do gênero
humano, com alto teor de humanismo e universalidade.
Exemplos de Direitos de 3ª Dimensão:

- Direito ao desenvolvimento;
- direito ao meio ambiente;
- direito de propriedade sobre o patrimônio comum da humanidade;
- direito de comunicação.

- Direitos Fundamentais de 4ª Dimensão:

São direitos decorrentes dos avanços no campo da engenharia


genética, ao colocarem em risco a própria existência humana, por meio da
manipulação do patrimônio genético.

Doutrinadores afirmam que decorrem da globalização dos direitos


fundamentais, o que significa universalizá-los no campo institucional. Destacam
como direitos de 4ª dimensão:

- democracia direta;
- informação;
- manipulação genética.

- Direitos Fundamentais de 5ª Dimensão:

É o que parte da doutrina defende como o direito à paz, uma vez


que essa é axioma da democracia participativa, ou, ainda, supremo direito da
humanidade.

Você também pode gostar