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ESTUDO DE MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS DO TERMINAL RODOVIÁRIO

DA CIDADE DE CRUZ DAS ALMAS – BAHIA

Henrique Almeida Santana1, Edvaldo Nascimento Conceição², Fernanda


Nepomuceno Costa3

Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – Centro de Ciências exatas e tecnológicas, Rua Rui
Barbosa, 710 - Centro, Cruz das Almas - BA, 44380-000. ¹henrique_ufrb@hotmail.com;
²e.nasci.c@gmail.com; ³ferengcivil@yahoo.com.br

Resumo - Patologia para a construção civil é entendido como a parte da engenharia que estuda os
sintomas, causas e origens das lesões nas edificações. O Terminal Rodoviário da cidade de Cruz das
Almas foi construído na década de oitenta, apresentando constante fluxo de veículos, com alta
emissão de gás carbônico. Devido à aparência degradada da edificação, o presente trabalho tem
como objetivo estudar as manifestações patológicas e determinar um prognóstico através de visita na
edificação e revisão literária. As manifestações que predominam são as fissuras, manchas de
umidade, segregação em peças de concreto e recalques. Os estudos mostraram que a edificação
necessita de intervenções terapêuticas pertinente a manifestações patológicas, acompanhada de
profissionais habilitados.

Palavras-chave: Patologia, Terminal Rodoviário, construção.


Área do Conhecimento: Engenharias

Introdução

O Terminal Rodoviário da cidade de Cruz das Almas foi inaugurado no dia 3 de março de 1987
pelo ex-governador da Bahia, João Durval Carneiro. A estrutura da edificação é constituída de pilares,
vigas de concreto e vigas transversais metálicas, onde o telhamento de aço é apoiado. Possui
banheiros, cantina com cozinha, varanda coberta em todo contorno, reservatório d’água externo à
edificação, área verde e área pavimentada por onde circulam veículos e ônibus. O terminal apresenta
diversas manifestações patológicas visuais.
Segundo Oliveira (2013), patologia na construção civil pode ser entendida como a parte da
engenharia que estuda os sintomas, os mecanismos, as causas e origens dos defeitos das
construções, ou seja, é o estudo das partes que compõem o diagnóstico do problema. Para
Lichtenstein (1985), as manifestações patológicas estão presentes na maioria das edificações, seja
com maior ou menor intensidade, variando o período de aparição e/ou a forma de manifestação.
Esses problemas podem apresentar-se de forma simples, sendo assim, de diagnóstico e reparo
evidentes ou então, de maneira complexa, exigindo uma análise individualizada.
Devido alto fluxo de transportes coletivos e, consequentemente, de carros pequenos, o Terminal
Rodoviário é um dos pontos de alta concentração de gás carbônio da cidade de Cruz das Almas.
Segundo Vaghetti (1999), o fenômeno da carbonatação nas estruturas de concreto depende de uma
variação de umidade e certa quantidade de CO2.
A penetração do gás carbônico no concreto dar-se por difusão, porém quando os poros estão
saturados, o processo praticamente não ocorre, devido à dificuldade de difusão do CO 2 na água, já
nos poros excessivamente secos, o gás penetra, porém, falta umidade para que a reação ocorra.
Então a carbonatação acontece exclusivamente em situações de umidade constante entre 50% e
80% (VAGHETTI, 1999).
Devido à aparência degradada do Terminal Rodoviário e o constante fluxo de pessoas e veículos
no local, o presente trabalho tem como objetivo, utilizar na prática os conhecimentos adquiridos na
disciplina Construção Civil II, do curso de Engenharia civil, determinando um prognóstico, possíveis
formas de recuperações e uma profilaxia das manifestações patológicas da edificação em estudo.

XX Encontro Latino Americano de Iniciação Científica, XVI Encontro Latino Americano de Pós-Graduação e VI 1
Encontro de Iniciação à Docência – Universidade do Vale do Paraíba.
Metodologia

Na realização desse trabalho, fez-se uma visita técnica ao Terminal rodoviário de Cruz das Almas,
seguido de levantamentos de informações através de diálogos com taxistas (usuários antigos) e
fotografias das manifestações patológicas.
Durante a visita deve-se verificar se todas as áreas são de livre acesso e se necessário solicitar
autorizações dos responsáveis, levando em consideração a importância da análise de todos os
locais, incluindo banheiros e lanchonetes. As áreas externas e seus domínios (caixa d’água e
estacionamento), também devem ser analisados, para que se necessário, avaliar a influência do meio
na edificação em estudo.
Deve-se, também, levar em consideração o tempo da construção, já que segundo os usuários
mais antigos da edificação (taxistas), o terminal nunca foi submetido a uma reforma completa, só
passou por processos de pintura de suas paredes e reparos. Então, seguindo os registros
fotográficos e revisões de literatura sobre o assunto, é possível fazer uma análise sobre as possíveis
causas dos danos encontradas na edificação.

Resultados

 Fissuras:

Na Figura 1, pode-se observar fissuras que se originam na parte inferior da esquadria, enquanto
que a Figura 2 apresenta fissuras originadas na parte superior da esquadria.

Figura 1 – Fissura inferior a esquadria Figura 2 – Fissura superior a esquadria

Conforme observa-se na Figura 3, os pés dos pilares apresentam fissuras, já na Figura 4, fissuras
na alvenaria por possível recalque diferencial.

Figura 3 – Fissuras em pé de pilar Figura 4 – Fissuras por recalque diferencial

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Tabela 1 – Relatório das fissuras encontradas

Figura Aspecto Prováveis Causas Terapêutica Profilaxia


Fissuras na Ausência de Escarificar meia Atentar-se para
1 parte inferior da contravergas espessura da vergas e
esquadria parede e introduzir contravergas
Fissuras na Ausência de verga uma cinta de nas fases de
2 parte superior da concreto armado projeto e
esquadria construção
Fissuras em pilar Excesso de água de Escarificar meia Atentar-se ás
(Elemento amassamento do espessura da especificações
estrutural) concreto provocando a parede e executar em projeto
corrosão da armadura um reforço quanto a
3 que causa a perda de estrutural com cobrimento e
aderência entre chapa de aço, tipo do concreto.
concreto e aço; atentar-se ao
sobrecarga nos pilares; excesso de
carbonatação. umidade do local.
Fissura em Construção sobre um Eliminar a causa Sondagem do
alvenaria terreno em talude; que está a solo antes da
causada por Parte das fundações provocar o construção
recalque do solo assenta-se sobre assentamento e
4 terreno firme e outra recalcar as
parte sobre aterro; fundações, se for
Arrastamento de solo considerado
por águas correntes. adequado.

 Recalque:

Na Figura 5 observa-se recalque do solo, no local onde os ônibus estacionam indicando lesões
por sobrecarga e visualmente, a caixa d’água mostra-se inclinada (Figura 6), indicando um possível
recalque diferencial.

Figura 5 – Recalque por sobrecarga Figura 6 – Recalque diferencial da caixa d’água

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Tabela 2 – Relatório de possíveis recalques

Figura Aspecto Prováveis Causas Terapêutica Profilaxia


Adensamento se processa Recuperação do
com a dissipação do solo e
5 Piso ou pavimento excesso de pressão neutra, Renovação do
cedendo. gerado pelo carregamento, piso. Estudo do
no decorrer do tempo. solo, e se
Deslocamento Construção da fundação Estaca Mega ou necessário, as
vertical descendente muito superficialmente, Estaca Raiz devidas
de um elemento com solo muito assessorada compactações
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estrutural de húmido/ineficiente e com macaco e reforços.
fundação. excesso de vazios no solo. hidráulico.
Recalque diferencial.

 Degradação das estruturas de concreto

Nas vigas da edificação, observa-se o aço exposto conforme mostra a Figura 7 e na Figura 8
observa-se lesões no pé do pilar.

Figura 7 - Armadura de vigas exposta Figura 8 – Segregação do concreto

Quadro 3 – Relatório de lesões das estruturas de concreto

Figura Aspecto Prováveis Causas Terapêutica Profilaxia


Carbonatação, por Tratamento do aço Projetar e executar
altos níveis de CO2 e exposto, adequadamente as
umidade devido as recuperação do peças de concreto;
Armadura de infiltrações no telhado; cobrimento e Telhado com
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viga exposta. cobrimento restauração da inclinações
inadequado devido a cobertura do adequadas, e
erros de projetos ou terminal. manutenções
de execução. frequentes.
Diferença nas A depender do grau Executar-se um
dimensões e peso dos de segregação, a concreto trabalhável,
Segregação grãos; Adensamento solução pode ir adensamento
do concreto. inadequado; e desde reparos com adequado, escolha
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lançamento do argamassas do transporte de
concreto inadequado estruturais até lançamento
substituição adequado.
completa do pilar.

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 Problemas de impermeabilização:

Na Figura 9 observa-se descolamento na pintura nas áreas úmidas do pé da parede e conforme a


Figura 10, pode-se visualizar pontos de vazamento de água no telhado.

Figura 9 – Descascamento de pintura Figura 10 – Vazamentos no telhado

Quadro 4 – Relatório de problema de impermeabilização

Figura Aspecto Prováveis Causas Terapêutica Profilaxia


Remoção da Analise do solo e
Inadequação na camada que cobre impermeabilização
Deslocamento impermeabilização o pé da parede e da fundação em
de pintura provocando absorção substituindo por contato com o solo,
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capilar e percolação. material estanque manutenção no
e execução de telhado.
impermeabilização
adequada.
Vazamentos Juntas irregulares Reparo das juntas Cuidados na
10 no telhado entre as folhas de com produtos execução.
aço no telhado. adequados.

 Problemas de paisagismo

Raízes que penetram por baixo da calçada (Figura 13), causando expansões.

Figura 11 – Raízes deteriorando a calçada

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Quadro 5 – Relatório de problemas de paisagismo

Figura Aspecto Prováveis Causas Terapêutica Profilaxia


Estudo da Plantio de
Calçada Escolha inadequada possibilidade árvores em
deteriorada das árvores utilizada de eliminação manilhas, ou
13 por raízes no paisagismo da das raízes e escolha de
edificação recuperação árvores mais
da calçada. adequadas para
áreas urbanas.

Discussão

Conforme explanado por Olivari (2003), o processo de realização de uma edificação compreende
as fases de projeto, execução e utilização. A ocorrência de falha em uma ou mais destas fases,
provocam defeitos que podem comprometer a segurança e a durabilidade do empreendimento. O
mesmo autor listou as principais manifestações patológicas em uma edificação:
 Pela umidade relacionada à origem: Infiltração no telhado, vazamento
nas redes pluviais, infiltração em lajes e coberturas e pela percolação
de água oriunda do solo, por ascensão capilar.
 Fissuras, trincas e rachaduras: Por recalque de fundação, por
movimentação térmica, sobrecarga e acúmulo de tensões e retração de
cimento.
 Deslocamento de rebocos e pisos: destacamento e greteamento.
 Carbonatação: Exposição do concreto à alta concentração de gás
carbônico (CO2).
 Recalque: Absoluto, de adensamento, imediato e diferencial.
De acordo com as avaliações realizadas na edificação em estudo, os resultados encontrados
condizem com as explanações de Olivari (2013), supracitadas.

Conclusão

Mesmo utilizando apenas de exames visuais e revisões literárias sobre o assunto, o objetivo do
trabalho foi contemplado. Pode-se observar diversas manifestações patológicas que podem ser
causadas por diferentes fatores, sendo eles, falta de planejamento, projetos inadequados, ausência
de estudos preliminares, erros de execução, interferência de fenômenos naturais ou até mesmo mau
uso.
Por fim, nota-se a necessidade de um estudo mais aprofundado antes de se realizar reformas no
Terminal Rodoviário, de maneira que as lesões existentes sejam devidamente analisadas, uma vez
que caso o procedimento de reparo seja inadequado, as soluções podem ser ineficientes.

Referências

LICHTENSTEIN, N. B. Patologia das Construções: procedimento para formulação do


diagnóstico de falhas e definição de conduta adequada à recuperação de edificações. São
Paulo: Escola Politécnica da USP, 1985. Dissertação (M estrado em Engenharia Civil) – Universidade
de São Paulo, 1985.
OLIVARI, G. Patologia em edificações. São Paulo: Universidade Anhembi Morumbi, 2003.
OLIVEIRA, D. F. O Conceito de Qualidade Aliado às Patologias na Construção Civil. Rio de
Janeiro: UFRJ / Escola Politécnica, 2013.
VAGHETTI, M. A. O. Efeitos da cinza volante com cinza de casca de arroz ou sílica ativa sobre a
carbonatação do concreto de cimento Portland. 1999. Tese de Doutorado. Pós-Graduação em
Engenharia Civil da Universidade Federal de Santa Maria.

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Encontro de Iniciação à Docência – Universidade do Vale do Paraíba.

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